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                                                                                                      Director Padre Francisco Crespo

                                                                                                                                       MINISTRO BAGÃO FÉLIX EM ENTREVISTA


                                                                                                                                       Quero gerar
                                                                                                   Em entrevista ao Solida-
                                                                                                                                       alguma
                                                                                                                                       inquietude nas
                                                                                                   riedade, Paulo E. Correia,
                                                                                                   Juiz dos Tribunais de Famí-
                                                                                                   lia e Menores, diz que o al-
                                                                                                   coolismo dos casais é causa


                                                                                                                                       instituições
                                                                                                   de muitos mais males que a
                                                                                                   toxicodependência. As crian-
                                                                                                   ças das zonas rurais estão
                                                                                                   mais desprotegidas que as                                                                                       Maquete do Fisiocar

                                                                                                   das cidades, por maiores di-                                                                                                                                 Página 3

                                                                                                   ficuldades na denúncia de
                                                                                                   maus tratos. Condena práti-
                                                                                                   ca que sobe em flecha, a da
                                                                                                                                       Nesta extensa entrevista, o Mi-
                                                                                                                                       nistro do Emprego e da Solida-
                                                                                                                                                                         to provocado pela recessão;
                                                                                                                                                                         quer dar combate sem tréguas            Fisiocar
                                                                                                                                                                                                                 de
                                                                                                   arguição dos abusos sexu-           riedade fala abertamente das      às baixas fraudulentas e à sub-
                                                                                                   ais como arma de arremes-
                                                                                                   so em processos de divór-           relações com as IPSS. A difer-    sidiodependência.

                                                                                                                                                                                                                 ouro
                                                                                                   cio.                                enciação positiva é aposta que    Tempo ainda para falar da crise,
                                                                                                                            Página 5   quer ganhar.                      das debilidades do sistema fis-
                                                                                                                                       Municipalização da acção so-      cal, até para elogiar algumas
                                                                                                                                       cial? Traz ganhos e perdas, diz   medidas do anterior governo.
                                                                                                                                       o governante.                     E para deixar um aviso: a ad-
                                                                                                                                       Bagão Félix revela que a procu-   versidade demográfica só se               Fernando Gonçalves inven-
                                                                                                                                       ra do Rendimento Social de In-    conseguirá combater com o au-             tou um veículo de transporte
                                                                                                                                       serção tem aumentado, aumen-      mento da produtividade.                   e terapia para deficientes ou
                                                                                                                                                                                                                   traumatizados motores e
Autorizado pelos CTT a circular em invólucro fechado de plástico. Autorização DEO/415/204004/DCN




                                                                                                                                                                                               Páginas 11 a 14
                                                                                                                                                                                                                   pessoas que tenham dificul-
                                                                                                                                                                                                                   dades motoras.
                                                                                                                                                                                                                   O Fisiocar ganhou a meda-
                                                                                                                                                                                                                   lha de ouro no Salão Interna-
                                                                                                                                                                                                                   cional de Invenções, que de-
                                                                                                                                                                                                                   correu recentemente em Ge-
                                                                                                                                                                                                                   nebra.

                                                                                                   Padre Maia                                                                                                       Este inventor do Fundão
                                                                                                                                                                                                                   espera agora que alguma

                                                                                                   comenta                                                                                                         empresa ligada ao sector o
                                                                                                                                                                                                                   contacte, para avançar com

                                                                                                   A Paixão                                                                                                        a produção do veículo.


                                                                                                   de Mel
                                                                                                   Gibson              Página 16


                                                                                                                                                                                                                          Mensário da         CNIS
                                                                                                                                                                                                                 Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade
Abertura

Editorial                                                                                   Primeira




                                                                                                                               António Pinto
                                                                                                                                                   NOVA BASÍLICA
                                                                                                                                                   DE FÁTIMA

Por   Padre Francisco Crespo
                                                                                            pedra a
                                                                                            6 de Junho
                               francisco-crespo@iol.pt

  Após alguns meses de interregno
aqui está de novo o nosso tão querido
e desejado quot;SOLIDARIEDADEquot;.
  Há muito tempo que as nossas filia-                                                         A colocação da primeira pedra da
das nos interrogam: quot;quando é que sai                                                       nova basílica de Fátima terá lugar
o SOLIDARIEDADE?quot;                                                                           no dia 6 de Junho, Domingo da
  É bom sinal.                               lha, muita colaboração, boa vontade,           Santíssima Trindade. A informação
  Significa que o jornal é uma peça fun-     abertura e dinamismo. Todos têm nele           foi oferecida pelo Bispo de Leiria-
damental da nossa quot;máquinaquot; que se           o seu lugar.                                   -Fátima, que disse ainda esperar
chama CNIS.                                    Os Técnicos que colaboram na                 que “a inauguração de todo o com-
  Quer dizer que ele é um amigo que          redacção do jornal deverão ter o traba-        plexo volumétrico se verifique em
nos quer visitar mensalmente e que           lho de escolher, compilar e torná-lo           2007, aniversário da primeira
todos nós o aguardamos de braços             atractivo. Mas o interesse e o gosto pelo      aparição de há 90 anos”.
abertos.                                     quot;SOLIDARIEDADEquot; está nas nossas                  D. Serafim Ferreira e Silva destaca               Santíssima Trindade, que será um
  Dele esperamos muita coisa: Forma-         mãos.                                          o facto de a futura igreja da San-                  grande centro de culto e cultura,
ção, informação, partilha de experiên-         O nome não podia ser mais sugesti-           tíssima Trindade ter a primeira pedra               numa conjugação permanente de fé
                                                                                            vinda do túmulo de São Pedro: “O                    e razão. Além das celebrações, em
cias, sugestões, perguntas e respos-         vo. É o nosso distintivo. Pela solidarie-
                                                                                            Papa João Paulo II teve a amabili-                  espaços adequados, fazem parte do
tas, novidades, enfim um mundo de            dade estamos a dar a vida, muito mais
                                                                                            dade de oferecer um pedacinho de                    conjunto os acessos, o parque
coisas que se chama quot;vidaquot; de todos          que um atleta pela camisola do seu
                                                                                            pedra extraída do túmulo de S.                      hoteleiro e de restauração”, explicou
os dias com que milhares de Dirigen-         clube.
                                                                                            Pedro, no Vaticano. É um símbolo                    o prelado em entrevista ao semaná-
tes, Funcionários, Voluntários e Uten-         Desejo pois que, desde este novo
                                                                                            muito eloquentequot;.                                   rio Voz Portucalense, da Diocese do
tes das Instituições Particulares de         número e mensalmente o nosso jor-
                                                                                              D. Serafim justificou a construção                Porto.
Solidariedade Social se debatem per-         nal seja um autêntico amigo que
                                                                                            de uma nova Basílica em Fátima                        “Todos vão reconhecer as vanta-
manentemente.                                entra nas nossas Instituições e é              com a necessidade sentida pelo                      gens e verificar a boa harmonia
  Mas, para que o quot;SOLIDARIEDADEquot;            querido e desejado por todos os que            Santuário em “dar acolhimento a                     entre a nova igreja, as outras cons-
seja de facto aquilo que todos nós an-       o contactam.                                   quantos chegam de fora”                             truções e a natureza” - assegura D.
siamos, é preciso que haja mais parti-                                                        “Está em construção a igreja da                   Serafim Ferreira e Silva.




Poema à Mãe                                 Tudo porque tu ignoras                       ainda aperto contra o coração                         Eu saí da moldura,
 Eugénio de Andrade                         que há leitos onde o frio não se             rosas tão brancas                                     dei às aves os meus olhos a beber.
                                            demora                                       como as que tens na moldura;
                                            e noites rumorosas de águas mati-                                                                  Não me esqueci de nada, mãe.
                                            nais!                                        ainda oiço a tua voz:                                 Guardo a tua voz dentro de mim.
                                                                                           “Era uma vez uma princesa                           E deixo-te as rosas...
                                            Por isso, às vezes, as palavras que             no meio de um laranjal...”
                                            te digo                                                                                            Boa noite. Eu vou com as aves!
                                            são duras, mãe,                              Mas - tu sabes! - a noite é enorme
                                            e o nosso amor é infeliz.                    e todo o meu corpo cresceu...

                                            Tudo porque perdi as rosas brancas
                                            que apertava junto ao coração
                                                                                              António Pinto




                                            no retrato da moldura!

                                            Se soubesses como ainda amo as
                                            rosas,
                                            talvez não enchesses as horas de
                                            pesadelos...

                                            Mas tu esqueceste muita coisa!
                                            Esqueceste que as minhas pernas
                                            cresceram,
No mais fundo de ti,                        que todo o meu corpo cresceu,
eu sei que traí, mãe!                       e até o meu coração
                                            ficou enorme, mãe!
Tudo porque já não sou                      Olha - queres ouvir-me? -,
o retrato adormecido                        às vezes ainda sou o menino
no fundo dos teus olhos!                    que adormeceu nos teus olhos;

                                                                                   2
Maio 2004

                                          Actualidade

Fisiocar de ouro
                                                    Chama-se Fernando Gonçalves e, se não inventa tudo, inventa muito. Genebra dá-lhe o devido valor, dourando e
                                                  prateando os seus inventos. Recentemente, ganhou a Medalha de Ouro com o FISIOCAR, um veículo de transporte
                                                  e terapia, para deficientes ou traumatizados motores, e pessoas que tenham dificuldades motoras.
                                                    “É ideal para actividades domésticas, passeios ou compras em superfícies comerciais” – afirmou Fernando
                                                  Gonçalves ao SOLIDARIEDADE, acrescentando:
                                                    “O utilizador pode andar sentado, de pé, ou caminhar apoiado nas extensões. Estas extensões são reguláveis em
                                                  altura ou largura, bastando para o efeito levantar o estrado articulado do mesmo”.
                                                    Para além da funcionalidade de meio de transporte, o veículo pode ser utilizado para fisioterapia, uma vez que tem
                                                  um estrado que, quando levantado, funciona como uma espécie de andarilho que permite ao utilizador movimentar-
Fernando Gonçalves (ao centro), recebendo mais um -se, sempre apoiado pelo cesto de compras, colocado na dianteira.
prémio                                              Gonçalves concebeu o veículo para produção com ou sem motores. De forma simples, diríamos que se trata de
um misto de carrinho de compras e cadeira de rodas.
  Da 32.ª edição do Salão Internacional de Invenções, que decorreu recentemente em Genebra, trouxe quatro medalhas: duas de ouro, uma de prata e uma de bronze.
  A outra medalha de ouro foi conquistada pelo VEHICLE DETECTION, ALERT AND BLOCKING SYSTEM, um sistema de con-
trolo e detecção de entradas de veículos em auto-estradas, que impede a circulação de automóveis em sentido contrário.
  TRANSVIA, um sistema de abertura rápida das barreiras de protecção em auto-estradas, valeu-lhe uma medalha de prata. A de
bronze ficou para o BREAK-SYSTEM, um dispositivo de paragem de veículos a ser accionado quando os travões não funcionam
ou em situações de risco de colisão.
  Às quatro medalhas de Fernando Gonçalves, Portugal somou mais sete. Este ano, todos os inventos portugueses apresenta-
dos a concurso naquele prestigiado certame foram medalhados, o que aconteceu pela primeira vez em 32 anos de presenças
regulares do nosso país.
  Este inventor do Fundão espera agora que alguma empresa ligada ao sector o contacte, para avançar com a produção do
FISIOCAR. É o velho dilema dos inventores portugueses. Inventar, inventam eles muito. Os especialistas estrangeiros têm dado
o devido valor ao trabalho dos nossos compatriotas. O problema surge depois, na etapa de produção. Geralmente a máquina
emperra. Fernando Nogueira Gonçalves amarga tal sina. No seu site (http://www.invento.web.pt), podemos ler: Por falta de um
inventor / Se perdeu um invento. / Por falta de um invento / Se perdeu um produto. / Por falta de um produto / Se perdeu
uma empresa. / Por falta de uma empresa / Se perdeu uma fábrica. / Por falta de uma fábrica / Perderam-se milhares de
empregos. / Por falta de milhares de empregos / Um país perdeu seu futuro. / Tudo por falta de um INVENTOR.                            Maquete do Fisiocar

  Pode ser que, desta vez, atendendo à utilidade social do FISIOCAR, este invento passe mesmo do papel.



 Combate ao abandono                                                                  Números e mais números
 escolar
                                                                                                                               ♦ Mais de meio milhão de por-
                                                                                                                               tugueses vivem sozinhos. Esta
                                                                                                                               cifra aumentou 44,1% em 10 anos
                                                                                                                               (de 1991 para 2001).
   Os ministros da Educação e da          -sores; a criação de um Plano de
 Segurança Social e do Trabalho           Português Língua Não Materna, de                                                     ♦ Um em cada cinco portugueses
 apresentaram, no passado mês de          um Plano de Promoção da Leitura e                                                    anda armado. Há 800 mil armas
 Abril, o Plano Nacional de Prevenção     da Escrita e de um Plano específico                                                  legalizadas no nosso país.
 do Abandono Escolar, um esforço          para o Apoio ao Ensino e Aprendiza-                                                  ♦ Os portugueses enviaram 146
 colectivo para evitar que os jovens      gem da Matemática.                                                                   milhões de SMS no Ano Novo.
 saiam precocemente do sistema de           A dinamização de um Programa de
                                                                                                                               ♦ A GNR registou 6471 atentados
 ensino.                                  Apoio e Financiamento a Actividades
                                                                                                                               contra o ambiente nos primeiros nove
   Com o lema Eu não Desisto,             Extra-Curriculares – Depois das
                                                                                                                               meses de 2003, mais dois mil do que
 o P N A PA E tem como grande objec-      Aulas; a criação do Programa Pais na
                                                                                                                               em todo o ano de 2002.
 tivo reduzir para menos de metade as     Escola; a implementação da metodo-
 taxas de abandono escolar e de           logia e dos referenciais para reco-                                                  ♦ Portugal tem os trabalhadores
 saída precoce até 2010.                  nhecimento, validação e certificação                                                 com menos habilitações entre os
   No conjunto das recomendações          de competências com equivalência            ♦ Acidentes de trabalho vitimaram        25 países da actual União
 destaca-se: a criação da figura do       ao actual Ensino Secundário, inte-          170 pessoas em 2003, metade das          Europeia.
 tutor escolar, para acompanhamento       gram ainda os objectivos deste ambi-        quais na construção civil.               ♦ O Estado é o maior empregador
 das crianças em risco de abandono;       cioso programa.                             ♦ São 602.369 os beneficiários que,      nacional, situação que se verifica nos
 o desenvolvimento de um programa           Por último, refira-se a promessa de       em Portugal, recebem a pensão mí-        diferentes níveis da estrutura admi-
 específico de Formação de Profes-        uma campanha de sensibilização              nima. Esta cifra equivale a um quarto    nistrativa portuguesa. Segundo dados
                                          dirigida essencialmente aos jovens          do universo dos pensionistas. Recor-     recolhidos através do 1.º Recensea-
                                          que abandonaram o sistema de ensi-          de-se que as pensões mínimas vão         mento Geral, efectuado em 1996, o
                                          no com os anos de final de ciclo            aumentar 2% (4,16€) no próximo mês       número total de trabalhadores da
                                          incompletos. Sobre este assunto, ver        de Junho. Com este aumento, a            Administração Pública é de 619.399,
                                          também notícia na página 10.                pensão mínima do regime geral            dos quais 500.535 pertencem à Ad-
                                                                                      fixa-se em 212,16€.                      ministração Central.
                                                                                  3
Informações Úteis
Tribunais de Família e Menores
                                                            tos actos, confirmar os que tenham          se encontrem em alguma das
                                                            sido praticados sem autorização e           seguintes situações: a) Mostrem difi-
                                                            providenciar acerca da aceitação de         culdade séria de adaptação a uma
                                                            liberalidades; h) Decidir acerca da         vida social normal, pela sua situação,
                                                            caução que os pais devam prestar a          comportamento ou tendência que
                                                            favor dos filhos menores; i) Decretar a     hajam revelado; b) Se entreguem à
                                                            inibição, total ou parcial, e estabelecer   mendicidade, vadiagem, prostituição,
                                                            limitações ao exercício do poder            libertinagem, abuso de bebidas
                                                            paternal; j) Proceder à averiguação         alcoólicas ou uso ilícito de drogas; c)
                                                            oficiosa de maternidade, de pater-          Sejam agentes de algum facto qualifi-
                                                            nidade ou para impugnação da pater-         cado pela lei penal como crime, con-
                                                            nidade presumida; l) Decidir, em caso       travenção ou contra-ordenação.
                                                            de desacordo dos pais, sobre o nome           A competência dos tribunais de
                                                            e apelidos do menor.                        menores é extensiva a menores com
                                                              Compete, ainda, aos Tribunais de          idade inferior a 12 anos quando os pais
                                                            família: a) Havendo tutela ou adminis-      ou o representante legal não aceitem a
                                                            tração de bens, determinar a remune-        intervenção tutelar ou reeducativa de
                                                            ração do tutor ou administrador, co-        instituições oficiais ou oficializadas não
                                                            nhecer da escusa, exoneração ou             judiciárias.
             Os Tribunais de Família
                                                            remoção do tutor, administrador ou            Ressalvados os casos em que a



