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                                                                                                 OGLOBO



                                                                      HISTÓRIA
                                                                                                                                                                                                  Marcelo Carnaval




 Imigração
  seletiva
     Facilitar entrada de europeus e
     restringir a de negros é política
      recorrente na história do país
                                                                                     ARTE NAIF de Portugal: quadro Descobrimentos portugueses, de Luiza Caetano, em exposição realizada no Brasil

                                                                                                                  Michel Filho                                                                         Reprodução
            Roberta Jansen
        roberta.jansen@oglobo.com.br




 F
       acilitar a entrada de migrantes
       europeus e dificultar ou mes-
       mo impedir a de negros é uma
       política recorrente na História
 do Brasil, sustentam especialistas.
 Ao longo da última semana, o gover-
 no anunciou medidas para restrin-
 gir a migração de haitianos e, ao
 mesmo tempo, informou estar estu-
 dando formas de facilitar a vinda de
 trabalhadores qualificados proveni-
 entes de países da Europa.
   O projeto da Secretaria de Assun-
 tos Estratégicos (SAE) da Presidên-
 cia da República que visa a elaborar
 uma política nacional de migração
 tem por objetivo — como mostrou
 reportagem publicada no GLOBO




                                                                                                                                                                         “
 no domingo passado — propor um
 processo de imigração seletiva, que     EM BRASILEIA, no Acre, há duas semanas, haitianos fazem fila em unidade de saúde; no início do século, espanhois chegam ao país em foto histórica
 priorize a drenagem de                                                    Arquivo                                                                                 AP
 cérebros, mas estabele-
 ça limites para os estran-
 geiros que chegam fugin-
 do da pobreza. A ideia é
 reduzir a burocracia ho-
 je existente para os tra-
 balhadores mais qualifi-                                                                                                                                                A política de
 cados. A justificativa é
 econômica. Ao mesmo
                                                                                                                                                                         branqueamento faz
 tempo, o governo anun-                                                                                                                                                  parte da nossa
 ciou a restrição à entra-
 da de haitianos no país                                                                                                                                                 tradição
 também por questões
 econômicas. Serão con-                                                                                                                                                  JORGE DA SILVA
 cedidos somente 100
 vistos de trabalho por
 mês, uma forma de re-                                                                                                                                                   Acho que seria
 gular a entrada ilegal
 que vinha ocorrendo.                                                                                                                                                    interessante,
 Embora ninguém tenha
 falado em raça, para es-
                                                                                                                                                                         historicamente, se
 pecialistas, há preceden-                                                                                                                                               houvesse uma atitude
 tes históricos que pas-
 sam pela questão racial.                                                                                                                                                diferente em relação
   — O Brasil mantém a
 coerência histórica —                                                                                                                                                   à entrada de negros
                                         FAMÍLIA EUROPEIA de imigrantes em
 assinala o professor de História da
 Unicamp Sidney Chalhoub. — Não          1907 (acima). Ao lado, navio de
                                                                                                                                                                         no Brasil
 estou dizendo que os europeus de-
                                         migrantes haitianos nos EUA. Abaixo,                                                                                            SIDNEY CHALLUB
 vam ser tratados a pontapés. Mas
 acolher europeus e criar embaraços      japoneses chegam a São Paulo
 maiores para haitianos me parece                                                                                     Arquivo
 lamentável. Acho que todos deveri-                                                                                              indígenas estariam “extintos” no        ís 4 mil haitianos. A maioria já teve
 am ser tratados com generosidade,                                                                                               Brasil. Portanto, a ideia de barrar a   a sua situação legalizada.
 mas, se é para dar prioridade a al-                                                                                             entrada de africanos, ou melhor,          — Dizer que 4 mil haitianos é um flu-
 guém, vale lembrar que, no caso dos                                                                                             de negros, faz parte do processo.       xo migratório é bizarro, esse número
 haitianos, se trata de uma emergên-                                                                                             Lamentavelmente ainda tem gente         é muito baixo — afirma o professor de
 cia humanitária.                                                                                                                que pensa isso hoje.                    Antropologia da Unicamp Omar Ri-
   Em 1890, logo após a abolição da                                                                                                                                      beiro Thomaz. — O Brasil recebeu no

