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● SEGUNDO CADERNO O GLOBO Sábado, 3 de dezembro de 2011
PERFIL
Destino musical
escrito nas estrelas
Dani Black estreia em disco aos 23 anos com as bênçãos da mãe, Tetê Espíndola, e de colegas como Gadú, Ney e Zélia
Simone Marinho
Silvio Essinger DANI BLACK,
silvio.essinger@oglobo.com.br que faz show
N
o começo, tinha gen- na próxima
te que ouvia o nome,
achava que ele era quinta-feira
cantor de black mu- no Studio RJ,
sic e imaginava um negro com
dois metros de altura e um bai- começou a cantar
ta cabelo afro. E aí, quando aos 7 anos,
aparecia o tal do Dani Black,
era aquela decepção. venceu um
— Um cara magrinho, mirra- festival aos 13
do e branquelo — conta o ga-
roto de 23 anos, cujo nome an- e iniciou carreira
da em alta na MPB. na noite
Djavan e Lenine o citam em
entrevistas; Ney Matogrosso vai paulistana aos
gravar sua “Oração”; Maria Ga- 18: elogios de
dú registrou duas músicas suas
no disco que está prestes a lan- Lenine e Djavan
çar; e Zélia Duncan é sua parcei-
ra. Compositor, cantor e instru-
mentista, ele está lançando seu
primeiro disco, batizado apenas
de “Dani Black”, cujo repertório
apresenta na próxima quinta-fei-
ra, dia de seu aniversário, em
show no Studio RJ.
O sobrenome, é bom expli-
car, não foi escolha. Daniel
Espíndola Black é filho da
cantora Tetê Espíndola com o
compositor Arnaldo Black —
autor, junto com Carlos Ren-
nó, de “Escrito nas estrelas”,
canção que lançou Tetê ao es-
trelato ao vencer, em 1985, o
Festival dos Festivais da TV
Globo.
— Dani é o filho do tesão
dessa música — conta a mãe.
— Quando fazia shows, grávi-
da, eu o sentia na barriga, ba-
tendo o pezinho no ritmo.
Fora a convivência com os
pais em São Paulo, Dani ainda
passou a infância indo todo
mês de julho, nas férias, para
Campo Grande, no Mato Gros-
so do Sul, onde encontrava os
tios e primos da família Espín-
dola. Todos eles, músicos.
— Eu cresci assim, debaixo
dos pianos, em volta das cra-
violas e violões — conta ele,
que, aos 7 anos, começou a
cantar e, aos 9, entrou para as
aulas de violão.
James Taylor mirim
Nessa época, Tetê e Arnaldo
tinham que recorrer a amigos
para tomar conta de Dani nas
noites em que saíam para na-
morar. Um deles era justamen-
te um cantor que fora para São
Paulo tentar a sorte na carrei-
ra: o paraibano Chico César.
— O Dani se divertia com as
minhas músicas. Quando o re-
encontrei, adolescente, fiquei
de queixo caído com suas can-
ções — diz Chico, que recen-
temente chamou o jovem ami-
go para participar da gravação
de seu novo CD e DVD, “Aos vi-
vos agora”.
Já em “Dani Black”, o rapaz
“
retribuiu a amizade e a influên-
cia, gravando “Comer na mão”,
uma composição de Chico.
Ainda menino, Dani conti- eu acabei de fazer!’ E eu: ‘É? rapaz, que achou a música a cantora Zélia Duncan.
nuou fazendo das suas. Aos 11 Olha então o que eu acabei de cara do cantor, seu conhecido — Dani está acostumado a
anos, participou algumas ve- roubar!’ ‘Linha tênue’ é feliz, é desde criança e velho cliente todo tipo de timbres e sons. E
zes do programa de TV “Gente irônica. O Dani tem essas vá- das canções dos Espíndola. desliza com naturalidade o
inocente” — numa delas, foi rias ondas”, diz Gadú no vídeo — Dani me mostrou várias seu canto e sua guitarra por la-
um James Taylor mirim, can- de apresentação do CD. músicas, mas, quando ouvi birintos macios e surpreen-
tando e tocando violão no su- O Dani se divertia com as minhas músicas. Ney Matogrosso, por sua vez, “Oração”, vi que era a que eu dentes saídas — elogia Zélia.
cesso “You’ve got a friend”. escolheu uma canção que Dani tinha que gravar — diz Ney. E agora é a hora da verdade
Dois anos depois, ele compôs Quando o reencontrei, adolescente, fiquei fez durante as gravações de seu Entusiasta da geração da para Dani. Seu show no Studio
sua primeira canção, “Beija-me”. próprio disco: “Oração”. MPB surgida nos anos 1990, RJ será o primeiro com o disco
E resolveu seguir o caminho da de queixo caído com suas canções — Eu estava ansioso, não Dani Black realizou um sonho já nas lojas. A ansiedade, mais
mãe e do pai, inscrevendo-a num Chico César, cantor e compositor sabia quando ia terminar o neste ano ao se tornar parcei- uma vez, não o deixa em paz.
festival — o de Boa Esperança, disco.... Então fiz essa música ro, numa canção ainda sem tí- E, nessas horas, quem paga o
“
em Minas Gerais. E assim, aos 13 para abrir os canais — diz o tulo, de um de seus ídolos: a pato é a família, como conta o
anos, aquele menino que mal es- Black pai, Arnaldo:
treara nos palcos ganhou os prê- duas pessoas, mas também vam de coisas que não dava para — Tem vezes em que eu fico
mios de intérprete do júri e vo- para o lugar lotado. E ainda ti- acreditar que ele tivesse vivido. preocupado com tanta enca-
tação do público. nha que chamar a atenção de Maria Gadú também viu Dani nação do Dani. Ele inverte os
— Ali eu senti que estava todo mundo — diz. Black nesses tempos. No seu horários da casa, resolve to-
conseguindo me comunicar Quem o viu por lá foi o baixis- CD/DVD “Multishow ao vivo”, car às três da manhã, a vizi-
com as pessoas. E me apaixo- ta Marcelo Mariano. Ele se ani- de 2010, ela gravou com o can- nhança reclama... O pessoal fi-
nei por isso — diz Dani. mou tanto com o que viu que re- tor “Aurora”, uma das músicas ca de saco cheio!
Com 18 anos, então, o rapaz solveu produzir, na camarada- que ouviu por lá. E em “Mais Vivo para a composição, a cabeça está E Dani? Parece não estar
resolveu encarar a noite paulis- gem, um disco de Dani — esse uma página”, disco que sai nes- nem aí para a grita familiar.
tana no Ao Vivo, casa onde ca- que sai agora, três anos depois te mês, Gadú gravou mais duas: ligada 24 horas nisso. Vida pessoal, — Vivo para a composição,
biam cerca de cem pessoas. do início da gravação. “Axé acapella” (parceria com a cabeça está ligada 24 horas
— Toquei lá durante um — Ele era muito novo, mas ti- Luísa Maita) e “Linha tênue”. música, está tudo misturado nisso. Estou à disposição das
ano, toda semana, só as mi- nha umas letras muito maduras “Um dia, quando o Dani Dani Black fagulhas. Vida pessoal, músi-
nhas músicas. Tocava pra — conta Marcelo. — Elas fala- acordou, ele falou: ‘Olha o que ca, está tudo misturado. ■