SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 3
Baixar para ler offline
16- SPORTING 3866
“APRENDI A JOGAR COM ATLETAS MAIS ALTOS, MAIS
FORTES E MAIS RÁPIDOS”
ENTREVISTA TANNER OMLID
Aos28anos,TannerOmlidjogabasquetebolnoSportingClubedePortugal,ondechegouem2021provenientedoImortalBC.Antesdisso,actuou
pelos espanhóis do CB Morón e pelas equipas universitárias dos Army Black Knights (US Military Academy) e dos Western Oregon University
Wolves, ambas dos Estados Unidos da América. Antes disso, contudo, o norte-americano era um atleta verdadeiramente completo. No ensino
secundário, praticou basquetebol, beisebol, futebol americano e atletismo, tendo-se destacado em todas − foi inclusive capitão em cada uma delas.
Em entrevista ao Jornal Sporting, falou sobre esse percurso de desportista e também sobre a primeira época em Alvalade.
Texto: Luís Santos Castelo Fotografia: Army Black Knights, João Pedro Morais, José Lorvão
SPORTING 3866-17
Podemos dizer que nasceu para ser um atleta. Como
começou toda a relação com o desporto?
A minha mãe foi atleta universitária e o meu pai, se ti-
vesse levado as notas mais a sério, também teria sido.
Comecei a jogar basquetebol sozinho quando tinha
cerca de três anos. Comecei a jogar a um nível compe-
titivo no terceiro ano, com mais ou menos oito anos,
mas treinava com o meu irmão mais velho, que é dois
anos mais velho do que eu. Dois anos para uma criança
é uma diferença grande. O meu pai era o meu treina-
dor de basquetebol e comecei a jogar futebol americano
a partir dos dez anos. Aos poucos, fui jogando futebol
americano no Outono, basquetebol no Inverno e beise-
bol na Primavera. Depois, pratiquei atletismo, com foco
nas disciplinas de salto e de velocidade. Gastava muito
tempo a fazer desporto, fosse o que fosse. Era a minha
forma de me divertir.
Era algo natural.
Sim, era natural. Tinha uma professora de educação
física, Meg Greiner, que ganhou vários prémios e que
nos motivava. Treinava e aprendi a jogar com atletas
mais altos, mais fortes e mais rápidos. Atingi a pu-
berdade tarde e de um momento para o outro, tendo
crescido muito. Nunca me foquei no basquetebol até
ir para a academia militar, quando passei a jogar ape-
nas basquetebol e comecei a desenvolver as minhas
habilidades. Penso até que sou melhor no futebol
americano do que no basquetebol, mas gosto mais de
treinar basquetebol do que futebol americano. Fute-
bol americano pode ser duro e à medida que a tem-
porada avança, o tempo fica pior [risos]. Eu gostava,
mas sabia que, mais à frente, os atletas iam ser maio-
res e não ia ser tão dominante e acabei por escolher
o basquetebol.
No ensino secundário, jogou em quatro modalidades
e foi capitão em todas. Como funcionava tudo?
No futebol americano, há o ataque e a defesa. Eu era
quarterback e acaba por ser o líder da equipa. Tive a
oportunidade de suceder a um excelente quarterback
que jogou a um belo nível. Aprendi com ele e ganhei ca-
pacidades de liderança. Foi a primeira vez que me des-
taquei. No basquetebol, era algo fácil ser o líder porque
era o melhor jogador em campo. No beisebol, não era
o melhor jogador, mas como era bom nas outras duas
modalidades as pessoas respeitavam-me. Como funcio-
nava? Liderava pelo exemplo. Chegava mais cedo, saía
tarde, cumprimentava toda a gente e certificava-me que
todos estavam bem.
Calculo que o seu dia fosse, tirando as aulas, dedica-
do inteiramente a desporto.
Das15h00atéàs19h00,erasódesporto.Trêsouquatroho-
ras por dias eram dedicadas a desporto e quando chegava
a casa continuava a pensar nisso. Hoje, ainda estou a jogar.
Tanto no ensino secundário como na universidade,
era um jogador em grande destaque nas equipas em
que jogou. Quando percebeu que podia chegar a
profissional?
Estava no penúltimo ano na Western Oregon University
e era um fim-de-semana em que os antigos estudantes
visitavam a universidade. Houve um jogo e consegui um
triplo-duplo, com dois dígitos em pontos, ressaltos e rou-
bos de bola. Fiquei a duas assistências dos dois dígitos.
Um antigo jogador chamado Robert Day, que chegou a
jogar no Brasil, viu-me e perguntou-me se queria jogar
no estrangeiro. Tinha 22 ou 23 anos e estive para ir, mas
casei-me nesse Verão e isso deu-me benefícios na bolsa
universitária. Continuei mais um ano e decidi tornar-me
profissional. Mas o meu plano de futuro é ser professor.
“O meu plano de futuro é ser professor de
matemática do ensino básico” >>
“Podemos ir a Albufeira vencer a Taça de Portugal e acabar os play-offs da Liga na melhor forma”, garantiu o camisola 11 dos Leões
18- SPORTING 3866
Que tipo de professor?
Professor de matemática do ensino básico. Acredito
que a matemática que se aprende nesse período é muito
aplicável à vida. A minha licenciatura foi em Matemáti-
ca e Educação, pelo que é o caminho natural.
Depois do ensino secundário, esteve na US Military
Academy. Como foi essa experiência? Gostou e foi o
que esperava?
