O documento discute a prestação de contas do governo do estado do Rio de Janeiro para os anos de 2007 a 2009. Ele destaca os investimentos e melhorias realizados nas áreas de saúde, educação, segurança e obras públicas, além de reformas na gestão pública que possibilitaram economia de recursos.
1. Lide
Blogues tornam mais popular
relacionamento com os leitores
Jornalistas ganham plano de
aposentadoria complementar
A REVISTA DOS JORNALISTAS
ANO 12 n
Nº 56 n
JANEIRO A JUNHO DE 2009
Vítimas da notícia
O risco irreparável do ataque à reputação de inocentes
2. PRESTAÇÃO DE CONTAS AO CIDADÃO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO – 2007/2009
SOMANDO FORÇAS, ESTAMOS
RECUPERANDO O NOSSO ESTADO.
VEJA ALGUNS RESULTADOS.
NOS ÚLTIMOS 2 ANOS, O RIO DE JANEIRO COMEÇOU A MUDAR.
JÁ NÃO EXISTEM DESAFIOS IMPOSSÍVEIS. JUNTOS, PODEMOS FAZER MAIS.
SAÚDE Mais de 700 policiais especialmente OBRAS
treinados.
SAÚDE MODERNIZADA E QUATRO VEZES GOVERNO REALIZA OBRAS QUE
Parcerias com Governo Federal,
MAIS PESSOAS ATENDIDAS O ESTADO ESPERAVA HÁ DÉCADAS
prefeituras e sociedade.
Emergências UPA 24 Horas: Renovação da frota: Urbanização e habitação beneficiando
20 unidades construídas em 17 meses. 1.300 veículos comprados. 200 mil famílias.
2.019.533 pacientes atendidos. Manutenção garantida e terceirizada Melhorias no saneamento e água de
1.197.046 exames realizados. para 730 novos carros da PM. qualidade, para 3,4 milhões de pessoas,
12.665.814 remédios distribuídos. com a Nova Cedae.
Cartão Saúde com cadastro informatizado Construção do Centro de Inteligência
e personalizado. Policial mais moderno do país. A maior retirada de esgoto da
Baía de Guanabara, com a ampliação
Ampliação do SAMU: Estado líder no Brasil na implementação
da Estação Alegria.
50 novas ambulâncias. do Pronasci:
Aumento de 167% nos atendimentos diários. Mais de 20.000 agentes de segurança Entrega de 4 pontes importantes para
realizando cursos de capacitação e 700 o interior do estado:
Modernização da rede de saúde: recebendo Bolsa-Auxílio no valor Resende, Cabo Frio, Campos e São Fidélis.
R$ 108 milhões para a compra de de R$ 400,00. Pavimentação e restauração de 553
equipamentos (tomógrafos, aparelhos quilômetros de vias públicas em todo
de ultrassonografias, leitos etc.) o Rio de Janeiro.
em pregões internacionais no fim de 2007.
O maior investimento em equipamentos
EDUCAÇÃO Início do Arco Rodoviário,
hospitalares na história do Rio. O SÉCULO XXI CHEGA ÀS ESCOLAS que irá desafogar o tráfego para capital
PÚBLICAS ESTADUAIS e Baixada Fluminense, projeto estratégico
Salto de produtividade com maior para o desenvolvimento do estado.
economia do dinheiro público: Cada professor em sala de aula
Em 2008, foram quase 6,3 milhões recebeu um laptop com conexão para
de exames contra 2,5 milhões internet em banda larga, totalizando
no ano anterior. 50 mil computadores.
GESTÃO PÚBLICA
A terceirização dos exames de laboratório GASTOS DESNECESSÁRIOS TRANSFORMADOS
Todas as 1.600 escolas estaduais foram
possibilitou uma redução de gasto anual EM INVESTIMENTOS PRIORITÁRIOS
dotadas de laboratórios de informática
de 135 para 28 milhões de reais.
conectados à internet. Economia de 1,3 bilhão de reais
No total, foram investidos em gastos públicos até 2009.
Todas as 19 mil salas de aula também
na saúde 400 milhões de reais acima Meta até 2010: 3,5 bilhões de reais.
receberam um computador com
do piso estabelecido pela lei.
banda larga. Recursos economizados permitem
Em 2 anos, os atendimentos aumento dos investimentos em saúde,
No total, a rede estadual possui hoje
realizados pela rede pública estadual segurança e educação.
10 vezes mais computadores do que tinha
foram multiplicados por 4.
2 anos antes, em 2006. Novo modelo de controle dos
projetos do governo e de seus objetivos,
Modernização da gestão das escolas:
garantindo melhores resultados
Acompanhamento das atividades
SEGURANÇA de 1 milhão e 500 mil alunos através
para a população.
REINTEGRAÇÃO DE COMUNIDADES DOMINADAS de cartões digitais. Definição de um plano estratégico,
POR CRIMINOSOS E POLÍCIA REEQUIPADA com 47 projetos prioritários para
Criação de portais de internet
Comunidades Dona Marta, Cidade de Deus o futuro do Rio.
com conteúdos específicos para alunos
e Batam reintegradas: e professores.
Adoção da filosofia de policiamento
Desenvolvimento de escolas-piloto
comunitário.
focadas nos novos mercados de trabalho,
como a Nave, na Tijuca, no Rio de Janeiro.
REAFIRMANDO SEU COMPROMISSO COM A TRANSPARÊNCIA NA GESTÃO PÚBLICA, O GOVERNO DO RIO DE JANEIRO OFERECE AOS CIDADÃOS SUA PRESTAÇÃO DE CONTAS.
3. editorial 3
Q
ue a liberdade para a prática do Jornalismo é
fundamental numa sociedade democrática prati-
camente todos concordam. Mas ela exige muita
responsabilidade, já que a mídia tem poder de em pouco
tempo destruir uma reputação. E isso pode acontecer em
virtude de uma matéria mal-apurada ou mal-intenciona-
da mesmo. Este é o assunto da matéria principal desta
edição, que, a partir de alguns casos, como o do médico
Joaquim Ribeiro Filho, busca refletir sobre os danos que
os jornalistas podem causar quando não fazem direito
seu trabalho, apurando a veracidade da informação ou
aceitando como verdade absoluta a informação da fonte.
E discutir se o furo é mais importante que a informação
correta. Também discutimos a transparência a partir da
decisão da Petrobras de postar em seu blogue os pedi-
dos de informação de jornalistas e as respostas que dá.
Afinal, a informação pertence à empresa, à sociedade ou
ao veículo? E a fonte divulgar a informação antes do meio
de comunicação fere a ética? A discussão continua nas
redações. Trazemos ainda matéria sobre os blogues de
jornalistas, que estão nos veículos e páginas pessoais e
estabelecem novo paradigma na relação com os leitores.
E exigem novos parâmetros, como o que deve ser corta-
do, etc. E ainda saber estabelecer a diferença entre blo-
gue jornalístico e blogue de jornalista. Essa reflexão não
vai sair da pauta, pois os blogues vieram para ficar. Como
veio para ficar o plano de previdência dos jornalistas, o FE-
NAJprev. Após quatro anos de um trabalho que começou
com o Sindicato do Rio de Janeiro, foi lançado o plano
que, administrado pela Petros, vai oferecer aos jornalistas
planos para garantir uma aposentadoria melhor. Veja as
Nelson Moreira
Editor responsável condições nesta edição. E boa leitura.
