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A UU AL
                                                                                  A L       A

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       México: norte ou sul?


                                N   esta aula vamos conhecer um dos “gigan-
tes” da América Latina: o México. Vamos estudar a sua formação territorial e
suas desigualdades regionais explicando alguns aspectos do seu modelo de
                    regionais,
desenvolvimento.

    O México apresenta uma das maiores dívidas externas do mundo. Vive a
expectativa de integração econômica com os EUA e o Canadá, sem saber ao certo
para onde está indo... ou sendo levado.




    Paulo, em seu trabalho, recebeu grande quantidade de motores de automó-
vel vindos do México. Esse fato, que é muito comum, deixou-o realmente
impressionado: se o Brasil tem tantas fábricas de carros, por que as empresas
brasileiras precisam de motores mexicanos? Além disso, a imagem que Paulo
tinha do México era a de um país agrícola.

    No fim do expediente, como é de costume, Paulo vai ao encontro de Rui e faz
o registro da chegada dos motores.
    Rui comenta que o comércio entre Brasil e México têm aumentado. Mostra
estatísticas que indicam os principais produtos trocados entre os dois países.
    O que o Brasil mais compra do México são justamente os motores para
automóveis. Por outro lado, o que o Brasil mais vende ao México são carrocerias
para ônibus.
    Rui acrescenta que o México tem grandes semelhanças com o Brasil: o forte
controle do Estado em setores estratégicos, como o do petróleo; uma grande
população e um dos maiores aglomerados urbanos do mundo.
    Paulo pergunta se esse aglomerado é como São Paulo. Rui responde que a
Cidade do México é ainda maior que São Paulo.

    Paulo percebe que México e Brasil possuem economias fortes, e que o
intercâmbio comercial entre os dois países está aumentando. Eles apresentam,
inclusive, setores complementares.
A U L A       Com apenas 2 milhões de quilômetros quadrados, o México é um país de
          área pequena. Mas é um dos dois “grandes” da América Latina, por sua

35        população e por seu peso econômico.
              Na época da independência, em 1821, o território mexicano era muito maior
          do que hoje. Na direção sul, ia até o Panamá. Na direção norte, possuía também
          o imenso território que se estende da Califórnia ao Texas.