Sinceramente, só fui para lá porque era a minha única
oferta para a primeira divisão [de basquetebol universi-
tário], mas deixou-me pronto para o resto da vida. Esti-
ve numa espécie de ‘ano zero’ e foi o ano mais divertido.
Fiz amigos para a vida. Até estou a tentar arranjar um
clube em Portugal para um deles. Foi uma experiência
que me fez aprender muito sobre mim mesmo.
Como era a sua vida enquanto criança e adolescente
no Oregon?
Era óptima. Tenho um irmão mais velho, outro mais
novo e uma irmã mais nova. Vivíamos numa boa casa
nos limites da cidade. O piso de cima era a zona dos
miúdos, brincávamos a toda a hora. Na nossa zona,
chove a maioria do ano e aprendemos a brincar à chuva.
O meu pai montou um sistema de luzes para jogarmos
basquetebol lá fora à noite. A nossa vida girava à volta
de desporto e de ir ao Alasca no Verão. Íamos para o
meio do nada e era um momento alto do meu ano.
Tudo, portanto, muito diferente de 2018, quando se
mudou para Morón de la Frontera, uma pequena ci‑
dade no sul de Espanha. Como foi essa primeira ex‑
periência no estrangeiro?
Foi um ano difícil para mim porque a minha mulher
só esteve lá nos primeiros meses. Muito pouca gente
falava inglês, o que melhorou bastante o meu espa-
nhol. Foi quase um choque cultural perceber a impor-
tância que eles davam a passar tempo juntos fora do
basquetebol. Não tínhamos treinos às quartas-feiras
e juntávamo-nos todos no bar do dono [do clube CB
Morón]. O meu colega norte-americano já estava no
clube há mais tempo e ensinou-me muito sobre a cul-
tura espanhola. Passei muito tempo com videojogos.
O facto de ser uma cidade pequena fez-me perceber
quão grande é o Mundo. No início, era muito difícil
não perceber a língua. Mas eram excelentes pessoas e
o ano valeu a pena.
Imagino que esse ano tenha sido uma boa prepara‑
ção para a mudança para Portugal, para jogar nos al‑
garvios do Imortal BC. Foram dois anos muito bons
para si.
Sim. Já tinha jogado contra o Imortal BC ao serviço do
CB Morón em jogos de preparação. Gostaram de mim
e contrataram-me para o ano seguinte. Acolheram-me
como um deles. Não foi um choque cultural tão grande,
até porque todos falavam bem inglês. Era um clube com
boas condições. Comíamos bem, viajávamos bem. Um
clube muito profissional.
“A maior adaptação foi a competitividade
nos treinos. (...) Aqui, todos os portugueses
são muito bons”
Como foram os primeiros meses e a adaptação ao
Sporting CP?
A maior adaptação foi a competitividade nos treinos.
Noutros clubes há cinco americanos e dois ou três joga-
dores portugueses bons. Aqui, todos os portugueses são
muito bons. Às vezes, temos treinos de titulares contra
suplentes e, por vezes, os suplentes ganham. O treina-
dor é mais intenso e acabamos por treinar de forma
mais intensa do que jogamos. Os jogos são bem mais
fáceis do que os treinos.
Já conhecia o Travante Williams e o Micah Downs.
Como e de onde?
Já joguei contra o Travante Williams e a equipa dele ga-
nhou. Fiquei a perguntar quem era aquele tipo que esta-
va a marcar contra nós. O jogo estava renhido e ele en-
cestou na minha cara. O meu treinador ficou chateado
comigo. É um grande jogador, uma grande mais-valia
e um excelente colega. Sobre o Micah, temos o mesmo
agente. Ele é de Seattle e nos Verões eu treino lá com ele.
É mais um grande jogador.
Assinar pelo Sporting CP foi a maior e mais impor‑
tante decisão da sua carreira?
Até ver, sem dúvida. Tenho gostado muito. Já ganhámos
a Supertaça e a Taça Hugo dos Santos e queremos mais.
“Vouaosjogosdevoleiboledehóqueiempat‑
ins.Tambémandebol,quetemjogosentusias‑
mantes.Aindanãofuiaofutsal,masvou”
Como tem sido representar um Clube com tantas
modalidades, sendo que se cruza diariamente com
várias equipas?
Sinto-me como se estivesse na universidade. Falamos
uns com os outros, seguimo-nos no Instagram, motiva-
mo-nos. A equipa de hóquei em patins costuma treinar
antes de nós e tento chegar mais cedo para ver um pou-
co. É uma modalidade diferente para mim, nunca tinha
visto. Vou aos jogos de voleibol e de hóquei em patins.
Também andebol, que tem jogos entusiasmantes. Ainda
não fui ao futsal, mas vou. É tal e qual a universidade,
com camaradagem. Todos ao serviço do Sporting CP.
Até onde pensa que o Sporting CP pode ir?
Podemos ir a Albufeira vencer a Taça de Portugal e aca-
bar os play-offs da Liga na melhor forma. Estou confian-
te que a minha equipa possa aparecer nos momentos
decisivos. Nos últimos jogos contra o SL Benfica, ten-
támos jogar a um nível alto sem o [lesionado] Travan-
te, que é um dos melhores – ou o melhor – nesta Liga.
Estamos a aprender a jogar ao mais alto nível sem ele, o
que vai ser bom para nós.
O que pensa dos Sportinguistas? Tem uma boa rela‑
ção com eles?
Aprecio muito que saibam o meu nome. Saio do Pa-
vilhão João Rocha e as pessoas pedem-me para tirar
fotografias, perguntam-me como estou e falam comigo
sobre basquetebol. Gosto muito disso.
>>
Tanner Omlid está na primeira temporada de verde e branco

