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Seminário

Os desafios do desenvolvimento local
                       FEE

     Porto Alegre, 01 e 02 de novembro de 2011


                     Mesa

    O papel dos APLs, das grandes
   empresas e das cadeias produtivas
Título da palestra

   Dinâmica da Proximidade: visita à
   contribuição da “Escola Francesa
         da Proximidade” (EFP)

                  Autor
             Hoyêdo Nunes Lins

     Universidade Federal de Santa Catarina
PPG em Economia e PPG em Relações Internacionais
Estrutura da palestra
1.   “[A]niquilação do espaço pelo tempo (...)”
     (MARX)

2.   “Os mistérios (...) deixam de ser mistérios;
     ficam como se estivessem soltos no ar (...)”
     (MARSHALL)

3.   Metáfora marxiana na abordagem do
     desenvolvimento em tempos de globalização:
     ideia de uma placeless economy (ex.:
     STORPER)

4.   “Fórmula” marshalliana na abordagem do
     desenvolvimento em tempos de globalização:
     space matters (cf. autores diversos)
5. Contribuição da “Escola Francesa da Proximidade”
Rede de pesquisadores (Paris, Bordeaux, Toulouse...)

Atuante desde os anos 1990; autores como Gilly, Torre,
  Dupuy, Perrat, Wallet...

Convergência de 2 agendas: (a) a dos pesquisadores
  em economia industrial interessados na dimensão
  espacial e (b) a dos pesquisadores em economia
  espacial e sobre a dimensão espacial do
  desenvolvimento interessados na dinâmica
  industrial/empresarial

Intenção geral: “explicar a natureza dos efeitos da
  proximidade e contribuir para endogeneizar a
  variável espacial na teoria econômica” (TORRE;
  GILLY, 2000:170)
O espaço é esfera/instância/âmbito não neutro em termos
econômicos. Sentido de território, para a EFP, reflete tal
proposição. Trata-se de espaço “local”

“caracterizado por vínculos organizacionais de firmas e
[atividades como] treinamento, pesquisa e [de] instituições que
realizam outras atividades relacionadas, refletindo interesses
similares e/ou complementares. Quanto mais próximos forem
esses vínculos organizacionais, mais efetiva tenderá a ser a
cooperação. (...) [A] grande proximidade é fator importante, por
colocar juntos representantes e interesses de membros de
distintas organizações. Assim, o território é definido como: um
conjunto historicamente constituído de atividades econômicas
interligadas (P&D, design, produção,comercialização),
coordenado de várias maneiras por firmas, centros de pesquisa
e outras agências de cunho econômico, e [também] por
governos locais e outras instituições sociais e políticas”
(DUPUY; GILLY, 1999:208 – destacado no original)
O território é visto, assim, como constructo histórico,
como um reflexo do que suas instituições e
organizações realizam historicamente.


Também crucial é que o território é entendido como
resultado da combinação de diferentes formas ou
dimensões da proximidade.


Daí que, em vez de postulado a priori, o território é
“descoberto”, mediante procedimento analítico sobre
tais formas ou dimensões da proximidade. São 3
essas formas/dimensões:
Proximidade geográfica

Refere-se a aspectos do par (antagônico)
imediação-grande distância espacial
relativamente a agentes e atividades. Tais
aspectos são captados e descritos com base em
elementos de tempo e custo, necessariamente
afetados pela tecnologia e pela infraestrutura de
transportes e comunicações. Vincula-se a essa
forma de proximidade a percepção sobre o que
está perto e o que está longe, espacialmente
falando.
Proximidade organizacional

Remete às condições de compartilhamento de
recursos por parte dos atores, implicando o
envolvimento destes em atividades que
permitem tais interações, quer no âmbito de
uma mesma organização (como um grupo
industrial), quer num tecido organizacional
(como um sistema produtivo local). É esse tipo
de proximidade que sugere alusão às ações
coletivas, para resolver problemas produtivos,
baseadas na complementaridade dos recursos
de que dispõem os atores.
Proximidade institucional