               As raízes ameríndias são muito fortes na vida mexicana. Por mais de dois mil
          anos, a permanência de um núcleo de população ameríndia no centro do atual
          território criou a base de uma unidade nacional prematura.
               Foi esse núcleo de povoamento, com grande poder de aglutinação, que
          desde a metade do século XIX evitou maior fragmentação do território mexicano.
               No México explodiu, em 1910, a primeira revolução do século XX. Essa
          revolução deu ao país uma imagem de heroísmo, por meio das figuras de Pancho
          Villa e Emiliano Zapata.
               O México realizou, a partir dos anos 30, uma reforma agrária de longa
          duração. Essa reforma colocou em prática políticas de desenvolvimento econô-
          mico com a intervenção do Estado.
               Todos esses fatos colocam o México em posição de liderança na busca de
          soluções para os seus problemas - que são, ao mesmo tempo, problemas da
          América Latina como um todo.
               Desde a década de 80, o México tem procurado alternativas para o seu modelo
          de industrialização com forte ação do Estado. Após a violenta crise de 1982,
          quando sua economia “faliu”, o México conseguiu equilibrar sua relação com os
          credores internacionais, obtendo facilidades no pagamento da sua dívida.
               Essas facilidades, porém, custaram caro. Em troca delas, o governo mexi-
          cano precisou privatizar empresas, controlar os gastos públicos, gerando
          grande desemprego.
               A população mexicana teve, no século XX, um crescimento espetacular.
          Passou de 10 milhões, em 1910, para 91 milhões em 1995. Talvez atinja 100
          milhões no ano 2000.
               A necessidade de criar novos empregos é uma das justificativas para as
          mudanças que estão se realizando na economia.
               As dificuldades do México devem se concentrar cada vez mais nas cidades.
          A população urbana mexicana chega hoje a 80% do total, e as metrópoles -
México, Guadalajara e Monterrey - têm graves questões de abastecimento e de            A U L A
circulação.
    A agricultura mexicana passou por algumas fases distintas. Numa primeira
fase, comum a toda a América Latina, predominavam as grandes propriedades,             35
as haciendas
   haciendas.
    A partir de 1934, foi implantada uma reforma agrária, pensada desde 1910,
que resultou na distribuição de terras sob a forma de ejidos - propriedades de
caráter coletivo, voltadas para a produção de subsistência ou pequenos cultivos
para o mercado interno. Os ejidos em sua maioria, são habitados por população
                              ejidos,
de origem indígena. Predominantemente, situam-se na porção mais atrasada ao
sul do país.
    Em três gerações foram transferidas, para o campesinato mexicano, aproxi-
madamente metade das terras e das águas do país. Hoje em dia, pode-se dizer
que o ejido não existe mais. O desaparecimento do seu caráter coletivo, a baixa
produtividade das técnicas agrícolas aplicadas e o empobrecimento crescente de
área rural são os principais fatores que levaram à sua decadência.
    A atividade industrial tem grande influência na organização territorial mexi-
cana. A rede ferroviária, estruturada no final do século XIX, influiu diretamente na
constituição de um mercado nacional e na localização do parque industrial.
    A Cidade do México, na porção central do país, forma um tripé com dois
outros centros urbanos: Guadalajara, a oeste, e Monterrey, na parte norte do país.
    Até a década de 80, a grande motivação industrial vinha das empresas
estatais, principalmente nos setores de petróleo e de siderurgia. O grande fluxo
de investimentos externos trouxe uma nova estratégia industrial, fazendo com
que fossem implantadas várias indústrias que funcionam exclusivamente como
linhas de montagem: suas peças já chegam prontas e, por isso, elas são chamadas
de indústrias maquiladoras
                maquiladoras.
    O México apresenta uma regionalização bem característica. A região norte
engloba a fronteira com os Estados Unidos e representa 60% de área e 25% da
população. Ao longo de uma linha com mais de 3 mil quilômetro de extensão, nas
cidades industriais, de serviços e de “passagem”, vivem 5 milhões de mexicanos.
    Numa faixa de 500 quilômetros, ao longo da fronteira, vivem outros 10
milhões de mexicanos. Monterrey, com 3 milhões de habitantes, é a principal
cidade do norte mexicano. Graças a importantes reservas de ferro e carvão,
concentra a siderurgia mexicana e o setor metal-mecânico.
    O litoral do Golfo é a região do petróleo. Aí estão concentradas a produção,
metade da capacidade de refino e 80% da petroquímica de base.


    Em torno de Tampico, Poza Rica e Tabasco,
cidades industriais, desenvolvem-se atividades
ligadas ao petróleo. Mas a grande metrópole do
Golfo é Vera Cruz cujo porto é responsável por
             Cruz,
mais da metade das exportações do petróleo
mexicano.

     Vera Cruz desenvolveu uma sólida base indus-
trial. Uma densa rede de oleodutos e gasodutos liga
as áreas de produção aos mercados consumidores
do altiplano mexicano e aos Estados Unidos.
A U L A       A periferia sul aproxima-se cada vez mais dos padrões de pobreza da
          América Latina. Os ejidos ,devido às práticas agrícolas que esgotam os solos,

35        estão empobrecidos. Os agricultores abandonam o campo migrando para as
          cidades.
              A vertente do Pacífico - isto é, a área voltada para o Oceano Pacífico -, ao
          contrário, tem clima seco. A política de descentralização, realizada no período de
          1950/1970, caracteriza a ocupação do espaço da região ocidental do México.
              Uma rede de pequenas e médias cidades, polarizada por Guadalaraja, se
          organiza economicamente graças à atividade industrial. Utilizando uma infra-
          estrutura razoável, as empresas industriais estão voltadas para a produção de
          bens de consumo duráveis e não-duráveis. Mas o grande acontecimento da
          política de desconcentração industrial foi a instalação de um pólo siderúrgico em
          Las Truchas, no litoral do Pacífico.

