1) Lizane Martins começou a fazer doces sem açúcar para o marido diabético e acabou abrindo um negócio chamado Ateliê Diet
2) Hoje ela abastece confeitarias e atende pedidos para festas, fazendo de 50 a 60 tortas por dia sem açúcar
3) Especialistas defendem que os negócios de oportunidade precisam de mais incentivos para se profissionalizarem e terem maior chance de sucesso
1. 10 Segunda-feira, 13 de julho de 2009
JCEmpresas & Negócios
Jornal do Comércio - Porto Alegre
Liberado para
diabéticos
com amor
Nativa de Pelotas, a meca O sucesso de trufas, bolos,
dos doces no Estado, Lizane tortas e musses foi instantâneo.
Martins prepara quitutes sem “Familiares e amigos me in-
açúcar para prazer da sua clien- centivaram a abrir um negócio,
tela diabética. A microempresá- largar o banco e me dedicar
ria também dá outra pista: seus aos doces”, lembra. Em 2007,
produtos da marca Ateliê Diet Lizane decidiu criar o Ateliê
são tão bons que mesmo quem Diet, que contou com suporte do
não tem a doença está sempre Sebrae-RS, ajustes da cozinha
consumindo alguma das delí- para se adequar a normas de
cias feitas em sua casa. saúde e registro da marca. Tam-
O negócio começou a ser fer- bém teve de desenvolver formas
FÁBIO MARTINS/DIVULGAÇÃO/JC
mentado há cerca de dez anos. de lidar com ingredientes ou
Em 1999, o marido de Lizane, encontrar matéria-prima para
Fábio, na época namorado, alcançar resultado de qualidade
descobrira que tinha diabetes. A o mais próximo possível de um
doença precipitou o casamento doce tradicional.
dos dois e também uma decisão: Conseguir colocação para
a microempresária faria em seu cardápio de dezenas de
casa os doces que o comerciante variedades de guloseimas sem Lizane começou a fazer doces para o marido, a receber
Fábio não podia nem sonhar adição de açúcar não foi difícil. encomendas e hoje elabora até 60 tortas por dia
em comer. “Ele cansou de comer Hoje ela abastece nove confei- limitações de quem vai consu-
creminhos diet em festas ou em tarias em Pelotas, Rio Grande e mir”, ressalta.
nossas saídas a restaurantes”, Porto Alegre, além de atender a A convivência com o diabe- Perfil do pequeno empreendedor
recorda a quituteira, que já pedidos para festas e consumo tes do marido rendeu lições e
tinha feito curso de culinária caseiro. Também já foi sondada a percepção de como é o com- ! POR NECESSIDADE
tradicional. para enviar produtos a Santa portamento da clientela. “As 28% dos empreendedores jovens (18 a 24 anos)
Para desenvolver as varieda- Catarina. “O problema é a con- pessoas com a doença são muito 100% têm renda de um a três salários mínimos
des, Lizane buscou consultoria servação, pois são todos feitos desconfiadas. Estão sempre 60% têm nível de escolaridade de quatro anos
de uma nutricionista. “Meu no dia”, justifica. fazendo teste para verificar se
40% são de serviços orientados ao consumidor
marido foi a cobaia. Tinha um O ritmo de produção do Ate- não houve alteração na taxa
enorme prazer ao ver a alegria liê, comandado exclusivamente de açúcar do sangue”, explica a ! POR OPORTUNIDADE
e satisfação que ele tinha ao por Lizane, é intenso. A rotina microempresária. A atenção aos 29% dos empreendedores jovens (18 a 24 anos)
poder consumir os produtos”, inclui jornada entre 8h e 1h no consumidores é proporcional. 33% têm renda de um a três salários mínimos
assinala a dona do Ateliê Diet. preparo de encomendas. São 50 Lizane está sempre pronta a ir 40% têm nível de escolaridade de cinco a 11 anos
Os colegas de trabalho - ela era a 60 tortas por dia, por exemplo. para a cozinha para tornar re- 44% dos empreendimentos são serviços orientados ao
prestadora de serviço da Caixa “Faço tudo com muito prazer. alidade o desejo de última hora consumidor
Econômica Federal - também. Cada doce é individual. Sei das de um diabético por um doce. FONTE GEM BRASIL
Desa!io é elevar o grau de empreendedorismo
Entidades e profissionais ligados ao desenvolvendo atividades com menos de mortalidade dos negócios. da Federação das Indústrias do Paraná,
fomento e suporte de empreendedores três anos de vida, a etapa decisiva que O desafio, neste último caso, é agregar mostra que em 2008 o País gerou dois
defendem que os negócios de oportuni- indicará a sobrevivência de uma empresa. ao esforço de abrir uma empresa suporte novos empreendedores por oportunidade
dade devem receber mais incentivos e Outra medida sugerida: corrigir proble- técnico e de gestão que transforme o perfil para cada um por necessidade. Até 2007,
recursos para profissionalização. Hoje mas de gestão em iniciativas surgidas da em oportunidade, cuja marca registrada é a proporção era inversa.
o Brasil tem 14,6 milhões de pessoas necessidade, o que reduziria o índice de o maior êxito e foco em produtos e serviços O levantamento mostrou ainda que
com mercado promissor. O pesquisador a escolaridade, o nível de renda e o in-
ANA PAULA APRATO/JC
do Instituto Brasileiro de Qualidade e vestimento são sempre mais elevados
Produtividade (IBQP) e integrante da no primeiro caso. “Com isso, tem muito
coordenação do projeto GEM no Brasil, mais chance de dar certo”, conclui Bastos
Paulo Alberto Bastos Junior, traduz: “Me- Junior. “Uma das principais causas da
lhorar a qualidade do empreendedorismo mortalidade dos negócios é justamente
brasileiro é conseguir chegar ao empresá- a baixa qualificação profissional, pessoal
rio por necessidade e capacitá-lo”. e educacional.” O superintendente do
Para isso, Bastos defende trabalho Sebrae-RS, Marcelo Lopes, projeta mais
coordenado entre sindicatos, instituições investimentos em capacitação para asse-
financeiras e de apoio a pequenas e mi- gurar a pulverização de empreendedores
croempresas e até agências do Sistema no Estado e sua qualificação. Serão R$ 11
Nacional de Emprego (Sine). “Tem de milhões a mais este ano para financiar
levar informação, com ferramentas mais cursos, consultorias e palestras.
fortes.” A pesquisa do GEM, que tem Entre os planos, está a ampliação de 20
apoio do Serviço Brasileiro de Apoio às para 60 módulos em 2009 do Empretec,
Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e oficina que alcança ferramentas para
iniciantes. Gilca Marchezan Bellaguarda,
Bastos Junior defende trabalho o da E-saberes Consultoria e Treinamento,
coordenado entre sindicatos, ins!tuições ressalta que as ações devem corrigir de-
Þnanceiras, de apoio a pequenas e ficiências que se repetem em negócios. A
microempresas e agências do Sine consultora identifica falta de planejamen-
to e foco superlativo em operação.