Lide nº 56 JANEIRO A JUNHO DE 2009
n n
4. índice
ALBERTO JACOB FILHO
Lide
A REVISTA DOS JORNALISTAS
Publicação semestral do Sindicato dos
3 editorial Jornalistas Profissionais do Município
do Rio de Janeiro
Rua Evaristo da Veiga 16, 17° andar
CEP 20031-040, Centro, Rio de Janeiro (Rj)
5 cartas Tel.: (21) 3906-2450. Fax: (21) 3906-2463
sindicato-rio@jornalistas.org.br
6 perfil Editor:
Nelson Moreira (Mtb 17.048)
Subeditor:
11 livros Manoel Franco
Diagramação e produção gráfica:
12
Alessandro Matheus
blogue Petrobras Repórter fotográfico
registrou o nascimento da Diretoria do Sindicato:
Bossa Nova em Copacabana Suzana Blass (presidente),
Rogério Marques (vice-presidente)
Aziz Filho (secretário-geral)
Regina Célia Lopes (primeiro-tesoureiro)
Nelson Moreira (segundo-tesoureiro)
Conselho Fiscal
16 capa Júlio César Guimarães, Marília Ferreira
Viana e Renata Chaiber
Delegados junto à Fenaj
Risco de prejudicar inocentes Alberto Jacob Filho e Sônia Regina S.
com denúncia mentirosa aumenta Gomes
responsabilidade dos jornalistas
Suplentes
Ana Cláudia Costa, José Luís Laranjo,
Ilza Araújo, Marisa Bastos e Nacif Elias
JúLIO CéSAR GuIMARãES
22 FenajPrev Comissão de Ética:
Carmem Pereira, Iara Cruz, Jorge Freitas,
Maurílio Ferreira e Rogério Daflon
24 blogues Comissão de apoio:
André Jockyman, Beth Costa,
Clelmo Carvalho, Elba Boechat,
João Saldanha
28
Jorge Antonio Barros, Marcelo Moreira,
e caso Bloch Mario Russo, Miro Nunes.
Comissão de Jornalistas pela
29 diploma
Estudantes e jornalistas
Igualdade Racial – Cojira-Rio
(Coordenação):
protestam contra decisão do Angélica Basthi, Miro Nunes e
STF e ganham apoio político Sandra Martins
30 artigo
Impressão: Gráfica MEC Editora
Tiragem: cinco mil exemplares
Lide nº 56 JANEIRO A JUNHO DE 2009
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5. cartas 5
Quer criticar? Reclamar? Sugerir? Contestar? Ou, até, elogiar?
É aqui, no espaço que pertence aos leitores da LIDE. Para participar é simples:
por carta: Rua Evaristo da Veiga 16, 17o andar, CEP 20031-040, Centro, Rio de Janeiro, RJ;
por fax: (21) 3906-2463; e por e-mail: sindicato-rio@jornalistas.org.br. Participe!
Duplo ensaio Dicas importantes
Lide
Evandro Teixeira conta no Perfil
Saúdo a LIDE pela matéria do Rodri- Gostei muito da matéria da Alaíde da
curiosidades de sua carreira
Em ascensão, Jornalismo automotivo
mistura paixão com profissionalismo
go Camarão, um jovem talentoso, Silva, na LIDE 55, sobre o trabalho
A REVISTA DOS JORNALISTAS
querido e amigo, sobre o Evandro Tei- ANO 11 Nº 55 JULHO/AGOSTO/SETEMBRO DE 2008
de jornalistas nas editorias de auto-
xeira. Como repórter, cobri várias ma- móveis. Sou estudante de Jornalismo
nifestações de rua ao lado do Evan- e quero me especializar nessa área.
dro. Ele me ajudou muito, me orien- As informações que li são muito im-
tou para evitar confrontos da polícia portantes. Os perigos dos “releases”
com manifestantes. Mas ele próprio e dos “presentes” das empresas aos
botava a cara na reta, para buscar e jornalistas, por exemplo, nos alertam
registrar os momentos mais graves para armadilhas que devemos evitar
da luta pela redemocratização do pa- em nome da ética e da isenção.
ís. Evandro sempre partiu do particu- Interesse público Gosto desse tipo de matéria que leio
Formação específica é essencial ao bom Jornalismo
lar para o geral. Não se fixava num como se fosse uma aula agradável.
“
ponto, andava de um lado para outro Thiago Da Costa
procurando o melhor ângulo, a me-
lhor foto. O perfil do Evandro Teixeira, sem Diploma
traçado pelo Rodrigo Camarão, vale Os ministros do STF não se sensibi-
por um duplo ensaio fotobiográfico.
José Pereira da Silva, Pereirinha
Ministros do STF lizaram diante da opinião de jorna-
listas e da população em geral, ex-
Grata surpresa
confundiram pressa em pesquisas de opinião.
Por oito votos a um, o do solitário
Na LIDE 55, tomei conhecimento do
livro ‘Comunicação e Democracia –
liberdade de Marco Aurélio de Mello, derrubaram
a exigência do diploma de Jornalis-
problemas e perspectivas’, de Rosiley
Maia e Wilson Gomes. O livro ajudou
expressão com a mo para se exercer a profissão de
jornalista. Confundiram liberdade
muito na pesquisa para a monografia
que comecei a escrever sobre o tema,
profissão. Resta o de expressão com a prática de fun-
ções que são exclusivas de uma
que em geral só é mais abordado em
Poder Legislativo profissão, e que exigem técnica e
”
obras publicadas por autores estran- conhecimento teórico específico, a
geiros. Grata surpresa para quem gos- exemplo das profissões de advoga-
ta de (ou precisa) receber informação do, professor, psicólogo, etc. Agora,
sobre comunicação e política. Ruy de Souza Panteão resta esperar o Poder Legislativo.
Cecília Cortez Jornalista Ruy de Souza Panteão
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6. 6 perfil
Antonio Nery
Quando jovens
ALBERTO JACOB FILHO
artistas davam
forma à bossa nova,
repórter fotográfico
registrava ensaios
e shows no circuito
musical/boêmio do
Beco das Garrafas
por Manoel Franco
n No início dos anos 1960, um grupo
de jovens artistas de grande talento se
reunia, ensaiava e se apresentava em
shows no chamado Beco das Garra-
fas, em Copacabana. Nas boates
Bottle’s Bar, Ma Giffe, Bacará e Little
Club, os notáveis João Gilberto, Tom
Jobim, Carlos Lyra, Nara Leão e Vi-
nícius de Moraes, entre outros, eram
protagonistas de um momento histó-
rico. Eles davam forma à bossa nova,
um gênero musical que enriqueceu a
música brasileira e encantou grande
parte do mundo, principalmente a
Europa e os Estados Unidos.
Um jovem repórter fotográfico
trabalhava nas imediações. Contrata-
do pelo restaurante Au Bon Gourmet,
trocava a noite pelo dia registrando
grande parte daqueles momentos de
glória. Durante muito tempo, guar-
dou esse material e só há alguns anos
parou para ordená-lo em arquivo.
Hoje, ele é dono de um dos maiores
e mais importantes acervos de foto-
Livro que pretende publicar já grafias com aqueles que fizeram his-
tem capa, mas falta patrocínio tória. Sobre o tema, realizou a maio-
Lide nº 56 JANEIRO A JUNHO DE 2009
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7. 7
NA HORA CERTA,
NO LUGAR CERTO
E COM AS
PESSOAS CERTAS
“
ria de suas exposições – só no ano Jamille, que mantinha um bom rela-
passado foram três, uma delas em cionamento com a grande comunida-
Nova York, em comemoração aos 50 de síria da região, ensinou-o a fazer
anos da bossa nova. Sempre tive quitutes deliciosos, doces e salgados.
