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1A CENA UNDERGROUND DE BELÉM E OS ENTRAVES PARA UMA
APROPRIAÇÃO FEMINISTA DESSES ESPAÇOS.
Rayner Sousa dos santos
Graduação/UFPA
rayner.s.santos@gmail.com
Raynice Sousa dos Santos
Graduação/UFPA
raynice.s.santos@gmail.com
Resumo: No presente trabalho nos propomos a discutir a invisibilidade vivenciada
pelas mulheres em espaços de entretenimento underground da juventude belenense.
Tendo o Rock como estilo central desses espaços alternativos que, mesmo
transmitindo uma identidade contestadora para a juventude, ainda se caracteriza por
manter muitos dos valores conservadores, quando diz respeito à participação
feminina, seja tocando ou apenas “curtindo o som”. Na cena Rock de Belém,
trabalharemos com bandas feministas ou que, ao menos, tenham mulheres a sua
frente. Problematizando que a inserção dessas meninas em bandas compostas por
homens se dá, muitas vezes, de forma subalternizada, enquanto que está reservada
para aquelas que apenas frequentam esses espaços uma forma de desqualificação e
assédio. Com isso, pretendemos discutir os empecilhos a uma apropriação feminista
dessa cena, a fim de promover e valorizar os trabalhos dessas meninas e suas
contribuições para este cenário musical.
Palavras-chave: Rock; juventude; Feminismo.
INTRODUÇÃO
Este artigo procura oferecer uma compreensão da invisibilidade vivenciada
pelas jovens em espaços de entretenimento que tem o rock como eixo central e as
diversas formas de resistência, assumidas por elas, contra a discriminação – sobretudo
entre as jovens que se identificam, entre outras coisas, como feministas – nessa cena
de produção e manifestação cultural da juventude. A escolha desse tema surge, a
partir da constatação da pouca inserção feminina no meio Rock de Belém e na
problematização de como se efetua essa participação. As informações coletadas foram
1
Trabalho apresentado nos Diálogos sobre Crianças e Juventudes na Amazônia Belém-PA, 10 a 12 de
novembro de 2015,sob coordenação de MiltomRibeiro,Rosali Brito eLeila Leite.
desenvolvidas a partir de observação participante, entrevistas com as frequentadoras
e de revisão da literatura sobre o assunto.
O conceito de "cena" está sendo usada aqui para estabelecer relações entre
certos gostos e estilos musicais e determinados territórios. Essa relação se estabelece
de modo a manter o caráter flexível e invisível das fronteiras de supostas "unidades
culturais", que podem ser uma cena local, regional, nacional ou internacional (STRAW,
2006). A cena aqui é um espaço de sociabilidade, capaz de agregar agentes, que se
identificam com determinadas manifestações culturais, na construção de uma
identidade juvenil comum.
Os espaços em que se dão essas atividades e produções culturais podem ser
vistos como Underground (“subterrâneo”, em inglês) que é utilizado para se referir às
produções artísticas que se propõem a manifestar-se fora do circuito comercial, como,
por exemplo, assinar contratos com grandes gravadoras ou produzir músicas para
atender a uma “moda”. Em geral, esses espaços se constroem em torno da formação
de bandas, Abramo ao falar das bandas paulistanas dos punks e darks2, explica que
essas "não tinham um espaço nas gravadoras, nos canais de comunicação, ou nas
danceterias, que então proliferavam, mas que apresentavam apenas as bandas já
consagradas. Por isso, começaram a buscar locais menores, menos equipados e
produzidos, mais baratos, na maior parte das vezes porões de bares e boates com
freqüência mais marginal, e assim montaram um circuito referido como underground,
denominação que servia para designar o grupo” (ABRAMO, 1994, p. 128). Essa cena
underground podem ser casas de rock alternativas, bares e festas domésticas. Muitas
vezes esses ambientes não ficam restritos apenas aos shows, mas também se tornam
locais de discussões, troca de experiências e intervenções político-culturais, um
exemplo, em Belém, é a Veg Casa, ambiente que intercala discussões sobre machismo,
racismo e vegetarianismo. Também temos o bar do Paraguai, que normalmente não
costuma ser considerado um local underground, mas, ocasionalmente, é ocupado para
receber eventos dessa cena, o conhecido Coletivo Operário costuma realizar suas
2 Na década de 90, referia-sea pessoas que sevestiam completamente de preto e escutavam New
Wave. Eram conhecidos erroneamente por Darks (ou góticos) quando na verdade eram pós -punks.
Hoje em dia,o termo “Dark” ficou muito genérico (inclusivedentro da própria cultura gótica) referindo-
se a quase tudo que remeta a tristeza,morbidez e escuridão.
atividades de discussões políticas e de concientização neste espaço, por estar
localizado a alguns metros da praça do operário, o mais próximo das camadas
populares da cidade.
O ROCK E A CULTURA JUVENIL
O rock, como estilo cultural, tem seu surgimento por volta da década de 50 nos
EUA, estando imbuído de certa contestação aos valores tradicionais da cultura elitista
branca daquele país, por ser uma mistura do rhythm and blues negro e o country and
western dos brancos rurais pobres, por isso mesmo passa a ser incorporado pela
juventude, como forma de questionar a sociedade estabelecida pelos seus pais
(BRANDÃO, DUARTE, 2004, p. 26). No entanto, apesar dessa origem contestadora, ele
mantém (como vários outros estilos) muitos dos valores conservadores no que diz
respeito à participação feminina.
