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CAPÍTULO 11
Colônias astrais de
costumes antiquados
PERGUNTA: — Disseste-nos, certa vez, existirem no
Astral algumas colônias cujos habitantes ainda conservam
seus costumes antiquados, por serem espíritos demasiada-
mente conservadores. Que idéia poderemos ter dessas colô-
nias?
ATANAGILDO: — Recordo-vos que se trata de comuni-
dades de existência transitória em tais colônias, destinadas
somente ao aperfeiçoamento de seus habitantes desencar-
nados quando excessivamente tradicionalistas, motivo por
que tudo ali está disposto de modo a ser alcançada a sua
finalidade educativa. Entre as suas populações encontram-
se caracteres espirituais de todos os matizes, principalmen-
te os espíritos bisonhos, os acostumados aos conventos e
os conservadores, ainda presos às tradições antiquadas,
mas que merecem o ingresso nas comunidades astrais
ordeiras, porque são pacíficos e espiritualmente inofensi-
vos. A fim de ativar-lhes o progresso estagnado pelas tradi-
ções do passado, os espíritos de maior capacidade intelec-
tual e dinâmica misturam-se com esses letárgicos morado-
res do Além, e os auxiliam na ascensão sideral!
A arquitetura dessas colônias é arcaica e semelhante à
de certas civilizações já extintas. Há ocasiões em que os
próprios mentores espirituais providenciam certas edifica-
ções de molde antigo, às pressas, a fim de atender a gru-
pos desencarnados tão apegados ao conservantismo das
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coisas materiais, que se sentiriam deslocados num ambien-
te modernizado! Já tenho reparado, outrossim, que em
algumas regiões situadas entre a nossa metrópole e a cros-
ta terráquea, edificam-se grandes estalagens e hospitais de
emergência nas vésperas de se registrar alguma tragédia
coletiva naquelas zonas geográficas da Terra, tais como
guerras, revoluções ou catástrofes causadas por convulsões
da Natureza.
PERGUNTA: — Já assististes, do plano astral, ao desen-
rolar de alguma dessas catástrofes coletivas?
ATANAGILDO: — Pude apreciar os efeitos dantescos
de certa revolução ocorrida na América do Sul, entre
homens do mesmo país; os trucidados chegavam aos
magotes e em desesperada situação de desconforto espiri-
tual! Ainda se lhes viam as auras de cor escarlate brilhante
e enodoadas, de onde se desprendiam chamas de fogo
geradas pelo ódio, que ainda lhes tomava o coração!
Relâmpagos fulgurantes, duma cor sangüínea, sulcavam-
lhes o envoltório da aura conturbada; depois podiam se ver
filetes formados pelas repulsivas toxinas, que escorriam
pelo perispírito agitado parecidos a fios de lama deslizan-
do sobre tecido vítreo!
De vez em quando, no meio daqueles espíritos aluci-
nados — que eram recolhidos às pressas pelos espíritos
enfermeiros e encarregados dessas tarefas desencarnatórias
— percebia-se em alguns certa clareza espiritual. Então eu
podia descobrir que se tratava de espíritos caridosos, que
haviam desencarnado no fragor da metralha devido ao seu
extremado serviço de socorro aos infelizes beligerantes e
não por interesse partidarista. De outra feita, também vis-
lumbrei alguns grupos de almas tranqüilas, que se uniam,
à parte, sob a lei de afinidade espiritual. Eram seres que
haviam sido obrigados a compartilhar da luta fratricida, mas
que estavam isentos de ódio, porque preferiram morrer a
matar o seu adversário!
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3. Estes pouco a pouco se engalanavam de luz suave e
eram sustentados por outros grupos de espíritos socorristas;
em breve, sob um mesmo diapasão de júbilo, ergueram-se
como pluma ao vento, e as suas figuras, sem angústias nem
pesares, fundiram-se nas massas esvanecentes em direção
aos seus núcleos venturosos!
PERGUNTA: — Pensamos que, após a morte do corpo
físico, os espíritos deviam modificar a sua visão psíquica,
compreendendo que as formas do mundo terreno signifi-
cam estágios provisórios e de rápido aprendizado espiritual.
Se assim fosse, não se justificaria a existência dessas comu-
nidades antiquadas, no Astral; não é assim?
ATANAGILDO: — Assim não pode ser, visto que a
morte do corpo não é fonte de onisciência, nem diploma
de santidade; o espírito desencarnado tem de fazer jus às
suas próprias criações mentais, na conformidade do conta-
to que haja tido com os elementos bons ou maus da vida
educativa do mundo terreno. É por isso que existem agru-
pamentos astrais que ainda permanecem jungidos aos sis-
temas medievais, onde os castelos, as pontes rústicas, o
transporte por muares, camelos, bovinos e as moradias
pitorescas lembram o cenário das narrativas românticas e as
aventuras de capa e espada, do passado!
E assim essas colônias servem perfeitamente para
determinada camada de espíritos excessivamente conserva-
dores, que ali se instalam e se aferram vigorosamente ao
seu passado, sentindo-se incapazes de se equilibrar em
ambientes modernos e de cultuar relações que são por
demais dinâmicas para o seu psiquismo retardado. Bem sei
que estas descrições parecer-vos-ão incongruentes e produ-
to de um cérebro fantasioso; no entanto, mesmo no vosso
mundo material, podeis comprovar que num mesmo local
e ambiente ainda vivem espíritos em completo antagonis-
mo mental! O avarento, por exemplo, não é um deslocado
do progresso cotidiano? Sim, pois ele vive completamente
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aferrado ao anacronismo de uma vida primitiva, a esconder
a sua fortuna e a se isolar de todas as inovações ou coisas
que possam forçá-lo a gastos inesperados! E certo pois que,
ao desencarnar, esse avarento não conseguirá se equilibrar
num cenário de aspecto avançado, e para o qual não se
preparou nem faria jus, tão preso ele está aos seus receios
de perdas e às preocupações exclusivamente utilitaristas!
Quando desencarna, o avaro transfere para o Além o seu
mundo íntimo, repleto de desconfianças e de usura, e por
isso fica impedido de viver tão ampla e desafogadamente
como vivem os outros espíritos que não guardam restrições
para com o meio.
PERGUNTA: — Através dessa comparação, quereis
dizer que as criaturas virtuosas, embora mentalmente atra-
sadas, sempre se ajustarão nas comunidades avançadas. É
isso mesmo?
ATANAGILDO: — As virtudes superiores, como a bon-
dade, a humildade, a tolerância, que encaminham almas
para comunidades como a do Grande Coração, nem sem-
pre conseguem libertar o indivíduo das formas arcaicas,
que podem ainda dominar a mente de certos desencarna-
dos. Quantas mulheres terrenas há, boníssimas e serviçais,
que ainda resistem vigorosamente às inovações da cozinha
moderna, preferindo a função de foguistas domésticas,
junto ao fogão a lenha, a se utilizarem do que funciona a
gás ou eletricidade! Em verdade, o que ainda lhes vai na
alma é o medo das coisas novas, pois a sua índole é escra-
va da tradição e das coisas velhas, as únicas que lhes são
familiares, porque viveram muito tempo em contato com
elas! Dói-lhes na alma essa mudança de simpatia para com
as coisas novas e “estranhas”, e falta-lhes o ânimo para ven-
cer o condicionamento psicológico, produzido pelo trato
demorado com os objetos familiares!
Essas almas só por pouco tempo poderiam permanecer
nas zonas de avançada dinâmica espiritual, pois em breve
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