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Nº 1 06/2011

Craft+Design

Tendências para 2011

A intimidade do
artista-artesão
piauiense AGADMAN,
em entrevista exclusiva

Mercado
Inovação é a chave
para o sucesso
apresentando

artesanato | cultura

ESCOLA SUPERIOR DE PROPAGANDA E MARKETING

Quando se trata de artesanato, cada peça é única. Ela carrega

CURSO DE GRADUAÇÃO EM DESIGN
COM HABILITAÇÃO EM COMUNICAÇÃO E ÊNFASE EM MARKETING

foram usadas e um pouco da matéria-prima. Por mais que sejam

Projeto integrado do 3º semestre das
disciplinas:
Projeto III - Cultura e Informação Prof. Marise De Chirico e Prof. Dr. Marcello Montore
Língua Portuguesa III Prof. Regina Ferreira da Silva
Marketing II Prof. Vivian Iara Strehlau
Módulo de Atividades Habilitação/ Cor
Prof. Paula Csillag
Produção Gráfica Prof. Antonio Celso Collaro
Edição de imagens, Projeto gráfico,
Diagramação, Tratamento de imagens,
Revisão, Editores:
Daisy Kyoko Tamashiro
Fernando Imai Hoshiko
Leonardo Broglio Deusdado
Marina Valentin Thobias
Pedro Vincente de Andrade
Vitor Mello Artigas

consigo um pouco do artista, um pouco das ferramentas que

semelhantes, duas peças nunca são iguais, cada peça é única:
ímpar. A nossa revista que tem como objetivo principal trazer
uma visão abrangente do universo do artesanato, focando essencialmente na sua relação com a cultura, também é ímpar.
Dentro desse tema, sentimos a necessidade de construir uma
identidade forte do artesão brasileiro que é pouco valorizado,
mesmo tendo uma forte influência sobre a cultura brasileira
em geral. Na seção “conversando” há uma entrevista com o
artista e artesão Agadman, que divide conosco um pouco de
sua vida e sua ideologia. Ainda reforçando a importância de
se reverenciar o artesanato brasileiro, na seção “viajando”, há
um completo panorama sobre a influência do artesanato da
cidade de Cunha, interior de São Paulo, atualmente a maior
produtora de peças de cerâmica do Brasil.
Na seção “visualizando”, última página desta edição, há um poema visual, que dialoga com o tema e a identidade da publicação.

Boa leitura!

Acompanhe nossas novidades
pela internet:
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Sumário

Fique por dentro
de cursos, eventos
e o Craft Design
2011

08

Cerâmica de
Santarém ou
Tapajônica, mas o
que é isso?

27

Saiba mais sobre
Cunha, interior
de São Paulo,
famoso por seus
artesanatos

Como tornar
seus produtos
artesanais mais
sustentáveis?

Aprenda a criar
com crochê essa
linda pulseira de
corrente

Inovação no
artesanato, saiba
como desenvolver
e expandir seus
negócios

10

30

Erick Renan
fala sobre o que
achou da Feira de
Jequitinhonha

14

32

17

Confira os
bastidores e as
fotos do desfile
Dragão Fashion
2011

36

Conheça melhor
o artesão-artista
Agadman e suas
obras incríveis

20

Poema visual:
relaciona com o
tema e sempre
fecha nossa revista

38
conversando
acontecendo

acontecendo

Craft+Design
Idealizada há mais de 10 anos, a Craft Design é uma
feira de negócios que apresenta tendências na área de
decoração, design e arte.
Direcionada a lojistas, fabricantes, arquitetos, decoradores e profissionais do setor em geral, a Feira promove, semestralmente, a integração tanto de novos
talentos, quanto de designers consagrados, com o setor produtivo e seus canais de distribuição.
O talento e a idoneidade dos expositores, somados a
um excelente clima para negócios e um eficiente trabalho de divulgação, tem trazido para o evento, a cada
edição, empresários e profissionais de todo o Brasil e
do exterior. Neste ano, o evento acontece dos dias 25 a 28
de agosto em São Paulo, SP.

Modelagem
de cerâmica

O Brasil na
arte popular

Das 10h às 20h
Terraço Villa Daslu
Av. Juscelino Kubitschek, 2.041
Vila Olímpia - São Paulo - SP

Feincartes – CE
Realizada na maior região de comercio do Ceará – a avenida Mosenhor Tabosa em Fortaleza, a Feincartes – CE
chega a sua terceira edição com enorme sucesso. Realizada no Moderno e bem localizado Centro de Negócios
do Sebrae, em ambiente totalmente climatizado, a feira
tem sido uma ótima oportunidade de negócios e vendas
aos expositores. O publico cearense tem uma ligação
muito forte com o artesanato, além disso, Fortaleza é
destino turístico certo durante todo o ano, fazendo com
que a feira tenha uma grande variedade de público com
um ótimo perder de compra. Tudo isso aliado a um amplo plano de divulgação e mídia.
Data: de 17 à 26 de junho de 2011
Local: Centro de Negócios do Sebrae.
Entrada: R$ 06 (seis reais).
Horário: das 15h00min às 22h00min
Pessoas acima de 60 anos pagam meia-entrada e
crianças até 12 anos de idade, acompanhadas por
responsável, tem entrada liberada.

