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26 Revista Meio Ambiente Industrial Julho/Agosto 2009
O universo das
e a atuação do setor industrial
emissões atmosféricas
Emissões Atmosféricas
Julho/Agosto 2009 Revista Meio Ambiente Industrial 27
A indústria vem buscando, nas últimas décadas, além de soluções para a
mitigação das emissões atmosféricas provocadas pelas suas atividades, meios
para prevenir tais emissões, através de iniciativas próprias envolvendo a
aplicação de conceitos e tecnologias
Por Lilian Quintanilha
S
egundo definição na Resolução Conama – Conselho
Nacional de Meio Ambiente nº 03-90, poluente
atmosférico é toda e qualquer forma de matéria ou
energia com intensidade e em quantidade, concentração,
tempo ou características em desacordo com os níveis
estabelecidos em legislação, e que tornem ou possam tornar
o ar impróprio, nocivo ou ofensivo à saúde, inconveniente
ao bem-estar público, danoso aos materiais, à fauna e à flora
ou prejudicial à segurança, ao uso e gozo da propriedade e às
atividades normais da comunidade.
Oníveldepoluiçãoatmosféricaémedidopelaquantidadede
substânciaspoluentespresentesnoar.Avariedadedassubstâncias
que podem ser encontradas na atmosfera é muito grande, o que
torna difícil a tarefa de estabelecer uma classificação.
A medição sistemática da qualidade do ar é restrita a um
númerodepoluentes,definidosemfunçãodesuaimportância
e dos recursos disponíveis para seu acompanhamento.
Os grupos de poluentes que servem como indicadores de
qualidade do ar, adotados universalmente e que foram
escolhidos em razão da frequência de ocorrência e de seus
efeitos adversos, são:
- MP – Material Particulado
Inclui Material Particulado, PTS – Partículas Totais em
Suspensão, MP10
– Partículas Inaláveis e FMC – Fumaça.
Sob a denominação geral de “Material Particulado” se
encontra um conjunto de poluentes constituídos de poeiras,
fumaças e todo tipo de material sólido e líquido que se
mantém suspenso na atmosfera por causa de seu pequeno
tamanho. As principais fontes de emissão de particulado para
a atmosfera são: veículos automotores, processos industriais,
queima de biomassa e ressuspensão de poeira do solo, entre
outros. O material particulado pode também se formar na
atmosfera a partir de gases como SO2
– dióxido de enxofre,
NOx
– óxidos de nitrogênio e COVs – compostos orgânicos
voláteis, que são emitidos principalmente em atividades de
combustão, transformando-se em partículas como resultado
de reações químicas no ar.
O tamanho das partículas está diretamente associado
ao seu potencial para causar problemas à saúde, sendo que,
quanto menores, maiores os efeitos provocados. Outra
observação é que o particulado também pode reduzir a
visibilidade na atmosfera.
- SO2
– Dióxido de Enxofre
Resulta, principalmente, da queima de combustíveis que
contêmenxofre,comoóleodiesel,óleocombustívelindustrial
e gasolina. Essa substância é uma das principais formadoras
da chuva ácida. O dióxido de enxofre pode reagir com outras
substâncias presentes no ar formando partículas de sulfato
que também são responsáveis pela redução da visibilidade
na atmosfera.
- CO – Monóxido de Carbono
É um gás incolor e inodoro que resulta da queima
incompleta de combustíveis de origem orgânica,
combustíveis fósseis, biomassa, etc. Em geral, é encontrado
em maiores concentrações nos grandes centros urbanos,
emitido, principalmente, por veículos automotores. Altas
concentrações de CO são encontradas em áreas de intensa
circulação de veículos.
- O3
– Ozônio e Oxidantes Fotoquímicos
“Oxidantes fotoquímicos” é a denominação que se dá
Fotos:Holcim
28 Revista Meio Ambiente Industrial Julho/Agosto 2009
Julho/Agosto 2009 Revista Meio Ambiente Industrial 29
30 Revista Meio Ambiente Industrial Julho/Agosto 2009
à mistura de poluentes secundários formados pelas reações
entre os óxidos de nitrogênio e compostos orgânicos voláteis,
na presença de luz solar, sendo esses últimos liberados na
queima incompleta e evaporação de combustíveis e solventes.
O principal produto desta reação é o ozônio, por isso mesmo
utilizado como parâmetro indicador da presença de oxidantes
fotoquímicos na atmosfera. Esses poluentes formam a
chamada “névoa fotoquímica”, ou “smog fotoquímico”, cujo
nome foi dado porque causa na atmosfera uma diminuição
da visibilidade.
O ozônio encontrado na faixa de ar próxima do solo,
onde respiramos, é tóxico. Entretanto, na estratosfera, a cerca
de 25 km de altitude, o ozônio tem a importante função
de proteger a Terra, como um filtro, dos raios ultravioletas
emitidos pelo Sol. Além de prejuízos à saúde, o ozônio pode
causar danos à vegetação.
- HC – Hidrocarbonetos
São gases e vapores resultantes da queima incompleta e
evaporação de combustíveis e de outros produtos orgânicos
voláteis. Diversos hidrocarbonetos, como o benzeno, são
cancerígenos e mutagênicos, não havendo uma concentração
ambiente totalmente segura.
Participam ativamente das reações de formação da névoa
fotoquímica.
- NO – Óxido de Nitrogênio e NO2
– Dióxido de
Nitrogênio
São formados durante processos de combustão. Em
grandes cidades, os veículos geralmente são os principais
responsáveis pela emissão dos óxidos de nitrogênio. O NO,
sob a ação de luz solar, se transforma em NO2
e tem papel
importante na formação de oxidantes fotoquímicos, como
o ozônio. Dependendo das concentrações, o NO2
causa
prejuízos à saúde.
A concentração de poluentes está fortemente relacionada
às condições meteorológicas. Alguns dos parâmetros que
favorecem altos índices de poluição são: alta porcentagem de
calmaria, ventos fracos e inversões térmicas a baixa altitude.
Este fenômeno é particularmente comum no inverno
paulista, quando as noites são frias e a temperatura tende a se
elevar rapidamente durante o dia, provocando alteração no
resfriamento natural do ar.
Vale lembrar que a chamada inversão térmica se
caracteriza por uma camada de ar quente que se forma sobre
a cidade, aprisionando o ar e impedindo a dispersão dos
poluentes.
Os padrões de qualidade do ar definem legalmente
o limite máximo para a concentração de um poluente
na atmosfera, que garanta a proteção da saúde e do meio
ambiente. Os padrões de qualidade do ar são baseados em
estudos científicos dos efeitos produzidos por poluentes
específicos e são fixados em níveis que possam propiciar uma
margem de segurança adequada.
No Brasil, os padrões nacionais foram estabelecidos
pelo Ibama – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
Recursos Naturais Renováveis, e aprovados pelo Conama,
por meio da Resolução Conama 03/90.
Os poluentes são divididos em duas categorias:
Conama 03/1990: Padrões Nacionais de
Qualidade do Ar
Conama 08/1990: Limites máximos de emissão
de poluentes do ar para processos de combustão
externa em fontes fixas
A medição da qualidade do ar é restrita a um número de poluentes, levando em conta sua
importância e os recursos disponíveis para seu acompanhamento
Komatsu, da Cetesb: “Para a indústria paulista, o marco nesse tema foi o decreto
estadual nº 52.469, de dezembro de 2007”
Fotos:Cetesb Emissões Atmosféricas
Julho/Agosto 2009 Revista Meio Ambiente Industrial 31
O IPT trabalha no diagnóstico e recomendações de soluções para a indústria na redução
de emissões de poluentes em fontes estacionárias
Foto:IPT
- Primários: são aqueles emitidos diretamente pelas
fontes de emissão. São as concentrações de poluentes
que, ultrapassadas, poderão afetar a saúde da população.
Podem ser entendidos como níveis máximos toleráveis de
concentração de poluentes atmosféricos, constituindo-se em
metas de curto e médio prazo.
- Secundários: são aqueles formados na atmosfera
através da reação química entre poluentes primários e
componentes naturais da atmosfera. Foram estabelecidos
dois tipos de padrões de qualidade do ar: os primários
e os secundários. São as concentrações de poluentes
atmosféricos abaixo das quais se prevê o mínimo efeito
adverso sobre o bem-estar da população, assim como o
mínimo dano à fauna e à flora, aos materiais e ao meio
ambiente em geral. Podem ser entendidos como níveis
desejados de concentração de poluentes, constituindo-se
em meta de longo prazo.
O objetivo do estabelecimento de padrões secundários
é criar uma base para uma política de prevenção da
degradação da qualidade do ar. Devem ser aplicados às
áreas de preservação. Não se aplicam, pelo menos a curto
prazo, a áreas de desenvolvimento, onde devem ser aplicados
os padrões primários. Como prevê a própria resolução, a
aplicação diferenciada de padrões primários e secundários
requer que o território nacional seja dividido em classes I, II
e III conforme o uso pretendido. A mesma resolução prevê,
ainda, que enquanto não for estabelecida a classificação das
áreas, os padrões aplicáveis serão os primários.
Os parâmetros regulamentados são os seguintes:
partículas totais em suspensão, fumaça, partículas inaláveis,
dióxido de enxofre, monóxido de carbono, ozônio e dióxido
de nitrogênio. A mesma resolução estabelece, ainda, os
critérios para episódios agudos de poluição do ar.
32 Revista Meio Ambiente Industrial Julho/Agosto 2009
Os padrões nacionais de qualidade do ar são apresentados
na Tabela 1.
A declaração dos estados de “Atenção”, “Alerta” e
“Emergência” requer, além dos níveis de concentração
atingidos, a previsão de condições meteorológicas
desfavoráveis à dispersão dos poluentes.
