1. Anápolis, 8 a 14 de outubro de 2012 JORNAL ESTADO / 5b
O que cobrar dos agora eleitos
Após o último domingo (7), te. Confira abaixo os principais setor cultural apresentam um A cultura como frente edu- por exemplo projetos de cultura e
as pautas de discussão evoluem pontos que estiveram presentes espaço fértil para a sustentabili- cacional se torna uma ação es- esportes, cultura e meio ambien-
dentro do setor cultural que de- nas reportagens do Jornal do Es- dade econômica com a criação tratégica dentro de objetivos da te, cultura e turismo. Desta forma
seja ser mais do que entreteni- tado aqui nesta coluna. de empresas que atuam na ven- comunidade anapolina em pro- os projetos culturais atuam com
mento para o povo. O público e da de produtos, produção de blemas sociais como analfabetis- recursos de outros ministérios,
os fazedores de cultura são eixos ESPAÇOS eventos, cursos de formação ar- mo funcional, violência, drogas, secretarias e autarquias de outras
que se fortalecem à medida em Os espaços culturais, sejam tística, couvert artístico (bares) e entre outros. A área tem o desta- áreas fora da cultura.
que o setor fica mais complexo públicos ou privados, criaram serviços. As associações culturais que da participação da sociedade
e gera demandas pela variedade identidade e pautas próprias na e organizações da sociedade ci- civil organizada onde convênios FUNDO E PLANO
e a descentralização das diferen- vivência dos seus gestores, sejam vil de interesse público atuam das entidades do terceiro setor Apesar do processo nacional
tes expressões na cidade. Neste funcionários municipais, fun- através de projetos artísticos e propiciam a formação artística de construção do Plano Nacional
cenário, o prefeito reeleito Antô- cionários ou agentes do terceiro educacionais atingindo uma fai- em áreas como a música, o hip de Cultura (PNC) ter uma duração
nio Gomide (PT) vai encontrar, a setor (associações e fundações), xa de mercado focado em ações hop, reaproveitamento de mate- maior, os marcos a nível municipal
partir de 2013, um setor que luta incluindo o sistema “S” (Sesc, específicas, em áreas de educa- rial reciclável, artesanato, dança já foram iniciados para a consoli-
para se fazer política pública. Senai, Sesi e Senac). Muitos es- ção ambiental, treinamento em e outras atividades. dação da tríade de elementos para
O papel executivo atua através paços trazem a oportunidade de empresas, shows e eventos temá- O destaque desta área são os a adesão no PNC, que são o Con-
de mecanismos legais e adminis- serem adaptados para apresen- ticos. Sem contar com iniciativas projetos de ensino musical re- selho, Fundo e Plano municipais.
trativos nos setores de políticas tações e eventos culturais, porém independentes na organização alizados em parcerias com co- O já criado Conselho Municipal
públicas através das secretarias conseguem segurar até um nível de eventos, que mesmo sem fins munidades religiosas e unidades realiza reuniões abertas à popula-
municipais. Os vereadores por intermediário de recursos técni- lucrativos movimentam o co- de ensino das redes municipal e ção do Fórum Permanente de Cul-
sua vez fiscalizam e criam pro- cos na elaboração dos eventos. mércio e os serviços na cidade. estadual. Outra frente de educa- tura preparando para a elaboração
jetos que competem à esfera do Neste ponto o local mais adequa- Um dos rumos mais reafirmados ção artística é a própria Secreta- do Plano Municipal de Cultura
município de forma compreensi- dos é o Teatro Municipal. As pra- em nossas reportagens sobre o ria Municipal de Cultura (Semuc) com a duração de 10 anos e envia-
vaà realidade local, destrancando ças reformadas e revitalizadas se mercado cultural é o do fortale- que administra as escolas muni- do como projeto de lei à Câmara
entraves para o desenvolvimento apresentam como locais a serem cimento do setor através da cola- cipais de Música, de Teatro, de Municipal. O Fundo Municipal já
das manifestações culturais. ocupados, além do novo “cartão boração do poder público com o Dança e de Artes. A Semuc é uma aprovado pelo Poder Legislativo
Todo esse leque de possibi- postal” da cidade, o Parque Am- setor privado para que consigam das únicas a abrigar um Ponto de aguarda o fim do período eleitoral
lidades para consolidar o setor biental Ipiranga. O desafio dos gerar estágios avançados de pro- Cultura através do qual realiza para a sanção do prefeito. As reu-
cultural só se concretiza median- espaços públicos não restringe duções artísticas em qualidade e atividades de formação em dife- niões do Fórum Permanente estão
te a cobrança e articulação dos somente a um papel do poder diversidade. O consumo e a frui- rentes linguagens culturais, mes- abertas à participação de qualquer
cidadãos e dos produtores cul- público para que sejam efetiva- ção pelo público são os maiores mo em um cenário de crise do cidadão sem necessidade estrita
turais. Alguns desafios presentes dos como locais da cultura, resta desafios dentro de uma popula- programa nacional Cultura Viva. que seja artista ou produtor cultu-
somam-se a outros que são le- a preparação profissional e finan- ção que sofreu a atuação da cul- Uma estratégia definida pelo ral. A partir do funcionamento do
vantados pelo setor em câmaras ceira das associações culturais e tura de massa, de forma a reduzir Governo Federal, através dos mi- Fundo, editais poderão propiciar
legítimas de discussão e encami- grupos independentes (sem pes- o desejo de consumo a segmen- nistérios, é a transversalidade na fomento aos projetos culturais
nhamentos como o Fórum Per- soa jurídica). E é claro, também, a tos específicos de arte que detêm realização de projetos culturais. por concorrência na forma da lei.
