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A CAUSA SECRETA

Por Machado de Assis

Adaptado para o Teatro

  Por Erick Oliveira

Juliana Espírito Santo

    Silas Germano

  Waldemyr Morais
PERSONAGENS



           Garcia, Médico

        Fortunato, Capitalista

   Maria Luísa, Esposa de Fortunato

ÉPOCA: Segunda metade do século XIX
PRIMEIRO ATO



                            [Casa de Fortunato e Maria Luísa]



                                          CENA 1



[Fortunato está conversando com Maria Luísa quando Garcia chega, e Fortunato vai atender
      a porta, e ele faz a recepção de Garcia em sua casa e o apresenta a Maria Luísa]



                                      FORTUNATO:

  Garcia! (Cumprimentando-o com um aperto de mão) Finalmente, chegou. Achei que não
 viesse mais. Venha, entre, quero apresentá-lo minha esposa. (Levando-o até a sala de estar,
         onde Maria Luísa está sentada). Garcia esta é minha esposa Maria Luísa.



                                         GARCIA:

(Cumprimentando Maria Luísa com um beijo em sua mão) É um prazer conhecê-la, senhora!



                                      MARIA LUÍSA:

 (Envergonhada) Obrigada. Meu marido fala muito bem do senhor. (Leva-os para a sala de
                    jantar) Mas venham, o jantar já vai ser servido.



           [Todos se encaminham para a sala de jantar e acomodam-se a mesa].



                                         GARCIA:

      (Já sentado, para quebrar o silêncio) A senhora já sabe como Fortunato e eu nos
                                       conhecemos?
MARIA LUÍSA:

   (Olhando para o marido, surpresa talvez por nunca ter de fato ouvido a história) Não!
                                         Nunca!



                                         GARCIA:

                               Pois vai ouvir uma linda ação.



                                      FORTUNATO:

  (Interrompendo o diálogo entre o amigo e a esposa) Não é uma história que vale a pena,
                                        Garcia.



                                         GARCIA:

(Dirigindo-se para Maria Luísa) A senhora vai ver se vale a pena ou não. Nos conhecemos na
 rua D. Manuel, era uma noite em que estava em casa, isso lá pras nove horas da noite quando
  escutei uns barulhos na escada, saí e fui ver o que estava acontecendo, era o senhor Gouvêa
  que estava sendo trazido todo ensanguentado, pois havia sido atacado pelos capoeiras. Um
             dos que traziam o homem era Fortunato que lhe tratou os ferimentos.



                                      FORTUNATO:

    (Com ar de riso) Ah! E você não sabe. Ele veio me agradecer depois de uns seis dias.
   Convidei-o para entrar, e suas palavras de agradecimento me deixaram completamente
  constrangido, depois ficou em silêncio e após uns dez minutos ele disse que iria embora.
  (Fala rindo) E eu ainda lhe disse: “Cuidado com os capoeiras”. Acho que ele não gostou
                                     muito do conselho!



                                         GARCIA:

 (Lembrando-se de algo) Por isso que ele me pediu o seu endereço. Se algum dia fundar uma
                         casa de saúde irei convidá-lo, Fortunato.



                                      FORTUNATO:

                     (Pergunta meio que animado pelo convite) Valeu?
GARCIA:

                                Valeu nada, estou brincando.



                                      FORTUNATO:

   Podia-se fazer alguma coisa, e para o senhor que começa a clínica, acho que seria bom.
                   Tenho justamente uma casa que vai desocupar, e serve.



[Levantam-se todos, Garcia e Fortunato vão para a sala de estar, enquanto Maria Luísa fica
    arrumando a mesa. E os dois começam a conversar sobre a sociedade entre os dois].



                                         GARCIA:

   (Analisando bem a proposta) Sabe, Fortunato, estava pensando bem e acho que a ideia da
 clínica seria um bom negócio pra nós dois. Afinal, eu sou um grande admirador seu, por sua
  dedicação, mesmo com doenças perigosas. Fale com sua esposa, veja o que ela acha, se ela
      concorda. Mas agora preciso ir, agradeço o jantar. ( Levantando-se para ir embora)



                                      FORTUNATO:

 (Levando Garcia até a porta) Que bom que você mudou de ideia, e pra mim que tenho muita
fé nos cáusticos será ótimo esse momento trabalhando lá. Eu vou dar a notícia a Maria Luísa e
 saber o que ela acha. (Despedindo-se de Garcia) Tenha uma boa noite, Garcia, até outro dia.