Para Carlos Eduardo Komatsu, gerente do Departamento
de Qualidade Ambiental da Cetesb – Companhia de
Tecnologia de Saneamento Ambiental, nesse tema o maior
entrave é o transporte individual. “Em uma cidade como São
Paulo é inviável esse tipo de transporte, porém antes de tudo
é imprescindível que haja muito investimento no transporte
coletivo”, considera.
As emissões surgem de fontes fixas, também conhecidas
como estacionárias ou pontuais, e difusas, ou móveis. Luiz
Henrique de Souza Lúcio, diretor da Interação Ambiental,
as define como:
- Fontes Pontuais – Pontos de emissão contínua de um
dado processo, cuja característica deste determina o perfil da
emissão. “Por exemplo: chaminés, tubulações, desgaseificação
de equipamentos e outras”, explica Lúcio.
- Fontes difusas – Pontos eventuais de emissão cuja
característica é normalmente variável e influenciada pelas
condições ambientais locais. Nesse caso, Lúcio cita como
exemplos os tanques de estocagem, as emissões evaporativas
de processos e as emissões fugitivas, as quais ele ressalta que
nem sempre são consideradas nos inventários de emissões.
A qualidade do ar é afetada pelas emissões de fontes
móveis e estacionárias, bem como pelas características
atmosféricas da região considerada, principalmente a
capacidade de dispersão do local. “O conceito de qualidade
do ar é relativo a uma dada região, que pode ser uma bacia
aérea, uma cidade, um bairro ou qualquer outra região
delimitada, como uma área industrial”, acrescenta o diretor
da Interação Ambiental.
De um modo geral, a emissão de poluentes num nível
local gera efeitos na saúde pública; danos aos materiais, à
fauna e à flora; redução da visibilidade; e chuva ácida. “Já
Emissões Atmosféricas
Conama 05/1989: Institui o Pronar - Programa
Nacional de Qualidade do Ar
Lei nº 8723/1993: Dispõe sobre a redução de
emissão de poluentes
Tabela 1: Padrões nacionais de qualidade do ar
(Resolução CONAMA Nº 03 de 28/06/90)
Fonte: Cetesb
Julho/Agosto 2009 Revista Meio Ambiente Industrial 33
num nível global, os poluentes estão diretamente associados
às mudanças do clima e à redução da camada de ozônio”,
alerta Wai Nam Chan, presidente da AW&MA – Air Waste
Management Association Seção Brasil.
Sérgio Machado, professor adjunto da UERJ –
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, revela que as
condições atmosféricas do Brasil, quando comparadas às de
países em desenvolvimento, apresentam uma situação bem
melhor, com muito mais qualidade. Contudo, o nível está
ainda abaixo em comparação às dos países desenvolvidos.
Machado conta que a maior tendência no campo das
pesquisas nesse tema é em eficiência energética, e já houve
muito avanço. “Por exemplo, hoje em dia um veículo de
passeio emite 95% menos poluentes do que há 20 anos, mas
Figura 1: Emissões relativas de poluentes por tipo de
fonte na RMSP – 2008
Fonte: Cetesb
34 Revista Meio Ambiente Industrial Julho/Agosto 2009
Emissões Atmosféricas
houve o enorme aumento da frota, mesmo assim o resultado
da qualidade do ar atualmente está melhor”, enfatiza.
Machado explica que há dois grupos de poluentes. Os
legislados e os não-legislados. São eles:
Poluentes legislados:
- Ozônio
- NOx
- SO2
- CO
- PTS
- MP10
- MP 2,5
- HCNM
Não-legislados:
- Aldeídos
- Cetonas
- Ácidos Carboxílicos
- Alcoóis
- HC Alifáticos
- HC Aromáticos
- HC Policíclicos
- Metais
- Microbiológicos
Para exemplificar o cenário atual das condições
atmosféricas dos grandes centros urbanos, Komatsu, da
Cetesb, conta o caso do Estado de São Paulo. Ele explica
que o monitoramento da qualidade do ar, com a avaliação
das concentrações de poluentes no Estado de São Paulo,
foi iniciado na Região Metropolitana no início da década
de 70, com a instalação de 14 estações para medição diária
dos níveis de SO2
e fumaça preta. Parte das estações,
denominadas manuais, continuam sendo utilizadas pela
Cetesb no monitoramento da qualidade do ar.
Já no início da década posterior, Komatsu lembra que foi
dado um salto qualitativo, com o início do monitoramento
automático e a instalação de novas estações para a avaliação
de dióxido de enxofre, material particulado inalável, ozônio,
óxidosdenitrogênio,monóxidodecarbonoehidrocarbonetos
não-metânicos, além dos parâmetros meteorológicos como
direção e velocidade do vento, temperatura e umidade
relativa do ar. Em 2000, o monitoramento automático foi
ampliado para algumas cidades do interior do Estado. “Além
da medição diária desses poluentes, atualmente, a Cetesb
realiza estudos sobre outros poluentes, dentre os quais se
destacam o chumbo, aldeídos e compostos reduzidos de
enxofre, além de estudos específicos, alguns dos quais em
parceria com universidades”, conta o gerente da Cetesb.
DeacordocomKomatsu,segundoumlevantamentofeito
pela Cetesb, existem no Estado de São Paulo 211 municípios
saturados ou em vias de saturação, sendo os principais deles
localizados em áreas de intensa industrialização, como as
regiões de Cubatão, de Paulínia, de São José dos Campos,
de Ribeirão Preto e da Região Metropolitana de São Paulo,
entre outras.
Para que uma determinada área seja considerada
saturada, será determinada para os poluentes legislados a
média aritmética das médias anuais dos últimos três anos,
maior que o padrão nacional de qualidade do ar estabelecido
Figura 2: MP10
– Evolução da distribuição percentual da
qualidade do ar – RMSP
Decreto 2652, de 1 de julho de 1998: Promulga
a Convenção - Quadro das Nações Unidas sobre
mudanças do clima
Fonte: Cetesb
Julho/Agosto 2009 Revista Meio Ambiente Industrial 35
pela resolução do Conama já citada. Para as áreas em vias de
saturação, essa média aritmética dos últimos três anos terá
que ser maior que 90% do padrão. Segundo Komatsu, nas
áreas saturadas ou em vias de saturação, a Cetesb estabelecerá
um PREA – Programa de Redução de Emissões Atmosféricas
para as indústrias em operação, condicionando a renovação
da Licença de Operação a uma série de exigências, como
a utilização de sistemas de controle baseados na melhor
tecnologia disponível no mercado, a implementação de Plano
de Monitoramento das Emissões Atmosféricas, segundo o
Termo de Referência estabelecido pela agência ambiental, e,
a partir de janeiro de 2013, o cumprimento de metas de
redução de emissões. “As reduções das emissões dos poluentes
que levaram à saturação gerarão créditos que poderão ser
utilizados pelo próprio emissor para renovar a licença ou
oferecidos no Mercado de Créditos de Poluição, uma nova
modalidade está sendo estudada na BM&F – Bolsa de
Mercadorias & Futuros para serem adquiridos por empresas
interessadas em se instalar nos locais saturados ou em vias de
saturação, promovendo uma compensação pelo impacto a
ser causado”, conta Komatsu. Esses créditos, com validade de
dez anos, serão aprovados pela Cetesb. Os créditos gerados
por fontes móveis poderão ser efetivados mediante reduções
das emissões das frotas cativas, como as frotas de veículos de
uma determinada empresa, que comprovadamente circulem
na região onde o crédito será utilizado.
Komatsu explica que para os novos empreendimentos
há duas opções: se instalar em uma área que ainda não esteja
saturada ou assumir as compensações e se adequar. Segundo
ele, são inúmeras as formas de adaptação, e isso varia de
empreendimento. A empresa precisa, primeiramente,
apresentar um plano de compensação de suas emissões junto
ao órgão ambiental. Caso não sejam cumpridas as exigências,
a empresa pode não obter a renovação da sua licença de
operação. “Em se tratando de controle de emissão atmosférica
sóháduaspossibilidades:nãopoluiroucontrolar.Atendência
na indústria é prevenir a emissão, outra tendência é a busca
pela eficiência energética”, comenta Komatsu.
Desafios – Segundo os entrevistados, ainda são muitos
os desafios envolvendo o tema. Elisete Dutra, gerente de
Gestão da Qualidade do Ar da Feam – Fundação Estadual
de Meio Ambiente, órgão ambiental de Minas Gerais, avalia
que hoje há a necessidade de focar nas emissões de fontes
difusas, em todos os grandes centros urbanos. “Em relação
à qualidade do ar, hoje se reduziu muito a concentração
de enxofre, e isso se deve à redução dessa substância nos
combustíveis. Sem dúvida, o maior problema que temos
que enfrentar é o material particulado. Outra constatação
é de que o problema das emissões atmosféricas não é, sem
sombra de dúvida, por falta de informação, mas, sim, por
falta de ação”, comenta Elisete.
Outro problema sério hoje nos centros urbanos é a
grande concentração de ozônio, gerado da frota de veículos
e das refinarias de petróleo. Elisete acredita que o grande
gargalo nesse assunto é a frota de veículos, sobretudo a
movida a diesel.
Já para Giovana Rubim Gomes, da Corplab
Environmental Analytical Services, o maior desafio é a
necessidade de compreender mais e melhor sobre emissões
atmosféricas, isso em todos os polos de atuação do setor
produtivo. “Ainda é necessário muito investimento para
contribuir com a melhoria da qualidade do ar”, comenta. Ela
ainda avalia que a legislação existente que trata desse assunto
é aplicável, porém mal aplicada.
Segundo Chan, da A&WMA Seção Brasil, o tema
“emissões” implica em políticas públicas e mudanças de
comportamento e de modos de produção.
