O documento discute o conceito de notícia versus acontecimento, informação e contra-informação. Analisa como os acontecimentos se transformam em notícias com base em critérios como proximidade, importância e polêmica. Também explora como as más notícias tendem a ser mais memoráveis que as boas.
1. Instituto Superior de Novas Profissões | Relações Públicas e Publicidade |
Sociologia da Comunicação | T2
Docentes: Nuno Brandão e Maria João Baptista
Os acontecimentos e sentido das notícias.
“Qual o sentido e o propósito das notícias na sociedade
actual?”
Trabalho realizado por: Ana Rita Rodrigues, Inês Santos, Mariana Carvalho e Marisa Belchior.
2. Resumo
A priori, neste projecto, será feita uma abordagem acerca dos conceitos e diferenças entre
acontecimentos e notícias. Sendo o objecto de estudo a análise do que é considerado
informação e desinformação e que características precisam ter um acontecimento para ser
considerado notícia e vice-versa.
Cada vez se torna mais notório o “bombardeamento” de notícias, por parte da imprensa, para
os seus demais públicos. No entanto, sabemos que cada meio reporta a notícia com base em
diferentes condutas.
Posto isto, consideramos relevante para o tema escolhido, verificar até que ponto a
informação transmitida pelos meios de comunicação social influenciam e podem afectar a
sociedade onde estamos inseridos. Fazendo referência às características estipuladas para a
transformação de um acontecimento em notícia.
Visamos, por conseguinte, a análise das pesquisas realizadas, a fim de responder e
fundamentar a problemática que instituímos na elaboração deste paper: “Qual o sentido e o
propósito das notícias na sociedade actual?”
Palavras-Chave
Acontecimentos, noticias, informação, desinformação e sociedade.
3. Relação entre Acontecimento e Notícia Vs
Informação e Contra-informação
O conceito de notícia define-se como relato ou informação sobre um acontecimento; como
informação sobre um assunto ou acontecimento de interesse público difundido pelos meios de
comunicação.
O resumo de uma entrevista pode constituir uma notícia e revelar-se, em alguns casos, mais
importante do que a entrevista por si só. A recolha de informação, associada ao relato ou à
confirmação dos acontecimentos implica contactos directos com fontes, dependendo o seu
sucesso da qualidade da relação entre o jornalista e o(s) informador(es) – a(s) fonte(s). Não é
possível construir informação séria e rigorosa sem o recurso a fontes originais.
Independentemente do tempo, que uma entrevista demore, seja ela “clássica” ou “de minuto”
(como aquelas feitas na rua onde as pessoas são escolhidas ao acaso para responderem a
questões curtas e concisas), nunca deixam de ser designadas como entrevistas.
A entrevista clássica, por sua vez, clarifica melhor o pensamento que, por norma, possui um
tempo de preparação mínimo. Como meio de captação e confirmação de notícias, a entrevista,
vive do imediatismo e da urgência, sem possibilidade de planificação prévia.
Acontecimento designa-se por caso ou facto que está, intimamente, relacionado com a ideia
de inesperado, isto é, que produz uma sensação não esperada.
Como Adriano Duarte afirma “é acontecimento tudo aquilo que irrompe na superfície lisa da
história de entre uma diversidade aleatória de factos virtuais”. Assim sendo, e como refere
Nuno Goulart Brandão, na sua obra O Espectáculo das Notícias, “o acontecimento situa-se na
escala das probabilidades de ocorrência. Tornando se mais imprevisível quanto menos provável
for a sua realização”. (Rodrigues 1997 98-104, in Brandão, 2002:73)
Podemos, portanto, deduzir que em função de maior ou menor impressibilidade, um facto,
adquire o estatuto de acontecimento e que quanto menos provável mais facilmente se torna
numa noticia.
É considerado acontecimento-como-notícia quando os Media criam uma notícia que não se
baseia no acontecimento em si mas em aspectos dele, no qual é assimilada uma relevância
4. especial. Estes, originam contradição entre a realidade subjacente na situação e o
acontecimento tal como é reportado.