8

Para quem procura aplicar técnicas variadas de modelagem em argila.
Serão demonstradas técnicas para a modelagem peças decorativas e utilitárias:
vasos, cachepôs, travessas e cinzeiros.
Além de técnicas para secagem, utilização
adequada do forno e técnicas de queima.
Rua Bom Pastor, 654 - Ipiranga
São Paulo - SP
Tel: (11) 2065-0150
www.sesisp.org.br/ipiranga

Foi aberta no último dia 17 de maio/11 a exposição de
obras de arte popular brasileira no Museu Nacional em
Brasília. A exposição com 1.500 obras de 70 artistas populares pertence ao acervo Museu Casa do Pontal do Rio de
Janeiro, e fica aberta ao público até o dia 26 de junho/11.
Muito bem organizada, é muito mais que apenas apresentar obras de artistas populares brasileiros, é uma viagem
pela cultura e folclore de todos os estados do país, numa
riqueza de valores que merece uma visita. O Museu Nacional de Brasília fica na Esplanada dos Ministérios, Setor
Cultural Sul e a exposição está aberta ao público de terça
a domingo, das 9h às 18h30. Imperdível.
Mais informações: http://www.popular.art.br/

9
Mãos de argila
Artesãos de Cunha, SP, criam peças de
beleza singular e transformam a
cerâmica em atração turística

De seu ateliê, em frente à exuberância da Serra da Bocaina, Mieko Ukeseki
avista a bela paisagem montanhosa de
Cunha, a 227 quilômetros de São Paulo.
É ali, diante do torno, que suas mãos untadas com água dão forma ao barro. Com
a técnica - aperfeiçoada há quase 40 anos
- e paciência oriental, ela deixa sua marca
nas peças. Mieko é pioneira na produção
de cerâmicas em forno noborigama na cidade. Ao chegar ao Brasil, em 1975, se
instalou na capital paulista, no apartamento de uns amigos, até encontrar um
lugar para realizar seu trabalho.
Em um mês descobriu a Estância Climática de Cunha, um lugar bastante sossegado, com extensa área verde, localizado entre os contrafortes das Serras da
Quebra Cangalha e do Mar, próximo a
Paraty, RJ. Decidiu ficar. Convidou mais
artistas, entre eles o ceramista português
Alberto Cidraes, que também veio ao Brasil para trabalhar com o noborigama. Eles
transformaram um galpão, cedido pela
prefeitura, no primeiro ateliê de Cunha.
"Éramos um grupo de seis pessoas, muito
unido e que se ajudava e ensinava uns
aos outros", diz Mieko. Em janeiro de
1976 fizeram a primeira queima.
Quando foram para Cunha, a cidade
tinha apenas um hotel e nenhum restaurante. Por meio da cerâmica surgiu a
possibilidade de desenvolvimento para a
região. Devido ao crescimento dos ateliês
e à divulgação que ela e outros artistas faziam em palestras sobre cerâmicas além
dos limites de São Paulo, aos poucos os
turistas foram chegando, e a necessidade
de ter infraestrutura para atender toda
essa gente também aumentou.
Com 26 mil habitantes,
divididos entre a área urbana e o campo, o município tem sua economia baseada na pecuária leiteira,
no plantio de feijão, milho
e batata e, desde o final da
década de 1980, no turismo rural. "A cerâmica tem bastante espaço na melhoria
da economia. A atividade fez muito bem
à cidade, porque causou essa vinda de
turistas", diz Mieko. Hoje, existem mais

Mieko Ukeseki foi quem
iniciou a produção de
cerâmica em Cunha

de 50 estabelecimentos de hospedagem e
alimentação e pouco mais de 20 ateliês
com 30 ceramistas.
O forno noborigama é uma técnica milenar chinesa, incorporada e aperfeiçoada pelos japoneses. Em japonês, numa
tradução literal, noboro significa rampa e
gama forno. O forno, de alta temperatura,
é construído em degraus, em declive natural, e pode chegar a 1.400 graus célsius
(ºC). As câmaras interligadas proporcionam o aproveitamento do calor - que,
ao ser produzido na fornalha, sobe gradualmente
para as câmaras.
A fornalha, também conhecida como boca, é alimentada com madeira de
eucalipto reflorestado. A primeira queima,
chamada de biscoito, é levada de 800 ºC a
900 ºC por 24 horas. Essa pré-queima serve
para dar resistência e porosidade à peça, tirando toda a água e dando mais aderência

A cerâmica tem
bastante espaço na
melhoria da economia

11
A queima
com forno
Noborigama já
era utilizada há
mais de mil anos
atrás no Japão

ao esmalte. Ao fim da primeira
queima, a peça é limpa e esmaltada. Após essa etapa, inicia-se
a queima definitiva, em que as
peças ficam no forno durante
30 horas contínuas. Quando
todas as câmaras atingem a
temperatura desejada, ou
seja, 1.400 ºC, o processo
está concluído. O fogo é
extremamente importante
nesse processo. É ele que
vai determinar o resultado
da fusão dos esmaltes e da
coloração do barro e dará a
resistência à peça.
E tudo começa pelas mãos