Como o Rock é um estilo que utiliza instrumental pesado (guitarra, baixo,
bateria, etc.) que exigem certa força e agilidade, isso acaba por se refletir na
composição dos seus espaços de entretenimento que, dependendo da vertente (punk,
hardcore, grindcore, metal, etc.), são extremamente masculinizantes e agressivos, o
que pode ser constatado pela maioria de homens, por isso mesmo, essa é uma das
motivações pelas quais tende a haver uma grande resistência em aceitar uma inserção
feminina autônoma. Mesmo vertentes como o punk-rock, que não fica restrito apenas
ao cenário musical, mas tem toda uma proposta de estilo de vida que busca contestar
o status-quo, ainda relega às mulheres um papel secundário, pois, nesse meio, como
explica Melo (2008) “não basta que as garotas se identifiquem com o punk, como
ocorre com os garotos, é preciso que elas provem que são “viris” o suficiente para
estarem ali”. Tendo como consequência dessa contradição feito surgir na década de
90, entre as meninas punks, o movimento que ficou conhecido como Riot Grrrl, como
forma de se oporem ao machismo do mundo Punk, o mesmo sendo pautado no “faça-
você-mesmo” (a base de toda cultura punk) e numa atuação que valoriza a ação
autônoma e tem as garotas como protagonistas, além de elaborar uma espécie de
"fraternidade feminina", embasada na “sororidade”. O riot grrrl se mostrou uma
grande arma de empoderamento e visibilidade para essas garotas, abrindo a
possibilidade para vários outros temas e práticas. “São jovens garotas que, ao associar
música e política, questionam, denunciam e desconstroem as relações desiguais de
gênero e suas consequências, em especial as relativas à juventude, e constroem, a
partir de uma linguagem e de práticas, uma identidade feminista” (MELO, 2008, p.),
ou, como ela mesma demonstra, uma cultura juvenil feminista. Cultura juvenil que,
segundo Abramo (2004), é uma noção que não está necessariamente vinculada a
movimentos sociais, em que esses jovens empregam o tempo livre para suas
manifestações culturais.
O FEMINISMO NA CENA ROCK DE BELÉM.
Antes de tudo, queremos deixar claro que quando falamos em “entraves para
uma apropriação feminista desses espaços” não estamos, com isso, querendo dizer
que todas as meninas, que, de alguma forma, assumem uma atitude de resistência à
discriminação, se afirmam “feministas”. O que tentamos dizer é que, por mais que
muitas até tenham aversão à sua associação com o feminismo, independente disso
tudo, suas práticas podem, segundo nossa visão, ser interpretadas como “feministas”,
a partir do momento que não aceitam a condição de meras observadoras e tentam se
afirmar como sujeitos autônomos (mesmo que essa autonomia esteja condicionada a
certos critérios) dentro desses espaços. São feministas porque, voltando a citar Melo,
"Ao se ligar a uma cultura juvenil predominantemente masculina, essas garotas
constroem formas de resistência aos modelos culturais dominantes de feminilidade e
fazem isso numa época crítica de seu desenvolvimento, a adolescência" (MELO, 2008,
p.). Entre essas diversas formas de resistência, temos: formação de bandas de meninas
(feministas ou não), coletivos, confecção de fanzines, rodas de discussões, debates,
oficinas, etc.
Algumas das bandas formadas que se mantém ativas na cena, são de garotas
no vocal ou completamente femininas, como: Cavalo do cão (Grindcore), Qualquer
Coisa (Rock alternativo), Esgoto Surfers (Fastcore, punk, surf rock), Criaturas de Sinbat
(Hardcore) e a recém-formada kritores Kaos (Punk Crust Feminista). Existem diversas
outras covers que ainda se poderia citar. Nas letras dessas bandas a temática varia de
acordo com a vertente à qual estão vinculadas e, em alguns casos, a orientação
política. Kritores Kaos é a banda que melhor poderia ilustrar o engajamento feminino
nesse cenário, a banda tem influência do movimento riot grrl, com formação recente,
tocando em poucos eventos, sua vocalista e fundadora, Luma Josino, 25 anos, tem
compromisso político com o feminismo e o comunismo, sendo por isso articuladora do
Coletivo Kaóticas, que busca levantar discussões nesses âmbitos, geralmente em
parceria com a Veg Casa.
A banda Cavalo do cão, formada em 2013, pela vocalista, Monise Souza, 27
anos, sempre esteve à frente da banda e fala sobre as dificuldades de se afirmar
dentro desse espaço. Percebendo que, os integrantes homens da banda, em sua
primeira formação, tinham muita resistência em acatar as suas instruções, bem como
viviam frisando que não queriam que se tornasse a “Banda da Pitty” (afinal, a Pitty é a
lider da banda, você não escuta falarem dos homens que tocam com ela) e que
geralmente depois de um show, ouve comentarem “muito legal, vocês terem colocado
como vocalista uma mulher...”, como se algum dos homens a tivesse “colocado” ali,
nem mesmo cogita-se que ela teria formado a banda, ou quando querem resolver
algum problema (como: agendar shows, estrutura do espaço, etc.) sempre buscam um
dos homens. Ela também nos fala sobre uma espécie de “sabatina” a qual quem tem
interesse no rock (seja que vertente for) é geralmente submetido, isso se torna muito
agudo no caso das meninas que desejam se inserir nesse meio e que tem, de algum
modo, que “provar” que “sacam” o suficiente do meio, para assim validar sua
permanência, uma vez que a crença é de que mulheres não têm gosto próprio.
Não é comentado, mas o que se percebe é que no espaço rock, como em
diversos outros espaços de entretenimento, a aceitação feminina fica condicionada a
critérios como a sua objetificação. Serem transformadas em objeto de desejo do
homem, então, passa a ser a condição necessária para que elas sejam aceitas e
valorizadas nesses espaços. Segundo Bourdieu (1999) “... elas existem primeiro pelo e
para, o olhar dos outros, ou seja, enquanto objetos receptivos, atraentes e
disponíveis.” Isso fica perceptível no tratamento dado a elas nesses espaços, são vistas
somente como conquistas sexuais, cujo o único objetivo é atrair a atenção masculina.