Recobre o leque de representações e pontos de
referência, além do sistema de valores,
compartidos pelos agentes, e tem a ver com a
adesão destes às regras e condutas que
canalizam os comportamentos coletivos. Fruto de
compromissos (mesmo que provisórios) entre
atores com interesses até diferentes (às vezes
contraditórios), esse tipo de proximidade
apresenta-se como alicerce da proximidade
organizacional.
Esses distintos tipos de proximidade evocam tipos
diversos de configurações produtivas com componente
territorial mais ou menos claro:
   Uma aglomeração de atividades econômicas
    heterogêneas e sem vínculos de
    complementaridade evidencia uma
    proximidade antes de tudo geográfica, sem a
    organizacional e a institucional. Embora caiba
    falar em economias externas (principalmente
    de cunho pecuniário), que podem ser causa e
    efeito da própria condição de aglomerado, isso
    não significa presença ou influência de lógica
    industrial e/ou de dinâmica sistêmica.
   Diferente é a aglomeração cujo tecido industrial
    tem atividades complementares, fruto de
    processos de especialização escorados em
    estrutura organizacional cujo centro de
    gravidade é um setor produtivo ou até um
    produto. A proximidade geográfica é
    acompanhada da organizacional, percebendo-se
    lógica industrial e dinâmica sistêmica.

   Quando há também resultados ligados à maior
    flexibilidade no uso dos recursos, no
    desenvolvimento de atividades e na utilização
    das competências, decorrentes de coordenação
    entre os agentes com base na aprendizagem
    coletiva, está-se também diante de
    proximidade institucional.
Dizer coordenação, nesses termos, significa dizer
governança. As visões de território e proximidade da
EFP nutrem uma concepção de governança que:

“implica mecanismos produtivos e institucionais
tanto na dimensão local (proximidade
geográfica versus proximidade organizacional)
quanto na dimensão local-global (proximidade
institucional local versus proximidade
institucional global). A governança territorial é
um processo de recuperação e hibridização de
proximidades institucionais. Como resultado, há
uma ‘aliança’ (...) de vários sistemas de
representação. Essa ‘aliança’ revela e ativa o
potencial produtivo das proximidades
geográfica e organizacional (...)” (TORRE;
GILLY, 2000:178 – destacado na citação).
Essa noção de governança territorial refere-se a
processo não só endógeno, mas também às relações
entre instituições locais (formais e informais) e formas
institucionais globais.

Não se considera haver determinismo do
comportamento microeconômico gerado pelas
macroestruturas, nem a emergência de uma ordem
espontânea criada por agentes individuais.

É a mediação local-global, caracterizando a
governança, que assegura a difusão de princípios
dominantes (do global para o local) ou emergentes
(do local para o global).
A ênfase, p. ex., em aspectos como hibridização de
proximidades institucionais em distintas escalas,
permite dizer que, na EFP, as análises do
desenvolvimento local e regional não se limitam a
uma visão estritamente endógena sobre este, como
observado em estudos sobre a dinâmica produtiva
territorializada (um ex. seria Vázquez Barquero,
2001).

De fato, as referidas abordagens da EFP se inspiram
numa “concepção de território aberto para o ambiente
econômico e institucional (nacional e/ou
internacional).” (GILLY; PERRAT, 2003:3).
Ilustrações de estudos com tais ideias sobre território,
proximidade e governança aparecem em análises das
relações entre “modelos” de desenvolvimento local e
regional e dinâmicas recentes do capitalismo.
Em especial, dinâmicas como a instalação de
 unidades produtivas de EMN em clusters, em
 vários países e regiões, às vezes provocando
 reconversão de setores já enraizados em
 cidades e regiões, um assunto que “interpela”
 a governança local.

As visões da EFP sobre território, proximidade e
  governança traduz-se em postulações como
  esta, sobre os reflexos das atividades e
  estratégias de grandes empresas e grupos
  industriais, sediados alhures, em ambientes
  socioprodutivos locais e regionais:
“As relações de poder dentro dos grupos [ou das grandes
empresas], sobretudo aqueles no território analisado, são
uma consideração importante, em especial quando a
[unidade] subsidiária funciona como catalisadora do
desenvolvimento industrial. Além disso, os próprios parent
grupos [ou grandes empresas] costumam multiplicar suas
alianças por acordos cooperativos formais e/ou informais
com outras firmas, geralmente em resposta à incerteza
promovida pela mudança tecnológica rápida. Assim, é
cada vez mais difícil definir com precisão as fronteiras dos
grupos [ou grandes empresas], pois estes criam novas
formas organizacionais dirigidas à gestão flexível da sua
interdependência interna e externa e, na medida em que
tais formas são territorialmente específicas, contribuem
para a trajetória de desenvolvimento do território (...)”.
(DUPUY; GILLY, 1999: 209)
Muito importante é a forma como as unidades
produtivas (subsidiárias ou subdivisões de grupos ou
grandes empresas) presentes no território interagem
com as estruturas maiores às quais pertencem. As
possibilidades de dinamização econômica local e
regional, com repercussões no desenvolvimento,
têm ver com essas interações.

