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CEFAC
CENTRO DE ESPECIALIZAÇÃO EM FONOAUDIOLOGIA CLÍNICA
AUDIOLOGIA CLÍNICA
EFEITOS DO RUÍDO AMBIENTAL NO ORGANISMO
HUMANO E SUAS MANIFESTAÇÕES AUDITIVAS
LÍVIA ISMÁLIA CARNEIRO DO CARMO
GOIÂNIA
1999
CEFAC
CENTRO DE ESPECIALIZAÇÃO EM FONOAUDIOLOGIA CLÍNICA
AUDIOLOGIA CLÍNICA
EFEITOS DO RUÍDO AMBIENTAL NO ORGANISMO
HUMANO E SUAS MANIFESTAÇÕES AUDITIVAS
Monografia de conclusão do Curso de
Especialização em Audiologia Clínica.
Orientadora: Mirian Goldenberg
LÍVIA ISMÁLIA CARNEIRO DO CARMO
GOIÂNIA
1999
“Toda a vida (ainda das coisas que não
têm vida) não é mais que uma união. Um união de
pedras é edifício; uma união de tábuas é navio;
uma união; uma união de homens é exército. E
sem esta união tudo perde o nome e mais o ser. O
edifício sem união, é ruína; o navio sem união é
naufrágio; o exército sem união é despojo. Até o
homem (cuja vida consiste na união de alma e
corpo) com união é homem, sem união é um
cadáver.”
Padre Antônio Vieira (1908-1967)
Dedicatória
Aos homens de minha vida, Ricardo e aos filhos,
Leonardo, Marcelo e Ricardo Filho.
Aos meus pais, Otelino e Orelina.
Com carinho a Maione Maria Miléo.
Agradecimento
Aos colegas do Curso de Especialização
do CEFAC; ressalto o apoio das grandes
companheiras: Viviane Pacheco e Mara Núbia, que
nos momentos mais importantes estiveram
presentes.
Sou particularmente grata, à Coordenação
do CEFAC, na pessoa de Christiane Tanigutti e a
todos os profissionais que muito contribuíram com
suas experiências e conhecimentos em suas
respectivas áreas.
Manifesto o meu reconhecimento ao
valioso auxílio dos ex-professores e eternos
amigos, Maione Maria Miléo, Sumaya Leão
Tavares, Luciana Zulliani, Bertín Sanches, pelo
profissionalismo, incentivo e preciosos conselhos.
Deixo um agradecimento especial à todos
os meus familiares.
SUMÁRIO
SUMMARY (ABSTRACT)......................................................................................7
RESUMO ..........................................................................................................8
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................9
2. DISCUSSÃO TEÓRICA................................................................................... 11
1. AUDIOLOGIA − ASPECTOS CONCEITUAIS ............................................................. 11
1.1. O Som: Aspectos Acústicos e Psicoacústicos ............................................ 12
1.2. Ondas Sonoras ................................................................................... 13
1.3. Faixa de Audição Humana ..................................................................... 14
1.4. Ruído................................................................................................ 14
1.5. Anatomofisiologia e Acústica da Audição .................................................. 18
2. EFEITOS DO RUÍDO NO ORGANISMO.............................................................. 29
1. EFEITOS AUDITIVOS ..................................................................................... 29
1.1. Trauma Acústico ................................................................................. 30
1.2. Mudança Temporária no Limiar (TTS - “Temporary Threshold Shift”) ou Fadiga
Auditiva ................................................................................................... 31
1.3. Perda Auditiva Induzida por Ruído (PAIR) ou Mudança Permanente no Limiar
(PTS - “Permanent Threshold Shift”).............................................................. 31
2. EFEITOS NÃO-AUDITIVOS ............................................................................... 32
3. RUÍDO AMBIENTAL ...................................................................................... 35
1. POLUIÇÃO SONORA ...................................................................................... 36
1.2. Efeitos no Organismo ........................................................................... 36
1.3. Efeitos Sincronizadores e Perturbadores do Ruído no Sono.......................... 38
1.4. Ruído e Lazer..................................................................................... 39
CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................. 41
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 43
SUMMARY (ABSTRACT)
Human ear is extremely sensitive to noise. Through bibliographical
revision this research has the main objective to report the harmful effects of
environmental noise on human organism and its hearing display. Continued
exposure to noise can cause physical fatigue and chemical, metabolic and
mechanical modifications of hearing, therefore it will cause stress of biological
chances that can affect the sleep and health, such as: breathing and behavior,
endocrine and neurological problems; it will become the cause of many
diseases. According to many authors the effects of environmental noise affect
the human organism direct or indirectly depending on frequency, intensity,
duration and personal susceptibility to which the human being is exposed. We
understand in this study the urgency to inform everybody, professionals the
harmful effects due to noise exposure. Such effects may be decreased through
educational programs and environmental noise inspection. We suppose that this
research will also help the investigation of new alternatives to control harmful
noise since this topic refers to public health.
RESUMO
A orelha humana é extremamente sensível e vulnerável ao ruído.
Através de revisão bibliográfica, esta pesquisa, teve como objetivo principal
relacionar os efeitos nocivos do ruído ambiental sobre o organismo humano, e
suas manifestações auditivas. A exposição prolongada do ruído pode levar ao
esgotamento físico e às alterações químicas, metabólicas e mecânicas do órgão
sensorial auditivo. Consequentemente, ocorrendo estresse e/ou perturbação no
rumo biológico, resultando em distúrbios do sono e da saúde (transtornos
respiratórios, comportamentais, endocrinológicos, neurológicos, entre outros),
passando a ser um agente provedor de doenças. De acordo com diversos
autores, os efeitos do ruído ambiental afetam o oganismo humano de forma
direta ou indireta, considerando-se a freqüência, intensidade, duração e
susceptibilidade individual, nas quais o ser humano encontra-se exposto.
Percebe-se neste estudo a urgência em alertar a sociedade, especialmente os
profissionais da saúde e áreas afins, sobre os efeitos prejudiciais decorrentes
do ruído. Tais efeitos podem ser atenuados com elaboração de programas
educativos e de medidas preventivas para a fiscalização dos níveis de ruído
ambiental. Acredita-se que esta pesquisa também auxiliará na busca de novas
alternativas para o controle do ruído, já que este tema assume uma dimensão
maior, por se referir à saúde pública.
1. INTRODUÇÃO
Por constituir uma preocupação há cerca de 2.500 anos,
confirmada por relatos históricos de vários pesquisadores e tendo em vista o
crescente aumento de agentes desencadeadores, o ruído assume um interesse
significativo na área científica, na elaboração de estudos e propostas para o
controle desse inimigo silencioso e sorrateiro.
Definido como o som capaz de provocar dano ao Sistema Auditivo,
interferindo no equilíbrio bioquímico do organismo, comprovado especialmente
na indústria, o ruído representa um problema sério, causando danos auditivos
em milhares de trabalhadores, influenciando na capacidade de atenção e
reduzindo o desempenho de suas atividades, tanto intelectuais como físicas.
O desenvolvimento tecnológico das indústrias e o crescimento dos
grandes centros urbanos submetem o indivíduo ao convívio permanente do
ruído, não respeitando convenções e nem classes sociais.
Pesquisas recentes revelam que a poluição sonora ocupa a terceira
posição entre as doenças ocupacionais, motivo pelo qual conduziu o interesse
pelo tema proposto.
O presente trabalho objetivará mostrar as influências e
manifestações auditivas e não-auditivas do ruído ambiental no organismo
humano.
Para a realização deste estudo será utilizado um referencial teórico
sobre o ruído e seus efeitos. Para tanto, procurará estabelecer alguns conceitos
e elucidações quanto às áreas de abrangência da audiologia e seu campo de
atuação enquanto ciência fonoaudiológica.
Buscar-se-á analisar, através da literatura especializada, os
aspectos relativos à anatomofisiologia e fisiopatologia da audição, a relação
audição, som e ruído, bem como caracterizar o ruído ocupacional e suas
respectivas patologias e por último o ruído ambiental e seus efeitos no
organismo em geral. Será dada ênfase à Poluição Sonora como agente provedor
de doenças e insalubridade ao ruído estressante aos quais os indivíduos estão
10
expostos e, por último, relatar sobre estudos que hoje destinam-se ao ruído e ao
lazer.
Os assuntos serão apresentados progressivamente, e de forma
sucinta, com o objetivo de facilitar a compreensão deste tema tão envolvente.
2. DISCUSSÃO TEÓRICA
Para a realização deste trabalho, utilizamos de um referencial
teórico, sobre o ruído e seus efeitos. Há neste trabalho como proposta para a
discussão teórica, a organização em capítulos, com a intenção de oferecer uma
melhor compreensão do assunto em questão. Para tanto, os capítulos serão
apresentados, progressivamente, e de forma sucinta, com o propósito de
convidar o leitor a uma reflexão acerca deste assunto envolvente e motivador.
No primeiro através da literatura especializada, serão apresentados
os aspectos conceituais da audiologia, os aspectos acústicos, psicoacústicos do
som, o ruído e sua classificação e a anatomofisiologia da audição.
Além de caracterizar o ruído ocupacional, o segundo destinar-se-á
aos efeitos auditivos do ruído, manifestações clínicas e suas respectivas
patologias.
O terceiro abordará sobre os efeitos não-auditivos decorrentes do
ruído no organismo humano em geral, dando ênfase à poluição sonora como
agente provedor de doenças e insalubridades, o ruído estressante e estudos
sobre o ruído e lazer.
1. Audiologia −
− Aspectos Conceituais
Tendo como objeto de estudo o ruído e sendo ele importante agente
físico causador de perdas auditivas e distúrbios neuro/fisio/ psicológicos, o
exercício desse campo é feito principalmente pela audiologia e áreas afins
como a psicofísica, neurologia, fisiologia, psicologia, ou seja, por pesquisadores
que investigam os aspectos que desencadeiam tal problema e o empenho
científico de cada área.
LACERDA (1976) relata que “a palavra audiologia possui uma
etiologia composta (do latim audio e do grego logos) que se refere ao estudo da
audição como também os desvios ou desordens da função auditiva.”
RUSSO (1993) a define como a ciência da avaliação da audição e
tem sua base científica na Psicoacústica, relacionada com aquilo que se ouve,
12
descrevendo as relações existentes entre as sensações auditivas e as
propriedades físicas de um estímulo sonoro.
Aliada ainda a estes conceitos, a audiologia direciona suas
pesquisas para tudo que possa auxiliar ou prejudicar a audição, podendo ser
estudada sob os aspectos psicofísicos, anatomofisiológicos, neurofisiológicos e
fisiopatológicos.
No campo da Psicofísica, a audiologia estabelece relações entre as
respostas do organismo e os estímulos acústicos. Na área da Anatomia e
Neurofisiologia volta seu estudo para a transmissão dos sons por intermédio do
Sistema Auditivo Periférico e a Recepção Neurossensorial dos estímulos
sonoros direcionados ao córtex cerebral. Na Psicologia seu estudo volta-se para
a percepção auditiva a nível de área temporal do córtex, juntamente com as
operações de análise e síntese dos estímulos auditivos e a complexidade das
funções sensomotoras e intelectuais do córtex cerebral. Na Fisiopatologia são
avaliadas as lesões que acometem os sistemas de transmissão e recepção
coclear e retrococlear, os distúrbios de audição periféricos e centrais, como
também as perdas auditivas.
1.1. O Som: Aspectos Acústicos e Psicoacústicos
A acústica é uma área de relevância de estudo, principalmente por
caracterizar o ruído quanto o nível de pressão sonora, em determinar a faixa de
freqüência percebida pela orelha humana, classificação dos tipos de ruído,
permitindo conhecimentos úteis relativos aos efeitos dos fenômenos sonoros
sobre a audição.
Do ponto de vista audiológico, a acústica pode ser estudada em
dois aspectos: acústica física e acústica fisiológica ou psicoacústica.
MENEGOTTO & COUTO (1998) definem a acústica física como
sendo a geração, transmissão e recepção de uma energia na forma de ondas
vibracionais na matéria. O fenômeno mais familiar é a sensação do som, sendo
este considerado como uma vibração que se propaga pelo ar em forma de
ondas e que é percebida pela orelha humana. Um distúrbio vibracional é
interpretado como som quando sua freqüência atinge uma faixa de 20 a 20.000
Hz em uma intensidade capaz de produzir uma sensação auditiva.
Em RUSSO (1993) vê-se que a Psicoacústica ou Acústica
Fisiológica diz respeito aos atributos da sensação do indivíduo para freqüência
(“pitch”), para intensidade (“loudness”) e, ainda, com os julgamentos ou
impressões individuais, em relação a ruído, sons musicais, vozes humanas,
entre outros. Portanto, está relacionada com a habilidade dos ouvintes em
distinguir diferenças entre os estímulos e não diretamente com os mecanismos
13
fisiológicos dos sons. Sendo assim, a diferença básica entre Audiologia e
Psicoacústica encontra-se na metodologia empregada. A primeira está
empenhada em pequenas diferenças e efeitos sutis, e a segunda dirige-se para
a aplicação de testes simples e rápidos a fim de determinar a natureza do
distúrbio e local da lesão. Porém, não se pode dissociá-las, pois em conjunto
fornecem informações preciosas para a integridade do Sistema Auditivo.
Os testes audiométricos subjetivos utilizados na audiologia para
medir a acuidade auditiva do indivíduo são chamados de testes psicométricos
ou psicoacústicos, os quais, além de outros aspectos, determinam a área de
sensibilidade do ouvido humano, constituindo-se, como dito, uma a base da
outra.
1.2. Ondas Sonoras
São considerados os estímulos da audição.
A forma como o som é percebido é extremamente importante para a
audiologia, facilitando os seus procedimentos e a melhor compreensão da
relação entre som e audição.
As ondas sonoras transportam energia de um ponto para outro no
espaço, através de oscilações de vibrações que se propagam em um meio
elástico, seja, líquido, gasoso ou sólido, sem contudo haver transporte
simultâneo de matéria. Suas dimensões físicas estão associadas à altura e
intensidade, sendo que, na altura os sons são classificados em graves ou
agudos, ou seja, relacionam-se com a freqüência. Quanto a intensidade, a
classificação se faz em forte ou fraco e encontram-se relacionados com a
amplitude, portanto, maior amplitude, energia e pressão, mais forte é o som.
Para MENEGOTTO & COUTO (1998) a intensidade do som pode
ser analisada sob o ponto de vista da intensidade sonora (fluxo de energia) ou
da pressão (pressão que as moléculas exercem).
A audiologia utiliza uma escala logarítmica para descrever os níveis
sonoros da percepção humana, frente aos eventos físicos, relativos ao nível de
intensidade sonora (NIS) e o nível de pressão sonora (NPS), que é o decibel.
CLIFFORD (1973) observa que essa escala é útil não somente para
a engenharia do som como para compreender mecanismos de audição. Uma
escala logarítmica, naturalmente, é constituída de acordo com os expoentes de
um número básico, que é, em geral, 10. Por conseguinte, um som, que é 10
vezes, teria um valor 2; um que fosse 1.000 vezes, o valor 3, e assim por diante.
A unidade da escala logarítmica da intensidade do som chama-se bel. O bel é o
logaritmo de uma razão de 10, sendo dividido em dez partes chamadas decibels.
O decibel é um décimo do bel.
14
RUSSO (1998) relata que a unidade denominada Bel foi concedida
em homenagem a Alexandre Graham Bell, inventor do telefone. Foi usada para
medições de perdas nas linhas telefônicas, nos EUA, como medida relativa de
intensidade, a qual amplia uma ampla variação de escala linear de intensidade
pelas transformações desta em uma escala logarítmica.
MENEGOTTO & COUTTO (1998) acrescentam que há outros tipos
de escalas de decibels, como dBNA, dBA, dBNS, dBC e outros. Os exames
audiológicos são normalmente relacionados numa escala chamada de dBNA.
1.3. Faixa de Audição Humana
Vários experimentos psicoacústicos foram utilizados para esclarecer
as relações existentes entre as alterações nas propriedades físicas das
vibrações sonoras e as correspondentes alterações subjetivas na sensação
auditiva, determinando a faixa de audição humana, que compreende a área de
freqüências de 20 a 20.000 Hz, incluindo o limiar mínimo de detecção ou
audibilidade.
Os ossos da cabeça também transmitem som, sendo que a orelha é
muito sensível aos sons transmitidos por condução aérea do que condução
óssea.
Considera-se por audição a percepção dos sons que os indivíduos
têm, através do mecanismo da orelha. Os estímulos sonoros atingem a orelha e,
no cérebro, a área correspondente interpreta esses estímulos, os quais tornam-
se conscientes pela percepção.
1.4. Ruído
Grande parte dos sons são complexos, com diferentes ondas
superpostas como a fala, a música e os ruídos. Não existe diferença, em termos
físicos, entre som e ruído.
A preocupação com os níveis de ruído em relação ao meio ambiente
e à saúde, data desde os primórdios do tempo, constituindo um problema de
2.500 anos atrás.
Os primeiros relatos com relação à surdez dos moradores que
viviam próximos às cataratas do rio Nilo, no Egito, estabelecendo uma relação
causal entre ruído e a perda da audição. Foram descritos por Hipócrates e
Plínio, o Velho.
CRUZ & COSTA (1994) confirmam que a clássica descrição de que
o interesse dos sons ambientais sobre as pessoas existe desde a antiga Roma,
quando veículos puxados por animais andando pelas primeiras vias
pavimentadas, incomodavam as pessoas dentro de suas casas durante
15
conversas informais e o sono.
No Brasil atualmente já existem estudos direcionados ao ruído e
seus efeitos, como por exemplo, pesquisadores de Belo Horizonte confirmam
que o ruído pode afetar de forma direta ou indireta, através de estresse ou
perturbações no ritmo biológico, gerando distúrbio do sono e da saúde, em
geral, no cidadão urbano.
Conforme CLARK (1992), o ruído é um incômodo e COSTA & CRUZ
(1994) completam que, em grande quantidade e de forma constante, torna-se
mais que um incômodo, passando a ser agente causador de doenças.
RUSSO (1993), considera o termo ruído, para descrever um sinal
acústico aperiódico, originado da superposição de vários movimentos de
vibração com diferentes freqüências, as quais não apresentam relação entre si.
LACERDA (1976) aponta que no ruído podem-se distinguir dois
fatores principais. O primeiro diz respeito à freqüência, que consiste no número
de vibrações por segundo emitidas pela fonte sonora, medida em Hz, atribuindo
aos ruídos a seguinte classificação: de baixa freqüência (graves) entre 20 a 300
Hz; freqüências médias de 30 a 6.000 Hz; altas freqüências (agudas) os de
6.000 a 20.000 Hz. Os sons abaixo de 20 Hz são denominados de infra-sons e
acima de 20.000 Hz, de ultra-sons. Os sons de alta freqüência são mais
nocivos à orelha humana e os ruídos de baixa freqüência, mesmo sendo
suportáveis pela orelha, produzem efeitos orgânicos mais acentuados. O
segundo fator ligado ao ruído é a intensidade, medida em decibel (dB),
considerando que os ruídos inferiores a 40 dB são apenas desagradáveis,
enquanto os ruídos entre 40 - 90 dB são capazes de favorecer distúrbios
nervosos, e, os superiores a 90 dB agem de forma traumatizante na orelha.
De acordo com a Norma - ISO 2204/1973 (INTERNATIONAL
STANDARD ORGANIZATION), os ruídos podem ser classificados segundo a
variação de seu nível de intensidade com o tempo, como: contínuo, cujas
variações de nível são desprezíveis (aproximadamente 3 dB), apresentando
maior duração durante o período de observação; intermitente , que apresenta
uma variação contínua de um valor aplicável (aproximadamente 3 dB) no
período de observação e de impacto ou impulso, seus picos de energia acústica
de duração são inferiores a um segundo. FEIDMAN & GRIMES (1985), citados
por RUSSO (1993), caracterizam-no como um fenômeno acústico associado a
explosões e é considerado um dos ruídos mais nocivos à audição, com
intensidades que variam de 100 dB − ruído de impacto − e acima de 140 dB −
ruído impulsivo.