O
              Os Tribunais de família são compe-            vogal do conselho de família, exigir e      competência caiba, por lei, às apon-
            tentes para preparar e julgar: a) os            julgar as contas, autorizar a substitui-    tadas instituições, independentemente
            processos de jurisdição voluntária re-          ção da hipoteca legal e determinar o        da idade, os tribunais de menores são
            lativos a cônjuges; b) as acções de             reforço e substituição da caução            ainda competentes para: a) Decretar


que         separação de pessoas e bens e de
            divórcio (podendo os divórcios por
            mútuo consentimento ser também
                                                            prestada e nomear curador especial
                                                            que represente o menor extrajudicial-
                                                            mente; b) Nomear curador especial
                                                                                                        medidas relativamente a menores que
                                                                                                        sejam vítimas de maus tratos, de
                                                                                                        abandono ou de desamparo ou se


são?
            requeridos na Conservatória do                  que represente o menor em qualquer          encontrem em situações susceptíveis
            Registo Civil se o casal não tiver filhos       processo tutelar; c) Converter, revogar     de porem em perigo a sua saúde,
            menores ou, havendo-os, se o poder              e rever a adopção, exigir e julgar as       segurança, educação ou moralidade;
            paternal se mostrar já judicialmente            contas do adoptante e fixar o mon-          b) Decretar medidas relativamente a
            regulado); c) os inventários requeridos         tante dos rendimentos destinados a          menores que, tendo atingido os 14
            na sequência de acções de separação             alimentos do adoptado; d) Decidir           anos, se mostrem gravemente inadap-
            de pessoas e bens e de divórcio, bem            acerca do reforço e substituição da         tados à disciplina da família, do traba-
            como os procedimentos cautelares                caução prestada a favor dos filhos          lho ou do estabelecimento de edu-
            com aqueles relacionados; d) as                 menores; e) Exigir e julgar as contas       cação e assistência em que se encon-
            acções de declaração de inexistência            que os pais devam prestar; f)               trem internados; c) Decretar medidas
            ou de anulação do casamento civil; e)           Conhecer de quaisquer outros inci-          relativamente a menores que se entre-
            as acções relativas à anulação de               dentes nos processos acima referi-          guem à mendicidade, vadiagem, pros-
            casamento civil contraído de boa-fé             dos.                                        tituição, libertinagem, abuso de
            pelo menos por um dos cônjuges; f)                                                          bebidas alcoólicas ou uso de drogas,
            as acções e execuções por alimentos              Os Tribunais                               quando tais actividades não consti-


Para
            entre cônjuges e entre ex-cônjuges.              de Menores                                 tuírem nem estiverem conexionadas
              Tais Tribunais são ainda compe-                                                           com infracções criminais; d) Apreciar e
            tentes para, relativamente a menores             Compete aos tribunais de menores           decidir pedidos de protecção de



que
            e filhos maiores: a) Instaurar a tutela e       decretar medidas relativamente a            menores contra o exercício abusivo de
            a administração de bens; b) Nomear              menores que, tendo completado 12            autoridade na família ou nas institui-
            pessoa que haja de celebrar negócios            anos e antes de perfazerem 16 anos,         ções a que estejam entregues.
            em nome do menor e, bem assim,


servem?
            nomear curador-geral que represente
            extrajudicialmente o menor sujeito ao
            poder paternal; c) Constituir o vínculo
            da adopção; d) Regular o exercício do
            poder paternal e conhecer das
            questões a este respeitantes; e) Fixar
            os alimentos devidos a menores e aos
            filhos maiores ou emancipados e
            preparar e julgar as execuções por ali-
            mentos; f) Ordenar a entrega judicial
            de menores; g) Autorizar o represen-
            tante legal dos menores a praticar cer-

                                                        4
Maio 2004

                                                    Entrevista
MAUS TRATOS A CRIANÇAS

Juiz alerta para o flagelo do alcoolismo
  Em entrevista ao Solidariedade, Paulo Eduardo Correia, 40 anos, Juiz dos Tribunais de Família e Menores, diz que o alcoolismo dos casais é causa de
muitos mais males do que a toxicodependência. As crianças das zonas rurais estão mais desprotegidas do que as das cidades, por maiores dificuldades
na denúncia dos casos de maus tratos. Condena prática que sobe em flecha, a da arguição dos abusos sexuais como arma de arremesso em processos de
divórcio. E constata a existência de juízes impreparados nos Tribunais de Família e Menores, tudo a ver com a falta de recursos humanos: “Trata-se
de uma área tão sensível que não se compadece com amadorismos, nem inexperiência de qualquer ordem” – defende o magistrado.


                                           apoio vêm a revelar-se alertas infun-          manietado perante tal arguição. Não        profissionalmente.
                                           dados, tal a preocupação das pessoas           há provas, mas está criada a sus-            Solidariedade – Há sanções, quando
                                           com o bem-estar das crianças. Seja             peição. Não há provas, mas o mal           se prova que a denúncia é falsa…
                                           como for, prefiro este excesso de zelo,        está feito.                                  P. Correia – Mas aí o juiz fica manie-
                                           entre aspas, claro, a uma atitude                                                         tado por outras razões. Vamos con-
                                           laxista da comunidade.                         “DENÚNCIAS MOTIVADAS                       denar a pessoa que fez essa falsa
                                                                                          POR PURO REVANCHISMO”                      denúncia por má fé? Podemos fazê-lo,
                                           “O ÁLCOOL ESTÁ LÁ,                                                                        mas aí estamos a tornar a situação do
                                           QUASE SEMPRE”                                   Solidariedade – Tais estratégias          dos filhos ainda mais periclitante. E o
                                                                                          aumentaram depois da divulgação do         mais importante de tudo é salva-
                                             Solidariedade – É na toxicode-               que se passou com as crianças da           guardarmos o futuro das crianças.
                                           pendência que encontramos a origem             Casa Pia?
  Solidariedade – Hoje em dia há           da maior parte dos problemas…                   P. Correia – De forma significativa. Há   “NÃO PODEMOS FALHAR
mais problemas com os menores, ou            P. Correia – Surpreendentemente, é           dois tipos de situações. Por um lado,      NO MOMENTO DECISIVO”
estes encontram-se mais protegidos         o alcoolismo que fomenta a maior               preocupações genuínas das mães,
do que há uns anos atrás?                  parte das desgraças. 90 por cento dos          alicerçadas nos comportamentos se-           Solidariedade – É uma pergunta
  Dr. Paulo Correia – Fundamental-         casos que me chegam às mãos são                xuais do cônjuge. No lado oposto,          recorrente, a que se refere à juven-
mente, foram os padrões de exigência       originados por esse flagelo. O álcool          encontramos denúncias motivadas            tude de alguns magistrados. Esse
que mudaram. Noto evolução muito           está lá, quase sempre, num ou noutro           por puro revanchismo. Esquecem-se          argumento pesa nos Tribunais de
qualitativa no que se refere às exigên-    dos pais, por vezes no casal. Isto tanto       de que quem mais sofre com tudo isso       Família e Menores?
cias da sociedade. Se antes aceitáva-      se verifica nas aldeias como nas               são os filhos.                               P. Correia – Trata-se de uma área tão
mos determinados castigos corporais,       cidades. A toxicodependência origina                                                      sensível que não se compadece com
considerando-os normalíssimos, hoje        problemas mais graves, mas as mais fre-                                                   amadorismos, nem inexperiência de
isso já não acontece. E isto vale tanto    quentes têm a ver com o alcoolismo.                                                       qualquer ordem. Não podemos falhar
para as comunidades urbanas como             Solidariedade – O aumento das                                                           no momento decisivo. Note-se que a
para as rurais.                            famílias monoparentais tem-se                                                             lei exige dez anos de serviço e uma
  Solidariedade – Os problemas mais        reflectido numa maior taxa de aban-                                                       classificação de Bom Com Distinção,
graves surgem nas cidades…                 donos de crianças, ou de negligência?                                                     obrigando a que o magistrado nomea-
  P. Correia – Nas zonas urbanas             P. Correia – Não noto isso. A maior                                                     do para estes tribunais seja dotado de
encontramos famílias completamente         parte dos casos provêm das chamadas                                                       qualidade técnica e tenha uma
desreguladas. No entanto, os proble-       famílias típicas, de crianças a viverem com                                               preparação específica dentro desta
mas com as crianças são mais fáceis        pai e mãe, não significando isso que os pais                                              área. Nesse aspecto o legislador foi
de detectar, são denunciados com           sejam casados.                                   Solidariedade – Falou em juízes          exigente, e ainda bem. O que acon-
muito mais facilidade e prontidão. Já        Solidariedade – Na ordem do dia              manietados, na dificuldade em con-         tece é que, por escassez de meios,
nas comunidades rurais, mesmo em           estão hoje os abusos sexuais a                 seguir provas…                             são colocados como auxiliares juízes
zonas limítrofes a grandes cidades,        menores…                                         P. Correia – Confesso que lidamos        que não cumprem os requisitos deter-
deparamo-nos, por vezes, com um              P. Correia – É verdade, e não vale a         com muitas dificuldades em situações       minados na lei. Sem serem nomeados
muro de silêncio que é difícil transpor.   pena repetir o que tem sido dito sobre         do género. Nós não temos, nem              definitivamente, é claro, mas a ver-
Não sendo situações tão graves como        isso. Mas permita-me que aproveite             temos que ter preparação específica        dade é que, por carência de recursos
aquelas com que nos deparamos nas          esta oportunidade para deixar um aler-         nesse domínio. Mas recorremos a            humanos, nem sempre se conseguem
cidades, ficam, no entanto, sem            ta, sobre uma prática condenável que           especialistas, tanto do Instituto de       cumprir os requisitos legais, havendo
resolução. Isto acontece porque os         vejo aumentar assustadoramente nos             Medicina Legal como de departamen-         juízes impreparados para o desem-
familiares mais chegados ou os             últimos tempos. Falo da utilização             tos de pedopsiquiatria. Registo vários     penho destas funções específicas.
vizinhos receiam incómodos, até            do abuso sexual como arma de                   casos em que a avaliação rigorosa, a         Solidariedade – Disse juízes
mesmo represálias, caso procedam a         arremesso entre casais desavindos,             avaliação científica efectuada pelos       impreparados?
uma denúncia.                              partes num processo de regulação do            peritos demonstrou ser tudo falso. É         P. Correia – Digo-o com toda a
  Solidariedade – As crianças das          poder paternal. Invoca-se cada vez             terrível, e bom seria que as pessoas       responsabilidade. As pessoas sabem
zonas rurais mais desprotegidas do         mais, e quase sempre por parte do              se deixassem dessas estratégias.           que é assim, que nos deparamos com
que as das cidades, é isso?                parceiro feminino, o perigo de tais            Chega-se ao requinte de se recorrer        esse problema nos Tribunais de
  P. Correia – Não generalizando, sem      abusos acontecerem caso a criança              primeiro a um hospital, tentando obter     Família e Menores. É uma preocu-
dúvida alguma. Nas cidades chegamos a      seja confiada ao pai, ou permitindo            relatórios que depois possam alicerçar     pação do próprio Conselho Superior
notar até um excesso de zelo por parte     que com ele passe algum tempo. É               a falsa denúncia junto dos tribunais.      da Magistratura. Este órgão, honra lhe
da comunidade. Algumas das                 um argumento terrível. Muitas                  Isto mesmo tem-me sido contado por         seja feita, tem evitado a nomeação de
chamadas recebidas pelas linhas de         vezes, o magistrado sente-se                   algumas médicas com quem lido              auxiliares para estes lugares.
                                                                                      5
Respigos
100 litros de sangue e
cerca de 18500 EUROS                                                                   Conseguimos pensar um
 100 litros de sangue e cerca de 18 mil e quinhentos EUROS foi o resultado do
peditório público e da recolha benévola de sangue, em quatro centros, pela
                                                                                       mundo livre da fome?
Cáritas de Setúbal. Em comunicado, a Cáritas de Setúbal salienta que, dos                (...) Esta problemática leva-nos a perguntarmo-nos: conseguimos pensar um
nove concelhos que constituem a diocese sadina já foram apurados os resulta-           mundo onde o ser humano se possa alimentar dignamente? Onde toda a
dos dos oito onde se realizou o peditório e que, relativamente ao ano anterior,        gente, sobretudo as novas gerações, possam crescer, aprender e tornar-se
“se registou um decréscimo de 23%”. Esta diminuição está “relacionada com a            membros activos e responsáveis da sociedade? Conseguimos pensar um
crise económica que o país atravessa e com a cada vez maior dificuldade em             mundo livre da fome?
encontrar pessoas que se disponibilizem para realizar o peditório”.                      Libertemos a mãe Terra da estrutura económica perversa que enche os
                                                                Agência Ecclesia       pratos a uns enquanto esvazia os dos vizinhos, e isso será possível. Se as
                                                                                       pessoas forem bem alimentadas, terão saúde e energia, criatividade, segu-
                                                                                       rança e coragem suficiente para resolver problemas e criar uma cultura
                                                                                       saudável. A insuficiente alimentação impede o homem de poder trabalhar e

