Muitos brasileiros rejeitam a Copa do Mundo devido aos seus altos custos que excederam 30 bilhões de reais, enquanto problemas de infraestrutura permanecem. Os protestos contra a Copa começaram em 2013 durante a Copa das Confederações e aumentaram devido à falta de prioridade dada à educação e saúde em vez de grandes eventos esportivos. Uma pesquisa mostra que 55% dos brasileiros acreditam que a Copa trará mais prejuízos do que benefícios para o país.
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A rejeição do Brasil à Copa do Mundo José Manuel
Almendros
Cerca de 55% dos brasileiros reprovam um
Mundial cujo custo total ultrapassa 30
bilhões de reais
Nos últimos anos, o Brasil tem se tornado um
ator internacional ativo e protagonista. Hoje, o
país é a sétima maior economia do mundo. Uma
nação poderosa, avançada no setor de
biotecnologia e rica em matérias-primas.
Paralelamente ao seu crescimento, se
desenvolveu um descontentamento generalizado
na sociedade, cansada de corrupção, da
insegurança e de um aumento continuo da
inflação.
Nesse cenário, diante dos quase dois milhões de
pessoas que vivem jogadas nas ruas, tem
surgido uma nova classe média com maior
poder de compra, inquieta e mais exigente.
Os protestos começaram há quase um ano apôs
um aumento de 20 centavos, depois suspenso,
no preço da passagem do transporte público em
São Paulo. Até 1,2 milhão de pessoas tomaram
a Avenida Paulista para protestar.
As manifestações se voltaram contra a Copa das
Confederações e desde então envolve a Copa do
Mundo, que começa em 12 de junho. Assim, o
Brasil, um país que ama a bola, agora rejeita o
Mundial.
O problema é o dinheiro que foi investido. As
obras dos 12 estádios que sediarão jogos,
estimadas inicialmente em 2,4 bilhões de reais,
já ultrapassam 8 bilhões de reais. Um
investimento total superior aos da Alemanha em
2006 e África do Sul em 2010 juntos.
Apesar de o Governo tentar disfarçar, o
desconforto é evidente. Agora mesmo parece
controlado, mas basta com caminhar por alguma
destas cidades para encontrar mensagens
contrárias ao evento. A indignação se manifesta
tanto em cartazes na rua "Nāo vai ter copa"
quanto na conversa de qualquer boteco. “É a
Copa da elite, da FIFA. Existem outras
prioridades”.
O orçamento para o torneio supera os 30 bilhões
de reais. É o maior gasto da história das Copas,
10% a mais do que o inicialmente estipulado.
No entanto, persistem problemas de
infraestrutura em todo o país. Os projetos de
mobilidade urbana, indispensáveis em um
estado em que o tráfego é um problema
endêmico, quase não avançaram.
Os aeroportos estão inacabados e colapsam
facilmente. O preço dos serviços subiu 8,75%
em 2013, enquanto o desperdício de dinheiro
público enerva a população, que exige mais
recursos para a educação e a saúde.
Neste ano, os protestos não pararam. Mas, a
participação da população diminuiu
consideravelmente. A causa do declínio dos
participantes não é outro senão a violência.
Durante os eventos da Copa das Confederações
de 2013, o grupo Black Bloc se infiltrou entre
os manifestantes e impôs seu discurso
anarquista com a queima de placas, ataques a
bancos e confrontos diretos com a polícia. A
maioria das pessoas quer se distanciar.
A segurança é um dos pontos que mais
preocupa o Governo brasileiro, que concebeu
um esquema complexo que integra as 12
cidades-sede da Copa do Mundo e no qual
participarão 180.000 agentes, um número
recorde.
Portanto, o grande conflito está dentro de casa.
Com a eleição presidencial em 5 de outubro e os
Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro em 2016, a
popularidade de Dilma despencou. A Copa do
Mundo e as Olimpíadas vão exigir uma despesa
total de 60 bilhões de reais. Em contraste, o
impacto econômico será limitado, de acordo
com um relatório da Moody’s. Dos 600.000
turistas esperados, a expectativa caiu pela
metade. Só os hotéis, o comércio e a
alimentação vão se beneficiar por um breve
período.
Mas para a FIFA é um bom negócio. Até agora,
suas receitas estão estimadas em 3,1 bilhões de
reais. Uma pesquisa recente do Instituto
Datafolha revela que 55% dos brasileiros
acreditam que o Mundial vai trazer consigo