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Avaliação das Manifestações Patológicas das Fachadas de edificações
históricas localizadas na Orla Marítima de Salvador
Evaluation of the Pathological Manifestations of Facades of historical buildings located in
the Maritime Rim of Salvador
BARRETO, J. S (1); CASTRO, P.B (2); ARCANJO, D. M.O (3); SILVA, F.G. S (4).
(1) Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil, Universidade Federal da Bahia
(2) Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil, Universidade Federal da Bahia
(3) Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil, Universidade Federal da Bahia
(4) Professor Doutor, Departamento de Construção e Estruturas, Universidade Federal da Bahia.
Rua Prof. Aristides Novis, 2 – Federação, Salvador, BA, 40210-630 - fgabriel.ufba@gmail.com
Resumo
As construções históricas representam a identidade e a cultura de um povo. Salvador é uma das cidades de
maior representatividade cultural do Brasil abrigando diversos casarões construídos entre os séculos XVIII,
XIX e XX, que remontam a sua história durante o período colonial. Entretanto, apesar do avanço tecnológico
e científico na área dos materiais de construção e técnicas construtivas, muitas dessas edificações são
acometidas por diversas patologias, causadas muitas vezes pela ação das intempéries ou pelo uso e ação
do homem, apresentando estágios avançados de degradação, algumas até em estado de ruína, perdendo a
sua representatividade material e cultural. Neste contexto, como forma de contribuir na tomada de decisão
de forma mais assertiva no processo de intervenção, recuperação e manutenção dessas edificações
históricas, este trabalho tem por objetivo apresentar às patologias e os danos mais comuns nas fachadas de
duas edificações históricas localizadas próximas a orla marítima da cidade de Salvador – BA. Para atingir o
objetivo proposto, foram realizadas visitas ao local, mapeamento fotográfico, identificação dos danos e
busca por informações que subsidiasse os diagnósticos. Os acontecimentos mais frequentes foram fissuras,
destacamento, presença de vegetação, manchamento e sujidade. Os resultados evidenciam a necessidade
de manutenção corretiva com o intuito de garantir a preservação dessas edificações.
Palavras Chaves: Edificações Históricas, Patologias, Fachada, Degradação.
Abstract
Historical buildings represent the identity and culture of a people. Salvador is one of the most culturally
representative cities in Brazil, housing several mansions built between the 18th, 19th and 20th centuries,
which date back to colonial times. However, despite the technological and scientific advances in the area of
construction materials and construction techniques, many of these buildings are affected by several
pathologies, often caused by the action of the weather or by the use and action of man, presenting advanced
stages of degradation, some even in a state of ruin, losing its material and cultural representativeness. In this
context, as a way of contributing to decision making in a more assertive way in the process of intervention,
recovery and maintenance of these historic buildings, this work aims to present the most common
pathologies and damages in the façades of two historical buildings located near the border of the city of
Salvador - BA. In order to reach the proposed objective, site visits, photographic mapping, damage
identification and search for information that subsidized the diagnoses were carried out. The most frequent
events were cracks, detachment, presence of vegetation, staining and dirt. The results evidenced the need
for corrective maintenance in order to guarantee the preservation of these buildings.
Keywords: Historical Buildings, Pathologies, Facade, Degradation.
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1 Introdução
As edificações históricas são verdadeiros testemunhos de um período da história de uma
civilização. Demonstrando através das suas caraterísticas a importância de conservar viva
a identidade de um povo, de uma nação. Toda via, com o passar dos anos, devido ao
seu longo tempo de existência sofrem alterações nos seus componentes e materiais
construtivos ocasionando a degradação.
A água, a umidade, a luz, o ar, a poluição, a temperatura, os microrganismos são
elementos que interferem direta ou indiretamente nos elementos de uma edificação,
ocasionando danos e patologias muitas vezes irremediáveis. Esses danos podem ser de
origem intrínseca ou extrínseca, ou seja, provenientes de materiais que constituem a
edificação ou de fatores externos ao mesmo. Como fatores intrínsecos têm-se os
processos químicos resultantes dos materiais empregados numa construção, estando
esses relacionados às características formais das fachadas e pelas características dos
materiais empregados. As características formais se relacionam à superfície dos materiais
de revestimento, já as características dos materiais estão ligadas às propriedades
mecânicas e físicas dos diferentes materiais (TREVIISAN, 2003).
Como extrínsecos têm-se os fatores físicos resultantes de ações externas no elemento
como problemas de vandalismo, de catástrofe, de erosão, ação mecânica, ação de
animais, plantas e do meio ambiente. Tendo em vista, os edifícios ficarem expostos ao
tempo por toda a sua existência, os elementos da natureza são os maiores responsáveis
pela maior parte das patologias que ocorrem nas edificações (LIMA et al., 2014;
TREVISAN, 2003).
Os agentes climáticos, especialmente o vento que transporta partículas que chocam com
os rebocos e as variações de temperatura provocam desgaste continuado dos
revestimentos de reboco das paredes, dos rebocos que as protegem. A água também é
um dos agentes que de forma direta ou indireta está relacionada com maior parte das
patologias e o umedecimento dos materiais, acompanhando ou potencializando as
propriedades físicas desses materiais, o que de certa forma interfere nas condições de
habitabilidade da edificação (CARVALHO, 2014; GUIMARÃES, 2009).
A influência da forma e das proporções da fachada são fatores que afetam diretamente o
modo de incidência do vento e da chuva, que dependerá tanto da orientação das
fachadas frente às correntes do ar, quanto dos obstáculos existentes. A composição geral
é um fator importante para avaliar o resultado das ações de sujidade e manchas que
ocorrem sobre ela. Assim como a influência da temperatura responsável pelo
ressecamento de materiais. Outro aspecto importante é à disposição dos planos maciços
ou a existência de planos avançados ou recuados que igualmente aumentam a disposição
de partículas de sujidade e a incidência de ventos e chuvas (VALLEJO, 1990; LIMA et al.,
2014).