No entanto, um ponto interessante que encontramos nessas meninas é o que
pode ser descrito como o "visual", o estilo, por assim dizer, em que é possível
encontrar novas formas de resistência a essa objetificação, como explica Camargo
(2010) quando nos fala do estilo das minas do rock de São Paulo e a maneira como elas
utilizam a estética corporal como meio de resignificarem, no plano vestimentar,
roupas consideradas símbolos de feminilidade, como saias rasgadas e maquiagem em
excesso como uma forma de se oporem aos padrões de feminilidade. Com isso, elas
constroem um estilo próprio, que possuem claras vinculações com os processos
identitários. Quando se trabalha com o estilo dessas meninas o que vemos é que "o
foco nas transgressões estéticas é bastante significativo na cena e, olhar mais
atentamente para essas transgressões, permite entrever um feminismo que, longe de
ser unitário, seria melhor descrito como polifônico, revelando um conjunto
diversificado de vozes e subjetividades" (FRACCHINI, 2011, p. 10)
Nos espaços restritos aos shows existe o que Bourdieu (2004) chama de
“estratégias de condescendência”, em que os agentes que ocupam uma posição
superior (nesse caso o homem) no espaço objetivo, encobrem a distância social, que
não deixa de existir, na garantia do reconhecimento dessa mesma distância. Na cena
isso pode ser percebido quando se vê meninas tocando instrumentos pesados
(guitarra, baixo, bateria, etc.) e aparecem frases do tipo “ela toca como um homem”, o
que se depreende disso é ambíguo, pois, ao mesmo tempo, em que existe o
reconhecimento do talento de quem está tocando, esse reconhecimento se respalda
na hierarquização de gênero, pois naturalizam-se que só os homens podem ter
aptidões necessárias para tocar certos instrumentos. Isso tudo vai condicionando o
comportamento, definindo as posições dentro desses espaços, “De fato - continua
Bourdieu - as distâncias sociais estão inscritas nos corpos, ou, mais exatamente, na
relação com o corpo, com a linguagem e com o tempo” (idem). Como sabemos a
construção do corpo feminino também é um fenômeno cultural, e se manifesta
materialmente de diversas formas, uma delas é a imposição de restrições e limites aos
gestos e relações sociais, nas divisões de trabalho, na divisão de objetos – exclusivos
ou excludentes, etc. Nós podemos observar essas restrições na posição que é
“permitida” as garotas assumirem na cena underground (de participantes passivas,
sem autonomia, ou como meros corpos sexualmente disponíveis), pois está implícito
que o corpo feminino é “frágil”, “delicado”, não possuindo, portanto, as características
necessárias para compor, de modo efetivo, um meio “viril” e “agressivo” como esse.
Para as garotas que estão ali apenas para “curtir o som” o que fica patente é
que estas são encaradas como meras acompanhantes, são o público, a plateia dos
caras ou que estão à procura de algum, como acontece com as mulheres em espaços
de entretenimento de forma geral, mas em particular na cena rock. Essa visão se
mostra mais latente em estereótipos como o das Groupies. Groupie é um termo em
inglês utilizado para caracterizar jovens mulheres que admiram um cantor, de
música pop ou rock, seguindo-o em suas viagens, em busca de um envolvimento
emocional ou sexual com o seu ídolo. Essa é mais uma visão misógina que busca
reduzir a participação feminina a mero apêndice do homem, pois, de acordo com ela, a
garota não está ali pelo seu interesse musical (como ocorre com os homens), mas sim,
única e exclusivamente, pelo interesse afetivo/sexual, não que elas devam ser julgadas
se estiverem fazendo isso também, afinal, praticamente todos os "caras" que
frequentam a cena também estão atrás de conquistas sexuais, o criticável é a criação
de uma terminologia estigmatizante para caracterizar a iniciativa sexual feminina, que
se assemelha a diversos outros adjetivos ofensivos encontrados em contextos
diversos, como, no caso do futebol, em que temos as "marias chuteiras", ou, em
outros lugares, que se faz uso do adjetivo "piriguete", etc. Esse tipo de estereótipo vai
dar viabilidade ao assédio e a discriminação a que muitas garotas acabam por ficar
expostas nesses ambientes.
Laryssa Leal, 17 anos (que frequenta a cena há algum tempo), nos fala sobre
suas percepções acerca das dificuldades que as meninas enfrentam quando adentram
o meio “vejo que esses precisam ser mais ocupados por mulheres. Eu como mulher,
posso falar que, às vezes, não me sinto à vontade em lugares que têm, na sua maioria,
homens, e é o que acontece na cena, vejo que muitas meninas/mulheres se retraem e
não entram, por exemplo, na roda punk ou simplesmente deixam de fazer certas
coisas por serem mulheres”.
Quanto a alguma experiência de discriminação que tenha enfrentado ela, fala-
nos de um episódio: “Posso contar uma experiência que aconteceu comigo alguns dias
atrás, que relata isso, tava pogando de boa, até que eu sinto um empurrão bem forte
que me pareceu intencional, ok! Continuei pogando, nem olhei pra trás. Outro
empurrão e mais outro. Olhei pra trás, tinha muitas pessoas, mas consegui identificar o
cara. Depois de algum tempo, que tinha saído de perto da roda, o mesmo cara chegou
perto de mim e todo sorridente disse "tu é boa mesmo! Te empurrei quatro vezes e
não caiu. ”, tudo dito como se fosse um elogio (mais um exemplo de estratégia de
condescendência), ou seja, num espaço em que deveria haver uma política de
equidade, testaram minha força por eu ser mulher, sim, porque ele não faria isso com
outro homem. Há casos também, como quando uma mulher se joga do palco (Stage
diving) e os homens se aproveitam do momento para abusar de seus corpos, passando
a mão nos seios, bunda, etc. Esses são alguns exemplos do que nós, mulheres, temos
que vivenciar nesses espaços! ”
Histórias de discriminação e assédio como essas se tornam comuns. Isso tudo
impede essas meninas de terem uma participação total na cena, pois, coisas que para
os garotos são tão naturais, para elas acabam tornando-se momentos traumáticos,
porém, com todas essas problemáticas em relação a roda punk, ela ainda assim se
apresenta como um dos aspectos da cena mais igualitário, simétrico e democrático, e
em que não se cria expectativas de gênero, pois consegue-se obter uma grande
liberdade corporal feminina, que não se encontram aprisionadas em uma relação de
'galanteio' e/ou vassalagem, em contraposição as danças realizadas entre homens e
mulheres, gerando um sentimento de grande companheirismo e aceitação.