  [Fechando a porta vai falar com Maria Luísa, que nessa hora já está sentada na sala de
                                         estar].



                                      FORTUNATO:

                  (Animado) Maria Luísa, Garcia aceitou fundar a clínica.



                                      MARIA LUÍSA:

              (Preocupada) Tenho medo de você lidando com tantas doenças.
FORTUNATO:

                        Que nada, deixe de besteira. (Os dois saem).



                                          CENA 2



 [Garcia vai visitar Fortunato, e lá Maria Luísa pede para que ele fale com Fortunato para
                          que ele pare de estudar animais em casa].



                                         GARCIA:

        (Sendo recepcionado por Maria Luísa) Bom dia, senhora, o Fortunato está?



                                      MARIA LUÍSA:

  (Abrindo a porta e recepcionando Garcia) Bom dia, senhor Garcia, entre, Fortunato está.
 (Levando-o para a sala de estar) Eu gostaria antes de falar com o senhor. (Aflita)Por favor,
fale com meu marido, para que ele pare de estudar animais, já não aguento mais os gritos dos
                coitadinhos dos animais. Já estou com os nervos abalados!



                                         GARCIA:

                                  Mas a senhora mesma...



                                      MARIA LUÍSA:

 (Interrompendo-o) Eu sei... Só que ele vai achar que sou criança. Só que o senhor como
médico vai saber convencê-lo para parar com essas coisas, pois isso já está me fazendo mal.



                                         GARCIA:

    Eu vou falar com ele, mas não posso garantir que ele pare com isso. Mas vou tentar.



                                      MARIA LUÍSA:

                           Obrigada, senhor Garcia. (Ela tosse).
GARCIA:

(Preocupado) A senhora está bem? Está pálida. (Segurando o pulso de Maria Luísa). Deixe-
                                me verificar seu pulso.



                                    MARIA LUÍSA:

    (Nervosa, se solta ligeiramente de Garcia) Não tenho nada, estou me sentindo bem.
         (Levantando-se) Deixe-me avisar ao meu marido que o senhor está aqui.

(Enquanto Garcia fica sentado esperando. Maria Luísa vai em direção ao escritório, e logo
                                em seguida sai gritando)



                                    MARIA LUÍSA:

              (Sai nervosa e gritando histericamente) O rato! O rato! O rato!



                                        GARCIA:

      (Sem entender nada se levanta preocupado) Que rato? O que está acontecendo?



                                    MARIA LUÍSA:

              (Nervosa, falando palavras sem nexo) Fortunato! Com o rato!



                                        GARCIA:

Acalme-se, por favor, a senhora está muito nervosa. (Coloca-a sentada e vai ver o que está
 acontecendo) Eu vou ver o que de fato está acontecendo. (Vai em direção ao escritório).



[Quando Garcia chega à porta do escritório, vê Fortunato sentado com um rato pendurado
 pelo rabo em cima de um prato e com as patas sangrando. Enquanto Garcia fica atônito
                  observando, Fortunato continua a torturar o rato].



                                        GARCIA:

  (Parado e atônito em frente a Fortunato) Pelo amor de Deus, Fortunato, mate logo esse
                              animal, não o faça sofrer mais.
FORTUNATO:

(Com cara de satisfação, continua a torturar o animal) Já vai, calma! Já estou terminando!



                                        GARCIA:

(Inconformado com a atitude de Fortunato) Enquanto sua mulher está na sala passando mal,
 você fica aqui torturando esse animal indefeso. Poupe-nos dessa sua crueldade, levante-se e
                               venha ver como está sua esposa.



                                      FORTUNATO:

  (Terminando com o ato) Pronto acabei! (Levanta-se e vai ao encontro de Garcia e tenta
   justificar o ocorrido) Aquele papel que o rato comeu era muito importante para mim.



[Vão para a sala onde está Maria Luísa passando mal, e Fortunato começa rir da mulher].



                                      FORTUNATO:

                   (Fala rindo da esposa) Fracalhona! Quase desmaiou!