A qualidade e a variedade da argila
fazem de Cunha o local ideal para a
instalação dos ateliês de cerâmica

do artista - que dá forma ao barro.
Os quatro elementos - terra, água,
fogo e ar - se unem durante a fabricação da cerâmica. O processo
de transformação da argila em
uma obra de arte é para muitos
ceramistas algo que envolve magia e emoção. Ele acontece como
um ritual, da extração da argila
da natureza à queima nos fornos noborigama.
Cada ceramista tem uma
característica e um projeto
artístico. Uns usam a esmaltação, outros preferem
a cerâmica rústica. Há os
que gostam de produzir

utilitários como xícaras, pratos, canecas, vasilhas. Outros gostam de
objetos de decoração. O tipo de forno também diferencia: dos 20 fornos existentes em Cunha, cinco são
noborigama. Os outros ateliês usam
forno elétrico e a gás. A singularidade e a criatividade dos ceramistas
de Cunha fazem com que cada um
a seu modo conquiste o público. “A
maleabilidade do barro permite a
você gerar qualquer tipo de forma.
É um desafio transformar a terra, o
chão que a gente pisa, em peças de
valor, seja artístico, seja econômico”
diz Alberto Cidraes.
Nos últimos 20 anos, a cidade ficou conhecida como o polo criativo
na produção de cerâmicas, principalmente depois da transformação
da abertura dos fornos noborigama
num grande evento, idealizado pelo
ceramista Gilberto Jardineiro e sua
esposa, Kimiko Suenaga.
Incorporados ao grupo de ceramistas instalados no município, eles
vieram para o Brasil em 1984, quando construíram seu primeiro forno
noborigama. Desde 1988, abrem
as fornadas para os turistas. Com
didática e paixão pelo que faz, Jardineiro explica o passo a passo da
produção da cerâmica: da extração
da argila da natureza à queima final.
Jardineiro não queria ser um comerciante de cerâmicas, muito menos
colocar suas peças em exposições;
assim, convidar as pessoas para ir
ao seu ateliê foi a forma que ele encontrou para tornar seu

trabalho conhecido, além de atrair
turismo para a cidade. A abertura
dos fornos deu um outro significado
às peças. “A cerâmica tem de fazer
parte da vida das pessoas. É para ser
usada”, diz.
A cada dois meses, abrem-se novas fornadas. É sempre uma surpresa. A fusão do fogo com o esmalte

A cerâmica tem de
fazer parte da vida
das pessoas. É para
ser usada
produz efeitos inéditos, de beleza
singular. A fuligem produzida pela
queima da lenha também influencia
no resultado final. Todas as peças
são únicas e exclusivas. Apesar de o
artista conhecer o funcionamento de

todo o processo, ele não tem como
definir a forma final das peças.”A
cerâmica é um enigma: você só vai
saber o resultado do trabalho quando abrir o forno”, diz Jardineiro ao
tirar uma caneca cor creme, esmaltada com argila, cinza de lenha, cinza de casca de arroz e feldspato do
forno recém-aberto.
As fortes chuvas que castigaram
a região de Cunha no começo deste ano prejudicaram o fluxo de turistas. Porém, eles voltaram com a
abertura dos fornos e devem acorrer
novamente em grande número - é o
que todos na cidade esperam - aos
eventos tradicionais do município,
como o Festival de Pinhão, a exposição em honra ao Dia do Ceramista
(28 de maio) e as festas de cunho
religioso.

Gilberto Jardineiro iniciou seu
trabalho com cerâmica no Japão,
em 1980
conversando

14

conversando

15
Agadman

O atelier de formas do artistaartesão, pintor e entalhador
além de confeccionador de
móveis, painéis circulares
em madeira, etc.

Eu me apaixonei
pelas formas, pelas cores
A beleza
independe da
política, inclusive
da cultura

Revista Ímpar - Quando começou a
trabalhar com madeira?

Agadman - Acho que, com vinte e
poucos anos, eu comecei esta brincadeira.
É, com dezessete anos é que eu desenvolvi
mais isso, é que eu mexia com desenho com
pintura, modelagem em durepox.

Revista Ímpar - Qual é a sua escola, como você
aprendeu, como foi?

Agadman - Isso não tem escola não, é da
vontade que vem da alma- mexia com gado,
com fazenda, né, e criei uma paixão, o resto
foi desenvolvendo no automático do meu
ser, uma vontade de ver o estranho de ver
a diferenciação, de mergulhar em outros
espaços, que não fossem conhecidos pelas
pessoas. Eu sempre acreditei em universos
diferentes, eu vejo as pessoas que tem
capacidade de exercer as faculdades, dirigidas
em qualquer sentido que quer ciência, então
eu me apaixonei pela formas, pelas cores.


18

Uma das belas criações de
Agadman.

Revista Ímpar - E essa coisa de você trabalhar com madeira?

Agadman - Em Brasília comecei a fazer artesanato, e olhando
aquela cidade toda com formas retas, as pessoas morando naqueles
prédios quadrados, etc., procurei fazer algo diferente, um
diferencial, então comecei a fazer entalhes em discos de madeira,
eu já mexia com madeira. Minha idéia era encher a cidade com
uma forma que não tinha lá. Aconteceu aí, olha - mostrando o
atelier - o trabalho de madeira é o seguinte: primeiramente eu
conquistei o desenho, até quando cheguei hoje numa forma, que
eu encontrei um símbolo universal de contorno de qualquer
imagem, no desenho, que uma criancinha aprende isso em
menos de meia hora, isso é o ápice da minha pesquisa no
desenho (...) 
 A beleza independe da política, inclusive da
cultura, um cara sem cultura vê uma coisa que é linda, uma
vez eu foi num sítio velho lá no Piauí, e encontrei na parede
de um caboclo, que nem nunca foi na cidade, levei uma revista
velha e deixei pôr lá, tinha um clássico, uma mulher, uns
banhistas e tal, e eu achei que aquele cidadão ia achar aquilo
mais bonito, no entanto ele pegou um trabalho do Van Gogh,
um bem doido lá, e fez uma moldurinha de graveto e colocou lá
na parede, eu perguntei porque você escolheu isso? – “Porque isto
aqui é que é belo, não sei o que me deu, mas isso aqui é que é
belo, eu não entendo, mas eu gosto disso.” - então uma pessoa sem
estudar faz isso.

Revista Ímpar - Uma reprodução?