Consequentemente, recorre-se á auto-efectivação da profecia: o acontecimento ganha
realidade pela circunstancia de ser relato, conformando a realidade original de acordo com os
significados que lhe são ditados pela notícia, tornando-se, assim, notícia-como-
acontecimento.
“As notícias são o resultado de um processo de produção, definido como a percepção, selecção
e transformação de uma matéria-prima (os acontecimentos) num produto (as noticias) ”,
proclamou Nelson Traquina. (Traquina, 1993, 169-174, in Brandão, 2002: 75)
Por informação, entende-se, o acto de informar, o resultado do processamento, manipulação
e organização de dados, representando uma modificação (quantitativa ou qualitativa) no
conhecimento do sistema (pessoa, animal ou máquina) que a recebe.
Segundo Y. Zhang, informação “é um processo de comunicação ou algo relacionado com
comunicação”. (Zhang,Y.,1988, Definitions and sciences of information, Information Processing
Managemant, in Luís Lobo, O que faz do acontecimento notícia? – notas para uma teoria da
produção de “notícias”)
Por sua vez, C. Zorrinho anuncia que informação é “um instrumento de compreensão do
mundo e da acção sobre ele” e que “gerir a informação é, assim, decidir o que fazer com base
em informação e decidir o que fazer sobre informação. É ter a capacidade de seleccionar de um
repositório de informação disponível aquela que é relevante para uma determinada decisão e,
também, construir a estrutura e o design desse repositório” (Zorrinho, C. (1995), Gestão da
informação, Condição para vencer)
De acordo com a referência feita a Greewood, na obra Sistemas de Informação de A. L. Cautela
e F. G. F. Polioni, “a informação é considerada como o ingrediente básico do qual dependem os
processos de decisão”. (Cautela, A.L.; Polioni, F.G.F.,1982, Sistemas de Informação, in Luís
Lobo, O que faz do acontecimento notícia? – Notas para uma teoria da produção de “notícias”)
Enquanto conceito, a informação, encontra-se ligada às noções de restrição, comunicação,
controle, dados, forma, instrução, conhecimento, significado, estimulo, padrão, percepção e
representação do conhecimento. Esta pode ser vista como um padrão, como um estímulo
sensorial, como uma influência que leva à transformação, como registos, como uma
5. propriedade na física e como uma mensagem, sendo, porém, sobre esta última designação
que nos iremos debruçar.
A informação como mensagem define: a informação como o estado de um sistema de
interesse – curiosidade; a mensagem como informação materializada; que a informação é
sempre sobre algo ou sobre alguma coisa, não tem que ser precisa, pode ser verdadeira ou
falsa e, até, um simples ruido contém informação.
Não obstante, a informação como mensagem, elucida que quanto maior a quantidade de
informação na mensagem recebida, mais precisa ela é; que tem de existir, pelo menos, um
emissor e um receptor, estabelecendo-se, assim, uma linguagem comum entendida pelo
emissor e, pelo menos, por um dos receptores. Ao exigir existência de emissor definido, o
modelo da informação como mensagem, não acrescenta significado à ideia de que a
informação é algo que pode ser extraído de um ambiente, como por exemplo, através de
observação, leitura ou medição.
Constata-se ainda que o conceito de informação depende exclusivamente do contexto onde se
encontra inserido. Estando intrinsecamente relacionado com conceitos referentes ao
significado, ao conhecimento, à instrução, à comunicação, à representação e ao estímulo
mental. Sendo, assim, entende-se por informação uma mensagem que é recebida e percebida,
um género de colecção de factos dos quais conclusões podem ser extraídas ou, até, um
conhecimento adquirido através do estudo, da experiência ou da instrução. Cientificamente
definem informação como um resultado do processamento, da manipulação e da organização
de dados, numa forma que se soma ao conhecimento da pessoa que o recebe.
