João Carlos Martins motiva adolescentes da Fundação Casa
1. Volume 119 • Número 188 • São Paulo, quinta-feira, 8 de outubro de 2009 www.imprensaoficial.com.br
Superação de João Carlos Martins
motiva adolescentes da Fundação Casa
C Visita do maestro à instituição traz esperança
apaz de tocar o coração das pessoas, o desejam corrigi-los”, avalia M.B, que cursa o
encontro do maestro João Carlos Martins de uma vida melhor a jovens que nunca tiveram último ano do ensino médio e pretende prestar
com 20 jovens que cumprem medida vestibular em Administração de Empresas.
socioeducativa da Fundação Casa foi além –
contato com a música clássica Para o professor Alessandro, este tipo
FOTOS: FERNANDES DIAS PEREIRA
trouxe esperança. Na unidade Vila Maria, ele de atividade traz benefícios para a conti-
apresentou a sua história de vida e superação, nuação da vida dos jovens que, ao saírem
falou das experiências como músico e emocio- da Casa, tenham escolhas de um caminho
nou a todos ao rever as próprias conquistas. estruturado. “Para o ser humano tudo é
Parceiro do Projeto Amigos da Casa, o pianista possível, e colaborar com pequenas ações
realiza encontros mensais nas unidades da em conjunto ajuda a realizar grandes fei-
Fundação, conversa com os meninos sobre as tos”, ressaltou Alessandro, que ensaiou a
dificuldades da vida, motivação e estimula-os a música em apenas duas semanas.
encontrar novos caminhos. O projeto visa a rea- Segundo o coordenador de arte e cultura
lizar atividades culturais, esportivas e profissio- da instituição, Guilherme Nico, o trabalho é
nalizantes dirigidas aos adolescentes. realizado a passos curtos e precisos, para que
Antes da prosa musical, os adolescentes as ações desenvolvidas durante o ano não
permaneciam estáticos ao assistirem ao vídeo sejam desperdiçadas. Guilherme destaca que
sobre a vida e obra de João Carlos Martins. C. a preparação do jovem ao retornar ao convívio
A., 17 anos, não acreditou no que via. Para social seja feita de forma consistente, aliando
ele, a força de vontade em persistir, ensinar, formação escolar, capacitação profissional e
após tantas dificuldades, era inimaginável. A trabalho. “É preciso fazer uma transformação
cena mexeu com o rapaz que não conteve as João Carlos Martins, na unidade Vila Maria: emoção com sua história de vida na vida desses meninos, para que consigam
lágrimas. “Não conhecia o maestro e nem o superar as dificuldades e progredir na vida pelo
seu estilo musical, é muito emocionante. Tem mentos e homenageou o visitante. João Carlos Transformação – Encantado, M. B., 17 lado mais correto”, afirmou Guilherme.