                                     MARIA LUÍSA:

  Você sabe que sou nervosa, não gosto de ver essas coisas, e além do mais, sou mulher.
                      Mulher é assim mesmo! (Começa a tossir)



                                        GARCIA:

(Fala preocupado) A senhora precisa ir ao médico urgente, é óbvio que a senhora não está
bem. (Falando com Fortunato) Você precisa levar sua esposa ao médico, ela não está bem!



                                      FORTUNATO:

                            É vou fazer isso, não se preocupe!
GARCIA:

Preciso ir, Fortunato, tenho um compromisso que não posso faltar. Outro dia eu venho fazer
uma nova visita. (Falando a Maria Luísa) E a senhora se cuide, por favor, procure logo um
                        médico, é evidente que a senhora não está bem.



[Fortunato acompanhou Garcia até a porta, quando Fortunato voltou para a sala viu que a
       situação de Maria Luísa se agravara ainda mais, e ele vai tentar ajudá-la].



                                      FORTUNATO:

    (Vendo Maria Luísa tossindo muito, e indo ajudá-la a se levantar) Maria Luísa, você
realmente está muito pálida. (Ajudando-a a se levantar) Venha, deixe-me ajudá-la a ir lá pra
                           dentro pra você descansar um pouco.



 [Quando chega perto da cama, Maria Luísa sente uma forte dor e morre. Fortunato a ajeita
na cama, pensando que ela está desmaiada, mas quando a observa bem, percebe que ela está
  muito fria e que na verdade está morta. Nesse instante, Garcia volta à casa de Fortunato,
  pois lembra que esqueceu algo. Quando Garcia chega à casa de Fortunato, assim que este
             abre a porta para Garcia já dá a notícia da morte de Maria Luísa].



                                        GARCIA:

  (Entra já falando e procurando algo) Fortunato, me perdoe, é que percebi que esqueci...



                                      FORTUNATO:

              (Interrompendo Garcia e de forma fria) Maria Luísa está morta!



                                        GARCIA:

 (Surpreso, enchendo Fortunato de perguntas) O que?! Como assim, ela está morta?! O que
                           aconteceu?! Onde é que ela está?!
FORTUNATO:

 Ela começou a tossir muito, eu a levei lá pra dentro, foi quando ela começou a sentir uma
                                forte dor, vindo a morrer!



                                        GARCIA:

                          Meu Deus! Leve-me até onde ela está!



                                      FORTUNATO:

                                          Venha!



   [Fortunato leva Garcia até o local onde Maria Luísa está, e lá ele encontra seu corpo
   coberto por um lençol. Ele levanta o lençol do rosto de Maria Luísa, a observa por um
instante, desconsolado por vê-la naquele estado, dá um beijo em sua testa, cobre seu rosto e
                                     começa a chorar].

