O documento discute conceitos de intertextualidade como paráfrase e paródia. A paráfrase reafirma as ideias do texto original enquanto a paródia critica ou satiriza o texto de referência de forma humorística.
2. INTERTEXTUALIDADE
MUITAS VEZES, AO LERMOS UM TEXTO LEMBRAMOS DE OUTRO, O QUE CAUSA UM
EFEITO QUE FOI PROPOSTO PELO AUTOR.
QUANDO UM TEXTO RETOMA OUTRO, ELE TANTO PODE REITERAR COMO
SUBVERTER AS IDEIAS PRESENTES NO TEXTO ORIGINAL, OU SEJA, O AUTOR UTILIZA-O
COM O OBJETIVO DE APOIAR OU DE DIZER ALGO TOTALMENTE DIFERENTE DO QUE FOI
DITO NO OUTRO TEXTO, DE CRITICAR SEU PONTO DE VISTA, SUA VISÃO DE MUNDO.
PARÁFRASE: O TEXTO REAFIRMA O QUE TEMOS NO TEXTO EM REFERÊNCIA.
PARÓDIA: O TEXTO CRITICA, SATIRIZA, IRONIZA, DEBOCHA DO TEXTO REFERÊNCIA.
QUANTO MAIOR NOSSA BAGAGEM DE LEITURA, MAIOR A CAPACIDADE DE PERCEBER
RELAÇÕES INTERTEXTUAIS.
31/08/2020Jones L. Aires
3. Jacó e Raquel
Então pôs-se Jacó a caminho e foi à terra do povo do oriente;
E olhou, e eis um poço no campo, e eis três rebanhos de ovelhas que estavam deitados junto a ele;
porque daquele poço davam de beber aos rebanhos; e havia uma grande pedra sobre a boca do
poço.
E ajuntavam ali todos os rebanhos, e removiam a pedra de sobre a boca do poço, e davam de
beber às ovelhas; e tornavam a pôr a pedra sobre a boca do poço, no seu lugar.
E disse-lhes Jacó: Meus irmãos, donde sois? E disseram: Somos de Harã.
E ele lhes disse: Conheceis a Labão, filho de Naor? E disseram: Conhecemos.
Disse-lhes mais: Está ele bem? E disseram: Está bem, e eis aqui Raquel sua filha, que vem com as
ovelhas.
E ele disse: Eis que ainda é pleno dia, não é tempo de ajuntar o gado; dai de beber às ovelhas, e
ide apascentá-las.
E disseram: Não podemos, até que todos os rebanhos se ajuntem, e removam a pedra de sobre a
boca do poço, para que demos de beber às ovelhas.
Estando ele ainda falando com eles, veio Raquel com as ovelhas de seu pai; porque ela era
pastora.
4. E aconteceu que, vendo Jacó a Raquel, filha de Labão, irmão de sua mãe, e as ovelhas de Labão,
irmão de sua mãe, chegou Jacó, e revolveu a pedra de sobre a boca do poço e deu de beber às
ovelhas de Labão, irmão de sua mãe.
E Jacó beijou a Raquel, e levantou a sua voz e chorou.
E Jacó anunciou a Raquel que era irmão de seu pai, e que era filho de Rebeca; então ela correu, e o
anunciou a seu pai.
E aconteceu que, ouvindo Labão as novas de Jacó, filho de sua irmã, correu-lhe ao encontro, e
abraçou-o, e beijou-o, e levou-o à sua casa; e ele contou a Labão todas estas coisas.
Então Labão disse-lhe: Verdadeiramente és tu o meu osso e a minha carne. E ficou com ele um mês
inteiro.
Depois disse Labão a Jacó: Porque tu és meu irmão, hás de servir-me de graça? Declara-me qual será
o teu salário.
E Labão tinha duas filhas; o nome da mais velha era Lia, e o nome da menor Raquel.
Lia tinha olhos tenros, mas Raquel era de formoso semblante e formosa à vista.
E Jacó amava a Raquel, e disse: Sete anos te servirei por Raquel, tua filha menor.
Então disse Labão: Melhor é que eu a dê a ti, do que eu a dê a outro homem; fica comigo.
Assim serviu Jacó sete anos por Raquel; e estes lhe pareceram como poucos dias, pelo muito que a
amava.
5. E disse Jacó a Labão: Dá-me minha mulher, porque meus dias são cumpridos, para que eu me
case com ela.
Então reuniu Labão a todos os homens daquele lugar, e fez um banquete.
E aconteceu, à tarde, que tomou Lia, sua filha, e trouxe-a a Jacó que a possuiu.
E Labão deu sua serva Zilpa a Lia, sua filha, por serva.
E aconteceu que pela manhã, viu que era Lia; pelo que disse a Labão: Por que me fizeste isso?
Não te tenho servido por Raquel? Por que então me enganaste?
E disse Labão: Não se faz assim no nosso lugar, que a menor se dê antes da primogênita.
Cumpre a semana desta; então te daremos também a outra, pelo serviço que ainda outros sete
anos comigo servires.
E Jacó fez assim, e cumpriu a semana de Lia; então lhe deu por mulher Raquel sua filha.
Gênesis 29:1-28
6. PARÁFRASE
Sete anos de pastor Jacob servia
Labão, pai de Raquel, serrana bela;
mas não servia ao pai, servia a ela,
e a ela só por prêmio pretendia.
Os dias, na esperança de um só dia,
passava, contentando-se com vê-la;
porém o pai, usando de cautela,
em lugar de Raquel lhe dava Lia.
Vendo o triste pastor que com enganos
lhe fora assim negada a sua pastora,
como se a não tivera merecida;
começa de servir outros sete anos,
dizendo: - Mais servira, se não fora
para tão longo amor tão curta a vida.
Luís de Camões
31/08/2020Jones L. Aires
7. Olavo Bilac
“Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...
E conversamos toda a noite, enquanto
A via láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.
Direis agora: “Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?”
E eu vos direi: “Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas.”
31/08/2020Jones L. Aires
8. PARÓDIA
Ouvir panelas
Barão de Itararé
Ora! – direis – ouvir panelas! Certo
Ficaste louco... E eu vos direi, no entanto,
Que muitas vezes paro, boquiaberto,
Para escutá-las pálido de espanto.
Direis agora: – Meu louco amigo,
Que poderão dizer umas panelas?
O que é que dizem quando estão contigo
E que sentido têm as frases delas?
E direi mais: – Isso quanto ao sentido,
Só quem tem fome pode ter ouvido
Capaz de ouvir e entender panelas.
9. Otávio Bilóca
... Ora direis: “Beber cerveja, certo
és louco ou besta!” e eu vos direi, no entanto,
que bebo e quando bebo fico esperto
e fico esperto e bêbado de encanto.
E bebo sempre, dia e noite, enquanto
no bolso encontro um NICOLAU*, e aberto
encontro um restaurante em qualquer canto,
onde se beba, seja longe ou perto.
Direis agora: “Debochado amigo,
que cerveja é a que os nervos te sacode?
Qual preferes? Qual bebes sem perigo?”
Eu bebo da CULBACHER** que espumeja,
pois só quem bebe da CULBACHER pode
dizer que bebe da melhor cerveja!...
* Apelido de uma nota de dinheiro dos anos 30...40... no Rio Grande do Sul.
** Marca da melhor cerveja do Rio Grande do Sul, em meados de 1900.