Para Lúcio, da Interação Ambiental, é fato que a origem
da emissão atmosférica vinda das fontes fixas e móveis é o
principal fator de poluição, porém é necessário ressaltar que
a capacidade de dispersão atmosférica também influencia na
qualidade do ar.
Ainda de acordo com Lúcio, uma das substâncias mais
emitidas pela indústria é o material particulado, mas o setor
Resolução Conama nº 264/1999: Dispõe sobre o
licenciamento de fornos rotativos de produção de
clinquer para atividades de coprocessamento
Vergnhanini Filho, do IPT: “Há três fatores que interferem na emissão: o tipo de combustível, o
equipamento responsável pela sua queima e a forma que se opera o equipamento”
Foto:IPT
36 Revista Meio Ambiente Industrial Julho/Agosto 2009
Emissões Atmosféricas
produtivo tem condições de controlar essa emissão, já que
existem, hoje, técnicas bem sedimentadas com esse intuito e
ainda há muitas tecnologias sendo desenvolvidas.
Lúcio informa, também, que são muitas as ferramentas
e soluções aplicadas pelo setor produtivo para o controle e a
redução de emissões a partir de seu processo de produção.
“Porém, a indústria de ponta já vem trabalhando de forma
limpa, prevenindo a geração de poluentes dos mais diversos
tipos”, observa o especialista.
A indústria
Mesmo com o assunto explorado há muitas décadas, as ações
realmente efetivas envolvendo a indústria e a problemática
das emissões atmosféricas é recente – ainda assim é possível
avaliar os benefícios das medidas tomadas em prol da
qualidade do ar
Avaliando o comportamento do setor produtivo nesse
tema, a constatação a que se chega é de que a preocupação
com o controle e com a prevenção da poluição é assunto diário
nos empreendimentos. Segundo Chan, da A&WMA Seção
Brasil, o percentual de participação da indústria nas emissões
atmosféricas numa região metropolitana é de apenas 10%.
Todo o restante, ou seja 90%, vem de fontes móveis. “Em
se tratando de emissões da indústria, sem dúvida um marco
foi o decreto estadual de bacias aéreas nº 52.469/07, que
trata da compensação em áreas saturadas. Vale ressaltar que a
compensação varia de empresa para empresa”, afirma Chan.
Para Elisete, da Feam, em uma breve análise da
indústria nas últimas décadas, é possível afirmar que seu
comportamento melhorou muito. Hoje há pessoas nas
grandes empresas muito conscientes da importância e dos
benefícios de aplicar boas práticas ambientais. Contudo,
ela acredita que os órgãos ambientais devem ser ainda mais
exigentes com o setor produtivo, agindo como uma forte
fiscalização. “Minas Gerais está um pouco atrasado em
fiscalização, uma vez que os órgãos ambientais têm que exigir
e acompanhar se o setor está em conformidade, e nisso o
Estado ainda tem que avançar”, observa Elisete.
No caso de São Paulo, Komatsu, da Cetesb, conta que
atualmente a situação está bem melhor do que no passado,
a concentração de poluentes está bem menor, e um dos
fatores é o número menor de indústrias instaladas na Região
Metropolitana de São Paulo, já que muitas se transferiram
para outros municípios e até para outros estados. “Porém,
as que permaneceram se atualizaram em relação às suas
emissões atmosféricas por exigência do órgão ambiental,
mas, especialmente, por comprometimento ambiental e
busca pela eficiência energética”, explica.
Para a indústria, ainda segundo Komatsu, o marco nesse
tema foi o decreto estadual nº 52.469, de dezembro de 2007,
que se refere ao novo modelo de licenciamento ambiental de
fontes industriais em áreas já saturadas por poluição atmosférica.
Antes do decreto, havia restrição à instalação de novos
empreendimentos de qualquer porte em regiões saturadas,
provocando um desestimulo para investimentos em novas
tecnologias ambientais e, principalmente, limitação à atividade
econômica. Já as emissões por origem veicular são bem mais
representativas, mas em razão do Proconve – Programa de
Controle de Poluição do Ar por Veículos Automotores e da
renovação da frota, reduziu-se bastante a quantidade de emissão
de poluentes. “Isso se deu pelas novas tecnologias nos veículos,
alémdamelhorianaqualidadedoscombustíveis,ainda quecom
a visível piora no trânsito na região metropolitana, a qualidade
do ar está melhor”, analisa Komatsu.
Figura 3: CO – Evolução da distribuição percentual da
qualidade do ar – RMSP
Fonte: Cetesb
Julho/Agosto 2009 Revista Meio Ambiente Industrial 37
Para Chan, A&WMA Seção Brasil, em se tratando de controle da poluição
do ar é necessário criar culturas globais para redução de emissões, desde
mudanças políticas até mudanças de comportamento. De acordo com ele,
inventariar as emissões é um primeiro passo para identificar as prioridades de
ação, e o monitoramento da qualidade do ar deve ser intensificado em regiões
metropolitanas e industriais. “Sempre que possível, antes de se instalar uma
indústria,deve-seavaliaradispersãoatmosféricadaregião.Alémdisso,aprevenção
da contaminação é melhor do que seu controle, e no caso de emissões atmosféricas,
a abordagem preventiva está intimamente relacionada com a eficiência energética,
a qual deve ser bem explorada na fase de projeto dos empreendimentos. Para
unidades existentes, a abordagem corretiva é aplicada através da instalação de
equipamentos de controle de poluição, soluções de fim de tubo”, ressalta Chan.
Ele ainda comenta algumas tendências mundiais nesse assunto. Segundo
ele, há hoje exigências locais mais rígidas do que as federais, como no Estado
da Califórnia, nos Estados Unidos. Outras tendências são: inventários regulares
e metas de redução global, monitoramento contínuo de fontes de grande
porte, rede de monitoramento mantida pelo Estado, novos investimentos com
restrições mais rígidas, dependendo da área, e mercado de “cotas de emissão”.
Soluções – São inúmeras as soluções disponíveis para o controle, a redução
e até mesmo a prevenção da emissão de poluentes atmosféricos. Os principais
equipamentos são: câmara de sedimentação, ciclone, filtros de manga,
precipitadores eletrostáticos, lavador de gases, torre de lavagem de gases, filtro
de carvão ativo e pós-queimador.
No entanto, apesar da diversidade, os especialistas concordam que a forma
mais racional de reduzir emissões atmosféricas é através da melhoria energética,
em fontes fixas e móveis. A equação é simples: se eu consumo menos, o que vou
emitir também será menor. Para isso, segundo eles, é fundamental a contribuição
dos centros de pesquisa e desenvolvimento tecnológico, formando parcerias
com governo e indústria. “Todavia, para a viabilização desses convênios são
necessários mecanismos de incentivos fiscais e diferenciação no tratamento
de impostos”, comenta Chan. Para ele, as maiores tendências nesse tema são:
melhoria em eficiência energética, fontes alternativas de energia e aumento do
uso de gás natural, ou, ainda, a sinergia entre esses três fatores, trabalhando em
busca da sinergia dos recursos naturais.
Chan elenca as premissas básicas para uma boa gestão de emissões em um
empreendimento. São elas:
- Elaboração de Inventário de Emissões;
- Base consistente de dados, projeto e processo;
- Inclusão de fontes existentes e novas;
- Conhecimento das emissões atuais, de preferência através de amostragens
de chaminés;
Decreto nº 99280, de 6 de junho de 1990: Promulga a
Convenção de Viena para a proteção da camada de ozônio e o
Protocolo de Montreal
38 Revista Meio Ambiente Industrial Julho/Agosto 2009
- Aplicação de protocolos de cálculo e fatores de
emissão;
- Conhecimento detalhado do termo de referência
emitido pelo órgão ambiental que orienta o que deve estar
contido no estudo, que pode ser um EIA-RIMA ou não;
- Conhecimento da legislação aplicável;
- Conhecimento das melhores práticas e tecnologias de
controle, seus custos e seus impactos, de forma a buscar bons
equipamentos no mercado.
Inventário de emissões: Trata-se de um relatório
contemplando os aspectos técnicos das emissões de um
empreendimento, parque industrial ou localidade, cujos dados
subsidiam a tomada de decisões do empreendedor ou do Poder
Público. “Ao realizar o inventário de emissões atmosféricas
é possível compreender melhor o comportamento do seu
empreendimento”, afirma Lúcio, da Interação ambiental.
Deve conter:
- Caracterização da área;
- Levantamento das fontes emissoras;
- Qualificação e quantificação das emissões
- Conclusões, inclusive relacionadas à legislação, quando
aplicável.
No Brasil, muitas das soluções surgem a partir do trabalho
do IPT – Instituto de Pesquisas Tecnológicas, cuja sede está na
cidade de São Paulo, mas o trabalho é realizado em todo o país.
DeacordocomRenatoVergnhaniniFilho,engenheiroquímico
do Laboratório de Energia Térmica, Motores, Combustíveis e
Emissões do Centro de Tecnologias Ambientais e Energéticas
do IPT, naquele departamento, o trabalho do Instituto está
voltado para o diagnóstico e recomendações de soluções para
a indústria para a redução de emissões de poluentes e fontes
estacionárias. “A indústria procura o IPT para solucionar o
problema de emissões ou para otimizar seus processos. Os
estudos são feitos no próprio laboratório do IPT ou na própria
empresa, para isso o Instituto dispõe de uma unidade móvel,
e nos últimos anos está indo cada vez mais in loco”, comenta
Vergnhanini Filho.
Ele conta que, geralmente, só alterando o processo de
combustãodosequipamentosjáseobtémmelhorianaemissão,
e que a primeira coisa a ser feita é alterar as condições de
operação do equipamento – essa é a principal recomendação,
e que leva a menos custos. Segundo Vergnhanini Filho, há
três fatores que interferem na emissão de poluentes: o tipo de
combustível utilizado, o equipamento responsável pela queima
desse combustível e a forma que se opera esse equipamento.