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A causa secreta peça

  • 1. A CAUSA SECRETA Por Machado de Assis Adaptado para o Teatro Por Erick Oliveira Juliana Espírito Santo Silas Germano Waldemyr Morais
  • 2. PERSONAGENS Garcia, Médico Fortunato, Capitalista Maria Luísa, Esposa de Fortunato ÉPOCA: Segunda metade do século XIX
  • 3. PRIMEIRO ATO [Casa de Fortunato e Maria Luísa] CENA 1 [Fortunato está conversando com Maria Luísa quando Garcia chega, e Fortunato vai atender a porta, e ele faz a recepção de Garcia em sua casa e o apresenta a Maria Luísa] FORTUNATO: Garcia! (Cumprimentando-o com um aperto de mão) Finalmente, chegou. Achei que não viesse mais. Venha, entre, quero apresentá-lo minha esposa. (Levando-o até a sala de estar, onde Maria Luísa está sentada). Garcia esta é minha esposa Maria Luísa. GARCIA: (Cumprimentando Maria Luísa com um beijo em sua mão) É um prazer conhecê-la, senhora! MARIA LUÍSA: (Envergonhada) Obrigada. Meu marido fala muito bem do senhor. (Leva-os para a sala de jantar) Mas venham, o jantar já vai ser servido. [Todos se encaminham para a sala de jantar e acomodam-se a mesa]. GARCIA: (Já sentado, para quebrar o silêncio) A senhora já sabe como Fortunato e eu nos conhecemos?
  • 4. MARIA LUÍSA: (Olhando para o marido, surpresa talvez por nunca ter de fato ouvido a história) Não! Nunca! GARCIA: Pois vai ouvir uma linda ação. FORTUNATO: (Interrompendo o diálogo entre o amigo e a esposa) Não é uma história que vale a pena, Garcia. GARCIA: (Dirigindo-se para Maria Luísa) A senhora vai ver se vale a pena ou não. Nos conhecemos na rua D. Manuel, era uma noite em que estava em casa, isso lá pras nove horas da noite quando escutei uns barulhos na escada, saí e fui ver o que estava acontecendo, era o senhor Gouvêa que estava sendo trazido todo ensanguentado, pois havia sido atacado pelos capoeiras. Um dos que traziam o homem era Fortunato que lhe tratou os ferimentos. FORTUNATO: (Com ar de riso) Ah! E você não sabe. Ele veio me agradecer depois de uns seis dias. Convidei-o para entrar, e suas palavras de agradecimento me deixaram completamente constrangido, depois ficou em silêncio e após uns dez minutos ele disse que iria embora. (Fala rindo) E eu ainda lhe disse: “Cuidado com os capoeiras”. Acho que ele não gostou muito do conselho! GARCIA: (Lembrando-se de algo) Por isso que ele me pediu o seu endereço. Se algum dia fundar uma casa de saúde irei convidá-lo, Fortunato. FORTUNATO: (Pergunta meio que animado pelo convite) Valeu?
  • 5. GARCIA: Valeu nada, estou brincando. FORTUNATO: Podia-se fazer alguma coisa, e para o senhor que começa a clínica, acho que seria bom. Tenho justamente uma casa que vai desocupar, e serve. [Levantam-se todos, Garcia e Fortunato vão para a sala de estar, enquanto Maria Luísa fica arrumando a mesa. E os dois começam a conversar sobre a sociedade entre os dois]. GARCIA: (Analisando bem a proposta) Sabe, Fortunato, estava pensando bem e acho que a ideia da clínica seria um bom negócio pra nós dois. Afinal, eu sou um grande admirador seu, por sua dedicação, mesmo com doenças perigosas. Fale com sua esposa, veja o que ela acha, se ela concorda. Mas agora preciso ir, agradeço o jantar. ( Levantando-se para ir embora) FORTUNATO: (Levando Garcia até a porta) Que bom que você mudou de ideia, e pra mim que tenho muita fé nos cáusticos será ótimo esse momento trabalhando lá. Eu vou dar a notícia a Maria Luísa e saber o que ela acha. (Despedindo-se de Garcia) Tenha uma boa noite, Garcia, até outro dia. [Fechando a porta vai falar com Maria Luísa, que nessa hora já está sentada na sala de estar]. FORTUNATO: (Animado) Maria Luísa, Garcia aceitou fundar a clínica. MARIA LUÍSA: (Preocupada) Tenho medo de você lidando com tantas doenças.
  • 6. FORTUNATO: Que nada, deixe de besteira. (Os dois saem). CENA 2 [Garcia vai visitar Fortunato, e lá Maria Luísa pede para que ele fale com Fortunato para que ele pare de estudar animais em casa]. GARCIA: (Sendo recepcionado por Maria Luísa) Bom dia, senhora, o Fortunato está? MARIA LUÍSA: (Abrindo a porta e recepcionando Garcia) Bom dia, senhor Garcia, entre, Fortunato está. (Levando-o para a sala de estar) Eu gostaria antes de falar com o senhor. (Aflita)Por favor, fale com meu marido, para que ele pare de estudar animais, já não aguento mais os gritos dos coitadinhos dos animais. Já estou com os nervos abalados! GARCIA: Mas a senhora mesma... MARIA LUÍSA: (Interrompendo-o) Eu sei... Só que ele vai achar que sou criança. Só que o senhor como médico vai saber convencê-lo para parar com essas coisas, pois isso já está me fazendo mal. GARCIA: Eu vou falar com ele, mas não posso garantir que ele pare com isso. Mas vou tentar. MARIA LUÍSA: Obrigada, senhor Garcia. (Ela tosse).