Dinâmica industrial, em escala de grupo ou grande
empresa, e dinâmica territorial são vistas como
irrevogavelmente ligadas. São decisivos tanto o jogo
entre as distintas modalidades de proximidade como
a operação dos mecanismos de governança, nas
suas diversas dimensões.
“A unidade econômica do grupo [ou grande empresa] e
sua dinâmica industrial e territorial dependerão dos
vínculos externos pretendidos por um estabelecimento, da
localização deste na organização produtiva do grupo [ou
da grande empresa] e de sua dependência estratégica da
companhia mãe. Quanto mais uma subsidiária é integrada
em termos funcionais e decisórios no seu grupo [ou
grande empresa], menos aberta tende a ser para o seu
ambiente territorial. Portanto, questões sobre a integração
local de estabelecimentos de propriedade externa devem
ser formuladas, em relação a processos dinâmicos
envolvendo desenvolvimento industrial e construção
territorial e também à estratégia organizacional e
tecnológica de grupos [ou grandes empresas].” (DUPUY;
GILLY, 2009: 210)
6. Comentário final

As contribuições da EFP, salientando aspectos do
território na perspectiva privilegiada, destacando as
distintas formas de proximidade e suas implicações e
não confinando a questão da governança à simples
dimensão local (cf. ideia de hibridização de
proximidades institucionais em várias escalas),
parecem úteis à reflexão sobre o desenvolvimento
local e regional em diferentes realidades
socioespaciais.
Como ilustrações dessas realidades no Brasil,
atribuindo destaque à presença de grandes
empresas – foco privilegiado dos estudos da EFP
–, poderiam ser indicadas, entre muitos outras:

O aglomerado automotivo da RM de Curitiba

O tecido produtivo e institucional ligado à atuação
da GM em Gravataí

A produção aeronáutica em São José dos
Campos

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Seminário Os desafios do desenvolvimento local

