A República Velha no Brasil (1889-1930) foi regida pela "Política do café com leite", uma aliança entre os Estados de São Paulo e Minas Gerais que previa o rodízio na indicação do candidato à presidência entre esses dois Estados. A "Política dos Governadores" também estabelecia alianças entre o poder executivo federal e as oligarquias regionais, garantindo ampla autonomia aos governos estaduais em troca de apoio no Congresso. A quebra deste acordo levou à formação da Aliança Liberal e ao fim
Política do café com leite regeu a República Velha (até
1. 'Política do café com leite' rege a República Velha
Roberson de Oliveira*
Especial para a Folha de S. Paulo
As alianças políticas são fundamentais para a sustentação de
qualquer governo. O fim de alianças políticas importantes anunciou
o encerramento de toda uma fase da história política do país. É o
caso da República Velha (1889/1930).
A República no Brasil nasceu como resultado da ação de alguns
grupos e classes sociais, entre os quais se destacava um com
interesses muito precisos: a oligarquia cafeeira. Para viabilizar a
sua supremacia e garantir o controle do poder republicano, ela não
hesitou em realizar alianças com as elites dos outros Estados.
Daí os termos que ficaram ligados à República Velha, tais como
"Política do café com leite" e "Política dos Governadores". A
"Política do café com leite" consistia numa aliança entre os dois
Estados mais poderosos da federação: São Paulo (centro da
economia cafeeira) e Minas Gerais (detinha o maior contingente
eleitoral do país). Essa aliança previa um rodízio na indicação do
candidato a ser apoiado pelos dois Estados nas eleições periódicas
para a Presidência da República.
A "Política dos Governadores" estabelecia uma aliança entre o
Poder Executivo e as oligarquias regionais mais poderosas de cada
Estado. O presidente da República concedia ao presidente do
Estado (era assim que os governadores eram chamados) ampla
liberdade de ação. Em troca, ele deveria mobilizar a bancada de
deputados federais para aprovar os projetos de interesse do
Executivo no Congresso. Assim, o poder ficava dividido da seguinte
forma: a Presidência da República era tutelada pelos dois Estados
mais poderosos da federação, e os demais ficavam à mercê das
oligarquias locais mais influentes, articuladas com São Paulo e
Minas Gerais.
Em 1930, o presidente da República, Washington Luís, quebrou o
acordo com Minas Gerais e acabou indicando um outro paulista
para sucedê-lo. O presidente do Estado de Minas Gerais, Antonio
Carlos, sentindo-se traído, aliou-se ao Rio Grande do Sul e à
Paraíba e, juntos, criaram a Aliança Liberal, para concorrer com o
candidato paulista nas eleições de 1930. As consequências e os
motivos da quebra da aliança serão nossos próximos assuntos.