Silva (2006) ressalta a importância dos detalhes construtivos no desempenho do
revestimento de fachada, pois, contribuem de forma decisiva no comportamento dessas,
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assim como as propriedades dos materiais empregados na superfície tais como absorção,
textura e cor e características arquitetônicas.
O conhecimento e a identificação dessas patologias são necessários, pois, permite
promover meios de prevenção e verificar o risco desta para os seus usuários, subsidiando
intervenções de forma mais assertiva, pois, segundo Guimarães (2009) os edifícios
antigos que chegaram aos dias de hoje preservando a sua autenticidade são aqueles que
tiveram uma manutenção periódica limitada ao que era necessário ser executado, com
materiais e técnicas tradicionais originais ou compatíveis da referida época. Logo, o
estudo das manifestações patológicas, assim como suas causas, efeitos e consequências
em qualquer que seja a edificação, é essencial, pois estas edificações podem causar
algum dano maior para os seus usuários.
Neste sentido, este trabalho tem por objetivo fazer uma avaliação das manifestações
patológicas das fachadas de duas edificações históricas localizadas próximas a orla
marítima na cidade de Salvador, capital baiana. A foto 1 apresenta a localização das
edificações que serão analisadas.
Foto 1: Localização geográfica das edificações(google maps, (2018))
2 Metodologia
A metodologia de inspeção empregada para a análise das edificações históricas seguiu
as recomendações de Tinoco (2009); análise histórica do edifício; levantamento
documental; estudo de pesquisa em campo datada em 26.03.2018, 15.04.18 e
15.05.2015, mapeamento fotográfico através de veículo aéreo não tripulado (VANT) e
câmera fotográfica de alta resolução; identificação e classificação das manifestações
patológicas; diagnósticos dos danos.
A
B
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3 Caracterização tipológica das edificações
As edificações em estudo, denominadas, edificações A e B estão localizadas no bairro do
comércio, bairro histórico da capital baiana, construído para ser o centro comercial de
salvador na época vigente. As edificações foram construídas durante o século XIX com
uma arquitetura marcada pelos traços da referida época, com muitos detalhes nas
fachadas, janelões em formato de ogiva.
As seleções das edificações foram feitas com base na semelhança arquitetônica, período
de construção, materiais constituintes e técnicas construtivas de forma a uniformizar o
máximo possível às amostras e obter uma melhor correlação dos parâmetros analisados.
Este trabalho focar-se-á, na análise das manifestações patológicas das fachadas dessas
edificações as quais podem prejudicar o desempenho da função básica da obra, a sua
estética, e favorecer para a ocorrência de maiores danos no edificado. O quadro 1
apresenta as características das edificações mais relevantes para o estudo.
Quadro 1: características das edificações (AUTORES (2018))
COLETA DE DADOS
Edificação Edifício A Edifício B
Tipo de uso da edificação Residencial/comercial Residencial/comercial
Idade (anos) Não informado Não informado
Bairro Comércio Comércio
Distância em relação ao mar (m) 91,07 222,14
Número de pavimentos 2 pavimentos 2 pavimentos
Sistema Construtivo Tijolo queimado e Cantarea (pedra) Tijolo queimado
Acabamento da fachada Pintura Pintura
Projeto da fachada Não Não
Intervenções recentes Não Não
Área Total aproximada de fachada Não informada Não informada
Muitas são as manifestações patológicas que podem está numa fachada de uma
edificação histórica. O conhecimento das causas envolve diversos fatores, algumas vezes
de difícil diagnóstico pela longa exposição dessas edificações aos fatores externos. Logo,
uma inspeção criteriosa com manutenções adequadas, rotineiras possibilitará uma maior
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durabilidade dessas edificações. As imagens seguintes apresentam as edificações e suas
orientações.
(a) (b)
Figura 1: Em (a) orientação das fachadas; em (b) fachada frontal da ediifcação A, e fachada lateral (sul)
(AUTORES (2018))
(a) (b)
Foto 2: Em (a) fachada lateral (sul) e fachada posterior (sudeste); Em (b) fachada lateral (oeste)
(AUTORES(2018))
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(a) (b)
Figura 2: Em (a) orientação das fachadas da edificação B; Em (b): Fachada lateral (sul) (AUTORES (2018))
(a) (b)
Foto 3: Em (a) Fachada frontal 1 (sudoeste) e fachada frontal (sudoeste); Em (b) fachada lateral (sul)
(AUTORES, (2018))
3.1 Caracterizações dos danos nas Fachadas
As ações externas as quais as edificações estão submetidas como a temperatura,
radiação solar, vento, umidade modificam as propriedades dos materiais constituintes das
fachadas. Afetando diretamente a maneira como se dá a absorção de água e capilaridade
pelas vedações e como esses componentes reagem à variação de temperatura (LIMA et
al., 2014).
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3.1.1 Fissuras
Durante a inspeção as edificações, constatou-se a existência de fissuras no revestimento
das fachadas. A fissura observada na edificação A encontra-se localizada na fachada
lateral, fachada oeste. Na edificação B, a fissura está localizada na fachada sudoeste. As
fissuras verticais podem ser ocasionadas por problemas estruturais nas paredes,
necessitando de um acompanhamento para ter um diagnóstico mais aprofundado. As
fissuras também são decorrentes dos gradientes de temperaturas que em dias quentes
aquecem mais as partes externas da edificação do que as internas, já que estas
encontram-se mais expostas aos agentes atmosféricos. Do mesmo modo, acontece com
as temperaturas mais baixas que tendem a resfriar mais rapidamente o exterior das
edificações do que o seu interior. Esses gradientes de tensão provocam fissuras nos
revestimentos das fachadas.
