O artigo discute três tópicos principais:
1) A paixão dos políticos pelo poder e como usam cargos para ganhos pessoais em vez de beneficiar a população.
2) Uma revolução tecnológica está ocorrendo e mudará a indústria, sociedade e valores humanos, mas poucos se preparam para isso.
3) As nações serão divididas em "supertecnológicas" e "subtecnológicas" dependendo de como lidarem com essas mudanças.
1. h
Sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012 OPINIÃO • 7
O GLOBO
Futuro LUIZ GARCIA
previsível
TITO RYFF
A outra festa
B
rinde ao leitor: este espaço não in- ra usá-lo em benefício de todos nós. Vi- dos ficariam bem mais contentes se os
“É
muito difícil fazer pre- cluirá qualquer referência a certa sivelmente — mas, deve-se reconhecer, partidos exigissem de seus quadros, em
visões, sobretudo quan-
do se trata do futuro.” A
festa popular realizada nos pri- com exceções notáveis e meritórias — primeiro lugar e acima de tudo, tais e tais´-
autoria da frase é contro- meiros dias desta semana. Não para nele se refastelarem. programas, estas e aquelas prioridades.
vertida, embora muitos atribuam es- porque o autor seja um idoso senhor com No primeiro jornal depois do carnaval, Não é o que acontece. Anuncia-se, sim,
sa observação irônica a Niels Bohr, qualquer restrição à esfuziante celebra- noticia-se, com a devida ênfase, que parti- que aliados do Planalto, como PDT e PR,
um dos pais da física quântica. Sem ção de ritmo e alegria que encanta turistas dos aliados do Planalto têm sérias cobran- têm outro tipo de pauta. O primeiro cobra
dúvida, prever o futuro não é tarefa
fácil. Ainda assim, é ele, o futuro, do mundo todo. Ou não apenas por isso. ças. Não reclamam por ações e progra- a vaga de ministro do Trabalho. Se al-
quem dita o destino de indivíduos, Trata-se essencialmente do humilde re- mas em benefício da coletividade. Regis- guém já esqueceu, a vaga existe porque
povos e nações. Melhor tentarmos conhecimento de que tal senhor — por tre-se que nenhum deles critica ou faz mu- foi necessário abrir mão dos serviços do
nos preparar para o que ele pode defeito de educação ou incapacidade físi- xoxo em relação a esse tipo de iniciativa pedetista Carlos Lupi. Pela simples razão
nos reservar, mesmo sem saber,
com certeza, do que se trata. ca lamentável — não dispõe de pé ou ou- oficial. Mas não é disso que tratam — e, que trabalhava mais por seus próprios in-
Mas não é preciso invocar os orá- vido para dançar ou cantar como aconte- sim, de aumentar o que se convencionou teresses do que pelos nossos.
culos para vislumbrar, neste come- ce com boa parte da população nativa e, chamar de “mais espaço no governo”. Talvez devido à incômoda natureza da
ço de século, a onda crescente de ao que parece, com todos os visitantes A questão do espaço nada tem a ver com queda de Lupi, seus colegas de partido
uma formidável revolução tecnoló-
dos demais países e continentes. programas e projetos do interesse dos pa- não cobram a pasta: falam apenas em “re-
gica. Os progressos da nanotecnolo-
gia, da robótica, da engenharia gené- Portanto, neste espaço, para satisfa- gadores de impostos. E sim, simplesmente aproximação”, embora um deles tenha
tica, da biotecnologia e do que se ção do leitorado ranzinza, falemos de — mas tristemente —, de mais oportuni- definido a situação de forma um tanto
convencionou chamar de Tecnolo- assunto sério. E, claro, chatíssimo. dades para a conquista de poder político. mais direta: “Se você me convida para o
gia da Informação e da Comunicação Quanto mais não seja, porque recorren- Não vamos exagerar: o uso “pessoal” do baile, é porque quer dançar comigo.”