“Hoje, o que está presente na emissão industrial é material
particulado, NOx
, SOx
e CO, os quais podem ser controlados
em equipamentos de combustão, e são todos controlados pela
legislação. Também é importante lembrar que quanto maior
for o rendimento do meu processo de queima de combustível,
menos poluentes irei emitir”, acrescenta Vergnhanini Filho.
Estudo de caso – Holcim
Para controlar e reduzir as emissões atmosféricas, a
Holcim realiza várias ações em suas três unidades fabris:
Pedro Leopoldo e Barroso, em Minas Gerais, e Cantagalo,
no Rio de Janeiro. Valéria Soares A. Pereira, gerente de Meio
Figura 4: O3
– Evolução da distribuição percentual da
qualidade do ar – RMSP
Resolução Conama nº 316/2002: Dispõe sobre
procedimentos e critérios para o funcionamento
de sistemas de tratamento térmico de resíduos
Emissões Atmosféricas
Fonte: Cetesb
Julho/Agosto 2009 Revista Meio Ambiente Industrial 39
Ambiente, conta que há a instalação de filtros de mangas
em diversos pontos potenciais de emissão de pó, como
transferências de correias transportadoras, topos de silos e
pontos de descarregamento de caminhões. Além dos filtros
de mangas e eletrostáticos instalados nas chaminés dos
fornos, moinhos e ensacadeiras.
Ela explica que a empresa também faz o monitoramento
contínuo de material particulado, garantindo o controle da
emissão de pó nas atividades industriais. A Holcim possui
equipamentos de alta tecnologia para monitoramento
contínuo de gases como SO2
e NOx
, compostos orgânicos
e HCl instalados nas chaminés dos fornos de clínquer,
matéria-prima do cimento. “Esses equipamentos permitem
um controle sistemático, com ações imediatas para garantir
o atendimento aos padrões estabelecidos pela legislação
ambiental”, acrescenta a gerente.
Além do efetivo controle operacional, ela lembra que
a empresa investe continuamente na modernização dos
equipamentos de controle ambiental, de forma a contribuir
paraamelhoriacontinuadaqualidadedoar.“Comoexemplo,
podemos citar a substituição de filtros eletrostáticos por
filtros de mangas em pontos de significativa emissão de pó,
como resfriadores, fornos e moinhos”, exemplifica Valéria.
Ela também conta que a empresa realiza o inventário
de emissões de GEE – Gases de Efeito Estufa e assumiu,
junto ao WBCSD – Word Business Council for Sustainable
Development, metas de redução de CO2
. “Algumas ações,
como a otimização do processo de fabricação do clínquer,
para maior eficiência energética, o coprocessamento de
combustíveis alternativos, a utilização de biomassa como
combustível e a utilização de escória, possibilitam a busca
continua para redução da emissão de GEE, além de reduzirem
o consumo dos recursos naturais não-renováveis. No Brasil,
até 2008 a empresa reduziu em 20,5% as emissões específicas
de CO2
, se comparadas ao ano base, 1990”, ressalta Valéria.
Uma das soluções, em se tratando de emissões
atmosféricas, é o coprocessamento, técnica adotada pela
Holcim. “A disposição inadequada de resíduos sólidos gera
emissões, como no caso dos aterros e incineradores, que são
formas de disposição menos sustentáveis, comparadas às
demais. Uma opção é o coprocessamento, já que aproveita a
energia e os resíduos”, destaca Edmundo Ramos, gerente da
Resotec, braço da Holcim responsável pelo coprocessamento.
Ele explica que o que é emitido não é nocivo, e esse processo
é um dos mais adequados para a destruição de resíduos,
pela alta temperatura, podendo chegar até dois mil graus,
e pelo tempo de residência – os sólidos permanecem por
30 minutos, já os resíduos gasosos ficam de quatro a seis
segundo, muito acima do que é exigido pela regulamentação:
acima de dois segundos.
Mesmo assim, Ramos lembra que o coprocessamento não
é capaz de eliminar totalmente as emissões, pois vapor d’água,
CO2
e outros gases, controlados por lei, são emitidos, mas em
um nível permitido. Ainda assim, em se tratando de GEE, ele
conta que as emissões são inferiores em relação ao que é emitido
em aterros e incineradores. “Desde 1999, quando a Holcim
iniciou o trabalho com coprocessamento mo Brasil, até hoje,
200 mil toneladas de resíduos são coprocessadas todos os anos
e o ganho em produção foi de substituição de 10 a 15% na
utilização de combustíveis tradicionais”, lembra Ramos.
Relatório de Qualidade do Ar no Estado de São Paulo
– No mês de julho de 2009, a Cetesb apresentou os dados
de qualidade do ar, em forma de relatório, no Estado de São
Paulo durante o ano de 2008. De acordo com o documento,
comparando-se especificamente o ano de 2007 com 2008,
houve na Região Metropolitana de São Paulo uma ligeira
diminuição das concentrações de monóxido de carbono e
partículas inaláveis, apesar de o inverno do ano passado ter
sido bastante desfavorável para a dispersão dos poluentes,
com pouca chuva e baixa ventilação. Esses poluentes são
emitidos, principalmente, pela frota de aproximadamente
9,2 milhões de veículos.
A companhia afirma em seu estudo que, no ano de 2008,
Resolução Conama nº 382/2006: Estabelece os
limites máximos para emissão de
poluentes em fontes fixas
Elisete, da Feam: “Um problema sério nos centros urbanos é a grande
concentração de ozônio, gerada pela frota de veículos e refinarias de petróleo”
Foto:Feam
40 Revista Meio Ambiente Industrial Julho/Agosto 2009
Especialistas debateram
questões envolvendo emissões atmosféricas da indústria
No dia 29 de julho de 2009, a revista
Meio Ambiente Industrial, em parceria com
a Interação Ambiental, e sob a organização
da Ambientepress, promoveu o encontro
técnico “Emissões Atmosféricas”. O evento foi
realizado na sede do CRQ – Conselho Regional
de Química, em São Paulo, e contou com a
presença de aproximadamente 50 pessoas,
vindas dos mais variados ramos de empresas
do país, interessadas em mais informações
sobre o tema.
O encontro foi dividido em quatro painéis
que contemplaram as principais questões
em se tratando de emissões atmosféricas,
como, por exemplo: conceito, legislação,
gerenciamento de emissões, tecnologias
disponíveis, estudos de caso, no geral.
Luiz Henrique de Souza Lúcio, diretor da
Interação Ambiental, abriu o evento com a
palestra “Sistemas de Gestão como ferramenta
paraogerenciamentodasemissõesatmosféricas
no setor industrial”. Com uma abordagem
conceitual, Lúcio focou sua apresentação
em fontes fixas e inventários de emissões,
poluentes, legislação e amostragem de fontes
fixas. O palestrante explicou que existe poluição
do ar quando a presença de uma substância,
ou a variação importante na proporção de seus
constituintes, é suscetível de provocar efeitos
prejudiciais ou doenças, tendo em conta o estado
dos conhecimentos científicos.
Já a palestra “O controle da poluição do
ar no licenciamento ambiental de indústrias”,
sob o comando de Wai Nan Chan, presidente
da A&WMA Seção Brasil, teve como principal
objetivo apresentar uma visão panorâmica dos
aspectos relacionados ao controle da poluição
do ar no licenciamento ambiental de indústrias.
Para Chan, é necessário criar culturas globais
para redução de emissões. Desde mudanças
políticas até mudanças de comportamento.
A segunda metade do evento iniciou-se
com a palestra “As questões relacionadas à
poluição atmosférica no Brasil”, por Sérgio
Machado, professor adjunto da UERJ. De
acordo com Machado, essa era uma área
pouco explorada até início dos anos 90, e
acreditava-se que a atmosfera era grande o
suficiente para dissipar todos os poluentes. “É
possível evitar solo contaminado, é possível
evitar água contaminada, porém é muito difícil
evitar ar contaminado”, explicou Machado.
A palestra de encerramento foi ministrada
por Giovana Rubim Gomes, da Corplab, com
o tema “Amostragem – Medições da Qualidade
do Ar”.
Os especialistas convidados ministraram palestras em quatro
painéis que contemplaram conceito, legislação, gerenciamento
de emissões, tecnologias e estudos de caso
Fotos:RMAI
o Governo do Estado de São Paulo investiu R$ 7 milhões
na modernização da rede de monitoramento da qualidade
do ar e instalou 11 novas estações de medição no Estado,
que conta atualmente com 42 estações automáticas em 27
municípios. “Com a expansão da rede de monitoramento,
a agência passou a ter um maior controle dos poluentes
emitidos pelos veículos e indústrias, e mais informações
meteorológicas para avaliar as condições de dispersão dos
mesmos”, esclarece Komatsu, da Cetesb.
Os dados gerais mostram que, na Região Metropolitana,
as concentrações de dióxido de enxofre, monóxido de
carbono e partículas inaláveis são menores do que o
observado no final de década de 90, em função dos diversos
programas de controle adotados. No caso dos dois últimos
parâmetros, houve interrupção da tendência de queda que
vinha sendo verificada, e as concentrações têm se mantido
relativamente estáveis nos últimos anos, embora ainda se
observe algumas ultrapassagens do padrão de qualidade do
ar para esses poluentes.
O ozônio continua sendo o poluente que mais ultrapassa
o padrão de qualidade do ar, principalmente na Grande São
Paulo, embora esse número tenha sido menor em 2008.
Foram 49 dias acima do padrão de qualidade, contra 72
registrados em 2007.
No entanto, os técnicos da Cetesb não observam uma
tendência definida ao longo do tempo para esse poluente. Nos
meses de janeiro a março e de setembro a dezembro, quando
frequentemente se observam concentrações mais elevadas
de ozônio, houve em 2008 muitos dias de precipitação
pluviométrica,ouseja,diasdechuva,oquetornouascondições
atmosféricas menos propícias à formação desse poluente.