A exposição contínua a ruídos acima de 85 dBA pode provocar
perdas auditivas permanentes e, com aumento de apenas 5 dB, representa uma
16
redução do tempo de exposição ao ruído pela metade. (Tabela 1)
Tabela 1. Limites de Tolerância para Ruído Contínuo ou Intermitente
Nível de Ruído dB (A) pela Máxima Exposição Diária Permissível
85
86
87
88
89
90
91
92
93
Db
DB
DB
DB
DB
DB
DB
DB
DB
8 horas
7 horas
6 horas
5 horas
4 horas e 30 minutos
4 horas
3 horas e 30 minutos
3 horas
2 horas e 40 minutos
95
95
96
98
100
102
104
105
106
108
110
112
114
115
DB
DB
DB
DB
DB
DB
DB
DB
DB
DB
DB
DB
DB
DB
2 horas e 15 minutos
2 horas
1 hora e 45 minutos
1 hora e 15 minutos
1 hora
45 minutos
35 minutos
30 minutos
25 minutos
20 minutos
15 minutos
10 minutos
8 minutos
7 minutos
Fonte: PIMENTEL – SOUZA (1992)
1.4.1. Ruído Estressante
O barulho inesperado ou de fonte desconhecida pode provocar
várias formas de reações reflexas. Em exposição temporária, o organismo
retorna ao normal, correspondendo à reação primária. Se a fonte geradora de
ruído é mantida ou alternada podem ocorrer mudanças persistentes.
SELYE (1954), citado por PIMENTEL-SOUZA (1992), observa que
o ruído é um estímulo potente para estabelecer conexão com o arco-reflexo
vegetativo do Sistema Nervoso Autônomo (SNA) na manutenção do estresse
crônico. WHO (1980) refere que são observadas diferentes reações no eixo
hipotálamo-hipófise-adrenal, incluindo o aumento de liberação de ACTH e de
17
corticosteróides. BERGAMINI et al. (1976) dizem que os órgãos alvos incluem
vísceras, como: glândulas endócrinas ou exócrinas, órgãos sexuais, sistemas
hormonais, etc.
Em seus estudos PIMENTEL-SOUZA (1992) cita SELYE (1965) que
atribui ao ruído estressante três fases, que promovem efeitos psicofisiológicos e
fisiológicos decorrentes da atividade simpática e hipotálamo-hipofisária. A
primeira fase (estresse agudo) caracteriza-se por resposta do SNA simpático
com liberação de norodrenalina no sangue. A segunda fase (estresse crônico)
representa o período de resistência, quando o organismo adapta-se ao agente
agressor, permanece defendendo-se e passa a liberar mais adrenalina que, em
conjunto com a anterior, constituem os hormônios do medo, raiva e da
ansiedade. A terceira fase (estresse de exaustão) corresponde ao período pré-
agônico, com permanência das secreções destes hormônios e queda das
gonadrotrofinas e oxitocinas, afetando a persistência, comportamentos sociais e
sexuais, levando à depressão psicológica, à deficiência imunológica, à
desintegração orgânica, óssea, muscular etc.
1.4.2. Características dos Sons Lesivos (RUÍDO)
Os sons lesivos são mais intensos que da conversação, variam de
60 – 75 dB SPL. O som lesivo tem por volta de 85 dB, com exposição de 8 horas
por dia.
Nos últimos 25 anos o nível crítico dos sons lesivos teve vários
significados e, devido a este fato, devem-se utilizar alguns referenciais para
estabelecê-lo.
SPOENDLIN (1976) atribui 120 dB SPL com o estímulo NOISE
BURST; HANDERSON et al., (1991-1994), em mais ou menos 125 dB SPL;
DANIELSON et al. (1991) e OLIVEIRA (1997) afirmam que o impulso de vários
milissegundos revelariam o nível crítico entre 135 a 155 dB.
1.4.3. Fatores de Risco
Alguns fatores de risco em relação a sensitividade à perda auditiva
por ruído foram observados durante este levantamento.
SUN et al., (1991) citados por OLIVEIRA (1997), afirmam que a
deficiência de ferro no organismo facilitava as lesões cocleares.
Em seus estudos, OLIVEIRA (1997) cita diversos autores como
CODY & JOHNSTONE (1982) o ouvido esquerdo seria mais suscetível a lesão
por ruído, devido ao fator de lateralidade, consideram que as perdas auditivas
monoaurais podem ser reduzidas por estímulos acústicos simultâneos.
AXELSSON et al. (1981) verificaram que o ouvido esquerdo seria
18
mais suscetível à lesão por ruído − fator lateralidade.
OLIVEIRA (1989) atribui aos antibióticos aminoglicosídeos como
potencializadores de lesões auditivas por ruído. Outros fatores observados: a
prematuridade, em que verifica-se que as crianças imaturas são suscetíveis a
lesões auditivas por ruído (barulho da incubadora). Em idade avançada existe
uma relação inversa: quanto maior a idade, menor a susceptibilidade, sendo
considerado que, em idade avançada, a mulher é mais sensível às perdas
auditivas por ruído.
Não se pode deixar de ressaltar que outros fatores são importantes,
como: a duração, a influência e a continuidade e discontinuidade do ruído. A
duração diz respeito ao tempo em que o indivíduo encontra-se exposto ao ruído.
A influência está relacionada à susceptibilidade, que é muito variável entre os
indivíduos e aos ruídos que causam alterações auditivas. A continuidade e
descontinuidade, encontra-se na freqüência do ruído e a sensibilidade do som
audível.
1.5. Anatomofisiologia e Acústica da Audição
A audição é um órgão sensorial importante à vida; constitui a base
da comunicação humana.
Além dos aspectos acústicos, é imprescindível conhecer a anatomia
e a fisiologia da audição para a compreensão dos efeitos auditivos decorrentes
da exposição ao ruído.
ZORZETTO (1994) descreve a orelha como órgão vestibulococlear,
formada por um complexo morfofuncional responsável pela sensibilidade ao
som, aos efeitos gravitacionais e do movimento.
MORATA & SANTOS (1994) afirmam que a orelha está contida no
osso temporal e tem como funções principais o equilíbrio e a audição.
Do ponto de vista didático, pode-se dividir a orelha em três partes:
orelha externa, orelha média e orelha interna.
1.5.1. Orelha Externa
Constituída pelo pavilhão auricular, conduto auditivo externo (CAE)
e membrana timpânica (MT), localizada na porção final do CAE, separando
orelha externa da média.
OLIVEIRA (1985) coloca que a finalidade do pavilhão auricular é
coletar as ondas sonoras e dirigi-las para o CAE. MORATA & SANTOS (1994)
completam, dependendo da posição do ouvinte em relação à fonte sonora, pode
também ser responsável por um acréscimo de 01 a 10 dB na faixa de freqüência
de 2.000 a 5.000 Hz. Contribuindo, ainda, para a localização da fonte sonora e
proteção para a orelha média e interna.
19
O CAE tem 2,5 cm de comprimento e conduz as ondas sonoras à
MT. Possui duas porções: a primeira cartilaginosa e segunda óssea, que é mais
estreita. É recoberto por pele, possui pêlos e glândulas que produzem cera, com
função de proteger a MT contra a ação de corpos estranhos. O seu formato
também contribui na amplificação e ressonância, destacando a sensitividade
para determinados sons. Contudo, a freqüência ressonante é variável entre os
indivíduos, de acordo com a extensão e características físicas do pavilhão
auricular e CAE. Pode-se dizer que essa amplificação varia de 10 a 20 dB para
freqüências entre 2.000 e 4.000 Hz.
MENEGOTTO & COUTO (1998) ressaltam que a ressonância
própria do CAE parece ser invariável, mas a ressonância do pavilhão auricular é
extremamente dependente da direção do som. Assim, o som que chega a MT
apresenta variações características conforme a posição da fonte sonora, o que
fornece pistas para a sua localização.
1.5.2. Orelha Média
Conhecida também por cavidade timpânica ou caixa do tímpano.
É uma cavidade preenchida de ar, escavada no osso temporal e
tem de 1 a 2 cm3
de volume. Possui três recessos: Epitimpânico ou Ático,
contendo a cabeça do martelo, corpo e ramo curto da bigorna, o Mesotimpânico,
área coberta pela membrana timpânica e o recesso Hipotimpânico ou
Hipotímpano, situado na parte anterior.
MENEGOTTO & COUTO (1998) registram que a função da orelha
média é fazer uma “ponte” entre a orelha externa e a orelha interna, ou
precisamente, entre o meio aéreo da orelha externa e o meio líquido da orelha
interna. Esta “ponte” inicia-se na MT, passa pela cadeia ossicular e termina na
janela oval.
A MT ou membrana do tímpano é uma estrutura da orelha média,
transparente, com aparência circular, com pequena concavidade e apresenta 80
mm2
de superfície, 10 mm de diâmetro e 0,1 mm de espessura. No adulto,
apresenta-se em posição oblíqua, voltada ântero-lateralmente. É constituída por
três camadas de tecido de origem diversa: a primeira, a mais externa, de
natureza epitelial, de origem ectodérmica, a segunda, intermediária fibrosa, de
origem mesodérmica a terceira, e profunda (interna) mucosa, de origem
endodérmica. Esta membrana é dividida em quadrantes: póstero-superior,
póstero-inferior, ântero-superior e ântero-inferior. Apresenta duas porções: a
primeira PARS Flácida ou membrana de SHRAPNELL é uma porção fina e
frouxa; corresponde à parte da membrana que é formada por epiderme e
mucosa, situada acima das pregas malares.
20
BONALDI et al. (1998) consideram que a PARS TENSA ou lâmina
própria, a segunda, e responsável pela compliância da MT e transmissão de
vibração para a orelha média devido o arranjo de fibras que contém. O cabo do
martelo situa-se firmemente aderido às fibras da camada média, sendo o
ossículo constantemente tracionado para dentro por ligamentos e pelo músculo
tensor do tímpano, o que mantém a membrana tensa e permite a transmissão
das vibrações sonoras.
Do ponto de vista funcional a MT pode ser dividida em três zonas;
que se diferenciam pela composição de suas fibras e o modo de vibração: zona
central, zona intermediária e zona periférica.
Os autores acima citados, acrescentam que, de modo geral, a
vibração é transferida das zonas central e periférica para a intermediária, no
entanto podem ser diferenciados movimentos vibratórios com relação à
freqüência de estimulação.
De acordo com STINSON (1985), citado por MENEGOTTO &
COUTO (1998), até 2 ou 3 Khz aproximadamente a MT vibra como um todo, em
movimentos de vaivém. Acima disso, vibra por partes, com suas porções
respondendo de forma diferenciada às diversas freqüências.
ZORZETTO (1994) diz que a cadeia ossicular é composta por três
ossículos: martelo, bigorna e estribo, articulados entre si, situados no interior da
cavidade timpânica. Encontram-se suspensos por ligamentos e músculos que
em conjunto e o formato característico dos ossículos lhes permite um padrão
próprio de movimentação. O martelo tem uma das suas extremidades ligada à
porção mais central da MT e a outra ligada à outra bigorna que, por sua vez,
articula-se com o estribo, que tem sua base inserida na janela oval.
MORATA & SANTOS (1994) assinalam que, como a transmissão do
som de um meio aéreo (orelha média) para um meio líquido (orelha interna), é
extremamente ineficiente (há uma perda de energia correspondente a 30 dB)
devido a grande diferença de mobilidade entre os dois meios, a cadeia ossicular
atua como um transformador mecânico que equaliza as impedâncias.
RUSSO (1993) diz que a posição que o conjunto tímpano-ossicular
oferece à passagem da onda sonora que penetra no CAE é denominada da
impedância mecânica da orelha média, parte da energia acústica que incide na
MT é refletida para fora, e a outra parte é transmitida para a orelha média pela
vibração da MT.
A orelha média tem como função principal facilitar a transmissão
das ondas sonoras do ar para os fluídos da orelha interna; considerando que o
ar tem baixa impedância, enquanto os fluídos cocleares apresentam uma alta
impedância, portanto é necessário o casamento entre as impedâncias por meio
21
da ação transformadora da cadeia ossicular.
RUSSO (1993) afirma que a impedância da orelha média é
determinada por três fatores; o primeiro denominado massa, relacionada ao
peso e à densidade dos elementos dentro do sistema (cadeia ossicular), MT e
fluídos da orelha interna; o segundo diz respeito à rapidez, relacionada ao
movimento da platina do estribo e à resistência dos fluídos cocleares,
contribuindo para manter a forma e posição do sistema móvel. Estes dois
fatores são conhecidos como reactância, que é a parte da impedância que
depende da freqüência sonora, sendo que estes não atuam na faixa de
freqüência, denominada de zona de ressonância, que compreende as
freqüências entre 500 a 4.000 Hz. O último dos três fatores é a resistência,
oriunda da transformação da energia aplicada no sistema ossicular, conhecida
como fricção ou atrito; está vinculada à suspensão dos ossículos pelos
músculos e ligamentos.
LOPES Fº (1972), citado por RUSSO (1993), define a resistência
como a parte da impedância que não depende da freqüência sonora, sendo
função da densidade do meio e da velocidade de propagação do som no meio.
O ajustamento entre duas diferentes impedâncias (ar e fluído
cocleares) é realizado por dois sistemas de amplificação mecânica, o sistema de
alavanca e redução de área.
MORATA & SANTOS (1994) assinalam que o sistema de alavanca
aumenta a força de transmissão da MT em 1,3 vez. Esta relação, multiplicada
pela diferença da área da membrana e a placa do estribo, que é de dezesseis
vezes, faz com que a pressão sobre o líquido da cóclea seja 22 vezes (17 x 1,3)
maior que a exercida pela onda sonora sobre a MT.
RUSSO (1993) acrescenta que a contribuição dada pelo sistema de
alavanca é de aproximadamente 2,5 dB, ao passo que o aumento da intensidade
sonora, fornecido pela relação de área, é de cerca de 27 dB.
O sistema tímpano-ossicular desempenha outro papel importante, a
seleção de entrega de energia acústica para uma só das janelas cocleares,
compensando a perda de energia, anteriormente citada de 99,9% e
harmonizando as diferentes impedâncias, e com isso, alterando a inércia que o
meio líquido tem no ar.
A seleção de entrega de energia acústica, para uma só das janelas
cocleares, consiste no movimento simultâneo das duas janelas, ou seja,
enquanto a janela oval se move para dentro, a janela redonda se move para fora
(inversão de fases).
22
1.5.3. Mecanismo de Proteção da Orelha Média (Reflexo
Estapediano)
A orelha humana contém alguns mecanismos de proteção auditiva.
A orelha média possui a capacidade de regular a passagem de sons
extremamente intensos, que, por sua vez, podem lesar as estruturas da orelha
interna. Este mecanismo de proteção se faz através dos músculos intra-
auriculares-estapedianos e tensor do tímpano, que apresentam como função a
modificação do padrão de movimentação da cadeia ossicular.
RUSSO (1993) refere que, quando a intensidade de um som de
baixa freqüência ascende acima de um valor crítico (70 a 90 dB NS para as
freqüências situadas entre 450 a 4.000 Hz), o modo de vibração da cadeia
ossicular muda, passando a platina do estribo a rodar em torno de seu eixo
longo. A amplitude do movimento é diminuída e menor pressão é transmitida
para a cóclea, reduzindo o risco de lesões das células ciliadas do órgão de
Corti.
MORATA & SANTOS (1994) completam que o músculo tensor do
tímpano traciona o cabo do martelo para dentro e o estapídio para fora,
provocando maior rigidez no sistema e reduzindo a transmissão de sons,
principalmente de baixas freqüências, menores do que 1.000 Hz. Estes mesmos
autores afirmam que o músculo estapídio é responsável pelo reflexo acústico
(ou estapediado), particularmente na presença de ruídos intensos e,
aparentemente, é mais sensível a sons complexos que a sons puros. A duração
desse reflexo é de 35 a 150 milessegundos, para sons de aproximadamente 80
dB acima do limiar auditivo. Sendo que a atenuação propiciada varia de 15 a 33
dB, ou seja, 15 dB a partir do limiar do reflexo, portanto somente 5 dB de um
estímulo sonoro com intensidade de 20 dB acima do limiar do reflexo será
transmitido à cóclea. Na presença de estimulação sucessiva aparentemente o
reflexo se adapta ou relaxa após 15 segundos de exposição a um ruído intenso
e contínuo. Ressaltam os mesmos autores que os músculos não são
irreversivelmente fatigados, uma vez que o reflexo gradualmente relaxa durante
uma estimulação contínua, devido a um gradual decréscimo na sensação de
intensidade (LOUDNESS) que ocorre com estímulos de longa duração
(adaptação neural)
DURRANT F. (1972), citado por MORATA & SANTOS (1994),
refere que a existência de um intervalo de tempo entre a ocorrência do estímulo
e o início da contração muscular (de aproximadamente 10 mseg) limita sua
efetividade na atenuação de ruído de impacto.
RUSSO (1993) afirma que essa ação mecânica do conjunto
tímpano-ossicular contribui para a função protetora da orelha média.
23
1.5.4. Função Ventilatória
A tuba auditiva, Faringotimpânica ou Trompa de Eustáquio, tem
como função principal a ventilação e o equilíbrio da pressão da orelha média;
durante os processos de contração muscular do véu palatino (deglutição).
Consiste em um tubo achatado, que comunica a cavidade timpânica com a
nasofaringe. Apresenta uma porção óssea e outra cartilaginosa. RUSSO (1998)
comenta que a porção cartilaginosa dessa tuba possui um orifício que se abre
mediante algumas ações, tais como: bocejar, deglutir, tossir, respirar,
permanecendo o resto do tempo fechado. Cita a mesma autora que, ao abrir-se
o orifício da tuba, ocorre a ventilação da orelha média e a pressão do meio
interno é igualada à do meio externo.
BONALDI et al. (1998) acrescentam que a função biológica da tuba
auditiva é arejar a orelha média e equalizar a pressão do ar externo com a
pressão na orelha média, protegendo a orelha de mudanças rápidas de pressão
e mantendo a sua mucosa em bom estado.
1.5.5. Orelha Interna
Em HUNGRIA (1995) vê-se que a orelha interna ou labirinto
encontra-se escavado na parte petrosa do osso temporal (rochedo), formado por
estruturas imprescindíveis à audição humana. Anatomicamente possui duas
partes: a primeira, anterior ou labirinto ósseo, que compreende a cóclea, o
vestíbulo e os canais semicirculares, envolvidos em perilinfa (substância rica em
potássio). Apresenta duas aberturas. O aqueduto do vestíbulo abriga o ducto
endolinfático e o aqueduto da cócela; a segunda parte, posterior, labirinto
membranoso, localizado no interior do labirinto ósseo, constituído pelo sistema
de ductos (ducto coclear, sáculo, utrículo e ductos semicirculares), que se
comunicam entre si, preenchidos por endolinfa (substância com alta
concentração de potássio e baixa concentração de sódio).
Segundo BONALDI et al. (1998) às estruturas do labirinto
membranoso correspondem órgãos receptores responsáveis pela transdução do
estímulo mecânico em impulso nervoso: o órgão de Corti, relacionado à audição,
e as máculas do sáculo e do utrículo e as cristas ampulares, relacionadas aos
reflexos estatotônicos e estatocinéticos (reflexos vestibulares do equilíbrio),
responsáveis pela manutenção do equilíbrio e controle reflexo da posição da
cabeça e dos olhos.
MORATA & SANTOS (1994) citam GUYTON (1970) que afirma,
quanto aos componentes da orelha interna, vestíbulo, os canais semicirculares e
a cóclea podem também ser denominados escala vestibular, média e timpânica.
Os autores completam, ainda, que as escalas médias e vestibular estão
24
separadas pela membrana de Reissnerr (ou vestibular) e as escalas média e
timpânica, separadas pela membrana basilar. Consideram que, para fins de
compreensão da transmissão, as escalas vestibular e média são consideradas
como única. O campo sensorial, localizado sobre a membrana basilar (interior
da escala média), representado pelo órgão de Corti, contém milhares de células
sensitivas, células ciliadas, em número de 20.000, que transformam as ondas
sonoras em impulsos nervosos, em resposta às vibrações da membrana basilar.
BONALDI et al. (1998) referem que o órgão de Corti é o conjunto de
membrana tectória, células de sustentação e células ciliadas. Sob a forma de
uma cúpula gelatinosa acima das células ciliadas, a membrana tectória é presa
à lâmina espiral óssea do modíolo e entra em contato com os cílios das células
externas durante as vibrações da membrana basilar.
Podem-se destacar com relação às células de sustentação as
células de BOETTCHER, células de HENSEN (delimitam o túnel externo);
células de DEITERS, células pilares internas (formam o órgão de Corti) e células
pilares externas.