Um conceito que é muitas vezes confundido com o de informação é, o de dados. Este reporta
ao conjunto de factos não associados que não têm utilidade nenhum até serem avaliados.
Após essa avaliação, estes, convertem-se, então, em informação.
Por contra-informação entende-se o acto de silenciar ou manipular a verdade, habitualmente
usada nos meios de comunicação de massas, através de publicidade pública de um regime
político; a publicidade privada, os boatos e os rumores; as sondagens; as estatísticas ou
estudos científicos e imparciais, remunerados por empresas ou instituições económicas
interessadas. Intimamente relacionado com este conceito estão demais procedimentos
retóricos que encaminham o receptor para o real interesse do emissor, enquanto persuasivo.
Posto isto, elege-se a demonização, o exoterismo, a pressuposição, o uso de falácias, as
mentiras, a omissão sobre informação, a descontextualização, o negativismo, a generalização,
6. a especificação, a analogia, a metáfora, o eufemismo, a desorganização do conteúdo, o uso de
adjectivos dissuasivos, a reserva da última palavra ou ordenação da informação preconizada
sobre a oposta (ordem nestoriana). Todavia, também, se recorre ao apelo ao medo, à
autoridade, ao testemunho, ao efeito acumulativo, à redefinição e ao revisionismo.
Intrínseco ao conceito de contra-informação, estão aspectos como a censura, o controlo social,
o preconceito cognitivo, a lavagem cerebral, a propaganda, a ausência de doutrina e a coerção.
Pesquisas relativas ao impacto das notícias revelam que as pessoas recordam-se
espontaneamente e mais depressa das más notícias do que das boas. Estudos comprovam que
“a informação televisiva que contém imagens negativas é mais facilmente memorizada pelos
telespectadores do que a dos restantes itens noticiosos” (Newhagen, e Reeves, 1992, in Silveira
e Shoemaker, 2010:29). Aplicando-se, também, ao caso dos leitores de jornais. Este tipo de
notícia pode, ainda, aumentar significativamente a atenção do espectador, a sua capacidade
de retenção do acontecimento e a forte percepção de uma estória negativa. (Lang, Newhagen,
e Reeves, 1996, in Silveira e Shoemaker, 2010:29)
Boas notícias são aquelas que estão de acordo com a norma, quer na vertente moral e ética
como na legislativa, portanto, são sinónimo de normalidade e previsibilidade. Ler ou assistir a
uma notícia que anuncie, por exemplo, um evento que corre conforme o planeado e o
esperado é uma boa notícia, pois nada fugiu à regra, ao estipulado, logo é desinteressante.
Porém, ao ter a percepção, através dos jornais ou dos telejornais, de ocorrências de
vandalismo e desacato ao que impõe e dita a Constituição, qualquer ser humano, surpreende-
se e espanta-se com actos que vão contra o sistema, que desafiam o imposto.
Em suma, independentemente do meio de comunicação utilizado ou da fonte interpessoal
implícita, os indivíduos, prestam mais atenção às más notícias e estão, definitivamente, mais
interessadas nesse tipo de informação.
7. Que importância tem as notícias?
Todas as notícias são fundamentais e importantes, pois aquilo que é novo ou está culto é de
susceptível interesse a muitos leitores. Para podermos avaliar o que são factos importantes
nas notícias existem sete critérios de avaliação que jornalisticamente são importantes e
noticiáveis. Factos, estes, referidos por Nuno Crato, na Obra Manual de Jornalismo da autora
Anabela Gradim.
O primeiro é a Proximidade, podemos afirmar que “ um facto será ou não noticia, consoante
tenha ocorrido numa zona mais ou menos próxima da área de influência do jornal”. Um
exemplo concreto será dizer que, para um diário português, 30 mortos numa avalanche no
Nepal, são menos importantes do que um nas mesmas circunstâncias na serra da estrela. Isto
porquê? o factor “importância” desta noticia será informar o que acontece em Portugal pois o
público interessa-se mais nos acontecimentos ocorridos no seu país. Contudo,
geograficamente o interesse geral da noticia também se vai dissipando, pois quando são
dactilografadas, estas são intensas no lugar onde se produzem e tornam-se débeis à medida
que se afastam. Isto é, todas as aldeias e cidades que ficam próximas da serra ficam mais
interessadas em saber o que aconteceu, pois estão próximas do local. A importância da notícia
em pessoas que vivam no Algarve será igual inicialmente pois podem ter familiares a morar
perto, contudo o seu interesse vai-se dissipando pois estão longes do acontecimento.