— a combinação da informática, da
eletrônica e das telecomunicações te ao longo dos anos e dos séculos: a pai- poder não não exclui, de forma alguma, a Fica combinado, então: agora, depois
— vão impactar não apenas a produ- xão dos políticos pela ocupação e o uso prestação de serviços à comunidade. Por do carnaval, recomeça a festa de sempre.
ção de bens e serviços, mas vão pôr do poder público. Ostensivamente, pa- outro lado, os pagadores acima lembra- Já estamos com saudade da Sapucaí.
à prova, também, nossos valores e a
forma de nos relacionarmos na vida
social. Mais do que isso, é o cruza-
Prepotência
Cavalcante
mento entre esses diferentes eixos
do conhecimento científico e tecno-
lógico que abrirá caminho para um
“admirável mundo novo” que não
conseguimos sequer imaginar. A na- administrativa
notecnologia, associada à engenha-
ria genética e à informática, revolu- OTAVIO LEITE
cionará a medicina. Novos materi-
A
ais, mais baratos, resistentes e, derrubada do elevado da Peri-
quem sabe, facilmente biodegradá- metral ofende ao bom-senso e
veis surgirão da convergência da na- colide frontalmente com o prin-
notecnologia e da biotecnologia. A cípio básico da razoabilidade
biotecnologia, a engenharia genéti- dos gastos públicos. Afinal, aplicar cer-
ca, a nanotecnologia e a informática, ca de 1,5 bilhão de reais no “bota-abai-
se unirão para criar super-humanos, xo” e, como alternativa, construir um
com desempenho físico e mental túnel subterrâneo — em área aterrada,
muito superior ao dos seres huma- com lençol freático raso, o que requer
nos de hoje. E, como não podia dei- caríssimas soluções técnicas — justa-
xar de ser, essas novas tecnologias mente numa via consolidada e indis-
vão produzir uma revolução indus- pensável constitui-se, a rigor, num delí-
trial mais abrangente e tão, ou mais, rio.
importante, em seus efeitos, do que São cerca de 100 mil veículos/dia que
aquela que mudou os destinos da por lá trafegam para acessar a Avenida
humanidade no alvorecer e decorrer Brasil, a Ponte Rio-Niterói, bem como,
do século XIX. Ainda mais preocu- no percurso contrário, outros milhares
pante é o fato de que essa nova revo- que se deslocam para o Centro da cida-
lução industrial terá forte impacto de do Rio, ao Aterro do Flamengo. To-
na indústria bélica e, portanto, nas dos já enfrentam engarrafamentos em
formas de controle e dominação mi- muitos horários, e serão condenados
litar. ao mesmo dissabor — desta vez no
Estamos nos preparando para es- subsolo, significando mais um cavalar
Quem te viu, quem te vê
sas transformações? A educação em fermento para a neurose urbana. Além,
nossas escolas, a convivência social do caos durante a obra.
e a nossa mídia valorizam, como de- Ocorre que essa “empreitada”, além
veriam, o conhecimento científico e do mais, contém graves improprieda-
tecnológico? Nossas empresas, uni- des jurídicas e administrativas que
versidades, centros de pesquisa e NELSON MOTTA vaiado pela esquerda universitária, tória. Pela visão do Zé Dirceu, fã de precisam ser consideradas. Não custa
governos interagem o suficiente pa- Caetano Veloso gritava em seu céle- Chico, os que são contra o aborto e a lembrar que o elevado foi construído,
N
ra trabalhar em conjunto pelo de- o tempo da ditadura, Chico bre discurso: “Se vocês forem em polí- favor da pena de morte e da maiori- substancialmente, no início dos anos
senvolvimento de inovações nesses Buarque era uma unanimida- tica como são em estética, estamos dade penal aos 16 anos são “de direi- 70, com recursos federais, em obra
novos domínios críticos do conheci- de nacional, ou quase. Até os feitos.” Os que hoje xingam Chico atu- ta”. Então a maioria da classe média executada pelo DER-GB, por delegação
mento? Já definimos, com clareza, generais-presidentes Costa e alizam as mesmas palavras. tão cortejada pelos políticos, que ele- do antigo DNER. Fora incluído no inti-
quais as áreas tecnológicas que são Silva e Garrastazu Médici aprecia- É um clássico da condição humana. geu um governo de esquerda, é “de tulado Plano de Linhas Expressas —
estratégicas para o nosso desenvol- vam as suas músicas mais líricas. É A inveja e o ressentimento que se direita” e não sabe? Progress, do Ministério dos Transpor-
vimento econômico e social e que, possível que alguns militares menos transformam em ódio irracional con- A ironia é que esta nova e imensa tes — com o objetivo inequívoco de fa-
por isso, serão consideradas priori- românticos e mais durões não gos- tra indivíduos vitoriosos, admirados classe média, alardeada como gran- cilitar o fluxo para a Ponte Rio-Niterói.