Para transitar por ambiente musi- Além de pratos da comida árabe, ela
cal tão sofisticado no Rio de Janeiro, verdadeira paixão preparava, como poucos, uma delicio-
esse profissional da fotografia passou sa galinha com quiabo. O segredo
por situações bem diversas do trabalho para desenhar dessa culinária está em receitas que ele
pelo qual optou antes de completar 20 não se importa em repassar.
anos. Sua origem é interiorana. Nas- e copiar figuras À escola ele chegou tarde e não
ceu em 1935 na cidade de Muzambi- adquiriu gosto pelo estudo conven-
nho (MG), próximo de Guaxupé, ou fotos que cional. Preferia desenhar e principal-
terra famosa por produzir um café de mente copiar figuras e fotos. “Tinha
alta qualidade. Descendente de italia- me atraíssem pela verdadeira paixão por copiar.” Tímido
nos e negros e índios brasileiros, por e introvertido, foi ótimo seus pais o
beleza plástica
”
parte de pai, e de sírios pelo lado da terem matriculado no rigoroso Colé-
família materna, foi criado com mui- gio São José de Muzambinho, de pa-
tos mimos: é o caçula de uma prole dres franciscanos. Ajudou sob dois
formada por três irmãs e somente um aspectos: ensinou-o a valorizar a dis-
irmão – outro irmão morreu ao com- ciplina e a tornar-se mais sociável.
pletar 30 dias de vida. “Antes, eu era um garoto isolado que
Dos pais, herdou virtudes e qua- não gostava de me relacionar com as
lidades que acrescentaram pontos pre- outras crianças. Não gostava de em-
ciosos à sua vida profissional e pessoal. pinar papagaio (pipa) nem de jogar
Seu pai, Hugo, ferreiro paciente, era pião, como a maioria dos meninos.”
um artista, um artesão que usava o Com a ida para São Paulo com a
seu principal instrumento de traba- família, aos 14 anos, sua vida se mo-
lho, a bigorna, para fabricar enxadas, dificou radicalmente. “Sou de um
ferraduras, picaretas, etc. Sua mãe, tempo e de um lugar em que as pes-
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8. 8 perfil
Antonio Nery
1
REPRODUÇÕES
2
3 4
soas chamavam ‘prostituta’ de ‘rapa- para o Rio de Janeiro, a capital federal aprendeu princípios de contabilidade,
riga’, e as mulheres direitas não fuma- e cultural do país na época. Nos pri- e entrou finalmente no universo artís-
vam”, diz hoje, para mostrar as difi- meiros anos, adolescente, esbarrou tico. Matriculou-se no Liceu de Artes
culdades que encontrou ao sair de um por coincidência com pessoas ligadas e Ofícios e começou a estudar dese-
lugarejo provinciano para uma cidade a jogadores de futebol. A pensão em nho com Modestino Kanto, autor do
cosmopolita, a “locomotiva do Bra- que trabalhou em serviços de faxina, monumento ao marechal Deodoro da
sil”. “Fiquei apavorado com aqueles na Central do Brasil, pertencia a um Fonseca, no Rio de Janeiro, e mode-
prédios enormes”, conta. Dias depois, casal de portugueses, avós do jogador lagem com o escultor Paulo Mazu-
tomou um susto ainda maior e achou Orlando Pingo de Ouro, da Seleção quelli. No início, passou por um pro-
que nunca mais iria rever a família. de 1950. Depois, na empresa Prolar, blema insólito. “Morria de vergonha
“Saí e me perdi porque esqueci de onde servia café para a diretoria, tinha diante das modelos que posavam nu-
anotar o endereço de casa. Passei o oportunidade de estar com os jogado- as. E elas nem ligavam, claro. Depois
dia inteiro na rua, e só depois de mui- res do Fluminense que apareciam lá me acostumei também.”
to andar consegui achar onde mora- para receber o “bicho” – recompensa Servir ao Exército, na Artilharia
va. Já era noite, e fiquei realmente em dinheiro por vitória ou mesmo Montada, na Quinta da Boa Vista,
muito amedrontado.” empate –, distribuído por um dos do- motivou-o para comprar a primeira
A permanência em São Paulo foi nos da empresa, diretor do clube. máquina fotográfica, uma Kapsa, de
passageira. Serviu apenas como uma Quando trabalhava na Casa Vitó- fabricação nacional. “Tratei de cava-
adaptação para a mudança definitiva ria, especializada em venda de pneus, los, organizei o almoxarifado e acam-
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9. 5 6
7 1. Olívia Marinho e Grande Otelo 8
em 1956, quando o repórter
fotográfico tinha 21 anos;
2. O jovem Abelardo Barbosa,
Chacrinha; 3. Armando Marques,
árbitro polêmico de futebol,
e o controvertido Wilson Simonal
no Maracanã; 4. Efeito mágico
na foto em que aparece
Elizeth Cardoso; 5. Booker
Pitman com o seu clarinete,
acariciado pela filha Eliana;
6. Vinícius de Moraes canta ao
lado de Tom Jobim ao piano;
7. Carlinhos Lyra, Nara Leão e
Vinícius; 8. Paulo Gracindo,
consagrado ator, também
trabalhou como locutor na
Rádio Nacional
pamentos. Comprei a máquina para tratado pela revista Noite Ilustrada, foi Jean Manzon. E em 1960 começou a
guardar recordações daquele tempo.” cobrir um ensaio da cantora Dalva de trabalhar no Copacabana Palace Ho-
Ao sair de lá, voltou ao antigo empre- Oliveira. Fez muitas fotos, mas parou tel. Lá, registrou a presença no Brasil
go na Casa Vitória e às aulas no Liceu quando Dalva passou mal, desmaiou de Tony Bennet, Nat King Cole, Ella
de Artes e Ofícios, onde aprimorou e saiu carregada do palco. Com certe- Fitzgerald, Sammy Davis Jr. e Lennie
conhecimentos sobre técnicas artísti- za, Noite Ilustrada quebraria todos os Dale, entre outras celebridades inter-
cas: proporção, ritmo, movimento, seus recordes de venda em banca se nacionais. Os anos seguintes foram
equilíbrio, tonalidades de claro e es- tivesse publicado as fotos do desmaio marcados pelos encontros com o pes-
curo, volume e profundidade. Nos de uma das mais famosas cantoras do soal da bossa nova, ali perto, no Beco
fins de semana, arrumava tempo para país. “Fiz tudo direito, só não fotogra- das Garrafas.
fotografar festas, exposições e outros fei o melhor. Coisa de foca.” A carga excessiva de trabalho cria-
eventos. Na Última Hora trabalhou como va situações pouco convencionais, co-
Já na função de repórter fotográfi- laboratorista fotográfico, mas sempre mo a do dia do seu casamento com
co, começou na revista Brasil Munici- arrumava tempo para fotografar, Maria da Conceição, em 31 de de-
palista, “uma picaretagem”, e depois principalmente nos plantões, quando zembro de 1960. Logo depois da ceri-
na Artistas em Foco, uma versão da havia menos profissionais na redação. mônia, despediu-se da noiva por volta
famosa Revista do Rádio, sobre a vida Em seguida, durante dois anos, foi das 21h porque tinha de estar no Co-
de artistas e personalidades. Nessa laboratorista de uma empresa coman- pacabana Palace para registrar a festa
época se deu um caso engraçado. Con- dada pelo fotógrafo e cineasta francês de passagem de ano dos hóspedes, a
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10. 10 perfil
Antonio Nery
maioria estrangeiros endinheirados.
“Fotografava e revelava, enquanto co-
mandava uma equipe de cinco fotó-
grafos, e apresentava as fotos às pesso-
1
as minutos depois. Saí de lá às dez da
manhã do dia seguinte. Durante esses
anos foi sempre assim. Chegava tarde
em casa e ela já nem reclamava mais.”