MORATA & SANTOS (1994) registram que as bases e os lados das
células ciliadas estão incluídos numa rede de terminações do nervo coclear.
As células ciliadas são células sensoriais, as quais distinguem-se
células ciliadas internas e células ciliadas externas. São observadas várias
diferenças entre elas, tais como: anatômicas, quantidade e o aspecto funcional.
As células ciliadas internas encontram-se dispostas em uma única
fileira, em torno de 4.000, com aproximadamente 50 a 70 cílios sensoriais por
célula, em posição linear e têm uma forma que assemelha-se a um franco
arrendondado, e seus cílios não alcançam a membrana tectória, banhada por
endolinfa. Cerca de 95% das fibras do nervo auditivo fazem sinapse com as
células ciliadas internas. Consoante BONALDI (1998), essas possuem um
potencial de repouso (na ausência de sons) de – 40 MV e são responsáveis pela
transdução sensorial, ou seja, produzem uma mensagem elétrica codificada que
é enviada através das vias nervosas ao logo temporal; apresentam seletividade
de freqüência fina e estão relacionadas a sons mais tensos.
Aproximadamente em número de 12.000 células, dispostas em três
fileiras ao longo das espiras cocleares, as células ciliadas externas têm forma
de um tubo de ensaio e cada uma tem de 100 a 300 esteriocílios com disposição
de “V” ou “W”. São menores na base e maiores no ápice, encontram-se fixadas
à membrana basilar, banhadas por endolinfa no pólo ciliar e perilinfa nas partes
laterais. Apresentam alturas diferentes em seus cílios; os mais internos são
mais curtos e os mais externos são mais longos e encontram-se introduzidas na
membrana tectória. O ligamento de elastina mantém os esteriocílios ligados
25
entre si, constituindo uma unidade. Estudos recentes citados por BONALDI et al.
(1998) demonstram que estas células possuem proteínas contráteis como
actina, miosina, tropomiosina e agentes moduladores como a calmodulina.
Estabelecem os mesmos autores que as células ciliadas externas não são
receptoras, ou seja, não codificam a mensagem sonora e estão relacionadas a
sons menos intensos. Possuem contrações rápidas e lentas, constituindo-se em
efetores cocleares ativos e funcionam como um sistema de aplicador coclear,
aumentando em até 50 dB a intensidade de um estímulo, com capacidade de
seletividade de freqüências.
MORATA & SANTOS (1994) propõem que as células ciliadas
internas têm uma função sensorial, transmitindo informações sobre o estímulo
auditivo do sistema nervoso central, enquanto as células ciliadas externas
desempenham uma função motora, através de mudanças em sua forma que
alterariam o padrão de movimentação das membranas basilar e tectória.
RUSSO (1998) descreve que a força mecânica, amplificada e
transmitida da orelha média para a interna pelos ossículos, é transformada em
pressão hidráulica, que comunica movimento ao ducto coclear e às células
ciliadas do órgão de Corti, o centro da audição. As ondas de pressão na cóclea
iniciam sua trajetória pela janela oval, passando pelas escalas (rampas)
vestibular e timpânica, indo finalizar na janela redonda.
A transformação da energia mecânica em eletroquímica e nervosa
(transdução mecanoelétrica) se faz através da movimentação da membrana
basilar. Esta movimentação é inversa e permite o deslocamento tangencial dos
cílios das células ciliadas externas contra a membrana tectória (despolarização),
que determina a produção de substâncias químicas, as quais estimulam os
terminais nervosos (impulso eletronervoso) que será conduzido pelas fibras do
nervo auditivo até o cérebro.
MORATA & SANTOS (1994) concluem que, devido à sofisticada
estrutura da membrana basilar e sua forma (fibrosa), ela não vibra
uniformemente por toda a sua extensão, existindo padrões diferentes de
vibração para sons de diferentes freqüências.
RUSSO (1998) completa que, por ter menor quantidade de massa e
ser mais rígida na base da cóclea, entre em ressonância com freqüências altas
e, à medida que vai recebendo maior número de fibras, tornando-se, assim,
mais densa e mais flexível, entre em ressonância com freqüências médias e
baixas, na proximidade do ápice.
BONALDI et al. (1998) referem que, segundo George Von Békésy,
que descreveu a Teoria da Ondas Viajantes, a cóclea apresenta uma
organização tonotópica, observada através das características do movimento da
26
membrana basilar em relação às diferentes freqüências do estímulo sonoro.
RUSSO (1998) acrescenta que a cóclea atua como um microfone, reproduzindo
a forma da onda sonora original traduzida em sua correspondente eletronervosa
e esse é o chamado microfonismo coclear.
1.5.6. Sistema Vestib ular Periférico
Constituído pelo labirinto vestibular ou posterior e apresenta duas
porções, a primeira porção óssea, labirinto ósseo vestibular, formado por
vestíbulo e canais semicirculares; a segunda porção membranosa, o labirinto
membranoso vestibular, constituído pelo sáculo, utrículo e ductos
semicirculares. Este sistema contém endolinfa, circundado pelo espaço
perilinfático e sustentado por tecido conjuntivo.
ZORZETTO (1994) afirma que as várias partes do labirinto
vestibular formam um sistema de canais que se comunicam entre si. Os ductos
semicirculares abrem-se no utrículo e este, no sáculo, através do ducto
utricolossacular, que também se liga ao ducto endolinfático, que se resolve no
saco endolinfático. O sáculo une-se ao fundo-de-saco do ducto coclear pelo
ducto de reuniens.
BONALDI et al. (1998) consideram o vestíbulo um espaço ovóide,
transversalmente achatado, posterior à cóclea e anterior aos canais
semicirculares. Comunica-se lateralmente com a cavidade timpânica, através da
janela do vestíbulo e apresenta cinco aberturas correspondentes aos três canais
semicirculares, uma abertura para rampa vestibular da cóclea e dois recessos,
um esférico e um elíptico. O recesso esférico aloja o sáculo e a mácula crivosa
média.
ZORZETTO (1994) refere o sáculo como uma vesícula ovóide, que
apoia-se no recesso esférico do vestíbulo, junto à abertura da rampa vestibular
da cóclea, sustentado por tecido fibroso e pelos filetes do ramo sacular da
divisão vestibular do VIII par. A face superior do sáculo encontra-se em contato
com a face inferior do utrículo, formando uma parede comum a ambos,
denominada de mácula do utrículo.
BONALDI et al. (1998) assinalam que o recesso elíptico, situado
póstero-superiormente à crista vestibular, contém o utrículo. Define-o como uma
bolsa de forma oblonga e irregular que recebe cinco aberturas dos ductos
semicirculares. Seguem acrescentando que os receptores da mácula do sáculo
e do utrículo, células ciliadas, têm um estímulo específico e aceleração linear do
movimento, ou seja, sinalizam o posicionamento da cabeça no pescoço quando
ocorrem movimentos lineares, tais como: inclinar a cabeca para os lados, para
frente e para trás.
27
Em número de três, os canais semicirculares situam-se póstero-
superiormente ao vestíbulo, com comprimentos diferentes, formando entre si
ângulos retos. São denominados canal externo ou lateral (horizontal), canal
anterior (vertical) e canal posterior (vertical). Cada um possui uma extremidade
dilatada, ampular, que contém no seu interior a crista de neuroepitélio
especializado – órgão meconorreceptor.
LACERDA (1976) diz que os canais semicirculares são receptores
sensíveis às acelerações (dos movimentos de rotação da cabeça para frente,
para trás e para os lados). Estes canais podem ser acionados por estímulos
mecânicos, rotatórios e calóricos. Este mesmo autor acrescenta que os
estímulos proprioceptivos dos diferentes receptores do labirinto posterior são
conduzidos aos núcleos vestibulares do bulbo, através do ramo vestibular do
VIII nervo, por meio dos gânglios de Scarpa. Dos núcleos vestibulares do bulbo,
as fibras nervosas aferentes seguem três vias: vestíbulo-ocular, vestíbulo-
espinhal e vestíbulo cerebelar, que integram a função do equilíbrio. Participam
ainda desta função outros sistemas, como: a visão e as sensações
proprioceptivas, partindo dos músculos, tendões e articulações.
1.5.7. Vias Auditivas
O Sistema Auditivo Central compreende as grandes vias auditivas
sub-corticais que, através de impulsos eletro-nervosos, fazem a transmissão
para os centros corticais auditivos no lobo temporal.
BONALDI et al. (1998) afirmam que a cóclea é suprida por três
grupos de fibras nervosas: as fibras eferentes do nervo coclear, as fibras
eferentes do feixe olivococlear e as fibras simpáticas. Apenas as fibras
aferentes e eferentes estão em contato com as células ciliadas. Acrescentam
estes mesmos autores que cerca de 90% a 95% das fibras aferentes realizam
uma sinapse com células ciliadas internas, enquanto 5% a 10% realizam várias
sinapses com numerosas células ciliadas externas.
As fibras eferentes são constituídas por neurônios ganglionares tipo
I, com prolongamentos periféricos pequenos e terminais em contato com as
células ciliadas internas, funcionando como transmissor da mensagem sonora
para o córtex auditivo. Com relação às fibras eferentes que se relacionam com
as células ciliadas internas, o sistema é considerado sistema eferente lateral e
presume-se que atue como inibidor durante a exposição a sons internos. As
células ciliadas externas, recebem fibras aferentes, que se curvam em um
sistema espiral de fibras geometricamente organizadas. Os neurônios são do
tipo II, com fibras espirais não-mielinizadas e ramificadas que enviam aos
centros nervosos apenas mensagens lentas e poucas.
28
1.5.8. Sensação do Som
A movimentação do estribo na janela oval produz ondas de pressão
hidráulica que se propagam pelos líquidos que ocupam a cóclea – perilinfa e
endilinfa. A membrana basilar, por meio da movimentação, estimula as células
ciliadas a dobrar os seus cílios, colocando-os em contato com a membrana
tectória, gerando a despolarização e repolarização.
MORATA & SANTOS (1994) confirmam: quando a membrana basilar
vibra em direção à rampa vestibular as células despolarizam, e quando retorna
em sentido contrário, hiperpolarizam, gerando uma diferença de potencial que
estimula as fibras nervosas (Figura 3), representação esquemática da fisiologia
da audição.
Após desencadear o impulso nervoso, as fibras nervosas fazem
sinapse no gânglio espiral de Corti e deste saem fibras em direção a núcleos
bulbares, onde fazem sinapse que são transmitidas aos núcleos olivares
superiores ipsi e contralateral.
A via auditiva segue em direção ao colículo inferior e, por último,
atinge o córtex auditivo, situados no lado temporal.
RUSSO (1998) acrescenta que, em algumas estações de
retransmissão, dispostas na via auditiva, algumas fibras se encaminham para o
hemisfério cerebral correspondente à orelha estimulada e outras cruzam,
agrupando-se de acordo com a freqüência dos sinais sonoros que transportam.
MORATA & SANTOS (1994) completam que são nos diversos níveis
do sistema nervoso em que o som é interpretado quanto à freqüência,
intensidade e discriminação da direção da fonte que o originou e onde tem
origem uma série de reflexos involuntários e inconscientes, por exemplo o virar
da cabeça para a fonte de ruído, o fechar os olhos à explosão, os sobressaltos
com estímulos que alteram a circulação, a respiração, o processo digestivo e
todos os efeitos extra-auditivos induzidos pelo ruído.
2. EFEITOS DO RUÍDO NO ORGANISMO
O ruído afeta o organismo humano de várias maneiras, causa
prejuízos não só ao funcionamento do sistema auditivo como o
comprometimento da atividade física, fisiológica e mental do indivíduo a ele
exposto.
Quanto a classificação dos efeitos nocivos do ruído sobre o
organismo humano pode ser realizada de duas maneiras. A primeira produz
efeitos fisiológicos, fisiopatológicos ou auditivos, compreendendo os efeitos
otológicos, ou seja, ação direta no sistema auditivo. A segunda são os efeitos
extra-otológicos, gerais ou não-auditivos, resultando numa ação geral sobre
várias funções orgânicas.
Para melhor compreensão, serão utilizadas para a classificação dos
efeitos nocivos do ruído os termos auditivos e não-auditivos.
1. Efeitos Auditivos
Frente à exposição a ruídos em geral, as orelhas são dotadas de
mecanismos protetores que alteram a sensibilidade auditiva durante e após a
estimulação acústica. O primeiro mecanismo protetor é o mascaramento ,
quando a percepção de um só é diminuída em presença de um ruído de
intensidade que encubra esse som. O segundo é a adaptação auditiva, ou seja,
a sensibilidade auditiva é reduzida durante a apresentação de um estímulo
sonoro intenso e duradouro. O terceiro diz respeito à fadiga auditiva, que ocorre
após a cessação dos estímulos, podendo ser também chamada por mudança
temporária. Consequentemente, há diferença entre adaptação e fadiga auditiva.
A primeira constitui um fenômeno peri-estimulatório e a segunda, pós-
estimulatório.
Conforme SELIGMAN (1997), os sintomas auditivos relacionados ao
ruído assinalam em primeiro lugar à perda auditiva, dificuldades no
entendimento da fala.
Quanto a perda auditiva, verifica-se que a orelha humana é
30
extremamente sensível à ação do ruído. As lesões da orelha interna resultantes
da exposição a ruídos levam ao esgotamento físico e a alterações químicas,
metabólicas e mecânicas do órgão sensorial auditivo, refletindo na lesão das
células sensoriais (externas e internas), com lesão parcial ou total do órgão de
Corti e consequentemente a deficiência auditiva, podendo o ruído atuar sob a
forma de dois mecanismos.
1. Por exposição aguda; Trauma Sonoro e Mudança Temporária no Limiar (TTS
- “Temporary Threshold Shift”)
2. Por exposição Crônica - Perda Auditiva Induzida por Ruído (PAIR) ou
Mudança Permanente no Limiar (PTS - “Permanente Threshold Shift”)
1.1. Trauma Acústico
OLIVEIRA (1997) atribui ao trauma acústico o som explosivo
instantâneo com pico de pressão sonora que excede 140 dB SPL. Por exemplo,
a arma de fogo pode chegar a 160 ou 170 dB. Os níveis sonoros alcançam as
estruturas da orelha interna, excedendo os limites de elasticidade dos tecidos,
produzindo a ruptura do órgão de Corti, sendo este desligado da membrana
basilar que, por sua vez, é destruída e substituída por tecido epitelial escamoso,
restabelecendo a integridade do comportamento do fluído da escala média (MB)
e órgão de Corti. Estas lesões são essencialmente mecânicas. Acrescenta o
mesmo autor, como decorrência do trauma acústico, há as alterações
anatomopatológicas, como: ruptura da membrana timpânica e sangramento das
orelhas médias e internas, subluxação dos ossículos da orelha média;
desintegração das células ciliadas que desacoplam dos cílios da membrana
tectorial, causando sua ruptura, promovendo a separação da membrana basilar;
mistura da endolinfa e perilinfa e ausência do padrão das células ciliadas em
mosaico.
O maior grau de lesão encontra-se na espira basal, com a perda
completa de células ciliadas externas e nas células de suporte, enquanto que
nas espiras superiores, o grau de lesão é menor.
Segundo COTANCHE (1987) ocorrem alterações tonotópicas, ou
seja, estas alterações se fazem na espessura da membrana tectorial,
aumentando a sua complacência e diminuindo a resistência nas regiões da
cóclea, demonstrando uma perda auditiva de 40 - 50 dB.
CHO et al. (1989) e MURISAKI et al. (1991), citados por OLIVEIRA
(1997), acrescentam que, quando o trauma é muito intenso, pode até ocorrer
dilaceração da membrana tectorial.
O ruído de forte intensidade causa alterações na Stria vascularis,
provocando mudanças no equilíbrio energético e eletrolítico da cóclea, podendo
31
ocorrer vasoconstrição local. HUNGRIA et al. (1995) acrescentam que há
redução do aporte de oxigênio ao órgão de Corti, sendo a cóclea muito sensível
à deficiência de oxigênio.
1.2. Mudança Temporária no Limiar (TTS - “Temporary Threshold
Shift”) ou Fadiga Auditiva
Refere-se à diminuição gradual da sensibilidade auditiva com o
tempo de exposição a um ruído contínuo e intenso.
Para RUSSO (1997) corresponde a um fenômeno temporário, em
que o limiar auditivo retorna ao normal após um período de repouso auditivo.
MERLUZZI (1981) completa, a maior parte da TTS tende-se a recuperar nas
primeiras duas ou três horas, após cessada a estimulação sonora.
Durante os desvios temporários dos limiares auditivos (TTS)
ocorrem alterações discretas na células ciliadas, edema das terminações
nervosas auditivas, alterações vasculares, exaustão metabólica, modificações
intracelulares, diminuição dos estereocílios, alteração no acoplamento entre os
cílios e membrana tectorial. Estas alterações são reversíveis, podendo haver
recuperação do limiar, mesmo com presença de células lesadas.
1.3. Perda Auditiva Induzida por Ruído (PAIR) ou Mudança
Permanente no Limiar (PTS - “Permanent Threshold Shift”)
RUSSO (1993) considera a PAIR decorrente de um acúmulo de
exposições a ruído, normalmente diárias, repetidas constantemente, por período
de muitos anos.
A exposição crônica ao ruído produz no ser humano uma
deterioração auditiva lentamente progressiva, com características neuro-
sensoriais, não muito profundas, quase sempre bilaterais e absolutamente
irreversíveis. As alterações podem ser mecânicas e metabólicas.
Os indivíduos afetados apresentam dificuldades para perceber sons
agudos. A deficiência passa a abranger a área do campo audiométrico,
comprometendo freqüências da zona de conversação, afetando o
reconhecimento da fala.
Alguns sintomas auditivos são observados, mas nem sempre
presentes com o zumbido (acúfenos ou “tinnitus”). Para BENTO et al. (1995) é
uma sensação sonora produzida na ausência de fonte externa geradora de som.
Com base nos aspectos etiológicos, GROSH (1978), citado também por
OLIVEIRA (1997) afirma que pode-se encontrá-lo em mais ou menos 16 tipos de
patologias (lesões vasculares, orelha média, vasoespasmos, entre outros).
O segundo sintoma encontra-se nas dificuldades no entendimento
32
da fala.
SELIGMAN (1997) diz que é a queixa que envolve a habilidade de
diferenciar os sons da fala. O mesmo autor, cita SMITH (1990) acrescenta que
o ruído produz um efeito mascaramente sobre a palavra e outros sinais sonoros
úteis, em especial os sinais de alarme, dando origem a acidentes profissionais
e ocasionando graves prejuízos sociais.
Outros sintomas são observados, como: algiacusia (aumento
desproporcional da sensação sonora frente a um som intenso), plenitude
auricular (sensação de ouvido tapado ou cheio), sensação de audição abafada e
dificuldades de localização sonora.
Em decorrência à perda auditiva induzida por ruído (PAIR), estudos
relatam que as alterações anatomopatológicas e histopatológicas são diversas e
irreversíveis.
OLIVEIRA (1997) refere-se em seus estudos a PATUZZI & RATAN
(1992) que observam alterações no fluxo coclear e nos esteriocílios
(amolecimento, colapso, fusão e alongamento), aumento no número de células
ciliadas lesadas ao longo da exposição do ruído, redução dos processos ativos
das células ciliadas externas, como a capacidade de contração rápida das
mesmas, formação de escaras e degeneração de fibra nervosa do órgão de
Corti. Deve-se considerar que tais alterações dependem da extensão da lesão e
sua localização, da freqüência do som, nível de pressão sonora e duração da
exposição.
2. Efeitos Não-Auditivos
Além dos Sintomas Auditivos, o ruído exerce ação geral sobre
várias funções orgânicas, apresentando reações distintas, com características
comuns, mas com diferentes significados, como: Reações de alarme, que
consistem em resposta rápida de curta duração sob a ação de um ruído
repentino. Essa atitude reflexa se manifesta através do ato de fechar os olhos,
há aumento da freqüência cardíaca e respiratória, aumento da pressão arterial e
secreção salivar, dilatação pupilar, contração brusca da musculatura e aumento
da secreção dos hormônios e Reações neurovegetativas, em que a ação geral
do ruído exerce uma resposta lenta com variações durante a estimulação
auditiva, influenciando e promovendo transtornos considerados como
verdadeiras doenças de adaptação de instabilidade do sistema neurovegetativo;
como por exemplo, o aumento do tônus muscular, hiperreflexia, redução do
peristaltismo intestinal, distúrbios digestivos, angústia, inquietação, variações na
dinâmica circulatória e aumento da amplitude respiratória.