              As instalações turísticas que se sucedem ao longo do litoral do Pacífico são
          verdadeiras “ilhas de lazer” que atendem à clientela norte-americana. O valor
          cultural dos monumentos pré-colombianos, as cidades coloniais e uma eficiente
          infra-estrutura movimentam milhões de turistas. A indústria do turismo passou
          a ser uma importante atividade na economia mexicana.
              A região central, o Planalto de Anahuac, abriga uma das maiorres cidades do
          mundo. No início dos anos 40, ninguém podia imaginar que a pequena cidade
          com menos de 2 milhões de habitantes iria se transformar na megacidade de hoje.
          As previsões admitem que, no início do século XXI, a cidade do México terá 30
          milhões de habitantes.
              A densidade de atividades industriais, a grande circulação de carros e as
          condições particulares de circulação atmosférica da região onde está situada a
          cidade do México dão origem a uma poluição atmosférica muito grande.
              São freqüentes as inversões de temperatura, o que ocorre quando as camadas
          de ar mais frio ficam próximas da superfície e, desse modo, impedem a dispersão
          dos poluentes. As situações de alerta duram vários dias.
              Outra questão grave na Cidade do México é o abastecimento de água.
          À escassez de água, um problema permanente, devemos acrescentar a possibi-
          lidade de terremotos, como o que aconteceu em 1985. A catástrofe só não foi
          maior porque aconteceu às 7 horas da manhã, quando o movimento na cidade
          ainda estava se iniciando.
              A grande metrópole mexicana apresenta uma segregação espacial muito
          definida. Enquanto os bairros mais ricos oferecem serviços urbanos de boa
          qualidade, a periferia não conta com distribuição de água, ruas pavimentadas
          e rede de esgotos. Aumentando 350 mil habitantes a cada ano, a Cidade do
          México vê esse quadro se agravar, porque o maior crescimento se dá nas
          regiões da periferia.

               O México apresenta uma clara divisão regional. Enquanto o norte e o oeste
          se integram à economia norte-americana, a região Central e o litoral do Golfo
          aproximam-se da América Latina.
               O México integra, desde 1992, o Acordo de Livre Comércio Norte-america-
          no, conhecido por sua sigla em inglês: Nafta. Formado pelo Canadá, Estados
          Unidos e México, o Nafta representa uma tantativa de consolidar as relações
          econômicas que já existem entre esses países.
               Ao ingressar no Nafta, aparentamente o México se dirige para norte indus-
          trializado, embora seus problemas principais ainda o mantenham no sul subde-
          senvolvido.
Nos muros do México                                                          A U L A
    Os países se estendem junto aos rios, buscam
    o suave peito, os lábios do planeta,
    tu, México, tocaste
                                                                                35
    os ninhos do espinho,
    a desértica altura da águia sangrenta,
    o mel da coluna combatida.
   Outros homens buscaram o rouxinol, acharam
   o fumo, o vale, regiões como a pele humana:
   tu, México, enterraste as mãos na terra,
   tu cresceste na pedra de olhar selvagem.
   Quando chegou à tua boca a rosa do rocio,
   o látego do céu a converteu em tormento.
   Foi a tua origem um vento de punhais
   entre dois mares de irritada espuma.
    Neruda, Pablo. Canto Geral , São Paulo, DIFEL, 1979, p. 420 e 421.
   Atenção! O poema mostra as difíceis condições naturais do altiplano mexi-
cano, no qual estão presentes vastas extensões de clima semi-árido.


    O México, devido à importância de sua economia, é um dos “grandes” da
América Latina. O núcleo de população ameríndia do Planalto Central atuou
como elemento de união nacional. Após a revolução de 1910, o México buscou
desenvolver sua economia com a intervenção do Estado.
    Sob o rótulo da modernização, o México mudou sua estratégia de desenvol-
vimento. A partir dos anos 80, abriu sua economia para os investimentos
externos. Para retomar o crescimento econômico, privatizou, desregulamentou,
redefiniu o papel do Estado.
    A divisão regional do México opõe dois grandes blocos: enquanto o norte e
o oeste se integram progressivamente à economia norte-americana, o Planalto
Central e o litoral do Golfo aproximam-se da América Latina.
    A cidade do México, uma das maiores cidades do mundo, tem graves
problemas de abastecimento de água, poluição ambiental e pobreza urbana.