DIVULGAÇÃO FEMINISTA
O fanzine é um tipo de publicação amadora, produzido artesanalmente e sem
fins lucrativos. Zine é a abreviatura de fanzine (Fanatic + Magazine), surge nos E.U.A,
na década de 30, feito por fãs de literatura de ficção científica. Foi retomado pela
cultura punk, na década de 70 e é o principal veículo de comunicação de toda a cultura
underground. Os fanzines apareceram como uma rede de comunicação que permitiu
ao riot grrrl se propagar não somente nos Estados Unidos, como no mundo todo. Eles
podem tratar dos mais variados assuntos, indo da música às discussões políticas como
anarquismo e o feminismo. Em Belém temos conhecimento de diversos fanzines,
muito divulgados em feiras libertárias3, no entanto, dentro da temática feminista
3 As Feiras Libertáriassão iniciativasdecunho anarquista geralmente realizadasemespaços públicos
principalmentepraças,onde não faltambanquinhas decomida veganas,venda de livros,jornais
populares e principalmenteos famosos Fanzines sendo aberta a quem tiver interessede construir.Com
direito a performances, debates, oficinas eapresentações artísticas dentro da orientação politicados
organizadores.
temos poucos, um deles é o Cinisca Fanzine editado por Laiza Ferreira e Rafaela
Fontoura de Ananindeua/Belém-PA. O zine nasceu em 2011, e é todo direcionado
às mulheres. O zine editado pelo coletivo feminista Vacas Profanas e o Perseguida Riot
Zine que dispõe de uma página no Facebook com divulgação da temática.
Fig. 01 - Cartaz de divulgação deshow. Fig. 02 – Capa do FanzinePerseguida Riot Zine
Fig. 03 capa da 1º edição do CiniscaZine Fig. 04- Cartaz de divulgação deshow.
CONCLUSÃO
Ao efetuar esse estudo o que percebemos, primeiramente, é que quando
realizamos um olhar superficial sobre esses espaços de entretenimento jovem, o que
eles nos transmitem, no primeiro momento, é um clima de divertimento e
descontração, em que todos são “liberais”, “mente aberta”, livres de preconceito e
intolerância, no entanto, quando empreendemos um olhar mais, digamos
“sociológico” da questão, o que constatamos é um espaço em que predomina a
hierarquização de gênero, pautada em relações de poder bem definidas, em que a
presença feminina é silenciada, contudo, ainda assim é um meio em que se questiona
e desconstroi minimamente essas relações através da música, dos fanzines e das
propostas de cada espaço. No entanto, o que também pode ser constatado é que o
feminismo, enquanto arma de empoderamento e emancipação feminina, continua
sendo o único instrumento possível de desconstrução desses arranjos de poder
desiguais, que se manifestam por processos de diferenciação nos papéis sexuais e na
dicotomia do que é tido como “masculino” e “feminino”. Levando-nos a refletir sobre a
importância de mais meninas ocuparem e se apropriarem de ambientes como esses,
de todas as maneiras possíveis: tocando, “curtindo o som”, discutindo e construindo
novos espaços de sociabilidade, e assim viabilizando o surgimento de uma cultura
jovem realmente aberta e igualitária.
Gostaríamos de finalizar esse artigo com a letra de uma das músicas da banda
Klitores Kaos, “Feminicida”, que fala do assassinato brutal, de uma estudante de
nutrição da UFPA, Ingred Israel, pelo ex-namorado, e que se tornou o primeiro caso a
ser enquadrado na lei do feminicídio no Estado do pará (que havia sido implantada
poucos dias antes).
Feminicida
Ingriiid, seu grito ainda persiste!
Ingriiid, jamais será esquecida!
Um homicida, machista e
covarde!
Ceifou sua vida, um feminicida!
Destemidas seremos,
Com coragem Lutaremos!
Nossas irmãs serão lembradas!
Unidas Venceremos!
Mortas, por sermos mulheres
Quantas mais a perecer?
Não podemos nos calar!
O feminicídio tem que acabar!
Facadas sem pena, levaram
seus sonhos.
Seu sangue esvaindo, findando
seus planos.
Guerreira, continuaremos
Lutando por você.
Não mais desprotegidas
e sim fortalecidas!
Ingriid, seu grito ainda persiste!
Ingriid, jamais será esquecida!
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABRAMO, Helena W. Cenas juvenis: Punks e darks no espetáculo urbano. São Paulo:
Scritta, 1994.
BOURDIEU, Pierre. Espaço social e poder simbólico. In: Coisas Ditas. São Paulo:
Brasiliense, 2004.
BOURDIEU, Pierre. A dominação Masculina. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1999.
BRANDÃO, Antônio Carlos; DUARTE, Milton Fernandes. Movimentos Culturais de
Juventude. São Paulo: Moderna, 2004.
CAMARGO, Michelle de Alcântara. Lugares, pessoas e palavras: o estilo das minas do
rock na cidade de São Paulo. Dissertação de Mestrado em Antropologia Social,
Unicamp, 2010.
FACCHINI, Regina. "Não faz mal pensar que não se está só": estilo, produção cultural e
feminismo entre as minas do rock em São Paulo. Cad. Pagu,
no.36. Campinas Jan./Junho 2011.
MELO, Érica. Cultura Juvenil Feminista Riot Grrrl em São Paulo. Dissertação de
Mestrado em Sociologia, Unicamp, 2008.