  • 7. GARCIA: (Preocupado) A senhora está bem? Está pálida. (Segurando o pulso de Maria Luísa). Deixe- me verificar seu pulso. MARIA LUÍSA: (Nervosa, se solta ligeiramente de Garcia) Não tenho nada, estou me sentindo bem. (Levantando-se) Deixe-me avisar ao meu marido que o senhor está aqui. (Enquanto Garcia fica sentado esperando. Maria Luísa vai em direção ao escritório, e logo em seguida sai gritando) MARIA LUÍSA: (Sai nervosa e gritando histericamente) O rato! O rato! O rato! GARCIA: (Sem entender nada se levanta preocupado) Que rato? O que está acontecendo? MARIA LUÍSA: (Nervosa, falando palavras sem nexo) Fortunato! Com o rato! GARCIA: Acalme-se, por favor, a senhora está muito nervosa. (Coloca-a sentada e vai ver o que está acontecendo) Eu vou ver o que de fato está acontecendo. (Vai em direção ao escritório). [Quando Garcia chega à porta do escritório, vê Fortunato sentado com um rato pendurado pelo rabo em cima de um prato e com as patas sangrando. Enquanto Garcia fica atônito observando, Fortunato continua a torturar o rato]. GARCIA: (Parado e atônito em frente a Fortunato) Pelo amor de Deus, Fortunato, mate logo esse animal, não o faça sofrer mais.
  • 8. FORTUNATO: (Com cara de satisfação, continua a torturar o animal) Já vai, calma! Já estou terminando! GARCIA: (Inconformado com a atitude de Fortunato) Enquanto sua mulher está na sala passando mal, você fica aqui torturando esse animal indefeso. Poupe-nos dessa sua crueldade, levante-se e venha ver como está sua esposa. FORTUNATO: (Terminando com o ato) Pronto acabei! (Levanta-se e vai ao encontro de Garcia e tenta justificar o ocorrido) Aquele papel que o rato comeu era muito importante para mim. [Vão para a sala onde está Maria Luísa passando mal, e Fortunato começa rir da mulher]. FORTUNATO: (Fala rindo da esposa) Fracalhona! Quase desmaiou! MARIA LUÍSA: Você sabe que sou nervosa, não gosto de ver essas coisas, e além do mais, sou mulher. Mulher é assim mesmo! (Começa a tossir) GARCIA: (Fala preocupado) A senhora precisa ir ao médico urgente, é óbvio que a senhora não está bem. (Falando com Fortunato) Você precisa levar sua esposa ao médico, ela não está bem! FORTUNATO: É vou fazer isso, não se preocupe!
  • 9. GARCIA: Preciso ir, Fortunato, tenho um compromisso que não posso faltar. Outro dia eu venho fazer uma nova visita. (Falando a Maria Luísa) E a senhora se cuide, por favor, procure logo um médico, é evidente que a senhora não está bem. [Fortunato acompanhou Garcia até a porta, quando Fortunato voltou para a sala viu que a situação de Maria Luísa se agravara ainda mais, e ele vai tentar ajudá-la]. FORTUNATO: (Vendo Maria Luísa tossindo muito, e indo ajudá-la a se levantar) Maria Luísa, você realmente está muito pálida. (Ajudando-a a se levantar) Venha, deixe-me ajudá-la a ir lá pra dentro pra você descansar um pouco. [Quando chega perto da cama, Maria Luísa sente uma forte dor e morre. Fortunato a ajeita na cama, pensando que ela está desmaiada, mas quando a observa bem, percebe que ela está muito fria e que na verdade está morta. Nesse instante, Garcia volta à casa de Fortunato, pois lembra que esqueceu algo. Quando Garcia chega à casa de Fortunato, assim que este abre a porta para Garcia já dá a notícia da morte de Maria Luísa]. GARCIA: (Entra já falando e procurando algo) Fortunato, me perdoe, é que percebi que esqueci... FORTUNATO: (Interrompendo Garcia e de forma fria) Maria Luísa está morta! GARCIA: (Surpreso, enchendo Fortunato de perguntas) O que?! Como assim, ela está morta?! O que aconteceu?! Onde é que ela está?!
  • 10. FORTUNATO: Ela começou a tossir muito, eu a levei lá pra dentro, foi quando ela começou a sentir uma forte dor, vindo a morrer! GARCIA: Meu Deus! Leve-me até onde ela está! FORTUNATO: Venha! [Fortunato leva Garcia até o local onde Maria Luísa está, e lá ele encontra seu corpo coberto por um lençol. Ele levanta o lençol do rosto de Maria Luísa, a observa por um instante, desconsolado por vê-la naquele estado, dá um beijo em sua testa, cobre seu rosto e começa a chorar].