Exercício 1
   Apresente dois fatores que expliquem a expressão “gigante mexicano”.
Exercício 2
   Relacione as colunas:
   a) Região onde se encontra a            ( ) Litoral do Pacífico
        produção de petróleo.
   b) Região de clima frio e seco          ( ) Planalto Central
        onde se localiza a Cidade
        do México.                         ( ) Litoral do Golfo do México
   c) Região muito procurada
        por turistas norte-americanos.
Exercício 3
   Cite dois tipos de propriedade encontrados na agricultura mexicana.
Exercício 4
   Apresente dois objetivos que levaram o México a participar do Nafta.

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  • 1. A UU AL A L A 35 35 México: norte ou sul? N esta aula vamos conhecer um dos “gigan- tes” da América Latina: o México. Vamos estudar a sua formação territorial e suas desigualdades regionais explicando alguns aspectos do seu modelo de regionais, desenvolvimento. O México apresenta uma das maiores dívidas externas do mundo. Vive a expectativa de integração econômica com os EUA e o Canadá, sem saber ao certo para onde está indo... ou sendo levado. Paulo, em seu trabalho, recebeu grande quantidade de motores de automó- vel vindos do México. Esse fato, que é muito comum, deixou-o realmente impressionado: se o Brasil tem tantas fábricas de carros, por que as empresas brasileiras precisam de motores mexicanos? Além disso, a imagem que Paulo tinha do México era a de um país agrícola. No fim do expediente, como é de costume, Paulo vai ao encontro de Rui e faz o registro da chegada dos motores. Rui comenta que o comércio entre Brasil e México têm aumentado. Mostra estatísticas que indicam os principais produtos trocados entre os dois países. O que o Brasil mais compra do México são justamente os motores para automóveis. Por outro lado, o que o Brasil mais vende ao México são carrocerias para ônibus. Rui acrescenta que o México tem grandes semelhanças com o Brasil: o forte controle do Estado em setores estratégicos, como o do petróleo; uma grande população e um dos maiores aglomerados urbanos do mundo. Paulo pergunta se esse aglomerado é como São Paulo. Rui responde que a Cidade do México é ainda maior que São Paulo. Paulo percebe que México e Brasil possuem economias fortes, e que o intercâmbio comercial entre os dois países está aumentando. Eles apresentam, inclusive, setores complementares.
  • 2. A U L A Com apenas 2 milhões de quilômetros quadrados, o México é um país de área pequena. Mas é um dos dois “grandes” da América Latina, por sua 35 população e por seu peso econômico. Na época da independência, em 1821, o território mexicano era muito maior do que hoje. Na direção sul, ia até o Panamá. Na direção norte, possuía também o imenso território que se estende da Califórnia ao Texas. As raízes ameríndias são muito fortes na vida mexicana. Por mais de dois mil anos, a permanência de um núcleo de população ameríndia no centro do atual território criou a base de uma unidade nacional prematura. Foi esse núcleo de povoamento, com grande poder de aglutinação, que desde a metade do século XIX evitou maior fragmentação do território mexicano. No México explodiu, em 1910, a primeira revolução do século XX. Essa revolução deu ao país uma imagem de heroísmo, por meio das figuras de Pancho Villa e Emiliano Zapata. O México realizou, a partir dos anos 30, uma reforma agrária de longa duração. Essa reforma colocou em prática políticas de desenvolvimento econô- mico com a intervenção do Estado. Todos esses fatos colocam o México em posição de liderança na busca de soluções para os seus problemas - que são, ao mesmo tempo, problemas da América Latina como um todo. Desde a década de 80, o México tem procurado alternativas para o seu modelo de industrialização com forte ação do Estado. Após a violenta crise de 1982, quando sua economia “faliu”, o México conseguiu equilibrar sua relação com os credores internacionais, obtendo facilidades no pagamento da sua dívida. Essas facilidades, porém, custaram caro. Em troca delas, o governo mexi- cano precisou privatizar empresas, controlar os gastos públicos, gerando grande desemprego. A população mexicana teve, no século XX, um crescimento espetacular. Passou de 10 milhões, em 1910, para 91 milhões em 1995. Talvez atinja 100 milhões no ano 2000. A necessidade de criar novos empregos é uma das justificativas para as mudanças que estão se realizando na economia. As dificuldades do México devem se concentrar cada vez mais nas cidades. A população urbana mexicana chega hoje a 80% do total, e as metrópoles -