STRAW, Will. Scenes andsensibilities. Revista da Associação Nacional de Pós-
Graduação em Comunicação [http://www.ecompos.com.br/e-compos – acesso
06/08/2006].
http://www.significados.com.br/groupie/

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Artigo inventudes3

  • 1. 1A CENA UNDERGROUND DE BELÉM E OS ENTRAVES PARA UMA APROPRIAÇÃO FEMINISTA DESSES ESPAÇOS. Rayner Sousa dos santos Graduação/UFPA rayner.s.santos@gmail.com Raynice Sousa dos Santos Graduação/UFPA raynice.s.santos@gmail.com Resumo: No presente trabalho nos propomos a discutir a invisibilidade vivenciada pelas mulheres em espaços de entretenimento underground da juventude belenense. Tendo o Rock como estilo central desses espaços alternativos que, mesmo transmitindo uma identidade contestadora para a juventude, ainda se caracteriza por manter muitos dos valores conservadores, quando diz respeito à participação feminina, seja tocando ou apenas “curtindo o som”. Na cena Rock de Belém, trabalharemos com bandas feministas ou que, ao menos, tenham mulheres a sua frente. Problematizando que a inserção dessas meninas em bandas compostas por homens se dá, muitas vezes, de forma subalternizada, enquanto que está reservada para aquelas que apenas frequentam esses espaços uma forma de desqualificação e assédio. Com isso, pretendemos discutir os empecilhos a uma apropriação feminista dessa cena, a fim de promover e valorizar os trabalhos dessas meninas e suas contribuições para este cenário musical. Palavras-chave: Rock; juventude; Feminismo. INTRODUÇÃO Este artigo procura oferecer uma compreensão da invisibilidade vivenciada pelas jovens em espaços de entretenimento que tem o rock como eixo central e as diversas formas de resistência, assumidas por elas, contra a discriminação – sobretudo entre as jovens que se identificam, entre outras coisas, como feministas – nessa cena de produção e manifestação cultural da juventude. A escolha desse tema surge, a partir da constatação da pouca inserção feminina no meio Rock de Belém e na problematização de como se efetua essa participação. As informações coletadas foram 1 Trabalho apresentado nos Diálogos sobre Crianças e Juventudes na Amazônia Belém-PA, 10 a 12 de novembro de 2015,sob coordenação de MiltomRibeiro,Rosali Brito eLeila Leite.
  • 2. desenvolvidas a partir de observação participante, entrevistas com as frequentadoras e de revisão da literatura sobre o assunto. O conceito de "cena" está sendo usada aqui para estabelecer relações entre certos gostos e estilos musicais e determinados territórios. Essa relação se estabelece de modo a manter o caráter flexível e invisível das fronteiras de supostas "unidades culturais", que podem ser uma cena local, regional, nacional ou internacional (STRAW, 2006). A cena aqui é um espaço de sociabilidade, capaz de agregar agentes, que se identificam com determinadas manifestações culturais, na construção de uma identidade juvenil comum. Os espaços em que se dão essas atividades e produções culturais podem ser vistos como Underground (“subterrâneo”, em inglês) que é utilizado para se referir às produções artísticas que se propõem a manifestar-se fora do circuito comercial, como, por exemplo, assinar contratos com grandes gravadoras ou produzir músicas para atender a uma “moda”. Em geral, esses espaços se constroem em torno da formação de bandas, Abramo ao falar das bandas paulistanas dos punks e darks2, explica que essas "não tinham um espaço nas gravadoras, nos canais de comunicação, ou nas danceterias, que então proliferavam, mas que apresentavam apenas as bandas já consagradas. Por isso, começaram a buscar locais menores, menos equipados e produzidos, mais baratos, na maior parte das vezes porões de bares e boates com freqüência mais marginal, e assim montaram um circuito referido como underground, denominação que servia para designar o grupo” (ABRAMO, 1994, p. 128). Essa cena underground podem ser casas de rock alternativas, bares e festas domésticas. Muitas vezes esses ambientes não ficam restritos apenas aos shows, mas também se tornam locais de discussões, troca de experiências e intervenções político-culturais, um exemplo, em Belém, é a Veg Casa, ambiente que intercala discussões sobre machismo, racismo e vegetarianismo. Também temos o bar do Paraguai, que normalmente não costuma ser considerado um local underground, mas, ocasionalmente, é ocupado para receber eventos dessa cena, o conhecido Coletivo Operário costuma realizar suas 2 Na década de 90, referia-sea pessoas que sevestiam completamente de preto e escutavam New Wave. Eram conhecidos erroneamente por Darks (ou góticos) quando na verdade eram pós -punks. Hoje em dia,o termo “Dark” ficou muito genérico (inclusivedentro da própria cultura gótica) referindo- se a quase tudo que remeta a tristeza,morbidez e escuridão.