O casal viveu junto até a morte de
Maria da Conceição, em 2001.
Entre 1962 a 1969, o repórter
fotográfico passou por vários veículos
de comunicação: revistas Manchete,
Fatos & Fotos e Jóia, de Bloch Edito- 3
res, jornais O Dia e A Notícia, Últi-
ma Hora, Folha da Tarde e Folha de
S.Paulo. No jornal O Globo ele en- 2
trou em 1970 e só saiu em 1993. De-
pois, passou a trabalhar como frila em
jornais e revistas. Agora, seu maior 1. Casamento do repórter
desejo é produzir um livro que reúna fotográfico com Maria da
Conceição; 2. Aos 15 anos,
em pelo menos 200 páginas as fotos como “mocinho” ou
tiradas em pouco mais de 50 anos de “bandido”?; 3. No
profissão. As imagens já foram sele- Copacabana Palace em 1961;
cionadas e os textos, parcialmente 4. Escultura de sua autoria;
5. Desenhar, uma paixão;
concluídos. Para dar prosseguimento
6. O pai, ferreiro, e a mãe, 4 5
ao projeto, ele espera conseguir patro- quituteira; 7. Pelé, em pose
cínio. Enquanto isso, passa a maior exclusiva; 8. No Exército,
parte do tempo em casa, em Itaipua- sentiu necessidade de
çu, onde mora desde 2002. comprar a primeira máquina
Faltou contar uma história. A da
marca do seu nome artístico, origina- 8
da na ocasião em que começou a tra-
balhar nas revistas da Editora Bloch.
Um dia entregou ao chefe de reporta-
gem três fotos que tirou em uma ceri-
mônia, que seria editada como um
sensacionalista “Casamento na Um-
banda”. O repórter que escreveria a 6
história passou por maus momentos
porque não dispunha de nada concre-
to para apurar o fato. Mas a matéria
saiu. Na edição, acharam melhor tro-
car o nome do repórter fotográfico, de
Antonio Nery para A. Nery. Justificati-
va: os Bloch iam achar o máximo. n
Lide nº 56 JANEIRO A JUNHO DE 2009
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7
11. livros 11
PELÉ – ESTRELA NEGRA EM CAMPOS VERDES
ANGÉLICA BASTHI
Pelé enfrentou dificuldades de ordem econômica, familiar, afetiva. Teve problemas com os
filhos, sofreu baques comerciais, viveu dois casamentos e romances. Agora, ressurge como
personagem múltiplo e complexo, idolatrado por admiradores no mundo, mas fiel ao me-
nino que saiu com a familia de Três Corações para conquistar o mundo. É o que a jornalis-
ta relata, com graça e leveza, a partir de vasta e rigorosa pesquisa documental.
196 PÁGINAS – R$ 34,00 – EDITORA GARAMOND
NA HUMILDADE
DIANE DUQUE
Um relato perturbador do inferno. Livro-reportagem no qual a jornalista conta as suas ex-
periências depois de visitar três unidades penitenciárias e centros de recuperação para
dependentes químicos. Presos falam da vida criminosa e da rotina no cárcere, e os depen-
dentes contam de que forma se viciaram e a dificuldade da recuperação. O título Na Hu-
mildade é uma alusão aos dois grupos que usam o termo de diferentes formas.
156 PÁGINAS – R$ 15,00 – EDIÇÃO INDEPENDENTE – www.NAHUMILDADE.COM.BR
CIÊNCIA E JORNALISMO
CREMILDA MEDINA
A linguagem dialógica que a autora pesquisa há mais de quatro décadas articula reflexão
teórica com prática narrativa. Seu pensamento invoca, na essência, outra maneira de estar
no mundo em oposição à técnica tradicional da entrevista ou da observação dos fenômenos
contemporâneos. O leitor é convidado a partilhar a construção do texto: temas envolventes
vêm à tona, salientando o laço democrático entre ciência, sociedade e comunicação social.
120 PÁGINAS – R$ 26,90 – SUMMUS EDITORIAL
REPORTAGEM DE TELEVISÃO
JOÃO ELIAS DA CRUZ NETO
O livro especifica as fases da reportagem para ser exibida na televisão. Apresenta ainda uma
série de cinco reportagens que foram exibidas, analisando as cinco pautas, os cinco textos
dos repórteres e as modificações realizadas pelo editor de texto. Indicado para estudantes
de Jornalismo, para quem deseja trabalhar em televisão ou quer simplesmente conhecer
um pouco mais a respeito do processo de produção de notícia na televisão.
144 PÁGINAS – R$ 23,00 – EDITORA VOZES
Lide nº 56 JANEIRO A JUNHO DE 2009
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12. 12 tendências
quebra de sigilo
ou diálogo sem
segredos?
Para empresa jornalística, “Fatos e dados” é intimidação; Petrobras
alega necessidade de transparência na relação com a imprensa
por Michel Alecrim tagens no início de junho, mostrou A estratégia é adotada por gran-
que há limites para a “espiadinha”. des companhias norte-americanas,
n Há jornalistas que afirmam que, se Mas deu aos leitores a chance de ver mas os jornais daqui reagiram à novi-
câmeras transmitissem o que aconte- as reportagens sob novo ângulo. dade. O blogue acabou “vazando” as
ce nas redações, o programa Big Bro- O blogue Fatos e Dados (http:// pautas de alguns veículos, abrindo a
ther teria que se aposentar. Provavel- petrobrasfatosedados.worldpress. possibilidade de um concorrente ver
mente o que é dito em tom de ane- com) foi criado pela empresa depois o que o outro está apurando. Isso le-
dota nunca será testado na prática, que senadores de oposição ao governo vou a empresa a mudar o método e a
mas alguns episódios ajudam a di- pediram a instalação de CPI para guardar suas postagens até a madru-
mensionar o que provocaria uma exi- apurar denúncia de corrupção na es- gada da publicação.
bição desse tipo. Como a decisão da tatal. Reportagens nos principais veí- O presidente da Federação Na-
Petrobras de publicar num blogue os culos, com denúncias de irregularida- cional dos Jornalistas (Fenaj), Sérgio
e-mails trocados entre sua assessoria e des na gestão e supostos favorecimen- Murillo de Andrade, critica a publi-
a imprensa. A divulgação das entre- tos a aliados políticos, levaram a Pe- cação prévia dos e-mails com as per-
vistas antes de as matérias irem para trobras a não se contentar apenas em guntas e acredita que é importante a
as páginas, como nas primeiras pos- enviar suas respostas à imprensa. fonte deixar claro para o repórter que
Lide nº 56 JANEIRO A JUNHO DE 2009
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13. 00
13
“ A novidade é
interessante e
veio para ficar.
Vai permitir que
as pessoas tirem
suas próprias
conclusões
Sérgio Murillo
”
Presidente da Fenaj
No início, as postagens do blogue
saíam antes do dia da publicação
Lide nº 56 JANEIRO A JUNHO DE 2009
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14. 14 tendências
PAulO SIlvA
pretende divulgar a entrevista a partir
da veiculação da matéria para a com-
paração dos leitores. E avalia que essa
novidade veio para ficar.
“Entrou um componente intimi-
datório na antecipação das perguntas.
Mas essa é uma inovação interessante,
se não forem antecipadas as respostas.
Permitirá que as pessoas tirem suas
próprias conclusões”, afirmou.
A possibilidade de os leitores te-
rem mais informação sobre o traba-
lho dos jornalistas é elogiada pelo
diretor-executivo da Ong Transparên-
cia Brasil, Claudio Weber Abramo,
que já faz esse trabalho de monitora-
“ “
mento do poder público.