um ritmo maravilhoso que deixa as pessoas Martins foi surpreendido pelos jovens que de- anos, não acreditou ao ver João Carlos Martins
mais calmas, relaxa o corpo e a mente”, des- monstraram talento com grupo formado dias à sua frente, quanto mais regendo o grupo. “A Anderson Moriel Mattos
tacou C. A., que escreve letras de música e antes do encontro. A composição de Adoniran história dele é impressionante! Esse dia ficará Da Agência Imprensa Oficial
gosta de MPB e rock. Barbosa, Trem das Onze, emocionou o maestro eternamente em minha memória. Depois de
A informação de que o músico estaria na que pediu licença para reger os músicos e vi- tudo que ele passou, ainda tem determinação
unidade inspirou o professor de ioga e músi- brou como se estivesse em Nova York, no Car- para ajudar a renovar as esperanças de pessoas
ca Alessandro Ferreira, que afinou os instru- negie Hall, um dos palcos que o consagraram. que, como nós, cometemos erros, mas que
Fundação Casa
“A música venceu” firma parceria
João Carlos Martins chegou ção que leva a música clássica a com o Noroeste
cedo ao auge da carreira como pia- crianças e adolescentes das peri-
nista. Aos 21 anos, já era reconhe- ferias de São Paulo. Muitos deles O E.C. Noroeste, um dos mais tradicionais
cido como um dos principais intér- se destacam, estudam música e times de futebol do interior do Estado, é o novo
pretes da obra de Johann Sebastian são convidados a realizar apre- parceiro da Fundação Casa na região de Bauru
Bach. Anos mais tarde viriam as sentações pelo mundo. e Araçatuba. Os detalhes do trabalho comum
provações, como se estivesse sen- Jean Wiliam, 17 anos, é um foram acertados durante visita do diretor da
do desafiado. A primeira aconteceu deles. Filho de cortadores de Divisão Regional Oeste da Fundação, Roberto
jogando futebol no Central Park cana, foi criado pelo avô, boia- Terriaga, à direção do clube. Ficou confirmado
em Nova York, quando uma pedra -fria, e pela avó, empregada que os jogadores do clube irão às unidades da
perfurou o seu braço, com rompi- doméstica. Lapidado por João Casa na região. A ideia das visitas é fazer com
mento de terminações nervosas. A Carlos Martins, Jean desenvolve que os jovens, por meio do contato com os
segunda veio com a gravação da a sua aptidão a cada dia na pro- profissionais, vejam no esporte uma ferramen-
obra completa de Bach, que gerou missora carreira como tenor. ta de ressocialização. “O esporte tem sido uma
lesões por esforço repetitivo. Por Jean Wiliam, 17 anos: a descoberta de novos caminhos pela via da música “Sou grato ao maestro por tudo das principais armas para garantir a reinserção
fim, foi assaltado na saída de um que ele fez e faz por mim. Ao dos internos”, diz Terriaga.
estúdio na Bulgária e levou vários golpes com Chegou a cogitar até em atuar como empre- mesmo tempo, sinto orgulho em estar aqui O diretor do departamento de futebol
uma barra de ferro na cabeça. As pancadas sário de boxe, mas o sentimento e o amor na Fundação Casa para contar a minha his- profissional do Noroeste, o ex-jogador Vitor
provocaram lesões cerebrais e comprometeram pela música acabariam prevalecendo. tória e ouvir outras”, lembrou Jean. Hugo, que atuou no Flamengo e em vários
os movimentos do lado direito do corpo. Após um sonho que teve com o falecido Assim, de casaca ou camisa, o maestro times brasileiros, informou que também será
Após inúmeras sessões de fisiotera- maestro brasileiro Eleazar de Carvalho, resol- persiste em passar adiante seus conheci- possível avaliar os adolescentes que tiverem
pia, o músico ainda tentou voltar a tocar. veu estudar regência. Estava com 64 anos. mentos musicais, sua história e seu exem- interesse em jogar futebol. A análise será feita
Conseguiu, mas o tratamento era extre- Seis meses depois, dava concertos em toda a plo de vida. Ele se despediu dos jovens com durante partidas a serem realizadas nas uni-
mamente doloroso. Os médicos não viram Europa com um jeito peculiar – não rege com a canção que também toca o seu cora- dades. “Essas avaliações serão uma oportuni-
outra solução a não ser seccionar os nervos a batuta, e sim com as mãos, os braços e o ção – Orchestersuite n° 3 Air, de Johann dade para revelar talentos”, afirma Terriaga.
da mão direita. Mesmo que representasse coração. Apesar das adversidades, João Carlos Sebastian Bach. “Sinto que a vida foi gene-
uma dura opção, foi o que ele fez. O maes- Martins vestiu a camisa da solidariedade, crian- rosa comigo. Só tenho que agradecer, pois Da Agência Imprensa Oficial e da
tro ainda tentou atuar em outras atividades. do a Fundação Bachiana Filarmônica, institui- a música venceu”, diz o maestro. Assessoria de Imprensa da Fundação Casa