  • 3. atividades de discussões políticas e de concientização neste espaço, por estar localizado a alguns metros da praça do operário, o mais próximo das camadas populares da cidade. O ROCK E A CULTURA JUVENIL O rock, como estilo cultural, tem seu surgimento por volta da década de 50 nos EUA, estando imbuído de certa contestação aos valores tradicionais da cultura elitista branca daquele país, por ser uma mistura do rhythm and blues negro e o country and western dos brancos rurais pobres, por isso mesmo passa a ser incorporado pela juventude, como forma de questionar a sociedade estabelecida pelos seus pais (BRANDÃO, DUARTE, 2004, p. 26). No entanto, apesar dessa origem contestadora, ele mantém (como vários outros estilos) muitos dos valores conservadores no que diz respeito à participação feminina. Como o Rock é um estilo que utiliza instrumental pesado (guitarra, baixo, bateria, etc.) que exigem certa força e agilidade, isso acaba por se refletir na composição dos seus espaços de entretenimento que, dependendo da vertente (punk, hardcore, grindcore, metal, etc.), são extremamente masculinizantes e agressivos, o que pode ser constatado pela maioria de homens, por isso mesmo, essa é uma das motivações pelas quais tende a haver uma grande resistência em aceitar uma inserção feminina autônoma. Mesmo vertentes como o punk-rock, que não fica restrito apenas ao cenário musical, mas tem toda uma proposta de estilo de vida que busca contestar o status-quo, ainda relega às mulheres um papel secundário, pois, nesse meio, como explica Melo (2008) “não basta que as garotas se identifiquem com o punk, como ocorre com os garotos, é preciso que elas provem que são “viris” o suficiente para estarem ali”. Tendo como consequência dessa contradição feito surgir na década de 90, entre as meninas punks, o movimento que ficou conhecido como Riot Grrrl, como forma de se oporem ao machismo do mundo Punk, o mesmo sendo pautado no “faça- você-mesmo” (a base de toda cultura punk) e numa atuação que valoriza a ação autônoma e tem as garotas como protagonistas, além de elaborar uma espécie de "fraternidade feminina", embasada na “sororidade”. O riot grrrl se mostrou uma grande arma de empoderamento e visibilidade para essas garotas, abrindo a possibilidade para vários outros temas e práticas. “São jovens garotas que, ao associar
  • 4. música e política, questionam, denunciam e desconstroem as relações desiguais de gênero e suas consequências, em especial as relativas à juventude, e constroem, a partir de uma linguagem e de práticas, uma identidade feminista” (MELO, 2008, p.), ou, como ela mesma demonstra, uma cultura juvenil feminista. Cultura juvenil que, segundo Abramo (2004), é uma noção que não está necessariamente vinculada a movimentos sociais, em que esses jovens empregam o tempo livre para suas manifestações culturais. O FEMINISMO NA CENA ROCK DE BELÉM. Antes de tudo, queremos deixar claro que quando falamos em “entraves para uma apropriação feminista desses espaços” não estamos, com isso, querendo dizer que todas as meninas, que, de alguma forma, assumem uma atitude de resistência à discriminação, se afirmam “feministas”. O que tentamos dizer é que, por mais que muitas até tenham aversão à sua associação com o feminismo, independente disso tudo, suas práticas podem, segundo nossa visão, ser interpretadas como “feministas”, a partir do momento que não aceitam a condição de meras observadoras e tentam se afirmar como sujeitos autônomos (mesmo que essa autonomia esteja condicionada a certos critérios) dentro desses espaços. São feministas porque, voltando a citar Melo, "Ao se ligar a uma cultura juvenil predominantemente masculina, essas garotas constroem formas de resistência aos modelos culturais dominantes de feminilidade e fazem isso numa época crítica de seu desenvolvimento, a adolescência" (MELO, 2008, p.). Entre essas diversas formas de resistência, temos: formação de bandas de meninas (feministas ou não), coletivos, confecção de fanzines, rodas de discussões, debates, oficinas, etc. Algumas das bandas formadas que se mantém ativas na cena, são de garotas no vocal ou completamente femininas, como: Cavalo do cão (Grindcore), Qualquer Coisa (Rock alternativo), Esgoto Surfers (Fastcore, punk, surf rock), Criaturas de Sinbat (Hardcore) e a recém-formada kritores Kaos (Punk Crust Feminista). Existem diversas outras covers que ainda se poderia citar. Nas letras dessas bandas a temática varia de acordo com a vertente à qual estão vinculadas e, em alguns casos, a orientação política. Kritores Kaos é a banda que melhor poderia ilustrar o engajamento feminino nesse cenário, a banda tem influência do movimento riot grrl, com formação recente,
  • 5. tocando em poucos eventos, sua vocalista e fundadora, Luma Josino, 25 anos, tem compromisso político com o feminismo e o comunismo, sendo por isso articuladora do Coletivo Kaóticas, que busca levantar discussões nesses âmbitos, geralmente em parceria com a Veg Casa. A banda Cavalo do cão, formada em 2013, pela vocalista, Monise Souza, 27 anos, sempre esteve à frente da banda e fala sobre as dificuldades de se afirmar dentro desse espaço. Percebendo que, os integrantes homens da banda, em sua primeira formação, tinham muita resistência em acatar as suas instruções, bem como viviam frisando que não queriam que se tornasse a “Banda da Pitty” (afinal, a Pitty é a lider da banda, você não escuta falarem dos homens que tocam com ela) e que geralmente depois de um show, ouve comentarem “muito legal, vocês terem colocado como vocalista uma mulher...”, como se algum dos homens a tivesse “colocado” ali, nem mesmo cogita-se que ela teria formado a banda, ou quando querem resolver algum problema (como: agendar shows, estrutura do espaço, etc.) sempre buscam um dos homens. Ela também nos fala sobre uma espécie de “sabatina” a qual quem tem interesse no rock (seja que vertente for) é geralmente submetido, isso se torna muito agudo no caso das meninas que desejam se inserir nesse meio e que tem, de algum modo, que “provar” que “sacam” o suficiente do meio, para assim validar sua permanência, uma vez que a crença é de que mulheres não têm gosto próprio. Não é comentado, mas o que se percebe é que no espaço rock, como em diversos outros espaços de entretenimento, a aceitação feminina fica condicionada a critérios como a sua objetificação. Serem transformadas em objeto de desejo do homem, então, passa a ser a condição necessária para que elas sejam aceitas e valorizadas nesses espaços. Segundo Bourdieu (1999) “... elas existem primeiro pelo e para, o olhar dos outros, ou seja, enquanto objetos receptivos, atraentes e disponíveis.” Isso fica perceptível no tratamento dado a elas nesses espaços, são vistas somente como conquistas sexuais, cujo o único objetivo é atrair a atenção masculina. No entanto, um ponto interessante que encontramos nessas meninas é o que pode ser descrito como o "visual", o estilo, por assim dizer, em que é possível encontrar novas formas de resistência a essa objetificação, como explica Camargo (2010) quando nos fala do estilo das minas do rock de São Paulo e a maneira como elas utilizam a estética corporal como meio de resignificarem, no plano vestimentar,