As fissuras, do mesmo modo, podem ser originadas devido à perda de água da
argamassa após a aplicação, hidratação tardia de cal magnesiana e expansões de
material graúdo, como torrões de argila na variação de umidade ou materiais com
dilatação muito diferente, frente às mudanças de temperatura (Teles, 2010).
(a) (b)
Foto 4: Fissuração nas fachadas da: (a) edificação A; e (b) edificação B (Sudoeste) (AUTORES (2018))
Outro fenômeno que pode ocasionar a fissuração e consequentemente a degradação
desses materiais está associado à cristalização dos sais que provocam variação de
volume e consequentemente fissuração. Segundo Guimarães (2009) o fenómeno da
hidratação/desidratação de acordo com a temperatura e a pressão parcial do vapor de
água do meio, podem existir sais em diferentes estados de hidratação. Cada estado de
hidratação corresponde a um determinado volume específico. No interior dos poros dos
materiais, quando a passagem de um estado para o outro provoca aumento de volume,
são criadas forças que são exercidas nos materiais e degrada os materiais.
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3.1.2 Destacamento do Material
De modo geral, constatou-se perda de material em ambas as edificações. O
destacamento destes materiais possivelmente está associado à cristalização dos sais no
interior desses materiais. O sulfato pode ter origem nos materiais que o compõem ou no
contato com a umidade proveniente do solo, de águas que contenha este agente, tendo
em vista que as edificações estão localizadas em área de marinha. Foi observado, que o
destacamento na edificação A, ocorre próximo à janela, fachada lateral sul. Os sulfatos ao
cristalizarem devido a sua dissolução em contato com a água se expande causando
tensão de cristalizações interna nos materiais provocando a destacamento do material.
Na edificação B, ocorre na base de um dos pilares da fachada frontal, sudoeste, com
perda de material acentuada com pontos de erosão. Segundo (COLEN et al.,2012) ao
contrário do que se observa no caso das fissuração e das manchas, verifica-se que os
destacamentos raramente acontecem de forma isolada, mas resultam de estados
patológicos, de uma combinação de anomalias e de agentes de degradação, sendo que
nas argamassas antigas este fenômeno é mais frequente e se manifesta por pulverização,
desagregação de vários componentes da argamassa; arenização, perda ou lavagem da
partículas finas da argamassa caracterizada pelo fácil destaque de partículas de
dimensão; erosão, pelo fácil destaque das superfícies do material por ação dos elementos
atmosféricos.
(a) (b)
Foto 5:Destacamaento das fachadas da: (a) edificação A; e (b) edificação B (AUTORES, 2018))
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3.1.3 Degradação das Marquises
As marquises encontram-se em avançado estado de degradação, apresentam perda de
materiais em suas partes contituintes, manchas escuras, afetando a durabilidade e a
estética dos elementos que a compõe.
(a) (b)
Foto 6: Degradação das marquises da Edificação A em (a) e (b) (Autores (2018))
As manchas apresentam características de serem possivelmente formadas por biofilme. O
biofilme é formado pela proliferação de organismos vivos, que senão removidos podem
gerar a degradadação do local em que estão instalados.
(a) (b)
Foto 7: Degradação das marquises da edificação B, em (a) e em (b) (AUTORES (2018))
3.1.4 Manchamento
Em todas as fachadas analisadas foram encontradas manchas escuras, características da
presença de agentes biológicos e de umidade. Os principais agentes biológicos,
responsáveis pela biodeterioração em edificações antigas, são as bactérias, os fungos e
as algas. Sendo esta ultima bastante encontrada, na Bahia, em locais de clima úmido,
provocando o enegrecimento de rebocos, rochas e até penetra pelo craquelê do vidrado
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dos azulejos. As principais causas estão associadas à exposição das intempéries e
poluição atmosférica, provocadas pelo depósito de sujeiras, e poluentes sobre a
superfície da alvenaria (OLIVEIRA, 2011; TREVISAN, 2003).
(a) (b)
FOTO 8: Manchamento das fachadas da: (a) edificação A (fachada frontal, sudoeste); e (b) edificação B
(fachada frontal 1, sudoeste) (AUTORES (2018)).
Na edificação B foi caracterizada manchas de umidade oriunda das águas da chuva. Nas
edificações antigas as umidades oriundas pelas águas da chuva eram controladas pelas
grandes espessuras das paredes o que permite períodos de umedecimento e secagem
segundo as estações do ano sem que essas se manifestassem no interior das
edificações, desta forma evitando a proliferação de fungos e agentes biológicos no seu
interior.
3.1.5 Presença de Vegetação
Foram constatadas nas edificações a presença de vegetação, vegetais superiores. A
existência desses vegetais nas fachadas indica a presença de umidade, que é um dos
principais fatores de degradação dos elementos construtivos, principalmente em
edificações históricas gerando diversas patologias, dentre elas deterioração dos materiais,
que levam ao aparecimento de microfissuras e lascamento das rochas, perda de
revestimentos decorativos, desenvolvimento de microrganismos, deterioração de telhas e
alterações das condições de habitabilidade e conforto (GUIMARÃES, 2009).
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Foto 9: Presença de vegetação das fachadas da: (a) edificação A (fachada postetior, sudeste); e (b)
edificação B (fachada lateral oeste) (AUTORES (2018))
3.1.6 Destacamento da Pintura em partes das paredes
O destacamento da pintura foi observado em algumas paredes nas ediifcações, mas
especificamente na fachada oeste da edificação A, e fachada sudoeste (frontal 2) da
ediifcaçao B. As edificações estão expostas constatemente as intempéries. Os raios
ultravioletas são prejudiciais aos pigmentos das tintas e, quando combinados com altas
temperaturas causam a rápida degradação da película sintética pela perda de elasticidade
e enfraquecimento do filme. Consequentemente acontece, também, dilatação diferencial
entre as camadas sobrepostas, expostas ao calor. Com o passar do tempo formam-se
fissuras capilares com a migração de agentes degradantes do meio para o interior do
suporte (BEZERRA, 2010).
