O documento descreve o funcionamento do The People's Supermarket em Londres, um supermercado sem fins lucrativos onde os clientes pagam uma taxa anual para se tornarem membros e receberem descontos em troca de trabalho voluntário na loja. O modelo tem inspirado outros projetos e atraído atenção por promover economia social e comunidade.
1. Caro Gilberto, EXCELENTE MATÉRIA.
Precisamos saber se ações desse tipo não nos traria problemas com o sindicato ou outros problemas
jurídicos. VAMOS VER A OPINIÃO DOS NOSSOS AMIGOS.
Grato pela matéria.
Nelson Alexandre
De: SP Primavera <sp_primavera@osite.com.br>
Data: 15 de janeiro de 2012 09:36
Assunto: lista de ecólogos| Um supermercado não consumista é possível?
Para: SP Primavera <sp_primavera@osite.com.br>
Fantástico!
O mundo da minoria racional vai se adaptando pela
sobrevivência. A caminho do fim, os termos ecologicamente
correto, politicamente correto, voltaremos inevitavelmente aos
Essênios iniciadores da medicina, trabalho em equipe,
praticantes de uma sociedade solidaria, ética, ecologicamente
e politicamente necessária. Voltar ao passado para sonhar o
futuro tecnologicamente correto e necessário.
Gilberto Primavera.
Data: Terça-feira, 10 de Janeiro de 2012, 13:58
Um supermercado não consumista é possível?
por Roberto Almeida, do Opera Mundi
Roupa simples, cabelo
curto e óculos de haste grossa. A britânica Kate Bull
sabe que não preenche o estereótipo de uma CEO –
nomeclatura moderna para o presidente de uma
empresa. “Não preciso de terninho”, diverte-se a
2. executiva, enquanto reabastece seu carro elétrico nos
fundos do estabelecimento.
Kate divide seus dias entre planilhas, pallets com caixas
de alimentos, caminhões de entrega e voluntários.
Muitos voluntários. Ela é a CEO do The People’s
Supermarket, ou Supermercado do Povo, uma
minirrevolução silenciosa de modelo de negócios, que
até o momento conta com uma loja em Holborn, no
coração de Londres, embora já tenha inspirado outras
iniciativas mundo afora.
Na inauguração da empreitada, dia 1º de junho de
2010, funcionava assim: o cliente tinha de pagar 25
libras (cerca de R$ 75) por ano para se associar ao
supermercado. Se trabalhasse quatro horas por mês na
loja, varrendo o chão, tirando o lixo, fazendo pão ou
operando o caixa, ganharia 10% de desconto em todas
as compras.
Em 24 horas, a loja tinha cem associados. Hoje, 18 meses
depois, são 1.100. E a sorridente Kate está
particularmente feliz porque, há menos de uma
semana, conseguiu dar um passo importante para o
desenvolvimento do negócio: em vez de 10%, os
membros passaram a receber 20% de desconto.
Com essa tesourada, os preços da maioria dos produtos
ficam abaixo das principais redes varejistas da Grã-
Bretanha, como Tesco, Asda e Sainsbury’s. O mercado
trabalha com transparência, pagando em dia os 24
funcionários fixos e não obtém lucros.
A inspiração veio do modelo do Park Slope Food
Cooperative, de Nova York, que opera com conceitos
semelhantes. O investimento inicial na loja britânica foi
de 175 mil libras, ou R$ 535 mil. O faturamento de 2011 é
3. de 1 milhão de libras, ou US$ 2,9 milhões – um
crescimento de 60% em relação ao ano passado.
Com esse conceito e esses números, The People’s
Supermarket é um ímã de holofotes. No dia 11 de
fevereiro de 2011, a loja recebeu a visita do premiê
britânico David Cameron, cujo sonho, dizia na época
da eleição, era construir uma Big Society, ou “Grande
Sociedade” – o conservador vem estimulando o
voluntariado para suprir os cortes com a política de
austeridade.
O encontro com Cameron durou cerca de uma hora.
Kate sorri quando pergunto se conseguiu algum apoio
do governo. “Verbalmente, apenas verbalmente”, diz.
