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O silêncio dos poliglotas
                 (do livro Estrangeiros Para Nós Mesmos, de Julia Kristeva)
         Não falar a sua língua materna. Habitar sonoridades e lógicas cortadas da
memória noturna do corpo, do sono agridoce da infância. Trazer em si, como um jazigo
secreto ou como uma criança deficiente – benquista e inútil –, essa linguagem de
outrora, que murcha sem jamais abandoná-lo. Você se aperfeiçoa num outro
instrumento, como nós nos expressamos com a álgebra ou o violino. Pode se tornar um
virtuose com esse novo artifício que, aliás, proporciona-lhe um novo corpo, igualmente
artificial, sublimado – alguns dizem sublime. Você tem o sentimento de que a nova
língua é a sua ressurreição: nova pele, novo sexo. Mas a ilusão se despedaça quando
você se ouve, no momento de uma gravação, por exemplo, em que a melodia de sua voz
lhe volta esquisita, de parte alguma, mais próxima da gagueira de outrora do que do
código atual. Sua falta de jeito tem encanto, dizem. Pode até mesmo ser sensual,
supervalorizam os sedutores. Ninguém corrige os seus erros, para não feri-lo, além do
mais eles não acabariam nunca e, afinal, pouco importa. Mesmo assim, exprimem a sua
irritação, apesar de tudo. Às vezes, uma sobrancelha levantada ou um enfático “como?”
fazem-no compreender que “você jamais conseguirá”, que “não vale a pena”, que “pelo
menos nisso não somos ingênuos”. Ingênuo você também não o é. No máximo crédulo,
pronto para todos os aprendizados, em todas as idades, para atingir – segundo essa
expressão alheia e muito usada que todos julgam perfeitamente assimilada: um dia –
sabe Deus que ideal, para além da confissão implícita de uma decepção devida à própria
origem que não cumpriu a sua palavra.
         Assim, entre duas línguas, o seu elemento é o silêncio. De tanto falarmos de
diversas maneiras, igualmente banais, igualmente aproximativas, não falamos mais. Um
cientista de renome internacional ironizava sobre o seu famoso poliglotismo, dizendo
que falava russo em quinze línguas. No entanto, eu tinha a sensação de que ele era mudo
e que esse silêncio estagnado, às vezes, o impelia à longa monotonia dos entoadores de
salmos para finalmente dizer alguma coisa.
         Quando Hölderlin aprendia grego (antes de buscar as fontes do alemão), ele
exprimia dramaticamente essa anestesia da pessoa tragada por uma língua estrangeira:
“Um signo, assim somos e de sentido / nulo. Mortos para todos os sofrimentos e quase /
perdemos a nossa linguagem num país estrangeiro” (Mnémosyne).
         Encurralado nesse mutismo poliforme, o estrangeiro talvez tente, em vez de
dizer, fazer: fazer a faxina, jogar tênis, futebol, velejar, costurar, cavalgar, correr, fazer
filhos... sei lá mais o quê. Mas isso continua sendo um desperdício, um desgaste, além
de propagar ainda mais o silêncio. Quem o escuta? No máximo, toleram você. Aliás,
você quer realmente falar?
         Por que então cortar a fonte materna das palavras? O que você imaginava desses
novos interlocutores aos quais você se dirige com uma língua artificial, uma prótese?
Para você, eles eram idealizados ou desprezados? Ora, vamos! O silêncio não lhe é
somente imposto, ele está em você: recusa de dizer, sono preso a uma angústia que quer
permanecer muda, propriedade privada de sua discrição orgulhosa e mortificada – luz
cortante, esse silêncio. Nada a dizer, vácuo, ninguém no horizonte. Uma completude
impenetrável: diamante frio, tesouro secreto, cuidadosamente protegido, fora de
alcance. Nada a dizer, nada é para ser dito, nada é dizível. No início, foi uma guerra fria
com o novo idioma, desejado e rejeitador: depois a nova língua lhe cobriu como uma
calmaria de águas estagnadas. Silêncio, não o da cólera que empurra as palavras para a
fronteira entre a idéia e a voz, mas o silêncio que esvazia o espírito e enche o cérebro de
abatimento, como o olhar de mulheres tristes, envolto por alguma espécie de eternidade
inexistente.

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