manente de Cultura (realizado no presença do público anapolino. a maior parte do repertório cul- Para esclarecer melhor, é a elabo- O Fundo é aguardado perante um
último sábado de cada mês) e as tural anapolino e brasileiro. ração de projetos culturais que gasto público nacional onde o se-
conferências municipais de cul- ECONOMIA unam demandas de diferentes se- tor cultural representa 0,04% do
tura, que acontecem anualmen- Alguns segmentos dentro do EDUCAÇÃO tores das políticas públicas, como orçamento da União.
Crônica
Campos ricos
A região, então desabi- te anúncio das tinamídeas, da tal pescaria, com arre- lhagem e atiçou o fogo para destruição. Tudo em nome
tada, com poucas fazen- ao anoitecer: “eu sou jaó” pendimento de ter irritado obter a fervura. Depois de da chamada tecnologia,
das, muito distantes, umas e os festeiros cantares dos meu irmão. Por sua vez, o algum tempo, com a ajuda usando adubos, insumos e
das outras, oferecia uma passos-pretos. Os casais de mano, já grandote, satis- de mamãe, retirou o tacho e defensivos para a produção
paisagem exuberante de araras e papagaios voavam feito, sorridente, fisgava esperou a água esfriar, expe- de fartas colheitas.
densas e compactas matas, tagarelas, agradecendo a um peixe atráz do outro e rimentando a temperatura. E hoje, o que se vê, são
serpenteando ao longo dos Deus a liberdade. se mostrava indiferente à Em dado momento man- áreas extensas, devastadas,
ribeirões, e a vastidão de Lembro-me bem, era mosquitada, pois, com a dou que eu tirasse a roupa sem uma árvore, siquer,
cerrados e floridos campos, pequeno, com menos de fumaça de fedorento cigar- e entrasse e assentasse den- expostas aos vendavais e
cheios de arbustos e árvo- sete anos. Vendo o meu ir- ro de palha, afugentava os tro do tacho, onde a água ia às chuvas torrenciais, que
JOÃO ASMAR res, carregados de saborosos mão Miguel sair com duas inoportunos insetos. até o pescoço. Molhando o arrastam a terra solta para
Jornalista frutos. Viam-se manadas de varinhas, para pescar, no À noite, não consegui rosto, ali fiquei até a água assoreamento dos riachos,
animais e bandos de pássa- “córrego das Antas”, de dormir. Coçava e coçava, ficar completamente fria. ribeirões e rios. Apenas, em
H
ros, cantantes, a darem vida onde trazia capangadas de sem parar, embora mamãe Com três banhos sarei. Fi- curto período do ano o solo
ouve um tem- e alegrias ao ambiente. peixes, lambaris, bagres, untasse a minha pele com quei completamente cura- é revestido com plantações
po, embora Os cerrados nos alimen- piaus e algumas tubara- cheirosa pomada. Amanhe- do, livre das coceiras, infer- de soja, sorgo, milho, feijão
muito curto, tavam. Colhíamos o piquí, nas; Chorava para acom- ci com o rosto, pernas e bra- nais. Nunca me esqueci da e arroz, com recursos de
quando Anápo- a mangaba, o araticum, o panhá-lo nesse salutar di- ços inchados, arrependido bondosa baiana, Sá Maria, insumos e adubos, semen-
lis não era cidade, mas um cajú, rasteiro e de árvore, vertimento. Um dia ele me de ter ido a tal pescaria. nem da abençoada caroba tes e defensivos, vindos
pequenino povoado, que a guapeva, a marmelada, levou. O lugar era, mais ou Então, Sá Maria, uma e das amaldiçoadas muri- de fora, com altos custos.