“Ajuda a melhorar a qualidade da
cobertura. O leitor tem acesso ao que
foi perguntado e respondido. Mas
Obrigados a senti falta de uma repercussão fora
das redações”, comenta o matemático
O leitor tem
abandonar uma e mestre em filosofia da ciência.
Com experiência em reportagem,
acesso ao que foi
esfera mais tema de vários livros seus, e também
em assessoria de imprensa, o profes-
perguntado e
fechada, os sor Nilson Lage vê na iniciativa da
Petrobras uma nova tendência. Para
respondido. Mas
autores serão mais ele, mesmo que o público dos meios
tradicionais de comunicação conti-
senti falta de
cautelosos. Haverá nue sendo maior, cada vez mais em-
presas e órgãos públicos procurarão
repercussão fora
mais seriedade falar diretamente com as pessoas. das redações
” ”
“O debate acaba sendo bom para
a profissão. Não é educado revelar o
conteúdo de uma conversa, mas não
Maurício Azêdo é proibido”, diz o professor da Uni- Claudio Weber Abramo
Presidente da ABI versidade Federal de Santa Catarina. Diretor da ong Transparência Brasil
Ele reconhece que distorções podem
ocorrer sem que o repórter seja o res-
ponsável, mas o deixaria exposto. “A
corda sempre arrebenta do lado mais
fraco”, diz Lage.
O presidente da Associação Bra-
sileira de Imprensa (ABI), Maurício
Azêdo, acredita que blogues como o
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n n
15. 00
15
da Petrobras podem levar a mudanças violação de um terceiro.
em algumas coberturas. O direito de “Se a comunicação é dirigida a
defesa, para ele, se amplia. “Os auto- uma pessoa e a divulgação se dá por
res serão mais cautelosos, por ter de esta mesma pessoa não podemos con-
abandonar uma esfera mais fechada. cluir pelo descumprimento do precei-
Haverá mais seriedade”, avalia. to constitucional ou mesmo pelo
Ninguém da diretoria da Petro- crime de violação de correspondên-
bras quis dar entrevista sobre o blo- cia”, explica o especialista, que apon-
gue, mas a assessoria da empresa ne- ta o direito da pessoa divulgar comu-
gou em e-mail a intenção de causar nicação da qual ela é interlocutora.
intimidação à imprensa. “A verdade é Com o uso cada vez maior do e-
que o blog é uma ferramenta de co- mail como forma de apuração e de
municação que visa a dar transparên- entrevista, os repórteres precisam ficar
cia aos processos da Petrobras, ofere- atentos ao que digitam. Tudo pode
cendo, de forma democrática, opor- acabar exposto no Big Brother da In-
tunidade para a sociedade conhecer a ternet. Não é comum que profissio-
“
Companhia e os questionamentos nais tratem de assuntos de sua intimi-
feitos por meio da imprensa, na ínte- dade nos e-mails trocados com fontes,
gra e sem edição”, diz a empresa. mas essa seria uma exceção que, na
A estatal afirma que não tinha o visão do advogado, poderia impor
intuito de prejudicar o trabalho dos
jornalistas e por isso passou a evitar a
Não podemos limite à publicação das conversas.
“Isso ocorre principalmente com
antecipação da postagem. “O relacio-
namento da Petrobras com a impren-
concluir pelo relação ao conteúdo da mensagem.
Nesse sentido, temos o inciso X do
sa é pautado pela ética, comum a to-
dos os cidadãos, que devem ter acesso
descumprimento artigo 5º da Constituição Federal que
dispõe serem invioláveis a intimidade,
à informação. A Petrobras está divul-
gando as perguntas e respostas a par-
de preceito a vida privada, a honra e a imagem
das pessoas”, afirma Souza.
tir de zero hora do dia da publicação
das matérias, comprovando que nun-
constitucional A Petrobras se diz no direito de
publicar o conteúdo. “A companhia
ca quis prejudicar o trabalho dos jor-
nalistas, já que tem o objetivo comum
nem pelo crime tem liberdade para publicar a íntegra
das respostas que fornece aos veículos
de tornar as informações transparen- de violação de comunicação porque é fonte e de-
”
tes para a sociedade”, informou. tentora dos dados disponibilizados.
A publicação das perguntas dos No campo jurídico, especialistas con-
jornalistas gerou um debate inédito sultados reafirmam a legalidade de
na imprensa: a inviolabilidade dos e- Luiz Henrique Souza nossa decisão”, alega a empresa.
mails dos repórteres. Acostumados a Advogado na área de direito digital A bisbilhotagem comum ao
defender o sigilo das fontes, os jor- mundo das celebridades e dos parti-
nais cobraram proteção à sua corres- cipantes do Big Brother ainda é roti-
pondência. Segundo o advogado Luiz na distante da vida dos jornalistas,
Henrique Souza, especializado na mas ter seu trabalho cada vez mais
nova modalidade direito digital, a acompanhado pelo público virou ten-
Constituição Federal garante a invio- dência inevitável. E quem está acos-
labilidade do sigilo das correspon- tumado a cobrar transparência está
dências de uma forma geral, contra a tendo que se adaptar a ela. n
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Risco de publicação de notícias tendenciosas ou manipuladas
aumenta a responsabilidade dos jornalistas. Na busca rápida
por informação de qualidade, profissionais experientes
recomendam rigor na escolha das fontes e preocupação para
evitar erros que prejudiquem inocentes de modo irreparável
A REPUTAÇÃO AL
EM NOSSAS M
por Tatiana Moraes detido pela polícia e julgado. Os veí- parar na lista dos grandes vilões da
culos de comunicação divulgaram o informação sem fundamento. Este
n O médico Joaquim Ribeiro Filho, caso com alarde e seu nome ficou em caso veio se somar a outros, respon-
um dos maiores especialistas em evidência durante dias. Meses depois, sáveis por causar danos irreparáveis
transplante de fígado do país, foi acu- o médico provou sua inocência. Foi a pessoas envolvidas em noticiários
sado há um ano de ter montado um absolvido da acusação, tanto em um mentirosos. A qualidade da informa-
esquema fraudulento para furar a fila julgamento no Conselho Regional de ção foi para a lata do lixo. Analistas
única de pacientes à espera de trans- Medicina quanto em um processo na de comunicação entendem que o
plante no Hospital do Fundão, no 21ª Vara da Justiça Federal. desafio do jornalismo é se fazer in-
Rio de Janeiro. Por conta disso, foi A imprensa, mais uma vez, foi dispensável, não somente pelos “fu-
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17. 17
marcO aNTONiO Teixeira
LHEIA
MÃOS
ros”, mas pela apuração bem feita,
pela notícia divulgada sem erros e
que dispensa o sensacionalismo. A
busca da informação, componente
que nutre as redações, deve ter dire-
trizes éticas, de respeito ao próximo,
sob o risco de o jornalismo perder
“ Não existe jornal e emissora de
rádio ou TV na imprensa profissional
que não queira reparar erros
”
sua essência. É importante ter a
consciência de que o trabalho da im-
prensa pode interferir tanto para o Luiz Novaes, editor executivo de O Globo
Lide nº 56 JANEIRO A JUNHO DE 2009
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18. 18 capa
“
bem quanto para o mal na vida das com relação às fontes e evitar aquelas
pessoas e instituições. que só se preocupam em “turbinar”
as investigações e arranjar culpados.