Agadman - É uma reprodução, que ele
colocou sagradamente na parede dele, e tinha
um retrato de um cavalo, de um boi bonito,
que pra mim, o que eu pensei daquela pessoa,
o que fosse satisfazer mais o indivíduo, mas
ele procurou aquilo, ele falou; “que não sabia
o que era, mas me faz um bem.” - entendeu?
Então, a arte é essa magia.


Cores vivas e fortes fazem parte de seu estilo.

19
Revista Ímpar - Você nasceu em que cidade do Piauí?

Agadman - Cidade Corrente.

Revista Ímpar - E lá nessa região tem tradição de
trabalhar com madeira, barro, artesanato?

Agadman - Tem não, só com enxada nas costas
mesmo, a gente plantava, feijão, batata...

Revista Ímpar - E hoje, você se considera um artesão
ou artista-artesão, como é isso?

Agadman - Todo artista deve ser um artesão, pra
poder desenvolver o jeito
de fazer o que ele quer, o seu
jeito, a sua maneira. Eu já fui um artesão, hoje eu me
considero um artista e dou trabalho para os artesãos
que estão comigo.

Revista Ímpar - Então pra você, o que é artesanato,
o que é ser artesão?
Agadman - O artesão copia, às vezes, até algo que
ele mesmo criou, ou não, pode ser a obra de outro
artista, então ele repete aquilo inúmeras vezes, e ele
visa o mercado, vender o seu produto com um preço
acessível, e coisa e tal. E o artesanato pode ser feito
de muitas maneiras não é só com as mã os, hoje você
pode se utilizar dos recursos modernos, até o laser,
pôr exemplo, é mais uma ferramenta, e o artesão
sempre utilizou ferramentas.

Revista Ímpar - E o que é ser artista, o que é arte?

Agadman - O artista faz o novo, algo que nunca se
viu, faz o único, e com isso encontra o seu lugar no
mundo, o lugar só dele. É o indivíduo que criou um
diferencial, e a arte dá essa possibilidade, a arte é
isso, a oportunidade de se expressar, é comunicação, é
uma liberdade de expressão, e cada um procura a sua
linguagem o seu modo de falar, seu modo de expressar
o que esta dentro dele, o que muitas vezes não se pode
dizer com palavras, é uma espécie de presente, que o
homem primeiro dá a si próprio e depois compartilha
com o mundo, a arte salva muita gente da loucura.

20

21
Jequitinhonha
e sua feira
por Eric Renan

Reconhecida como um dos espaços que melhor acolhem
a cultura do Norte de Minas, a tradicional Feira de Artesanato do Vale do Jequitinhonha volta a ocupar a Praça
de Serviços, no campus Pampulha, entre os dias 2 e 7
de maio. Em sua 12ª edição, o evento abrigará peças
produzidas por artesãos de duas etnias indígenas e homenageará a paneleira Dona Zizi e a fiandeira Dona Geralda, duas mestras que lutam para perpetuar seus ofícios.
A fama já ultrapassou – e muito – as fronteiras demarcadas pelo Rio Jequitinhonha. Na mão de homens
e mulheres habilidosos, barro, taboa e madeira dão forma a esculturas, trançados, cerâmicas, panelas, bonecas, moringas e tigelas, materializando uma das mais
belas expressões culturais da região. Mas, mesmo com
todo esse prestígio, os artesãos encontram dificuldades
para expor suas peças e vendê-las a um preço justo.
Uma exceção nesse cenário é a tradicional Feira de
Artesanato do Vale do Jequitinhonha, que este ano
chega à 12ª edição. Será realizada na próxima semana,
entre 2 e 7 de maio, numa promoção da Pró-reitoria
de Extensão (Proex), do Programa Polo de Integração
da UFMG no Vale do Jequitinhonha e da Diretoria de

Ação Cultural (DAC), reunindo, na
Praça de Serviços, 42 associações
de artesãos de 25 cidades do Vale.
Só no ano passado, os expositores
lucraram cerca de R$ 100 mil com
as vendas.
Dentre as novidades, destaque
para a participação de artesãos
de duas etnias indígenas, Aranã
e Pataxó-Pankararu, de Araçuaí.
“Isso dará visibilidade ao trabalho
artesanal realizado por eles, além
de reforçar a presença indígena no
campus”, afirma Terezinha Furiati,
coordenadora do Artesanato Cooperativo, ligada ao Programa Polo,
e que trabalha na organização do
evento. Outra inovação da edição de
2011 é a montagem de um espaço
especial para artesãos reconhecidos
do Vale. Entre os convidados, Ulisses Mendes, de Itinga, a família
de Dona Isabel, de Santana do Araçuaí, e Lira Marques, de Araçuaí.
O artesão João Alves, de Taiobeiras, é uma das estrelas da
Feira. Suas esculturas em argila já foram premiadas pela Unesco
e expostas em Belo Horizonte e Rio de Janeiro. No caso da capital mineira, ele produziu 40 peças que ficaram em exposição
no Palácio da Liberdade. “Elas representam o folclore de
Minas, um retrato da nossa cultura”, conta o artesão, que
participa da feira desde a primeira edição e hoje integra a
Associarte, entidade que, segundo ele, tem papel importante
na valorização de seu trabalho. “Graças a ela faço vários contatos e aprendo muito com os outros artesãos”, argumenta.
Além do artesanato, a música do Jequitinhonha também
invadirá a Praça de Serviços, com shows diários. Na segunda feira, dia 2, haverá apresentação do Coral Água Branca,
de Itinga; na terça, 3, Volber e Gilmar; na quarta, 4, o Grupo
Sarandeiros e, na sexta, 6, a Banda Terceira Margem, de
Montes Claros, sempre às 12h30. Na quinta-feira, dia 5, às
17h30, haverá homenagem às mestras de ofício Elzi Gonçalves Pereira e Geralda Leite Sena (veja abaixo) e show de
João di Souza e Chico Lobo. A entrada é franca.

