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ANO05•NÚMERO20MELHORESPRÁTICASEMSAÚDE,QUALIDADEEACREDITAÇÃO•REVISTAMELHORESPRATICAS.COM.BR
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www.revistamelhorespraticas.com.br
OPINEPRÓS E CONTRAS
DO PLANO DE
SAÚDE POPULAR
ENVOLVAA CONTRIBUIÇÃO
DO CONSELHO
CONSULTIVO
DE PACIENTES
FALSASCERTEZAS
Mitos e verdades sobre o
processo de acreditação
NOVOPROTOCOLO
Identificação precoce
de instabilidade clínica
EVASÃOEPERDAS
Reduza desperdícios
com o enxoval
O que traz real
valor para a saúde
	 do paciente?
ÉMAIS
MENOS
tradicional, a farmácia abastece o refe-
rido setor determinada quantidade de
vezes por semana, e este setor consumirá
o necessário. Em função dos consumos
informados à farmácia, esta reporá
o referido material nas quantidades
necessárias.
Fica claro que um correto fluxo de
informação é fundamental para impedir
falta de material. Se esse indicador estiver
unicamente imputado à farmácia, cor-
re-se o risco de a equipe de enfermagem
não estar totalmente focada em garantir
a qualidade e fiabilidade dos registros
de consumos e dos desvios de estoque.
Caso o hospital implemente um
indicador partilhado entre a farmácia
e o setor que seja reportado a todo o
hospital, ambas as equipes trabalharão
para um objetivo comum, específico
e mensurável; logo, haverá uma preo-
cupação acrescida dos usuários de
enfermagem em garantir que nenhum
registro de consumo foi esquecido,
ou assinalar devidamente situações
de exceção ocorridas que possam ter
impacto no movimento do material.
Tanto material médico como medi-
camentos têm custos elevados para os
hospitais (aproximadamente 30% de
acordo com o Observatório Anahp
2015), pelo que, apesar da simplicidade
do exemplo, alerta-se para a importân-
cia da integração dos indicadores de
desempenho logístico para aumentar o
“empenho grupal de fazer o correto”.
Veja-se o exemplo do estudo de
Messeder, Osorio-de-Castro e Camacho
(2007)1
que hierarquizou os hospitais
com base no desempenho das farmácias
hospitalares, levando em consideração
as atividades logísticas. Verificou-se que
a logística estava mais presente quanto
maior fosse o grau de complexidade do
setor, tendo concluído que falhas da
logística e da seleção do medicamento
podem acarretar desperdícios de recursos
humanos e financeiros, dificultando ou
impedindo o adequado fornecimento
dos medicamentos e de materiais.
Pelo exposto, falar de segurança hos-
pitalar é não esquecer a importância da
logística, podendo ser os indicadores de
desempenho um instrumento de apoio
à promoção de uma mudança rápida e
sustentada, quer em termos de procedi-
mentos, quer em termos da qualidade
do trabalho em equipe.
Indicadores de desempenho logístico para suporte
à tomada de decisão precisam ser definidos,
implementados e compartilhados entre os setores
PedroLopesRibeiro
Empresário com mais de
18 anos de experiência em
automação logística, fundador
da Slidelog e Picklog
N
o que diz respeito ao desempenho, ao
compromisso, ao esforço, à dedicação,
não existe meio-termo. Ou você faz
uma coisa benfeita ou não faz.”
(Ayrton Senna)"
É precisamente essa cultu-
ra de “desejar fazer bem” que tanto se
anseia nas organizações, em especial
no universo hospitalar pelos riscos e
custos envolvidos. Usando o exemplo
da administração da medicação,
essa excelência passa no mínimo
pelo cumprimento dos 6 Rs (1. Right
individual, 2. Right medication, 3.
Right dose, 4. Right time, 5. Right
route, 6. Right documentation, ou
seja, administração ao indivíduo
correto, do medicamento certo, na
dose certa, no tempo certo, na rota
e documentação certas). Portanto,
referimo-nos a fluxos logísticos físicos e
informacionais, apesar de ainda alguns
enfermeiros, médicos e assistentes não
compreenderem exatamente do que
isso se trata, impossibilitando a sua
total consciência do seu papel único
no resultado do todo.
O nível de qualidade e eficiência acima
referido é muito ambicionado pelos
hospitais,masalcançadoporpoucosdevido,
entre muitas outras coisas, à ausência de
indicadores de desempenho, instrumentos
fundamentais para a definição estratégica
em termos operacionais e tomada de
decisões coerentes com a mesma. No
entanto, de nada valem se não forem
devidamente definidos, implementados,
utilizados como suporte à tomada de
decisão e entendidos por todos como
fundamentais para a eficiência e sucesso
da organização. Sobretudo quando se
aspira à acreditação hospitalar.
Indicadoresdedesempenhologístico,tais
como o nível de serviço, taxa de ruptura,
giro de estoque, custo de não-conformida-
des, encontram-se bastante divulgados e
comreconhecidapertinência,masodesafio
é conseguir implementá-los (exemplo: sis-
temas deinformação fiáveis econsistentes),
bemcomomelhorá-los,podendoconstituir
aqui a interdisciplinaridade da logística
um problema ou uma aliada.