tárias na distribuição dos escassos tassem — mas suas filhas gostavam. por muita gente, que ganham dinhei- de vitória de governos progressistas, Toda essa operação foi respaldada
recursos públicos? Já construímos Hoje, apesar de viver um dos melho- ro com seu trabalho, que não têm pa- é cada vez mais conservadora, pelo por decretos, convênios e lei estadual.
uma matriz que relacione nossas ne- res momentos de sua carreira, em ple- trão nem comandante e podem viver instinto natural de manter suas con- Portanto, foi erguido em terreno fede-
cessidades e vocações econômicas na maturidade criativa, já com uma com liberdade e independência. Sem quistas recentes, casa, carro, consu- ral (da Marinha do Brasil), com verba
com o potencial de inovações des- obra monumental e lugar de honra na sequer ler o que escrevem sobre mo, emprego, com lei e ordem e sem federal, ficando para o ente estadual a
ses vetores do conhecimento cientí- nossa história, Chico, que sempre se eles. Para quem escreve, como mili- sobressaltos. E também gosta de Chi- competência para operar e manter os
fico e tecnológico que moldarão o acreditou amado, descobriu nos tante anônimo de uma engrenagem co Buarque. 5,5 km do elevado. Ainda hoje, figura
século XXI? Se já existem respostas blogs da internet que é (também) odi- coletiva, é a oportunidade para des- As paixões políticas passam, a obra no Plano Nacional de Viação do mes-
para essas perguntas, onde elas po- ado. Pelas milícias partidárias que carregar suas misérias e frustrações artística permanece. Não se afobe mo Ministério dos Transportes.
dem ser obtidas pelo povo brasilei- unem a ignorância e a intolerância pa- pessoais sobre o invejável invejado. não, que nada é pra já. A União ignora tudo isso? E quanto
ro? ra desqualificar uma obra e um artista Pena que ele não vai ouvir. ao volume de dinheiro público ali já in-
Niels Bohr que me desculpe, mas pelas suas opiniões politicas. Em 1968, A política é transitória e contradi- NELSON MOTTA é jornalista
vestido, vai se perder por decisão da
arrisco-me a parafraseá-lo: “é funda- Prefeitura do Rio? Quanto custaria, em
mental fazer previsões, sobretudo valores atuais , uma “nova perimetral”?