Reconhecer o passado                                                                   desenvolver-se. Pela lei da interligação dos membros, como diria S. Paulo,
                                                                                       todo o corpo social fica atingido.

descobrir os porquês                                                                                                                         Mensageiro de Sto. António




  Tantas vezes as pessoas têm tendência a queixar-se de que a cultura cigana
se fecha sobre si própria relativamente à cultura envolvente. Terminámos a
Quaresma, vivemos já (quando estas linhas se escrevem) as alegrias de o Pai
ter ressuscitado Jesus da morte que os pecados da humanidade Lhe deram. É
bom reflectir um pouco sobre a história, é tempo para metermos a mão na cons-
ciência colectiva.
  Quem não se defende, quem não se fecha, quem não se torna desconfiado e
agressivo quando é, sistematicamente, discriminado, perseguido, excluído, de-
portado, castigado, chacinado, etc. etc. etc.? Costuma dizer-se que quem não
se sente não é filho de boa gente. Os ciganos têm, certamente, uma origem de
boa gente, algures no Kerala no Norte da Índia. Ainda hoje, ao fim de cerca de
um milénio de agruras, eles mantêm a postura de boa gente que as suas origens
neles imprimiram.
  No, a todos os títulos, notável documento que a Santa Sé, na sequência do V
Congresso Mundial da Pastoral dos Ciganos, está a preparar para difundir em
toda a Igreja, sobre a etnia cigana e as suas relações com a sociedade europeia
e com a Igreja, este aspecto da má consciência de tantas comunidades cristãs,
ao longo da história, sem excluir o presente, no seu não acolhimento das popu-         Geminação de paróquias
lações ciganas, é meridianamente focado.
  Examinemos, pois, a nossa consciência colectiva. Tentemos, então, com-
preender os porquês e, melhor ainda, façamos, como o Papa já fez, várias
                                                                                       precisa de ser
vezes, mea culpa, e tentemos começar a compreender os nossos irmãos
ciganos, por dentro, não pelas aparências, nos seus corações feridos por tantos
maus tratos nossos ou dos que nos precederam e então o sentimento de
                                                                                       implementada
amizade por um irmão que veio de tão longe e que necessita do nosso acolhi-              Os directores nacionais das Obras Missionárias Pontifícias dos países
mento talvez comece a despertar e uma verdadeira Páscoa despontará na                  europeus estiveram reunidos no Seminário dos Espiritanos, na Torre d’Aguilha,
nossa terra.                                                                           em Lisboa, para reflectir sobre a animação missionária e a pastoral juvenil. Em
 Francisco Monteiro. A Caravana                                                        declarações à Agência ECCLESIA, o padre Manuel Durães Barbosa, director
                                                                                       nacional, sublinhou que as Obras Missionárias Pontifícias têm um papel de
                                                                                       coordenação e pretendem dar um novo impulso à pastoral juvenil. Se esta quot;não
                                                                                       contemplar a dimensão missionária fica fragilizadaquot;, disse.
                                                                                         A dimensão missionária abre quot;horizontesquot;, alarga quot;fronteirasquot; e cria
                                                                                       quot;comunhão entre a Igreja local e a Igreja noutros paísesquot;, acrescentou.
                                                                                         Os 28 directores nacionais estiveram em diálogo entre 27 a 30 de Março, re-
                                                                                       flectiram também sobre quot;a geminação de dioceses e paróquias com os desafios
                                                                                       que essa mesma provocaquot;. E acentua: quot;não é uma geminação que tem como
                                                                                       prioridade a ajuda monetáriaquot;, mas quot;deve gerar uma comunhão maior entre
                                                                                       Igrejas de continentes diferentesquot;, realçou o padre Manuel Durães Barbosa.
                                                                                         Em Portugal, este desafio está a cargo da Fundação Evangelização e
                                                                                       Culturas (FEC) mas – acentua o director nacional – quot;pode-se dizer que o nosso
                                                                                       país está a aderir a um ritmo crescente mas lentoquot;. Para gerar esta geminação,
                                                                                       quot;é necessário que haja consciência missionáriaquot; dentro da própria paróquia.
                                                                                                                                                       Agência Ecclesia


                                                                                   6
Maio 2004

                                                 Iniciativa

A Família face à exclusão
  No próximo dia 29 de Maio terá        dentes, que vivem sós e em situação    do sexo feminino, com baixas qualifi-    Portugal.
lugar, em Fátima, um seminário orga-    de risco.                              cações escolares e profissionais.         Estas preocupações da CNIS são
nizado pela CNIS, tendo por tema A       Os pressupostos anteriores, aliados    Urge dar mais atenção às estru-         comuns a grandes figuras públicas,
Família face à Exclusão. Como é por     à evolução do envelhecimento de-       turas familiares e dinamizar politicas   como as de Sua Eminência o Senhor
demais sabido, as transformações        mográfico, ao número crescente de      sociais que apoiem a unidade da          Cardeal Patriarca e as de Sua Ex.ª o
dos modelos familiares tradicionais     novos imigrantes / minorias étnicas,   família e a dignifiquem, mas sobretu-    Senhor Presidente da República,
têm-se vindo a alterar acarretando,     agravam-se se tivermos em conta o      do promovam o seu desenvolvimen-         que recentemente deixou transpare-
cada vez mais, uma maior individua-     aumento do número crescente de         to, de forma a poder-se minorar o        cer numa entrevista à Revista
lização dos seus núcleos.               desempregados, maioritariamente        agravamento da exclusão social em        Economia Social que quot;Eventuais re-
  Estas transformações, associadas                                                                                      cuos nas politicas sociais, podem ter
à existência, em crescendo, de                                                                                          efeitos muito gravosos (...) e con-
famílias mono parentais, maioritaria-                                                                                   duzir ao aumento da pobrezaquot;, de-
mente constituídas por mulheres                                                                                         fendendo que só, quot;uma articulação
com dificuldades económicas acres-                                                                                      entre o Estado, sector privado e sec-
cidas e impossibilitadas de poderem                                                                                     tor social, permitirá dar sentido útil à
conciliar a sua vida familiar com a                                                                                     noção de rede social de protecção e
profissional, agravam-se com as                                                                                         apoio aos grupos sociais desfavore-
escassas possibilidades de acesso a                                                                                     cidosquot; (SIC).
instituições de solidariedade de                                                                                         É este o tema das nossas preocu-
apoio às estruturas familiares, as-                                                                                     pações, que em conjunto preten-
pectos que nada contribuem para o                                                                                       demos debater, para assinalar o Ano
acompanhamento das suas crianças                                                                                        Internacional da Família.
e sobretudo dos seus idosos depen-




                                                                           7
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Maio 2004

                                         Actualidade
CONCLUSÕES DO SEMINÁRIO DA COVILHÃ

Violência doméstica e crianças em risco
 O SOLIDARIEDADE divulga, na íntegra, o documento continente das conclusões do seminário que teve lugar, no passado dia 24 de Abril, na Covilhã,
subordinado ao tema Mulheres vítimas de violência doméstica e crianças em risco.


 Os mais de 250 participantes no         membros mais velhos na harmonia e        escopo da cidadania a que nos             da consciência dos casais para as
Seminário sobre Violência Doméstica      cumprimento da missão inalienável        devíamos sentir obrigados;                responsabilidades parentais que
e Crianças em Risco, promovido pela      das famílias;                              2. As IPSS são convidadas a con-        venham ou já têm que assumir. A
UDIPSS de Castelo Branco, ao abrigo        - É no seio das famílias atingidas     tribuir, cada vez mais, para a pre-       UDIPSS de Castelo Branco providen-
do Acordo celebrado entre a CNIS e       pelo alcoolismo e toxicodependência      venção de todas as situações propicia-    ciará a instalação de GABINETES de
IEFP, constataram que:                   que predominam as situações de vio-      doras de maus-tratos e a assumirem-       informação, aconselhamento e media-
 - Existe maior consciência condu-       lência e de risco mais sinalizadas;      -se com a consciência ética das           ção familiares, proporcionando a for-
cente à denúncia junto das instâncias      - As IPSS estão conscientes de que     comunidades em que estão inseridas;       mação necessária aos respectivos
públicas das situações de perigo em      a correcta prevenção e solução dos         3. As IPSS reafirmam a sua con-         mediadores;
que encontram muitas das crianças;       problemas sociais por mais simples       vicção de que só o trabalho em parce-       7. AS IPSS não deixarão de criar as
 - A violência sobre as mulheres e       que sejam, não se compadecem com         ria, tanto a nível local, nacional ou     condições favoráveis à valorização do
crianças, em situação de perigo, não     formas de estar e de actuar autistas e   transnacional, é instrumento eficaz de    papel dos idosos na família, porque
são problemáticas novas, mas emergem     que visem alcançar protagonismos         actuação solidária;                       estes podem dar um contributo indis-
delas novas realidades, que as tornam    pessoais ou institucionais.                4. Se persistem muitas das causas       pensável à construção da afectividade
mais complexas;                                                                   originadoras de violência na família,     e da memória, que são factores
 - As crianças têm um tempo para o                                                em particular contra crianças e mu-       essenciais para a plena integração
ser, não podendo deixar de lhes dar                                               lheres, outras surgiram nos últimos       sócio-familiar dos indivíduos.
as condições apropriadas ao seu                                                   anos e mais hão-de surgir nos próxi-
crescimento equilibrado, sendo a                                                  mos, pelo que as IPSS mantêm o              A terminar, os participantes regozi-
afectividade, desde o momento da                                                  compromisso de continuar a investir       jaram-se com a celebração do 30.º
concepção, um dos elementos mais                                                  na informação / formação dos seus         Aniversário do 25 de Abril e formula-
estruturantes para a formação da                                                  colaboradores;                            ram votos para que se mantenham
essência do ser;                                                                    5. No cumprimento do comprovado         vivos e activos os ideais que o justi-
 - A família continua e continuará a                                              princípio da subsidariedade, as IPSS      ficaram, comprometendo-se colaborar
ser o lugar privilegiado para o desen-                                            continuam disponíveis para colaborar      para este desiderato.
volvimento saudável dos indivíduos, e
                                                                                  na criação de iniciativas propiciadoras
só quando esgotadas todas as suas
                                                                                  do BEM COMUM, contando, para
potencialidades se deverá investir
                                                                                  isso, com a cooperação dos diversos
noutros modelos alternativos, tais        Concluíram por isso que:
                                                                                  serviços locais e do Governo da
como o acolhimento no seio da família
                                                                                  Nação;
alargada ou o recurso a famílias de        1. É imperioso criar nas IPSS, e
                                                                                    6. As IPSS sabem que a prevenção
adopção;                                 através delas, a cultura dos DIREI-
                                                                                  precoce é o meio mais eficaz de inter-
 - A família é uma realidade em          TOS HUMANOS e apelar ao respeito
                                                                                  venção social, e porque é na família
mutação, mas a sua função primordial     incondicional por cada um e por todos
                                                                                  onde tudo começa, comprometem-se
de cultivar e proteger a vida é imutá-   eles, sem esquecer que lhes estão
                                                                                  a reforçar as acções que visem a
vel;                                     associados o sentido do cumprimento
                                                                                  preparação dos jovens e o despertar
 - É indispensável a participação dos    dos deveres, a fim de que se almeje o



  Todos os adultos, com excesso de peso ou obesidade (IMC >= 25) que necessitem de emagrecer, podem
informar-se sobre o Plano XL, junto do seu médico assistente. Desenvolvido pela Fundação Portuguesa
de Cardiologia (FPC), o Plano XL é um programa nutricional personalizado, destinado a pessoas que dese-


                                                                                                            Plano
jam perder peso de forma saudável e modificar os seus hábitos alimentares de modo a evitar a recupera-
ção do peso perdido, após a dieta.
  São os médicos que disponibilizam aos seus doentes o questionário do Plano XL que, após preenchi-
mento, deve ser enviado para a Fundação Portuguesa de Cardiologia. Posteriormente, todas as pessoas




                                                                                                            XL
são contactadas pelas Nutricionistas do Plano XL e acompanhadas durante 6 meses através de contactos
telefónicos regulares.
 Após o primeiro contacto telefónico, é elaborado um plano alimentar personalizado, adaptado o mais
possível aos hábitos e preferências de cada um, que é enviado pelo correio. Nos contactos posteriores
avalia-se a adaptação à dieta, a evolução do peso e do perímetro abdominal e reforça-se a motivação para
continuar a emagrecer. Durante este acompanhamento são fornecidos alguns materiais com informações
úteis, promotoras da mudança de hábitos após a dieta. O Plano XL tem também uma linha azul, que fun-
ciona 12h por dia, para apoio e esclarecimento de todas as dúvidas sobre este programa.
Para mais pormenores, ligue 213 815 000, ou envie um e-mail para fpcardio@fpcardiologia.pt

                                                                              9
Margens
PRESIDÊNCIA ABERTA SOBRE A EDUCAÇÃO

Abandono escolar é tragédia nacional
  O abandono escolar é uma “tragédia                                                     Solidariedade reconheceu o problema       o 12.º ano do que com o 9.º. Há 10
nacional”. As palavras são do Pre-                                                       e adiantou as metas do governo em         anos esse número era de 65%, agora
sidente da República que dedicou a                                                       matéria de combate ao abandono            é de 43. Houve uma evolução positiva
Presidência Aberta, na semana pas-                                                       escolar. “Foi lançado por mim e pelo      e queremos que até 2010 passe para
sada, à educação. Jorge Sampaio                                                          Ministro da Educação um programa          metade. É necessário relançar o ensi-
pediu que o país escolha a formação e                                                    nacional de prevenção do abandono         no profissional, técnico-profissional,
a educação como prioridades nos                                                          escolar. O que se passa é o seguinte:     tecnológico. Isso é decisivo. Fizeram-
próximos anos para que Portugal não                                                      Abandono escolar no sentido estrito       -se coisas boas, eu próprio tenho
venha a ser marginalizado no futuro.                                                     do termo, isto é, os que saem da esco-    orgulho de, como Secretário de
“Não estou disponível para assistir a                                                    la sem atingir o fim da escolaridade      Estado do Emprego, em 1988, com o
esta tragédia nacional”, referiu o                                                       obrigatória, anda à volta de 2,8 por      ministro da educação Roberto
Presidente no decurso de uma visita à                                                    cento. Desceu nos últimos dez anos        Carneiro, ter avançado com as esco-
Escola Profissional de Idanha-a-Nova.                                                    de 10 para 2,8 por cento. Temos que       las profissionais, que hoje são um
Sampaio fez questão de esclarecer                                                        ver o lado positivo, a nossa auto-esti-   sucesso; o sistema de aprendizagem
que o recado era para o país e não                                                       ma não pode ser confrontada só com        também é um sucesso mas é insufi-
para o governo. Segundo as estatísti-                                                    problemas. Fizemos avanços. O             ciente. As escolas comercias e indus-
cas há 43 por cento de jovens entre os                                                   nosso objectivo agora a é reduzir em      triais acabaram no 25 de Abril por
18 e os 24 anos de idade que não          prioridade. “Ou o país dá uma volta            50 por cento esse valor. Os 43 por        razões compreensíveis, do ponto de
completaram o ensino secundário, o        séria e diz que ‘a formação das pes-           cento é o que se considera tecnica-       vista de diferenciação socialmente
que coloca Portugal na cauda da           soas é uma questão central para os             mente a saída precoce do sistema          estúpida, mas criou-se um vazio. Há
Europa dos 25. Jorge Sampaio adver-       próximos dez anos’, ou então ficare-           escolar. Concluíram a escolaridade        um buraco negro de deficiente qualifi-
tiu para o facto de Portugal perder a     mos mais marginais”.                           obrigatória mas abandonaram o sis-        cação a nível de quadros intermé-
batalha do desenvolvimento se não           Na entrevista concedida ao So-               tema de ensino sem qualificações adi-     dios.”
colocar a educação como primeira          lidariedade o Ministro do Emprego e            cionais. No fundo, tem mais a ver com