                                                                                                                                 Mais de 50 mil
 escravatura, uma lei tornou livre a                                                                                                                                     ano passado 50 mil estrangeiros, a
 imigração, “excetuados os indíge-                                                                                                                                       maioria portugueses, e isso não foi te-

                                                                                                                                 estrangeiros
 nas da África ou da Ásia”, os quais                                                                                                                                     ma de discussão, ao contrário, foi vis-
 “somente mediante autorização do                                                                                                                                        to como resultado do sucesso do pa-
 Congresso Nacional poderão ser ad-                                                                                                                                      ís, que agora está atraindo mão de
 mitidos”. Do século XVI ao XIX, cal-                                                                                            l O pesquisador Nei Lopes, especia-     obra qualificada. Mas não sabemos
 cula-se que 4,8 milhões de negros te-                                                                                           lista em estudos sobre os negros no     sequer se esses haitianos têm qualifi-
 nham sido trazidos ao Brasil como                                                                                               Brasil, concorda com Silva:             cação. Muitos têm curso superior e
 escravos. No entanto, com a proibi-                                                                                                — Essa ideia de "limpar", branque-   técnico e são alfabetizados em dois
 ção do tráfico e, depois, da própria                                                                                            ando, a sociedade brasileira ainda      idiomas (francês e creole). Não é por-
 escravidão, a ideia de receber os ne-                                                                                           permanece na cabeça de muita gen-       que são negros que vão virar favela-
 gros deixou de ser atrativa. Com is-                                                                                            te. Persiste, por exemplo, na propa-    dos. Quem disse que não são capazes
 so, abriram-se as portas para traba-                                                                                            ganda e na na mídia em geral, onde a    de arrumar um emprego?
 lhadores italianos, espanhóis e ale-                                                                                            presença afrodescendente é quase          O historiador Sidney Challub vai
 mães, num primeiro momento, e,          ves, autora de “Um defeito de cor”, ro-     Vargas, que, restringiu de maneira          sempre vista com estranheza — afir-     além, ele acha que por conta de
 mais tarde, também japoneses. Os        mance histórico sobre a escravidão          geral a entrada de imigrantes por           ma Lopes, fazendo uma ressalva. —       uma dívida histórica, o Brasil, mais
 portugueses, os primeiros estran-       no Brasil, concorda com o colega.           conta de suas políticas nacionalis-         Mas hoje, felizmente, pelo que eu       do que ninguém, deveria receber
 geiros a chegarem por aqui, tam-          — A imigração europeia se deu             tas, um decreto lei estabelecia que         sei, não existe nenhuma política de     bem os haitianos.
 bém continuaram vindo em diferen-       em um momento em que começava               “atender-se-á, na admissão dos              Estado no sentido dessa exclusão.         — Acho que seria interessante,
 tes levas migratórias.                  a se pensar um projeto de nação pra         imigrantes, à necessidade de pre-           Muito pelo contrário.                   historicamente, se houvesse uma
   — Na verdade, havia o medo de         o Brasil e uma identidade para o po-        servar e desenvolver, na composi-              Mesmo ainda sem a entrada em         atitude diferente em relação à entra-
 um grande fluxo de negros america-      vo brasileiro — afirmou. — Asiáti-          ção étnica da população, as carac-          vigor do plano para facilitar a vinda   da de negros no Brasil, se o governo
 nos, com o fim da guerra civil — ex-    cos foram aceitos apenas porque             terísticas mais convenientes da             de europeus, de janeiro a setembro      trabalhasse no sentido de dar opor-
 plicou Challub. — Havia o interesse     não houve interesse suficiente por          sua ascendência europeia”.                  do ano passado, o Ministério do         tunidade num país que sempre trou-
 do governo de trazer mão de obra        parte de europeus e porque esta-              — A política de branqueamento             Trabalho concedeu 51.353 autori-        xe os negros como escravos — de-
 europeia, trabalhadores brancos,        vam mais próximos do ideal de               faz parte da nossa tradição — sus-          zações de trabalho a estrangeiros,      fende Challub. — Seria uma oportu-
 não negros. Era uma política clara-     branqueamento do que os africa-             tenta o cientista político Jorge da         um aumento de 32% em relação ao         nidade histórica de tratar com gene-
 mente racista, que tinha por objeti-    nos, mesmo assim com grande re-             Silva, da Uerj. — João Baptista de          mesmo período do ano anterior.          rosidade negros que estão vindo
 vo o branqueamento da população.        serva e limitação através de cotas.         Lacerda previu, em 1911, em Lon-            Também de acordo com dados do           agora não como escravos mas em
   A pesquisadora Ana Maria Gonçal-        Em 1945, no governo de Getúlio            dres, que em 100 anos os negros e           governo, até agora entraram no pa-      busca de um trabalho. n