Mas será que podemos dizer que existem notícias que o público dá mais relevância se estas
forem com figuras públicas do que com pessoas comuns? Isto leva-nos ao segundo facto a
Importância, todos os leitores ficam mais interessados no que ocorre às figuras públicas do
que ao homem de rua. Um exemplo disso seria uma notícia aparecer da seguinte forma: “ O
senhor Silva que é um cleptomaníaco foi apanhado em flagrante num supermercado”, esta
notícia seria irrelevante para os leitores, no entanto se a mesma notícia fosse com um Ministro
ou um herdeiro de uma das coroas europeias, certamente os leitores ficaram bastantes
interessados, pois a sua importância enquanto notícia era mais chocante. Logo um jornalista
pode e deve ser agressivo, no sentido em que deve lutar desassombradamente pelos anseios
das populações, devendo procurar as melhores notícias para satisfazer o seu público.
Quando referimos polémica, o terceiro critério de avaliação de uma notícia, sabemos que esta
é um foco de atracão para os leitores. Mas por ser tão “perigosa” sempre que é tratada deve
ser gerida com cautela para não descambar no insulto, mas quando bem fundamentada é
8. socialmente útil e interessante de ler. Existe também a estranheza como facto da notícia,
quando uma notícia é estranha, insólita ou bizarra, os leitores gostam dela, pois tudo o que é
surpreendente é atractivo de ler. A emoção, outro facto da notícia, pode mostra-nos que uma
informação emocionante é importante pois isso faz parte do interesse humano, as histórias
que lidam com o sentimento e emoções dos homens, são factos importantíssimos de uma
notícia.
As repercussões são importantes quando as suas consequências podem-se repercutir, a curto,
médio ou longo prazo, na vida dos leitores. Um exemplo dessa notícia seria, “ o crude subiu na
Arábia Saudita. Nada de especial se isso não significasse aumentos na gasolina aqui à porta”.
Para concluir os factos importantes de uma notícia, é preciso dizer que existe também a
Agressividade. O jornalismo quando elaborado pode e deve ser agressivo, no sentido em que
deve lutar desassombradamente pela ansiedade das populações. Deve ir de encontra aos seus
interesses.
Para isto ser possível, há um editor que decide qual será o notoriedade que quer dar a
determinadas matérias/notícias e para tal deve ter em conta as seguintes questões:
- É importante? Afectará a maioria dos leitores? É interessante? É nova? Ocorreu longe ou
perto? É verdadeira? É executiva? Isto porquê, se uma notícia for forte em cada um destes
critérios, será facilmente noticiada.
Para Nuno Crato, quando seleccionamos um acontecimento para ser noticiável temos de ter
em consideração os seguintes critérios:
-Actualidade, em que ninguém deseja ser informado do que já é público e do conhecimento
geral. Podemos afirmar que qualquer jornal não consegue sobreviver muito tempo se
apresentar como notícia principal, as noticias que os seus concorrentes já disseram há alguns
dias.
