O documento lista 10 critérios para o perfil ideal do futuro presidente da Guiné-Bissau, incluindo ter alta integridade moral, independência de pensamento, meios próprios de subsistência, idade entre 45-60 anos, conhecimento profundo da sociedade guineense, formação acadêmica superior, entendimento dos desafios do país, familiaridade com instituições internacionais, habilidades de comunicação multilíngue e influência em organizações globais. O autor espera que estes critérios guiem a escolha do próximo líder para
Artigo qualificação, formação e capacitação da nação
OPINIÃO: O PERFIL IDEAL DO FUTURO PRESIDENTE DA GUINÉ-BISSAU EM 10 CRITÉRIOS
1. OPINIÃO: O PERFIL IDEAL DO FUTURO PRESIDENTE DA GUINÉBISSAU EM 10 CRITÉRIOS
Desde o mito da sua fundação, a Guiné-Bissau, por razões próprias à
dinâmica da sua ascensão à independência conhece até hoje um ciclo
de violências político-militar, abuso de poder, implicando pessoas que
lideram partidos políticos num sistema politico constitucional
semipresidencialista, propício a conflitos entre o Presidente da
República e o Primeiro Ministro ainda que provenham do mesmo
partido.
Aliás, o Presidente da República e o Primeiro Ministro em todas as
legislaturas pertenciam ao mesmo partido. Os problemas pessoais
não resolvidos nos partidos são transferidos para o quadro nacional e
são resolvidos no aparelho estatal com consequências que todos nós
conhecemos.
Hoje, os dois maiores partidos da Guiné estão numa fase transitória
que a própria dinâmica social e demográfica obriga. O PRS mudou de
liderança, mesmo que seja uma mera formalidade que não se
confirma na realidade, e o PAIGC esta em plena campanha interna
para escolher os seus dirigentes.
O último golpe de Estado de 12 de abril 2012 demonstrou que a
Guiné é refém dos dois partidos políticos acima referidos que
partilham responsabilidades do desastre nacional. Da data da
proclamação da independência – 1974, até à abertura democrática em
1994, o partido no poder, o PAIGC, cometeu vários crimes
económicos e de sangue que nunca foram elucidados e que estão na
base da rotura do contrato social que estava em vias de construção.
Após a abertura democrática em 1994, os ajustes de conta entre os
libertadores acabaram por arrastar o país numa guerra civil de onze
meses – Junho de 1998 a Maio de 1999. Nas eleições de 1999/2000 o
PAIGC foi sancionado e o PRS chega ao poder, mal preparado para
dirigir a Guiné sucedendo um outro golpe de Estado que a classe
politica saudou, aceitando assim o golpe de Estado como modo de
sanção politica na era democrática. A partir daí, o país entra numa
espiral de golpes e contra golpes, não só de Estado, mas também no
seio dos partidos políticos.
Para as próximas eleições, ainda que não tenha data real marcada, é
a partir de agora que se deve estabelecer o perfil ideal do futuro
Presidente da República, aquele que deve estar acima dos jogos inter
e intra partidárias para que haja possibilidade de construção da
2. estabilidade, da justiça e da paz, e para que o futuro Presidente da
República possa vir a dar impulsos necessários que sustenham a
esperança, a coesão nacional, a estabilidade e a paz uma vez que
estes são fundamentais para o crescimento económico.
Assim sendo, partilho a minha humilde opinião sobre o perfil ideal, do
candidato para o cargo do Primeiro Magistrado da Nação,
enumerando 10 critérios que julgo imperativo, no nosso contexto, para
que a Guiné-Bissau possa dar um salto qualitativo rumo ao
desenvolvimento, apoiando-se na paz para e com o crescimento
económico. Para cada critério se associam indicadores.
1°critério : Ética e integridade.