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Imigração seletiva no Brasil prioriza europeus

  • 1. 32 Sábado, 21 de janeiro de 2012 OGLOBO HISTÓRIA Marcelo Carnaval Imigração seletiva Facilitar entrada de europeus e restringir a de negros é política recorrente na história do país ARTE NAIF de Portugal: quadro Descobrimentos portugueses, de Luiza Caetano, em exposição realizada no Brasil Michel Filho Reprodução Roberta Jansen roberta.jansen@oglobo.com.br F acilitar a entrada de migrantes europeus e dificultar ou mes- mo impedir a de negros é uma política recorrente na História do Brasil, sustentam especialistas. Ao longo da última semana, o gover- no anunciou medidas para restrin- gir a migração de haitianos e, ao mesmo tempo, informou estar estu- dando formas de facilitar a vinda de trabalhadores qualificados proveni- entes de países da Europa. O projeto da Secretaria de Assun- tos Estratégicos (SAE) da Presidên- cia da República que visa a elaborar uma política nacional de migração tem por objetivo — como mostrou reportagem publicada no GLOBO “ no domingo passado — propor um processo de imigração seletiva, que EM BRASILEIA, no Acre, há duas semanas, haitianos fazem fila em unidade de saúde; no início do século, espanhois chegam ao país em foto histórica priorize a drenagem de Arquivo AP cérebros, mas estabele- ça limites para os estran- geiros que chegam fugin- do da pobreza. A ideia é reduzir a burocracia ho- je existente para os tra- balhadores mais qualifi- A política de cados. A justificativa é econômica. Ao mesmo branqueamento faz tempo, o governo anun- parte da nossa ciou a restrição à entra- da de haitianos no país tradição também por questões econômicas. Serão con- JORGE DA SILVA cedidos somente 100 vistos de trabalho por mês, uma forma de re- Acho que seria gular a entrada ilegal que vinha ocorrendo. interessante, Embora ninguém tenha falado em raça, para es- historicamente, se pecialistas, há preceden- houvesse uma atitude tes históricos que pas- sam pela questão racial. diferente em relação — O Brasil mantém a coerência histórica — à entrada de negros FAMÍLIA EUROPEIA de imigrantes em assinala o professor de História da Unicamp Sidney Chalhoub. — Não 1907 (acima). Ao lado, navio de no Brasil estou dizendo que os europeus de- migrantes haitianos nos EUA. Abaixo, SIDNEY CHALLUB vam ser tratados a pontapés. Mas acolher europeus e criar embaraços japoneses chegam a São Paulo maiores para haitianos me parece Arquivo lamentável. Acho que todos deveri- indígenas estariam “extintos” no ís 4 mil haitianos. A maioria já teve am ser tratados com generosidade, Brasil. Portanto, a ideia de barrar a a sua situação legalizada. mas, se é para dar prioridade a al- entrada de africanos, ou melhor, — Dizer que 4 mil haitianos é um flu- guém, vale lembrar que, no caso dos de negros, faz parte do processo. xo migratório é bizarro, esse número haitianos, se trata de uma emergên- Lamentavelmente ainda tem gente é muito baixo — afirma o professor de cia humanitária. que pensa isso hoje. Antropologia da Unicamp Omar Ri- Em 1890, logo após a abolição da beiro Thomaz. — O Brasil recebeu no Mais de 50 mil escravatura, uma lei tornou livre a ano passado 50 mil estrangeiros, a imigração, “excetuados os indíge- maioria portugueses, e isso não foi te- estrangeiros nas da África ou da Ásia”, os quais ma de discussão, ao contrário, foi vis- “somente mediante autorização do to como resultado do sucesso do pa- Congresso Nacional poderão ser ad- ís, que agora está atraindo mão de mitidos”. Do século XVI ao XIX, cal- l