  • 1. Seminário Os desafios do desenvolvimento local FEE Porto Alegre, 01 e 02 de novembro de 2011 Mesa O papel dos APLs, das grandes empresas e das cadeias produtivas
  • 2. Título da palestra Dinâmica da Proximidade: visita à contribuição da “Escola Francesa da Proximidade” (EFP) Autor Hoyêdo Nunes Lins Universidade Federal de Santa Catarina PPG em Economia e PPG em Relações Internacionais
  • 3. Estrutura da palestra 1. “[A]niquilação do espaço pelo tempo (...)” (MARX) 2. “Os mistérios (...) deixam de ser mistérios; ficam como se estivessem soltos no ar (...)” (MARSHALL) 3. Metáfora marxiana na abordagem do desenvolvimento em tempos de globalização: ideia de uma placeless economy (ex.: STORPER) 4. “Fórmula” marshalliana na abordagem do desenvolvimento em tempos de globalização: space matters (cf. autores diversos)
  • 4. 5. Contribuição da “Escola Francesa da Proximidade” Rede de pesquisadores (Paris, Bordeaux, Toulouse...) Atuante desde os anos 1990; autores como Gilly, Torre, Dupuy, Perrat, Wallet... Convergência de 2 agendas: (a) a dos pesquisadores em economia industrial interessados na dimensão espacial e (b) a dos pesquisadores em economia espacial e sobre a dimensão espacial do desenvolvimento interessados na dinâmica industrial/empresarial Intenção geral: “explicar a natureza dos efeitos da proximidade e contribuir para endogeneizar a variável espacial na teoria econômica” (TORRE; GILLY, 2000:170)
  • 5. O espaço é esfera/instância/âmbito não neutro em termos econômicos. Sentido de território, para a EFP, reflete tal proposição. Trata-se de espaço “local” “caracterizado por vínculos organizacionais de firmas e [atividades como] treinamento, pesquisa e [de] instituições que realizam outras atividades relacionadas, refletindo interesses similares e/ou complementares. Quanto mais próximos forem esses vínculos organizacionais, mais efetiva tenderá a ser a cooperação. (...) [A] grande proximidade é fator importante, por colocar juntos representantes e interesses de membros de distintas organizações. Assim, o território é definido como: um conjunto historicamente constituído de atividades econômicas interligadas (P&D, design, produção,comercialização), coordenado de várias maneiras por firmas, centros de pesquisa e outras agências de cunho econômico, e [também] por governos locais e outras instituições sociais e políticas” (DUPUY; GILLY, 1999:208 – destacado no original)
  • 6. O território é visto, assim, como constructo histórico, como um reflexo do que suas instituições e organizações realizam historicamente. Também crucial é que o território é entendido como resultado da combinação de diferentes formas ou dimensões da proximidade. Daí que, em vez de postulado a priori, o território é “descoberto”, mediante procedimento analítico sobre tais formas ou dimensões da proximidade. São 3 essas formas/dimensões:
  • 7. Proximidade geográfica Refere-se a aspectos do par (antagônico) imediação-grande distância espacial relativamente a agentes e atividades. Tais aspectos são captados e descritos com base em elementos de tempo e custo, necessariamente afetados pela tecnologia e pela infraestrutura de transportes e comunicações. Vincula-se a essa forma de proximidade a percepção sobre o que está perto e o que está longe, espacialmente falando.
  • 8. Proximidade organizacional Remete às condições de compartilhamento de recursos por parte dos atores, implicando o envolvimento destes em atividades que permitem tais interações, quer no âmbito de uma mesma organização (como um grupo industrial), quer num tecido organizacional (como um sistema produtivo local). É esse tipo de proximidade que sugere alusão às ações coletivas, para resolver problemas produtivos, baseadas na complementaridade dos recursos de que dispõem os atores.
  • 9. Proximidade institucional Recobre o leque de representações e pontos de referência, além do sistema de valores, compartidos pelos agentes, e tem a ver com a adesão destes às regras e condutas que canalizam os comportamentos coletivos. Fruto de compromissos (mesmo que provisórios) entre atores com interesses até diferentes (às vezes contraditórios), esse tipo de proximidade apresenta-se como alicerce da proximidade organizacional.
  • 10. Esses distintos tipos de proximidade evocam tipos diversos de configurações produtivas com componente territorial mais ou menos claro:  Uma aglomeração de atividades econômicas heterogêneas e sem vínculos de complementaridade evidencia uma proximidade antes de tudo geográfica, sem a organizacional e a institucional. Embora caiba falar em economias externas (principalmente de cunho pecuniário), que podem ser causa e efeito da própria condição de aglomerado, isso não significa presença ou influência de lógica industrial e/ou de dinâmica sistêmica.
  • 11. Diferente é a aglomeração cujo tecido industrial tem atividades complementares, fruto de processos de especialização escorados em estrutura organizacional cujo centro de gravidade é um setor produtivo ou até um produto. A proximidade geográfica é acompanhada da organizacional, percebendo-se lógica industrial e dinâmica sistêmica.  Quando há também resultados ligados à maior flexibilidade no uso dos recursos, no desenvolvimento de atividades e na utilização das competências, decorrentes de coordenação entre os agentes com base na aprendizagem coletiva, está-se também diante de proximidade institucional.