A tradicional feira está
melhor do que nunca
visualizando
conversando

26

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  • 1. R$ 8,90 Nº 1 06/2011 Craft+Design Tendências para 2011 A intimidade do artista-artesão piauiense AGADMAN, em entrevista exclusiva Mercado Inovação é a chave para o sucesso
  • 2.
  • 3. apresentando artesanato | cultura ESCOLA SUPERIOR DE PROPAGANDA E MARKETING Quando se trata de artesanato, cada peça é única. Ela carrega CURSO DE GRADUAÇÃO EM DESIGN COM HABILITAÇÃO EM COMUNICAÇÃO E ÊNFASE EM MARKETING foram usadas e um pouco da matéria-prima. Por mais que sejam Projeto integrado do 3º semestre das disciplinas: Projeto III - Cultura e Informação Prof. Marise De Chirico e Prof. Dr. Marcello Montore Língua Portuguesa III Prof. Regina Ferreira da Silva Marketing II Prof. Vivian Iara Strehlau Módulo de Atividades Habilitação/ Cor Prof. Paula Csillag Produção Gráfica Prof. Antonio Celso Collaro Edição de imagens, Projeto gráfico, Diagramação, Tratamento de imagens, Revisão, Editores: Daisy Kyoko Tamashiro Fernando Imai Hoshiko Leonardo Broglio Deusdado Marina Valentin Thobias Pedro Vincente de Andrade Vitor Mello Artigas consigo um pouco do artista, um pouco das ferramentas que semelhantes, duas peças nunca são iguais, cada peça é única: ímpar. A nossa revista que tem como objetivo principal trazer uma visão abrangente do universo do artesanato, focando essencialmente na sua relação com a cultura, também é ímpar. Dentro desse tema, sentimos a necessidade de construir uma identidade forte do artesão brasileiro que é pouco valorizado, mesmo tendo uma forte influência sobre a cultura brasileira em geral. Na seção “conversando” há uma entrevista com o artista e artesão Agadman, que divide conosco um pouco de sua vida e sua ideologia. Ainda reforçando a importância de se reverenciar o artesanato brasileiro, na seção “viajando”, há um completo panorama sobre a influência do artesanato da cidade de Cunha, interior de São Paulo, atualmente a maior produtora de peças de cerâmica do Brasil. Na seção “visualizando”, última página desta edição, há um poema visual, que dialoga com o tema e a identidade da publicação. Boa leitura! Acompanhe nossas novidades pela internet: www revistaimpar.com.br @revistaimpar facebook.com/revistaimpar
  • 4. Sumário Fique por dentro de cursos, eventos e o Craft Design 2011 08 Cerâmica de Santarém ou Tapajônica, mas o que é isso? 27 Saiba mais sobre Cunha, interior de São Paulo, famoso por seus artesanatos Como tornar seus produtos artesanais mais sustentáveis? Aprenda a criar com crochê essa linda pulseira de corrente Inovação no artesanato, saiba como desenvolver e expandir seus negócios 10 30 Erick Renan fala sobre o que achou da Feira de Jequitinhonha 14 32 17 Confira os bastidores e as fotos do desfile Dragão Fashion 2011 36 Conheça melhor o artesão-artista Agadman e suas obras incríveis 20 Poema visual: relaciona com o tema e sempre fecha nossa revista 38
  • 5. conversando acontecendo acontecendo Craft+Design Idealizada há mais de 10 anos, a Craft Design é uma feira de negócios que apresenta tendências na área de decoração, design e arte. Direcionada a lojistas, fabricantes, arquitetos, decoradores e profissionais do setor em geral, a Feira promove, semestralmente, a integração tanto de novos talentos, quanto de designers consagrados, com o setor produtivo e seus canais de distribuição. O talento e a idoneidade dos expositores, somados a um excelente clima para negócios e um eficiente trabalho de divulgação, tem trazido para o evento, a cada edição, empresários e profissionais de todo o Brasil e do exterior. Neste ano, o evento acontece dos dias 25 a 28 de agosto em São Paulo, SP. Modelagem de cerâmica O Brasil na arte popular Das 10h às 20h Terraço Villa Daslu Av. Juscelino Kubitschek, 2.041 Vila Olímpia - São Paulo - SP Feincartes – CE Realizada na maior região de comercio do Ceará – a avenida Mosenhor Tabosa em Fortaleza, a Feincartes – CE chega a sua terceira edição com enorme sucesso. Realizada no Moderno e bem localizado Centro de Negócios do Sebrae, em ambiente totalmente climatizado, a feira tem sido uma ótima oportunidade de negócios e vendas aos expositores. O publico cearense tem uma ligação muito forte com o artesanato, além disso, Fortaleza é destino turístico certo durante todo o ano, fazendo com que a feira tenha uma grande variedade de público com um ótimo perder de compra. Tudo isso aliado a um amplo plano de divulgação e mídia. Data: de 17 à 26 de junho de 2011 Local: Centro de Negócios do Sebrae. Entrada: R$ 06 (seis reais). Horário: das 15h00min às 22h00min Pessoas acima de 60 anos pagam meia-entrada e crianças até 12 anos de idade, acompanhadas por responsável, tem entrada liberada. 8 Para quem procura aplicar técnicas variadas de modelagem em argila. Serão demonstradas técnicas para a modelagem peças decorativas e utilitárias: vasos, cachepôs, travessas e cinzeiros. Além de técnicas para secagem, utilização adequada do forno e técnicas de queima. Rua Bom Pastor, 654 - Ipiranga São Paulo - SP Tel: (11) 2065-0150 www.sesisp.org.br/ipiranga Foi aberta no último dia 17 de maio/11 a exposição de obras de arte popular brasileira no Museu Nacional em Brasília. A exposição com 1.500 obras de 70 artistas populares pertence ao acervo Museu Casa do Pontal do Rio de Janeiro, e fica aberta ao público até o dia 26 de junho/11. Muito bem organizada, é muito mais que apenas apresentar obras de artistas populares brasileiros, é uma viagem pela cultura e folclore de todos os estados do país, numa riqueza de valores que merece uma visita. O Museu Nacional de Brasília fica na Esplanada dos Ministérios, Setor Cultural Sul e a exposição está aberta ao público de terça a domingo, das 9h às 18h30. Imperdível. Mais informações: http://www.popular.art.br/ 9