Caminhos para Famílias sem Violência
  A Violência Doméstica é, para além      POEFDS - Pequena Subvenção às                    É urgente informar o público sobre      ceitável a sua prática e criando
de um crime punido pelo artigo 153.º do   ONG's.                                         estas questões, promovendo uma            condições sociais e humanas para que
Código Penal, um flagelo social e um       O projecto tem como principal objecti-        mudança de mentalidades e de actua-       as suas vítimas possam, em segu-
drama humano que afecta muitas            vo informar e sensibilizar as cidadãs e        ções - uma sociedade moderna e justa      rança, ultrapassá-la e os agressores
famílias, com particular impacto nas      os cidadãos sobre o que fazer perante          tem que unir esforços para combater a     possam mudar o seu comportamento.
mulheres e nas crianças.                  situações de Violência Doméstica.              Violência Doméstica, tornando ina-          A estratégia do projecto Estrada Larga
  O actual Governo, na sequência de                                                                                                - Caminhos para Famílias sem
políticas que foram desenvolvidas na                                                                                               Violência é informar e sensibilizar direc-
última década, aprovou recentemente                                                                                                tamente cerca de 24 mil pessoas sobre
o II Plano Nacional contra a Violência                                                                                             o problema da Violência Doméstica nos
Doméstica, com objectivos ambiciosos                                                                                               distritos de Aveiro, Porto e Braga.
que envolvem todos os agentes da                                                                                                   Queremos ir ao encontro de alunos,
administração central e local, bem                                                                                                 professores, autarcas, técnicos e públi-
como os organismos da sociedade                                                                                                    co em geral para em conjunto construir-
civil.                                                                                                                             mos caminhos para famílias sem vio-
  É neste âmbito que nasce o projecto                                                                                              lência.
Estrada Larga, uma iniciativa a cargo
do Soroptimist Internacional Clube                                                                                                   O Projecto Estrada Larga dispõe de
Porto - Invicta, aprovado pela CIDM -                                                                                              um excelente site, com bastante infor-
Comissão para a Igualdade e para os                                                                                                mação sobre a sua actividade, nele se
Direitos das Mulheres / Presidência do                                                                                             incluindo a calendarização das acções
Conselho de Ministros e co-financiado                                                                                              a desencadear nos próximos dias. O
pela União Europeia - Fundo Social                                                                                                 site deste projecto encontra-se em
Europeu, no âmbito da medida 4.4. do                                                                                               http://www.estradalarga.online.pt/




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Maio 2004

                             Grande Entrevista
BAGÃO FÉLIX, MINISTRO DO EMPREGO E DA SOLIDARIEDADE

Quero gerar alguma inquietude nas instituições
 Por   V. M. Pinto
  António Bagão Félix é um dos Ministros mais conhe-                                             acaso. No apoio domiciliário a desin-        Solidariedade – É nesse sentido que
 cidos do governo PSD-CDS/PP. É uma pessoa de pou-                                               termediação entre quem apoia e quem        vai a iniciativa recente de mandar
 cas surpresas e de muitas convicções. O responsável                                             é apoiado é muito maior. Não necessi-      encerrar algumas instituições?
 pela pasta do Emprego e da Solidariedade já foi                                                 ta de cimento, de betão armado. Mais         Bagão Félix – Estes 364 estabeleci-
 Secretário de Estado em governos anteriores e tem um                                            do que um equipamento é um serviço.        mentos, e não foi por acaso que lhe
 pensamento plasmado em vários documentos escritos                                                                                          chamei estabelecimentos, são total-
 ao longo da sua carreira. “Tenho ideias, sei o que                                              “NEM SEMPRE AS PESSOAS QUE                 mente instituições com fins lucrativos.
 quero e sei por onde é o caminho” disse ele ao termi-                                           PAGAM IMPOSTOS SÃO AS MENOS                Eram instituições que não tinham
 nar esta entrevista de hora e meia ao Solidariedade.                                            CARENCIADAS”                               alvará, não tinham as condições míni-
  Mal chegou ao governo não descansou enquanto                                                                                              mas de segurança, de higiene, de
 não apresentou a nova lei de bases da Segurança                                                  Verdadeiramente há um obstáculo           qualidade, de conforto, etc. Não têm
 Social que revogou o diploma aprovado em 2000 pelo Partido Socialista. Mas não se               objectivo: A nossa capacidade e possi-     nada a ver com as IPSS.
 coíbe de elogiar, no executivo de António Guterres, aquilo que sempre achou adequa-             bilidade de aferir das condições             Solidariedade – Mas, ainda assim,
 do para o país.                                                                                 económico-sociais das famílias. O          estas acções acabam por ser um sinal
  Tem 56 anos, é católico, benfiquista e bom chefe de família. Diz que o que quer fazer          nosso sistema fiscal é ainda débil a       do governo em relação às institui-
 cabe neste mandato: “Se o sr. Primeiro-Ministro tiver confiança em mim, até final do            esse nível. Nem sempre as pessoas          ções...
 mandato, ficarei. Mais tarde ou mais cedo o verdadeiro desejo de um ministro que não            que pagam impostos são as menos              Bagão Félix – Eu fui Secretário de
 é político de carreira, como é o meu caso, é ser ex-ministro.”                                  carenciadas; há determinado tipo de        Estado da Segurança Social no gover-
  Nesta entrevista falou das relações com as IPSS. Abertamente, como é seu timbre.               rendimentos que objectivamente não         no de Sá Carneiro, 1980, há 24 anos,
                                                                                                 são declarados no IRS porque estão         e na altura fiz uma grande modificação
                                                                                                 sujeitos a taxas liberatórias. Se uma      no financiamento das Instituições de
  Solidariedade – O sr. Ministro tem          mesmo tempo, grande problema, é                    pessoa só viver de muito dinheiro de       Solidariedade Social. Elas eram finan-
passado, nos últimos tempos, a ideia          apoiar com mais eficácia na gestão                 depósitos a prazo não precisa de           ciadas não pelos utentes, pelos fins
de que vai ser alterada a filosofia rela-     dos recursos financeiros disponíveis               declarar IRS. A declaração de IRS          que perseguiam, mas pelos meios,
tivamente às contribuições que têm            as famílias que mais precisam. Nós                 pode não significar a fotografia social    isto é pelo pessoal que tinham ao seu
sido dadas às famílias carenciadas.                                                                                                         serviço. Era um disparate, porque
Em vez do pagamento ser feito às                                                                                                            quanto mais improdutiva fosse a insti-
instituições tem sido referido que o                                                                                                        tuição, mais pessoal tivesse mesmo
pagamento pode e deve ser feito                                                                                                             que não precisasse, mais recebia.
directamente às famílias, escolhendo                                                                                                        Essa foi uma revo-lução na altura. Há
elas depois a instituição. É uma                                                                                                            24 anos não ima-gina a revolução que
mudança de política?                                                                                                                        foi por isso em prática.
  Bagão Félix - Esta minha posição é
uma posição de convicção, embora                                                                                                            “A POLÍTICA TAMBÉM SE FAZ
reconheça que em muitos aspectos é                                                                                                          DE UTOPIAS”
uma gestação teórica. Verdadeira-
mente, o que o Estado deve apoiar                                                                                                             Depois há uns poucos de anos atrás
são as famílias, as pessoas. Essa é                                                                                                         - isso não foi comigo mas eu achei
que é a essência de qualquer política                                                                                                       muito bem -, começaram-se a afinar
social. Se esse apoio é feito através                                                                                                       os critérios de capitação, os custos
do aparelho do Estado ou se é veicu-                                                                                                        variáveis, os custos fixos e acho que
lado, quase sempre melhor, através                                                                                                          se está evoluir muito. Agora entrou-se
de organizações intermédias da                                                                                                              numa nova fase que é fazer diferen-
                                               “Agora entrou-se numa nova fase, que é fazer diferenciação positiva, pela qualidade”
sociedade civil, como são as IPSS e                                                                                                         ciação positiva, pela qualidade, é uma
as Misericórdias, é um aspecto impor-         sabemos que nas instituições há umas               de carência das famílias. Temos que ir     terceira fase mas sem deixar de ter
tante, mas instrumental. O fim da             que fazem um exercício notável de                  por passos graduais. Eu com esta           em conta este farol: A política também
política social é ajudar as pessoas. O        seriação social dos idosos, das crian-             ideia procurei dois objectivos: essa       se faz de utopias. É provavelmente
financiamento directo às famílias, em         ças, dos deficientes, das pessoas que              ideia do gradualismo, da aproximação,      uma utopia, mas toda a gente concor-
teoria, representa duas ou três vanta-        são apoiadas... mas, há outras que                 começar a pouco e pouco. Este ca-          da que é a perspectiva correcta. Pode
gens em relação às instituições.              têm a tendência para captar...                     minho faz-se caminhando. Mas tendo         e deve haver passos intermédios,
Primeira: Permite maior liberdade de            Solidariedade – Angariar clientes?               esse farol por linha de orientação e, ao   aquilo a que chamei de gradualismo.
escolha das famílias apoioadas.                 Bagão Félix – Sim. Clientes que                  mesmo tempo, gerar alguma incomo-          O financiamento pode e até deve,
Segunda: Ao permitir maior liberdade          paguem mais para compensar deter-                  didade, no bom sentido da palavra, ou      numa fase intermédia, ser um misto
de escolha das famílias apoiadas, per-        minado tipo de encargos. Perguntar-                numa linguagem mais cristã: Gerar          das duas coisas. Ser em parte um
mite uma “concorrência” mais sadia e          -me-á: Porque é que tendo essa ideia               alguma inquietude nas próprias insti-      financiamento à instituição e suple-
mais profiláctica na própria sociedade.       não a concretizou? Devo dizer que no               tuições. Fazermos todos uma reflexão       mentarmente um apoio à família mais
O “mercado” ajusta-se. As más institui-       acordo que foi celebrado com as                    crítica. Há instituições que funcionam     carenciada. No fundo ir buscar as van-
ções são menos procuradas, as insti-          Misericórdias e com a CNIS foi esta-               muito bem mas há outras que, de            tagens de dois tipos de financiamento
tuições de excelência são mais procu-         belecido que vamos começar a iniciar               facto, deixam-se cair em algumas ten-      sem cair nos inconvenientes dos dois
radas. Terceira vantagem e, ao                isso no apoio domiciliário. E não é por            tações de menor aferição social.           tipos de financiamento. Têm que ser