Segundo a última auditoria da loja, o Social Return on
Investment, ou Retorno Social por Investimento, do
projeto tem proporção de 5 libras para uma. Ou seja,
cada libra esterlina investida em um associado ou
voluntário é revertida em 5 libras para a comunidade
em ganhos sociais.
Economia social
A camiseta amarela do voluntário Jacob Pover,
designer de 23 anos, leva a estampa do The People’s
Supermarket. Ele opera o caixa, pesa frutas, varre, o que
vier, isso num sábado à tarde. Tudo porque sente que é
parte de uma comunidade criativa e atuante, dentro
de uma sociedade de relações interpessoais vazias.
”Todos contribuem de alguma forma e se sentem em
casa”, diz o designer Jacob Pover.
“Já trabalhei em um café desses de rede que os
clientes não olhavam na minha cara, não sabiam meu
nome. Aqui a diferença é enorme. Sou cumprimentado
na rua por advogados que trabalham na região. Eles
sabem quem eu sou, que faço parte do mercado que
4. eles compram”, conta Pover, um dos funcionários fixos
da loja.
Segundo ele, o reconhecimento pelo trabalho é o que
estimula o voluntariado. “Gente que não tinha
experiência, que surtou por problemas pessoais ou
profissionais, e até pessoas que sofreram algum tipo de
abuso, fazem parte do grupo. Todas contribuem de
alguma forma e se sentem em casa”, afirma.
O clima é de pressão zero. Voluntários podem até
agendar suas quatro horas de trabalho pela internet,
mas nem sempre funciona assim. “O importante é
aparecer para dar um oi que seja”, brinca Pover, que
agora quer aplicar seus conhecimentos em design para
valorizar os produtos da loja.
Naquele sábado, o garoto dividia expediente com John
Batho, 34 anos, o gerente da “Cozinha do Povo”, que
ocupa uma pequena área no canto do supermercado.
Ele é um dos que aparecem com frequência para
ajudar. Ex-jornalista de negócios, estressado e infeliz,
optou pelo seu maior prazer: o de cozinhar.
Batho não precisou de experiência em restaurante para
trabalhar na loja. Bastou querer aprender. Ele recebeu
treinamento do chef midiático Arthur Potts-Dawson, um
dos idealizadores do projeto – e, por que não citar?,
sobrinho de Mick Jagger.
A batalha do ex-jornalista é contra o desperdício, uma
das bandeiras do The People’s Supermarket.
“Reaproveitamos frutas e legumes que poderiam ser
jogados fora. Fazemos tortas, bolos e pratos de salada”,
ressalta, após uma fornada de mince pies, as
tradicionais tortinhas inglesas de Natal.
Aliás, ao contrário das redes varejistas, o mercado abre
no dia 25 de dezembro porque alguns voluntários
5. querem. “Tudo fecha em Londres no Natal. Mas nós
estaremos abertos. Achamos que as pessoas têm direito
de comprar uma cerveja ou um doce no dia. Podem vir
beber com a gente”, avisa Jacob Pover.
O futuro é fracionar
Na geladeira da loja, as cervejas são locais, produzidas
por microcervejarias no leste de Londres. Foi decisão de
assembleia: queremos cervejas locais. Mas The People’s
Supermarket não vende cigarros. Foi também decisão
de assembleia: não venderemos cigarros porque, do
outro lado da rua, tem um hospital. Os médicos
louvaram a decisão.
Enquanto a assembleia de voluntários dá as cartas nas
prateleiras, a CEO Kate Bull espera implantar no futuro o
fracionamento de produtos, partindo cada vez mais
para a venda a granel. “Em vez de um saco de açúcar,
vamos vender uma xícara. Não queremos que você
compre demais, como as cadeias fazem, com
promoções de três pelo preço de um. Queremos que
você compre o suficiente”, conta, mirando uma possível
expansão da loja.
Por enquanto, The People’s Supermarket continua no
mesmo endereço, entre lojas de grife: Lamb’s Conduit
Street, Holborn, centro de Londres. Se a ideia do
fracionamento colar como diferencial das grandes
redes, Kate prevê bastante trabalho pela frente. “Leva
tempo, mas temos de ser fortes e ambiciosos”, define.
* Publicado originalmente no Opera Mundi e retirado
do site Mercado Ético.