Mais conteúdo relacionado

Destaque

How Race, Age and Gender Shape Attitudes Towards Mental Health
How Race, Age and Gender Shape Attitudes Towards Mental HealthHow Race, Age and Gender Shape Attitudes Towards Mental Health
How Race, Age and Gender Shape Attitudes Towards Mental Health
ThinkNow
 
Social Media Marketing Trends 2024 // The Global Indie Insights
Social Media Marketing Trends 2024 // The Global Indie InsightsSocial Media Marketing Trends 2024 // The Global Indie Insights
Social Media Marketing Trends 2024 // The Global Indie Insights
Kurio // The Social Media Age(ncy)
 

Destaque (20)

2024 State of Marketing Report – by Hubspot
2024 State of Marketing Report – by Hubspot2024 State of Marketing Report – by Hubspot
2024 State of Marketing Report – by Hubspot
 
Everything You Need To Know About ChatGPT
Everything You Need To Know About ChatGPTEverything You Need To Know About ChatGPT
Everything You Need To Know About ChatGPT
 
Product Design Trends in 2024 | Teenage Engineerings
Product Design Trends in 2024 | Teenage EngineeringsProduct Design Trends in 2024 | Teenage Engineerings
Product Design Trends in 2024 | Teenage Engineerings
 
How Race, Age and Gender Shape Attitudes Towards Mental Health
How Race, Age and Gender Shape Attitudes Towards Mental HealthHow Race, Age and Gender Shape Attitudes Towards Mental Health
How Race, Age and Gender Shape Attitudes Towards Mental Health
 
AI Trends in Creative Operations 2024 by Artwork Flow.pdf
AI Trends in Creative Operations 2024 by Artwork Flow.pdfAI Trends in Creative Operations 2024 by Artwork Flow.pdf
AI Trends in Creative Operations 2024 by Artwork Flow.pdf
 
Skeleton Culture Code
Skeleton Culture CodeSkeleton Culture Code
Skeleton Culture Code
 
PEPSICO Presentation to CAGNY Conference Feb 2024
PEPSICO Presentation to CAGNY Conference Feb 2024PEPSICO Presentation to CAGNY Conference Feb 2024
PEPSICO Presentation to CAGNY Conference Feb 2024
 