O candidato ideal seria aquele que nunca tenha sido acusado de
desvio de dinheiro público, nem sequer ouvido(a) pela justiça, que
nunca tenha sido condenada(o) e que sobre ele (a) não paira suspeita
à volta da sua pessoa por motivos de roubo, tráfico de droga, crime
imobiliário, sexual ou de sangue.
Este critério é capital para se ter autoridade moral suficiente o que
facilitaria a tarefa de impulsionar a reforma da justiça e pôr termo a
impunidade. A moralidade é a pedra angular do critério. Esta
moralidade abrange tanto a vida pública como a privada. Em suma, o
candidato deveria estar em condições de posicionar-se como
referencia e modelo para o ‘’novo’’ guineense, aquele cujas qualidades
reflita o que a mãe guineense aspira para o seu filho. Quem poderá
satisfazer a este critério?
2°critério : Independência de pensamento, de acção e uma visão
clara sobre o desenvolvimento do país
Ser uma pessoa suficientemente independente da influência dos
actores politicos e da sociedade castrense para se posicionar
politicamente acima das querelas partidárias. Ser uma pessoa que
impõe respeito no seio de qualquer estrutura organizada da sociedade
guineense por causa da sua integridade moral, das suas
competências, da sua capacidade de liderança, da sua visão
estratégica sobre o futuro da Guiné-Bissau e da sua rede de influência
quer na Guiné, quer ainda no exterior. Quem poderá satisfazer a este
critério?
3°criterio : Suficiente meios próprios de subsistência
3. Ter suficientemente meios de subsistência para não ceder à tentação
de desviar fundos e bens públicos, de se comprometer em transações
fraudulentas ou duvidosas ou simplesmente de satisfazer sonhos de
grandeza. O cargo do Primeiro Magistrado da Nação é um cargo de
visionário, de estratega. Quem poderá satisfazer a este critério?
4° critério : Faixa etária
A faixa etária do candidato deve estar compreendida entre os 45 e os
60 anos. O candidato deve gozar das suas plenas capacidades
intelectuais e físicas. A Constituição impõe a idade de 35 anos para
poder ser candidato ao cargo de Presidente da Republica, mas não
impõe limite. As características do país deve poder impor esse limite,
de forma consensual, pois os desafios são enormes. A Guiné-Bissau é
um pais de jovens e estes esperam um futuro melhor num mundo de
complexidade cada vez maior e enfrentando os desafios da
globalização. Quem poderá satisfazer a este critério?
5°critério : Suficiente conhecimento das realidades guineense
Conhecer a sociedade e as diversidades culturais guineenses no seu
todo e na sua complexidade. Como todos sabemos 60% de população
vive no meio rural, 30% no urbano e 10% na diáspora (que apoiam a
subsistência das famílias na Guiné e contribuem para travar a
miséria), com uma superposição de crenças diversas (animistas, cristã
e muçulmana). É importante poder identificar-se com os cidadãos do
interior, das cidades e da diáspora, para poder incarnar a Nação na
sua diversidade, essa diversidade compreendida como uma riqueza.
Para estar ao serviço do Povo é preciso ouvi-lo, para ouvi-lo é preciso
conhecê-lo. O futuro Presidente deve falar, além do crioulo que é
nossa língua comum, uma ou senão várias línguas nacionais. Quem
poderá satisfazer a este critério?
6°criterio : Formação académica superior :
Ser um quadro superior de qualidade e ter uma experiência na gestão
dos assuntos do Estado. Deste modo o candidato deve ser uma
pessoa que já assumiu responsabilidades ao alto nivel no aparelho do
Estado ou/e numa organização internacional especializada nas
questões de desenvolvimento e transformação económica dos
Estados frágeis ou em situação de pós-conflitos e que já geriu
« dossiers » importantes no âmbito de politicas públicas com
sucessos. Os tempos atuais requerem mais do que simples
aprendizes. Quem poderá satisfazer a este critério?