(a) (b)
Foto 10: Destacamento da pintura da: (a) Edificação; e (b) edificação B (AUTORES (2018))
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3.1.7 Sujidade
A presença de sujidade foi observada nas fachadas sudoeste da edificação A e sul da
edificação B. Estas se dão principalmente em função da ação antrópica, fruto de
vandalismos e falta de conscientização pela preservação do patrimônio histórico
edificado. Segundo Lersch (2003) entre os danos causados pela ação do homem estão
os desgastes gerados pelo uso, falta de conservação preventiva e intervenções indevidas
nas edificações, o desenvolvimento urbano, além dos atos de vandalismos.
Foto 11: Sujidade da: (a) edificação A; e (b) Edificação (B) (AUTORES (2018))
4 Considerações Finais
Diante das inspeções feitas e das evidências observadas in loco constatou-se que apesar
do grande valor arquitetônico e histórico, essas edificações encontram-se em completo
estado de abandono com condições muito precárias de uso e conservação. Das
edificações analisadas as fachadas da edificação A, encontra-se bastante deteteriorada
com alguma preservação das suas caracterísicas originais, necessitanto de manutenção e
correção das patologias o mais breve possível. Essa edificação fica mais exposta ao mar,
apresentando maior deterioração em relação as patologias causadas pelo sulfato como
destacamento dos revestimentos das fachadas, manchas escuras e fissuração. As
fachadas da edificação B, apresenta melhor estado de conservação com preservação das
suas características originais e dos seus detalhes construtivos, entretanto necessita de
manutenção corretiva das patologias encontradas. O que se observou através do estudo
feito, pela inspeção das edificações das fachadas, é que existe sim uma influência
significativa da proximidade do mar, embora não tenham sido quantificadas, as patologias
causadas pelos sais são visivelmente notórias. A umidade também é bastante evidente, o
que é caracterizado pela presença da vegetação nas edificações. Diante do exposto,
observa-se que essas edificações poderiam estarem em plena capacidade funcional, mas
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em muitos casos servem de acúmulo de entulho sendo alvo de vandalos como
“pinchações” degradando ainda mais o patrimônio edificado. A perda das características
originais dessas edificações, significa perder parte da história, parte da identidade de um
povo. Deixar essas edificações na situação atual as quais se encontram é o mesmo que
afirmar que não há necessidade de se ter “memória” do patrimônio histórico e cultural.
5 Referências
BEZERRA,F.A. As cores das Fachadas de Edificações Históricas Pintadas a Cal.
Dissertação de Mestrado. Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2010.
CARVALHO,M.C.N.G. Reabilitação de Revestimentos de Paredes de Edifícios
Antigos. Dissertaçao para obtenção do Grau de Mestre em Construção e Reabilitação.
Técnico de Lisboa, 2014.
COLEN, I.F; GASPAR,P.L; BRITO,J. Técnicas de Diagnóstico e Classificação de
Anomalias por perda de Aderência em Rebocos. Universidade Técnica de Lisboa.
Portugal, 2012.
GUIMARÃES, J.P. Técnicas Tradicionais de Construção, Anomalias e Técnicas de
Intervenção em Fachadas e Coberturas de Edifícios Antigos. Dissertação de
mestrado em Engenharia Civil. Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, 2009.
GOOGLE MAPS. Disponível em: < https://www.google.com.br/maps>. Acessado em
18.05.2018.
LIMA, G. E. S. L; SOUZA, K.D; T, A. C. G. Investigação e Diagnóstico de Patologias
Relacionadas às Fachadas de uma Edificação. XV Encontro Nacional de Tecnologia do
Ambiente Construído. Alagoas, Maceió, 2014.
LERSCH, M.I. Contribuição para a Identificação dos Principais Fatores e
Mecanismos de Degradação em Edificações do Patrimônio Cultural de Porto Alegre.
Dissertação de Mestrado, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2003.
OLIVEIRA, M.M. Tecnologia da conservação e da restauração - materiais e
estruturas: um roteiro de estudos [online]. Salvador: EDUFBA, 2011. Disponível em: <
www.edufba.ufba.br> Acessado em 12.04.2018
SILVA, F. G. S. Proposta de Metodologias Experimentais Auxiliares à Especificação
e Controle das Propriedades Físico-mecânicas dos Revestimentos em Argamassa.
2006. 266p. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-Graduação em Estruturas e
Construção Civil, Universidade de Brasília, 2006.
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Teles, Carlos Dion de Melo. Inspeção de fachadas históricas. levantamento de
materiais e danos de argamassas. Tese (Doutorado-Programa de Pós-Graduação em
Arquitetura e Urbanismo e Área de Concentração em Arquitetura, Urbanismo e
Tecnologia) – Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo, 2010.
TINOCO,E.G. Mapa de Danos e Recomendações Básicas. V.43.Centro Avançado de
Estudos para Conservação Integrada, 2009.
TREVISAN, R. Patologias nas construções históricas. In: BRAGA, M.. (Org.)
Conservação e restauro: arquitetura brasileira. Rio de Janeiro: Ed. Rio, 2003.
VALLEJO, F. J. L. Ensuciamiento de fachadas por contaminación atmosférica:
análisis y.prevención. Valladolid: Universidad, Secretariado de Publicaciones, 1990.