O importante é CRUELDADE Rapidamente, sem provas concretas,
Outro caso de repercussão atingiu querem passar trabalhos adiante e se
confirmar a cruelmente a jovem Sabrina Aparecida destacar como servidores públicos
Marques Mendes, de 21 anos. Ela foi eficientes diante de seus superiores e
informação, apresentada à imprensa pela polícia até da própria imprensa.
como uma das pessoas que participa- Por esse motivo, uma agenda te-
mesmo que seja ram do incêndio de um ônibus, em lefônica com bons contatos ainda tem
ação comandada por traficantes no um valor inestimável em nosso meio.
curta. A qualidade bairro da Penha, no Rio de Janeiro. Ela sempre fará a diferença na hora
No incêndio, morreram 13 pessoas, de apurar casos polêmicos, cercados
deve prevalecer dentre elas uma criança de um ano. de versões contraditórias.
Além do noticiário que levou em
sobre a quantidade
”
conta apenas a versão da polícia, Sa- ‘BARRIGA’
brina passou 27 dias presa e viveu Principalmente num momento
uma experiência augustiante e pavo- em que a notícia ganha mais veloci-
rosa. Era ameaçada o tempo todo de dade pelo impulso de novas tecnolo-
Paulo Cabral
linchamento pelas outras prisioneiras gias, é indispensável conciliar rapidez
Correspondente da BBC
e quando saiu de lá soube que perde- com qualidade. Uma não pode se dis-
ra o emprego. Dias depois, compro- tanciar da outra sem colocar em risco
vou-se a sua inocência. a credibilidade. Paulo Cabral, corres-
Por que isso acontece? “Em sua pondente da BBC, diz que o jornalis-
essência, todas as infrações cometidas ta precisa ser cada vez mais cuidadoso
pelos meios de comunicação derivam e valorizar a informação confiável.
de apuração mal feita”, responde Luiz “Todo jornalista já errou, eu já
Antônio Novaes, editor executivo do errei. Vivemos sob pressão para noti-
jornal O Globo. ciar novidades. Mas o importante é
Esse é um caso para ser encarado que só divulguemos a informação
com aguçado senso crítico. As infor- confirmada, mesmo que esta seja cur-
mações transmitidas pela polícia nem ta. A qualidade deve prevalecer sobre
sempre são corretas. Nessas matérias, a quantidade”, ensina.
é comum a reprodução de versões de O caso da brasileira Paula Olivei-
agentes envolvidos na repressão e ra, que mora na Suíça, também é em-
também na investigação policial. Na- blemático e exigiu até a intervenção
da mais natural, pelo fato de esses da diplomacia do Itamaraty na histó-
policiais estarem na linha de frente ria. Ela apareceu com o corpo marca-
dos acontecimentos. Jornalistas mais do por cortes que teriam sido feitos
experientes, no entanto, recomendam por homens de um grupo nazista
atenção e coerência na apuração. com estilete. Disse que teve a gravidez
É fundamental ser previdente interrompida e acusou o grupo racis-
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“ As regras da
justiça comum
são capazes de
amparar as
pessoas que se
sintam ofendidas
por calúnia
Nilo Batista
estação de trem.
”
Advogado e professor universitário
ta de tê-la torturado perto de uma Para o deputado federal Miro Teixei-
ra, sempre haverá uma saída. “Há
blicada somente a partir de rigorosa
confirmação ou investigação. Não
A imprensa brasileira repercutiu erros, e como há! Mas se colocarmos pode sob nenhuma hipótese trans-
o caso com alarde e patriotismo equi- erros e acertos em uma balança, vere- formar-se em um espetáculo sensa-
vocado. Mais tarde, provou-se que ela mos que os erros são insignificantes cionalista para vender mais ou con-
se autoflagelara e não estava grávida. se considerarmos os benefícios con- quistar audiência.
Agora se sabe que em Zurique, local quistados pelo país e pela população É uma questão ética na qual de-
do ocorrido, nenhuma autoridade da com os acertos.” vem estar envolvidos todos os profis-
cidade foi entrevistada por brasileiro Além disso, erros podem ser cor- sionais de um veículo: desde o profis-
para detalhar a história até o momen- rigidos na edição seguinte, assim co- sional na “escuta”, repórteres, chefes
to do desmentido oficial pelas auto- mo as decisões judiciais podem ser de reportagem, passando por redato-
ridades suíças. anuladas nas instâncias superiores, res, subeditores e editores de área, até
Nesse caso, ficou em jogo a repu- garante Miro, que também é jorna- chegar aos postos da hieraquia supe-
tação de um país. O portal do Ob- lista e advogado. rior, como editores executivos e dire-
servatório da Imprensa classificou o Mas a força da imprensa é avas- tores de redação.
noticiário brasileiro como a maior saladora e não há como negar o vigor Para minimizar os erros de infor-
“barriga” de toda a história do jorna- de uma denúncia publicada em um mação, a solução também se encon-
lismo nacional. veículo de alcance nacional. As con- tra fora do âmbito jornalístico. “É
Erros e acertos, porém, fazem sequências serão sempre graves. Uma preciso que os jornalistas se conscien-
parte do nosso cotidiano profissional. denúncia deve ser esclarecida e pu- tizem de sua responsabilidade crimi-
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20. 20 capa
“
nal e que todos saibam que podem
“
responder por calúnia, ato ilícito e
até por precipitação de julgamento”,
ressalta Nilo Batista.
Uma agenda E há sempre uma maneira prática Há
de melhorar a relação mídia-entrevis-
com fontes bem tado-população. O diálogo com os personagens
responsáveis pelos veículos de comu-
informadas faz a nicação é sempre o melhor caminho. que se dizem
“Não existe jornal, canal de televisão
diferença na hora ou emissora de rádio na imprensa jornalistas e
profissional que não queira reparar
de apurar casos erros”, diz Luiz Novaes. construíram
Para ele, a imprensa comete abu-
polêmicos so quando não dá o direito de respos- fortunas com
ta em casos de calúnia, injúria ou
com versões difamação. Administrar com mais chantagens
”
eficiência esse direito de resposta é
contraditórias uma das receitas sugeridas por Miro
”
Teixeira para aperfeiçoar o trabalho
da imprensa. “Em alguns casos, a boa Miro Teixeira
Jornalista e advogado
informação está na resposta.”
Ainda sobre o caso do médico
Joaquim Ribeiro, o deputado consi-
dera importante que os veículos de
comunicação se mobilizem no senti- mo, que interferia diretamente na li-
do de realizar atos de desagravo ao berdade de imprensa”, atesta o jorna-
profissional e também para concreti- lista Luiz Novaes, editor-executivo do
zar ações de reparação de danos cau- jornal O Globo.
sados pelo noticiário mentiroso. A Segundo o deputado Miro Tei-
sugestão tem fundamento, mas é im- xeira (PDT-RJ), o caso do médico
provável que os meios de comunica- Joaquim Ribeiro serve de exemplo
ção se retratem publicamente. para provar que a existência de uma
lei de imprensa, que vigorava na épo-
MAIS LEIS? ca do “escândalo”, não assegura au-
Até ser derrubada pelo Supremo mento de responsabilidade nem coíbe
Tribunal Federal (STF), em abril, a erros de jornalistas, dos veículos de
Lei de Imprensa ditava as regras desse comunicação ou dos dois.
relacionamento no cotidiano nacio- Mas o tema é polêmico quando
nal. Imposta pela força da ditadura, se trata de saber se há necessidade de
hoje a lei não encontra defensores. uma nova lei de imprensa ou se o ar-
“Era um antigo retrato do autoritaris- cabouço jurídico brasileiro está capa-
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21. 21
mental discutir pontos da lei favorá-
veis ao trabalho jornalístico.
“Agora, o direito de sigilo da fon-
te passa a correr sério risco. Além dis-
so, considerava-se que o crime de
imprensa era praticado apenas pelo
autor do texto. Pelo regimento da jus-
tiça comum, houve uma mudança”,
assegura e destaca: “Os profissionais
da área perderam a proteção à liber-
dade de imprensa.”