7°critério : Conhecedor dos desafios socio-politico,
climatologicos e económicas e geopolíticos
4. O candidato deve conhecer os desafios e as ameaças sociais,
políticas, climatológicas, económicas e geopolíticas que corre a GuinéBissau e ser capaz de antecipá-los propondo um plano de sociedade
credível que abrange toda a Nação em particular, os jovens que serão
os continuadores do projeto socie tal, as mulheres que asseguram a
economia, a gestão diária das famílias e que investem na educação
das crianças e dos jovens contra ventos e marés. Isso pressupõe
capacidade de construir consenso à volta do modelo socie tal e
alianças com outros Estados a volta de interesses geopolíticos e
geostratégicos comuns. A capacidade requerida neste critério é a
dimensão de homem de Estado de estatura internacional. Quem
poderá satisfazer a este critério?
8°critério : Conhecedor das instituições internacionais
Mais de que nunca a Guiné-Bissau precisa de apoios internacionais
nas áreas social, politica e económica. O futuro Presidente da
República deve ter um conhecimento averiguado e ser conhecido das
Instituições internacionais. Este critério trata da capacidade
estratégica de negociar com os parceiros de desenvolvimento e de
estrategicamente evitar ser refém dos dogmatismos ou doutrinas. A
Guiné-Bissau espanta com a sua banalização da educação e com
escolhas de dirigentes semianalfabetos num contexto de globalização
que expressa uma crescente interdependência das economias
nacionais e a emergência de um sistema transnacional (financeiro,
produtivo e comunicativo). Quem poderá satisfazer a este critério?
9°critério : Comunicação e multilinguismo
A imagem internacional da Guiné é péssima e resume-se em :
violência (guerras e assassinato bárbaro de um Presidente da
República), tribalismo, ignorância instalada e tráfico de droga. É
imperativo que o próximo Presidente da República possa ter uma
cultura geral equivalente se não superior á dos seus pares dos países
com quem, nas suas funções é chamado a tratar (no sentido estatal
do termo). Comunicar corretamente na sua língua oficial e nas duas
línguas internacionais de relevo: o francês e o inglês constituem por si
só capacidade de relacionar com os pares, de ganhar confiança, de
contribuir para criação de uma imagem positiva do país. O que
sustenta este argumento é a necessária credibilidade na pessoa do
Presidente da República perante os seus homólogos, que passa pela
sua excelente capacidade comunicativa. Quem poderá satisfazer a
este critério?
10° critério : Ter influência de relevo em organismos
internacionais
5. Ter influência e respeito nas Organizações financeiras internacionais,
nas redes financeiras de empresas multinacionais, para que quando
for necessário ajudar a Guiné-Bissau, só a sua pessoa seja uma
garantia suficiente para que haja parceria público-privada nos projetos
estruturantes de grande envergadura que criam riqueza não só para a
Guiné-Bissau, mas também para os guineenses. Isso é fundamental
para dar esperança ao País e para que os próprios guineenses se
reconciliem entre si e que possam acreditar que dias melhores viram.
Isto pressupõe que o futuro Presidente da República deve ter bastante
à vontade com os grandes dirigentes políticos e económicos deste
mundo. O mundo onde vivemos é um mundo onde redes de relações
pessoais têm uma importância capital nas decisões a serem tomadas
a nível de Estado. Ninguém vai querer ajudar a Guiné só porque o
programa de desenvolvimento foi bem concebido ou porque gostam
dos guineenses. Essa teoria populista não justifica o desembolso de
vários milhões de dólares. E o realismo. Quem satisfaz a este critério?
Esta é a minha contribuição à « consciência colectiva » dos meus
compatriotas sobre o perfil ideal do futuro Presidente da República.
Com ou sem data real marcada para as eleições, terei contribuido se
estes critérios sobre o perfil do homem capaz de conduzir o nosso
destino sirvam de base para refletir antes de se tomar a decisão de
oferecer o apoio a um determinado candidato.
Alfredo Alves
Email: alfralves@outlook.com