SELIGMAN (1997) relata que alguns autores não consideram
33
seguros os dados referentes às manifestações não-auditivas do ruído, mas
deve-se considerar que atualmente existem estudos que foram revistos na
literatura científica dos últimos 20 anos e que comprovam que o indivíduo
urbano encontra-se dia-a-dia em exposição ao ruído, seja de forma direta ou
indireta e, consequentemente, há a promoção de estresse ou perturbação do
ritmo biológico, gerando transtornos, tais como:
• Transtornos da Habilidade de executar atividades.
Em provas de habilidade foi demonstrado que com a exposição ao
ruído contínuo, existe a diminuição do rendimento e eficiência, elevando o
número de erros, e um provável aumento de acidentes por conseqüência da
redução da habilidade.
• Transtornos Neurológicos.
Especialistas nesta área citam como alterações o aparecimento de
tremores nas mãos, diminuição da reação aos estímulos visuais, dilatação
pupilar, motilidade e tremores dos olhos, mudança na percepção visual das
cores de desencadeamento ou piora de crises de epilepsia.
• Transtornos Vestibulares
Durante a exposição do ruído ou mesmo após, muitos indivíduos
apresentam alterações tipicamente vestibulares, descritas como vertigens, que
podem ou não ser acompanhadas de náuseas, vômitos e suores frios,
dificultando o equilíbrio e a marcha, nistagmos, desmaios e dilatação das
pupilas.
• Transtornos Digestivos
SELIGMAN (1997) cita GÓMEZ (1983), BORG (1981) afirmam que
pode-se encontrar diminuição do peristaltismo e da secreção gástrica, com
aumento da acidez, seguidos de enjôos, vômitos, perda do apetite, dores
epigástricas, gastrites e úlceras e alterações que resultam em diarréia ou
mesmo prisões de ventre.
• Transtornos Cardiovasculares
Indivíduos submetidos a elevados níveis de ruído (acima de 70 dB)
podem sofrer constrição dos pequenos vasos sangüíneos, reduzindo o volume
de sangue e conseqüente alteração em seu fluxo, causando taquicardia e
variações na pressão arterial.
34
• Transtornos Hormonais
COSTA (1994) relata que a produção dos “Hormônios de Estresse”
é alterada quando o indivíduo é submetido à tensão em ambientes com níveis
elevados de ruído, existindo um aumento dos índices de adrenalina e cortizol
plasmático, com possibilidades de desencadeamento de diabetes e aumento de
prolactina, com reflexo na esfera sexual.
• Transtorno do Sono
RICHTER (1966) citado por SELIGMAN (1997), considera que o
ruído interfere na profundidade e qualidade do sono, surtindo efeitos
desastrosos ao dia-a-dia, com visíveis alterações no trabalho e mesmo na vida
social.
• Transtornos Comportamentais
O ruído gera alterações neuropsíquicas, com mudanças na conduta
e no humor, falta de atenção e de concentração, cansaço, insônia e inapetência,
cefaléia, redução da potência sexual, ansiedade, depressão e estresse.
3. RUÍDO AMBIENTAL
O ser humano está de forma contínua recebendo informações
sonoras. Pode-se considerar todos os sons como ruídos, mas a sua
classificação é subjetiva, destacando o fato de ser ou não desejável.
Para RUSSO (1993), semelhante a um radar, a audição estende-se
a todas as direções e grandes distâncias, informando-nos acerca da localização
e a distância em que se encontra o indivíduo da fonte sonora; constituindo em
um mecanismo de defesa e alerta, importante para a segurança virtual. Observa
ainda que, dependendo do indivíduo, os sons podem provocar as mais diversas
reações físicas e emocionais, como: susto, riso, lágrimas, sensações de prazer
e desprazer, participação e segurança, as quais são partilhadas com os
semelhantes, tendo como agente intermediário a linguagem falada, adquirida
principalmente pela audição.
Diariamente o ruído é introduzido no meio ambiente. São sons que
provocam desconforto mental / físico, que resultam de vibrações irregulares que
podem afetar o equilíbrio sonoro, repercutindo sobre o sistema auditivo e as
funções orgânicas.
O ser humano possui uma alta capacidade de adaptação a
ambientes diversos; o desenvolvimento de um estado de fadiga e fuga de
energia podem acontecer sem que possa perceber, esgotando os limites de sua
resistência.
RUSSO (1998) relata que, o habitante das grandes cidades vive
imerso numa atmosfera de ruídos, sofrendo a ação de um verdadeiro
“bombardeio sonoro”, tanto nos momentos de distração / lazer, quanto no
ambiente de trabalho.
SANTOS (1994) cita (DAVIS, 1948), em seu estudo, referindo que
diversos estudos, principalmente no campo da endocrinologia e neurologia, vêm
colocando em evidência que os efeitos nocivos do ruído não se limitam apenas
às lesões do sistema auditivo, mas comprometem diversos outros órgãos,
aparelhos e funções do organismo, contribuindo dessa maneira para aumentar
36
as preocupações e esforços na eliminação e/ou controle desse agente.
1. Poluição Sonora
Considera-se a poluição sonora como sendo a perturbação que
envolve maior número de incomodados, e diante dos danos dramáticos
causados, ocupa a terceira prioridade entre as doenças ocupacionais.
Embora o ruído ultrapasse o limite de tolerância de 80 - 85 dB, em
certos locais, a exposição a esse não é contínua, como nos ambientes
profissionais, mas intermitente, sendo menos lesivo à audição.
AZEVEDO (1990), em seus estudos, relata que as cidades
brasileiras mais barulhentas são o Rio de Janeiro e São Paulo. Nestas, as
medições nas ruas e nas casas ultrapassam 85 dB (A), produzindo na maioria
de seus habitantes níveis de estresse avançados. Segundo GÓMEZ (1989) as
doenças oriundas por agrotóxicos e as osteo-auriculares ocupam a primeira e
segunda prioridades no Estado de São Paulo. Sendo assim, a poluição sonora
constitui mais um dos fatores de risco da grande parte das pessoas do país,
agravando as doenças cardio-vasculares e infecciosas, interferindo na
recuperação dos enfermos e tornando-se mais fácil o adoecer dos sãos.
Para HUNGRIA (1995) a poluição sonora dos grandes centros
urbanos afeta o psiquismo de seus habitantes.
As condições psicológicas são afetadas, principalmente em
indivíduos com predisposições, acarretando instabilidade de humor,
irritabilidade, alterações emocionais (depressões e excitações), redução da
memória e estresse.
WHO (1980) assinala que, pelas reações fisiológicas conhecidas, a
Organização Mundial da Saúde (OMS) considera 55 dB (A) o início do estresse
auditivo. TUFIK (1991) acrescenta que o estresse em estágios iniciais pode
atuar de forma benéfica, na medida que funciona como excitante ocasional. Por
conseguinte, BONAMIN (1990) afirma que, ao tornar-se crônico, começa a
degradar o corpo e o cérebro, conduzindo à exaustão rapidamente.
Atribui-se aos veículos automotores a maior causa da poluição
sonora. Também são excessivamente ruidosos os aparelhos domésticos e
mecânicos; não se pode deixar de citar os setores industriais e boêmios, devido
à localização nas ruas residenciais e a promoção de eventos ruidosos à noite.
1.1. Efeitos no Organismo
As doenças e mortes decorrentes das alterações do meio podem
ser identificadas por qualquer pessoa. A poluição sonora, mesmo em níveis
exagerados, produz efeitos moderados e imediatos. Seus efeitos atuam no
37
corpo lentamente e somente com o tempo percebem-se alterações como a
surdez que vem, às vezes, acompanhada de assustadores desequilíbrios
psíquicos e de doenças degenerativas.
PIMENTEL-SOUZA (1992) comenta que muitas pessoas perdidas
no redemoinho das grandes cidades não conseguem identificar o ruído como um
dos principais agentes agressores e, cada vez mais, vão ficando desorientadas
por não saberem localizar a causa de tal mal.
DOWGHERTY & WELSH, citados por LACERDA (1976), nos EUA,
estimavam que “a contaminação da atmosfera urbana” pelo ruído se converteu
em ameaça à saúde pública. LACERDA (1976) acrescenta que graves prejuízos
poderiam advir para a audição e a saúde em geral de milhares de pessoas, em
conseqüência da poluição acústica, causada pelos ruídos excessivos dos
grandes centros urbanos.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o ruído até 50
dB (A) pode perturbar, mas é adaptável. A partir de 55 decibéis acústicos a
poluição sonora provoca estresse, causando dependência e gerando durável
desconforto. Efetivamente, o estresse degrativo inicia-se em torno de 65 dB (A)
com o desequilíbrio bioquímico, elevando o risco de infarte, derrame cerebral,
infecções, osteoporose e outros.
Em torno de 80 dB (A) o organismo já libera morfinas biológicas no
corpo, provocando prazer e completando o quadro de dependência. Por volta de
100 dB (A) pode ocorrer perda imediata da audição.
PIMENTEL-SOUZA (1992) afirma que a ativação permanente do
Sistema Nervoso Simpático do morador da metrópole pode condicionar
negativamente a sua atuação com as agressões. Muitas pessoas procuram se
livrar dessa reação, por tornar-se desagradável (por exemplo, de uma
palpitação), usando drogas (tranquilizantes ou cigarro), para bloqueá-la. O corpo
se vê diante de um conflito, sendo atacado sem saber o motivo e como se
defender. É um conflito gerador de ansiedade, pois o nível de ruído do ambiente
urbano encontra-se quase sempre acima dos limites do equilíbrio, conduzindo
para o caminho de estresse crônico.
O ruído estressante libera substâncias excitantes no cérebro,
tornando os indivíduos sem motivação própria, incapazes de suportar o silêncio.
Também libera substâncias anestesiantes, tipo ópio e heroína, provocando
prazer, conduzindo ao uso de fortes drogas psicotrópicas.
A dependência do ruído gera depressão nas pessoas na presença
de ambientes silenciosos, promovendo agitação e incapacidade para meditação
e reflexões.
38
1.2. Efeitos Sincronizadores e Perturbadores do Ruído no Sono
PIMENTEL-SOUZA (1992) refere que a percepção de
SCHOPENHAVER previu há mais de um século as provas científicas de hoje ao
afirmar que “o barulho é a tortura do homem de pensamento”. A ciência tem
desvendado nobres funções do sono, como: as psicológicas, as intelectuais, as
da memória, as do humor e as da aprendizagem. O sono parece ser o período
mais propício para consolidar os traços mnemóricos e geradores de criatividade.
Segue ainda observando que o ruído é um dos sincronizadores ou perturbadores
mais importantes do ritmo do sono. Distúrbios do ritmo do sono produzem sérios
efeitos à saúde mental.
CIPOLLA - NETO (1989) e FISCHER et al. (1989), citados por
PIMENTEL-SOUZA (1992), verificaram em seus estudos que os operários de
turnos noturnos geralmente possuem um sono de má qualidade no período
diurno, muitas vezes incontroláveis e responsáveis pelo maior número de
acidentes entre 3 a 5 horas da manhã.
CZEILER et al. (1981) consideram que o atraso contínuo do sono
pelos horários de trabalho e variações do ritmo das atividades sociais,
facilitados pelo uso de luz elétrica e atrações noturnas, podem levar à constante
insônia.
Segundo as Associações Internacionais de Distúrbios do Sono
(ASDA, 1990), cerca de 5% das insônias são causadas por fatores externos ao
organismo, principalmente pelo ruído, 10% são devidas a má higiene do sono,
ou seja, comportamento inadequado para o sono, sobretudo nas duas horas que
o precedem, e 15% são resultantes de internalizações no cérebro dos fatores
perturbadores externos por meio de mecanismos de condicionamento
apreendidos de forma involuntária.
Num mundo moderno predominantemente visual, em que as
informações variam em 90% do universo atual, atribui-se ao ruído uma
importante contribuição indireta através do estresse diurno e noturno. Além de
gerar má higiene do sono, produz efeitos traiçoeiros que passam
desapercebidos pelos indivíduos por não terem efeitos imediatos e não
deixarem pistas visíveis; tornando o sono mais leve, causando danos
fisiológicos, psicológicos e intelectuais.
O Centro de Estudos de Perturbações e de Energia (CERNE, 1979),
na França, reconheceu que o ruído de baixos níveis permite adaptação. Mas,
após vários anos, os déficits no sono sob níveis de até 55 dB (A) internos são
acumulativos, modificando a estrutura do sono como se fossem de pessoas
envelhecidas precocemente. Pessoas de 35 anos estudadas estavam dormindo
como se fossem de 55 - 60 anos, não expostas ao barulho. Conclui que dormir e
39
desempenhar mal não são necessariamente causados pela idade.
1.3. Ruído e Lazer
O controle de risco do ruído nem sempre é fácil, principalmente
tratando-se dos padrões de determinação do processo saúde / doença.
POSSAS (1989) afirma que as condições gerais de existência,
incluindo o estilo de vida, permitem possibilidades de exposição do ruído, por
estarem associadas às formas social e culturalmente determinadas, que se
expressam no padrão alimentar, no dispêndio energético das atividades de
esportes e hábitos como fumo, álcool e lazer.
Vê-se em CALDAS et al. (1997) que as opções de lazer
transformam em hábitos adquiridos por influência de modismos e pelas
representações sociais, passando o lazer a ser compreendido como uma
agressão à saúde socialmente aceitável.
Atualmente as novas atividades de lazer oferecem riscos e
tendências ascendentes de doença crônico-degenerativa, entre elas, a surdez.
Tais atividades incluem prática de tiro, a mecânica amadorística de motores, uso
de motocicletas, a freqüência a casas de danças (“discotecas”), equipamentos
estereofônicos individuais (walk-man), concertos de rock / pop, equipamentos de
som instalados no interior de automóveis e não se pode esquecer da aplicação
excessiva de sons musicais abusivos nas festas, bailes, reuniões, cinemas,
teatros e os chamados trios elétricos.
KURAS (1979) relata que os equipamentos com fones de ouvido
(walkman), podem alcançar potências muito altas com os seus micro-auto-
falantes e os usuários comumente elevam a intensidade, a fim de encobrir os
sons externos, como: conversação, ruído de trânsito e outros ruídos ambientais.
Verificou-se que os usuários destes equipamentos apreciam nível de
intensidade sonora variável de 70 e 100 dB (A), conforme mostra o quadro
abaixo:
Ambiente e/ou Equipamento Nível de Ruído (dBA)
Bar/restaurante/igreja com música
Automóvel (15 m)
Ônibus (interior)
Caminhão (15 m)
Motocicleta (15 m)
Rifle
Pistola
Discoteca
Walkman (menor volume)
Walkman (maior volume)
70 - 90
60 - 90
70 - 95
70 - 100
70 - 95
130 - 140
110 - 130
95 - 105
60 - 70
110 - 115
Fonte: Revista CIPA
40
Nas principais capitais nordestinas como Salvador, Recife,
Fortaleza, entre outras é comum encontra nas principais ruas um veículo de
transporte, denominado trio-elétrico, com instalações de vários alto-falantes
unidos a amplificadores de alta potência, tocando por várias horas, enquanto as
pessoas seguem dançando e cantando pelas ruas.
RUSSO et al. (1995) consideram que, tendo em vista os elevados
níveis sonoros que tais veículos geram, oferecem riscos à audição tanto de seus
músicos quanto dos que se aproximam demasiadamente deles; efeitos que
serão percebidos a médio e longo prazo, do mesmo modo que a perda auditiva
induzida pelo ruído no ambiente de trabalho.
JORGE JR et al. (1996) dizem que o agravante é que os indivíduos
que estão expostos a estas intensidades sonoras são, na maioria, jovens que,
mesmo antes de iniciarem as fases produtivas de suas vidas, já podem
apresentar lesão de um órgão de comunicação.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerando o ruído uma constante no cotidiano dos indivíduos, o
objetivo deste estudo foi buscar informações e esclarecimentos que permitam
conhecer melhor este intrigante e assustador “inimigo invisível”, como é
denominado por alguns estudiosos do assunto.
Esta pesquisa conduz à reflexão acerca dos efeitos do ruído
ambiental e como este afeta o organismo humano, sem que se possa sentir e/ou
perceber a extensão dos prejuízos por ele ocasionados.
Em virtude de todos os aspectos discutidos neste trabalho, os níveis
de ruídos externos nas cidades brasileiras, considerando os casos industriais e
de lazer, são bastante excessivos, ultrapassando os limites de insalubridade,
independente do tamanho dos centros urbanos.
Por tratar-se de uma “ameaça” à qualidade de vida das pessoas e
provocar alterações auditivas, orgânicas, psicológicas e sociais, presencia-se o
interesse crescente de diversas áreas afins na elaboração de estudos, medidas
de controle e alternativas para amenizar os efeitos nocivos do ruído na saúde do
ser humano.
A Poluição Sonora despertou a minha atenção, pois, ocupa a
terceira posição entre as doenças ocupacionais nos centros urbanos, como São
Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, entre outros.
Os efeitos produzidos no organismo humano atuam de forma lenta
e somente com o tempo manifestam-se alterações tais como surdez, de
desequilíbrios psíquicos e doenças degenarativas. A dependência do ruído pode
gerar nas pessoas depressão, ou mesmo, frente a ambientes silenciosos
promover agitação e incapacidade para meditação e reflexão. Outro fator de
relevância observado é a influência negativa do ruído durante o sono, na
realização das atividades cotidianas e no trabalho. O organismo humano não
possui capacidade de adaptação na presença de uma situação de estresse
intenso ou muito prolongada.
Espera-se que este trabalho contribua para estudos posteriores e
42
aprofundamentos na prática e ciência fonoaudiológica, profissionais de áreas
afins e a toda sociedade.
Trazendo informações sobre o ruído ambiental e suas
manifestações auditivas e não-auditivas, há a necessidade de se tomar medidas
educativas, pois além de constituir um problema de saúde pública é também
uma questão educacional, e no empenho de todos na busca de caminhos que
venham permitir que se possa usufruir de uma vida orgânica e intectualmente
saudável e emocionalmente equilibrada.
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FROTA, S. Fundamentos em Fonoaudiologia – Audiologia. Rio de Janeiro,
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Efeitos do Ruído Ambiental na Saúde

  • 1. CEFAC CENTRO DE ESPECIALIZAÇÃO EM FONOAUDIOLOGIA CLÍNICA AUDIOLOGIA CLÍNICA EFEITOS DO RUÍDO AMBIENTAL NO ORGANISMO HUMANO E SUAS MANIFESTAÇÕES AUDITIVAS LÍVIA ISMÁLIA CARNEIRO DO CARMO GOIÂNIA 1999
  • 2. CEFAC CENTRO DE ESPECIALIZAÇÃO EM FONOAUDIOLOGIA CLÍNICA AUDIOLOGIA CLÍNICA EFEITOS DO RUÍDO AMBIENTAL NO ORGANISMO HUMANO E SUAS MANIFESTAÇÕES AUDITIVAS Monografia de conclusão do Curso de Especialização em Audiologia Clínica. Orientadora: Mirian Goldenberg LÍVIA ISMÁLIA CARNEIRO DO CARMO GOIÂNIA 1999
  • 3. “Toda a vida (ainda das coisas que não têm vida) não é mais que uma união. Um união de pedras é edifício; uma união de tábuas é navio; uma união; uma união de homens é exército. E sem esta união tudo perde o nome e mais o ser. O edifício sem união, é ruína; o navio sem união é naufrágio; o exército sem união é despojo. Até o homem (cuja vida consiste na união de alma e corpo) com união é homem, sem união é um cadáver.” Padre Antônio Vieira (1908-1967)
  • 4. Dedicatória Aos homens de minha vida, Ricardo e aos filhos, Leonardo, Marcelo e Ricardo Filho. Aos meus pais, Otelino e Orelina. Com carinho a Maione Maria Miléo.
  • 5. Agradecimento Aos colegas do Curso de Especialização do CEFAC; ressalto o apoio das grandes companheiras: Viviane Pacheco e Mara Núbia, que nos momentos mais importantes estiveram presentes. Sou particularmente grata, à Coordenação do CEFAC, na pessoa de Christiane Tanigutti e a todos os profissionais que muito contribuíram com suas experiências e conhecimentos em suas respectivas áreas. Manifesto o meu reconhecimento ao valioso auxílio dos ex-professores e eternos amigos, Maione Maria Miléo, Sumaya Leão Tavares, Luciana Zulliani, Bertín Sanches, pelo profissionalismo, incentivo e preciosos conselhos. Deixo um agradecimento especial à todos os meus familiares.
