Biomassa vegetal para uso em chapas de cimento-madeira
1. Silva, A. N. et al., 2002 199
KEY WORDS:Particleboard, Cement-wood particleboard, Vegetal biomass.
ABSTRACT: SILVA, A. N. da; VIDAURRE, G. B.; ROCHA, J. das D. de S.; LATORRACA,
J. V. de F. Vegetal biomass for use in cement-wood particleboard. Rev. Univ.
Rural, Sér. Ciên. da Vida, V. 22 n2, 2002 (Suplemento), p. 199-203. The objective of
this research was to evaluate the technological fitness of Pinus taeda, Clitoria fairchildian,
Euterpe edulis (with and without bark), Lophantera lactescens and Saccharum sp, after
hot water extraction, toward the cement-wood panels manufacturing by mechanical assay
under axial compression. Lophantera lactescens and Pinus taeda were the most indicated
for mineral plates production, while Clitoria Fairchildiana, Euterpe edulis (with bark), and
Saccharum sp showed low potentiality. The plates made from Euterpe edulis (without
bark) presented high potential, according to its notable compatibility index.
BIOMASSA VEGETAL PARA USO EM CHAPAS DE CIMENTO-MADEIRA
AVELINO NOGUEIRA DA SILVA1
GRAZIELA BAPTISTA VIDAURRE1
JOSÉ DAS DORES DE SÁ ROCHA1
JOÃO VICENTE DE FIGUEIREDO LATORRACA2
1
Discentes do Curso de Engenharia Florestal, UFRuralRJ;
2
Professor Dr. do Departamento de Produtos Florestais,
IF, UFRuralRJ.
INTRODUÇÃO
De acordo com MOSLEMI (1998), a
concepção de misturar adesivo inorgânico
com madeira ou biomassa proveniente da
agricultura é muito antiga, data da pré-
história, quando se misturavam palha de
arroz ou trigo com barro para produzir um
compósito chamado de bloco ou tijolo de
barro, onde em muitos países
subdesenvolvidos, ainda são utilizados. A
indústria da construção civil tem passado
por modificações em razão da introdução
dos painéis de madeira reconstituída, uma
vez que os mesmos possuem elevada
versatilidade de uso. Destes, pode-se
destacar os painéis de cimento-madeira
que possuem uma longa história de
aplicação e aceitação neste setor. O
compósito cimento-madeira apresenta
excelentes características tecnológicas
que o torna muito utilizado na Europa e
também no Japão. As razões para a sua
boa aceitação se devem principalmente à
alta resistência ao fogo, ao ataque de fungos
e cupins, alta estabilidade, bom isolante
térmico e acústico e ainda fácil
trabalhabilidade (LATORRACA et al., 1999).
Segundo LEE (1984), esta estabilidade é
atribuída a dois principais fatores: o
compósito contém muitos espaços vazios
que permitem um inchamento interno e o
revestimento do cimento ao redor da
partícula restringe o inchamento da
madeira. A aplicação dos painéis de
cimento-madeira vai além dos usos
indicados pelo aglomerado convencional,
especialmente em ambientes úmidos e com
riscos de incêndio, onde o emprego de
aglomerados convencionais se torna
inadequados (CHAPOLA, 1989). O maior
desafio encontrado na manufatura desses
painéis é a incompatibilidade do cimento
com certas espécies de madeira ou outras
biomassas lignocelulósicas. As espécies
de madeira mais utilizadas na fabricação
deste tipo de chapa são as coníferas por
apresentarem propriedades químicas
compatíveis para serem combinadas com
o cimento, não causando inibição e
endurecimento do mesmo (LATORRACA,
2000). A incompatibilidade de várias
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prova. Com os valores resistência
calculados para cada biomassa e também
para testemunha (cimento+água) calculou-
se o índice de compatibilidade (IC) entre o
cimento e a biomassa. Esse índice foi
gerado através da equação 1.
(%)100×
=
Rct
Rcb
IC
onde:
IC = Índice de compatibilidade;
Rcb = Resistência à compressão com a
biomassa
Rct = Resistência à compressão da
testemunha
A análise de variância foi empregada
para se analisar estatisticamente os dados
obtidos de resistência à compressão axial.
O teste de Tukey foi realizado para
comparação de médias quando a hipótese
da nulidade era rejeitada.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Através da tabela 1, pode-se observar
os valores médios obtidos de resistência a
compressão axial para cada biomassa
estudada, bem com a média de referência
(testemunha – cimento+água).
Biomassa vegetal Resistência*
(kgf/cm
2
)
CV (%)
Sombreiro 4.37 a 8,10
Cana de açúcar 13.44 a 64,10
Palmito c/ casca 20.78 a 2,97
Palmito s/ casca 111.07 b 4,87
Pinus 136.05 c 3,94
Lophantera 139.40 c 3,86
Testemunha** 205,37 7,17
Tabela 1. Valores médios de resistência à
compressão axial.
* Letras diferentes denotam diferenças estatísticas
ao nível de 95% de probabilidade; ** = Valor de
referência; CV = Coeficiente de variação.
Nota-se que as espécies Lophantera e
Pinus foram as que proporcionaram médias
de resistência mais próximas do valor de
referência. Em contrapartida, o Sombreiro
proporcionou a menor média de resistência.
Esse resultado não diferiu,
estatisticamente, dos resultados obtidos
para a cana de açúcar e palmito com casca,
onde se observaram médias extremamente
baixas de resistência demonstrando uma
interferência acentuada sobre a cura da
matriz de cimento. Esses resultados de
resistência refletem os baixos índices de
compatibilidade dessas biomassas com o
cimento, como pode ser observado através
da figura 1. Os índices de compatibilidade
não ultrapassaram a 10%, ou seja, a
utilização de partículas desses vegetais
reduziram em aproximadamente 90 % a
resistência obtida pela testemunha
(cimento+água). Esses índices conferem
a essas biomassas vegetais um baixo grau
de aptidão à utilização na manufatura em
chapas de cimento-madeira. As razões
para a baixa compatibilidade dessas
biomassas são difíceis de precisar, porém,
no caso da cana de açúcar e do palmito
com casca, os carboidratos livres são,
possivelmente, os responsáveis para que
tais resultados tenham ocorrido. Fato
interessante observou-se com o palmito.
Esta biomassa sem a casca, como já
colocado, causou uma influência positiva
sobre a cura do cimento. Mas, quando se
utilizou a mesma biomassa com a casca,
as médias de resistência foram muito
inferiores, inclusive estatisticamente,
ocasionando um índice de compatibilidade
próximo de 10 % contra os aproximados
55% da mesma biomassa sem casca.
Nota-se, portanto, que a extração em água
quente, não foi suficiente para que o palmito
com casca alcançasse resultados
satisfatório e equivalentes aos obtidos
quando a casca estava ausente. De acordo
com FISHER et al. e SANDERMAN (1966),
citados por HACHMI & CAMPBELL (1989),
várias classes de substâncias da madeira,
tais como, carboidratos (açúcar simples,
5. Silva, A. N. et al., 2002 203
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