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Grande Entrevista
soluções aproximativas.                     soas que mais necessitam?                      a pouco e pouco ele deve ser con-         tivo que não é para mim é para o país.
  Solidariedade – Nunca será então            Bagão Félix – É uma questão inte-            cretizado. O de haver cheques             Eu posso dar números destes
uma substituição imediata e total. Diz      ressante. Agora chama-se Rendimen-             consignados para determinada finali-      primeiros três meses. Neste momento
que é uma utopia...                         to Social de Inserção, como sabe. O            dade social. No fundo, permita-me que     temos 59 por cento dos pedidos que
  Bagão Félix – Eu vou dar-lhe exem-        que está subjacente... Há duas con-            use uma caricatura, o abono de            são indeferidos...
plos de onde já existe há muitos anos.      cepções, dois pilares, dois elementos          família em boa teoria, sei que isso não     Solidariedade – O sr. Ministro tentou
O subsídio de educação especial que         estruturantes da reforma social, aque-         é concretizável, devia ser através de     acabar com aquilo a que se começou
é dado às famílias que têm filhos defi-     la que eu preconizo e tenho procurado          um vale com o qual se devesse com-        a chamar a subsidiodependência.
cientes, para irem para estabeleci-         pôr em prática. Uma é a de que                 prar coisas para a criança que é          Acha que está a conseguir?
mentos de educação especial, é feito        ninguém deve ser excluído da possi-            abonada. Desde a alimentação ao             Bagão Félix – No início o diploma
às famílias. Vou-lhe dar outro exem-        bilidade de ter acesso aos bens e              vestuário etc., e não como hoje o         previa que os jovens até aos trinta
plo: As escolas profissionais, que são      serviços sociais; a outra é a de que           damos, que é um cheque na conta dos       anos não teriam direito ao rendimento
financiadas com dinheiros da União          ninguém devendo ser excluído, em               pais que pode ser para o pai ir para a    mínimo, como acontece em Espanha,
Europeia e nacionais, neste ministério      teoria, só deve ser apoiado quem pre-          taberna ou para ir ao futebol ou outra    no Luxemburgo, como acontece
e no da Educação. Este ano, o finan-        cisa mais. É o princípio da diferencia-        coisa qualquer. Mas nós sabemos que       noutros países, justamente porque se
ciamento já é dado aos alunos. Não é        ção positiva. Hoje em dia não pode             é um sonho irrealizável e, sincera-       entende que o Rendimento Mínimo,
dado às escolas.                            haver outro. A ideia do tudo para              mente, discutível, porque viola o         sendo o último recurso, não pode ser
  Solidariedade – É uma tendência...        todos, além de injusta é uma ideia             princípio da liberdade. As pessoas não    a primeira porta de entrada, o primeiro
  Bagão Félix – É uma tendência irre-       irrealizável. Não é por acaso que              podem ser orientadas pelo Estado...       guichet de uma mesada paga pelo
versível e aí é quase lutar contra o        foram os países ricos da Europa que              Solidariedade – Se não houvesse         contribuinte. Um jovem que acaba a
futuro. Agora eu quero dizer o              começaram primeiro as reformas so-             Rendimento Social de Inserção seria       escolaridade, em meu entender, não
seguinte às instituições, claramente:       ciais, a Alemanha e a Suécia. Permito-         uma medida que o sr. Ministro teria       deve ser, em nome de valores não só
Uma coisa é a utopia. Outra coisa é ter     -me citar aqui o dr. Medina Carreira           implementado?                             de dignidade, mas também de sentido
a ideia absolutamente clara para onde       que costuma dizer “até nisso somos               Bagão Félix – Na altura em que foi      activo na realização dos objectivos de
é que caminhamos. Outra é não cair          pobres...”. Começa pelos países ricos          criado o Rendimento Mínimo Ga-            uma nação, entrar logo na subsidiode-
em precipitações onde todos per-            essa evolução. O El Dorado de um               rantido eu escrevi que sempre o con-      pendência. Eu quando propus isso
demos e ninguém fica a ganhar. Tem          sistema em que entrava mais dinheiro           siderei uma medida positiva. A minha      não era no sentido de diminuir as
que ser visto com muita serenidade e        e saía pouco, em que as pessoas                expressão da altura foi: “É uma medi-     responsabilidades do Estado. Era de
em maturação constante das solu-            morriam cedo, em que se nascia muito           da de indiscutível bondade social”.       aumentá-las a montante, ao nível das
ções, não só de ser boa a solução           após a segunda guerra mundial, o               Isso não me condicionou no sentido        políticas activas de emprego, de quali-
mas de ser assumida por todos.              boom de nascimentos, a ideia de que            de melhorar a eficácia social da          ficação profissional, de apoio à
  Solidariedade – Pesa muito o facto        havia sempre dinheiro para tudo...             prestação. Foi isso que procurei.         inserção de jovens na vida activa.
de no país haver cerca de 4000 insti-       Essa questão acabou ... Hoje vivemos           Vamos ver se tenho êxito nesse objec-     Mas, como sabe, foi declarado incons-
tuições de solidariedade social que         num ambiente de carência objectiva
empregam 72 mil pessoas. A insta-           de recursos que nos leva a ser mais
lação dessa política faria ruir este sec-   rigorosos na sua atribuição para as
tor.                                        pessoas certas. Ou seja, a segurança
  Bagão Félix – Não concordo. Acho          social, o Rendimento Social de In-
que o país tem evoluído muito ao            serção, a doença, o desemprego, o
longo dos últimos 25 anos. A cobertu-       abono de família, o apoio às institui-
ra de equipamentos sociais e serviços       ções, deve ter o seguinte objectivo:
sociais prestados pelas organizações        Todos aqueles que precisam devem
da sociedade civil tem, hoje em dia,        ser apoiados. Aquilo a que eu chamo a
uma expressão muito forte, como se          obrigação horizontal da segurança
vê nos números que referiu. Mas há          social. Mas só devem ser apoiados,
um dado que ainda é inelutável: É que       com diferenciação positiva, aqueles
a procura excede a oferta. Portanto,        que mais precisam. Aquilo a que
essa questão não se põe a não ser na        chamo o princípio vertical da Se-
depuração daquelas que não devem            gurança Social. No Rendimento Social
existir, por razões de péssima quali-       de Inserção nós somos mais exi-
dade, de ilegalidade de procedimen-         gentes ao nível da fiscalização e con-
tos... Mas isso, seja com o financia-       trolo justamente em nome desses
mento de uma maneira ou de outra, o         princípios, mas também temos dife-
Estado tem o dever de fiscalizar as         renciação positiva ao nível das mulhe-
instituições em nome da procura do          res grávidas e com filhos até um ano,
bem comum.                                  ao nível das famílias com doentes
                                            crónicos, com deficientes, famílias
“HÁ MAIS PROCURA DO                         mais numerosas, fazendo essa gra-
RENDIMENTO SOCIAL                           duação das expectativas e direitos so-
DE INSERÇÃO”                                ciais. É interessante que no Ren-
                                            dimento Social de Inserção há um arti-
  Solidariedade – A alteração efectua-      go que prevê os chamados vauchers
da no Rendimento Mínimo Garantido,          sociais, cheques sociais, para medica-
uma das suas mais polémicas medi-           mentos, ou para habitação, ou para
das, vai também no sentido de clari-        entrada numa instituição social. Esse
ficar o apoio que é prestado às pes-        princípio também já lá está. Acho que

                                                                                      12
SOLIDARIEDADE – N.º 61 – MAIO 2004
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SOLIDARIEDADE – N.º 61 – MAIO 2004