  • 6. SUMÁRIO SUMMARY (ABSTRACT)......................................................................................7 RESUMO ..........................................................................................................8 1. INTRODUÇÃO ................................................................................................9 2. DISCUSSÃO TEÓRICA................................................................................... 11 1. AUDIOLOGIA − ASPECTOS CONCEITUAIS ............................................................. 11 1.1. O Som: Aspectos Acústicos e Psicoacústicos ............................................ 12 1.2. Ondas Sonoras ................................................................................... 13 1.3. Faixa de Audição Humana ..................................................................... 14 1.4. Ruído................................................................................................ 14 1.5. Anatomofisiologia e Acústica da Audição .................................................. 18 2. EFEITOS DO RUÍDO NO ORGANISMO.............................................................. 29 1. EFEITOS AUDITIVOS ..................................................................................... 29 1.1. Trauma Acústico ................................................................................. 30 1.2. Mudança Temporária no Limiar (TTS - “Temporary Threshold Shift”) ou Fadiga Auditiva ................................................................................................... 31 1.3. Perda Auditiva Induzida por Ruído (PAIR) ou Mudança Permanente no Limiar (PTS - “Permanent Threshold Shift”).............................................................. 31 2. EFEITOS NÃO-AUDITIVOS ............................................................................... 32 3. RUÍDO AMBIENTAL ...................................................................................... 35 1. POLUIÇÃO SONORA ...................................................................................... 36 1.2. Efeitos no Organismo ........................................................................... 36 1.3. Efeitos Sincronizadores e Perturbadores do Ruído no Sono.......................... 38 1.4. Ruído e Lazer..................................................................................... 39 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................. 41 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 43
  • 7. SUMMARY (ABSTRACT) Human ear is extremely sensitive to noise. Through bibliographical revision this research has the main objective to report the harmful effects of environmental noise on human organism and its hearing display. Continued exposure to noise can cause physical fatigue and chemical, metabolic and mechanical modifications of hearing, therefore it will cause stress of biological chances that can affect the sleep and health, such as: breathing and behavior, endocrine and neurological problems; it will become the cause of many diseases. According to many authors the effects of environmental noise affect the human organism direct or indirectly depending on frequency, intensity, duration and personal susceptibility to which the human being is exposed. We understand in this study the urgency to inform everybody, professionals the harmful effects due to noise exposure. Such effects may be decreased through educational programs and environmental noise inspection. We suppose that this research will also help the investigation of new alternatives to control harmful noise since this topic refers to public health.
  • 8. RESUMO A orelha humana é extremamente sensível e vulnerável ao ruído. Através de revisão bibliográfica, esta pesquisa, teve como objetivo principal relacionar os efeitos nocivos do ruído ambiental sobre o organismo humano, e suas manifestações auditivas. A exposição prolongada do ruído pode levar ao esgotamento físico e às alterações químicas, metabólicas e mecânicas do órgão sensorial auditivo. Consequentemente, ocorrendo estresse e/ou perturbação no rumo biológico, resultando em distúrbios do sono e da saúde (transtornos respiratórios, comportamentais, endocrinológicos, neurológicos, entre outros), passando a ser um agente provedor de doenças. De acordo com diversos autores, os efeitos do ruído ambiental afetam o oganismo humano de forma direta ou indireta, considerando-se a freqüência, intensidade, duração e susceptibilidade individual, nas quais o ser humano encontra-se exposto. Percebe-se neste estudo a urgência em alertar a sociedade, especialmente os profissionais da saúde e áreas afins, sobre os efeitos prejudiciais decorrentes do ruído. Tais efeitos podem ser atenuados com elaboração de programas educativos e de medidas preventivas para a fiscalização dos níveis de ruído ambiental. Acredita-se que esta pesquisa também auxiliará na busca de novas alternativas para o controle do ruído, já que este tema assume uma dimensão maior, por se referir à saúde pública.
  • 9. 1. INTRODUÇÃO Por constituir uma preocupação há cerca de 2.500 anos, confirmada por relatos históricos de vários pesquisadores e tendo em vista o crescente aumento de agentes desencadeadores, o ruído assume um interesse significativo na área científica, na elaboração de estudos e propostas para o controle desse inimigo silencioso e sorrateiro. Definido como o som capaz de provocar dano ao Sistema Auditivo, interferindo no equilíbrio bioquímico do organismo, comprovado especialmente na indústria, o ruído representa um problema sério, causando danos auditivos em milhares de trabalhadores, influenciando na capacidade de atenção e reduzindo o desempenho de suas atividades, tanto intelectuais como físicas. O desenvolvimento tecnológico das indústrias e o crescimento dos grandes centros urbanos submetem o indivíduo ao convívio permanente do ruído, não respeitando convenções e nem classes sociais. Pesquisas recentes revelam que a poluição sonora ocupa a terceira posição entre as doenças ocupacionais, motivo pelo qual conduziu o interesse pelo tema proposto. O presente trabalho objetivará mostrar as influências e manifestações auditivas e não-auditivas do ruído ambiental no organismo humano. Para a realização deste estudo será utilizado um referencial teórico sobre o ruído e seus efeitos. Para tanto, procurará estabelecer alguns conceitos e elucidações quanto às áreas de abrangência da audiologia e seu campo de atuação enquanto ciência fonoaudiológica. Buscar-se-á analisar, através da literatura especializada, os aspectos relativos à anatomofisiologia e fisiopatologia da audição, a relação audição, som e ruído, bem como caracterizar o ruído ocupacional e suas respectivas patologias e por último o ruído ambiental e seus efeitos no organismo em geral. Será dada ênfase à Poluição Sonora como agente provedor de doenças e insalubridade ao ruído estressante aos quais os indivíduos estão
  • 10. 10 expostos e, por último, relatar sobre estudos que hoje destinam-se ao ruído e ao lazer. Os assuntos serão apresentados progressivamente, e de forma sucinta, com o objetivo de facilitar a compreensão deste tema tão envolvente.
  • 11. 2. DISCUSSÃO TEÓRICA Para a realização deste trabalho, utilizamos de um referencial teórico, sobre o ruído e seus efeitos. Há neste trabalho como proposta para a discussão teórica, a organização em capítulos, com a intenção de oferecer uma melhor compreensão do assunto em questão. Para tanto, os capítulos serão apresentados, progressivamente, e de forma sucinta, com o propósito de convidar o leitor a uma reflexão acerca deste assunto envolvente e motivador. No primeiro através da literatura especializada, serão apresentados os aspectos conceituais da audiologia, os aspectos acústicos, psicoacústicos do som, o ruído e sua classificação e a anatomofisiologia da audição. Além de caracterizar o ruído ocupacional, o segundo destinar-se-á aos efeitos auditivos do ruído, manifestações clínicas e suas respectivas patologias. O terceiro abordará sobre os efeitos não-auditivos decorrentes do ruído no organismo humano em geral, dando ênfase à poluição sonora como agente provedor de doenças e insalubridades, o ruído estressante e estudos sobre o ruído e lazer. 1. Audiologia − − Aspectos Conceituais Tendo como objeto de estudo o ruído e sendo ele importante agente físico causador de perdas auditivas e distúrbios neuro/fisio/ psicológicos, o exercício desse campo é feito principalmente pela audiologia e áreas afins como a psicofísica, neurologia, fisiologia, psicologia, ou seja, por pesquisadores que investigam os aspectos que desencadeiam tal problema e o empenho científico de cada área. LACERDA (1976) relata que “a palavra audiologia possui uma etiologia composta (do latim audio e do grego logos) que se refere ao estudo da audição como também os desvios ou desordens da função auditiva.” RUSSO (1993) a define como a ciência da avaliação da audição e tem sua base científica na Psicoacústica, relacionada com aquilo que se ouve,
  • 12. 12 descrevendo as relações existentes entre as sensações auditivas e as propriedades físicas de um estímulo sonoro. Aliada ainda a estes conceitos, a audiologia direciona suas pesquisas para tudo que possa auxiliar ou prejudicar a audição, podendo ser estudada sob os aspectos psicofísicos, anatomofisiológicos, neurofisiológicos e fisiopatológicos. No campo da Psicofísica, a audiologia estabelece relações entre as respostas do organismo e os estímulos acústicos. Na área da Anatomia e Neurofisiologia volta seu estudo para a transmissão dos sons por intermédio do Sistema Auditivo Periférico e a Recepção Neurossensorial dos estímulos sonoros direcionados ao córtex cerebral. Na Psicologia seu estudo volta-se para a percepção auditiva a nível de área temporal do córtex, juntamente com as operações de análise e síntese dos estímulos auditivos e a complexidade das funções sensomotoras e intelectuais do córtex cerebral. Na Fisiopatologia são avaliadas as lesões que acometem os sistemas de transmissão e recepção coclear e retrococlear, os distúrbios de audição periféricos e centrais, como também as perdas auditivas. 1.1. O Som: Aspectos Acústicos e Psicoacústicos A acústica é uma área de relevância de estudo, principalmente por caracterizar o ruído quanto o nível de pressão sonora, em determinar a faixa de freqüência percebida pela orelha humana, classificação dos tipos de ruído, permitindo conhecimentos úteis relativos aos efeitos dos fenômenos sonoros sobre a audição. Do ponto de vista audiológico, a acústica pode ser estudada em dois aspectos: acústica física e acústica fisiológica ou psicoacústica. MENEGOTTO & COUTO (1998) definem a acústica física como sendo a geração, transmissão e recepção de uma energia na forma de ondas vibracionais na matéria. O fenômeno mais familiar é a sensação do som, sendo este considerado como uma vibração que se propaga pelo ar em forma de ondas e que é percebida pela orelha humana. Um distúrbio vibracional é interpretado como som quando sua freqüência atinge uma faixa de 20 a 20.000 Hz em uma intensidade capaz de produzir uma sensação auditiva. Em RUSSO (1993) vê-se que a Psicoacústica ou Acústica Fisiológica diz respeito aos atributos da sensação do indivíduo para freqüência (“pitch”), para intensidade (“loudness”) e, ainda, com os julgamentos ou impressões individuais, em relação a ruído, sons musicais, vozes humanas, entre outros. Portanto, está relacionada com a habilidade dos ouvintes em distinguir diferenças entre os estímulos e não diretamente com os mecanismos
  • 13. 13 fisiológicos dos sons. Sendo assim, a diferença básica entre Audiologia e Psicoacústica encontra-se na metodologia empregada. A primeira está empenhada em pequenas diferenças e efeitos sutis, e a segunda dirige-se para a aplicação de testes simples e rápidos a fim de determinar a natureza do distúrbio e local da lesão. Porém, não se pode dissociá-las, pois em conjunto fornecem informações preciosas para a integridade do Sistema Auditivo. Os testes audiométricos subjetivos utilizados na audiologia para medir a acuidade auditiva do indivíduo são chamados de testes psicométricos ou psicoacústicos, os quais, além de outros aspectos, determinam a área de sensibilidade do ouvido humano, constituindo-se, como dito, uma a base da outra. 1.2. Ondas Sonoras São considerados os estímulos da audição. A forma como o som é percebido é extremamente importante para a audiologia, facilitando os seus procedimentos e a melhor compreensão da relação entre som e audição. As ondas sonoras transportam energia de um ponto para outro no espaço, através de oscilações de vibrações que se propagam em um meio elástico, seja, líquido, gasoso ou sólido, sem contudo haver transporte simultâneo de matéria. Suas dimensões físicas estão associadas à altura e intensidade, sendo que, na altura os sons são classificados em graves ou agudos, ou seja, relacionam-se com a freqüência. Quanto a intensidade, a classificação se faz em forte ou fraco e encontram-se relacionados com a amplitude, portanto, maior amplitude, energia e pressão, mais forte é o som. Para MENEGOTTO & COUTO (1998) a intensidade do som pode ser analisada sob o ponto de vista da intensidade sonora (fluxo de energia) ou da pressão (pressão que as moléculas exercem). A audiologia utiliza uma escala logarítmica para descrever os níveis sonoros da percepção humana, frente aos eventos físicos, relativos ao nível de intensidade sonora (NIS) e o nível de pressão sonora (NPS), que é o decibel. CLIFFORD (1973) observa que essa escala é útil não somente para a engenharia do som como para compreender mecanismos de audição. Uma escala logarítmica, naturalmente, é constituída de acordo com os expoentes de um número básico, que é, em geral, 10. Por conseguinte, um som, que é 10 vezes, teria um valor 2; um que fosse 1.000 vezes, o valor 3, e assim por diante. A unidade da escala logarítmica da intensidade do som chama-se bel. O bel é o logaritmo de uma razão de 10, sendo dividido em dez partes chamadas decibels. O decibel é um décimo do bel.
  • 14. 14 RUSSO (1998) relata que a unidade denominada Bel foi concedida em homenagem a Alexandre Graham Bell, inventor do telefone. Foi usada para medições de perdas nas linhas telefônicas, nos EUA, como medida relativa de intensidade, a qual amplia uma ampla variação de escala linear de intensidade pelas transformações desta em uma escala logarítmica. MENEGOTTO & COUTTO (1998) acrescentam que há outros tipos de escalas de decibels, como dBNA, dBA, dBNS, dBC e outros. Os exames audiológicos são normalmente relacionados numa escala chamada de dBNA. 1.3. Faixa de Audição Humana Vários experimentos psicoacústicos foram utilizados para esclarecer as relações existentes entre as alterações nas propriedades físicas das vibrações sonoras e as correspondentes alterações subjetivas na sensação auditiva, determinando a faixa de audição humana, que compreende a área de freqüências de 20 a 20.000 Hz, incluindo o limiar mínimo de detecção ou audibilidade. Os ossos da cabeça também transmitem som, sendo que a orelha é muito sensível aos sons transmitidos por condução aérea do que condução óssea. Considera-se por audição a percepção dos sons que os indivíduos têm, através do mecanismo da orelha. Os estímulos sonoros atingem a orelha e, no cérebro, a área correspondente interpreta esses estímulos, os quais tornam- se conscientes pela percepção. 1.4. Ruído Grande parte dos sons são complexos, com diferentes ondas superpostas como a fala, a música e os ruídos. Não existe diferença, em termos físicos, entre som e ruído. A preocupação com os níveis de ruído em relação ao meio ambiente e à saúde, data desde os primórdios do tempo, constituindo um problema de 2.500 anos atrás. Os primeiros relatos com relação à surdez dos moradores que viviam próximos às cataratas do rio Nilo, no Egito, estabelecendo uma relação causal entre ruído e a perda da audição. Foram descritos por Hipócrates e Plínio, o Velho. CRUZ & COSTA (1994) confirmam que a clássica descrição de que o interesse dos sons ambientais sobre as pessoas existe desde a antiga Roma, quando veículos puxados por animais andando pelas primeiras vias pavimentadas, incomodavam as pessoas dentro de suas casas durante
  • 15. 15 conversas informais e o sono. No Brasil atualmente já existem estudos direcionados ao ruído e seus efeitos, como por exemplo, pesquisadores de Belo Horizonte confirmam que o ruído pode afetar de forma direta ou indireta, através de estresse ou perturbações no ritmo biológico, gerando distúrbio do sono e da saúde, em geral, no cidadão urbano. Conforme CLARK (1992), o ruído é um incômodo e COSTA & CRUZ (1994) completam que, em grande quantidade e de forma constante, torna-se mais que um incômodo, passando a ser agente causador de doenças. RUSSO (1993), considera o termo ruído, para descrever um sinal acústico aperiódico, originado da superposição de vários movimentos de vibração com diferentes freqüências, as quais não apresentam relação entre si. LACERDA (1976) aponta que no ruído podem-se distinguir dois fatores principais. O primeiro diz respeito à freqüência, que consiste no número de vibrações por segundo emitidas pela fonte sonora, medida em Hz, atribuindo aos ruídos a seguinte classificação: de baixa freqüência (graves) entre 20 a 300 Hz; freqüências médias de 30 a 6.000 Hz; altas freqüências (agudas) os de 6.000 a 20.000 Hz. Os sons abaixo de 20 Hz são denominados de infra-sons e acima de 20.000 Hz, de ultra-sons. Os sons de alta freqüência são mais nocivos à orelha humana e os ruídos de baixa freqüência, mesmo sendo suportáveis pela orelha, produzem efeitos orgânicos mais acentuados. O segundo fator ligado ao ruído é a intensidade, medida em decibel (dB), considerando que os ruídos inferiores a 40 dB são apenas desagradáveis, enquanto os ruídos entre 40 - 90 dB são capazes de favorecer distúrbios nervosos, e, os superiores a 90 dB agem de forma traumatizante na orelha. De acordo com a Norma - ISO 2204/1973 (INTERNATIONAL STANDARD ORGANIZATION), os ruídos podem ser classificados segundo a variação de seu nível de intensidade com o tempo, como: contínuo, cujas variações de nível são desprezíveis (aproximadamente 3 dB), apresentando maior duração durante o período de observação; intermitente , que apresenta uma variação contínua de um valor aplicável (aproximadamente 3 dB) no período de observação e de impacto ou impulso, seus picos de energia acústica de duração são inferiores a um segundo. FEIDMAN & GRIMES (1985), citados por RUSSO (1993), caracterizam-no como um fenômeno acústico associado a explosões e é considerado um dos ruídos mais nocivos à audição, com intensidades que variam de 100 dB − ruído de impacto − e acima de 140 dB − ruído impulsivo. A exposição contínua a ruídos acima de 85 dBA pode provocar perdas auditivas permanentes e, com aumento de apenas 5 dB, representa uma
  • 16. 16 redução do tempo de exposição ao ruído pela metade. (Tabela 1) Tabela 1. Limites de Tolerância para Ruído Contínuo ou Intermitente Nível de Ruído dB (A) pela Máxima Exposição Diária Permissível 85 86 87 88 89 90 91 92 93 Db DB DB DB DB DB DB DB DB 8 horas 7 horas 6 horas 5 horas 4 horas e 30 minutos 4 horas 3 horas e 30 minutos 3 horas 2 horas e 40 minutos 95 95 96 98 100 102 104 105 106 108 110 112 114 115 DB DB DB DB DB DB DB DB DB DB DB DB DB DB 2 horas e 15 minutos 2 horas 1 hora e 45 minutos 1 hora e 15 minutos 1 hora 45 minutos 35 minutos 30 minutos 25 minutos 20 minutos 15 minutos 10 minutos 8 minutos 7 minutos Fonte: PIMENTEL – SOUZA (1992) 1.4.1. Ruído Estressante O barulho inesperado ou de fonte desconhecida pode provocar várias formas de reações reflexas. Em exposição temporária, o organismo retorna ao normal, correspondendo à reação primária. Se a fonte geradora de ruído é mantida ou alternada podem ocorrer mudanças persistentes. SELYE (1954), citado por PIMENTEL-SOUZA (1992), observa que o ruído é um estímulo potente para estabelecer conexão com o arco-reflexo vegetativo do Sistema Nervoso Autônomo (SNA) na manutenção do estresse crônico. WHO (1980) refere que são observadas diferentes reações no eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, incluindo o aumento de liberação de ACTH e de
  • 17. 17 corticosteróides. BERGAMINI et al. (1976) dizem que os órgãos alvos incluem vísceras, como: glândulas endócrinas ou exócrinas, órgãos sexuais, sistemas hormonais, etc. Em seus estudos PIMENTEL-SOUZA (1992) cita SELYE (1965) que atribui ao ruído estressante três fases, que promovem efeitos psicofisiológicos e fisiológicos decorrentes da atividade simpática e hipotálamo-hipofisária. A primeira fase (estresse agudo) caracteriza-se por resposta do SNA simpático com liberação de norodrenalina no sangue. A segunda fase (estresse crônico) representa o período de resistência, quando o organismo adapta-se ao agente agressor, permanece defendendo-se e passa a liberar mais adrenalina que, em conjunto com a anterior, constituem os hormônios do medo, raiva e da ansiedade. A terceira fase (estresse de exaustão) corresponde ao período pré- agônico, com permanência das secreções destes hormônios e queda das gonadrotrofinas e oxitocinas, afetando a persistência, comportamentos sociais e sexuais, levando à depressão psicológica, à deficiência imunológica, à desintegração orgânica, óssea, muscular etc. 1.4.2. Características dos Sons Lesivos (RUÍDO) Os sons lesivos são mais intensos que da conversação, variam de 60 – 75 dB SPL. O som lesivo tem por volta de 85 dB, com exposição de 8 horas por dia. Nos últimos 25 anos o nível crítico dos sons lesivos teve vários significados e, devido a este fato, devem-se utilizar alguns referenciais para estabelecê-lo. SPOENDLIN (1976) atribui 120 dB SPL com o estímulo NOISE BURST; HANDERSON et al., (1991-1994), em mais ou menos 125 dB SPL; DANIELSON et al. (1991) e OLIVEIRA (1997) afirmam que o impulso de vários milissegundos revelariam o nível crítico entre 135 a 155 dB. 1.4.3. Fatores de Risco Alguns fatores de risco em relação a sensitividade à perda auditiva por ruído foram observados durante este levantamento. SUN et al., (1991) citados por OLIVEIRA (1997), afirmam que a deficiência de ferro no organismo facilitava as lesões cocleares. Em seus estudos, OLIVEIRA (1997) cita diversos autores como CODY & JOHNSTONE (1982) o ouvido esquerdo seria mais suscetível a lesão por ruído, devido ao fator de lateralidade, consideram que as perdas auditivas monoaurais podem ser reduzidas por estímulos acústicos simultâneos. AXELSSON et al. (1981) verificaram que o ouvido esquerdo seria
  • 18. 18 mais suscetível à lesão por ruído − fator lateralidade. OLIVEIRA (1989) atribui aos antibióticos aminoglicosídeos como potencializadores de lesões auditivas por ruído. Outros fatores observados: a prematuridade, em que verifica-se que as crianças imaturas são suscetíveis a lesões auditivas por ruído (barulho da incubadora). Em idade avançada existe uma relação inversa: quanto maior a idade, menor a susceptibilidade, sendo considerado que, em idade avançada, a mulher é mais sensível às perdas auditivas por ruído. Não se pode deixar de ressaltar que outros fatores são importantes, como: a duração, a influência e a continuidade e discontinuidade do ruído. A duração diz respeito ao tempo em que o indivíduo encontra-se exposto ao ruído. A influência está relacionada à susceptibilidade, que é muito variável entre os indivíduos e aos ruídos que causam alterações auditivas. A continuidade e descontinuidade, encontra-se na freqüência do ruído e a sensibilidade do som audível. 1.5. Anatomofisiologia e Acústica da Audição A audição é um órgão sensorial importante à vida; constitui a base da comunicação humana. Além dos aspectos acústicos, é imprescindível conhecer a anatomia e a fisiologia da audição para a compreensão dos efeitos auditivos decorrentes da exposição ao ruído. ZORZETTO (1994) descreve a orelha como órgão vestibulococlear, formada por um complexo morfofuncional responsável pela sensibilidade ao som, aos efeitos gravitacionais e do movimento. MORATA & SANTOS (1994) afirmam que a orelha está contida no osso temporal e tem como funções principais o equilíbrio e a audição. Do ponto de vista didático, pode-se dividir a orelha em três partes: orelha externa, orelha média e orelha interna. 1.5.1. Orelha Externa Constituída pelo pavilhão auricular, conduto auditivo externo (CAE) e membrana timpânica (MT), localizada na porção final do CAE, separando orelha externa da média. OLIVEIRA (1985) coloca que a finalidade do pavilhão auricular é coletar as ondas sonoras e dirigi-las para o CAE. MORATA & SANTOS (1994) completam, dependendo da posição do ouvinte em relação à fonte sonora, pode também ser responsável por um acréscimo de 01 a 10 dB na faixa de freqüência de 2.000 a 5.000 Hz. Contribuindo, ainda, para a localização da fonte sonora e proteção para a orelha média e interna.