  • 6. Mãos de argila Artesãos de Cunha, SP, criam peças de beleza singular e transformam a cerâmica em atração turística De seu ateliê, em frente à exuberância da Serra da Bocaina, Mieko Ukeseki avista a bela paisagem montanhosa de Cunha, a 227 quilômetros de São Paulo. É ali, diante do torno, que suas mãos untadas com água dão forma ao barro. Com a técnica - aperfeiçoada há quase 40 anos - e paciência oriental, ela deixa sua marca nas peças. Mieko é pioneira na produção de cerâmicas em forno noborigama na cidade. Ao chegar ao Brasil, em 1975, se instalou na capital paulista, no apartamento de uns amigos, até encontrar um lugar para realizar seu trabalho. Em um mês descobriu a Estância Climática de Cunha, um lugar bastante sossegado, com extensa área verde, localizado entre os contrafortes das Serras da Quebra Cangalha e do Mar, próximo a Paraty, RJ. Decidiu ficar. Convidou mais artistas, entre eles o ceramista português Alberto Cidraes, que também veio ao Brasil para trabalhar com o noborigama. Eles transformaram um galpão, cedido pela prefeitura, no primeiro ateliê de Cunha. "Éramos um grupo de seis pessoas, muito unido e que se ajudava e ensinava uns aos outros", diz Mieko. Em janeiro de 1976 fizeram a primeira queima. Quando foram para Cunha, a cidade tinha apenas um hotel e nenhum restaurante. Por meio da cerâmica surgiu a possibilidade de desenvolvimento para a região. Devido ao crescimento dos ateliês e à divulgação que ela e outros artistas faziam em palestras sobre cerâmicas além dos limites de São Paulo, aos poucos os turistas foram chegando, e a necessidade de ter infraestrutura para atender toda essa gente também aumentou. Com 26 mil habitantes, divididos entre a área urbana e o campo, o município tem sua economia baseada na pecuária leiteira, no plantio de feijão, milho e batata e, desde o final da década de 1980, no turismo rural. "A cerâmica tem bastante espaço na melhoria da economia. A atividade fez muito bem à cidade, porque causou essa vinda de turistas", diz Mieko. Hoje, existem mais Mieko Ukeseki foi quem iniciou a produção de cerâmica em Cunha de 50 estabelecimentos de hospedagem e alimentação e pouco mais de 20 ateliês com 30 ceramistas. O forno noborigama é uma técnica milenar chinesa, incorporada e aperfeiçoada pelos japoneses. Em japonês, numa tradução literal, noboro significa rampa e gama forno. O forno, de alta temperatura, é construído em degraus, em declive natural, e pode chegar a 1.400 graus célsius (ºC). As câmaras interligadas proporcionam o aproveitamento do calor - que, ao ser produzido na fornalha, sobe gradualmente para as câmaras. A fornalha, também conhecida como boca, é alimentada com madeira de eucalipto reflorestado. A primeira queima, chamada de biscoito, é levada de 800 ºC a 900 ºC por 24 horas. Essa pré-queima serve para dar resistência e porosidade à peça, tirando toda a água e dando mais aderência A cerâmica tem bastante espaço na melhoria da economia 11
  • 7. A queima com forno Noborigama já era utilizada há mais de mil anos atrás no Japão ao esmalte. Ao fim da primeira queima, a peça é limpa e esmaltada. Após essa etapa, inicia-se a queima definitiva, em que as peças ficam no forno durante 30 horas contínuas. Quando todas as câmaras atingem a temperatura desejada, ou seja, 1.400 ºC, o processo está concluído. O fogo é extremamente importante nesse processo. É ele que vai determinar o resultado da fusão dos esmaltes e da coloração do barro e dará a resistência à peça. E tudo começa pelas mãos A qualidade e a variedade da argila fazem de Cunha o local ideal para a instalação dos ateliês de cerâmica do artista - que dá forma ao barro. Os quatro elementos - terra, água, fogo e ar - se unem durante a fabricação da cerâmica. O processo de transformação da argila em uma obra de arte é para muitos ceramistas algo que envolve magia e emoção. Ele acontece como um ritual, da extração da argila da natureza à queima nos fornos noborigama. Cada ceramista tem uma característica e um projeto artístico. Uns usam a esmaltação, outros preferem a cerâmica rústica. Há os que gostam de produzir utilitários como xícaras, pratos, canecas, vasilhas. Outros gostam de objetos de decoração. O tipo de forno também diferencia: dos 20 fornos existentes em Cunha, cinco são noborigama. Os outros ateliês usam forno elétrico e a gás. A singularidade e a criatividade dos ceramistas de Cunha