  • 1. Mensal 2.ª Série N.º 61 Maio 2004 Director Padre Francisco Crespo MINISTRO BAGÃO FÉLIX EM ENTREVISTA Quero gerar Em entrevista ao Solida- alguma inquietude nas riedade, Paulo E. Correia, Juiz dos Tribunais de Famí- lia e Menores, diz que o al- coolismo dos casais é causa instituições de muitos mais males que a toxicodependência. As crian- ças das zonas rurais estão mais desprotegidas que as Maquete do Fisiocar das cidades, por maiores di- Página 3 ficuldades na denúncia de maus tratos. Condena práti- ca que sobe em flecha, a da Nesta extensa entrevista, o Mi- nistro do Emprego e da Solida- to provocado pela recessão; quer dar combate sem tréguas Fisiocar de arguição dos abusos sexu- riedade fala abertamente das às baixas fraudulentas e à sub- ais como arma de arremes- so em processos de divór- relações com as IPSS. A difer- sidiodependência. ouro cio. enciação positiva é aposta que Tempo ainda para falar da crise, Página 5 quer ganhar. das debilidades do sistema fis- Municipalização da acção so- cal, até para elogiar algumas cial? Traz ganhos e perdas, diz medidas do anterior governo. o governante. E para deixar um aviso: a ad- Bagão Félix revela que a procu- versidade demográfica só se Fernando Gonçalves inven- ra do Rendimento Social de In- conseguirá combater com o au- tou um veículo de transporte serção tem aumentado, aumen- mento da produtividade. e terapia para deficientes ou traumatizados motores e Autorizado pelos CTT a circular em invólucro fechado de plástico. Autorização DEO/415/204004/DCN Páginas 11 a 14 pessoas que tenham dificul- dades motoras. O Fisiocar ganhou a meda- lha de ouro no Salão Interna- cional de Invenções, que de- correu recentemente em Ge- nebra. Padre Maia Este inventor do Fundão espera agora que alguma comenta empresa ligada ao sector o contacte, para avançar com A Paixão a produção do veículo. de Mel Gibson Página 16 Mensário da CNIS Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade
  • 2. Abertura Editorial Primeira António Pinto NOVA BASÍLICA DE FÁTIMA Por Padre Francisco Crespo pedra a 6 de Junho francisco-crespo@iol.pt Após alguns meses de interregno aqui está de novo o nosso tão querido e desejado quot;SOLIDARIEDADEquot;. Há muito tempo que as nossas filia- A colocação da primeira pedra da das nos interrogam: quot;quando é que sai nova basílica de Fátima terá lugar o SOLIDARIEDADE?quot; no dia 6 de Junho, Domingo da É bom sinal. lha, muita colaboração, boa vontade, Santíssima Trindade. A informação Significa que o jornal é uma peça fun- abertura e dinamismo. Todos têm nele foi oferecida pelo Bispo de Leiria- damental da nossa quot;máquinaquot; que se o seu lugar. -Fátima, que disse ainda esperar chama CNIS. Os Técnicos que colaboram na que “a inauguração de todo o com- Quer dizer que ele é um amigo que redacção do jornal deverão ter o traba- plexo volumétrico se verifique em nos quer visitar mensalmente e que lho de escolher, compilar e torná-lo 2007, aniversário da primeira todos nós o aguardamos de braços atractivo. Mas o interesse e o gosto pelo aparição de há 90 anos”. abertos. quot;SOLIDARIEDADEquot; está nas nossas D. Serafim Ferreira e Silva destaca Santíssima Trindade, que será um Dele esperamos muita coisa: Forma- mãos. o facto de a futura igreja da San- grande centro de culto e cultura, ção, informação, partilha de experiên- O nome não podia ser mais sugesti- tíssima Trindade ter a primeira pedra numa conjugação permanente de fé vinda do túmulo de São Pedro: “O e razão. Além das celebrações, em cias, sugestões, perguntas e respos- vo. É o nosso distintivo. Pela solidarie- Papa João Paulo II teve a amabili- espaços adequados, fazem parte do tas, novidades, enfim um mundo de dade estamos a dar a vida, muito mais dade de oferecer um pedacinho de conjunto os acessos, o parque coisas que se chama quot;vidaquot; de todos que um atleta pela camisola do seu pedra extraída do túmulo de S. hoteleiro e de restauração”, explicou os dias com que milhares de Dirigen- clube. Pedro, no Vaticano. É um símbolo o prelado em entrevista ao semaná- tes, Funcionários, Voluntários e Uten- Desejo pois que, desde este novo muito eloquentequot;. rio Voz Portucalense, da Diocese do tes das Instituições Particulares de número e mensalmente o nosso jor- D. Serafim justificou a construção Porto. Solidariedade Social se debatem per- nal seja um autêntico amigo que de uma nova Basílica em Fátima “Todos vão reconhecer as vanta- manentemente. entra nas nossas Instituições e é com a necessidade sentida pelo gens e verificar a boa harmonia Mas, para que o quot;SOLIDARIEDADEquot; querido e desejado por todos os que Santuário em “dar acolhimento a entre a nova igreja, as outras cons- seja de facto aquilo que todos nós an- o contactam. quantos chegam de fora” truções e a natureza” - assegura D. siamos, é preciso que haja mais parti- “Está em construção a igreja da Serafim Ferreira e Silva. Poema à Mãe Tudo porque tu ignoras ainda aperto contra o coração Eu saí da moldura, Eugénio de Andrade que há leitos onde o frio não se rosas tão brancas dei às aves os meus olhos a beber. demora como as que tens na moldura; e noites rumorosas de águas mati- Não me esqueci de nada, mãe. nais! ainda oiço a tua voz: Guardo a tua voz dentro de mim. “Era uma vez uma princesa E deixo-te as rosas... Por isso, às vezes, as palavras que no meio de um laranjal...” te digo Boa noite. Eu vou com as aves! são duras, mãe, Mas - tu sabes! - a noite é enorme e o nosso amor é infeliz. e todo o meu corpo cresceu... Tudo porque perdi as rosas brancas que apertava junto ao coração António Pinto no retrato da moldura! Se soubesses como ainda amo as rosas, talvez não enchesses as horas de pesadelos... Mas tu esqueceste muita coisa! Esqueceste que as minhas pernas cresceram, No mais fundo de ti, que todo o meu corpo cresceu, eu sei que traí, mãe! e até o meu coração ficou enorme, mãe! Tudo porque já não sou Olha - queres ouvir-me? -, o retrato adormecido às vezes ainda sou o menino no fundo dos teus olhos! que adormeceu nos teus olhos; 2
  • 3. Maio 2004 Actualidade Fisiocar de ouro Chama-se Fernando Gonçalves e, se não inventa tudo, inventa muito. Genebra dá-lhe o devido valor, dourando e prateando os seus inventos. Recentemente, ganhou a Medalha de Ouro com o FISIOCAR, um veículo de transporte e terapia, para deficientes ou traumatizados motores, e pessoas que tenham dificuldades motoras. “É ideal para actividades domésticas, passeios ou compras em superfícies comerciais” – afirmou Fernando Gonçalves ao SOLIDARIEDADE, acrescentando: “O utilizador pode andar sentado, de pé, ou caminhar apoiado nas extensões. Estas extensões são reguláveis em altura ou largura, bastando para o efeito levantar o estrado articulado do mesmo”. Para além da funcionalidade de meio de transporte, o veículo pode ser utilizado para fisioterapia, uma vez que tem um estrado que, quando levantado, funciona como uma espécie de andarilho que permite ao utilizador movimentar- Fernando Gonçalves (ao centro), recebendo mais um -se, sempre apoiado pelo cesto de compras, colocado na dianteira. prémio Gonçalves concebeu o veículo para produção com ou sem motores. De forma simples, diríamos que se trata de um misto de carrinho de compras e cadeira de rodas. Da 32.ª edição do Salão Internacional de Invenções, que decorreu recentemente em Genebra, trouxe quatro medalhas: duas de ouro, uma de prata e uma de bronze. A outra medalha de ouro foi conquistada pelo VEHICLE DETECTION, ALERT AND BLOCKING SYSTEM, um sistema de con- trolo e detecção de entradas de veículos em auto-estradas, que impede a circulação de automóveis em sentido contrário. TRANSVIA, um sistema de abertura rápida das barreiras de protecção em auto-estradas, valeu-lhe uma medalha de prata. A de bronze ficou para o BREAK-SYSTEM, um dispositivo de paragem de veículos a ser accionado quando os travões não funcionam ou em situações de risco de colisão. Às quatro medalhas de Fernando Gonçalves, Portugal somou mais sete. Este ano, todos os inventos portugueses apresenta- dos a concurso naquele prestigiado certame foram medalhados, o que aconteceu pela primeira vez em 32 anos de presenças regulares do nosso país. Este inventor do Fundão espera agora que alguma empresa ligada ao sector o contacte, para avançar com a produção do FISIOCAR. É o velho dilema dos inventores portugueses. Inventar, inventam eles muito. Os especialistas estrangeiros têm dado o devido valor ao trabalho dos nossos compatriotas. O problema surge depois, na etapa de produção. Geralmente a máquina emperra. Fernando Nogueira Gonçalves amarga tal sina. No seu site (http://www.invento.web.pt), podemos ler: Por falta de um inventor / Se perdeu um invento. / Por falta de um invento / Se perdeu um produto. / Por falta de um produto / Se perdeu uma empresa. / Por falta de uma empresa / Se perdeu uma fábrica. / Por falta de uma fábrica / Perderam-se milhares de empregos. / Por falta de milhares de empregos / Um país perdeu seu futuro. / Tudo por falta de um INVENTOR. Maquete do Fisiocar Pode ser que, desta vez, atendendo à utilidade social do FISIOCAR, este invento passe mesmo do papel. Combate ao abandono Números e mais números escolar ♦ Mais de meio milhão de por- tugueses vivem sozinhos. Esta cifra aumentou 44,1% em 10 anos (de 1991 para 2001). Os ministros da Educação e da -sores; a criação de um Plano de Segurança Social e do Trabalho Português Língua Não Materna, de ♦ Um em cada cinco portugueses apresentaram, no passado mês de um Plano de Promoção da Leitura e anda armado. Há 800 mil armas Abril, o Plano Nacional de Prevenção da Escrita e de um Plano específico legalizadas no nosso país. do Abandono Escolar, um esforço para o Apoio ao Ensino e Aprendiza- ♦ Os portugueses enviaram 146 colectivo para evitar que os jovens gem da Matemática. milhões de SMS no Ano Novo. saiam precocemente do sistema de A dinamização de um Programa de ♦ A GNR registou 6471 atentados ensino. Apoio e Financiamento a Actividades contra o ambiente nos primeiros nove Com o lema Eu não Desisto, Extra-Curriculares – Depois das meses de 2003, mais dois mil do que o P N A PA E tem como grande objec- Aulas; a criação do Programa Pais na em todo o ano de 2002. tivo reduzir para menos de metade as Escola; a implementação da metodo- taxas de abandono escolar e de logia e dos referenciais para reco- ♦ Portugal tem os trabalhadores saída precoce até 2010. nhecimento, validação e certificação com menos habilitações entre os No conjunto das recomendações de competências com equivalência ♦ Acidentes de trabalho vitimaram 25 países da actual União destaca-se: a criação da figura do ao actual Ensino Secundário, inte- 170 pessoas em 2003, metade das Europeia. tutor escolar, para acompanhamento gram ainda os objectivos deste ambi- quais na construção civil. ♦ O Estado é o maior empregador das crianças em risco de abandono; cioso programa. ♦ São 602.369 os beneficiários que, nacional, situação que se verifica nos o desenvolvimento de um programa Por último, refira-se a promessa de em Portugal, recebem a pensão mí- diferentes níveis da estrutura admi- específico de Formação de Profes- uma campanha de sensibilização nima. Esta cifra equivale a um quarto nistrativa portuguesa. Segundo dados dirigida essencialmente aos jovens do universo dos pensionistas. Recor- recolhidos através do 1.º Recensea- que abandonaram o sistema de ensi- de-se que as pensões mínimas vão mento Geral, efectuado em 1996, o no com os anos de final de ciclo aumentar 2% (4,16€) no próximo mês número total de trabalhadores da incompletos. Sobre este assunto, ver de Junho. Com este aumento, a Administração Pública é de 619.399, também notícia na página 10. pensão mínima do regime geral dos quais 500.535 pertencem à Ad- fixa-se em 212,16€. ministração Central. 3
  • 4. Informações Úteis Tribunais de Família e Menores tos actos, confirmar os que tenham se encontrem em alguma das sido praticados sem autorização e seguintes situações: a) Mostrem difi- providenciar acerca da aceitação de culdade séria de adaptação a uma liberalidades; h) Decidir acerca da vida social normal, pela sua situação, caução que os pais devam prestar a comportamento ou tendência que favor dos filhos menores; i) Decretar a hajam revelado; b) Se entreguem à inibição, total ou parcial, e estabelecer mendicidade, vadiagem, prostituição, limitações ao exercício do poder libertinagem, abuso de bebidas paternal; j) Proceder à averiguação alcoólicas ou uso ilícito de drogas; c) oficiosa de maternidade, de pater- Sejam agentes de algum facto qualifi- nidade ou para impugnação da pater- cado pela lei penal como crime, con- nidade presumida; l) Decidir, em caso travenção ou contra-ordenação. de desacordo dos pais, sobre o nome A competência dos tribunais de e apelidos do menor. menores é extensiva a menores com Compete, ainda, aos Tribunais de idade inferior a 12 anos quando os pais família: a) Havendo tutela ou adminis- ou o representante legal não aceitem a tração de bens, determinar a remune- intervenção tutelar ou reeducativa de ração do tutor ou administrador, co- instituições oficiais ou oficializadas não nhecer da escusa, exoneração ou judiciárias. Os Tribunais de Família remoção do tutor, administrador ou Ressalvados os casos em que a O Os Tribunais de família são compe- vogal do conselho de família, exigir e competência caiba, por lei, às apon- tentes para preparar e julgar: a) os julgar as contas, autorizar a substitui- tadas instituições, independentemente processos de jurisdição voluntária re- ção da hipoteca legal e determinar o da idade, os tribunais de menores são lativos a cônjuges; b) as acções de reforço e substituição da caução ainda competentes para: a) Decretar que separação de pessoas e bens e de divórcio (podendo os divórcios por mútuo consentimento ser também prestada e nomear curador especial que represente o menor extrajudicial- mente; b) Nomear curador especial medidas relativamente a menores que sejam vítimas de maus tratos, de abandono ou de desamparo ou se são? requeridos na Conservatória do que represente o menor em qualquer encontrem em situações susceptíveis Registo Civil se o casal não tiver filhos processo tutelar; c) Converter, revogar de porem em perigo a sua saúde, menores ou, havendo-os, se o poder e rever a adopção, exigir e julgar as segurança, educação ou moralidade; paternal se mostrar já judicialmente contas do adoptante e fixar o mon- b) Decretar medidas relativamente a regulado); c) os inventários requeridos tante dos rendimentos destinados a menores que, tendo atingido os 14 na sequência de acções de separação alimentos do adoptado; d) Decidir anos, se mostrem gravemente inadap- de pessoas e bens e de divórcio, bem acerca do reforço e substituição da tados à disciplina da família, do traba- como os procedimentos cautelares caução prestada a favor dos filhos lho ou do estabelecimento de edu- com aqueles relacionados; d) as menores; e) Exigir e julgar as contas cação e assistência em que se encon- acções de declaração de inexistência que os pais devam prestar; f) trem internados; c) Decretar medidas ou de anulação do casamento civil; e) Conhecer de quaisquer outros inci- relativamente a menores que se entre- as acções relativas à anulação de dentes nos processos acima referi- guem à mendicidade, vadiagem, pros- casamento civil contraído de boa-fé dos. tituição, libertinagem, abuso de pelo menos por um dos cônjuges; f) bebidas alcoólicas ou uso de drogas, as acções e execuções por alimentos Os Tribunais quando tais actividades não consti- Para entre cônjuges e entre ex-cônjuges. de Menores tuírem nem estiverem conexionadas Tais Tribunais são ainda compe- com infracções criminais; d) Apreciar e tentes para, relativamente a menores Compete aos tribunais de menores decidir pedidos de protecção de que e filhos maiores: a) Instaurar a tutela e decretar medidas relativamente a menores contra o exercício abusivo de a administração de bens; b) Nomear menores que, tendo completado 12 autoridade na família ou nas institui- pessoa que haja de celebrar negócios anos e antes de perfazerem 16 anos, ções a que estejam entregues. em nome do menor e, bem assim, servem? nomear curador-geral que represente extrajudicialmente o menor sujeito ao poder paternal; c) Constituir o vínculo da adopção; d) Regular o exercício do poder paternal e conhecer das questões a este respeitantes; e) Fixar os alimentos devidos a menores e aos filhos maiores ou emancipados e preparar e julgar as execuções por ali- mentos; f) Ordenar a entrega judicial de menores; g) Autorizar o represen- tante legal dos menores a praticar cer- 4