Imagine o caso do nível de ruptura de
estoque de material médico hospitalar
do setor “ABC” de um hospital (ruptura
é o índice que mostra a porcentagem de
produtos em falta em relação ao total
de itens de um estoque). Num fluxo
Indicadores
de desempenho
logístico, tais
como o nível
de serviço, taxa
de ruptura,
giro de estoque,
custo de não-
conformidades,
encontram-se
bastante
divulgados e
com reconhecida
pertinência,
mas o desafio
é conseguir
implementá-los
Referências
1) Messeder, A. M., Osorio-de-Castro,
C. G. S., & Camacho, L. A. B. (2007).
“Projeto Diagnóstico da Farmácia
Hospitalar no Brasil: uma proposta de
hierarquização dos serviços”. “The
Hospital Pharmacy Survey in Brazil: a
proposal for hierarchical organization
of”. Cad. Saúde Pública, 23(4), 835-844.
Saiba mais___
Na edição anterior da Melhores Práticas,
Pedro Lopes Ribeiro escreveu sobre a
relação direta entre logística e rentabilidade.
Leia em http://bit.ly/PEDROLOPES
32 33Melh res Práticas Melh res Práticas
| Logística |

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  • 2. tradicional, a farmácia abastece o refe- rido setor determinada quantidade de vezes por semana, e este setor consumirá o necessário. Em função dos consumos informados à farmácia, esta reporá o referido material nas quantidades necessárias. Fica claro que um correto fluxo de informação é fundamental para impedir falta de material. Se esse indicador estiver unicamente imputado à farmácia, cor- re-se o risco de a equipe de enfermagem não estar totalmente focada em garantir a qualidade e fiabilidade dos registros de consumos e dos desvios de estoque. Caso o hospital implemente um indicador partilhado entre a farmácia e o setor que seja reportado a todo o hospital, ambas as equipes trabalharão para um objetivo comum, específico e mensurável; logo, haverá uma preo- cupação acrescida dos usuários de enfermagem em garantir que nenhum registro de consumo foi esquecido, ou assinalar devidamente situações de exceção ocorridas que possam ter impacto no movimento do material. Tanto material médico como medi- camentos têm custos elevados para os hospitais (aproximadamente 30% de acordo com o Observatório Anahp 2015), pelo que, apesar da simplicidade do exemplo, alerta-se para a importân- cia da integração dos indicadores de desempenho logístico para aumentar o “empenho grupal de fazer o correto”. Veja-se o exemplo do estudo de Messeder, Osorio-de-Castro e Camacho (2007)1 que hierarquizou os hospitais com base no desempenho das farmácias hospitalares, levando em consideração as atividades logísticas. Verificou-se que a logística estava mais presente quanto maior fosse o grau de complexidade do setor, tendo concluído que falhas da logística e da seleção do medicamento podem acarretar desperdícios de recursos humanos e financeiros, dificultando ou impedindo o adequado fornecimento dos medicamentos e de materiais. 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Right medication, 3. Right dose, 4. Right time, 5. Right route, 6. Right documentation, ou seja, administração ao indivíduo correto, do medicamento certo, na dose certa, no tempo certo, na rota e documentação certas). Portanto, referimo-nos a fluxos logísticos físicos e informacionais, apesar de ainda alguns enfermeiros, médicos e assistentes não compreenderem exatamente do que isso se trata, impossibilitando a sua total consciência do seu papel único no resultado do todo. O nível de qualidade e eficiência acima referido é muito ambicionado pelos hospitais,masalcançadoporpoucosdevido, entre muitas outras coisas, à ausência de indicadores de desempenho, instrumentos fundamentais para a definição estratégica em termos operacionais e tomada de decisões coerentes com a mesma. No entanto, de nada valem se não forem devidamente definidos, implementados, utilizados como suporte à tomada de decisão e entendidos por todos como fundamentais para a eficiência e sucesso da organização. Sobretudo quando se aspira à acreditação hospitalar. Indicadoresdedesempenhologístico,tais como o nível de serviço, taxa de ruptura, giro de estoque, custo de não-conformida- des, encontram-se bastante divulgados e comreconhecidapertinência,masodesafio é conseguir implementá-los (exemplo: sis- temas deinformação fiáveis econsistentes), bemcomomelhorá-los,podendoconstituir aqui a interdisciplinaridade da logística um problema ou uma aliada. Imagine o caso do nível de ruptura de estoque de material médico hospitalar do setor “ABC” de um hospital (ruptura é o índice que mostra a porcentagem de produtos em falta em relação ao total de itens de um estoque). Num fluxo Indicadores de desempenho logístico, tais como o nível de serviço, taxa de ruptura, giro de estoque, custo de não- conformidades, encontram-se bastante divulgados e com reconhecida pertinência, mas o desafio é conseguir implementá-los Referências 1) Messeder, A. M., Osorio-de-Castro, C. G. S., & Camacho, L. A. B. (2007). “Projeto Diagnóstico da Farmácia Hospitalar no Brasil: uma proposta de hierarquização dos serviços”. “The Hospital Pharmacy Survey in Brazil: a proposal for hierarchical organization of”. Cad. Saúde Pública, 23(4), 835-844. Saiba mais___ Na edição anterior da Melhores Práticas, Pedro Lopes Ribeiro escreveu sobre a relação direta entre logística e rentabilidade. Leia em http://bit.ly/PEDROLOPES 32 33Melh res Práticas Melh res Práticas | Logística |