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Patologias em fachadas históricas

  • 1. ‘ ANAIS DO 60º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2018 – 60CBC2018 1 Avaliação das Manifestações Patológicas das Fachadas de edificações históricas localizadas na Orla Marítima de Salvador Evaluation of the Pathological Manifestations of Facades of historical buildings located in the Maritime Rim of Salvador BARRETO, J. S (1); CASTRO, P.B (2); ARCANJO, D. M.O (3); SILVA, F.G. S (4). (1) Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil, Universidade Federal da Bahia (2) Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil, Universidade Federal da Bahia (3) Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil, Universidade Federal da Bahia (4) Professor Doutor, Departamento de Construção e Estruturas, Universidade Federal da Bahia. Rua Prof. Aristides Novis, 2 – Federação, Salvador, BA, 40210-630 - fgabriel.ufba@gmail.com Resumo As construções históricas representam a identidade e a cultura de um povo. Salvador é uma das cidades de maior representatividade cultural do Brasil abrigando diversos casarões construídos entre os séculos XVIII, XIX e XX, que remontam a sua história durante o período colonial. Entretanto, apesar do avanço tecnológico e científico na área dos materiais de construção e técnicas construtivas, muitas dessas edificações são acometidas por diversas patologias, causadas muitas vezes pela ação das intempéries ou pelo uso e ação do homem, apresentando estágios avançados de degradação, algumas até em estado de ruína, perdendo a sua representatividade material e cultural. Neste contexto, como forma de contribuir na tomada de decisão de forma mais assertiva no processo de intervenção, recuperação e manutenção dessas edificações históricas, este trabalho tem por objetivo apresentar às patologias e os danos mais comuns nas fachadas de duas edificações históricas localizadas próximas a orla marítima da cidade de Salvador – BA. Para atingir o objetivo proposto, foram realizadas visitas ao local, mapeamento fotográfico, identificação dos danos e busca por informações que subsidiasse os diagnósticos. Os acontecimentos mais frequentes foram fissuras, destacamento, presença de vegetação, manchamento e sujidade. Os resultados evidenciam a necessidade de manutenção corretiva com o intuito de garantir a preservação dessas edificações. Palavras Chaves: Edificações Históricas, Patologias, Fachada, Degradação. Abstract Historical buildings represent the identity and culture of a people. Salvador is one of the most culturally representative cities in Brazil, housing several mansions built between the 18th, 19th and 20th centuries, which date back to colonial times. However, despite the technological and scientific advances in the area of construction materials and construction techniques, many of these buildings are affected by several pathologies, often caused by the action of the weather or by the use and action of man, presenting advanced stages of degradation, some even in a state of ruin, losing its material and cultural representativeness. In this context, as a way of contributing to decision making in a more assertive way in the process of intervention, recovery and maintenance of these historic buildings, this work aims to present the most common pathologies and damages in the façades of two historical buildings located near the border of the city of Salvador - BA. In order to reach the proposed objective, site visits, photographic mapping, damage identification and search for information that subsidized the diagnoses were carried out. The most frequent events were cracks, detachment, presence of vegetation, staining and dirt. The results evidenced the need for corrective maintenance in order to guarantee the preservation of these buildings. Keywords: Historical Buildings, Pathologies, Facade, Degradation.
  • 2. ‘ ANAIS DO 60º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2018 – 60CBC2018 2 1 Introdução As edificações históricas são verdadeiros testemunhos de um período da história de uma civilização. Demonstrando através das suas caraterísticas a importância de conservar viva a identidade de um povo, de uma nação. Toda via, com o passar dos anos, devido ao seu longo tempo de existência sofrem alterações nos seus componentes e materiais construtivos ocasionando a degradação. A água, a umidade, a luz, o ar, a poluição, a temperatura, os microrganismos são elementos que interferem direta ou indiretamente nos elementos de uma edificação, ocasionando danos e patologias muitas vezes irremediáveis. Esses danos podem ser de origem intrínseca ou extrínseca, ou seja, provenientes de materiais que constituem a edificação ou de fatores externos ao mesmo. Como fatores intrínsecos têm-se os processos químicos resultantes dos materiais empregados numa construção, estando esses relacionados às características formais das fachadas e pelas características dos materiais empregados. As características formais se relacionam à superfície dos materiais de revestimento, já as características dos materiais estão ligadas às propriedades mecânicas e físicas dos diferentes materiais (TREVIISAN, 2003). Como extrínsecos têm-se os fatores físicos resultantes de ações externas no elemento como problemas de vandalismo, de catástrofe, de erosão, ação mecânica, ação de animais, plantas e do meio ambiente. Tendo em vista, os edifícios ficarem expostos ao tempo por toda a sua existência, os elementos da natureza são os maiores responsáveis pela maior parte das patologias que ocorrem nas edificações (LIMA et al., 2014; TREVISAN, 2003). Os agentes climáticos, especialmente o vento que transporta partículas que chocam com os rebocos e as variações de temperatura provocam desgaste continuado dos revestimentos de reboco das paredes, dos rebocos que as protegem. A água também é um dos agentes que de forma direta ou indireta está relacionada com maior parte das patologias e o umedecimento