Segundo os técnicos, a RMSP apresenta um alto
potencial de formação de ozônio, devido à grande emissão dos
compostos precursores, principalmente de origem veicular,
que, sob a ação da luz solar, geram o poluente na atmosfera. As
concentrações dos poluentes atmosféricos refletem as variações
na matriz de suas emissões, tais como modificações na frota
de veículos, alteração no tráfego, mudanças de combustível,
alterações no parque industrial e implantação de tecnologias
mais limpas, além das condições meteorológicas observadas
ano a ano. Para conferir o relatório na íntegra, acesse o link:
http://www.cetesb.sp.gov.br/Ar/publicacoes.asp
Emissões Atmosféricas

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Emissões Industriais e Qualidade do Ar

  • 1. 26 Revista Meio Ambiente Industrial Julho/Agosto 2009 O universo das e a atuação do setor industrial emissões atmosféricas Emissões Atmosféricas
  • 2. Julho/Agosto 2009 Revista Meio Ambiente Industrial 27 A indústria vem buscando, nas últimas décadas, além de soluções para a mitigação das emissões atmosféricas provocadas pelas suas atividades, meios para prevenir tais emissões, através de iniciativas próprias envolvendo a aplicação de conceitos e tecnologias Por Lilian Quintanilha S egundo definição na Resolução Conama – Conselho Nacional de Meio Ambiente nº 03-90, poluente atmosférico é toda e qualquer forma de matéria ou energia com intensidade e em quantidade, concentração, tempo ou características em desacordo com os níveis estabelecidos em legislação, e que tornem ou possam tornar o ar impróprio, nocivo ou ofensivo à saúde, inconveniente ao bem-estar público, danoso aos materiais, à fauna e à flora ou prejudicial à segurança, ao uso e gozo da propriedade e às atividades normais da comunidade. Oníveldepoluiçãoatmosféricaémedidopelaquantidadede substânciaspoluentespresentesnoar.Avariedadedassubstâncias que podem ser encontradas na atmosfera é muito grande, o que torna difícil a tarefa de estabelecer uma classificação. A medição sistemática da qualidade do ar é restrita a um númerodepoluentes,definidosemfunçãodesuaimportância e dos recursos disponíveis para seu acompanhamento. Os grupos de poluentes que servem como indicadores de qualidade do ar, adotados universalmente e que foram escolhidos em razão da frequência de ocorrência e de seus efeitos adversos, são: - MP – Material Particulado Inclui Material Particulado, PTS – Partículas Totais em Suspensão, MP10 – Partículas Inaláveis e FMC – Fumaça. Sob a denominação geral de “Material Particulado” se encontra um conjunto de poluentes constituídos de poeiras, fumaças e todo tipo de material sólido e líquido que se mantém suspenso na atmosfera por causa de seu pequeno tamanho. As principais fontes de emissão de particulado para a atmosfera são: veículos automotores, processos industriais, queima de biomassa e ressuspensão de poeira do solo, entre outros. O material particulado pode também se formar na atmosfera a partir de gases como SO2 – dióxido de enxofre, NOx – óxidos de nitrogênio e COVs – compostos orgânicos voláteis, que são emitidos principalmente em atividades de combustão, transformando-se em partículas como resultado de reações químicas no ar. O tamanho das partículas está diretamente associado ao seu potencial para causar problemas à saúde, sendo que, quanto menores, maiores os efeitos provocados. Outra observação é que o particulado também pode reduzir a visibilidade na atmosfera. - SO2 – Dióxido de Enxofre Resulta, principalmente, da queima de combustíveis que contêmenxofre,comoóleodiesel,óleocombustívelindustrial e gasolina. Essa substância é uma das principais formadoras da chuva ácida. O dióxido de enxofre pode reagir com outras substâncias presentes no ar formando partículas de sulfato que também são responsáveis pela redução da visibilidade na atmosfera. - CO – Monóxido de Carbono É um gás incolor e inodoro que resulta da queima incompleta de combustíveis de origem orgânica, combustíveis fósseis, biomassa, etc. Em geral, é encontrado em maiores concentrações nos grandes centros urbanos, emitido, principalmente, por veículos automotores. Altas concentrações de CO são encontradas em áreas de intensa circulação de veículos. - O3 – Ozônio e Oxidantes Fotoquímicos “Oxidantes fotoquímicos” é a denominação que se dá Fotos:Holcim
  • 3. 28 Revista Meio Ambiente Industrial Julho/Agosto 2009
  • 4. Julho/Agosto 2009 Revista Meio Ambiente Industrial 29
  • 5. 30 Revista Meio Ambiente Industrial Julho/Agosto 2009 à mistura de poluentes secundários formados pelas reações entre os óxidos de nitrogênio e compostos orgânicos voláteis, na presença de luz solar, sendo esses últimos liberados na queima incompleta e evaporação de combustíveis e solventes. O principal produto desta reação é o ozônio, por isso mesmo utilizado como parâmetro indicador da presença de oxidantes fotoquímicos na atmosfera. Esses poluentes formam a chamada “névoa fotoquímica”, ou “smog fotoquímico”, cujo nome foi dado porque causa na atmosfera uma diminuição da visibilidade. O ozônio encontrado na faixa de ar próxima do solo, onde respiramos, é tóxico. Entretanto, na estratosfera, a cerca de 25 km de altitude, o ozônio tem a importante função de proteger a Terra, como um filtro, dos raios ultravioletas emitidos pelo Sol. Além de prejuízos à saúde, o ozônio pode causar danos à vegetação. - HC – Hidrocarbonetos São gases e vapores resultantes da queima incompleta e evaporação de combustíveis e de outros produtos orgânicos voláteis. Diversos hidrocarbonetos, como o benzeno, são cancerígenos e mutagênicos, não havendo uma concentração ambiente totalmente segura. Participam ativamente das reações de formação da névoa fotoquímica. - NO – Óxido de Nitrogênio e NO2 – Dióxido de Nitrogênio São formados durante processos de combustão. Em grandes cidades, os veículos geralmente são os principais responsáveis pela emissão dos óxidos de nitrogênio. O NO, sob a ação de luz solar, se transforma em NO2 e tem papel importante na formação de oxidantes fotoquímicos, como o ozônio. Dependendo das concentrações, o NO2 causa prejuízos à saúde. A concentração de poluentes está fortemente relacionada às condições meteorológicas. Alguns dos parâmetros que favorecem altos índices de poluição são: alta porcentagem de calmaria, ventos fracos e inversões térmicas a baixa altitude. Este fenômeno é particularmente comum no inverno paulista, quando as noites são frias e a temperatura tende a se elevar rapidamente durante o dia, provocando alteração no resfriamento natural do ar. Vale lembrar que a chamada inversão térmica se caracteriza por uma camada de ar quente que se forma sobre a cidade, aprisionando o ar e impedindo a dispersão dos poluentes. Os padrões de qualidade do ar definem legalmente o limite máximo para a concentração de um poluente na atmosfera, que garanta a proteção da saúde e do meio ambiente. Os padrões de qualidade do ar são baseados em estudos científicos dos efeitos produzidos por poluentes específicos e são fixados em níveis que possam propiciar uma margem de segurança adequada. No Brasil, os padrões nacionais foram estabelecidos pelo Ibama – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, e aprovados pelo Conama, por meio da Resolução Conama 03/90. Os poluentes são divididos em duas categorias: Conama 03/1990: Padrões Nacionais de Qualidade do Ar Conama 08/1990: Limites máximos de emissão de poluentes do ar para processos de combustão externa em fontes fixas A medição da qualidade do ar é restrita a um número de poluentes, levando em conta sua importância e os recursos disponíveis para seu acompanhamento Komatsu, da Cetesb: “Para a indústria paulista, o marco nesse tema foi o decreto estadual nº 52.469, de dezembro de 2007” Fotos:Cetesb Emissões Atmosféricas
  • 6. Julho/Agosto 2009 Revista Meio Ambiente Industrial 31 O IPT trabalha no diagnóstico e recomendações de soluções para a indústria na redução de emissões de poluentes em fontes estacionárias Foto:IPT - Primários: são aqueles emitidos diretamente pelas fontes de emissão. São as concentrações de poluentes que, ultrapassadas, poderão afetar a saúde da população. Podem ser entendidos como níveis máximos toleráveis de concentração de poluentes atmosféricos, constituindo-se em metas de curto e médio prazo. - Secundários: são aqueles formados na atmosfera através da reação química entre poluentes primários e componentes naturais da atmosfera. Foram estabelecidos dois tipos de padrões de qualidade do ar: os primários e os secundários. São as concentrações de poluentes atmosféricos abaixo das quais se prevê o mínimo efeito adverso sobre o bem-estar da população, assim como o mínimo dano à fauna e à flora, aos materiais e ao meio ambiente em geral. Podem ser entendidos como níveis desejados de concentração de poluentes, constituindo-se em meta de longo prazo. O objetivo do estabelecimento de padrões secundários é criar uma base para uma política de prevenção da degradação da qualidade do ar. Devem ser aplicados às áreas de preservação. Não se aplicam, pelo menos a curto prazo, a áreas de desenvolvimento, onde devem ser aplicados os padrões primários. Como prevê a própria resolução, a aplicação diferenciada de padrões primários e secundários requer que o território nacional seja dividido em classes I, II e III conforme o uso pretendido. A mesma resolução prevê, ainda, que enquanto não for estabelecida a classificação das áreas, os padrões aplicáveis serão os primários. Os parâmetros regulamentados são os seguintes: partículas totais em suspensão, fumaça, partículas inaláveis, dióxido de enxofre, monóxido de carbono, ozônio e dióxido de nitrogênio. A mesma resolução estabelece, ainda, os critérios para episódios agudos de poluição do ar.
