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                                                                                                   rários e aos costumes. “E nós também
                                                                                                   precisamos nos adaptar ao ritmo delas
                                                                                                   e chegar a um acordo. Afinal, é um novo
                                                                                                   relacionamento”, conta. E nem sempre
             Em maio deste ano, os dois conhe-       e não um processo de adoção. O objeti-        isso é tranquilo. Um dos problemas que
        ceram-se pessoalmente. Alessandra foi        vo é tentar reestruturar a família de ori-    já teve foi com a filha biológica. As ga-
        até a cidade de Alberto e foi recebida por   gem para que a criança volte para casa.       rotas começaram a ter desentendimen-
        toda a família. “Foi muito emocionante.           Kátia Nascimento, 48 anos, faz parte     tos comuns entre irmãs. Com muita con-
        Eu não fazia ideia de como estava cresci-    de um projeto como esse há quatro anos.       versa e paciência, a família se entendeu.
        do, só nos conhecíamos por foto”, lem-       Ela participa do Sapeca (Serviço de Aco-           Para Adriana Pinheiro, assistente
        bra a madrinha. “É impossível ser um pa-     lhimento e Proteção Especial à Criança e      social do Sapeca, pais que acolhem es-
        drinho sem se envolver, sem querer sa-       ao Adolescente), da prefeitura de Campi-      ses jovens costumam ter de readaptar a
        ber como o afilhado está o tempo todo.”      nas. Desde janeiro, Júlia, de 9 anos, mora    rotina e o jeito de se relacionar. “Apren-
                                                     em sua casa. “É como um novo nasci-           de-se muito com uma criança que vem
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        receber crianças em casa, por um perí-       cidades como se a garota fosse sua filha.     que, ao cuidar e ter um olhar atento ao
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        grama, a família ganha a guarda provisó-     algo ou fazem apresentações na escola”,       sar suas necessidades e valores. Amor,
        ria de jovens afastados da família e deve    diz. Júlia é a segunda garota que Kátia re-   afinal, também é convívio, troca e cons-
        tratá-los como filhos – mas tendo em         cebe. “Hoje tenho três filhas, e a família    tante aprendizado. Algo que essas famí-
        mente que é uma situação temporária,         vai aumentar no futuro”, afirma a mãe.        lias do coração têm de sobra.




Sorria27_conviver.indd 25                                                                                                                 23/07/12 18:40

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  • 1. É que acolher uma criança tem a ver com conviver e educar quem vem de uma realidade diferente. Kátia diz que, quando as meninas chegam, elas preci- sam se adaptar à rotina da casa, aos ho- rários e aos costumes. “E nós também precisamos nos adaptar ao ritmo delas e chegar a um acordo. Afinal, é um novo relacionamento”, conta. E nem sempre Em maio deste ano, os dois conhe- e não um processo de adoção. O objeti- isso é tranquilo. Um dos problemas que ceram-se pessoalmente. Alessandra foi vo é tentar reestruturar a família de ori- já teve foi com a filha biológica. As ga- até a cidade de Alberto e foi recebida por gem para que a criança volte para casa. rotas começaram a ter desentendimen- toda a família. “Foi muito emocionante. Kátia Nascimento, 48 anos, faz parte tos comuns entre irmãs. Com muita con- Eu não fazia ideia de como estava cresci- de um projeto como esse há quatro anos. versa e paciência, a família se entendeu. do, só nos conhecíamos por foto”, lem- Ela participa do Sapeca (Serviço de Aco- Para Adriana Pinheiro, assistente bra a madrinha. “É impossível ser um pa- lhimento e Proteção Especial à Criança e social do Sapeca, pais que acolhem es- drinho sem se envolver, sem querer sa- ao Adolescente), da prefeitura de Campi- ses jovens costumam ter de readaptar a ber como o afilhado está o tempo todo.” nas. Desde janeiro, Júlia, de 9 anos, mora rotina e o jeito de se relacionar. “Apren- em sua casa. “É como um novo nasci- de-se muito com uma criança que vem Perto do coração mento na família”, conta Kátia, que vive de uma família desestruturada”, afirma. Esse envolvimento é ainda mais inten- com o marido e a filha de 15 anos. “A ter empatia, a oferecer colo, a escu- so quando os voluntários se dispõem a Ela fala que tem preocupações e feli- tar dúvidas e medos.” Isso acontece por- receber crianças em casa, por um perí- cidades como se a garota fosse sua filha. que, ao cuidar e ter um olhar atento ao odo de até dois anos. Nesse tipo de pro- “Eu me emociono quando aprendem outro, jovens e adultos passam a repen- grama, a família ganha a guarda provisó- algo ou fazem apresentações na escola”, sar suas necessidades e valores. Amor, ria de jovens afastados da família e deve diz. Júlia é a segunda garota que Kátia re- afinal, também é convívio, troca e cons- tratá-los como filhos – mas tendo em cebe. “Hoje tenho três filhas, e a família tante aprendizado. Algo que essas famí- mente que é uma situação temporária, vai aumentar no futuro”, afirma a mãe. lias do coração têm de sobra. Sorria27_conviver.indd 25 23/07/12 18:40