SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 2
[Type the document title]


Contra - exemplos de Gettier ( artigo publicado em 1963 « a crença verdadeira
justificada é conhecimento?»
Imaginemos que
O Miguel tem boas razões para acreditar que quem vai conseguir o emprego é a Joana e
não ele e que viu há pouco que a Joana tem 10 moedas no bolso
Deste modo o Miguel tem uma crença justificada na seguinte proposição:
A- A Joana vai conseguir o emprego e a Joana tem 10 moedas no bolso
Tomando esta proposição (premissa) como verdadeira, Miguel infere (deduz) a seguinte
conclusão:
B. A pessoa que vai conseguir o emprego tem 10 moedas no bolso
Dado que Miguel tem uma crença justificada em A e infere correctamente B a partir
de A, podemos dizer que tem também uma crença justificada em B
Mas imaginemos que
    quem acaba por conseguir o emprego é o Miguel e não a Joana este facto faz com
    que a proposição A seja falsa
E
que o Miguel, ainda que o não saiba, tem também 10 moedas no bolso
Então
Vimos que Miguel tem uma crença justificada em Be afinal esta proposição é
verdadeira
Mas, a verdade é que Miguel não sabe que a pessoa que vai conseguir o emprego tem
10 moedas no bolso
Pois o que torna a proposição B verdadeira são os factos:
    de ele vir a obter o emprego (e não a Joana)
    e de ele ter 10 moedas no bolso,
                      embora Miguel ignore completamente estes factos É por mero
                      acaso que Miguel acaba por ter uma crença justificada em B
Os contra-exemplos de Gettier ao porem em causa as 3 condições tradicionalmente
dadas para garantir o conhecimento verdadeiro, vêm colocar um problema:
Se para existir conhecimento não é suficiente que exista uma crença verdadeira
justificada, o mais será necessário para garantir o conhecimento?


     1   ESCOLA SECUNDÁRIA RAINHA D. LEONOR                           Ano Lectivo 2012/2013
         FILOSOFIA               11ºANO - Turmas 1ª, 4ª e 5ª        Profª. Manuela Bastos
[Type the document title]

Podemos alegar que a crença do Miguel (e toda e qualquer crença) só estaria
adequadamente justificada se estivesse apoiada em razões tão fortes, que não existisse a
menor hipótese / dúvida de ela ser falsa
Assim diríamos que a crença de Miguel na proposição A não estaria justificada, porque
ele não poderia ter a certeza absoluta de que Joana viria a conseguir o emprego.
Mas será esta exigência de certeza absoluta razoável?
Ora, esta forma de evitar os contra-exemplos de Gettier é insatisfatória na medida em
que exige que para uma crença estar justificada tem de excluir toda a possibilidade de
erro, ou seja tem de estar infalivelmente justificada
A aceitação desta tese, esta teria como consequência termos de admitir que quase
nenhuma das nossas crenças estaria justificada, uma vez que não é completamente
impossível que muitos dos nossos conhecimentos (em que acreditamos), por exemplo
relativos ao nosso sistema solar e ao universo, sejam falsos.
Como resolver o problema?
Teremos que admitir que uma crença pode estar justificada e mesmo assim ser falsa, o
que é o mesmo que reconhecer que podemos ter crenças falivelmente justificadas.




     2   ESCOLA SECUNDÁRIA RAINHA D. LEONOR                           Ano Lectivo 2012/2013
         FILOSOFIA               11ºANO - Turmas 1ª, 4ª e 5ª        Profª. Manuela Bastos

Mais conteúdo relacionado

Destaque (16)

Tipos de conhecimento
Tipos de conhecimentoTipos de conhecimento
Tipos de conhecimento
 
Resumos filosofia 11
Resumos filosofia 11Resumos filosofia 11
Resumos filosofia 11
 
Crença verdadeira justificada - filosofia
Crença verdadeira justificada - filosofiaCrença verdadeira justificada - filosofia
Crença verdadeira justificada - filosofia
 
Descartes
DescartesDescartes
Descartes
 
O Teeteto de Platão e a Apologia de Sócrates
O Teeteto de Platão e a Apologia de SócratesO Teeteto de Platão e a Apologia de Sócrates
O Teeteto de Platão e a Apologia de Sócrates
 
Estrutura do Acto de Conhecer I
Estrutura do Acto de Conhecer IEstrutura do Acto de Conhecer I
Estrutura do Acto de Conhecer I
 