- Significado, relevância social de um acontecimento e as consequências que este comporta
para a colectividade. Crato, “ demonstra que muitas vezes é difícil avaliar o real significado de
um acontecimento, mas nenhum jornal pode demitir-se dessa função, nem dar-se ao luxo de,
sistematicamente, considerar irrelevante aquilo onde todos os outros vêm factos de
importância decisiva”. (Crato in Gradim: 2000;25)
-Interesse, apetência do público por certas ocorrências, e está dependente da formação
cultural e expectativas dos leitores, variando de publicação para publicação. Ao referir Crato, a
9. autora diz que para este, “ nenhum jornal pode alhear-se totalmente do interesse do público,
mas também nenhum jornal que se preze poderá deixar-se escravizar por ele” (2000;26)
A maneira como os jornais ponderam o peso relativo de cada um dos critérios nas suas
notícias determinará boa parte do carácter da publicação. Sendo por isso importante
referenciar que nenhum jornal se pode desviar do interesse do público, mas também não se
pode deixar escravizar por este pois deixariam de ser um jornal em que não existe respeito
pelo mesmo.
Nuno Crato referenciou o que são os factos importantes nas notícias e os critérios para um
acontecimento poder ser noticiado, o professor Johan Galtun (In the Rove of Television of
International Crisis), indica a estrutura do relato noticioso nos meios de comunicação. São
estes:
1. Ausência de Ambiguidade
2. Clareza
3. Actualidade
4. Intensidade/Força de Impacto
5. Significado (ligação ao interesse pessoa/grupo)
6. Equilíbrio na composição
7. Raro/Imprevisível
8. Continuidade/Consonância
9. Negativismo
10. Referência a pessoas/Estados de elite
Toda a notícia do acontecimento irá confirmar ideias anteriores, quanto mais misteriosa for a
matéria a noticiar e quanto mais incerto estiver o jornalista acerca do modo como quer
construir o relato, a matéria tenderá a ser reportada dentro de um enquadramento global já
determinado. Isto é, as notícias seguem definições já estabelecidas, todas as “novas” são
“velhas”.
10. As notícias e os seus sentidos
As noticias têm vários sentidos e também vários significados, a forma como são redigidas
depende sempre, não só do modo jornalístico aplicado, como também da maneira como
querem impactar o seu público, segundo John Langer “Quando a actualidade se converte em
notícia deve ser processada mediante artefactos comunicativos que permitam a sua
inteligibilidade como algo real” (Langer, 1999, 33, in Brandão, 2002:73), desta forma quanto
mais real parecer, mais rapidamente será descodificada e aceite. Exemplo de Anabela Gradim
“Quando se soube que Pêro da Covilhã ia dar nome ao novo Hospital, o jornal aproveitou para
publicar um dossier aprofundado de Pêro da Covilhã e realizar uma sondagem junto dos
covilhanenses para apurar, ao certo, quantas pessoas sabiam quem era a personagem.”
(Gradim,2000:28), podemos concluir segundo a autora que se trata de uma notícia que serve
para actualizar uma informação.
Classificação género jornalístico, pela análise dos critérios de selecção de notícia segundo
Nuno Crato, referido por Anabela Gradim: Imprensa informativa – quando estão presentes os
3 aspectos (Actualidade, significado e interesse) numa noticia. Imprensa sensacionalista –
quando o significado dos acontecimentos é preterido em favor do interesse pelo escandaloso,
insólito e fortemente emotivo. Jornalismo de opinião politico – Aquele que noticia factos da
actualidade perspectivados de acordo com determinadas balizas politicas que orientam
editorialmente o jornal. Estas balizas poderão ser mais ou menos rígidas. (Gradim, (2000:26)
Na actualidade, a notícia é estudada sob a óptica da forma, por várias ciências sociais e
também pelas doutrinas filosóficas, o que acaba por estabelecer os parâmetros estratégicos
para a concepção da notícia, o autor Teun A. Van Djik, faz alusão à vertente filosófica
referindo:
“Enquanto que a linguística clássica e a semiótica fazem uma distinção global entre forma
(signifiants) e significado (signifiés) dos signos, a analise do discurso actual reconhece que o
texto e a fala são muito mais complexos e requerem considerações separadas embora
relacionadas, das estruturas e estratégias fonéticas, gráficas, fonológicas, morfológicas,
retóricas e pragmáticas, conversacionais interaccionais entre outras” (Djik,2005:63)
11. Porém, esta forma não é linear segundo Anabela Gradim que afirma que o público nunca tem
acesso à genuína notícia “As notícias não são espelhos rígidos e fieis dos fenómenos, mas
construções metonímicas que se desenvolvem segundo formas de produção ritualizadas e
passam por patamares diversos de selecção: das secretarias aos editores e chefias, passando
pelos olhos, preconceitos, crenças e formação cultural dos jornalistas.” ( Gradim,2000:20)
Neste âmbito torna-se também fulcral abordar esta temática na perspectiva moral, segundo
João Lopes, citado por Nuno Brandão, na obra o Espectáculo das notícias, hoje em dia, existe
uma extensa panóplia de meios de comunicação que difundem notícia, este facto acaba por
gerar um novo estilo. As três características essenciais deste estilo são a legitimidade da
informação, denota-se neste ponto que existe uma lacuna, pois de alguma forma o direito à
privacidade e confidencialidade é posto em causa pela fidedignidade das fontes, rapidez no
processamento da informação, um dado acontecimento tem de ser emitido para o espaço
público quase de forma instantânea e por último regime de polivalência, o jornalista tem que
redigir qualquer tipo notícia.