Sua preocupação se fundamenta
no confronto entre liberdade de ex-
pressão e o direito a um julgamento
justo. Quanto ao capítulo das indeni-
zações, Miro Teixeira não vê motivo
para preocupação: “Um juiz deverá
ser justo e não determinará valores
além das possibilidades financeiras do
perdedor de uma ação.”
Para Novaes, a legislação em vi-
gor é suficiente para regulamentar o
trabalho da imprensa. Miro concor-
da. “Não precisamos de mais leis. O
Brasil tem lei de imprensa desde o
citado para julgar qualquer questão A Lei de Imprensa era decrépita Império. Antes da primeira Consti-
relacionada com a imprensa e o tra- por se referir a situações ultrapassa- tuição, a de 1824, conhecemos três.
balho de seus profissionais. Os erros das. Considerava, por exemplo, “in- Para todos os casos, existem a Cons-
acontecem, infelizmente, mas eles tolerável a propaganda de guerra e de tituição e os Códigos Penal e Civil.”
podem ser reparados, segundo o ad- processos de subversão da ordem pú- Os abusos e julgamentos precipi-
vogado Nilo Batista, comentando o blica e social”, além de prever pena de tados no passado recente foram co-
caso do médico. prisão para jornalistas por delito de metidos sob a vigência de uma lei de
“Esse profissional foi execrado, opinião e não admitir “prova de ver- imprensa, destaca.
duramente acusado, massacrado pela dade em casos de acusação contra o “Acredito na melhor convivência
imprensa, mas no final das contas presidente da República e integrantes entre a notícia e a verdade. O jorna-
conseguiu provar sua inocência. As do governo”. lista tem que ser um profissional da
regras da justiça comum são capazes A mesma lei assegurava, no en- verdade. Há personagens que se di-
de amparar as pessoas que se sintam tanto, o respeito ao sigilo das fontes e zem jornalistas e construíram fortu-
ofendidas por calúnia”, afirma Batis- informações recolhidas por jornalistas nas com chantagens. Normalmente,
ta, que é professor titular de Direito e também fixava teto para indeniza- têm seus próprios meios de comuni-
Penal da UFRJ e da Uerj e ex-secre- ções por danos morais. Por esse mo- cação. Não devem ser confundidos
tário de Justiça do Estado do Rio. tivo, Nilo Batista considera funda- com jornalistas.” n
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22. 22 FENAJprev
A APOSENTADORIA
ALBERTO JACOB FILHO
COMPLEMENTAR
DOS JORNALISTAS
Plano de previdência privada tem uma série de vantagens por
ser administrado pela Petros, uma entidade sem fins lucrativos
n Lançado no dia 10 de julho, no Rio sobre as movimentações de suas contas renda mensal. Já o resgate total do in-
de Janeiro, o FENAJprev é uma alter- no Plano. A partir dos 55 anos já é pos- vestimento pode ser feito a qualquer
nativa vantajosa para o jornalista inte- sível ter direito a uma renda, com uma instante sem prejuízo ao participante.
ressado em adquirir um Plano de Pre- contribuição mínima de cinco anos. Não há limite mínimo de idade para
vidência Complementar, independen- No momento da requisição do adesão ao Plano.
temente de ter registro em carteira ou benefício, 25% do valor do montante O participante também pode al-
de trabalhar como frila. acumulado no Plano podem ser resga- terar o valor das contribuições ou re-
Por ser administrado pela Petros tados de uma só vez. O restante será alizar aportes extras para aumentar o
“
(Fundação Petrobras de Seguridade So- utilizado para o pagamento de uma patrimônio, além de contratar cober-
cial), uma entidade sem fins lucrativos, tura extra para benefícios de risco,
o participante paga somente uma taxa como morte e invalidez. Esta moda-
de administração, que é inferior às pra- lidade é oferecida pela seguradora
ticadas pelos bancos e seguradoras.
Também pela infraestrutura instala-
A redução da taxa Mongeral, parceira da Petros.
Para aderir ao FENAJprev, basta
da e pelo volume de recursos adminis-
trados, a Petros tem possibilidade de
de administração ser associado ao Sindicato dos Jorna-
listas Profissionais do Município do
alcançar melhores resultados nos inves-
timentos e não cobra taxa anual sobre
de 6% para 4% Rio ou aos sindicatos dos estados de
Pernambuco, Paraná, Tocantins, Goi-
o patrimônio, como fazem bancos e
seguradoras de previdência aberta.
vai significar uma ás, Minas Gerais ou Espírito Santo.
O FENAJprev oferece mais van-
Para maior transparência, o FE-
NAJprev tem um Comitê Gestor
renda maior de tagens. Em breve a taxa de adminis-
tração, hoje estabelecida em 6%, será
composto por representantes dos jor- aposentadoria reduzida para 4%, índice bem abaixo
”
nalistas e por técnicos da Petros, in- dos estabelecidos no mercado. “Como
cumbido de acompanhar as questões o valor do benefício a receber é calcu-
de seguridade e dos investimentos. lado com base no patrimônio dos par-
O participante pode acompanhar Maurício França Rubens ticipantes, esta redução significa uma
de perto a gestão e recebe informações Diretor de Seguridade da Petros renda de aposentadoria maior”, anali-
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23. FENAJprev 23
Lançamento do FENAJprev no Rio: Sérgio Murillo, presidente da
Fenaj, discursa ao lado de Suzana Blass, presidente do SJPMRJ
sa o diretor de Seguridade da Petros, de contribuição e a projeção de renda mações podem ser obtidas ainda pelo
Maurício França Rubens. Também é para a sua aposentadoria. telefone 0800 025 35 45.
possível deduzir até 12% do total de Para se ter uma ideia, uma pessoa O FENAJprev surgiu de uma ini-
rendimentos anuais no momento da com 25 anos que opte por se aposen- ciativa do Sindicato carioca. As con-
declaração do Imposto de Renda. tar aos 65 anos e tenha contribuído versações para sua constituição tive-
A Petros administra planos insti- com 100 reais por mês, terá um saldo ram início em 2005 na gestão da di-
tuídos para outros conselhos de classe acumulado de R$ 396.608,47. Este retoria presidida por Aziz Filho, hoje
e sindicatos, como o Simeprev do valor, transformado em renda do Pla- secretário-geral do Sindicato.
Sindicato dos Médicos, o CRAPrev no, gera um benefício mensal de R$ O Plano foi encampado pela Fenaj
dos Conselhos de Administração e o 2.444,30. Essa simulação não consi- que passou a administrar a adesão de
CROPrev dos Conselhos de Odonto- dera contribuição para cobertura adi- outros sindicatos. A Petros, escolhida
logia, entre outros. cional para Renda de Aposentadoria para administrá-lo, encaminhou pro-
Congênere do FENAJprev, o por Invalidez e Pensão por Morte. cesso para a Secretaria de Previdência
CROprev obteve nos últimos três anos Vale lembrar que este é um exem- Complementar que o aprovou.
rendimentos superiores à poupança e plo ilustrativo em que foi utilizada Criada pela Petrobras há 39
ao CDI e bem acima de índices do uma rentabilidade anual de 9,0% pa- anos, a Petros é uma entidade de pre-
IPCA (veja tabela ao lado). Em maio ra simular os valores apresentados. O vidência fechada sem fins lucrativos.