Content Methodology: A Best Practices Report (Webinar)
Content Methodology: A Best Practices Report (Webinar)Content Methodology: A Best Practices Report (Webinar)
Content Methodology: A Best Practices Report (Webinar)
 
How to Prepare For a Successful Job Search for 2024
How to Prepare For a Successful Job Search for 2024How to Prepare For a Successful Job Search for 2024
How to Prepare For a Successful Job Search for 2024
 
Social Media Marketing Trends 2024 // The Global Indie Insights
Social Media Marketing Trends 2024 // The Global Indie InsightsSocial Media Marketing Trends 2024 // The Global Indie Insights
Social Media Marketing Trends 2024 // The Global Indie Insights
 
Trends In Paid Search: Navigating The Digital Landscape In 2024
Trends In Paid Search: Navigating The Digital Landscape In 2024Trends In Paid Search: Navigating The Digital Landscape In 2024
Trends In Paid Search: Navigating The Digital Landscape In 2024
 
5 Public speaking tips from TED - Visualized summary
5 Public speaking tips from TED - Visualized summary5 Public speaking tips from TED - Visualized summary
5 Public speaking tips from TED - Visualized summary
 
ChatGPT and the Future of Work - Clark Boyd
ChatGPT and the Future of Work - Clark Boyd ChatGPT and the Future of Work - Clark Boyd
ChatGPT and the Future of Work - Clark Boyd
 
Getting into the tech field. what next
Getting into the tech field. what next Getting into the tech field. what next
Getting into the tech field. what next
 
Google's Just Not That Into You: Understanding Core Updates & Search Intent
Google's Just Not That Into You: Understanding Core Updates & Search IntentGoogle's Just Not That Into You: Understanding Core Updates & Search Intent
Google's Just Not That Into You: Understanding Core Updates & Search Intent
 
How to have difficult conversations
How to have difficult conversations How to have difficult conversations
How to have difficult conversations
 
Introduction to Data Science
Introduction to Data ScienceIntroduction to Data Science
Introduction to Data Science
 
Time Management & Productivity - Best Practices
Time Management & Productivity -  Best PracticesTime Management & Productivity -  Best Practices
Time Management & Productivity - Best Practices
 
The six step guide to practical project management
The six step guide to practical project managementThe six step guide to practical project management
The six step guide to practical project management
 
Beginners Guide to TikTok for Search - Rachel Pearson - We are Tilt __ Bright...
Beginners Guide to TikTok for Search - Rachel Pearson - We are Tilt __ Bright...Beginners Guide to TikTok for Search - Rachel Pearson - We are Tilt __ Bright...
Beginners Guide to TikTok for Search - Rachel Pearson - We are Tilt __ Bright...
 