foi nominado SANTANA o baco-parí, a mama de menos, onde está a estação baiana, de meia idade, que çocas, que ainda hoje me E o que se colhe vai para
DOS CAMPOS RICOS. cadela, o ingá, o araçá, o rodoviária, então revestido freqüentava a nossa casa e torturam, nalguns lugares longe, para pagamento de
Isso aconteceu em ra- gravatá, o jatobá e a apre- de uma compacta mata, lavava a nossa roupa, con- perturbando-me o sono. dívidas de custeio, fican-
zão de uma lei, nº 695, de ciadíssima gabiroba, que da qual restou um peque- vidou-me para sair com ela, Algum tempo depois, do, aqui, um pouco, quase
julho de l882, contendo atraia bandos de alegres e no capão, logo abaixo da para “buscar o remédio”. em meados da década de nada. Isso compensa, por
um só artigo e um só pará- barulhentas maritacas. avenida que corta o lugar. Pegou um saco de aniagem, trinta, quando não se co- acaso, a devastação? E os
grafo, assinada pelo Presi- A terra, então, adorna- O leito do córrego era tor- deu-me a mão e saímos nheciam, ainda, por aqui, mananciais, rios e riachos,
dente da Província de Goi- da com grossas sucupiras, tuoso, com muitos poços, pelo fundo do extenso quin- a maquinaria agrícola, e os poluídos, sujos, não mais
ás, CAMILO AUGUSTO frondosos pequizeiros, abundantes de peixes. tal, entrando, já, no cerrado, alimentos eram obtidos à abrigam peixes...
MARIA DE BRITO. paus-terras, quinas, ma- Ali chegamos e ele co- que ali começava e se esten- custa do trabalho manual, Já não mais se vêem os
“A partir desta data, a rias-pretas ou capitães, João meçou, logo, a fisgar al- dia até o morro da Capua- na adolescência, de bicicle- bandos de passarinhos,
FREGUESIA DE SANTA- - farinha, pacari, vinhático, guns e mostrava-se mui- va. Logo, ela começou a me ta, percorria, com alegria, com seus alegres canta-
NA DAS ANTAS, no muni- pororoca, angico, pau-pe- to satisfeito. Eu, coitado, mostrar algumas plantas, os campos e cerrados,, e res. Não se tem o frescor
cípio de Meia-Ponte, de- reira, pau-santo, pereira, inocente, de calça curta dizendo seus nomes e para colhia os abundantes fru- das sombras, tão amenas,
nominará SANTANA DOS aroeira, jacarandá, peroba, e camisa de meia manga, que serviam, como remé- tos. Isso me valeu, e muito dos robustos arvoredos,
CAMPOS RICOS”. landi, canjerana, ipês, ga- no sombreado da mata, dios, para a cura de determi- contribuiu para a consoli- para tantos viventes, mas,
Durou pouco, Em 13 de rapa, amoreira, bálsamo, passei a ser atacado por nados males. Douradinha, dação do caráter, moldado a quimérica esperança de
novembro de 1886, outra paineiras, acácias, gonçalo, um enxame de mosqui- arnica, pé de perdiz, chapéu no gozo da independência lucros, para tão poucos..
lei, nº 778, assinada pelo cedro, tucaneiro copaíba, tos, quase invisíveis, que de couro, quina, verga-tesa, e da liberdade, conquistas Vendo o que vejo, com
Presidente da Província, tamboril, canela, angelim, zumbiam e me ferroavam, barbatimão, velame, angico, gloriosas do meu viver. a inconsciência de tantos,
LUIZ SILVÉRIO ALVES DA sambaíba, piúna e mui- impiedosamente. Logo os e logo começou a quebrar Todavia, o tempo, cor- que não se importam com
CRUZ, determinou que o tos outros, que forneciam braços, as pernas, o pesco- alguns galhos, com folha- rendo, e o chamado pro- a vida, mas com ilusórias
lugar voltasse a ser chama- materiais medicamento- ço, a cara ficaram irritados, gem parecida com cipreste, gresso veio chegando, mo- riquezas, temporárias fico
do SANTANA DAS ANTAS. sos, para a cura de mui- com a pele afogueada. Ins- e a colocá-los no saco. Era a dificando o ambiente, com triste a meditar, com mui-
Havia, sim, alguém tos males e madeira para tintivamente quebrei um caroba, que ela me mostra- os roncos dos motores de tas saudades de Sá Maria,
enamorado da natureza múltiplas utilidades, era o galho, folhudo, e comecei va de vários tipos, preferin- caminhões e tratores, que daquele ambiente gostoso
que teria influenciado a paraíso encantado, abrigo a bater, a bater, por todos do as de folhas miúdas. começaram a violentar a em que na infância vivi,
adoção do nome, compa- seguro de muitos, inocen- os lados, meio desespe- De volta, no tacho onde terra, arrastando a vege- alegre e contente, valente,
tível com as belezas que o tes animais. Ouviam-se os rado com os incômodos fervia a roupa, já com a tação, chorosa e fragmen- em meio aos abençoados
lugar mostrava. lamentos das juritis, o tris- atacantes, esquecendo-me água quente, colocou a fo- tada, deixando o rasto da CAMPOS RICOS.