dos materiais, acompanhando ou potencializando as propriedades físicas desses materiais, o que de certa forma interfere nas condições de habitabilidade da edificação (CARVALHO, 2014; GUIMARÃES, 2009). A influência da forma e das proporções da fachada são fatores que afetam diretamente o modo de incidência do vento e da chuva, que dependerá tanto da orientação das fachadas frente às correntes do ar, quanto dos obstáculos existentes. A composição geral é um fator importante para avaliar o resultado das ações de sujidade e manchas que ocorrem sobre ela. Assim como a influência da temperatura responsável pelo ressecamento de materiais. Outro aspecto importante é à disposição dos planos maciços ou a existência de planos avançados ou recuados que igualmente aumentam a disposição de partículas de sujidade e a incidência de ventos e chuvas (VALLEJO, 1990; LIMA et al., 2014). Silva (2006) ressalta a importância dos detalhes construtivos no desempenho do revestimento de fachada, pois, contribuem de forma decisiva no comportamento dessas,
  • 3. ‘ ANAIS DO 60º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2018 – 60CBC2018 3 assim como as propriedades dos materiais empregados na superfície tais como absorção, textura e cor e características arquitetônicas. O conhecimento e a identificação dessas patologias são necessários, pois, permite promover meios de prevenção e verificar o risco desta para os seus usuários, subsidiando intervenções de forma mais assertiva, pois, segundo Guimarães (2009) os edifícios antigos que chegaram aos dias de hoje preservando a sua autenticidade são aqueles que tiveram uma manutenção periódica limitada ao que era necessário ser executado, com materiais e técnicas tradicionais originais ou compatíveis da referida época. Logo, o estudo das manifestações patológicas, assim como suas causas, efeitos e consequências em qualquer que seja a edificação, é essencial, pois estas edificações podem causar algum dano maior para os seus usuários. Neste sentido, este trabalho tem por objetivo fazer uma avaliação das manifestações patológicas das fachadas de duas edificações históricas localizadas próximas a orla marítima na cidade de Salvador, capital baiana. A foto 1 apresenta a localização das edificações que serão analisadas. Foto 1: Localização geográfica das edificações(google maps, (2018)) 2 Metodologia A metodologia de inspeção empregada para a análise das edificações históricas seguiu as recomendações de Tinoco (2009); análise histórica do edifício; levantamento documental; estudo de pesquisa em campo datada em 26.03.2018, 15.04.18 e 15.05.2015, mapeamento fotográfico através de veículo aéreo não tripulado (VANT) e câmera fotográfica de alta resolução; identificação e classificação das manifestações patológicas; diagnósticos dos danos. A B
  • 4. ‘ ANAIS DO 60º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2018 – 60CBC2018 4 3 Caracterização tipológica das edificações As edificações em estudo, denominadas, edificações A e B estão localizadas no bairro do comércio, bairro histórico da capital baiana, construído para ser o centro comercial de salvador na época vigente. As edificações foram construídas durante o século XIX com uma arquitetura marcada pelos traços da referida época, com muitos detalhes nas fachadas, janelões em formato de ogiva. As seleções das edificações foram feitas com base na semelhança arquitetônica, período de construção, materiais constituintes e técnicas construtivas de forma a uniformizar o máximo possível às amostras e obter uma melhor correlação dos parâmetros analisados. Este trabalho focar-se-á, na análise das manifestações patológicas das fachadas dessas edificações as quais podem prejudicar o desempenho da função básica da obra, a sua estética, e favorecer para a ocorrência de maiores danos no edificado. O quadro 1 apresenta as características das edificações mais relevantes para o estudo. Quadro 1: características das edificações (AUTORES (2018)) COLETA DE DADOS Edificação Edifício A Edifício B Tipo de uso da edificação Residencial/comercial Residencial/comercial Idade (anos) Não informado Não informado Bairro Comércio Comércio Distância em relação ao mar (m) 91,07 222,14 Número de pavimentos 2 pavimentos 2 pavimentos Sistema Construtivo Tijolo queimado e Cantarea (pedra) Tijolo queimado Acabamento da fachada Pintura Pintura Projeto da fachada Não Não Intervenções recentes Não Não Área Total aproximada de fachada Não informada Não informada Muitas são as manifestações patológicas que podem está numa fachada de uma edificação histórica. O conhecimento das causas envolve diversos fatores, algumas vezes de difícil diagnóstico pela longa exposição dessas edificações aos fatores externos. Logo, uma inspeção criteriosa com manutenções adequadas, rotineiras possibilitará uma maior
  • 5. ‘ ANAIS DO 60º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2018 – 60CBC2018 5 durabilidade dessas edificações. As imagens seguintes apresentam as edificações e suas orientações. (a) (b) Figura 1: Em (a) orientação das fachadas; em (b) fachada frontal da ediifcação A, e fachada lateral (sul) (AUTORES (2018)) (a) (b) Foto 2: Em (a) fachada lateral (sul) e fachada posterior (sudeste); Em (b) fachada lateral (oeste) (AUTORES(2018))
  • 6. ‘ ANAIS DO 60º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2018 – 60CBC2018 6 (a) (b) Figura 2: Em (a) orientação das fachadas da edificação B; Em (b): Fachada lateral (sul) (AUTORES (2018)) (a) (b) Foto 3: Em (a) Fachada frontal 1 (sudoeste) e fachada frontal (sudoeste); Em (b) fachada lateral (sul) (AUTORES, (2018)) 3.1 Caracterizações dos danos nas Fachadas As ações externas as quais as edificações estão submetidas como a temperatura, radiação solar, vento, umidade modificam as propriedades dos materiais constituintes das fachadas. Afetando diretamente a maneira como se dá a absorção de água e capilaridade pelas vedações e como esses componentes reagem à variação de temperatura (LIMA et al., 2014).