  • 3. México, Guadalajara e Monterrey - têm graves questões de abastecimento e de A U L A circulação. A agricultura mexicana passou por algumas fases distintas. Numa primeira fase, comum a toda a América Latina, predominavam as grandes propriedades, 35 as haciendas haciendas. A partir de 1934, foi implantada uma reforma agrária, pensada desde 1910, que resultou na distribuição de terras sob a forma de ejidos - propriedades de caráter coletivo, voltadas para a produção de subsistência ou pequenos cultivos para o mercado interno. Os ejidos em sua maioria, são habitados por população ejidos, de origem indígena. Predominantemente, situam-se na porção mais atrasada ao sul do país. Em três gerações foram transferidas, para o campesinato mexicano, aproxi- madamente metade das terras e das águas do país. Hoje em dia, pode-se dizer que o ejido não existe mais. O desaparecimento do seu caráter coletivo, a baixa produtividade das técnicas agrícolas aplicadas e o empobrecimento crescente de área rural são os principais fatores que levaram à sua decadência. A atividade industrial tem grande influência na organização territorial mexi- cana. A rede ferroviária, estruturada no final do século XIX, influiu diretamente na constituição de um mercado nacional e na localização do parque industrial. A Cidade do México, na porção central do país, forma um tripé com dois outros centros urbanos: Guadalajara, a oeste, e Monterrey, na parte norte do país. Até a década de 80, a grande motivação industrial vinha das empresas estatais, principalmente nos setores de petróleo e de siderurgia. O grande fluxo de investimentos externos trouxe uma nova estratégia industrial, fazendo com que fossem implantadas várias indústrias que funcionam exclusivamente como linhas de montagem: suas peças já chegam prontas e, por isso, elas são chamadas de indústrias maquiladoras maquiladoras. O México apresenta uma regionalização bem característica. A região norte engloba a fronteira com os Estados Unidos e representa 60% de área e 25% da população. Ao longo de uma linha com mais de 3 mil quilômetro de extensão, nas cidades industriais, de serviços e de “passagem”, vivem 5 milhões de mexicanos. Numa faixa de 500 quilômetros, ao longo da fronteira, vivem outros 10 milhões de mexicanos. Monterrey, com 3 milhões de habitantes, é a principal cidade do norte mexicano. Graças a importantes reservas de ferro e carvão, concentra a siderurgia mexicana e o setor metal-mecânico. O litoral do Golfo é a região do petróleo. Aí estão concentradas a produção, metade da capacidade de refino e 80% da petroquímica de base. Em torno de Tampico, Poza Rica e Tabasco, cidades industriais, desenvolvem-se atividades ligadas ao petróleo. Mas a grande metrópole do Golfo é Vera Cruz cujo porto é responsável por Cruz, mais da metade das exportações do petróleo mexicano. Vera Cruz desenvolveu uma sólida base indus- trial. Uma densa rede de oleodutos e gasodutos liga as áreas de produção aos mercados consumidores do altiplano mexicano e aos Estados Unidos.
  • 4. A U L A A periferia sul aproxima-se cada vez mais dos padrões de pobreza da América Latina. Os ejidos ,devido às práticas agrícolas que esgotam os solos, 35 estão empobrecidos. Os agricultores abandonam o campo migrando para as cidades. A vertente do Pacífico - isto é, a área voltada para o Oceano Pacífico -, ao contrário, tem clima seco. A política de descentralização, realizada no período de 1950/1970, caracteriza a ocupação do espaço da região ocidental do México. Uma rede de pequenas e médias cidades, polarizada por Guadalaraja, se organiza economicamente graças à atividade industrial. Utilizando uma infra- estrutura razoável, as empresas industriais estão voltadas para a produção de bens de consumo duráveis e não-duráveis. Mas o grande acontecimento da política de desconcentração industrial foi a instalação de um pólo siderúrgico em Las Truchas, no litoral do Pacífico. As instalações turísticas que se sucedem ao longo do litoral do Pacífico são verdadeiras “ilhas de lazer” que atendem à clientela norte-americana. O valor cultural dos monumentos pré-colombianos, as cidades coloniais e uma eficiente