  • 7. 32 Revista Meio Ambiente Industrial Julho/Agosto 2009 Os padrões nacionais de qualidade do ar são apresentados na Tabela 1. A declaração dos estados de “Atenção”, “Alerta” e “Emergência” requer, além dos níveis de concentração atingidos, a previsão de condições meteorológicas desfavoráveis à dispersão dos poluentes. Para Carlos Eduardo Komatsu, gerente do Departamento de Qualidade Ambiental da Cetesb – Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental, nesse tema o maior entrave é o transporte individual. “Em uma cidade como São Paulo é inviável esse tipo de transporte, porém antes de tudo é imprescindível que haja muito investimento no transporte coletivo”, considera. As emissões surgem de fontes fixas, também conhecidas como estacionárias ou pontuais, e difusas, ou móveis. Luiz Henrique de Souza Lúcio, diretor da Interação Ambiental, as define como: - Fontes Pontuais – Pontos de emissão contínua de um dado processo, cuja característica deste determina o perfil da emissão. “Por exemplo: chaminés, tubulações, desgaseificação de equipamentos e outras”, explica Lúcio. - Fontes difusas – Pontos eventuais de emissão cuja característica é normalmente variável e influenciada pelas condições ambientais locais. Nesse caso, Lúcio cita como exemplos os tanques de estocagem, as emissões evaporativas de processos e as emissões fugitivas, as quais ele ressalta que nem sempre são consideradas nos inventários de emissões. A qualidade do ar é afetada pelas emissões de fontes móveis e estacionárias, bem como pelas características atmosféricas da região considerada, principalmente a capacidade de dispersão do local. “O conceito de qualidade do ar é relativo a uma dada região, que pode ser uma bacia aérea, uma cidade, um bairro ou qualquer outra região delimitada, como uma área industrial”, acrescenta o diretor da Interação Ambiental. De um modo geral, a emissão de poluentes num nível local gera efeitos na saúde pública; danos aos materiais, à fauna e à flora; redução da visibilidade; e chuva ácida. “Já Emissões Atmosféricas Conama 05/1989: Institui o Pronar - Programa Nacional de Qualidade do Ar Lei nº 8723/1993: Dispõe sobre a redução de emissão de poluentes Tabela 1: Padrões nacionais de qualidade do ar (Resolução CONAMA Nº 03 de 28/06/90) Fonte: Cetesb
  • 8. Julho/Agosto 2009 Revista Meio Ambiente Industrial 33 num nível global, os poluentes estão diretamente associados às mudanças do clima e à redução da camada de ozônio”, alerta Wai Nam Chan, presidente da AW&MA – Air Waste Management Association Seção Brasil. Sérgio Machado, professor adjunto da UERJ – Universidade do Estado do Rio de Janeiro, revela que as condições atmosféricas do Brasil, quando comparadas às de países em desenvolvimento, apresentam uma situação bem melhor, com muito mais qualidade. Contudo, o nível está ainda abaixo em comparação às dos países desenvolvidos. Machado conta que a maior tendência no campo das pesquisas nesse tema é em eficiência energética, e já houve muito avanço. “Por exemplo, hoje em dia um veículo de passeio emite 95% menos poluentes do que há 20 anos, mas Figura 1: Emissões relativas de poluentes por tipo de fonte na RMSP – 2008 Fonte: Cetesb
  • 9. 34 Revista Meio Ambiente Industrial Julho/Agosto 2009 Emissões Atmosféricas houve o enorme aumento da frota, mesmo assim o resultado da qualidade do ar atualmente está melhor”, enfatiza. Machado explica que há dois grupos de poluentes. Os legislados e os não-legislados. São eles: Poluentes legislados: - Ozônio - NOx - SO2 - CO - PTS - MP10 - MP 2,5 - HCNM Não-legislados: - Aldeídos - Cetonas - Ácidos Carboxílicos - Alcoóis - HC Alifáticos - HC Aromáticos - HC Policíclicos - Metais - Microbiológicos Para exemplificar o cenário atual das condições atmosféricas dos grandes centros urbanos, Komatsu, da Cetesb, conta o caso do Estado de São Paulo. Ele explica que o monitoramento da qualidade do ar, com a avaliação das concentrações de poluentes no Estado de São Paulo, foi iniciado na Região Metropolitana no início da década de 70, com a instalação de 14 estações para medição diária dos níveis de SO2 e fumaça preta. Parte das estações, denominadas manuais, continuam sendo utilizadas pela Cetesb no monitoramento da qualidade do ar. Já no início da década posterior, Komatsu lembra que foi dado um salto qualitativo, com o início do monitoramento automático e a instalação de novas estações para a avaliação de dióxido de enxofre, material particulado inalável, ozônio, óxidosdenitrogênio,monóxidodecarbonoehidrocarbonetos não-metânicos, além dos parâmetros meteorológicos como direção e velocidade do vento, temperatura e umidade relativa do ar. Em 2000, o monitoramento automático foi ampliado para algumas cidades do interior do Estado. “Além da medição diária desses poluentes, atualmente, a Cetesb realiza estudos sobre outros poluentes, dentre os quais se destacam o chumbo, aldeídos e compostos reduzidos de enxofre, além de estudos específicos, alguns dos quais em parceria com universidades”, conta o gerente da Cetesb. DeacordocomKomatsu,segundoumlevantamentofeito pela Cetesb, existem no Estado de São Paulo 211 municípios saturados ou em vias de saturação, sendo os principais deles localizados em áreas de intensa industrialização, como as regiões de Cubatão, de Paulínia, de São José dos Campos, de Ribeirão Preto e da Região Metropolitana de São Paulo, entre outras. Para que uma determinada área seja considerada saturada, será determinada para os poluentes legislados a média aritmética das médias anuais dos últimos três anos, maior que o padrão nacional de qualidade do ar estabelecido Figura 2: MP10 – Evolução da distribuição percentual da qualidade do ar – RMSP Decreto 2652, de 1 de julho de 1998: Promulga a Convenção - Quadro das Nações Unidas sobre mudanças do clima Fonte: Cetesb
  • 10. Julho/Agosto 2009 Revista Meio Ambiente Industrial 35 pela resolução do Conama já citada. Para as áreas em vias de saturação, essa média aritmética dos últimos três anos terá que ser maior que 90% do padrão. Segundo Komatsu, nas áreas saturadas ou em vias de saturação, a Cetesb estabelecerá um PREA – Programa de Redução de Emissões Atmosféricas para as indústrias em operação, condicionando a renovação da Licença de Operação a uma série de exigências, como a utilização de sistemas de controle baseados na melhor tecnologia disponível no mercado, a implementação de Plano de Monitoramento das Emissões Atmosféricas, segundo o Termo de Referência estabelecido pela agência ambiental, e, a partir de janeiro de 2013, o cumprimento de metas de redução de emissões. “As reduções das emissões dos poluentes que levaram à saturação gerarão créditos que poderão ser utilizados pelo próprio emissor para renovar a licença ou oferecidos no Mercado de Créditos de Poluição, uma nova modalidade está sendo estudada na BM&F – Bolsa de Mercadorias & Futuros para serem adquiridos por empresas interessadas em se instalar nos locais saturados ou em vias de saturação, promovendo uma compensação pelo impacto a ser causado”, conta Komatsu. Esses créditos, com validade de dez anos, serão aprovados pela Cetesb. Os créditos gerados por fontes móveis poderão ser efetivados mediante reduções das emissões das frotas cativas, como as frotas de veículos de uma determinada empresa, que comprovadamente circulem na região onde o crédito será utilizado. Komatsu explica que para os novos empreendimentos há duas opções: se instalar em uma área que ainda não esteja saturada ou assumir as compensações e se adequar. Segundo ele, são inúmeras as formas de adaptação, e isso varia de empreendimento. A empresa precisa, primeiramente, apresentar um plano de compensação de suas emissões junto ao órgão ambiental. Caso não sejam cumpridas as exigências, a empresa pode não obter a renovação da sua licença de operação. “Em se tratando de controle de emissão atmosférica sóháduaspossibilidades:nãopoluiroucontrolar.Atendência na indústria é prevenir a emissão, outra tendência é a busca pela eficiência energética”, comenta Komatsu. Desafios – Segundo os entrevistados, ainda são muitos os desafios envolvendo o tema. Elisete Dutra, gerente de Gestão da Qualidade do Ar da Feam – Fundação Estadual de Meio Ambiente, órgão ambiental de Minas Gerais, avalia que hoje há a necessidade de focar nas emissões de fontes difusas, em todos os grandes centros urbanos. “Em relação à qualidade do ar, hoje se reduziu muito a concentração de enxofre, e isso se deve à redução dessa substância nos combustíveis. Sem dúvida, o maior problema que temos que enfrentar é o material particulado. Outra constatação é de que o problema das emissões atmosféricas não é, sem sombra de dúvida, por falta de informação, mas, sim, por falta de ação”, comenta Elisete. Outro problema sério hoje nos centros urbanos é a grande concentração de ozônio, gerado da frota de veículos e das refinarias de petróleo. Elisete acredita que o grande gargalo nesse assunto é a frota de veículos, sobretudo a movida a diesel. Já para Giovana Rubim Gomes, da Corplab Environmental Analytical Services, o maior desafio é a necessidade de compreender mais e melhor sobre emissões atmosféricas, isso em todos os polos de atuação do setor produtivo. “Ainda é necessário muito investimento para contribuir com a melhoria da qualidade do ar”, comenta. Ela ainda avalia que a legislação existente que trata desse assunto é aplicável, porém mal aplicada. Segundo Chan, da A&WMA Seção Brasil, o tema “emissões” implica em políticas públicas e mudanças de comportamento e de modos de produção. Para Lúcio, da Interação Ambiental, é fato que a origem da emissão atmosférica vinda das fontes fixas e móveis é o principal fator de poluição, porém é necessário ressaltar que a capacidade de dispersão atmosférica também influencia na qualidade do ar. Ainda de acordo com Lúcio, uma das substâncias mais emitidas pela indústria é o material particulado, mas o setor Resolução Conama nº 264/1999: Dispõe sobre o licenciamento de fornos rotativos de produção de clinquer para atividades de coprocessamento Vergnhanini Filho, do IPT: “Há três fatores que interferem na emissão: o tipo de combustível, o equipamento responsável pela sua queima e a forma que se opera o equipamento” Foto:IPT