fazem com que cada um a seu modo conquiste o público. “A maleabilidade do barro permite a você gerar qualquer tipo de forma. É um desafio transformar a terra, o chão que a gente pisa, em peças de valor, seja artístico, seja econômico” diz Alberto Cidraes. Nos últimos 20 anos, a cidade ficou conhecida como o polo criativo na produção de cerâmicas, principalmente depois da transformação da abertura dos fornos noborigama num grande evento, idealizado pelo ceramista Gilberto Jardineiro e sua esposa, Kimiko Suenaga. Incorporados ao grupo de ceramistas instalados no município, eles vieram para o Brasil em 1984, quando construíram seu primeiro forno noborigama. Desde 1988, abrem as fornadas para os turistas. Com didática e paixão pelo que faz, Jardineiro explica o passo a passo da produção da cerâmica: da extração da argila da natureza à queima final. Jardineiro não queria ser um comerciante de cerâmicas, muito menos colocar suas peças em exposições; assim, convidar as pessoas para ir ao seu ateliê foi a forma que ele encontrou para tornar seu trabalho conhecido, além de atrair turismo para a cidade. A abertura dos fornos deu um outro significado às peças. “A cerâmica tem de fazer parte da vida das pessoas. É para ser usada”, diz. A cada dois meses, abrem-se novas fornadas. É sempre uma surpresa. A fusão do fogo com o esmalte A cerâmica tem de fazer parte da vida das pessoas. É para ser usada produz efeitos inéditos, de beleza singular. A fuligem produzida pela queima da lenha também influencia no resultado final. Todas as peças são únicas e exclusivas. Apesar de o artista conhecer o funcionamento de todo o processo, ele não tem como definir a forma final das peças.”A cerâmica é um enigma: você só vai saber o resultado do trabalho quando abrir o forno”, diz Jardineiro ao tirar uma caneca cor creme, esmaltada com argila, cinza de lenha, cinza de casca de arroz e feldspato do forno recém-aberto. As fortes chuvas que castigaram a região de Cunha no começo deste ano prejudicaram o fluxo de turistas. Porém, eles voltaram com a abertura dos fornos e devem acorrer novamente em grande número - é o que todos na cidade esperam - aos eventos tradicionais do município, como o Festival de Pinhão, a exposição em honra ao Dia do Ceramista (28 de maio) e as festas de cunho religioso. Gilberto Jardineiro iniciou seu trabalho com cerâmica no Japão, em 1980
  • 9. Agadman O atelier de formas do artistaartesão, pintor e entalhador além de confeccionador de móveis, painéis circulares em madeira, etc. Eu me apaixonei pelas formas, pelas cores
  • 10. A beleza independe da política, inclusive da cultura Revista Ímpar - Quando começou a trabalhar com madeira?
 Agadman - Acho que, com vinte e poucos anos, eu comecei esta brincadeira. É, com dezessete anos é que eu desenvolvi mais isso, é que eu mexia com desenho com pintura, modelagem em durepox. 
Revista Ímpar - Qual é a sua escola, como você aprendeu, como foi?
 Agadman - Isso não tem escola não, é da vontade que vem da alma- mexia com gado, com fazenda, né, e criei uma paixão, o resto foi desenvolvendo no automático do meu ser, uma vontade de ver o estranho de ver a diferenciação, de mergulhar em outros espaços, que não fossem conhecidos pelas pessoas. Eu sempre acreditei em universos diferentes, eu vejo as pessoas que tem capacidade de exercer as faculdades, dirigidas em qualquer sentido que quer ciência, então eu me apaixonei pela formas, pelas cores.
 18 Uma das belas criações de Agadman. Revista Ímpar - E essa coisa de você trabalhar com madeira? 
Agadman - Em Brasília comecei a fazer artesanato, e olhando aquela cidade toda com formas retas, as pessoas morando naqueles prédios quadrados, etc., procurei fazer algo diferente, um diferencial, então comecei a fazer entalhes em discos de madeira, eu já mexia com madeira. Minha idéia era encher a cidade com uma forma que não tinha lá. Aconteceu aí, olha - mostrando o atelier - o trabalho de madeira é o seguinte: primeiramente eu conquistei o desenho, até quando cheguei hoje numa forma, que eu encontrei um símbolo universal de contorno de qualquer imagem, no desenho, que uma criancinha aprende isso em menos de meia hora, isso é o ápice da minha pesquisa no desenho (...) 
 A beleza independe da política, inclusive da cultura, um cara sem cultura vê uma coisa que é linda, uma vez eu foi num sítio velho lá no Piauí, e encontrei na parede de um caboclo, que nem nunca foi na cidade, levei uma revista velha e deixei pôr lá, tinha um clássico, uma mulher, uns banhistas e tal, e eu achei que aquele cidadão ia achar aquilo mais bonito, no entanto ele pegou um trabalho do Van Gogh, um bem doido lá, e fez uma moldurinha de graveto e colocou lá na parede, eu perguntei porque você escolheu isso? – “Porque isto aqui é que é belo, não sei o que me deu, mas isso aqui é que é belo, eu não entendo, mas eu gosto disso.” - então uma pessoa sem estudar faz isso. Revista Ímpar - Uma reprodução?
 Agadman - É uma reprodução, que ele colocou sagradamente na parede dele, e tinha um retrato de um cavalo, de um boi bonito, que pra mim, o que eu pensei daquela pessoa, o que fosse satisfazer mais o indivíduo, mas ele procurou aquilo, ele falou; “que não sabia o que era, mas me faz um bem.” - entendeu? Então, a arte é essa magia.