  • 5. Maio 2004 Entrevista MAUS TRATOS A CRIANÇAS Juiz alerta para o flagelo do alcoolismo Em entrevista ao Solidariedade, Paulo Eduardo Correia, 40 anos, Juiz dos Tribunais de Família e Menores, diz que o alcoolismo dos casais é causa de muitos mais males do que a toxicodependência. As crianças das zonas rurais estão mais desprotegidas do que as das cidades, por maiores dificuldades na denúncia dos casos de maus tratos. Condena prática que sobe em flecha, a da arguição dos abusos sexuais como arma de arremesso em processos de divórcio. E constata a existência de juízes impreparados nos Tribunais de Família e Menores, tudo a ver com a falta de recursos humanos: “Trata-se de uma área tão sensível que não se compadece com amadorismos, nem inexperiência de qualquer ordem” – defende o magistrado. apoio vêm a revelar-se alertas infun- manietado perante tal arguição. Não profissionalmente. dados, tal a preocupação das pessoas há provas, mas está criada a sus- Solidariedade – Há sanções, quando com o bem-estar das crianças. Seja peição. Não há provas, mas o mal se prova que a denúncia é falsa… como for, prefiro este excesso de zelo, está feito. P. Correia – Mas aí o juiz fica manie- entre aspas, claro, a uma atitude tado por outras razões. Vamos con- laxista da comunidade. “DENÚNCIAS MOTIVADAS denar a pessoa que fez essa falsa POR PURO REVANCHISMO” denúncia por má fé? Podemos fazê-lo, “O ÁLCOOL ESTÁ LÁ, mas aí estamos a tornar a situação do QUASE SEMPRE” Solidariedade – Tais estratégias dos filhos ainda mais periclitante. E o aumentaram depois da divulgação do mais importante de tudo é salva- Solidariedade – É na toxicode- que se passou com as crianças da guardarmos o futuro das crianças. pendência que encontramos a origem Casa Pia? Solidariedade – Hoje em dia há da maior parte dos problemas… P. Correia – De forma significativa. Há “NÃO PODEMOS FALHAR mais problemas com os menores, ou P. Correia – Surpreendentemente, é dois tipos de situações. Por um lado, NO MOMENTO DECISIVO” estes encontram-se mais protegidos o alcoolismo que fomenta a maior preocupações genuínas das mães, do que há uns anos atrás? parte das desgraças. 90 por cento dos alicerçadas nos comportamentos se- Solidariedade – É uma pergunta Dr. Paulo Correia – Fundamental- casos que me chegam às mãos são xuais do cônjuge. No lado oposto, recorrente, a que se refere à juven- mente, foram os padrões de exigência originados por esse flagelo. O álcool encontramos denúncias motivadas tude de alguns magistrados. Esse que mudaram. Noto evolução muito está lá, quase sempre, num ou noutro por puro revanchismo. Esquecem-se argumento pesa nos Tribunais de qualitativa no que se refere às exigên- dos pais, por vezes no casal. Isto tanto de que quem mais sofre com tudo isso Família e Menores? cias da sociedade. Se antes aceitáva- se verifica nas aldeias como nas são os filhos. P. Correia – Trata-se de uma área tão mos determinados castigos corporais, cidades. A toxicodependência origina sensível que não se compadece com considerando-os normalíssimos, hoje problemas mais graves, mas as mais fre- amadorismos, nem inexperiência de isso já não acontece. E isto vale tanto quentes têm a ver com o alcoolismo. qualquer ordem. Não podemos falhar para as comunidades urbanas como Solidariedade – O aumento das no momento decisivo. Note-se que a para as rurais. famílias monoparentais tem-se lei exige dez anos de serviço e uma Solidariedade – Os problemas mais reflectido numa maior taxa de aban- classificação de Bom Com Distinção, graves surgem nas cidades… donos de crianças, ou de negligência? obrigando a que o magistrado nomea- P. Correia – Nas zonas urbanas P. Correia – Não noto isso. A maior do para estes tribunais seja dotado de encontramos famílias completamente parte dos casos provêm das chamadas qualidade técnica e tenha uma desreguladas. No entanto, os proble- famílias típicas, de crianças a viverem com preparação específica dentro desta mas com as crianças são mais fáceis pai e mãe, não significando isso que os pais área. Nesse aspecto o legislador foi de detectar, são denunciados com sejam casados. Solidariedade – Falou em juízes exigente, e ainda bem. O que acon- muito mais facilidade e prontidão. Já Solidariedade – Na ordem do dia manietados, na dificuldade em con- tece é que, por escassez de meios, nas comunidades rurais, mesmo em estão hoje os abusos sexuais a seguir provas… são colocados como auxiliares juízes zonas limítrofes a grandes cidades, menores… P. Correia – Confesso que lidamos que não cumprem os requisitos deter- deparamo-nos, por vezes, com um P. Correia – É verdade, e não vale a com muitas dificuldades em situações minados na lei. Sem serem nomeados muro de silêncio que é difícil transpor. pena repetir o que tem sido dito sobre do género. Nós não temos, nem definitivamente, é claro, mas a ver- Não sendo situações tão graves como isso. Mas permita-me que aproveite temos que ter preparação específica dade é que, por carência de recursos aquelas com que nos deparamos nas esta oportunidade para deixar um aler- nesse domínio. Mas recorremos a humanos, nem sempre se conseguem cidades, ficam, no entanto, sem ta, sobre uma prática condenável que especialistas, tanto do Instituto de cumprir os requisitos legais, havendo resolução. Isto acontece porque os vejo aumentar assustadoramente nos Medicina Legal como de departamen- juízes impreparados para o desem- familiares mais chegados ou os últimos tempos. Falo da utilização tos de pedopsiquiatria. Registo vários penho destas funções específicas. vizinhos receiam incómodos, até do abuso sexual como arma de casos em que a avaliação rigorosa, a Solidariedade – Disse juízes mesmo represálias, caso procedam a arremesso entre casais desavindos, avaliação científica efectuada pelos impreparados? uma denúncia. partes num processo de regulação do peritos demonstrou ser tudo falso. É P. Correia – Digo-o com toda a Solidariedade – As crianças das poder paternal. Invoca-se cada vez terrível, e bom seria que as pessoas responsabilidade. As pessoas sabem zonas rurais mais desprotegidas do mais, e quase sempre por parte do se deixassem dessas estratégias. que é assim, que nos deparamos com que as das cidades, é isso? parceiro feminino, o perigo de tais Chega-se ao requinte de se recorrer esse problema nos Tribunais de P. Correia – Não generalizando, sem abusos acontecerem caso a criança primeiro a um hospital, tentando obter Família e Menores. É uma preocu- dúvida alguma. Nas cidades chegamos a seja confiada ao pai, ou permitindo relatórios que depois possam alicerçar pação do próprio Conselho Superior notar até um excesso de zelo por parte que com ele passe algum tempo. É a falsa denúncia junto dos tribunais. da Magistratura. Este órgão, honra lhe da comunidade. Algumas das um argumento terrível. Muitas Isto mesmo tem-me sido contado por seja feita, tem evitado a nomeação de chamadas recebidas pelas linhas de vezes, o magistrado sente-se algumas médicas com quem lido auxiliares para estes lugares. 5
  • 6. Respigos 100 litros de sangue e cerca de 18500 EUROS Conseguimos pensar um 100 litros de sangue e cerca de 18 mil e quinhentos EUROS foi o resultado do peditório público e da recolha benévola de sangue, em quatro centros, pela mundo livre da fome? Cáritas de Setúbal. Em comunicado, a Cáritas de Setúbal salienta que, dos (...) Esta problemática leva-nos a perguntarmo-nos: conseguimos pensar um nove concelhos que constituem a diocese sadina já foram apurados os resulta- mundo onde o ser humano se possa alimentar dignamente? Onde toda a dos dos oito onde se realizou o peditório e que, relativamente ao ano anterior, gente, sobretudo as novas gerações, possam crescer, aprender e tornar-se “se registou um decréscimo de 23%”. Esta diminuição está “relacionada com a membros activos e responsáveis da sociedade? Conseguimos pensar um crise económica que o país atravessa e com a cada vez maior dificuldade em mundo livre da fome? encontrar pessoas que se disponibilizem para realizar o peditório”. Libertemos a mãe Terra da estrutura económica perversa que enche os Agência Ecclesia pratos a uns enquanto esvazia os dos vizinhos, e isso será possível. Se as pessoas forem bem alimentadas, terão saúde e energia, criatividade, segu- rança e coragem suficiente para resolver problemas e criar uma cultura saudável. A insuficiente alimentação impede o homem de poder trabalhar e Reconhecer o passado desenvolver-se. Pela lei da interligação dos membros, como diria S. Paulo, todo o corpo social fica atingido. descobrir os porquês Mensageiro de Sto. António Tantas vezes as pessoas têm tendência a queixar-se de que a cultura cigana se fecha sobre si própria relativamente à cultura envolvente. Terminámos a Quaresma, vivemos já (quando estas linhas se escrevem) as alegrias de o Pai ter ressuscitado Jesus da morte que os pecados da humanidade Lhe deram. É bom reflectir um pouco sobre a história, é tempo para metermos a mão na cons- ciência colectiva. Quem não se defende, quem não se fecha, quem não se torna desconfiado e agressivo quando é, sistematicamente, discriminado, perseguido, excluído, de- portado, castigado, chacinado, etc. etc. etc.? Costuma dizer-se que quem não se sente não é filho de boa gente. Os ciganos têm, certamente, uma origem de boa gente, algures no Kerala no Norte da Índia. Ainda hoje, ao fim de cerca de um milénio de agruras, eles mantêm a postura de boa gente que as suas origens neles imprimiram. No, a todos os títulos, notável documento que a Santa Sé, na sequência do V Congresso Mundial da Pastoral dos Ciganos, está a preparar para difundir em toda a Igreja, sobre a etnia cigana e as suas relações com a sociedade europeia e com a Igreja, este aspecto da má consciência de tantas comunidades cristãs, ao longo da história, sem excluir o presente, no seu não acolhimento das popu- Geminação de paróquias lações ciganas, é meridianamente focado. Examinemos, pois, a nossa consciência colectiva. Tentemos, então, com- preender os porquês e, melhor ainda, façamos, como o Papa já fez, várias precisa de ser vezes, mea culpa, e tentemos começar a compreender os nossos irmãos ciganos, por dentro, não pelas aparências, nos seus corações feridos por tantos maus tratos nossos ou dos que nos precederam e então o sentimento de implementada amizade por um irmão que veio de tão longe e que necessita do nosso acolhi- Os directores nacionais das Obras Missionárias Pontifícias dos países mento talvez comece a despertar e uma verdadeira Páscoa despontará na europeus estiveram reunidos no Seminário dos Espiritanos, na Torre d’Aguilha, nossa terra. em Lisboa, para reflectir sobre a animação missionária e a pastoral juvenil. Em Francisco Monteiro. A Caravana declarações à Agência ECCLESIA, o padre Manuel Durães Barbosa, director nacional, sublinhou que as Obras Missionárias Pontifícias têm um papel de coordenação e pretendem dar um novo impulso à pastoral juvenil. Se esta quot;não contemplar a dimensão missionária fica fragilizadaquot;, disse. A dimensão missionária abre quot;horizontesquot;, alarga quot;fronteirasquot; e cria quot;comunhão entre a Igreja local e a Igreja noutros paísesquot;, acrescentou. Os 28 directores nacionais estiveram em diálogo entre 27 a 30 de Março, re- flectiram também sobre quot;a geminação de dioceses e paróquias com os desafios que essa mesma provocaquot;. E acentua: quot;não é uma geminação que tem como prioridade a ajuda monetáriaquot;, mas quot;deve gerar uma comunhão maior entre Igrejas de continentes diferentesquot;, realçou o padre Manuel Durães Barbosa. Em Portugal, este desafio está a cargo da Fundação Evangelização e Culturas (FEC) mas – acentua o director nacional – quot;pode-se dizer que o nosso país está a aderir a um ritmo crescente mas lentoquot;. Para gerar esta geminação, quot;é necessário que haja consciência missionáriaquot; dentro da própria paróquia. Agência Ecclesia 6
  • 7. Maio 2004 Iniciativa A Família face à exclusão No próximo dia 29 de Maio terá dentes, que vivem sós e em situação do sexo feminino, com baixas qualifi- Portugal. lugar, em Fátima, um seminário orga- de risco. cações escolares e profissionais. Estas preocupações da CNIS são nizado pela CNIS, tendo por tema A Os pressupostos anteriores, aliados Urge dar mais atenção às estru- comuns a grandes figuras públicas, Família face à Exclusão. Como é por à evolução do envelhecimento de- turas familiares e dinamizar politicas como as de Sua Eminência o Senhor demais sabido, as transformações mográfico, ao número crescente de sociais que apoiem a unidade da Cardeal Patriarca e as de Sua Ex.ª o dos modelos familiares tradicionais novos imigrantes / minorias étnicas, família e a dignifiquem, mas sobretu- Senhor Presidente da República, têm-se vindo a alterar acarretando, agravam-se se tivermos em conta o do promovam o seu desenvolvimen- que recentemente deixou transpare- cada vez mais, uma maior individua- aumento do número crescente de to, de forma a poder-se minorar o cer numa entrevista à Revista lização dos seus núcleos. desempregados, maioritariamente agravamento da exclusão social em Economia Social que quot;Eventuais re- Estas transformações, associadas cuos nas politicas sociais, podem ter à existência, em crescendo, de efeitos muito gravosos (...) e con- famílias mono parentais, maioritaria- duzir ao aumento da pobrezaquot;, de- mente constituídas por mulheres fendendo que só, quot;uma articulação com dificuldades económicas acres- entre o Estado, sector privado e sec- cidas e impossibilitadas de poderem tor social, permitirá dar sentido útil à conciliar a sua vida familiar com a noção de rede social de protecção e profissional, agravam-se com as apoio aos grupos sociais desfavore- escassas possibilidades de acesso a cidosquot; (SIC). instituições de solidariedade de É este o tema das nossas preocu- apoio às estruturas familiares, as- pações, que em conjunto preten- pectos que nada contribuem para o demos debater, para assinalar o Ano acompanhamento das suas crianças Internacional da Família. e sobretudo dos seus idosos depen- 7
  • 9. Maio 2004 Actualidade CONCLUSÕES DO SEMINÁRIO DA COVILHÃ Violência doméstica e crianças em risco O SOLIDARIEDADE divulga, na íntegra, o documento continente das conclusões do seminário que teve lugar, no passado dia 24 de Abril, na Covilhã, subordinado ao tema Mulheres vítimas de violência doméstica e crianças em risco. Os mais de 250 participantes no membros mais velhos na harmonia e escopo da cidadania a que nos da consciência dos casais para as Seminário sobre Violência Doméstica cumprimento da missão inalienável devíamos sentir obrigados; responsabilidades parentais que e Crianças em Risco, promovido pela das famílias; 2. As IPSS são convidadas a con- venham ou já têm que assumir. A UDIPSS de Castelo Branco, ao abrigo - É no seio das famílias atingidas tribuir, cada vez mais, para a pre- UDIPSS de Castelo Branco providen- do Acordo celebrado entre a CNIS e pelo alcoolismo e toxicodependência venção de todas as situações propicia- ciará a instalação de GABINETES de IEFP, constataram que: que predominam as situações de vio- doras de maus-tratos e a assumirem- informação, aconselhamento e media- - Existe maior consciência condu- lência e de risco mais sinalizadas; -se com a consciência ética das ção familiares, proporcionando a for- cente à denúncia junto das instâncias - As IPSS estão conscientes de que comunidades em que estão inseridas; mação necessária aos respectivos públicas das situações de perigo em a correcta prevenção e solução dos 3. As IPSS reafirmam a sua con- mediadores; que encontram muitas das crianças; problemas sociais por mais simples vicção de que só o trabalho em parce- 7. AS IPSS não deixarão de criar as - A violência sobre as mulheres e que sejam, não se compadecem com ria, tanto a nível local, nacional ou condições favoráveis à valorização do crianças, em situação de perigo, não formas de estar e de actuar autistas e transnacional, é instrumento eficaz de papel dos idosos na família, porque são problemáticas novas, mas emergem que visem alcançar protagonismos actuação solidária; estes podem dar um contributo indis- delas novas realidades, que as tornam pessoais ou institucionais. 4. Se persistem muitas das causas pensável à construção da afectividade mais complexas; originadoras de violência na família, e da memória, que são factores - As crianças têm um tempo para o em particular contra crianças e mu- essenciais para a plena integração ser, não podendo deixar de lhes dar lheres, outras surgiram nos últimos sócio-familiar dos indivíduos. as condições apropriadas ao seu anos e mais hão-de surgir nos próxi- crescimento equilibrado, sendo a mos, pelo que as IPSS mantêm o A terminar, os participantes regozi- afectividade, desde o momento da compromisso de continuar a investir jaram-se com a celebração do 30.º concepção, um dos elementos mais na informação / formação dos seus Aniversário do 25 de Abril e formula- estruturantes para a formação da colaboradores; ram votos para que se mantenham essência do ser; 5. No cumprimento do comprovado vivos e activos os ideais que o justi- - A família continua e continuará a princípio da subsidariedade, as IPSS ficaram, comprometendo-se colaborar ser o lugar privilegiado para o desen- continuam disponíveis para colaborar para este desiderato. volvimento saudável dos indivíduos, e na criação de iniciativas propiciadoras só quando esgotadas todas as suas do BEM COMUM, contando, para potencialidades se deverá investir isso, com a cooperação dos diversos noutros modelos alternativos, tais Concluíram por isso que: serviços locais e do Governo da como o acolhimento no seio da família Nação; alargada ou o recurso a famílias de 1. É imperioso criar nas IPSS, e 6. As IPSS sabem que a prevenção adopção; através delas, a cultura dos DIREI- precoce é o meio mais eficaz de inter- - A família é uma realidade em TOS HUMANOS e apelar ao respeito venção social, e porque é na família mutação, mas a sua função primordial incondicional por cada um e por todos onde tudo começa, comprometem-se de cultivar e proteger a vida é imutá- eles, sem esquecer que lhes estão a reforçar as acções que visem a vel; associados o sentido do cumprimento preparação dos jovens e o despertar - É indispensável a participação dos dos deveres, a fim de que se almeje o Todos os adultos, com excesso de peso ou obesidade (IMC >= 25) que necessitem de emagrecer, podem informar-se sobre o Plano XL, junto do seu médico assistente. Desenvolvido pela Fundação Portuguesa de Cardiologia (FPC), o Plano XL é um programa nutricional personalizado, destinado a pessoas que dese- Plano jam perder peso de forma saudável e modificar os seus hábitos alimentares de modo a evitar a recupera- ção do peso perdido, após a dieta. São os médicos que disponibilizam aos seus doentes o questionário do Plano XL que, após preenchi- mento, deve ser enviado para a Fundação Portuguesa de Cardiologia. Posteriormente, todas as pessoas XL são contactadas pelas Nutricionistas do Plano XL e acompanhadas durante 6 meses através de contactos telefónicos regulares. Após o primeiro contacto telefónico, é elaborado um plano alimentar personalizado, adaptado o mais possível aos hábitos e preferências de cada um, que é enviado pelo correio. Nos contactos posteriores avalia-se a adaptação à dieta, a evolução do peso e do perímetro abdominal e reforça-se a motivação para continuar a emagrecer. Durante este acompanhamento são fornecidos alguns materiais com informações úteis, promotoras da mudança de hábitos após a dieta. O Plano XL tem também uma linha azul, que fun- ciona 12h por dia, para apoio e esclarecimento de todas as dúvidas sobre este programa. Para mais pormenores, ligue 213 815 000, ou envie um e-mail para fpcardio@fpcardiologia.pt 9