Uma questão de qualidade
quando se trata do futuro.” Por isso, E, para complicar ainda mais o ca-
atrevo-me a afirmar que a revolução so, vale lembrar que a tal demolição,
que já está em curso separará, de no fundo será custeada com recursos
maneira irremediável, as nações em do FGTS, utilizados pela CEF, ao ad-
duas categorias distintas, que não quirir da Prefeitura os tais Certifica-
serão mais aquelas tradicionais, de- PEDRO DUTRA manados todos no exercício largo do saudável desafio de ampliar a oferta dos de Potencial Adicional de Cons-
nominadas, no passado, de “desen- poder. Nesse contexto singular, o diri- dos serviços a preços mais competi- trução (Cepacs). Com efeito, vem a
P
volvidas” e “subdesenvolvidas’, mas rivatizar é transferir a titulari- gismo estatal, impositivo ao investi- tivos. De outro lado, os serviços ae- pergunta que não quer calar : será so-
que poderíamos chamar de “super- dade de empresa estatal a aci- dor privado e tutelar do consumidor, roportuários, cujos usuários sequer cialmente justo e adequado utilizar
tecnológicas” e “subtecnológicas”. onista privado. Concessão é a é identificado à defesa do interesse dispõe de um call center junto à con- 1,5 bilhão de uma fonte pública que
As “subtecnológicas”, lamento di- exploração por terceiro, em- público, desacreditada a ação do Esta- cessionária estatal deles, desvelam, deveria priorizar investimentos em
zer, serão nações de segunda classe. presa privada ou estatal, de serviço do, por meio de órgãos técnicos e in- dramaticamente, a situação da infra- habitação popular, para financiar o
China e Índia, nossas companheiras que a Lei atribuiu à União prestar. E dependentes do governo, para regular estrutura do país. prazer estético contido na derrubada
nos Brics, já anteviram as ameaças e controle é o poder de o acionista diri- os mercados e neles reprimir o abuso Os empedernidos defensores do di- de um viaduto?
as oportunidades futuras e buscam gir o destino da empresa, exercido do poder econômico. rigismo estatal deveriam indagar ao A recuperação urbana (social e eco-
o caminho para transformar-se em isoladamente ou em conjunto. O Exe- Em outra perspectiva, a presidente usuário desses dois serviços qual nômica) da região portuária do Rio é
nações “supertecnológicas”. Sendo cutivo retirou da Infraero con- da República quer nomear apenas melhor os atende: o privado, sob a um tema relevante. Em linhas gerais, o
que a Índia, por enquanto, dispõe de cessões de três aeroportos, leiloou- técnicos para dirigir aqueles órgãos, (reforçada) intervenção regulatória projeto Porto Maravilha tem esse pro-
bem menos recursos do que o Brasil. as, e as outorgou a empresas priva- e esse propósito surge como um fa- do Estado na forma da Lei, ou a pres- pósito, mas esbarra na prepotência ad-
Apressemo-nos, pois. das a esse fim constituídas, das cho de racionalidade na administra- tação estatizada desses serviços; em ministrativa, que ignora a opinião pú-
quais, todavia, a mesma Infraero de- ção federal. E amparado pelos núme- resumo: indagar aos 250 milhões de blica — cada vez mais contrária à der-
TITO RYFF é economista, professor da tém 49% do capital e participa do ros da experiência: desde a privatiza- donos de celulares se eles preferiri- rubada. A extinção do elevado não po-
UniverCidade e diretor de Relações controle delas. No novo modelo de ção em 1998, foram investidos cerca am contar com o padrão de qualida- de ser um pressuposto para o soergui-
Institucionais da Rede de Tecnologia e concessão reponta o dirigismo esta- de 250 bilhões de reais nas telecomu- de dos serviços aeroportuários. mento da região.
Inovação do Rio de Janeiro. tal, redivivo em outros mercados. nicações e, em regime de crescente Não entre partidos, hoje o debate Objetivamente, a permanência do
O fundo autoritário de nossa cultura de concorrência entre prestadores, o se trava entre a racionalidade admi- elevado atende ao interesse dos milha-
política, que articula o mando do Exe- número de acessos a esses serviços nistrativa e o regressismo político. res de cidadãos que dele precisam.
O GLOBO NA INTERNET cutivo na vida nacional, atraiu aos pulou de 14 para mais de 140 por 100.
OPINIÃO Leia mais artigos seus quadros tradicionais fração dos Hoje, o sucesso desse modelo impõe PEDRO DUTRA é advogado. E-mail: OTAVIO LEITE é deputado federal
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