  • 7. ‘ ANAIS DO 60º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2018 – 60CBC2018 7 3.1.1 Fissuras Durante a inspeção as edificações, constatou-se a existência de fissuras no revestimento das fachadas. A fissura observada na edificação A encontra-se localizada na fachada lateral, fachada oeste. Na edificação B, a fissura está localizada na fachada sudoeste. As fissuras verticais podem ser ocasionadas por problemas estruturais nas paredes, necessitando de um acompanhamento para ter um diagnóstico mais aprofundado. As fissuras também são decorrentes dos gradientes de temperaturas que em dias quentes aquecem mais as partes externas da edificação do que as internas, já que estas encontram-se mais expostas aos agentes atmosféricos. Do mesmo modo, acontece com as temperaturas mais baixas que tendem a resfriar mais rapidamente o exterior das edificações do que o seu interior. Esses gradientes de tensão provocam fissuras nos revestimentos das fachadas. As fissuras, do mesmo modo, podem ser originadas devido à perda de água da argamassa após a aplicação, hidratação tardia de cal magnesiana e expansões de material graúdo, como torrões de argila na variação de umidade ou materiais com dilatação muito diferente, frente às mudanças de temperatura (Teles, 2010). (a) (b) Foto 4: Fissuração nas fachadas da: (a) edificação A; e (b) edificação B (Sudoeste) (AUTORES (2018)) Outro fenômeno que pode ocasionar a fissuração e consequentemente a degradação desses materiais está associado à cristalização dos sais que provocam variação de volume e consequentemente fissuração. Segundo Guimarães (2009) o fenómeno da hidratação/desidratação de acordo com a temperatura e a pressão parcial do vapor de água do meio, podem existir sais em diferentes estados de hidratação. Cada estado de hidratação corresponde a um determinado volume específico. No interior dos poros dos materiais, quando a passagem de um estado para o outro provoca aumento de volume, são criadas forças que são exercidas nos materiais e degrada os materiais.
  • 8. ‘ ANAIS DO 60º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2018 – 60CBC2018 8 3.1.2 Destacamento do Material De modo geral, constatou-se perda de material em ambas as edificações. O destacamento destes materiais possivelmente está associado à cristalização dos sais no interior desses materiais. O sulfato pode ter origem nos materiais que o compõem ou no contato com a umidade proveniente do solo, de águas que contenha este agente, tendo em vista que as edificações estão localizadas em área de marinha. Foi observado, que o destacamento na edificação A, ocorre próximo à janela, fachada lateral sul. Os sulfatos ao cristalizarem devido a sua dissolução em contato com a água se expande causando tensão de cristalizações interna nos materiais provocando a destacamento do material. Na edificação B, ocorre na base de um dos pilares da fachada frontal, sudoeste, com perda de material acentuada com pontos de erosão. Segundo (COLEN et al.,2012) ao contrário do que se observa no caso das fissuração e das manchas, verifica-se que os destacamentos raramente acontecem de forma isolada, mas resultam de estados patológicos, de uma combinação de anomalias e de agentes de degradação, sendo que nas argamassas antigas este fenômeno é mais frequente e se manifesta por pulverização, desagregação de vários componentes da argamassa; arenização, perda ou lavagem da partículas finas da argamassa caracterizada pelo fácil destaque de partículas de dimensão; erosão, pelo fácil destaque das superfícies do material por ação dos elementos atmosféricos. (a) (b) Foto 5:Destacamaento das fachadas da: (a) edificação A; e (b) edificação B (AUTORES, 2018))
  • 9. ‘ ANAIS DO 60º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2018 – 60CBC2018 9 3.1.3 Degradação das Marquises As marquises encontram-se em avançado estado de degradação, apresentam perda de materiais em suas partes contituintes, manchas escuras, afetando a durabilidade e a estética dos elementos que a compõe. (a) (b) Foto 6: Degradação das marquises da Edificação A em (a) e (b) (Autores (2018)) As manchas apresentam características de serem possivelmente formadas por biofilme. O biofilme é formado pela proliferação de organismos vivos, que senão removidos podem gerar a degradadação do local em que estão instalados. (a) (b) Foto 7: Degradação das marquises da edificação B, em (a) e em (b) (AUTORES (2018)) 3.1.4 Manchamento Em todas as fachadas analisadas foram encontradas manchas escuras, características da presença de agentes biológicos e de umidade. Os principais agentes biológicos, responsáveis pela biodeterioração em edificações antigas, são as bactérias, os fungos e as algas. Sendo esta ultima bastante encontrada, na Bahia, em locais de clima úmido, provocando o enegrecimento de rebocos, rochas e até penetra pelo craquelê do vidrado
  • 10. ‘ ANAIS DO 60º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2018 – 60CBC2018 10 dos azulejos. As principais causas estão associadas à exposição das intempéries e poluição atmosférica, provocadas pelo depósito de sujeiras, e poluentes sobre a superfície da alvenaria (OLIVEIRA, 2011; TREVISAN, 2003). (a) (b) FOTO 8: Manchamento das fachadas da: (a) edificação A (fachada frontal, sudoeste); e (b) edificação B (fachada frontal 1, sudoeste) (AUTORES (2018)). Na edificação B foi caracterizada manchas de umidade oriunda das águas da chuva. Nas edificações antigas as umidades oriundas pelas águas da chuva eram controladas pelas grandes espessuras das paredes o que permite períodos de umedecimento e secagem segundo as estações do ano sem que essas se manifestassem no interior das edificações, desta forma evitando a proliferação de fungos e agentes biológicos no seu interior. 3.1.5 Presença de Vegetação Foram constatadas nas edificações a presença de vegetação, vegetais superiores. A existência desses vegetais nas fachadas indica a presença de umidade, que é um dos principais fatores de degradação dos elementos construtivos, principalmente em edificações históricas gerando diversas patologias, dentre elas deterioração dos materiais, que levam ao aparecimento de microfissuras e lascamento das rochas, perda de revestimentos decorativos, desenvolvimento de microrganismos, deterioração de telhas e alterações das condições de habitabilidade e conforto (GUIMARÃES, 2009).