2022-04-07 Entrevista Tanner Omlid.pdf

  • 1. 16- SPORTING 3866 “APRENDI A JOGAR COM ATLETAS MAIS ALTOS, MAIS FORTES E MAIS RÁPIDOS” ENTREVISTA TANNER OMLID Aos28anos,TannerOmlidjogabasquetebolnoSportingClubedePortugal,ondechegouem2021provenientedoImortalBC.Antesdisso,actuou pelos espanhóis do CB Morón e pelas equipas universitárias dos Army Black Knights (US Military Academy) e dos Western Oregon University Wolves, ambas dos Estados Unidos da América. Antes disso, contudo, o norte-americano era um atleta verdadeiramente completo. No ensino secundário, praticou basquetebol, beisebol, futebol americano e atletismo, tendo-se destacado em todas − foi inclusive capitão em cada uma delas. Em entrevista ao Jornal Sporting, falou sobre esse percurso de desportista e também sobre a primeira época em Alvalade. Texto: Luís Santos Castelo Fotografia: Army Black Knights, João Pedro Morais, José Lorvão
  • 2. SPORTING 3866-17 Podemos dizer que nasceu para ser um atleta. Como começou toda a relação com o desporto? A minha mãe foi atleta universitária e o meu pai, se ti- vesse levado as notas mais a sério, também teria sido. Comecei a jogar basquetebol sozinho quando tinha cerca de três anos. Comecei a jogar a um nível compe- titivo no terceiro ano, com mais ou menos oito anos, mas treinava com o meu irmão mais velho, que é dois anos mais velho do que eu. Dois anos para uma criança é uma diferença grande. O meu pai era o meu treina- dor de basquetebol e comecei a jogar futebol americano a partir dos dez anos. Aos poucos, fui jogando futebol americano no Outono, basquetebol no Inverno e beise- bol na Primavera. Depois, pratiquei atletismo, com foco nas disciplinas de salto e de velocidade. Gastava muito tempo a fazer desporto, fosse o que fosse. Era a minha forma de me divertir. Era algo natural. Sim, era natural. Tinha uma professora de educação física, Meg Greiner, que ganhou vários prémios e que nos motivava. Treinava e aprendi a jogar com atletas mais altos, mais fortes e mais rápidos. Atingi a pu- berdade tarde e de um momento para o outro, tendo crescido muito. Nunca me foquei no basquetebol até ir para a academia militar, quando passei a jogar ape- nas basquetebol e comecei a desenvolver as minhas habilidades. Penso até que sou melhor no futebol americano do que no basquetebol, mas gosto mais de treinar basquetebol do que futebol americano. Fute- bol americano pode ser duro e à medida que a tem- porada avança, o tempo fica pior [risos]. Eu gostava, mas sabia que, mais à frente, os atletas iam ser maio- res e não ia ser tão dominante e acabei por escolher o basquetebol. No ensino secundário, jogou em quatro modalidades e foi capitão em todas. Como funcionava tudo? No futebol americano, há o ataque e a defesa. Eu era quarterback e acaba por ser o líder da equipa. Tive a oportunidade de suceder a um excelente quarterback que jogou a um belo nível. Aprendi com ele e ganhei ca- pacidades de liderança. Foi a primeira vez que me des- taquei. No basquetebol, era algo fácil ser o líder porque era o melhor jogador em campo. No beisebol, não era o melhor jogador, mas como era bom nas outras duas modalidades as pessoas respeitavam-me. Como funcio- nava? Liderava pelo exemplo. Chegava mais cedo, saía tarde, cumprimentava toda a gente e certificava-me que todos estavam bem. Calculo que o seu dia fosse, tirando as aulas, dedica- do inteiramente a desporto. Das15h00atéàs19h00,erasódesporto.Trêsouquatroho- ras por dias eram dedicadas a desporto e quando chegava a casa continuava a pensar nisso. Hoje, ainda estou a jogar. Tanto no ensino secundário como na universidade, era um jogador em grande destaque nas equipas em que jogou. Quando percebeu que podia chegar a profissional? Estava no penúltimo ano na Western Oregon University e era um fim-de-semana em que os antigos estudantes visitavam a universidade. Houve um jogo e consegui um triplo-duplo, com dois dígitos em pontos, ressaltos e rou- bos de bola. Fiquei a duas assistências dos dois dígitos. Um antigo jogador chamado Robert Day, que chegou a jogar no Brasil, viu-me e perguntou-me se queria jogar no estrangeiro. Tinha 22 ou 23 anos e estive para ir, mas casei-me nesse Verão e isso deu-me benefícios na bolsa universitária. Continuei mais um ano e decidi tornar-me profissional. Mas o meu plano de futuro é ser professor. “O meu plano de futuro é ser professor de matemática do ensino básico” >> “Podemos ir a Albufeira vencer a Taça de Portugal e acabar os play-offs da Liga na melhor forma”, garantiu o camisola 11 dos Leões