  • 19. 19 O CAE tem 2,5 cm de comprimento e conduz as ondas sonoras à MT. Possui duas porções: a primeira cartilaginosa e segunda óssea, que é mais estreita. É recoberto por pele, possui pêlos e glândulas que produzem cera, com função de proteger a MT contra a ação de corpos estranhos. O seu formato também contribui na amplificação e ressonância, destacando a sensitividade para determinados sons. Contudo, a freqüência ressonante é variável entre os indivíduos, de acordo com a extensão e características físicas do pavilhão auricular e CAE. Pode-se dizer que essa amplificação varia de 10 a 20 dB para freqüências entre 2.000 e 4.000 Hz. MENEGOTTO & COUTO (1998) ressaltam que a ressonância própria do CAE parece ser invariável, mas a ressonância do pavilhão auricular é extremamente dependente da direção do som. Assim, o som que chega a MT apresenta variações características conforme a posição da fonte sonora, o que fornece pistas para a sua localização. 1.5.2. Orelha Média Conhecida também por cavidade timpânica ou caixa do tímpano. É uma cavidade preenchida de ar, escavada no osso temporal e tem de 1 a 2 cm3 de volume. Possui três recessos: Epitimpânico ou Ático, contendo a cabeça do martelo, corpo e ramo curto da bigorna, o Mesotimpânico, área coberta pela membrana timpânica e o recesso Hipotimpânico ou Hipotímpano, situado na parte anterior. MENEGOTTO & COUTO (1998) registram que a função da orelha média é fazer uma “ponte” entre a orelha externa e a orelha interna, ou precisamente, entre o meio aéreo da orelha externa e o meio líquido da orelha interna. Esta “ponte” inicia-se na MT, passa pela cadeia ossicular e termina na janela oval. A MT ou membrana do tímpano é uma estrutura da orelha média, transparente, com aparência circular, com pequena concavidade e apresenta 80 mm2 de superfície, 10 mm de diâmetro e 0,1 mm de espessura. No adulto, apresenta-se em posição oblíqua, voltada ântero-lateralmente. É constituída por três camadas de tecido de origem diversa: a primeira, a mais externa, de natureza epitelial, de origem ectodérmica, a segunda, intermediária fibrosa, de origem mesodérmica a terceira, e profunda (interna) mucosa, de origem endodérmica. Esta membrana é dividida em quadrantes: póstero-superior, póstero-inferior, ântero-superior e ântero-inferior. Apresenta duas porções: a primeira PARS Flácida ou membrana de SHRAPNELL é uma porção fina e frouxa; corresponde à parte da membrana que é formada por epiderme e mucosa, situada acima das pregas malares.
  • 20. 20 BONALDI et al. (1998) consideram que a PARS TENSA ou lâmina própria, a segunda, e responsável pela compliância da MT e transmissão de vibração para a orelha média devido o arranjo de fibras que contém. O cabo do martelo situa-se firmemente aderido às fibras da camada média, sendo o ossículo constantemente tracionado para dentro por ligamentos e pelo músculo tensor do tímpano, o que mantém a membrana tensa e permite a transmissão das vibrações sonoras. Do ponto de vista funcional a MT pode ser dividida em três zonas; que se diferenciam pela composição de suas fibras e o modo de vibração: zona central, zona intermediária e zona periférica. Os autores acima citados, acrescentam que, de modo geral, a vibração é transferida das zonas central e periférica para a intermediária, no entanto podem ser diferenciados movimentos vibratórios com relação à freqüência de estimulação. De acordo com STINSON (1985), citado por MENEGOTTO & COUTO (1998), até 2 ou 3 Khz aproximadamente a MT vibra como um todo, em movimentos de vaivém. Acima disso, vibra por partes, com suas porções respondendo de forma diferenciada às diversas freqüências. ZORZETTO (1994) diz que a cadeia ossicular é composta por três ossículos: martelo, bigorna e estribo, articulados entre si, situados no interior da cavidade timpânica. Encontram-se suspensos por ligamentos e músculos que em conjunto e o formato característico dos ossículos lhes permite um padrão próprio de movimentação. O martelo tem uma das suas extremidades ligada à porção mais central da MT e a outra ligada à outra bigorna que, por sua vez, articula-se com o estribo, que tem sua base inserida na janela oval. MORATA & SANTOS (1994) assinalam que, como a transmissão do som de um meio aéreo (orelha média) para um meio líquido (orelha interna), é extremamente ineficiente (há uma perda de energia correspondente a 30 dB) devido a grande diferença de mobilidade entre os dois meios, a cadeia ossicular atua como um transformador mecânico que equaliza as impedâncias. RUSSO (1993) diz que a posição que o conjunto tímpano-ossicular oferece à passagem da onda sonora que penetra no CAE é denominada da impedância mecânica da orelha média, parte da energia acústica que incide na MT é refletida para fora, e a outra parte é transmitida para a orelha média pela vibração da MT. A orelha média tem como função principal facilitar a transmissão das ondas sonoras do ar para os fluídos da orelha interna; considerando que o ar tem baixa impedância, enquanto os fluídos cocleares apresentam uma alta impedância, portanto é necessário o casamento entre as impedâncias por meio
  • 21. 21 da ação transformadora da cadeia ossicular. RUSSO (1993) afirma que a impedância da orelha média é determinada por três fatores; o primeiro denominado massa, relacionada ao peso e à densidade dos elementos dentro do sistema (cadeia ossicular), MT e fluídos da orelha interna; o segundo diz respeito à rapidez, relacionada ao movimento da platina do estribo e à resistência dos fluídos cocleares, contribuindo para manter a forma e posição do sistema móvel. Estes dois fatores são conhecidos como reactância, que é a parte da impedância que depende da freqüência sonora, sendo que estes não atuam na faixa de freqüência, denominada de zona de ressonância, que compreende as freqüências entre 500 a 4.000 Hz. O último dos três fatores é a resistência, oriunda da transformação da energia aplicada no sistema ossicular, conhecida como fricção ou atrito; está vinculada à suspensão dos ossículos pelos músculos e ligamentos. LOPES Fº (1972), citado por RUSSO (1993), define a resistência como a parte da impedância que não depende da freqüência sonora, sendo função da densidade do meio e da velocidade de propagação do som no meio. O ajustamento entre duas diferentes impedâncias (ar e fluído cocleares) é realizado por dois sistemas de amplificação mecânica, o sistema de alavanca e redução de área. MORATA & SANTOS (1994) assinalam que o sistema de alavanca aumenta a força de transmissão da MT em 1,3 vez. Esta relação, multiplicada pela diferença da área da membrana e a placa do estribo, que é de dezesseis vezes, faz com que a pressão sobre o líquido da cóclea seja 22 vezes (17 x 1,3) maior que a exercida pela onda sonora sobre a MT. RUSSO (1993) acrescenta que a contribuição dada pelo sistema de alavanca é de aproximadamente 2,5 dB, ao passo que o aumento da intensidade sonora, fornecido pela relação de área, é de cerca de 27 dB. O sistema tímpano-ossicular desempenha outro papel importante, a seleção de entrega de energia acústica para uma só das janelas cocleares, compensando a perda de energia, anteriormente citada de 99,9% e harmonizando as diferentes impedâncias, e com isso, alterando a inércia que o meio líquido tem no ar. A seleção de entrega de energia acústica, para uma só das janelas cocleares, consiste no movimento simultâneo das duas janelas, ou seja, enquanto a janela oval se move para dentro, a janela redonda se move para fora (inversão de fases).
  • 22. 22 1.5.3. Mecanismo de Proteção da Orelha Média (Reflexo Estapediano) A orelha humana contém alguns mecanismos de proteção auditiva. A orelha média possui a capacidade de regular a passagem de sons extremamente intensos, que, por sua vez, podem lesar as estruturas da orelha interna. Este mecanismo de proteção se faz através dos músculos intra- auriculares-estapedianos e tensor do tímpano, que apresentam como função a modificação do padrão de movimentação da cadeia ossicular. RUSSO (1993) refere que, quando a intensidade de um som de baixa freqüência ascende acima de um valor crítico (70 a 90 dB NS para as freqüências situadas entre 450 a 4.000 Hz), o modo de vibração da cadeia ossicular muda, passando a platina do estribo a rodar em torno de seu eixo longo. A amplitude do movimento é diminuída e menor pressão é transmitida para a cóclea, reduzindo o risco de lesões das células ciliadas do órgão de Corti. MORATA & SANTOS (1994) completam que o músculo tensor do tímpano traciona o cabo do martelo para dentro e o estapídio para fora, provocando maior rigidez no sistema e reduzindo a transmissão de sons, principalmente de baixas freqüências, menores do que 1.000 Hz. Estes mesmos autores afirmam que o músculo estapídio é responsável pelo reflexo acústico (ou estapediado), particularmente na presença de ruídos intensos e, aparentemente, é mais sensível a sons complexos que a sons puros. A duração desse reflexo é de 35 a 150 milessegundos, para sons de aproximadamente 80 dB acima do limiar auditivo. Sendo que a atenuação propiciada varia de 15 a 33 dB, ou seja, 15 dB a partir do limiar do reflexo, portanto somente 5 dB de um estímulo sonoro com intensidade de 20 dB acima do limiar do reflexo será transmitido à cóclea. Na presença de estimulação sucessiva aparentemente o reflexo se adapta ou relaxa após 15 segundos de exposição a um ruído intenso e contínuo. Ressaltam os mesmos autores que os músculos não são irreversivelmente fatigados, uma vez que o reflexo gradualmente relaxa durante uma estimulação contínua, devido a um gradual decréscimo na sensação de intensidade (LOUDNESS) que ocorre com estímulos de longa duração (adaptação neural) DURRANT F. (1972), citado por MORATA & SANTOS (1994), refere que a existência de um intervalo de tempo entre a ocorrência do estímulo e o início da contração muscular (de aproximadamente 10 mseg) limita sua efetividade na atenuação de ruído de impacto. RUSSO (1993) afirma que essa ação mecânica do conjunto tímpano-ossicular contribui para a função protetora da orelha média.
  • 23. 23 1.5.4. Função Ventilatória A tuba auditiva, Faringotimpânica ou Trompa de Eustáquio, tem como função principal a ventilação e o equilíbrio da pressão da orelha média; durante os processos de contração muscular do véu palatino (deglutição). Consiste em um tubo achatado, que comunica a cavidade timpânica com a nasofaringe. Apresenta uma porção óssea e outra cartilaginosa. RUSSO (1998) comenta que a porção cartilaginosa dessa tuba possui um orifício que se abre mediante algumas ações, tais como: bocejar, deglutir, tossir, respirar, permanecendo o resto do tempo fechado. Cita a mesma autora que, ao abrir-se o orifício da tuba, ocorre a ventilação da orelha média e a pressão do meio interno é igualada à do meio externo. BONALDI et al. (1998) acrescentam que a função biológica da tuba auditiva é arejar a orelha média e equalizar a pressão do ar externo com a pressão na orelha média, protegendo a orelha de mudanças rápidas de pressão e mantendo a sua mucosa em bom estado. 1.5.5. Orelha Interna Em HUNGRIA (1995) vê-se que a orelha interna ou labirinto encontra-se escavado na parte petrosa do osso temporal (rochedo), formado por estruturas imprescindíveis à audição humana. Anatomicamente possui duas partes: a primeira, anterior ou labirinto ósseo, que compreende a cóclea, o vestíbulo e os canais semicirculares, envolvidos em perilinfa (substância rica em potássio). Apresenta duas aberturas. O aqueduto do vestíbulo abriga o ducto endolinfático e o aqueduto da cócela; a segunda parte, posterior, labirinto membranoso, localizado no interior do labirinto ósseo, constituído pelo sistema de ductos (ducto coclear, sáculo, utrículo e ductos semicirculares), que se comunicam entre si, preenchidos por endolinfa (substância com alta concentração de potássio e baixa concentração de sódio). Segundo BONALDI et al. (1998) às estruturas do labirinto membranoso correspondem órgãos receptores responsáveis pela transdução do estímulo mecânico em impulso nervoso: o órgão de Corti, relacionado à audição, e as máculas do sáculo e do utrículo e as cristas ampulares, relacionadas aos reflexos estatotônicos e estatocinéticos (reflexos vestibulares do equilíbrio), responsáveis pela manutenção do equilíbrio e controle reflexo da posição da cabeça e dos olhos. MORATA & SANTOS (1994) citam GUYTON (1970) que afirma, quanto aos componentes da orelha interna, vestíbulo, os canais semicirculares e a cóclea podem também ser denominados escala vestibular, média e timpânica. Os autores completam, ainda, que as escalas médias e vestibular estão
  • 24. 24 separadas pela membrana de Reissnerr (ou vestibular) e as escalas média e timpânica, separadas pela membrana basilar. Consideram que, para fins de compreensão da transmissão, as escalas vestibular e média são consideradas como única. O campo sensorial, localizado sobre a membrana basilar (interior da escala média), representado pelo órgão de Corti, contém milhares de células sensitivas, células ciliadas, em número de 20.000, que transformam as ondas sonoras em impulsos nervosos, em resposta às vibrações da membrana basilar. BONALDI et al. (1998) referem que o órgão de Corti é o conjunto de membrana tectória, células de sustentação e células ciliadas. Sob a forma de uma cúpula gelatinosa acima das células ciliadas, a membrana tectória é presa à lâmina espiral óssea do modíolo e entra em contato com os cílios das células externas durante as vibrações da membrana basilar. Podem-se destacar com relação às células de sustentação as células de BOETTCHER, células de HENSEN (delimitam o túnel externo); células de DEITERS, células pilares internas (formam o órgão de Corti) e células pilares externas. MORATA & SANTOS (1994) registram que as bases e os lados das células ciliadas estão incluídos numa rede de terminações do nervo coclear. As células ciliadas são células sensoriais, as quais distinguem-se células ciliadas internas e células ciliadas externas. São observadas várias diferenças entre elas, tais como: anatômicas, quantidade e o aspecto funcional. As células ciliadas internas encontram-se dispostas em uma única fileira, em torno de 4.000, com aproximadamente 50 a 70 cílios sensoriais por célula, em posição linear e têm uma forma que assemelha-se a um franco arrendondado, e seus cílios não alcançam a membrana tectória, banhada por endolinfa. Cerca de 95% das fibras do nervo auditivo fazem sinapse com as células ciliadas internas. Consoante BONALDI (1998), essas possuem um potencial de repouso (na ausência de sons) de – 40 MV e são responsáveis pela transdução sensorial, ou seja, produzem uma mensagem elétrica codificada que é enviada através das vias nervosas ao logo temporal; apresentam seletividade de freqüência fina e estão relacionadas a sons mais tensos. Aproximadamente em número de 12.000 células, dispostas em três fileiras ao longo das espiras cocleares, as células ciliadas externas têm forma de um tubo de ensaio e cada uma tem de 100 a 300 esteriocílios com disposição de “V” ou “W”. São menores na base e maiores no ápice, encontram-se fixadas à membrana basilar, banhadas por endolinfa no pólo ciliar e perilinfa nas partes laterais. Apresentam alturas diferentes em seus cílios; os mais internos são mais curtos e os mais externos são mais longos e encontram-se introduzidas na membrana tectória. O ligamento de elastina mantém os esteriocílios ligados
  • 25. 25 entre si, constituindo uma unidade. Estudos recentes citados por BONALDI et al. (1998) demonstram que estas células possuem proteínas contráteis como actina, miosina, tropomiosina e agentes moduladores como a calmodulina. Estabelecem os mesmos autores que as células ciliadas externas não são receptoras, ou seja, não codificam a mensagem sonora e estão relacionadas a sons menos intensos. Possuem contrações rápidas e lentas, constituindo-se em efetores cocleares ativos e funcionam como um sistema de aplicador coclear, aumentando em até 50 dB a intensidade de um estímulo, com capacidade de seletividade de freqüências. MORATA & SANTOS (1994) propõem que as células ciliadas internas têm uma função sensorial, transmitindo informações sobre o estímulo auditivo do sistema nervoso central, enquanto as células ciliadas externas desempenham uma função motora, através de mudanças em sua forma que alterariam o padrão de movimentação das membranas basilar e tectória. RUSSO (1998) descreve que a força mecânica, amplificada e transmitida da orelha média para a interna pelos ossículos, é transformada em pressão hidráulica, que comunica movimento ao ducto coclear e às células ciliadas do órgão de Corti, o centro da audição. As ondas de pressão na cóclea iniciam sua trajetória pela janela oval, passando pelas escalas (rampas) vestibular e timpânica, indo finalizar na janela redonda. A transformação da energia mecânica em eletroquímica e nervosa (transdução mecanoelétrica) se faz através da movimentação da membrana basilar. Esta movimentação é inversa e permite o deslocamento tangencial dos cílios das células ciliadas externas contra a membrana tectória (despolarização), que determina a produção de substâncias químicas, as quais estimulam os terminais nervosos (impulso eletronervoso) que será conduzido pelas fibras do nervo auditivo até o cérebro. MORATA & SANTOS (1994) concluem que, devido à sofisticada estrutura da membrana basilar e sua forma (fibrosa), ela não vibra uniformemente por toda a sua extensão, existindo padrões diferentes de vibração para sons de diferentes freqüências. RUSSO (1998) completa que, por ter menor quantidade de massa e ser mais rígida na base da cóclea, entre em ressonância com freqüências altas e, à medida que vai recebendo maior número de fibras, tornando-se, assim, mais densa e mais flexível, entre em ressonância com freqüências médias e baixas, na proximidade do ápice. BONALDI et al. (1998) referem que, segundo George Von Békésy, que descreveu a Teoria da Ondas Viajantes, a cóclea apresenta uma organização tonotópica, observada através das características do movimento da
  • 26. 26 membrana basilar em relação às diferentes freqüências do estímulo sonoro. RUSSO (1998) acrescenta que a cóclea atua como um microfone, reproduzindo a forma da onda sonora original traduzida em sua correspondente eletronervosa e esse é o chamado microfonismo coclear. 1.5.6. Sistema Vestib ular Periférico Constituído pelo labirinto vestibular ou posterior e apresenta duas porções, a primeira porção óssea, labirinto ósseo vestibular, formado por vestíbulo e canais semicirculares; a segunda porção membranosa, o labirinto membranoso vestibular, constituído pelo sáculo, utrículo e ductos semicirculares. Este sistema contém endolinfa, circundado pelo espaço perilinfático e sustentado por tecido conjuntivo. ZORZETTO (1994) afirma que as várias partes do labirinto vestibular formam um sistema de canais que se comunicam entre si. Os ductos semicirculares abrem-se no utrículo e este, no sáculo, através do ducto utricolossacular, que também se liga ao ducto endolinfático, que se resolve no saco endolinfático. O sáculo une-se ao fundo-de-saco do ducto coclear pelo ducto de reuniens. BONALDI et al. (1998) consideram o vestíbulo um espaço ovóide, transversalmente achatado, posterior à cóclea e anterior aos canais semicirculares. Comunica-se lateralmente com a cavidade timpânica, através da janela do vestíbulo e apresenta cinco aberturas correspondentes aos três canais semicirculares, uma abertura para rampa vestibular da cóclea e dois recessos, um esférico e um elíptico. O recesso esférico aloja o sáculo e a mácula crivosa média. ZORZETTO (1994) refere o sáculo como uma vesícula ovóide, que apoia-se no recesso esférico do vestíbulo, junto à abertura da rampa vestibular da cóclea, sustentado por tecido fibroso e pelos filetes do ramo sacular da divisão vestibular do VIII par. A face superior do sáculo encontra-se em contato com a face inferior do utrículo, formando uma parede comum a ambos, denominada de mácula do utrículo. BONALDI et al. (1998) assinalam que o recesso elíptico, situado póstero-superiormente à crista vestibular, contém o utrículo. Define-o como uma bolsa de forma oblonga e irregular que recebe cinco aberturas dos ductos semicirculares. Seguem acrescentando que os receptores da mácula do sáculo e do utrículo, células ciliadas, têm um estímulo específico e aceleração linear do movimento, ou seja, sinalizam o posicionamento da cabeça no pescoço quando ocorrem movimentos lineares, tais como: inclinar a cabeca para os lados, para frente e para trás.