  • 11. ‘ ANAIS DO 60º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2018 – 60CBC2018 11 Foto 9: Presença de vegetação das fachadas da: (a) edificação A (fachada postetior, sudeste); e (b) edificação B (fachada lateral oeste) (AUTORES (2018)) 3.1.6 Destacamento da Pintura em partes das paredes O destacamento da pintura foi observado em algumas paredes nas ediifcações, mas especificamente na fachada oeste da edificação A, e fachada sudoeste (frontal 2) da ediifcaçao B. As edificações estão expostas constatemente as intempéries. Os raios ultravioletas são prejudiciais aos pigmentos das tintas e, quando combinados com altas temperaturas causam a rápida degradação da película sintética pela perda de elasticidade e enfraquecimento do filme. Consequentemente acontece, também, dilatação diferencial entre as camadas sobrepostas, expostas ao calor. Com o passar do tempo formam-se fissuras capilares com a migração de agentes degradantes do meio para o interior do suporte (BEZERRA, 2010). (a) (b) Foto 10: Destacamento da pintura da: (a) Edificação; e (b) edificação B (AUTORES (2018))
  • 12. ‘ ANAIS DO 60º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2018 – 60CBC2018 12 3.1.7 Sujidade A presença de sujidade foi observada nas fachadas sudoeste da edificação A e sul da edificação B. Estas se dão principalmente em função da ação antrópica, fruto de vandalismos e falta de conscientização pela preservação do patrimônio histórico edificado. Segundo Lersch (2003) entre os danos causados pela ação do homem estão os desgastes gerados pelo uso, falta de conservação preventiva e intervenções indevidas nas edificações, o desenvolvimento urbano, além dos atos de vandalismos. Foto 11: Sujidade da: (a) edificação A; e (b) Edificação (B) (AUTORES (2018)) 4 Considerações Finais Diante das inspeções feitas e das evidências observadas in loco constatou-se que apesar do grande valor arquitetônico e histórico, essas edificações encontram-se em completo estado de abandono com condições muito precárias de uso e conservação. Das edificações analisadas as fachadas da edificação A, encontra-se bastante deteteriorada com alguma preservação das suas caracterísicas originais, necessitanto de manutenção e correção das patologias o mais breve possível. Essa edificação fica mais exposta ao mar, apresentando maior deterioração em relação as patologias causadas pelo sulfato como destacamento dos revestimentos das fachadas, manchas escuras e fissuração. As fachadas da edificação B, apresenta melhor estado de conservação com preservação das suas características originais e dos seus detalhes construtivos, entretanto necessita de manutenção corretiva das patologias encontradas. O que se observou através do estudo feito, pela inspeção das edificações das fachadas, é que existe sim uma influência significativa da proximidade do mar, embora não tenham sido quantificadas, as patologias causadas pelos sais são visivelmente notórias. A umidade também é bastante evidente, o que é caracterizado pela presença da vegetação nas edificações. Diante do exposto, observa-se que essas edificações poderiam estarem em plena capacidade funcional, mas
  • 13. ‘ ANAIS DO 60º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2018 – 60CBC2018 13 em muitos casos servem de acúmulo de entulho sendo alvo de vandalos como “pinchações” degradando ainda mais o patrimônio edificado. A perda das características originais dessas edificações, significa perder parte da história, parte da identidade de um povo. Deixar essas edificações na situação atual as quais se encontram é o mesmo que afirmar que não há necessidade de se ter “memória” do patrimônio histórico e cultural. 5 Referências BEZERRA,F.A. As cores das Fachadas de Edificações Históricas Pintadas a Cal. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2010. CARVALHO,M.C.N.G. Reabilitação de Revestimentos de Paredes de Edifícios Antigos. Dissertaçao para obtenção do Grau de Mestre em Construção e Reabilitação. Técnico de Lisboa, 2014. COLEN, I.F; GASPAR,P.L; BRITO,J. Técnicas de Diagnóstico e Classificação de Anomalias por perda de Aderência em Rebocos. Universidade Técnica de Lisboa. Portugal, 2012. GUIMARÃES, J.P. Técnicas Tradicionais de Construção, Anomalias e Técnicas de Intervenção em Fachadas e Coberturas de Edifícios Antigos. Dissertação de mestrado em Engenharia Civil. Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, 2009. GOOGLE MAPS. Disponível em: < https://www.google.com.br/maps>. Acessado em 18.05.2018. LIMA, G. E. S. L; SOUZA, K.D; T, A. C. G. Investigação e Diagnóstico de Patologias Relacionadas às Fachadas de uma Edificação. XV Encontro Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído. Alagoas, Maceió, 2014. LERSCH, M.I. Contribuição para a Identificação dos Principais Fatores e Mecanismos de Degradação em Edificações do Patrimônio Cultural de Porto Alegre. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2003. OLIVEIRA, M.M. Tecnologia da conservação e da restauração - materiais e estruturas: um roteiro de estudos [online]. Salvador: EDUFBA, 2011. Disponível em: < www.edufba.ufba.br> Acessado em 12.04.2018 SILVA, F. G. S. Proposta de Metodologias Experimentais Auxiliares à Especificação e Controle das Propriedades Físico-mecânicas dos Revestimentos em Argamassa. 2006. 266p. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-Graduação em Estruturas e Construção Civil, Universidade de Brasília, 2006.
  • 14. ‘ ANAIS DO 60º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2018 – 60CBC2018 14 Teles, Carlos Dion de Melo. Inspeção de fachadas históricas. levantamento de materiais e danos de argamassas. Tese (Doutorado-Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo e Área de Concentração em Arquitetura, Urbanismo e Tecnologia) – Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo, 2010. TINOCO,E.G. Mapa de Danos e Recomendações Básicas. V.43.Centro Avançado de Estudos para Conservação Integrada, 2009. TREVISAN, R. Patologias nas construções históricas. In: BRAGA, M.. (Org.) Conservação e restauro: arquitetura brasileira. Rio de Janeiro: Ed. Rio, 2003. VALLEJO, F. J. L. Ensuciamiento de fachadas por contaminación atmosférica: análisis y.prevención. Valladolid: Universidad, Secretariado de Publicaciones, 1990.