deste ano, a rentabilidade das aplica- montante do patrimônio acumulado Tem um patrimônio de R$ 41 bi-
ções alcançou 1,09%, enquanto o e da renda dependerá de fatores como lhões, uma carteira de clientes com
CDI e a poupança mantiveram-se em valor das contribuições realizadas, 41 empresas, 47 entidades de classe e
0,77% e 0,57%, respectivamente. tempo de capitalização e rentabilida- cerca de 130 mil pessoas inscritas nos
O interessado em aderir ao FE- de alcançada no período. Mais infor- planos que administra. n
NAJprev deve acessar a página do
Sindicato dos Jornalistas Profissionais TABELA COMPARATIVA DE RENTABILIDADE
do Município do Rio de Janeiro na Período CROprev Poupança CDI IPCA
Internet – www.jornalistas.org.br –, 2006 15,71% 8,32% 15,03% 3,14%
no linque do Plano, onde também 2007 11,59% 7,71% 11,82% 4,46%
poderá fazer simulações sobre valores 2008 12,57% 7,90% 12,38% 5,90%
Lide nº 56 JANEIRO A JUNHO DE 2009
n n
24. 24 mídia
André Machado desaconselha
excesso de intimidade com leitor
Blogue:
você aInda vaI ter um
Fenômeno se espalha democraticamente na Internet e amplia
nova forma de comunicação, mais direta e próxima dos leitores
Lide nº 56 JANEIRO A JUNHO DE 2009
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25. 25
“
por Marlos Mendes com/blogs/andremachado/), especia-
lizado em segurança da informação,
n A Internet facilitou e acelerou o aces- no ar desde 2007, e dos blogues lite-
so ao consumo da informação, mas foi
o fenômeno dos blogues que efetiva-
Tento deixar rários Comentários e Versos do Cada-
falso e Cadafalso II, onde escreve po-
mente permitiu a qualquer cidadão
conectado produzi-la e divulgá-la em
claro o que está emas e pequenos contos desde 2001.
Pedro Doria, repórter especial e
grande escala. Nada de software com-
plicado ou linguagens de programação:
acontecendo no colunista do Estadão e blogueiro des-
de 2002, quando integrava a equipe
tudo se resume a acessar um site que
funciona como um processador de tex-
mundo e explicar da revista eletrônica No Mínimo,
acredita que não existem fórmulas
tos e publicar. De simples diários pes-
soais, os blogues evoluíram para publi-
melhor o que o prontas e aposta na experimentação.
“Tento deixar claro o que está acon-
cações pessoais ou coletivas contendo
informações, notícias, comentários e
jornal apenas tecendo no mundo e explicar melhor
o que o jornal apenas noticiou. Gosto
opiniões. E todo blogueiro passou a ter noticiou de pensar que o blogue pode também
”
um pouco de jornalista. ser uma leitura divertida, por vezes
Ante o sucesso da blogosfera, os inusitada, surpreendente, mais leve
veículos de comunicação não tarda- do que o pesado jornal que se folheia
ram em montar blogues para seus Cristina De Luca de manhã. Tenho liberdade para pu-
profissionais, criando canais alterna- Diretora do Gol Mobile blicar o que eu quiser”, explica o au-
tivos para os leitores. Para os jornalis- tor do Pedro Doria Weblog (http://
tas profissionais, o formato se impõe pedrodoria.com.br).
como um campo obrigatório de ex- Para não ser apenas mais um em
EVANDRO TEIXEIRA
ploração, repleto de desafios e opor- meio ao turbilhão de informações
tunidades, tanto na produção e divul- online, é preciso buscar diferenciais.
gação do conteúdo quanto no rela- “Como a informação virou commodi-
cionamento com o leitor. E, apesar de ty, a opinião faz a diferença. Os seus
ainda não haver regras sedimentadas leitores esperam a sua opinião sobre
para ser fazer um “blogue jornalísti- o que todo mundo está falando. Ou
co”, algumas tendências ganham for- você acrescenta algo novo ou perde a
ça no mercado. relevância. Você não precisa vestir a
Muitos jornalistas blogueiros camisa do veículo”, acredita Cristina
apontam a liberdade em relação aos De Luca, diretora de conteúdo da
padrões da “velha mídia” e o contato Gol Mobile, que foi editora dos sites
direto e próximo com os leitores co- Globo Online, Globo.com e O Dia
mo principais vantagens dos blogues. Online, e desde 2000 mantém um
“Ser mais pessoal e opinativo e apro- blogue de tecnologia, que já teve vá-
ximar você do leitor são as razões de rios nomes e endereços e hoje está em
ser do blogue. Mas sem excesso de www.webdeluca.com.
intimidade”, avalia André Machado, Autora do blogue Futebol &
repórter da revista e do site Digital, do Afins, Marluci Martins também apro-
Globo. Ele é autor do blogue Segu- veita o espaço para ser mais opinativa,
rança Digital (http://oglobo.globo. o que não pode fazer nas matérias pu-
Lide nº 56 JANEIRO A JUNHO DE 2009
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26. 26 mídia
blicadas no jornal. O desafio é separar
MÁRCIO MERCANTE
o que vai para o blogue e o que vai
para as páginas impressas. “É frus-
trante não poder dar no blogue uma
informação importante, mas o carro-
chefe é o jornal, que tem maior reper-
cussão. O blogue é mais uma brinca-
deira levada a sério”, diz.
Tão a sério que ela sempre leva
sua câmera digital a tiracolo e publica
comentários sobre o mundo da bola
mesmo nos dias de folga. “Tento atu-
alizar o blogue todos os dias porque é
isso que aproxima e mantém o leitor”,
“
acredita Marluci, que é subeditora do
Ataque, caderno de esportes do DIA.
Não há fórmulas tampouco para
o tratamento dado ao conteúdo onli-
ne e o impresso. André Machado co- É frustrante, mas a notícia importante
meçou o blogue de segurança da in-
formação para aproveitar pautas que vai para o jornal. O blogue é mais
não saíam no papel, o que hoje evita.
uma brincadeira levada a sério
”
“Às vezes, boto lá uma matéria
que saiu no impresso, mas de modo
geral separo as coisas porque na re-
vista Digital escrevo sobre temas va- Marluci Martins, de O Dia e do Futebol & Afins
riados, não apenas segurança”, conta.
O blogue também atualiza temas “Muitas vezes coloco a matéria no intensa e muitas vezes tensa.
obrigatórios como alertas sobre ata- site e dou um post com o linque para “Você acaba aprendendo a lidar
ques de vírus e novos golpes de a matéria, ou faço um opinativo com- com o público. Aquela distância de
phishing scam (quando o internauta plementar. Nas matérias jornalísticas, respeito entre o jornalista e o leitor,
é induzido a clicar num linque e, o tom tem que ser mais neutro. No que normalmente existe, desaparece
sem querer, instala um código mali- blogue, eu posso me espalhar”, diz o por completo. Os leitores às vezes
cioso em seu computador). crítico musical. são carinhosos. Noutras, agressivos
Pedro Doria considera que a inte- Se discussão é o que não pacas. E estão constantemente
gração ainda é válida. “Costumo tra- falta nos veículos online, questionando o jornalista”, con-
zer matérias publicadas no impresso nos blogues ela fica ainda ta Pedro Doria.
para a discussão no blogue. No início mais intensa já que o leitor André Machado também
a discussão me incomodava. Hoje, se sente ainda mais próxi- reclama da agressividade de al-
sinto falta dela no impresso”, avalia. mo do autor, e ambos guns leitores, principalmente
Jamari França, autor do Jam Sessions formam uma comunida-
(http://oglobo.globo.com/blogs/jama- de unida por interes- Pedro Doria é
ri) e setorista de música há 23 anos, ses comuns. constantemente
também busca harmonizar as mídias. A relação é questionado
Lide nº 56 JANEIRO A JUNHO DE 2009
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