  • 27. 27 Em número de três, os canais semicirculares situam-se póstero- superiormente ao vestíbulo, com comprimentos diferentes, formando entre si ângulos retos. São denominados canal externo ou lateral (horizontal), canal anterior (vertical) e canal posterior (vertical). Cada um possui uma extremidade dilatada, ampular, que contém no seu interior a crista de neuroepitélio especializado – órgão meconorreceptor. LACERDA (1976) diz que os canais semicirculares são receptores sensíveis às acelerações (dos movimentos de rotação da cabeça para frente, para trás e para os lados). Estes canais podem ser acionados por estímulos mecânicos, rotatórios e calóricos. Este mesmo autor acrescenta que os estímulos proprioceptivos dos diferentes receptores do labirinto posterior são conduzidos aos núcleos vestibulares do bulbo, através do ramo vestibular do VIII nervo, por meio dos gânglios de Scarpa. Dos núcleos vestibulares do bulbo, as fibras nervosas aferentes seguem três vias: vestíbulo-ocular, vestíbulo- espinhal e vestíbulo cerebelar, que integram a função do equilíbrio. Participam ainda desta função outros sistemas, como: a visão e as sensações proprioceptivas, partindo dos músculos, tendões e articulações. 1.5.7. Vias Auditivas O Sistema Auditivo Central compreende as grandes vias auditivas sub-corticais que, através de impulsos eletro-nervosos, fazem a transmissão para os centros corticais auditivos no lobo temporal. BONALDI et al. (1998) afirmam que a cóclea é suprida por três grupos de fibras nervosas: as fibras eferentes do nervo coclear, as fibras eferentes do feixe olivococlear e as fibras simpáticas. Apenas as fibras aferentes e eferentes estão em contato com as células ciliadas. Acrescentam estes mesmos autores que cerca de 90% a 95% das fibras aferentes realizam uma sinapse com células ciliadas internas, enquanto 5% a 10% realizam várias sinapses com numerosas células ciliadas externas. As fibras eferentes são constituídas por neurônios ganglionares tipo I, com prolongamentos periféricos pequenos e terminais em contato com as células ciliadas internas, funcionando como transmissor da mensagem sonora para o córtex auditivo. Com relação às fibras eferentes que se relacionam com as células ciliadas internas, o sistema é considerado sistema eferente lateral e presume-se que atue como inibidor durante a exposição a sons internos. As células ciliadas externas, recebem fibras aferentes, que se curvam em um sistema espiral de fibras geometricamente organizadas. Os neurônios são do tipo II, com fibras espirais não-mielinizadas e ramificadas que enviam aos centros nervosos apenas mensagens lentas e poucas.
  • 28. 28 1.5.8. Sensação do Som A movimentação do estribo na janela oval produz ondas de pressão hidráulica que se propagam pelos líquidos que ocupam a cóclea – perilinfa e endilinfa. A membrana basilar, por meio da movimentação, estimula as células ciliadas a dobrar os seus cílios, colocando-os em contato com a membrana tectória, gerando a despolarização e repolarização. MORATA & SANTOS (1994) confirmam: quando a membrana basilar vibra em direção à rampa vestibular as células despolarizam, e quando retorna em sentido contrário, hiperpolarizam, gerando uma diferença de potencial que estimula as fibras nervosas (Figura 3), representação esquemática da fisiologia da audição. Após desencadear o impulso nervoso, as fibras nervosas fazem sinapse no gânglio espiral de Corti e deste saem fibras em direção a núcleos bulbares, onde fazem sinapse que são transmitidas aos núcleos olivares superiores ipsi e contralateral. A via auditiva segue em direção ao colículo inferior e, por último, atinge o córtex auditivo, situados no lado temporal. RUSSO (1998) acrescenta que, em algumas estações de retransmissão, dispostas na via auditiva, algumas fibras se encaminham para o hemisfério cerebral correspondente à orelha estimulada e outras cruzam, agrupando-se de acordo com a freqüência dos sinais sonoros que transportam. MORATA & SANTOS (1994) completam que são nos diversos níveis do sistema nervoso em que o som é interpretado quanto à freqüência, intensidade e discriminação da direção da fonte que o originou e onde tem origem uma série de reflexos involuntários e inconscientes, por exemplo o virar da cabeça para a fonte de ruído, o fechar os olhos à explosão, os sobressaltos com estímulos que alteram a circulação, a respiração, o processo digestivo e todos os efeitos extra-auditivos induzidos pelo ruído.
  • 29. 2. EFEITOS DO RUÍDO NO ORGANISMO O ruído afeta o organismo humano de várias maneiras, causa prejuízos não só ao funcionamento do sistema auditivo como o comprometimento da atividade física, fisiológica e mental do indivíduo a ele exposto. Quanto a classificação dos efeitos nocivos do ruído sobre o organismo humano pode ser realizada de duas maneiras. A primeira produz efeitos fisiológicos, fisiopatológicos ou auditivos, compreendendo os efeitos otológicos, ou seja, ação direta no sistema auditivo. A segunda são os efeitos extra-otológicos, gerais ou não-auditivos, resultando numa ação geral sobre várias funções orgânicas. Para melhor compreensão, serão utilizadas para a classificação dos efeitos nocivos do ruído os termos auditivos e não-auditivos. 1. Efeitos Auditivos Frente à exposição a ruídos em geral, as orelhas são dotadas de mecanismos protetores que alteram a sensibilidade auditiva durante e após a estimulação acústica. O primeiro mecanismo protetor é o mascaramento , quando a percepção de um só é diminuída em presença de um ruído de intensidade que encubra esse som. O segundo é a adaptação auditiva, ou seja, a sensibilidade auditiva é reduzida durante a apresentação de um estímulo sonoro intenso e duradouro. O terceiro diz respeito à fadiga auditiva, que ocorre após a cessação dos estímulos, podendo ser também chamada por mudança temporária. Consequentemente, há diferença entre adaptação e fadiga auditiva. A primeira constitui um fenômeno peri-estimulatório e a segunda, pós- estimulatório. Conforme SELIGMAN (1997), os sintomas auditivos relacionados ao ruído assinalam em primeiro lugar à perda auditiva, dificuldades no entendimento da fala. Quanto a perda auditiva, verifica-se que a orelha humana é
  • 30. 30 extremamente sensível à ação do ruído. As lesões da orelha interna resultantes da exposição a ruídos levam ao esgotamento físico e a alterações químicas, metabólicas e mecânicas do órgão sensorial auditivo, refletindo na lesão das células sensoriais (externas e internas), com lesão parcial ou total do órgão de Corti e consequentemente a deficiência auditiva, podendo o ruído atuar sob a forma de dois mecanismos. 1. Por exposição aguda; Trauma Sonoro e Mudança Temporária no Limiar (TTS - “Temporary Threshold Shift”) 2. Por exposição Crônica - Perda Auditiva Induzida por Ruído (PAIR) ou Mudança Permanente no Limiar (PTS - “Permanente Threshold Shift”) 1.1. Trauma Acústico OLIVEIRA (1997) atribui ao trauma acústico o som explosivo instantâneo com pico de pressão sonora que excede 140 dB SPL. Por exemplo, a arma de fogo pode chegar a 160 ou 170 dB. Os níveis sonoros alcançam as estruturas da orelha interna, excedendo os limites de elasticidade dos tecidos, produzindo a ruptura do órgão de Corti, sendo este desligado da membrana basilar que, por sua vez, é destruída e substituída por tecido epitelial escamoso, restabelecendo a integridade do comportamento do fluído da escala média (MB) e órgão de Corti. Estas lesões são essencialmente mecânicas. Acrescenta o mesmo autor, como decorrência do trauma acústico, há as alterações anatomopatológicas, como: ruptura da membrana timpânica e sangramento das orelhas médias e internas, subluxação dos ossículos da orelha média; desintegração das células ciliadas que desacoplam dos cílios da membrana tectorial, causando sua ruptura, promovendo a separação da membrana basilar; mistura da endolinfa e perilinfa e ausência do padrão das células ciliadas em mosaico. O maior grau de lesão encontra-se na espira basal, com a perda completa de células ciliadas externas e nas células de suporte, enquanto que nas espiras superiores, o grau de lesão é menor. Segundo COTANCHE (1987) ocorrem alterações tonotópicas, ou seja, estas alterações se fazem na espessura da membrana tectorial, aumentando a sua complacência e diminuindo a resistência nas regiões da cóclea, demonstrando uma perda auditiva de 40 - 50 dB. CHO et al. (1989) e MURISAKI et al. (1991), citados por OLIVEIRA (1997), acrescentam que, quando o trauma é muito intenso, pode até ocorrer dilaceração da membrana tectorial. O ruído de forte intensidade causa alterações na Stria vascularis, provocando mudanças no equilíbrio energético e eletrolítico da cóclea, podendo
  • 31. 31 ocorrer vasoconstrição local. HUNGRIA et al. (1995) acrescentam que há redução do aporte de oxigênio ao órgão de Corti, sendo a cóclea muito sensível à deficiência de oxigênio. 1.2. Mudança Temporária no Limiar (TTS - “Temporary Threshold Shift”) ou Fadiga Auditiva Refere-se à diminuição gradual da sensibilidade auditiva com o tempo de exposição a um ruído contínuo e intenso. Para RUSSO (1997) corresponde a um fenômeno temporário, em que o limiar auditivo retorna ao normal após um período de repouso auditivo. MERLUZZI (1981) completa, a maior parte da TTS tende-se a recuperar nas primeiras duas ou três horas, após cessada a estimulação sonora. Durante os desvios temporários dos limiares auditivos (TTS) ocorrem alterações discretas na células ciliadas, edema das terminações nervosas auditivas, alterações vasculares, exaustão metabólica, modificações intracelulares, diminuição dos estereocílios, alteração no acoplamento entre os cílios e membrana tectorial. Estas alterações são reversíveis, podendo haver recuperação do limiar, mesmo com presença de células lesadas. 1.3. Perda Auditiva Induzida por Ruído (PAIR) ou Mudança Permanente no Limiar (PTS - “Permanent Threshold Shift”) RUSSO (1993) considera a PAIR decorrente de um acúmulo de exposições a ruído, normalmente diárias, repetidas constantemente, por período de muitos anos. A exposição crônica ao ruído produz no ser humano uma deterioração auditiva lentamente progressiva, com características neuro- sensoriais, não muito profundas, quase sempre bilaterais e absolutamente irreversíveis. As alterações podem ser mecânicas e metabólicas. Os indivíduos afetados apresentam dificuldades para perceber sons agudos. A deficiência passa a abranger a área do campo audiométrico, comprometendo freqüências da zona de conversação, afetando o reconhecimento da fala. Alguns sintomas auditivos são observados, mas nem sempre presentes com o zumbido (acúfenos ou “tinnitus”). Para BENTO et al. (1995) é uma sensação sonora produzida na ausência de fonte externa geradora de som. Com base nos aspectos etiológicos, GROSH (1978), citado também por OLIVEIRA (1997) afirma que pode-se encontrá-lo em mais ou menos 16 tipos de patologias (lesões vasculares, orelha média, vasoespasmos, entre outros). O segundo sintoma encontra-se nas dificuldades no entendimento
  • 32. 32 da fala. SELIGMAN (1997) diz que é a queixa que envolve a habilidade de diferenciar os sons da fala. O mesmo autor, cita SMITH (1990) acrescenta que o ruído produz um efeito mascaramente sobre a palavra e outros sinais sonoros úteis, em especial os sinais de alarme, dando origem a acidentes profissionais e ocasionando graves prejuízos sociais. Outros sintomas são observados, como: algiacusia (aumento desproporcional da sensação sonora frente a um som intenso), plenitude auricular (sensação de ouvido tapado ou cheio), sensação de audição abafada e dificuldades de localização sonora. Em decorrência à perda auditiva induzida por ruído (PAIR), estudos relatam que as alterações anatomopatológicas e histopatológicas são diversas e irreversíveis. OLIVEIRA (1997) refere-se em seus estudos a PATUZZI & RATAN (1992) que observam alterações no fluxo coclear e nos esteriocílios (amolecimento, colapso, fusão e alongamento), aumento no número de células ciliadas lesadas ao longo da exposição do ruído, redução dos processos ativos das células ciliadas externas, como a capacidade de contração rápida das mesmas, formação de escaras e degeneração de fibra nervosa do órgão de Corti. Deve-se considerar que tais alterações dependem da extensão da lesão e sua localização, da freqüência do som, nível de pressão sonora e duração da exposição. 2. Efeitos Não-Auditivos Além dos Sintomas Auditivos, o ruído exerce ação geral sobre várias funções orgânicas, apresentando reações distintas, com características comuns, mas com diferentes significados, como: Reações de alarme, que consistem em resposta rápida de curta duração sob a ação de um ruído repentino. Essa atitude reflexa se manifesta através do ato de fechar os olhos, há aumento da freqüência cardíaca e respiratória, aumento da pressão arterial e secreção salivar, dilatação pupilar, contração brusca da musculatura e aumento da secreção dos hormônios e Reações neurovegetativas, em que a ação geral do ruído exerce uma resposta lenta com variações durante a estimulação auditiva, influenciando e promovendo transtornos considerados como verdadeiras doenças de adaptação de instabilidade do sistema neurovegetativo; como por exemplo, o aumento do tônus muscular, hiperreflexia, redução do peristaltismo intestinal, distúrbios digestivos, angústia, inquietação, variações na dinâmica circulatória e aumento da amplitude respiratória. SELIGMAN (1997) relata que alguns autores não consideram
  • 33. 33 seguros os dados referentes às manifestações não-auditivas do ruído, mas deve-se considerar que atualmente existem estudos que foram revistos na literatura científica dos últimos 20 anos e que comprovam que o indivíduo urbano encontra-se dia-a-dia em exposição ao ruído, seja de forma direta ou indireta e, consequentemente, há a promoção de estresse ou perturbação do ritmo biológico, gerando transtornos, tais como: • Transtornos da Habilidade de executar atividades. Em provas de habilidade foi demonstrado que com a exposição ao ruído contínuo, existe a diminuição do rendimento e eficiência, elevando o número de erros, e um provável aumento de acidentes por conseqüência da redução da habilidade. • Transtornos Neurológicos. Especialistas nesta área citam como alterações o aparecimento de tremores nas mãos, diminuição da reação aos estímulos visuais, dilatação pupilar, motilidade e tremores dos olhos, mudança na percepção visual das cores de desencadeamento ou piora de crises de epilepsia. • Transtornos Vestibulares Durante a exposição do ruído ou mesmo após, muitos indivíduos apresentam alterações tipicamente vestibulares, descritas como vertigens, que podem ou não ser acompanhadas de náuseas, vômitos e suores frios, dificultando o equilíbrio e a marcha, nistagmos, desmaios e dilatação das pupilas. • Transtornos Digestivos SELIGMAN (1997) cita GÓMEZ (1983), BORG (1981) afirmam que pode-se encontrar diminuição do peristaltismo e da secreção gástrica, com aumento da acidez, seguidos de enjôos, vômitos, perda do apetite, dores epigástricas, gastrites e úlceras e alterações que resultam em diarréia ou mesmo prisões de ventre. • Transtornos Cardiovasculares Indivíduos submetidos a elevados níveis de ruído (acima de 70 dB) podem sofrer constrição dos pequenos vasos sangüíneos, reduzindo o volume de sangue e conseqüente alteração em seu fluxo, causando taquicardia e variações na pressão arterial.
  • 34. 34 • Transtornos Hormonais COSTA (1994) relata que a produção dos “Hormônios de Estresse” é alterada quando o indivíduo é submetido à tensão em ambientes com níveis elevados de ruído, existindo um aumento dos índices de adrenalina e cortizol plasmático, com possibilidades de desencadeamento de diabetes e aumento de prolactina, com reflexo na esfera sexual. • Transtorno do Sono RICHTER (1966) citado por SELIGMAN (1997), considera que o ruído interfere na profundidade e qualidade do sono, surtindo efeitos desastrosos ao dia-a-dia, com visíveis alterações no trabalho e mesmo na vida social. • Transtornos Comportamentais O ruído gera alterações neuropsíquicas, com mudanças na conduta e no humor, falta de atenção e de concentração, cansaço, insônia e inapetência, cefaléia, redução da potência sexual, ansiedade, depressão e estresse.