  • 10. Margens PRESIDÊNCIA ABERTA SOBRE A EDUCAÇÃO Abandono escolar é tragédia nacional O abandono escolar é uma “tragédia Solidariedade reconheceu o problema o 12.º ano do que com o 9.º. Há 10 nacional”. As palavras são do Pre- e adiantou as metas do governo em anos esse número era de 65%, agora sidente da República que dedicou a matéria de combate ao abandono é de 43. Houve uma evolução positiva Presidência Aberta, na semana pas- escolar. “Foi lançado por mim e pelo e queremos que até 2010 passe para sada, à educação. Jorge Sampaio Ministro da Educação um programa metade. É necessário relançar o ensi- pediu que o país escolha a formação e nacional de prevenção do abandono no profissional, técnico-profissional, a educação como prioridades nos escolar. O que se passa é o seguinte: tecnológico. Isso é decisivo. Fizeram- próximos anos para que Portugal não Abandono escolar no sentido estrito -se coisas boas, eu próprio tenho venha a ser marginalizado no futuro. do termo, isto é, os que saem da esco- orgulho de, como Secretário de “Não estou disponível para assistir a la sem atingir o fim da escolaridade Estado do Emprego, em 1988, com o esta tragédia nacional”, referiu o obrigatória, anda à volta de 2,8 por ministro da educação Roberto Presidente no decurso de uma visita à cento. Desceu nos últimos dez anos Carneiro, ter avançado com as esco- Escola Profissional de Idanha-a-Nova. de 10 para 2,8 por cento. Temos que las profissionais, que hoje são um Sampaio fez questão de esclarecer ver o lado positivo, a nossa auto-esti- sucesso; o sistema de aprendizagem que o recado era para o país e não ma não pode ser confrontada só com também é um sucesso mas é insufi- para o governo. Segundo as estatísti- problemas. Fizemos avanços. O ciente. As escolas comercias e indus- cas há 43 por cento de jovens entre os nosso objectivo agora a é reduzir em triais acabaram no 25 de Abril por 18 e os 24 anos de idade que não prioridade. “Ou o país dá uma volta 50 por cento esse valor. Os 43 por razões compreensíveis, do ponto de completaram o ensino secundário, o séria e diz que ‘a formação das pes- cento é o que se considera tecnica- vista de diferenciação socialmente que coloca Portugal na cauda da soas é uma questão central para os mente a saída precoce do sistema estúpida, mas criou-se um vazio. Há Europa dos 25. Jorge Sampaio adver- próximos dez anos’, ou então ficare- escolar. Concluíram a escolaridade um buraco negro de deficiente qualifi- tiu para o facto de Portugal perder a mos mais marginais”. obrigatória mas abandonaram o sis- cação a nível de quadros intermé- batalha do desenvolvimento se não Na entrevista concedida ao So- tema de ensino sem qualificações adi- dios.” colocar a educação como primeira lidariedade o Ministro do Emprego e cionais. No fundo, tem mais a ver com Caminhos para Famílias sem Violência A Violência Doméstica é, para além POEFDS - Pequena Subvenção às É urgente informar o público sobre ceitável a sua prática e criando de um crime punido pelo artigo 153.º do ONG's. estas questões, promovendo uma condições sociais e humanas para que Código Penal, um flagelo social e um O projecto tem como principal objecti- mudança de mentalidades e de actua- as suas vítimas possam, em segu- drama humano que afecta muitas vo informar e sensibilizar as cidadãs e ções - uma sociedade moderna e justa rança, ultrapassá-la e os agressores famílias, com particular impacto nas os cidadãos sobre o que fazer perante tem que unir esforços para combater a possam mudar o seu comportamento. mulheres e nas crianças. situações de Violência Doméstica. Violência Doméstica, tornando ina- A estratégia do projecto Estrada Larga O actual Governo, na sequência de - Caminhos para Famílias sem políticas que foram desenvolvidas na Violência é informar e sensibilizar direc- última década, aprovou recentemente tamente cerca de 24 mil pessoas sobre o II Plano Nacional contra a Violência o problema da Violência Doméstica nos Doméstica, com objectivos ambiciosos distritos de Aveiro, Porto e Braga. que envolvem todos os agentes da Queremos ir ao encontro de alunos, administração central e local, bem professores, autarcas, técnicos e públi- como os organismos da sociedade co em geral para em conjunto construir- civil. mos caminhos para famílias sem vio- É neste âmbito que nasce o projecto lência. Estrada Larga, uma iniciativa a cargo do Soroptimist Internacional Clube O Projecto Estrada Larga dispõe de Porto - Invicta, aprovado pela CIDM - um excelente site, com bastante infor- Comissão para a Igualdade e para os mação sobre a sua actividade, nele se Direitos das Mulheres / Presidência do incluindo a calendarização das acções Conselho de Ministros e co-financiado a desencadear nos próximos dias. O pela União Europeia - Fundo Social site deste projecto encontra-se em Europeu, no âmbito da medida 4.4. do http://www.estradalarga.online.pt/ 10
  • 11. Maio 2004 Grande Entrevista BAGÃO FÉLIX, MINISTRO DO EMPREGO E DA SOLIDARIEDADE Quero gerar alguma inquietude nas instituições Por V. M. Pinto António Bagão Félix é um dos Ministros mais conhe- acaso. No apoio domiciliário a desin- Solidariedade – É nesse sentido que cidos do governo PSD-CDS/PP. É uma pessoa de pou- termediação entre quem apoia e quem vai a iniciativa recente de mandar cas surpresas e de muitas convicções. O responsável é apoiado é muito maior. Não necessi- encerrar algumas instituições? pela pasta do Emprego e da Solidariedade já foi ta de cimento, de betão armado. Mais Bagão Félix – Estes 364 estabeleci- Secretário de Estado em governos anteriores e tem um do que um equipamento é um serviço. mentos, e não foi por acaso que lhe pensamento plasmado em vários documentos escritos chamei estabelecimentos, são total- ao longo da sua carreira. “Tenho ideias, sei o que “NEM SEMPRE AS PESSOAS QUE mente instituições com fins lucrativos. quero e sei por onde é o caminho” disse ele ao termi- PAGAM IMPOSTOS SÃO AS MENOS Eram instituições que não tinham nar esta entrevista de hora e meia ao Solidariedade. CARENCIADAS” alvará, não tinham as condições míni- Mal chegou ao governo não descansou enquanto mas de segurança, de higiene, de não apresentou a nova lei de bases da Segurança Verdadeiramente há um obstáculo qualidade, de conforto, etc. Não têm Social que revogou o diploma aprovado em 2000 pelo Partido Socialista. Mas não se objectivo: A nossa capacidade e possi- nada a ver com as IPSS. coíbe de elogiar, no executivo de António Guterres, aquilo que sempre achou adequa- bilidade de aferir das condições Solidariedade – Mas, ainda assim, do para o país. económico-sociais das famílias. O estas acções acabam por ser um sinal Tem 56 anos, é católico, benfiquista e bom chefe de família. Diz que o que quer fazer nosso sistema fiscal é ainda débil a do governo em relação às institui- cabe neste mandato: “Se o sr. Primeiro-Ministro tiver confiança em mim, até final do esse nível. Nem sempre as pessoas ções... mandato, ficarei. Mais tarde ou mais cedo o verdadeiro desejo de um ministro que não que pagam impostos são as menos Bagão Félix – Eu fui Secretário de é político de carreira, como é o meu caso, é ser ex-ministro.” carenciadas; há determinado tipo de Estado da Segurança Social no gover- Nesta entrevista falou das relações com as IPSS. Abertamente, como é seu timbre. rendimentos que objectivamente não no de Sá Carneiro, 1980, há 24 anos, são declarados no IRS porque estão e na altura fiz uma grande modificação sujeitos a taxas liberatórias. Se uma no financiamento das Instituições de Solidariedade – O sr. Ministro tem mesmo tempo, grande problema, é pessoa só viver de muito dinheiro de Solidariedade Social. Elas eram finan- passado, nos últimos tempos, a ideia apoiar com mais eficácia na gestão depósitos a prazo não precisa de ciadas não pelos utentes, pelos fins de que vai ser alterada a filosofia rela- dos recursos financeiros disponíveis declarar IRS. A declaração de IRS que perseguiam, mas pelos meios, tivamente às contribuições que têm as famílias que mais precisam. Nós pode não significar a fotografia social isto é pelo pessoal que tinham ao seu sido dadas às famílias carenciadas. serviço. Era um disparate, porque Em vez do pagamento ser feito às quanto mais improdutiva fosse a insti- instituições tem sido referido que o tuição, mais pessoal tivesse mesmo pagamento pode e deve ser feito que não precisasse, mais recebia. directamente às famílias, escolhendo Essa foi uma revo-lução na altura. Há elas depois a instituição. É uma 24 anos não ima-gina a revolução que mudança de política? foi por isso em prática. Bagão Félix - Esta minha posição é uma posição de convicção, embora “A POLÍTICA TAMBÉM SE FAZ reconheça que em muitos aspectos é DE UTOPIAS” uma gestação teórica. Verdadeira- mente, o que o Estado deve apoiar Depois há uns poucos de anos atrás são as famílias, as pessoas. Essa é - isso não foi comigo mas eu achei que é a essência de qualquer política muito bem -, começaram-se a afinar social. Se esse apoio é feito através os critérios de capitação, os custos do aparelho do Estado ou se é veicu- variáveis, os custos fixos e acho que lado, quase sempre melhor, através se está evoluir muito. Agora entrou-se de organizações intermédias da numa nova fase que é fazer diferen- “Agora entrou-se numa nova fase, que é fazer diferenciação positiva, pela qualidade” sociedade civil, como são as IPSS e ciação positiva, pela qualidade, é uma as Misericórdias, é um aspecto impor- sabemos que nas instituições há umas de carência das famílias. Temos que ir terceira fase mas sem deixar de ter tante, mas instrumental. O fim da que fazem um exercício notável de por passos graduais. Eu com esta em conta este farol: A política também política social é ajudar as pessoas. O seriação social dos idosos, das crian- ideia procurei dois objectivos: essa se faz de utopias. É provavelmente financiamento directo às famílias, em ças, dos deficientes, das pessoas que ideia do gradualismo, da aproximação, uma utopia, mas toda a gente concor- teoria, representa duas ou três vanta- são apoiadas... mas, há outras que começar a pouco e pouco. Este ca- da que é a perspectiva correcta. Pode gens em relação às instituições. têm a tendência para captar... minho faz-se caminhando. Mas tendo e deve haver passos intermédios, Primeira: Permite maior liberdade de Solidariedade – Angariar clientes? esse farol por linha de orientação e, ao aquilo a que chamei de gradualismo. escolha das famílias apoioadas. Bagão Félix – Sim. Clientes que mesmo tempo, gerar alguma incomo- O financiamento pode e até deve, Segunda: Ao permitir maior liberdade paguem mais para compensar deter- didade, no bom sentido da palavra, ou numa fase intermédia, ser um misto de escolha das famílias apoiadas, per- minado tipo de encargos. Perguntar- numa linguagem mais cristã: Gerar das duas coisas. Ser em parte um mite uma “concorrência” mais sadia e -me-á: Porque é que tendo essa ideia alguma inquietude nas próprias insti- financiamento à instituição e suple- mais profiláctica na própria sociedade. não a concretizou? Devo dizer que no tuições. Fazermos todos uma reflexão mentarmente um apoio à família mais O “mercado” ajusta-se. As más institui- acordo que foi celebrado com as crítica. Há instituições que funcionam carenciada. No fundo ir buscar as van- ções são menos procuradas, as insti- Misericórdias e com a CNIS foi esta- muito bem mas há outras que, de tagens de dois tipos de financiamento tuições de excelência são mais procu- belecido que vamos começar a iniciar facto, deixam-se cair em algumas ten- sem cair nos inconvenientes dos dois radas. Terceira vantagem e, ao isso no apoio domiciliário. E não é por tações de menor aferição social. tipos de financiamento. Têm que ser 11
  • 12. Grande Entrevista soluções aproximativas. soas que mais necessitam? a pouco e pouco ele deve ser con- tivo que não é para mim é para o país. Solidariedade – Nunca será então Bagão Félix – É uma questão inte- cretizado. O de haver cheques Eu posso dar números destes uma substituição imediata e total. Diz ressante. Agora chama-se Rendimen- consignados para determinada finali- primeiros três meses. Neste momento que é uma utopia... to Social de Inserção, como sabe. O dade social. No fundo, permita-me que temos 59 por cento dos pedidos que Bagão Félix – Eu vou dar-lhe exem- que está subjacente... Há duas con- use uma caricatura, o abono de são indeferidos... plos de onde já existe há muitos anos. cepções, dois pilares, dois elementos família em boa teoria, sei que isso não Solidariedade – O sr. Ministro tentou O subsídio de educação especial que estruturantes da reforma social, aque- é concretizável, devia ser através de acabar com aquilo a que se começou é dado às famílias que têm filhos defi- la que eu preconizo e tenho procurado um vale com o qual se devesse com- a chamar a subsidiodependência. cientes, para irem para estabeleci- pôr em prática. Uma é a de que prar coisas para a criança que é Acha que está a conseguir? mentos de educação especial, é feito ninguém deve ser excluído da possi- abonada. Desde a alimentação ao Bagão Félix – No início o diploma às famílias. Vou-lhe dar outro exem- bilidade de ter acesso aos bens e vestuário etc., e não como hoje o previa que os jovens até aos trinta plo: As escolas profissionais, que são serviços sociais; a outra é a de que damos, que é um cheque na conta dos anos não teriam direito ao rendimento financiadas com dinheiros da União ninguém devendo ser excluído, em pais que pode ser para o pai ir para a mínimo, como acontece em Espanha, Europeia e nacionais, neste ministério teoria, só deve ser apoiado quem pre- taberna ou para ir ao futebol ou outra no Luxemburgo, como acontece e no da Educação. Este ano, o finan- cisa mais. É o princípio da diferencia- coisa qualquer. Mas nós sabemos que noutros países, justamente porque se ciamento já é dado aos alunos. Não é ção positiva. Hoje em dia não pode é um sonho irrealizável e, sincera- entende que o Rendimento Mínimo, dado às escolas. haver outro. A ideia do tudo para mente, discutível, porque viola o sendo o último recurso, não pode ser Solidariedade – É uma tendência... todos, além de injusta é uma ideia princípio da liberdade. As pessoas não a primeira porta de entrada, o primeiro Bagão Félix – É uma tendência irre- irrealizável. Não é por acaso que podem ser orientadas pelo Estado... guichet de uma mesada paga pelo versível e aí é quase lutar contra o foram os países ricos da Europa que Solidariedade – Se não houvesse contribuinte. Um jovem que acaba a futuro. Agora eu quero dizer o começaram primeiro as reformas so- Rendimento Social de Inserção seria escolaridade, em meu entender, não seguinte às instituições, claramente: ciais, a Alemanha e a Suécia. Permito- uma medida que o sr. Ministro teria deve ser, em nome de valores não só Uma coisa é a utopia. Outra coisa é ter -me citar aqui o dr. Medina Carreira implementado? de dignidade, mas também de sentido a ideia absolutamente clara para onde que costuma dizer “até nisso somos Bagão Félix – Na altura em que foi activo na realização dos objectivos de é que caminhamos. Outra é não cair pobres...”. Começa pelos países ricos criado o Rendimento Mínimo Ga- uma nação, entrar logo na subsidiode- em precipitações onde todos per- essa evolução. O El Dorado de um rantido eu escrevi que sempre o con- pendência. Eu quando propus isso demos e ninguém fica a ganhar. Tem sistema em que entrava mais dinheiro siderei uma medida positiva. A minha não era no sentido de diminuir as que ser visto com muita serenidade e e saía pouco, em que as pessoas expressão da altura foi: “É uma medi- responsabilidades do Estado. Era de em maturação constante das solu- morriam cedo, em que se nascia muito da de indiscutível bondade social”. aumentá-las a montante, ao nível das ções, não só de ser boa a solução após a segunda guerra mundial, o Isso não me condicionou no sentido políticas activas de emprego, de quali- mas de ser assumida por todos. boom de nascimentos, a ideia de que de melhorar a eficácia social da ficação profissional, de apoio à Solidariedade – Pesa muito o facto havia sempre dinheiro para tudo... prestação. Foi isso que procurei. inserção de jovens na vida activa. de no país haver cerca de 4000 insti- Essa questão acabou ... Hoje vivemos Vamos ver se tenho êxito nesse objec- Mas, como sabe, foi declarado incons- tuições de solidariedade social que num ambiente de carência objectiva empregam 72 mil pessoas. A insta- de recursos que nos leva a ser mais lação dessa política faria ruir este sec- rigorosos na sua atribuição para as tor. pessoas certas. Ou seja, a segurança Bagão Félix – Não concordo. Acho social, o Rendimento Social de In- que o país tem evoluído muito ao serção, a doença, o desemprego, o longo dos últimos 25 anos. A cobertu- abono de família, o apoio às institui- ra de equipamentos sociais e serviços ções, deve ter o seguinte objectivo: sociais prestados pelas organizações Todos aqueles que precisam devem da sociedade civil tem, hoje em dia, ser apoiados. Aquilo a que eu chamo a uma expressão muito forte, como se obrigação horizontal da segurança vê nos números que referiu. Mas há social. Mas só devem ser apoiados, um dado que ainda é inelutável: É que com diferenciação positiva, aqueles a procura excede a oferta. Portanto, que mais precisam. Aquilo a que essa questão não se põe a não ser na chamo o princípio vertical da Se- depuração daquelas que não devem gurança Social. No Rendimento Social existir, por razões de péssima quali- de Inserção nós somos mais exi- dade, de ilegalidade de procedimen- gentes ao nível da fiscalização e con- tos... Mas isso, seja com o financia- trolo justamente em nome desses mento de uma maneira ou de outra, o princípios, mas também temos dife- Estado tem o dever de fiscalizar as renciação positiva ao nível das mulhe- instituições em nome da procura do res grávidas e com filhos até um ano, bem comum. ao nível das famílias com doentes crónicos, com deficientes, famílias “HÁ MAIS PROCURA DO mais numerosas, fazendo essa gra- RENDIMENTO SOCIAL duação das expectativas e direitos so- DE INSERÇÃO” ciais. É interessante que no Ren- dimento Social de Inserção há um arti- Solidariedade – A alteração efectua- go que prevê os chamados vauchers da no Rendimento Mínimo Garantido, sociais, cheques sociais, para medica- uma das suas mais polémicas medi- mentos, ou para habitação, ou para das, vai também no sentido de clari- entrada numa instituição social. Esse ficar o apoio que é prestado às pes- princípio também já lá está. Acho que 12