Os órgãos de comunicação social tentam precaver-se ao máximo das consequências que
possam provir da sua actuação, garantindo deste modo o “direito de informar a valor quase
absoluto”. Tentam reger a sua conduta em nome da liberdade de expressão, invocando o
interesse público e a necessidade de transparência por parte da administração e da conduta
dos seus agentes.
“O direito de informar só existe e se justifica com vista a informar bem.” (Pedro Marçal, in
seminário,1993:18), servir o interesse público é o valor máximo, estando susceptível de
encontrar informação que pode por em causa a imagem de uma pessoa/ instituição,
salvaguardam-se as fontes através do sigilo profissional, mesmo que muitas das vezes não
tenham a certeza da veracidade desta mesma informação.
Segundo Miguel Veiga, deste modo, “A mesma notícia pode ser criminosa (afecta os direitos
individuais de um cidadão anónimo) ou não criminosa (se ficar demonstrado o interesse público
da sua divulgação, nomeadamente, quando a pessoa envolvida é figura pública, com papel
social relevante para todos nós, e desde que a matéria versada na informação se relacione com
a especifica actividade de tais personalidades) ”, por exemplo dirigentes políticos. (Miguel
Veiga, 1993: 124)
12. Segundo Anabela Gradim, “o jornalista pode passar 20 anos a construir uma reputação e
perdê-la em 20 segundos ao noticiar uma mentira ou cometer um erro muito grave. O cuidado,
rigor e o cumprimento estrito dos procedimentos deontológicos são a única forma que estes
(jornalistas) têm de prevenir tais riscos.” ( Gradim,2000:22)
Torna-se imprevisível mencionar Pedro Marçal que refere que por este motivo, cabe à
comunicação social, no tratamento dos casos que difunde, conseguir afastar de forma clara o
que é considerado opinião, do que são factos ou notícias.
Um exemplo que regista um comportamento padrão, refere Miguel Veiga que “Na sociedade
portuguesa actual, os escândalos políticos são invariavelmente desclassificados como
especulações da imprensa, e quanto aos negócios, não existe um só empresário preso por
falência fraudulenta. Se alguma coisa está em crise em Portugal, neste domínio, é a ausência
de noção de honra entre a classe dominante, a impunidade, não apenas judicial, mas
sobretudo moral e social, de que gozam os importantes.” (Miguel Veiga 1993: 106)
Para evitar desentendimento e falta de coerência, por parte do jornalista é de extrema
importância ter em conta, segundo o Dr. ManuelTeixeira “A grande questão é saber quem e
como definir onde começa e acaba o “interesse público” de uma determinada notícia. Isto
porque os instrumentos legais que regem a amplitude de actuação do jornalista remete para a
figura do “interesse público” a razoabilidade da publicação ou não de uma noticia, que
teoricamente entre na zona cinzenta dos conflitos sobre direitos individuais e direito de
informação.” (Dr. Manuel Teixeira,in seminário,1993:124)
Por outro lado, Anabela Gradim, dá-nos uma outra perspectiva sobre esta mesma temática
dizendo que “A única coisa que o jornal faz, de forma rigorosa e fundamentada, é divulgar
factos actuais de interesse geral – as notícias. Se, eventualmente tais factos desacreditam ou
abonam a favor de pessoas ou instituições, é algo que cumpre aos leitores concluir a partir da
leitura dos tais factos que o jornal noticia.” (Anabela Gradim, 2000:17)
Em suma, todos os jornalistas deveram ter plena consciência de que independentemente do
género jornalístico que optem por assumir, irão necessitar de ter uma conduta moral que
cumpra a maioria dos requisitos ao nível da veracidade da informação e a protecção das
fontes.