  • 3. 18- SPORTING 3866 Que tipo de professor? Professor de matemática do ensino básico. Acredito que a matemática que se aprende nesse período é muito aplicável à vida. A minha licenciatura foi em Matemáti- ca e Educação, pelo que é o caminho natural. Depois do ensino secundário, esteve na US Military Academy. Como foi essa experiência? Gostou e foi o que esperava? Sinceramente, só fui para lá porque era a minha única oferta para a primeira divisão [de basquetebol universi- tário], mas deixou-me pronto para o resto da vida. Esti- ve numa espécie de ‘ano zero’ e foi o ano mais divertido. Fiz amigos para a vida. Até estou a tentar arranjar um clube em Portugal para um deles. Foi uma experiência que me fez aprender muito sobre mim mesmo. Como era a sua vida enquanto criança e adolescente no Oregon? Era óptima. Tenho um irmão mais velho, outro mais novo e uma irmã mais nova. Vivíamos numa boa casa nos limites da cidade. O piso de cima era a zona dos miúdos, brincávamos a toda a hora. Na nossa zona, chove a maioria do ano e aprendemos a brincar à chuva. O meu pai montou um sistema de luzes para jogarmos basquetebol lá fora à noite. A nossa vida girava à volta de desporto e de ir ao Alasca no Verão. Íamos para o meio do nada e era um momento alto do meu ano. Tudo, portanto, muito diferente de 2018, quando se mudou para Morón de la Frontera, uma pequena ci‑ dade no sul de Espanha. Como foi essa primeira ex‑ periência no estrangeiro? Foi um ano difícil para mim porque a minha mulher só esteve lá nos primeiros meses. Muito pouca gente falava inglês, o que melhorou bastante o meu espa- nhol. Foi quase um choque cultural perceber a impor- tância que eles davam a passar tempo juntos fora do basquetebol. Não tínhamos treinos às quartas-feiras e juntávamo-nos todos no bar do dono [do clube CB Morón]. O meu colega norte-americano já estava no clube há mais tempo e ensinou-me muito sobre a cul- tura espanhola. Passei muito tempo com videojogos. O facto de ser uma cidade pequena fez-me perceber quão grande é o Mundo. No início, era muito difícil não perceber a língua. Mas eram excelentes pessoas e o ano valeu a pena. Imagino que esse ano tenha sido uma boa prepara‑ ção para a mudança para Portugal, para jogar nos al‑ garvios do Imortal BC. Foram dois anos muito bons para si. Sim. Já tinha jogado contra o Imortal BC ao serviço do CB Morón em jogos de preparação. Gostaram de mim e contrataram-me para o ano seguinte. Acolheram-me como um deles. Não foi um choque cultural tão grande, até porque todos falavam bem inglês. Era um clube com boas condições. Comíamos bem, viajávamos bem. Um clube muito profissional. “A maior adaptação foi a competitividade nos treinos. (...) Aqui, todos os portugueses são muito bons” Como foram os primeiros meses e a adaptação ao Sporting CP? A maior adaptação foi a competitividade nos treinos. Noutros clubes há cinco americanos e dois ou três joga- dores portugueses bons. Aqui, todos os portugueses são muito bons. Às vezes, temos treinos de titulares contra suplentes e, por vezes, os suplentes ganham. O treina- dor é mais intenso e acabamos por treinar de forma mais intensa do que jogamos. Os jogos são bem mais fáceis do que os treinos. Já conhecia o Travante Williams e o Micah Downs. Como e de onde? Já joguei contra o Travante Williams e a equipa dele ga- nhou. Fiquei a perguntar quem era aquele tipo que esta- va a marcar contra nós. O jogo estava renhido e ele en- cestou na minha cara. O meu treinador ficou chateado comigo. É um grande jogador, uma grande mais-valia e um excelente colega. Sobre o Micah, temos o mesmo agente. Ele é de Seattle e nos Verões eu treino lá com ele. É mais um grande jogador. Assinar pelo Sporting CP foi a maior e mais impor‑ tante decisão da sua carreira? Até ver, sem dúvida. Tenho gostado muito. Já ganhámos a Supertaça e a Taça Hugo dos Santos e queremos mais. “Vouaosjogosdevoleiboledehóqueiempat‑ ins.Tambémandebol,quetemjogosentusias‑ mantes.Aindanãofuiaofutsal,masvou” Como tem sido representar um Clube com tantas modalidades, sendo que se cruza diariamente com várias equipas? Sinto-me como se estivesse na universidade. Falamos uns com os outros, seguimo-nos no Instagram, motiva- mo-nos. A equipa de hóquei em patins costuma treinar antes de nós e tento chegar mais cedo para ver um pou- co. É uma modalidade diferente para mim, nunca tinha visto. Vou aos jogos de voleibol e de hóquei em patins. Também andebol, que tem jogos entusiasmantes. Ainda não fui ao futsal, mas vou. É tal e qual a universidade, com camaradagem. Todos ao serviço do Sporting CP. Até onde pensa que o Sporting CP pode ir? Podemos ir a Albufeira vencer a Taça de Portugal e aca- bar os play-offs da Liga na melhor forma. Estou confian- te que a minha equipa possa aparecer nos momentos decisivos. Nos últimos jogos contra o SL Benfica, ten- támos jogar a um nível alto sem o [lesionado] Travan- te, que é um dos melhores – ou o melhor – nesta Liga. Estamos a aprender a jogar ao mais alto nível sem ele, o que vai ser bom para nós. O que pensa dos Sportinguistas? Tem uma boa rela‑ ção com eles? Aprecio muito que saibam o meu nome. Saio do Pa- vilhão João Rocha e as pessoas pedem-me para tirar fotografias, perguntam-me como estou e falam comigo sobre basquetebol. Gosto muito disso. >> Tanner Omlid está na primeira temporada de verde e branco