  • 12. Dizer coordenação, nesses termos, significa dizer governança. As visões de território e proximidade da EFP nutrem uma concepção de governança que: “implica mecanismos produtivos e institucionais tanto na dimensão local (proximidade geográfica versus proximidade organizacional) quanto na dimensão local-global (proximidade institucional local versus proximidade institucional global). A governança territorial é um processo de recuperação e hibridização de proximidades institucionais. Como resultado, há uma ‘aliança’ (...) de vários sistemas de representação. Essa ‘aliança’ revela e ativa o potencial produtivo das proximidades geográfica e organizacional (...)” (TORRE; GILLY, 2000:178 – destacado na citação).
  • 13. Essa noção de governança territorial refere-se a processo não só endógeno, mas também às relações entre instituições locais (formais e informais) e formas institucionais globais. Não se considera haver determinismo do comportamento microeconômico gerado pelas macroestruturas, nem a emergência de uma ordem espontânea criada por agentes individuais. É a mediação local-global, caracterizando a governança, que assegura a difusão de princípios dominantes (do global para o local) ou emergentes (do local para o global).
  • 14. A ênfase, p. ex., em aspectos como hibridização de proximidades institucionais em distintas escalas, permite dizer que, na EFP, as análises do desenvolvimento local e regional não se limitam a uma visão estritamente endógena sobre este, como observado em estudos sobre a dinâmica produtiva territorializada (um ex. seria Vázquez Barquero, 2001). De fato, as referidas abordagens da EFP se inspiram numa “concepção de território aberto para o ambiente econômico e institucional (nacional e/ou internacional).” (GILLY; PERRAT, 2003:3).
  • 15. Ilustrações de estudos com tais ideias sobre território, proximidade e governança aparecem em análises das relações entre “modelos” de desenvolvimento local e regional e dinâmicas recentes do capitalismo. Em especial, dinâmicas como a instalação de unidades produtivas de EMN em clusters, em vários países e regiões, às vezes provocando reconversão de setores já enraizados em cidades e regiões, um assunto que “interpela” a governança local. As visões da EFP sobre território, proximidade e governança traduz-se em postulações como esta, sobre os reflexos das atividades e estratégias de grandes empresas e grupos industriais, sediados alhures, em ambientes socioprodutivos locais e regionais:
  • 16. “As relações de poder dentro dos grupos [ou das grandes empresas], sobretudo aqueles no território analisado, são uma consideração importante, em especial quando a [unidade] subsidiária funciona como catalisadora do desenvolvimento industrial. Além disso, os próprios parent grupos [ou grandes empresas] costumam multiplicar suas alianças por acordos cooperativos formais e/ou informais com outras firmas, geralmente em resposta à incerteza promovida pela mudança tecnológica rápida. Assim, é cada vez mais difícil definir com precisão as fronteiras dos grupos [ou grandes empresas], pois estes criam novas formas organizacionais dirigidas à gestão flexível da sua interdependência interna e externa e, na medida em que tais formas são territorialmente específicas, contribuem para a trajetória de desenvolvimento do território (...)”. (DUPUY; GILLY, 1999: 209)
  • 17. Muito importante é a forma como as unidades produtivas (subsidiárias ou subdivisões de grupos ou grandes empresas) presentes no território interagem com as estruturas maiores às quais pertencem. As possibilidades de dinamização econômica local e regional, com repercussões no desenvolvimento, têm ver com essas interações. Dinâmica industrial, em escala de grupo ou grande empresa, e dinâmica territorial são vistas como irrevogavelmente ligadas. São decisivos tanto o jogo entre as distintas modalidades de proximidade como a operação dos mecanismos de governança, nas suas diversas dimensões.
  • 18. “A unidade econômica do grupo [ou grande empresa] e sua dinâmica industrial e territorial dependerão dos vínculos externos pretendidos por um estabelecimento, da localização deste na organização produtiva do grupo [ou da grande empresa] e de sua dependência estratégica da companhia mãe. Quanto mais uma subsidiária é integrada em termos funcionais e decisórios no seu grupo [ou grande empresa], menos aberta tende a ser para o seu ambiente territorial. Portanto, questões sobre a integração local de estabelecimentos de propriedade externa devem ser formuladas, em relação a processos dinâmicos envolvendo desenvolvimento industrial e construção territorial e também à estratégia organizacional e tecnológica de grupos [ou grandes empresas].” (DUPUY; GILLY, 2009: 210)
  • 19. 6. Comentário final As contribuições da EFP, salientando aspectos do território na perspectiva privilegiada, destacando as distintas formas de proximidade e suas implicações e não confinando a questão da governança à simples dimensão local (cf. ideia de hibridização de proximidades institucionais em várias escalas), parecem úteis à reflexão sobre o desenvolvimento local e regional em diferentes realidades socioespaciais.
  • 20. Como ilustrações dessas realidades no Brasil, atribuindo destaque à presença de grandes empresas – foco privilegiado dos estudos da EFP –, poderiam ser indicadas, entre muitos outras: O aglomerado automotivo da RM de Curitiba O tecido produtivo e institucional ligado à atuação da GM em Gravataí A produção aeronáutica em São José dos Campos