infra-estrutura movimentam milhões de turistas. A indústria do turismo passou a ser uma importante atividade na economia mexicana. A região central, o Planalto de Anahuac, abriga uma das maiorres cidades do mundo. No início dos anos 40, ninguém podia imaginar que a pequena cidade com menos de 2 milhões de habitantes iria se transformar na megacidade de hoje. As previsões admitem que, no início do século XXI, a cidade do México terá 30 milhões de habitantes. A densidade de atividades industriais, a grande circulação de carros e as condições particulares de circulação atmosférica da região onde está situada a cidade do México dão origem a uma poluição atmosférica muito grande. São freqüentes as inversões de temperatura, o que ocorre quando as camadas de ar mais frio ficam próximas da superfície e, desse modo, impedem a dispersão dos poluentes. As situações de alerta duram vários dias. Outra questão grave na Cidade do México é o abastecimento de água. À escassez de água, um problema permanente, devemos acrescentar a possibi- lidade de terremotos, como o que aconteceu em 1985. A catástrofe só não foi maior porque aconteceu às 7 horas da manhã, quando o movimento na cidade ainda estava se iniciando. A grande metrópole mexicana apresenta uma segregação espacial muito definida. Enquanto os bairros mais ricos oferecem serviços urbanos de boa qualidade, a periferia não conta com distribuição de água, ruas pavimentadas e rede de esgotos. Aumentando 350 mil habitantes a cada ano, a Cidade do México vê esse quadro se agravar, porque o maior crescimento se dá nas regiões da periferia. O México apresenta uma clara divisão regional. Enquanto o norte e o oeste se integram à economia norte-americana, a região Central e o litoral do Golfo aproximam-se da América Latina. O México integra, desde 1992, o Acordo de Livre Comércio Norte-america- no, conhecido por sua sigla em inglês: Nafta. Formado pelo Canadá, Estados Unidos e México, o Nafta representa uma tantativa de consolidar as relações econômicas que já existem entre esses países. Ao ingressar no Nafta, aparentamente o México se dirige para norte indus- trializado, embora seus problemas principais ainda o mantenham no sul subde- senvolvido.
  • 5. Nos muros do México A U L A Os países se estendem junto aos rios, buscam o suave peito, os lábios do planeta, tu, México, tocaste 35 os ninhos do espinho, a desértica altura da águia sangrenta, o mel da coluna combatida. Outros homens buscaram o rouxinol, acharam o fumo, o vale, regiões como a pele humana: tu, México, enterraste as mãos na terra, tu cresceste na pedra de olhar selvagem. Quando chegou à tua boca a rosa do rocio, o látego do céu a converteu em tormento. Foi a tua origem um vento de punhais entre dois mares de irritada espuma. Neruda, Pablo. Canto Geral , São Paulo, DIFEL, 1979, p. 420 e 421. Atenção! O poema mostra as difíceis condições naturais do altiplano mexi- cano, no qual estão presentes vastas extensões de clima semi-árido. O México, devido à importância de sua economia, é um dos “grandes” da América Latina. O núcleo de população ameríndia do Planalto Central atuou como elemento de união nacional. Após a revolução de 1910, o México buscou desenvolver sua economia com a intervenção do Estado. Sob o rótulo da modernização, o México mudou sua estratégia de desenvol- vimento. A partir dos anos 80, abriu sua economia para os investimentos externos. Para retomar o crescimento econômico, privatizou, desregulamentou, redefiniu o papel do Estado. A divisão regional do México opõe dois grandes blocos: enquanto o norte e o oeste se integram progressivamente à economia norte-americana, o Planalto Central e o litoral do Golfo aproximam-se da América Latina. A cidade do México, uma das maiores cidades do mundo, tem graves problemas de abastecimento de água, poluição ambiental e pobreza urbana. Exercício 1 Apresente dois fatores que expliquem a expressão “gigante mexicano”. Exercício 2 Relacione as colunas: a) Região onde se encontra a ( ) Litoral do Pacífico produção de petróleo. b) Região de clima frio e seco ( ) Planalto Central onde se localiza a Cidade do México. ( ) Litoral do Golfo do México c) Região muito procurada por turistas norte-americanos. Exercício 3 Cite dois tipos de propriedade encontrados na agricultura mexicana. Exercício 4 Apresente dois objetivos que levaram o México a participar do Nafta.