1. Leia ao som de: https://www.youtube.com/watch?v=JnLULIGekIA
Ainda não encontrei..
Viver de ponte aérea traz novas perspectivas do que é partida e do que é chegada.Há alguns meses
moro na capital e chegar no interior é sempre uma sensação diferente.Antes casa,agora visita. Esse
deslocamento de lugares e pessoas me fezver que o eixo, claro e centrado, sou eu.E que os motivos
que me fizeram mudar de cidade talvez tenham sido outros além dos habituais que já contei por aí. Nessa
semana,por exemplo,tive uma dor de cabeça absurda e fui questionado pelas pessoas sobre a troca da
vida calma no interior pela vida agitada na capital. Disse que era por estudos.Mas não é. Nunca é só por
isso.A gente muda porque algo chama por isso.
Vazio é algo normal quando se busca algo,mas eu sinto uma espécie de aflição e angústia quando deixo
as rodoviárias, seja de interior ou capital, que tento explicar como ânsia.Sou ansioso,sempre fui.
Ansiedade era o primeiro dos problemas que meu professor e fisioterapeuta percebia.Desconta na
cerveja, certo? Desconto.A balança também sente sempre.
Paro pra pensar sobre a busca.Acho que todo mundo busca por alguma coisa e a gente espera que seja
a resposta da agonia que bate às 6h da manhã quando nós estamos acordando ou que complemente
aquele olhar meio vago do almoço de domingo.E de um tempo pra cá eu tenho me colocado sob a
perspectiva da gratidão pelas coisas que o destino tem trazido,pelas mudanças enormes e pelo
crescimento espiritual que nem pareço eu.Eu que só reclamo,que só procrastino,que finjo que não dá
tempo,logo eu ando agradecendo mais do que reclamando. Agradeço,mas continuo sentindo a falta.
Pensei em morar bem longe, mas não dá.Por grana e por planos.Tenho que ficar por perto por alguns
anos.Pensei em me mudar pro Sul,mas e se o frio me congelar de vez? Espero mais um pouco,A
capital tem me feito bem.Tem me deixado um pouco mais ágil e um pouco mais duro.Também ganhei
espinhas e a minha pele está péssima,cara,se te contasse como a gente envelhece em poucos meses,
você acreditaria que são as experiências e não os anos que contam.A mudança também me fezgrudar
mais na minha família e eu sinto que o apego dessa vez é mais forte,porque distâncias evidenciam laços
que a gente precisa.
O meu maior incômodo como jovem estressado,afobado e ansioso é no amor.Vivo às turras com o meu
lado racional dizendo que não dá agora, que não é tempo,que não é hora de dar um esbarrão na rua e
escolher ficar.Tenho me decepcionado tanto – não com alguém,mas com o destino e com o acaso -,
porque achava que mudar de ares me traria pessoas novas,gente pra mudar meu tipo de vida e sair dos
meus romances idiotas que falharam.Fuén.Os romances daqui também não deram em nada,aliás,mal
saíram da concepção de romances imaginários.E a minha ânsia irracional de passar meus finais de
semana jogado numa rede,abraçado e com um labrador aos pés,ou jogando vídeo game,ou assistindo
jogo com alguém se afasta da realidade cada vez mais.Tá,não é pra tanto, é engraçado,confesso.E
seria mais ainda se não martelasse,se eu não fizesse planos pra mudar daqui a um tempo ou visitar um
lugar diferente em busca de novos encontros e de respostas.
Eu ainda não sei o que eu quero fazer da vida, nem sei quem eu quero encontrar por aí. Se soubesse,as
coisas poderiam ser um pouco mais comedidas – e eu também.Geminiano que sou,vivo observando e
2. torcendo pra achar algo que complemente um pouco essa angústia.Pode ser carência provocada pela
passagem súbita pelo Rio e um abraço resolve,mais cedo ou mais tarde.Ou pode ser a extensão da
pergunta que eu tenho me feito. Continuo sem respostas mas,hoje,nesse saguão de rodoviárias vazias,
percebo que não adianta fugir quando o problema está aqui dentro.Nem interior,nem capital,nem o outro
extremo do mundo resolveriam.Eu ainda não encontrei o que tenho procurado.Só isso.