  • 11. 36 Revista Meio Ambiente Industrial Julho/Agosto 2009 Emissões Atmosféricas produtivo tem condições de controlar essa emissão, já que existem, hoje, técnicas bem sedimentadas com esse intuito e ainda há muitas tecnologias sendo desenvolvidas. Lúcio informa, também, que são muitas as ferramentas e soluções aplicadas pelo setor produtivo para o controle e a redução de emissões a partir de seu processo de produção. “Porém, a indústria de ponta já vem trabalhando de forma limpa, prevenindo a geração de poluentes dos mais diversos tipos”, observa o especialista. A indústria Mesmo com o assunto explorado há muitas décadas, as ações realmente efetivas envolvendo a indústria e a problemática das emissões atmosféricas é recente – ainda assim é possível avaliar os benefícios das medidas tomadas em prol da qualidade do ar Avaliando o comportamento do setor produtivo nesse tema, a constatação a que se chega é de que a preocupação com o controle e com a prevenção da poluição é assunto diário nos empreendimentos. Segundo Chan, da A&WMA Seção Brasil, o percentual de participação da indústria nas emissões atmosféricas numa região metropolitana é de apenas 10%. Todo o restante, ou seja 90%, vem de fontes móveis. “Em se tratando de emissões da indústria, sem dúvida um marco foi o decreto estadual de bacias aéreas nº 52.469/07, que trata da compensação em áreas saturadas. Vale ressaltar que a compensação varia de empresa para empresa”, afirma Chan. Para Elisete, da Feam, em uma breve análise da indústria nas últimas décadas, é possível afirmar que seu comportamento melhorou muito. Hoje há pessoas nas grandes empresas muito conscientes da importância e dos benefícios de aplicar boas práticas ambientais. Contudo, ela acredita que os órgãos ambientais devem ser ainda mais exigentes com o setor produtivo, agindo como uma forte fiscalização. “Minas Gerais está um pouco atrasado em fiscalização, uma vez que os órgãos ambientais têm que exigir e acompanhar se o setor está em conformidade, e nisso o Estado ainda tem que avançar”, observa Elisete. No caso de São Paulo, Komatsu, da Cetesb, conta que atualmente a situação está bem melhor do que no passado, a concentração de poluentes está bem menor, e um dos fatores é o número menor de indústrias instaladas na Região Metropolitana de São Paulo, já que muitas se transferiram para outros municípios e até para outros estados. “Porém, as que permaneceram se atualizaram em relação às suas emissões atmosféricas por exigência do órgão ambiental, mas, especialmente, por comprometimento ambiental e busca pela eficiência energética”, explica. Para a indústria, ainda segundo Komatsu, o marco nesse tema foi o decreto estadual nº 52.469, de dezembro de 2007, que se refere ao novo modelo de licenciamento ambiental de fontes industriais em áreas já saturadas por poluição atmosférica. Antes do decreto, havia restrição à instalação de novos empreendimentos de qualquer porte em regiões saturadas, provocando um desestimulo para investimentos em novas tecnologias ambientais e, principalmente, limitação à atividade econômica. Já as emissões por origem veicular são bem mais representativas, mas em razão do Proconve – Programa de Controle de Poluição do Ar por Veículos Automotores e da renovação da frota, reduziu-se bastante a quantidade de emissão de poluentes. “Isso se deu pelas novas tecnologias nos veículos, alémdamelhorianaqualidadedoscombustíveis,ainda quecom a visível piora no trânsito na região metropolitana, a qualidade do ar está melhor”, analisa Komatsu. Figura 3: CO – Evolução da distribuição percentual da qualidade do ar – RMSP Fonte: Cetesb
  • 12. Julho/Agosto 2009 Revista Meio Ambiente Industrial 37 Para Chan, A&WMA Seção Brasil, em se tratando de controle da poluição do ar é necessário criar culturas globais para redução de emissões, desde mudanças políticas até mudanças de comportamento. De acordo com ele, inventariar as emissões é um primeiro passo para identificar as prioridades de ação, e o monitoramento da qualidade do ar deve ser intensificado em regiões metropolitanas e industriais. “Sempre que possível, antes de se instalar uma indústria,deve-seavaliaradispersãoatmosféricadaregião.Alémdisso,aprevenção da contaminação é melhor do que seu controle, e no caso de emissões atmosféricas, a abordagem preventiva está intimamente relacionada com a eficiência energética, a qual deve ser bem explorada na fase de projeto dos empreendimentos. Para unidades existentes, a abordagem corretiva é aplicada através da instalação de equipamentos de controle de poluição, soluções de fim de tubo”, ressalta Chan. Ele ainda comenta algumas tendências mundiais nesse assunto. Segundo ele, há hoje exigências locais mais rígidas do que as federais, como no Estado da Califórnia, nos Estados Unidos. Outras tendências são: inventários regulares e metas de redução global, monitoramento contínuo de fontes de grande porte, rede de monitoramento mantida pelo Estado, novos investimentos com restrições mais rígidas, dependendo da área, e mercado de “cotas de emissão”. Soluções – São inúmeras as soluções disponíveis para o controle, a redução e até mesmo a prevenção da emissão de poluentes atmosféricos. Os principais equipamentos são: câmara de sedimentação, ciclone, filtros de manga, precipitadores eletrostáticos, lavador de gases, torre de lavagem de gases, filtro de carvão ativo e pós-queimador. No entanto, apesar da diversidade, os especialistas concordam que a forma mais racional de reduzir emissões atmosféricas é através da melhoria energética, em fontes fixas e móveis. A equação é simples: se eu consumo menos, o que vou emitir também será menor. Para isso, segundo eles, é fundamental a contribuição dos centros de pesquisa e desenvolvimento tecnológico, formando parcerias com governo e indústria. “Todavia, para a viabilização desses convênios são necessários mecanismos de incentivos fiscais e diferenciação no tratamento de impostos”, comenta Chan. Para ele, as maiores tendências nesse tema são: melhoria em eficiência energética, fontes alternativas de energia e aumento do uso de gás natural, ou, ainda, a sinergia entre esses três fatores, trabalhando em busca da sinergia dos recursos naturais. Chan elenca as premissas básicas para uma boa gestão de emissões em um empreendimento. São elas: - Elaboração de Inventário de Emissões; - Base consistente de dados, projeto e processo; - Inclusão de fontes existentes e novas; - Conhecimento das emissões atuais, de preferência através de amostragens de chaminés; Decreto nº 99280, de 6 de junho de 1990: Promulga a Convenção de Viena para a proteção da camada de ozônio e o Protocolo de Montreal
  • 13. 38 Revista Meio Ambiente Industrial Julho/Agosto 2009 - Aplicação de protocolos de cálculo e fatores de emissão; - Conhecimento detalhado do termo de referência emitido pelo órgão ambiental que orienta o que deve estar contido no estudo, que pode ser um EIA-RIMA ou não; - Conhecimento da legislação aplicável; - Conhecimento das melhores práticas e tecnologias de controle, seus custos e seus impactos, de forma a buscar bons equipamentos no mercado. Inventário de emissões: Trata-se de um relatório contemplando os aspectos técnicos das emissões de um empreendimento, parque industrial ou localidade, cujos dados subsidiam a tomada de decisões do empreendedor ou do Poder Público. “Ao realizar o inventário de emissões atmosféricas é possível compreender melhor o comportamento do seu empreendimento”, afirma Lúcio, da Interação ambiental. Deve conter: - Caracterização da área; - Levantamento das fontes emissoras; - Qualificação e quantificação das emissões - Conclusões, inclusive relacionadas à legislação, quando aplicável. No Brasil, muitas das soluções surgem a partir do trabalho do IPT – Instituto de Pesquisas Tecnológicas, cuja sede está na cidade de São Paulo, mas o trabalho é realizado em todo o país. DeacordocomRenatoVergnhaniniFilho,engenheiroquímico do Laboratório de Energia Térmica, Motores, Combustíveis e Emissões do Centro de Tecnologias Ambientais e Energéticas do IPT, naquele departamento, o trabalho do Instituto está voltado para o diagnóstico e recomendações de soluções para a indústria para a redução de emissões de poluentes e fontes estacionárias. “A indústria procura o IPT para solucionar o problema de emissões ou para otimizar seus processos. Os estudos são feitos no próprio laboratório do IPT ou na própria empresa, para isso o Instituto dispõe de uma unidade móvel, e nos últimos anos está indo cada vez mais in loco”, comenta Vergnhanini Filho. Ele conta que, geralmente, só alterando o processo de combustãodosequipamentosjáseobtémmelhorianaemissão, e que a primeira coisa a ser feita é alterar as condições de operação do equipamento – essa é a principal recomendação, e que leva a menos custos. Segundo Vergnhanini Filho, há três fatores que interferem na emissão de poluentes: o tipo de combustível utilizado, o equipamento responsável pela queima desse combustível e a forma que se opera esse equipamento. “Hoje, o que está presente na emissão industrial é material particulado, NOx , SOx e CO, os quais podem ser controlados em equipamentos de combustão, e são todos controlados pela legislação. Também é importante lembrar que quanto maior for o rendimento do meu processo de queima de combustível, menos poluentes irei emitir”, acrescenta Vergnhanini Filho. Estudo de caso – Holcim Para controlar e reduzir as emissões atmosféricas, a Holcim realiza várias ações em suas três unidades fabris: Pedro Leopoldo e Barroso, em Minas Gerais, e Cantagalo, no Rio de Janeiro. Valéria Soares A. Pereira, gerente de Meio Figura 4: O3 – Evolução da distribuição percentual da qualidade do ar – RMSP Resolução Conama nº 316/2002: Dispõe sobre procedimentos e critérios para o funcionamento de sistemas de tratamento térmico de resíduos Emissões Atmosféricas Fonte: Cetesb