O pesquisador Nei Lopes, especia- obra qualificada. Mas não sabemos cula-se que 4,8 milhões de negros te- lista em estudos sobre os negros no sequer se esses haitianos têm qualifi- nham sido trazidos ao Brasil como Brasil, concorda com Silva: cação. Muitos têm curso superior e escravos. No entanto, com a proibi- — Essa ideia de "limpar", branque- técnico e são alfabetizados em dois ção do tráfico e, depois, da própria ando, a sociedade brasileira ainda idiomas (francês e creole). Não é por- escravidão, a ideia de receber os ne- permanece na cabeça de muita gen- que são negros que vão virar favela- gros deixou de ser atrativa. Com is- te. Persiste, por exemplo, na propa- dos. Quem disse que não são capazes so, abriram-se as portas para traba- ganda e na na mídia em geral, onde a de arrumar um emprego? lhadores italianos, espanhóis e ale- presença afrodescendente é quase O historiador Sidney Challub vai mães, num primeiro momento, e, ves, autora de “Um defeito de cor”, ro- Vargas, que, restringiu de maneira sempre vista com estranheza — afir- além, ele acha que por conta de mais tarde, também japoneses. Os mance histórico sobre a escravidão geral a entrada de imigrantes por ma Lopes, fazendo uma ressalva. — uma dívida histórica, o Brasil, mais portugueses, os primeiros estran- no Brasil, concorda com o colega. conta de suas políticas nacionalis- Mas hoje, felizmente, pelo que eu do que ninguém, deveria receber geiros a chegarem por aqui, tam- — A imigração europeia se deu tas, um decreto lei estabelecia que sei, não existe nenhuma política de bem os haitianos. bém continuaram vindo em diferen- em um momento em que começava “atender-se-á, na admissão dos Estado no sentido dessa exclusão. — Acho que seria interessante, tes levas migratórias. a se pensar um projeto de nação pra imigrantes, à necessidade de pre- Muito pelo contrário. historicamente, se houvesse uma — Na verdade, havia o medo de o Brasil e uma identidade para o po- servar e desenvolver, na composi- Mesmo ainda sem a entrada em atitude diferente em relação à entra- um grande fluxo de negros america- vo brasileiro — afirmou. — Asiáti- ção étnica da população, as carac- vigor do plano para facilitar a vinda da de negros no Brasil, se o governo nos, com o fim da guerra civil — ex- cos foram aceitos apenas porque terísticas mais convenientes da de europeus, de janeiro a setembro trabalhasse no sentido de dar opor- plicou Challub. — Havia o interesse não houve interesse suficiente por sua ascendência europeia”. do ano passado, o Ministério do tunidade num país que sempre trou- do governo de trazer mão de obra parte de europeus e porque esta- — A política de branqueamento Trabalho concedeu 51.353 autori- xe os negros como escravos — de- europeia, trabalhadores brancos, vam mais próximos do ideal de faz parte da nossa tradição — sus- zações de trabalho a estrangeiros, fende Challub. — Seria uma oportu- não negros. Era uma política clara- branqueamento do que os africa- tenta o cientista político Jorge da um aumento de 32% em relação ao nidade histórica de tratar com gene- mente racista, que tinha por objeti- nos, mesmo assim com grande re- Silva, da Uerj. — João Baptista de mesmo período do ano anterior. rosidade negros que estão vindo vo o branqueamento da população. serva e limitação através de cotas. Lacerda previu, em 1911, em Lon- Também de acordo com dados do agora não como escravos mas em A pesquisadora Ana Maria Gonçal- Em 1945, no governo de Getúlio dres, que em 100 anos os negros e governo, até agora entraram no pa- busca de um trabalho. n