  • 6. roupas consideradas símbolos de feminilidade, como saias rasgadas e maquiagem em excesso como uma forma de se oporem aos padrões de feminilidade. Com isso, elas constroem um estilo próprio, que possuem claras vinculações com os processos identitários. Quando se trabalha com o estilo dessas meninas o que vemos é que "o foco nas transgressões estéticas é bastante significativo na cena e, olhar mais atentamente para essas transgressões, permite entrever um feminismo que, longe de ser unitário, seria melhor descrito como polifônico, revelando um conjunto diversificado de vozes e subjetividades" (FRACCHINI, 2011, p. 10) Nos espaços restritos aos shows existe o que Bourdieu (2004) chama de “estratégias de condescendência”, em que os agentes que ocupam uma posição superior (nesse caso o homem) no espaço objetivo, encobrem a distância social, que não deixa de existir, na garantia do reconhecimento dessa mesma distância. Na cena isso pode ser percebido quando se vê meninas tocando instrumentos pesados (guitarra, baixo, bateria, etc.) e aparecem frases do tipo “ela toca como um homem”, o que se depreende disso é ambíguo, pois, ao mesmo tempo, em que existe o reconhecimento do talento de quem está tocando, esse reconhecimento se respalda na hierarquização de gênero, pois naturalizam-se que só os homens podem ter aptidões necessárias para tocar certos instrumentos. Isso tudo vai condicionando o comportamento, definindo as posições dentro desses espaços, “De fato - continua Bourdieu - as distâncias sociais estão inscritas nos corpos, ou, mais exatamente, na relação com o corpo, com a linguagem e com o tempo” (idem). Como sabemos a construção do corpo feminino também é um fenômeno cultural, e se manifesta materialmente de diversas formas, uma delas é a imposição de restrições e limites aos gestos e relações sociais, nas divisões de trabalho, na divisão de objetos – exclusivos ou excludentes, etc. Nós podemos observar essas restrições na posição que é “permitida” as garotas assumirem na cena underground (de participantes passivas, sem autonomia, ou como meros corpos sexualmente disponíveis), pois está implícito que o corpo feminino é “frágil”, “delicado”, não possuindo, portanto, as características necessárias para compor, de modo efetivo, um meio “viril” e “agressivo” como esse. Para as garotas que estão ali apenas para “curtir o som” o que fica patente é que estas são encaradas como meras acompanhantes, são o público, a plateia dos caras ou que estão à procura de algum, como acontece com as mulheres em espaços
  • 7. de entretenimento de forma geral, mas em particular na cena rock. Essa visão se mostra mais latente em estereótipos como o das Groupies. Groupie é um termo em inglês utilizado para caracterizar jovens mulheres que admiram um cantor, de música pop ou rock, seguindo-o em suas viagens, em busca de um envolvimento emocional ou sexual com o seu ídolo. Essa é mais uma visão misógina que busca reduzir a participação feminina a mero apêndice do homem, pois, de acordo com ela, a garota não está ali pelo seu interesse musical (como ocorre com os homens), mas sim, única e exclusivamente, pelo interesse afetivo/sexual, não que elas devam ser julgadas se estiverem fazendo isso também, afinal, praticamente todos os "caras" que frequentam a cena também estão atrás de conquistas sexuais, o criticável é a criação de uma terminologia estigmatizante para caracterizar a iniciativa sexual feminina, que se assemelha a diversos outros adjetivos ofensivos encontrados em contextos diversos, como, no caso do futebol, em que temos as "marias chuteiras", ou, em outros lugares, que se faz uso do adjetivo "piriguete", etc. Esse tipo de estereótipo vai dar viabilidade ao assédio e a discriminação a que muitas garotas acabam por ficar expostas nesses ambientes. Laryssa Leal, 17 anos (que frequenta a cena há algum tempo), nos fala sobre suas percepções acerca das dificuldades que as meninas enfrentam quando adentram o meio “vejo que esses precisam ser mais ocupados por mulheres. Eu como mulher, posso falar que, às vezes, não me sinto à vontade em lugares que têm, na sua maioria, homens, e é o que acontece na cena, vejo que muitas meninas/mulheres se retraem e não entram, por exemplo, na roda punk ou simplesmente deixam de fazer certas coisas por serem mulheres”. Quanto a alguma experiência de discriminação que tenha enfrentado ela, fala- nos de um episódio: “Posso contar uma experiência que aconteceu comigo alguns dias atrás, que relata isso, tava pogando de boa, até que eu sinto um empurrão bem forte que me pareceu intencional, ok! Continuei pogando, nem olhei pra trás. Outro empurrão e mais outro. Olhei pra trás, tinha muitas pessoas, mas consegui identificar o cara. Depois de algum tempo, que tinha saído de perto da roda, o mesmo cara chegou
  • 8. perto de mim e todo sorridente disse "tu é boa mesmo! Te empurrei quatro vezes e não caiu. ”, tudo dito como se fosse um elogio (mais um exemplo de estratégia de condescendência), ou seja, num espaço em que deveria haver uma política de equidade, testaram minha força por eu ser mulher, sim, porque ele não faria isso com outro homem. Há casos também, como quando uma mulher se joga do palco (Stage diving) e os homens se aproveitam do momento para abusar de seus corpos, passando a mão nos seios, bunda, etc. Esses são alguns exemplos do que nós, mulheres, temos que vivenciar nesses espaços! ” Histórias de discriminação e assédio como essas se tornam comuns. Isso tudo impede essas meninas de terem uma participação total na cena, pois, coisas que para os garotos são tão naturais, para elas acabam tornando-se momentos traumáticos, porém, com todas essas problemáticas em relação a roda punk, ela ainda assim se apresenta como um dos aspectos da cena mais igualitário, simétrico e democrático, e em que não se cria expectativas de gênero, pois consegue-se obter uma grande liberdade corporal feminina, que não se encontram aprisionadas em uma relação de 'galanteio' e/ou vassalagem, em contraposição as danças realizadas entre homens e mulheres, gerando um sentimento de grande companheirismo e aceitação. DIVULGAÇÃO FEMINISTA O fanzine é um tipo de publicação amadora, produzido artesanalmente e sem fins lucrativos. Zine é a abreviatura de fanzine (Fanatic + Magazine), surge nos E.U.A, na década de 30, feito por fãs de literatura de ficção científica. Foi retomado pela cultura punk, na década de 70 e é o principal veículo de comunicação de toda a cultura underground. Os fanzines apareceram como uma rede de comunicação que permitiu ao riot grrrl se propagar não somente nos Estados Unidos, como no mundo todo. Eles podem tratar dos mais variados assuntos, indo da música às discussões políticas como anarquismo e o feminismo. Em Belém temos conhecimento de diversos fanzines, muito divulgados em feiras libertárias3, no entanto, dentro da temática feminista 3 As Feiras Libertáriassão iniciativasdecunho anarquista geralmente realizadasemespaços públicos principalmentepraças,onde não faltambanquinhas decomida veganas,venda de livros,jornais populares e principalmenteos famosos Fanzines sendo aberta a quem tiver interessede construir.Com direito a performances, debates, oficinas eapresentações artísticas dentro da orientação politicados organizadores.