  • 14. Julho/Agosto 2009 Revista Meio Ambiente Industrial 39 Ambiente, conta que há a instalação de filtros de mangas em diversos pontos potenciais de emissão de pó, como transferências de correias transportadoras, topos de silos e pontos de descarregamento de caminhões. Além dos filtros de mangas e eletrostáticos instalados nas chaminés dos fornos, moinhos e ensacadeiras. Ela explica que a empresa também faz o monitoramento contínuo de material particulado, garantindo o controle da emissão de pó nas atividades industriais. A Holcim possui equipamentos de alta tecnologia para monitoramento contínuo de gases como SO2 e NOx , compostos orgânicos e HCl instalados nas chaminés dos fornos de clínquer, matéria-prima do cimento. “Esses equipamentos permitem um controle sistemático, com ações imediatas para garantir o atendimento aos padrões estabelecidos pela legislação ambiental”, acrescenta a gerente. Além do efetivo controle operacional, ela lembra que a empresa investe continuamente na modernização dos equipamentos de controle ambiental, de forma a contribuir paraamelhoriacontinuadaqualidadedoar.“Comoexemplo, podemos citar a substituição de filtros eletrostáticos por filtros de mangas em pontos de significativa emissão de pó, como resfriadores, fornos e moinhos”, exemplifica Valéria. Ela também conta que a empresa realiza o inventário de emissões de GEE – Gases de Efeito Estufa e assumiu, junto ao WBCSD – Word Business Council for Sustainable Development, metas de redução de CO2 . “Algumas ações, como a otimização do processo de fabricação do clínquer, para maior eficiência energética, o coprocessamento de combustíveis alternativos, a utilização de biomassa como combustível e a utilização de escória, possibilitam a busca continua para redução da emissão de GEE, além de reduzirem o consumo dos recursos naturais não-renováveis. No Brasil, até 2008 a empresa reduziu em 20,5% as emissões específicas de CO2 , se comparadas ao ano base, 1990”, ressalta Valéria. Uma das soluções, em se tratando de emissões atmosféricas, é o coprocessamento, técnica adotada pela Holcim. “A disposição inadequada de resíduos sólidos gera emissões, como no caso dos aterros e incineradores, que são formas de disposição menos sustentáveis, comparadas às demais. Uma opção é o coprocessamento, já que aproveita a energia e os resíduos”, destaca Edmundo Ramos, gerente da Resotec, braço da Holcim responsável pelo coprocessamento. Ele explica que o que é emitido não é nocivo, e esse processo é um dos mais adequados para a destruição de resíduos, pela alta temperatura, podendo chegar até dois mil graus, e pelo tempo de residência – os sólidos permanecem por 30 minutos, já os resíduos gasosos ficam de quatro a seis segundo, muito acima do que é exigido pela regulamentação: acima de dois segundos. Mesmo assim, Ramos lembra que o coprocessamento não é capaz de eliminar totalmente as emissões, pois vapor d’água, CO2 e outros gases, controlados por lei, são emitidos, mas em um nível permitido. Ainda assim, em se tratando de GEE, ele conta que as emissões são inferiores em relação ao que é emitido em aterros e incineradores. “Desde 1999, quando a Holcim iniciou o trabalho com coprocessamento mo Brasil, até hoje, 200 mil toneladas de resíduos são coprocessadas todos os anos e o ganho em produção foi de substituição de 10 a 15% na utilização de combustíveis tradicionais”, lembra Ramos. Relatório de Qualidade do Ar no Estado de São Paulo – No mês de julho de 2009, a Cetesb apresentou os dados de qualidade do ar, em forma de relatório, no Estado de São Paulo durante o ano de 2008. De acordo com o documento, comparando-se especificamente o ano de 2007 com 2008, houve na Região Metropolitana de São Paulo uma ligeira diminuição das concentrações de monóxido de carbono e partículas inaláveis, apesar de o inverno do ano passado ter sido bastante desfavorável para a dispersão dos poluentes, com pouca chuva e baixa ventilação. Esses poluentes são emitidos, principalmente, pela frota de aproximadamente 9,2 milhões de veículos. A companhia afirma em seu estudo que, no ano de 2008, Resolução Conama nº 382/2006: Estabelece os limites máximos para emissão de poluentes em fontes fixas Elisete, da Feam: “Um problema sério nos centros urbanos é a grande concentração de ozônio, gerada pela frota de veículos e refinarias de petróleo” Foto:Feam
  • 15. 40 Revista Meio Ambiente Industrial Julho/Agosto 2009 Especialistas debateram questões envolvendo emissões atmosféricas da indústria No dia 29 de julho de 2009, a revista Meio Ambiente Industrial, em parceria com a Interação Ambiental, e sob a organização da Ambientepress, promoveu o encontro técnico “Emissões Atmosféricas”. O evento foi realizado na sede do CRQ – Conselho Regional de Química, em São Paulo, e contou com a presença de aproximadamente 50 pessoas, vindas dos mais variados ramos de empresas do país, interessadas em mais informações sobre o tema. O encontro foi dividido em quatro painéis que contemplaram as principais questões em se tratando de emissões atmosféricas, como, por exemplo: conceito, legislação, gerenciamento de emissões, tecnologias disponíveis, estudos de caso, no geral. Luiz Henrique de Souza Lúcio, diretor da Interação Ambiental, abriu o evento com a palestra “Sistemas de Gestão como ferramenta paraogerenciamentodasemissõesatmosféricas no setor industrial”. Com uma abordagem conceitual, Lúcio focou sua apresentação em fontes fixas e inventários de emissões, poluentes, legislação e amostragem de fontes fixas. O palestrante explicou que existe poluição do ar quando a presença de uma substância, ou a variação importante na proporção de seus constituintes, é suscetível de provocar efeitos prejudiciais ou doenças, tendo em conta o estado dos conhecimentos científicos. Já a palestra “O controle da poluição do ar no licenciamento ambiental de indústrias”, sob o comando de Wai Nan Chan, presidente da A&WMA Seção Brasil, teve como principal objetivo apresentar uma visão panorâmica dos aspectos relacionados ao controle da poluição do ar no licenciamento ambiental de indústrias. Para Chan, é necessário criar culturas globais para redução de emissões. Desde mudanças políticas até mudanças de comportamento. A segunda metade do evento iniciou-se com a palestra “As questões relacionadas à poluição atmosférica no Brasil”, por Sérgio Machado, professor adjunto da UERJ. De acordo com Machado, essa era uma área pouco explorada até início dos anos 90, e acreditava-se que a atmosfera era grande o suficiente para dissipar todos os poluentes. “É possível evitar solo contaminado, é possível evitar água contaminada, porém é muito difícil evitar ar contaminado”, explicou Machado. A palestra de encerramento foi ministrada por Giovana Rubim Gomes, da Corplab, com o tema “Amostragem – Medições da Qualidade do Ar”. Os especialistas convidados ministraram palestras em quatro painéis que contemplaram conceito, legislação, gerenciamento de emissões, tecnologias e estudos de caso Fotos:RMAI o Governo do Estado de São Paulo investiu R$ 7 milhões na modernização da rede de monitoramento da qualidade do ar e instalou 11 novas estações de medição no Estado, que conta atualmente com 42 estações automáticas em 27 municípios. “Com a expansão da rede de monitoramento, a agência passou a ter um maior controle dos poluentes emitidos pelos veículos e indústrias, e mais informações meteorológicas para avaliar as condições de dispersão dos mesmos”, esclarece Komatsu, da Cetesb. Os dados gerais mostram que, na Região Metropolitana, as concentrações de dióxido de enxofre, monóxido de carbono e partículas inaláveis são menores do que o observado no final de década de 90, em função dos diversos programas de controle adotados. No caso dos dois últimos parâmetros, houve interrupção da tendência de queda que vinha sendo verificada, e as concentrações têm se mantido relativamente estáveis nos últimos anos, embora ainda se observe algumas ultrapassagens do padrão de qualidade do ar para esses poluentes. O ozônio continua sendo o poluente que mais ultrapassa o padrão de qualidade do ar, principalmente na Grande São Paulo, embora esse número tenha sido menor em 2008. Foram 49 dias acima do padrão de qualidade, contra 72 registrados em 2007. No entanto, os técnicos da Cetesb não observam uma tendência definida ao longo do tempo para esse poluente. Nos meses de janeiro a março e de setembro a dezembro, quando frequentemente se observam concentrações mais elevadas de ozônio, houve em 2008 muitos dias de precipitação pluviométrica,ouseja,diasdechuva,oquetornouascondições atmosféricas menos propícias à formação desse poluente. Segundo os técnicos, a RMSP apresenta um alto potencial de formação de ozônio, devido à grande emissão dos compostos precursores, principalmente de origem veicular, que, sob a ação da luz solar, geram o poluente na atmosfera. As concentrações dos poluentes atmosféricos refletem as variações na matriz de suas emissões, tais como modificações na frota de veículos, alteração no tráfego, mudanças de combustível, alterações no parque industrial e implantação de tecnologias mais limpas, além das condições meteorológicas observadas ano a ano. Para conferir o relatório na íntegra, acesse o link: http://www.cetesb.sp.gov.br/Ar/publicacoes.asp Emissões Atmosféricas