Ft 11º arg
Ft   11º argFt   11º arg
Ft 11º arg
 
Exercícios Filsofia
Exercícios Filsofia Exercícios Filsofia
Exercícios Filsofia
 
T 2003 teste de avaliação - 11º ano - conhecimento científico
T 2003   teste de avaliação - 11º ano - conhecimento científicoT 2003   teste de avaliação - 11º ano - conhecimento científico
T 2003 teste de avaliação - 11º ano - conhecimento científico
 
Descartes - Trab grupo III
Descartes - Trab grupo IIIDescartes - Trab grupo III
Descartes - Trab grupo III
 
René Descartes
René DescartesRené Descartes
René Descartes
 
Filosofia e Conhecimento 1
Filosofia e Conhecimento 1Filosofia e Conhecimento 1
Filosofia e Conhecimento 1
 
Teorias Explicativas do Conhecimento - Descartes
Teorias Explicativas do Conhecimento - DescartesTeorias Explicativas do Conhecimento - Descartes
Teorias Explicativas do Conhecimento - Descartes
 
Teoria Do Conhecimento
Teoria Do ConhecimentoTeoria Do Conhecimento
Teoria Do Conhecimento
 
Senso comum x conhecimento científico
Senso comum x conhecimento científicoSenso comum x conhecimento científico
Senso comum x conhecimento científico
 
Descartes
DescartesDescartes
Descartes
 

Gettier

  • 1. [Type the document title] Contra - exemplos de Gettier ( artigo publicado em 1963 « a crença verdadeira justificada é conhecimento?» Imaginemos que O Miguel tem boas razões para acreditar que quem vai conseguir o emprego é a Joana e não ele e que viu há pouco que a Joana tem 10 moedas no bolso Deste modo o Miguel tem uma crença justificada na seguinte proposição: A- A Joana vai conseguir o emprego e a Joana tem 10 moedas no bolso Tomando esta proposição (premissa) como verdadeira, Miguel infere (deduz) a seguinte conclusão: B. A pessoa que vai conseguir o emprego tem 10 moedas no bolso Dado que Miguel tem uma crença justificada em A e infere correctamente B a partir de A, podemos dizer que tem também uma crença justificada em B Mas imaginemos que quem acaba por conseguir o emprego é o Miguel e não a Joana este facto faz com que a proposição A seja falsa E que o Miguel, ainda que o não saiba, tem também 10 moedas no bolso Então Vimos que Miguel tem uma crença justificada em Be afinal esta proposição é verdadeira Mas, a verdade é que Miguel não sabe que a pessoa que vai conseguir o emprego tem 10 moedas no bolso Pois o que torna a proposição B verdadeira são os factos: de ele vir a obter o emprego (e não a Joana) e de ele ter 10 moedas no bolso, embora Miguel ignore completamente estes factos É por mero acaso que Miguel acaba por ter uma crença justificada em B Os contra-exemplos de Gettier ao porem em causa as 3 condições tradicionalmente dadas para garantir o conhecimento verdadeiro, vêm colocar um problema: Se para existir conhecimento não é suficiente que exista uma crença verdadeira justificada, o mais será necessário para garantir o conhecimento? 1 ESCOLA SECUNDÁRIA RAINHA D. LEONOR Ano Lectivo 2012/2013 FILOSOFIA 11ºANO - Turmas 1ª, 4ª e 5ª Profª. Manuela Bastos
  • 2. [Type the document title] Podemos alegar que a crença do Miguel (e toda e qualquer crença) só estaria adequadamente justificada se estivesse apoiada em razões tão fortes, que não existisse a menor hipótese / dúvida de ela ser falsa Assim diríamos que a crença de Miguel na proposição A não estaria justificada, porque ele não poderia ter a certeza absoluta de que Joana viria a conseguir o emprego. Mas será esta exigência de certeza absoluta razoável? Ora, esta forma de evitar os contra-exemplos de Gettier é insatisfatória na medida em que exige que para uma crença estar justificada tem de excluir toda a possibilidade de erro, ou seja tem de estar infalivelmente justificada A aceitação desta tese, esta teria como consequência termos de admitir que quase nenhuma das nossas crenças estaria justificada, uma vez que não é completamente impossível que muitos dos nossos conhecimentos (em que acreditamos), por exemplo relativos ao nosso sistema solar e ao universo, sejam falsos. Como resolver o problema? Teremos que admitir que uma crença pode estar justificada e mesmo assim ser falsa, o que é o mesmo que reconhecer que podemos ter crenças falivelmente justificadas. 2 ESCOLA SECUNDÁRIA RAINHA D. LEONOR Ano Lectivo 2012/2013 FILOSOFIA 11ºANO - Turmas 1ª, 4ª e 5ª Profª. Manuela Bastos