Por fim, como refere Gaye Tuchman “a notícia tende a dizer-nos o que queremos saber, o que
precisamos saber e o que deveríamos saber” (Tuchman, 1983:13-16, in Brandão2002:80)
13. Conclusão - Recensão Crítica do Trabalho
No primeiro ponto do nosso trabalho, definimos claramente as noções intrínsecas
aos conceitos de notícia, acontecimento, informação e contra-informação.
Podendo constatar que o primeiro se define como informação sobre um acontecimento; o
segundo relaciona-se com a ideia de inesperado; já a informação como mensagem
pressupõem sempre a ideia de um emissor e um receptor que percepcionam a mesma
linguagem com afim a estabelecer uma relação de comunicação; a contra-informação tem
intrínseco o acto de adulterar a verdade, recorrendo à retórica para persuadir e obter os seus
interesses.
Relacionando estes conceitos e analisando estudos da área, apuramos o quão interessante
são, para a sociedade, as notícias que envolvem actos que põem à prova o Sistema e como
estas mesmas notícias permanecem na memória dos demais. Contudo, as boas notícias, com
informações, ditas, “normais” facilmente caem no esquecimento e são tidas como
desinteressantes.
Todas a noticias são importantes pois estas fazem parte da vida de uma sociedade e
interessam a todos os leitores. Estas necessitam de estar sempre em constante mudança, pois
é necessário haver uma novidade permanente. Todas noticias seguem uma regra dai existir
factos e critérios para se realiza-la. Para concluir s uma noticia não estiver em constante
mudança torna-se velha perante uma nova abordagem da mesma, mesmo que tenha sido
noticiada à umas horas.
As noticias têm várias formas de estilo, são redigidas segundo artefactos que cativam o público
e ajudam a que dado acontecimento seja de fácil descodificação por parte do mesmo. A ética,
a privacidade, o significado e actualidade são as características chave que diferenciam o bom,
do mau jornalismo. A reputação tem de ser constantemente trabalhada, pois pode ser
destruída num segundo. O sigilo profissional, obriga a que não sejam reveladas as fontes de
informação, pode consequências pouco abonatórias, pois não existe a certeza da veracidade
da informação
14.
15. Bibliografia
BRANDÃO, Nuno Goulart (2002), “” , Edições Universitárias lusófonas, Lisboa;
DIJK, Teun A. Van (2005), “Discurso, Notícia e Ideologia, Estudos na análise crítica do
discurso”, Campo de Letras, Porto;
SANTOS, Rogério() “A negociação entre jornalistas e fontes”, Minerva,
RAIMUNDO, Orlando (2005) “A Entrevista no jornalismo contemporâneo”, Minerva
Coimbra, Coimbra
(1993)“Comunicação social e Direitos individuais” Alta autoridade para a comunicação
social, Lisboa
Da Silveira, Joel Frederico, SHOEMAKER, Pamela, BRANDÃO, Nuno Goulart
(2010)”Telejornais em exame”Edições colibri, Instituto politécnico de Lisboa, Lisboa
CORREIA, João Carlos (2005) “A Teoria da comunicação de Alfred Schutz”,Livros
Horizonte, Lisboa