  • 9. temos poucos, um deles é o Cinisca Fanzine editado por Laiza Ferreira e Rafaela Fontoura de Ananindeua/Belém-PA. O zine nasceu em 2011, e é todo direcionado às mulheres. O zine editado pelo coletivo feminista Vacas Profanas e o Perseguida Riot Zine que dispõe de uma página no Facebook com divulgação da temática. Fig. 01 - Cartaz de divulgação deshow. Fig. 02 – Capa do FanzinePerseguida Riot Zine Fig. 03 capa da 1º edição do CiniscaZine Fig. 04- Cartaz de divulgação deshow. CONCLUSÃO Ao efetuar esse estudo o que percebemos, primeiramente, é que quando realizamos um olhar superficial sobre esses espaços de entretenimento jovem, o que eles nos transmitem, no primeiro momento, é um clima de divertimento e
  • 10. descontração, em que todos são “liberais”, “mente aberta”, livres de preconceito e intolerância, no entanto, quando empreendemos um olhar mais, digamos “sociológico” da questão, o que constatamos é um espaço em que predomina a hierarquização de gênero, pautada em relações de poder bem definidas, em que a presença feminina é silenciada, contudo, ainda assim é um meio em que se questiona e desconstroi minimamente essas relações através da música, dos fanzines e das propostas de cada espaço. No entanto, o que também pode ser constatado é que o feminismo, enquanto arma de empoderamento e emancipação feminina, continua sendo o único instrumento possível de desconstrução desses arranjos de poder desiguais, que se manifestam por processos de diferenciação nos papéis sexuais e na dicotomia do que é tido como “masculino” e “feminino”. Levando-nos a refletir sobre a importância de mais meninas ocuparem e se apropriarem de ambientes como esses, de todas as maneiras possíveis: tocando, “curtindo o som”, discutindo e construindo novos espaços de sociabilidade, e assim viabilizando o surgimento de uma cultura jovem realmente aberta e igualitária. Gostaríamos de finalizar esse artigo com a letra de uma das músicas da banda Klitores Kaos, “Feminicida”, que fala do assassinato brutal, de uma estudante de nutrição da UFPA, Ingred Israel, pelo ex-namorado, e que se tornou o primeiro caso a ser enquadrado na lei do feminicídio no Estado do pará (que havia sido implantada poucos dias antes). Feminicida Ingriiid, seu grito ainda persiste! Ingriiid, jamais será esquecida! Um homicida, machista e covarde! Ceifou sua vida, um feminicida! Destemidas seremos, Com coragem Lutaremos! Nossas irmãs serão lembradas! Unidas Venceremos!
  • 11. Mortas, por sermos mulheres Quantas mais a perecer? Não podemos nos calar! O feminicídio tem que acabar! Facadas sem pena, levaram seus sonhos. Seu sangue esvaindo, findando seus planos. Guerreira, continuaremos Lutando por você. Não mais desprotegidas e sim fortalecidas! Ingriid, seu grito ainda persiste! Ingriid, jamais será esquecida!
  • 12. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABRAMO, Helena W. Cenas juvenis: Punks e darks no espetáculo urbano. São Paulo: Scritta, 1994. BOURDIEU, Pierre. Espaço social e poder simbólico. In: Coisas Ditas. São Paulo: Brasiliense, 2004. BOURDIEU, Pierre. A dominação Masculina. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1999. BRANDÃO, Antônio Carlos; DUARTE, Milton Fernandes. Movimentos Culturais de Juventude. São Paulo: Moderna, 2004. CAMARGO, Michelle de Alcântara. Lugares, pessoas e palavras: o estilo das minas do rock na cidade de São Paulo. Dissertação de Mestrado em Antropologia Social, Unicamp, 2010. FACCHINI, Regina. "Não faz mal pensar que não se está só": estilo, produção cultural e feminismo entre as minas do rock em São Paulo. Cad. Pagu, no.36. Campinas Jan./Junho 2011. MELO, Érica. Cultura Juvenil Feminista Riot Grrrl em São Paulo. Dissertação de Mestrado em Sociologia, Unicamp, 2008. STRAW, Will. Scenes andsensibilities. Revista da Associação Nacional de Pós- Graduação em Comunicação [http://www.ecompos.com.br/e-compos – acesso 06/08/2006]. http://www.significados.com.br/groupie/