 Cores vivas e fortes fazem parte de seu estilo. 19
  • 11. Revista Ímpar - Você nasceu em que cidade do Piauí?
 Agadman - Cidade Corrente.
 Revista Ímpar - E lá nessa região tem tradição de trabalhar com madeira, barro, artesanato?
 Agadman - Tem não, só com enxada nas costas mesmo, a gente plantava, feijão, batata...
 Revista Ímpar - E hoje, você se considera um artesão ou artista-artesão, como é isso?
 Agadman - Todo artista deve ser um artesão, pra poder desenvolver o jeito
de fazer o que ele quer, o seu jeito, a sua maneira. Eu já fui um artesão, hoje eu me considero um artista e dou trabalho para os artesãos que estão comigo.
 Revista Ímpar - Então pra você, o que é artesanato, o que é ser artesão? Agadman - O artesão copia, às vezes, até algo que ele mesmo criou, ou não, pode ser a obra de outro artista, então ele repete aquilo inúmeras vezes, e ele visa o mercado, vender o seu produto com um preço acessível, e coisa e tal. E o artesanato pode ser feito de muitas maneiras não é só com as mã os, hoje você pode se utilizar dos recursos modernos, até o laser, pôr exemplo, é mais uma ferramenta, e o artesão sempre utilizou ferramentas.
 Revista Ímpar - E o que é ser artista, o que é arte?
 Agadman - O artista faz o novo, algo que nunca se viu, faz o único, e com isso encontra o seu lugar no mundo, o lugar só dele. É o indivíduo que criou um diferencial, e a arte dá essa possibilidade, a arte é isso, a oportunidade de se expressar, é comunicação, é uma liberdade de expressão, e cada um procura a sua linguagem o seu modo de falar, seu modo de expressar o que esta dentro dele, o que muitas vezes não se pode dizer com palavras, é uma espécie de presente, que o homem primeiro dá a si próprio e depois compartilha com o mundo, a arte salva muita gente da loucura. 20 21
  • 12. Jequitinhonha e sua feira por Eric Renan Reconhecida como um dos espaços que melhor acolhem a cultura do Norte de Minas, a tradicional Feira de Artesanato do Vale do Jequitinhonha volta a ocupar a Praça de Serviços, no campus Pampulha, entre os dias 2 e 7 de maio. Em sua 12ª edição, o evento abrigará peças produzidas por artesãos de duas etnias indígenas e homenageará a paneleira Dona Zizi e a fiandeira Dona Geralda, duas mestras que lutam para perpetuar seus ofícios. A fama já ultrapassou – e muito – as fronteiras demarcadas pelo Rio Jequitinhonha. Na mão de homens e mulheres habilidosos, barro, taboa e madeira dão forma a esculturas, trançados, cerâmicas, panelas, bonecas, moringas e tigelas, materializando uma das mais belas expressões culturais da região. Mas, mesmo com todo esse prestígio, os artesãos encontram dificuldades para expor suas peças e vendê-las a um preço justo. Uma exceção nesse cenário é a tradicional Feira de Artesanato do Vale do Jequitinhonha, que este ano chega à 12ª edição. Será realizada na próxima semana, entre 2 e 7 de maio, numa promoção da Pró-reitoria de Extensão (Proex), do Programa Polo de Integração da UFMG no Vale do Jequitinhonha e da Diretoria de Ação Cultural (DAC), reunindo, na Praça de Serviços, 42 associações de artesãos de 25 cidades do Vale. Só no ano passado, os expositores lucraram cerca de R$ 100 mil com as vendas. Dentre as novidades, destaque para a participação de artesãos de duas etnias indígenas, Aranã e Pataxó-Pankararu, de Araçuaí. “Isso dará visibilidade ao trabalho artesanal realizado por eles, além de reforçar a presença indígena no campus”, afirma Terezinha Furiati, coordenadora do Artesanato Cooperativo, ligada ao Programa Polo, e que trabalha na organização do evento. Outra inovação da edição de 2011 é a montagem de um espaço especial para artesãos reconhecidos do Vale. Entre os convidados, Ulisses Mendes, de Itinga, a família de Dona Isabel, de Santana do Araçuaí, e Lira Marques, de Araçuaí. O artesão João Alves, de Taiobeiras, é uma das estrelas da Feira. Suas esculturas em argila já foram premiadas pela Unesco e expostas em Belo Horizonte e Rio de Janeiro. No caso da capital mineira, ele produziu 40 peças que ficaram em exposição no Palácio da Liberdade. “Elas representam o folclore de Minas, um retrato da nossa cultura”, conta o artesão, que participa da feira desde a primeira edição e hoje integra a Associarte, entidade que, segundo ele, tem papel importante na valorização de seu trabalho. “Graças a ela faço vários contatos e aprendo muito com os outros artesãos”, argumenta. Além do artesanato, a música do Jequitinhonha também invadirá a Praça de Serviços, com shows diários. Na segunda feira, dia 2, haverá apresentação do Coral Água Branca, de Itinga; na terça, 3, Volber e Gilmar; na quarta, 4, o Grupo Sarandeiros e, na sexta, 6, a Banda Terceira Margem, de Montes Claros, sempre às 12h30. Na quinta-feira, dia 5, às 17h30, haverá homenagem às mestras de ofício Elzi Gonçalves Pereira e Geralda Leite Sena (veja abaixo) e show de João di Souza e Chico Lobo. A entrada é franca. A tradicional feira está melhor do que nunca