  • 35. 3. RUÍDO AMBIENTAL O ser humano está de forma contínua recebendo informações sonoras. Pode-se considerar todos os sons como ruídos, mas a sua classificação é subjetiva, destacando o fato de ser ou não desejável. Para RUSSO (1993), semelhante a um radar, a audição estende-se a todas as direções e grandes distâncias, informando-nos acerca da localização e a distância em que se encontra o indivíduo da fonte sonora; constituindo em um mecanismo de defesa e alerta, importante para a segurança virtual. Observa ainda que, dependendo do indivíduo, os sons podem provocar as mais diversas reações físicas e emocionais, como: susto, riso, lágrimas, sensações de prazer e desprazer, participação e segurança, as quais são partilhadas com os semelhantes, tendo como agente intermediário a linguagem falada, adquirida principalmente pela audição. Diariamente o ruído é introduzido no meio ambiente. São sons que provocam desconforto mental / físico, que resultam de vibrações irregulares que podem afetar o equilíbrio sonoro, repercutindo sobre o sistema auditivo e as funções orgânicas. O ser humano possui uma alta capacidade de adaptação a ambientes diversos; o desenvolvimento de um estado de fadiga e fuga de energia podem acontecer sem que possa perceber, esgotando os limites de sua resistência. RUSSO (1998) relata que, o habitante das grandes cidades vive imerso numa atmosfera de ruídos, sofrendo a ação de um verdadeiro “bombardeio sonoro”, tanto nos momentos de distração / lazer, quanto no ambiente de trabalho. SANTOS (1994) cita (DAVIS, 1948), em seu estudo, referindo que diversos estudos, principalmente no campo da endocrinologia e neurologia, vêm colocando em evidência que os efeitos nocivos do ruído não se limitam apenas às lesões do sistema auditivo, mas comprometem diversos outros órgãos, aparelhos e funções do organismo, contribuindo dessa maneira para aumentar
  • 36. 36 as preocupações e esforços na eliminação e/ou controle desse agente. 1. Poluição Sonora Considera-se a poluição sonora como sendo a perturbação que envolve maior número de incomodados, e diante dos danos dramáticos causados, ocupa a terceira prioridade entre as doenças ocupacionais. Embora o ruído ultrapasse o limite de tolerância de 80 - 85 dB, em certos locais, a exposição a esse não é contínua, como nos ambientes profissionais, mas intermitente, sendo menos lesivo à audição. AZEVEDO (1990), em seus estudos, relata que as cidades brasileiras mais barulhentas são o Rio de Janeiro e São Paulo. Nestas, as medições nas ruas e nas casas ultrapassam 85 dB (A), produzindo na maioria de seus habitantes níveis de estresse avançados. Segundo GÓMEZ (1989) as doenças oriundas por agrotóxicos e as osteo-auriculares ocupam a primeira e segunda prioridades no Estado de São Paulo. Sendo assim, a poluição sonora constitui mais um dos fatores de risco da grande parte das pessoas do país, agravando as doenças cardio-vasculares e infecciosas, interferindo na recuperação dos enfermos e tornando-se mais fácil o adoecer dos sãos. Para HUNGRIA (1995) a poluição sonora dos grandes centros urbanos afeta o psiquismo de seus habitantes. As condições psicológicas são afetadas, principalmente em indivíduos com predisposições, acarretando instabilidade de humor, irritabilidade, alterações emocionais (depressões e excitações), redução da memória e estresse. WHO (1980) assinala que, pelas reações fisiológicas conhecidas, a Organização Mundial da Saúde (OMS) considera 55 dB (A) o início do estresse auditivo. TUFIK (1991) acrescenta que o estresse em estágios iniciais pode atuar de forma benéfica, na medida que funciona como excitante ocasional. Por conseguinte, BONAMIN (1990) afirma que, ao tornar-se crônico, começa a degradar o corpo e o cérebro, conduzindo à exaustão rapidamente. Atribui-se aos veículos automotores a maior causa da poluição sonora. Também são excessivamente ruidosos os aparelhos domésticos e mecânicos; não se pode deixar de citar os setores industriais e boêmios, devido à localização nas ruas residenciais e a promoção de eventos ruidosos à noite. 1.1. Efeitos no Organismo As doenças e mortes decorrentes das alterações do meio podem ser identificadas por qualquer pessoa. A poluição sonora, mesmo em níveis exagerados, produz efeitos moderados e imediatos. Seus efeitos atuam no
  • 37. 37 corpo lentamente e somente com o tempo percebem-se alterações como a surdez que vem, às vezes, acompanhada de assustadores desequilíbrios psíquicos e de doenças degenerativas. PIMENTEL-SOUZA (1992) comenta que muitas pessoas perdidas no redemoinho das grandes cidades não conseguem identificar o ruído como um dos principais agentes agressores e, cada vez mais, vão ficando desorientadas por não saberem localizar a causa de tal mal. DOWGHERTY & WELSH, citados por LACERDA (1976), nos EUA, estimavam que “a contaminação da atmosfera urbana” pelo ruído se converteu em ameaça à saúde pública. LACERDA (1976) acrescenta que graves prejuízos poderiam advir para a audição e a saúde em geral de milhares de pessoas, em conseqüência da poluição acústica, causada pelos ruídos excessivos dos grandes centros urbanos. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o ruído até 50 dB (A) pode perturbar, mas é adaptável. A partir de 55 decibéis acústicos a poluição sonora provoca estresse, causando dependência e gerando durável desconforto. Efetivamente, o estresse degrativo inicia-se em torno de 65 dB (A) com o desequilíbrio bioquímico, elevando o risco de infarte, derrame cerebral, infecções, osteoporose e outros. Em torno de 80 dB (A) o organismo já libera morfinas biológicas no corpo, provocando prazer e completando o quadro de dependência. Por volta de 100 dB (A) pode ocorrer perda imediata da audição. PIMENTEL-SOUZA (1992) afirma que a ativação permanente do Sistema Nervoso Simpático do morador da metrópole pode condicionar negativamente a sua atuação com as agressões. Muitas pessoas procuram se livrar dessa reação, por tornar-se desagradável (por exemplo, de uma palpitação), usando drogas (tranquilizantes ou cigarro), para bloqueá-la. O corpo se vê diante de um conflito, sendo atacado sem saber o motivo e como se defender. É um conflito gerador de ansiedade, pois o nível de ruído do ambiente urbano encontra-se quase sempre acima dos limites do equilíbrio, conduzindo para o caminho de estresse crônico. O ruído estressante libera substâncias excitantes no cérebro, tornando os indivíduos sem motivação própria, incapazes de suportar o silêncio. Também libera substâncias anestesiantes, tipo ópio e heroína, provocando prazer, conduzindo ao uso de fortes drogas psicotrópicas. A dependência do ruído gera depressão nas pessoas na presença de ambientes silenciosos, promovendo agitação e incapacidade para meditação e reflexões.
  • 38. 38 1.2. Efeitos Sincronizadores e Perturbadores do Ruído no Sono PIMENTEL-SOUZA (1992) refere que a percepção de SCHOPENHAVER previu há mais de um século as provas científicas de hoje ao afirmar que “o barulho é a tortura do homem de pensamento”. A ciência tem desvendado nobres funções do sono, como: as psicológicas, as intelectuais, as da memória, as do humor e as da aprendizagem. O sono parece ser o período mais propício para consolidar os traços mnemóricos e geradores de criatividade. Segue ainda observando que o ruído é um dos sincronizadores ou perturbadores mais importantes do ritmo do sono. Distúrbios do ritmo do sono produzem sérios efeitos à saúde mental. CIPOLLA - NETO (1989) e FISCHER et al. (1989), citados por PIMENTEL-SOUZA (1992), verificaram em seus estudos que os operários de turnos noturnos geralmente possuem um sono de má qualidade no período diurno, muitas vezes incontroláveis e responsáveis pelo maior número de acidentes entre 3 a 5 horas da manhã. CZEILER et al. (1981) consideram que o atraso contínuo do sono pelos horários de trabalho e variações do ritmo das atividades sociais, facilitados pelo uso de luz elétrica e atrações noturnas, podem levar à constante insônia. Segundo as Associações Internacionais de Distúrbios do Sono (ASDA, 1990), cerca de 5% das insônias são causadas por fatores externos ao organismo, principalmente pelo ruído, 10% são devidas a má higiene do sono, ou seja, comportamento inadequado para o sono, sobretudo nas duas horas que o precedem, e 15% são resultantes de internalizações no cérebro dos fatores perturbadores externos por meio de mecanismos de condicionamento apreendidos de forma involuntária. Num mundo moderno predominantemente visual, em que as informações variam em 90% do universo atual, atribui-se ao ruído uma importante contribuição indireta através do estresse diurno e noturno. Além de gerar má higiene do sono, produz efeitos traiçoeiros que passam desapercebidos pelos indivíduos por não terem efeitos imediatos e não deixarem pistas visíveis; tornando o sono mais leve, causando danos fisiológicos, psicológicos e intelectuais. O Centro de Estudos de Perturbações e de Energia (CERNE, 1979), na França, reconheceu que o ruído de baixos níveis permite adaptação. Mas, após vários anos, os déficits no sono sob níveis de até 55 dB (A) internos são acumulativos, modificando a estrutura do sono como se fossem de pessoas envelhecidas precocemente. Pessoas de 35 anos estudadas estavam dormindo como se fossem de 55 - 60 anos, não expostas ao barulho. Conclui que dormir e
  • 39. 39 desempenhar mal não são necessariamente causados pela idade. 1.3. Ruído e Lazer O controle de risco do ruído nem sempre é fácil, principalmente tratando-se dos padrões de determinação do processo saúde / doença. POSSAS (1989) afirma que as condições gerais de existência, incluindo o estilo de vida, permitem possibilidades de exposição do ruído, por estarem associadas às formas social e culturalmente determinadas, que se expressam no padrão alimentar, no dispêndio energético das atividades de esportes e hábitos como fumo, álcool e lazer. Vê-se em CALDAS et al. (1997) que as opções de lazer transformam em hábitos adquiridos por influência de modismos e pelas representações sociais, passando o lazer a ser compreendido como uma agressão à saúde socialmente aceitável. Atualmente as novas atividades de lazer oferecem riscos e tendências ascendentes de doença crônico-degenerativa, entre elas, a surdez. Tais atividades incluem prática de tiro, a mecânica amadorística de motores, uso de motocicletas, a freqüência a casas de danças (“discotecas”), equipamentos estereofônicos individuais (walk-man), concertos de rock / pop, equipamentos de som instalados no interior de automóveis e não se pode esquecer da aplicação excessiva de sons musicais abusivos nas festas, bailes, reuniões, cinemas, teatros e os chamados trios elétricos. KURAS (1979) relata que os equipamentos com fones de ouvido (walkman), podem alcançar potências muito altas com os seus micro-auto- falantes e os usuários comumente elevam a intensidade, a fim de encobrir os sons externos, como: conversação, ruído de trânsito e outros ruídos ambientais. Verificou-se que os usuários destes equipamentos apreciam nível de intensidade sonora variável de 70 e 100 dB (A), conforme mostra o quadro abaixo: Ambiente e/ou Equipamento Nível de Ruído (dBA) Bar/restaurante/igreja com música Automóvel (15 m) Ônibus (interior) Caminhão (15 m) Motocicleta (15 m) Rifle Pistola Discoteca Walkman (menor volume) Walkman (maior volume) 70 - 90 60 - 90 70 - 95 70 - 100 70 - 95 130 - 140 110 - 130 95 - 105 60 - 70 110 - 115 Fonte: Revista CIPA
  • 40. 40 Nas principais capitais nordestinas como Salvador, Recife, Fortaleza, entre outras é comum encontra nas principais ruas um veículo de transporte, denominado trio-elétrico, com instalações de vários alto-falantes unidos a amplificadores de alta potência, tocando por várias horas, enquanto as pessoas seguem dançando e cantando pelas ruas. RUSSO et al. (1995) consideram que, tendo em vista os elevados níveis sonoros que tais veículos geram, oferecem riscos à audição tanto de seus músicos quanto dos que se aproximam demasiadamente deles; efeitos que serão percebidos a médio e longo prazo, do mesmo modo que a perda auditiva induzida pelo ruído no ambiente de trabalho. JORGE JR et al. (1996) dizem que o agravante é que os indivíduos que estão expostos a estas intensidades sonoras são, na maioria, jovens que, mesmo antes de iniciarem as fases produtivas de suas vidas, já podem apresentar lesão de um órgão de comunicação.
  • 41. CONSIDERAÇÕES FINAIS Considerando o ruído uma constante no cotidiano dos indivíduos, o objetivo deste estudo foi buscar informações e esclarecimentos que permitam conhecer melhor este intrigante e assustador “inimigo invisível”, como é denominado por alguns estudiosos do assunto. Esta pesquisa conduz à reflexão acerca dos efeitos do ruído ambiental e como este afeta o organismo humano, sem que se possa sentir e/ou perceber a extensão dos prejuízos por ele ocasionados. Em virtude de todos os aspectos discutidos neste trabalho, os níveis de ruídos externos nas cidades brasileiras, considerando os casos industriais e de lazer, são bastante excessivos, ultrapassando os limites de insalubridade, independente do tamanho dos centros urbanos. Por tratar-se de uma “ameaça” à qualidade de vida das pessoas e provocar alterações auditivas, orgânicas, psicológicas e sociais, presencia-se o interesse crescente de diversas áreas afins na elaboração de estudos, medidas de controle e alternativas para amenizar os efeitos nocivos do ruído na saúde do ser humano. A Poluição Sonora despertou a minha atenção, pois, ocupa a terceira posição entre as doenças ocupacionais nos centros urbanos, como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, entre outros. Os efeitos produzidos no organismo humano atuam de forma lenta e somente com o tempo manifestam-se alterações tais como surdez, de desequilíbrios psíquicos e doenças degenarativas. A dependência do ruído pode gerar nas pessoas depressão, ou mesmo, frente a ambientes silenciosos promover agitação e incapacidade para meditação e reflexão. Outro fator de relevância observado é a influência negativa do ruído durante o sono, na realização das atividades cotidianas e no trabalho. O organismo humano não possui capacidade de adaptação na presença de uma situação de estresse intenso ou muito prolongada. Espera-se que este trabalho contribua para estudos posteriores e
  • 42. 42 aprofundamentos na prática e ciência fonoaudiológica, profissionais de áreas afins e a toda sociedade. Trazendo informações sobre o ruído ambiental e suas manifestações auditivas e não-auditivas, há a necessidade de se tomar medidas educativas, pois além de constituir um problema de saúde pública é também uma questão educacional, e no empenho de todos na busca de caminhos que venham permitir que se possa usufruir de uma vida orgânica e intectualmente saudável e emocionalmente equilibrada.
  • 43. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BONALDI, L. V. et al. Anatomia Funcional do Sistema Vestibulococlear: In.: FROTA, S. Fundamentos em Fonoaudiologia – Audiologia. Rio de Janeiro, Guanabara Koogan. 1998. p. 1-17. CALDAS, N.; LESSA, F.; NETO, S.C. Lazer como risco à saúde − O ruído dos trios elétricos e a audição. Rev. Bras. de Otorrinolaringologia: 63(3) mai./jun. p. 224-251. 1997. CLIFFORD, T. Morgan. Psicologia Fisiológica. São Paulo. EPU-Ed. Pedagógica e Universitária Ltda. 1973. Tradução de Alcides Gadotti. p. 254-299. COSTA, S.S. da; CRUZ, L.M.; OLIVEIRA, J.A.A. de. e cols. Otorrinolaringologia - Princípios e Prática. Ed. Artes Médicas. Porto Alegre. 1994. p. 12-56 HUNGRIA, Hélio. Otorrinolaringologia. 7ª ed., Guanabara Koogan S.A. Rio de Janeiro, 1995. p. 255-267, 389-392. JORGE Jr., J. J. et al. Hábitos e Limiares Auditivos de Jovens em Relação à Música Eletronicamente Amplificada através de Equipamentos com Fones de Ouvido. Rev. Bras. de Otorrinolaringologia. Vol. 62, nº 5, p. 424-434. 1996. LACERDA, A.P. de. Audiologia Clínica.. Rio de Janeiro. Ed. Guanabara. 1976. 199 p. MACHADO, A.B.M. Neuroanatomia Funcional. 2ª ed. Livraria Atheneu. Ed. SP. RJ. BH. 1993. p. 289-302 MENEGOTTO, I. H. & COUTO, C. M. Tópicos de Acústica e Psicoacústica
  • 44. 44 Relevante em Audiologia: In.: FROTA, S. Fundamentos em Fonoaudiologia – Audiologia. Rio de Janeiro, Guanabara Koogan. 1998. p. 19-39. MORATA, Thaís C. & SANTOS, Ubiratan P. S. Anatomia e Fisiologia da Audição. In.: MATOS, M. P. et al. Ruído Riscos e Prevenção. São Paulo: Ed. Hucitec, 1994. p. 35. OLIVEIRA, José A. A. de. Fisiologia Clínica da Audição. In.: NUDELMANN, Alberto A.; COSTA, Everaldo A. da; SELIGMANN, Jose & IBAÑEZ, Raul N. [et al.] PAIR: Perda Auditiva Induzida pelo Ruído. Porto Alegre. Bagaggem Comunicações Ltda, 1997. p. 101-140. PIMENTAL-SOUZA F. (1998). Perturbação do sono pelo ruído. (Revisão). In: Rumão R. (ed.); O sono em seus vários aspectos. Jornal Brasileiro de Psiquiatria (indexada internacionalmente), vol. 47, suplemento 1. PIMENTEL-SOUZA F. (1992a). O que a poluição sonora causa no sono e na saúde em geral? Anais do II Simpósio Situação Ambiental e Qualidade de Vida na Região Metropolitana de Belo Horizonte e Minas Gerais. Associação Brasileira de Engenharia Geológica, 27 - 29 outubro, BH (5 páginas). PIMENTEL-SOUZA F. (1992b). A poluição sonora ataca traiçoeiramente o corpo. In: Associação Mineira de Defesa do Meio Ambiente (AMDA). Apostila “Meio Ambiente em Diversos Enfoque”, “Projeto Tamburo”. AMDA, Secretaria Municipal do Meio Ambiente, Secretaria Municipal da Educação, BH. p. 24- 26. PIMENTEL-SOUZA F. (1993). Efeitos da Poluição Sonora sobre o Sono a Saúde. Capítulo da apostila do curso de “Poluição Sonora”. Universidade Livre do Meio Ambiente, Secretaria Municipal do Meio Ambiente. Curitiba, p. 36-40. PIMENTEL-SOUZA F. (1997). Efeitos do ruído estressante. Anais da 49ª Reunião Anual da SBPC, vol. 1. PORTMANN, Michel. Tratado de audiologia clínica com atlas audiométrico / Michel PORTMANN, Claudine Portmann, colaboração de R. D’AUMA, M. NEGREVERGNE e D. PORTMANN (tradução: Maria Eugênia de Oliveira Viana). 6ª ed. − S.P.: ROCA. 1993. p. 212-229.
  • 45. 45 RUSSO, I. C. P. Acústica e Psicoacústica Aplicadas à Fonoaudiologia. 2ª edição. Revisada & Ampliada. São Paulo. Ed. Lovise Ltda. 1999. 263 p. RUSSO, I. C. P. Noções Gerais de Acústica e Psicoacústica. In.: NUDELMANN, Alberto A.; COSTA, Everaldo A. da; SELIGMANN, Jose & IBAÑEZ, Raul N. [et al.] PAIR: Perda Auditiva Induzida pelo Ruído. Porto Alegre. Bagagem Comunicações Ltda, 1997. p. 49-73. RUSSO, I.C.P. et al. Um estudo comparativo sobre os efeitos da exposição à música em músicos de Trio Elétrico. Rev. Bras. de Otorrinolaringologia. Vol. 61, nº 6, p. 477-482. 1995. RUSSO, I.C.P. & SANTOS, T.M.M. dos. A Prática da audiologia clínica. 4ª edição. São Paulo: Cortez. 1993. p. 15-42. RUSSO, I.C.P. Acústica e Psicoacústica. Aplicadas à Fonoaudiologia. São Paulo: Ed. Lovise Ltda. 1993. p. 178. SANTOS, Ubiratan P. S. & MATOS, Marcos P. Aspectos de Física. In.: MATOS, M. P. et al. Ruído Riscos e Prevenção. São Paulo: Ed. Hucitec, 1994. p. 7- 23. SANTOS, Ubiratan P. S. Exposição a Ruído: Avaliação de Riscos, Danos à Saúde e Prevenção. In.: MATOS, M. P. et al. Ruído Riscos e Prevenção. São Paulo: Ed. Hucitec, 1994. p. 35-38 SELIGMAN, José. Sintomas e Sinais da PAIR: In. NUDELMANN, Alberto A.; COSTA, Everaldo A. da.; SELIGMAN, José; IBAÑEZ, Raul N.; orgs. [et al.]. PAIR: Perda Auditiva Induzida pelo Ruído. Porto Alegre. Ed. Bagaggem. Comunicação Ltda, 1997. p. 143-151.