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Urologia
Fundamental
CAPÍTULO
2
Cristiano Mendes Gomes
Marcelo Hisano
Anatomia e
Fisiologia da Micção
30
UROLOGIA FUNDAMENTAL
INTRODUÇÃO
A bexiga funciona como reservatório para armazena-
mento e eliminação periódica da urina. Para que essas
funções ocorram adequadamente, é necessário que a
musculatura lisa vesical (detrusor) relaxe e haja aumento
coordenado do tônus esfincteriano uretral durante a fase
de enchimento da bexiga – e o oposto durante a micção.
A coordenação das atividades da bexiga e do esfíncter
uretral envolve complexa interação entre os sistemas
nervosos central e periférico e os fatores regulatórios
locais, e é mediada por vários neurotransmissores. As
propriedades miogênicas e viscoelásticas da bexiga e da
uretra também são muito importantes para manutenção
da função adequada de reservatório da bexiga. A seguir,
descreveremos aspectos fundamentais da anatomia e
fisiologia vesicoesfincterianas. O leitor interessado em
detalhes mais aprofundados pode se referir à bibliografia
recomendada no final do capítulo.
ANATOMIA
A bexiga é um órgão muscular oco, revestido inter-
namente por epitélio transicional denominado urotélio.
Externamente ao urotélio encontram-se a lâmina pró-
pria e as camadas muscular lisa e adventícia. Lâmina
própria é uma camada bem desenvolvida, ricamente
vascularizada, formada basicamente de tecido conectivo
com abundância de fibras elásticas. A camada muscular
própria da bexiga (músculo detrusor) é constituída por
fibras musculares lisas que formam feixes sem orien-
tação definida, ramificam-se e reúnem-se livremente,
mudando de orientação e de profundidade na parede da
bexiga e entrelaçando-se com outros feixes. Esse arranjo
sob a forma de malha complexa, sem formar camadas
distintas, permite que o detrusor possa contrair-se har-
monicamente, comprimindo a urina em direção à uretra
proximal durante a micção. O detrusor pode ser dividido
em duas porções com base nas diferenças regionais de
sua inervação simpática: 1) a porção localizada acima
dos orifícios ureterais, denominada corpo vesical, que
compreende sua maior parte e 2) a base, que incorpora
o trígono e o colo vesical.
Feixes musculares do detrusor são formados por
células musculares lisas que se organizam em fascículos
separados uns dos outros, de forma incompleta, por
septos de interstício compostos por fibras elásticas e
colágenas e raros fibroblastos. Por sua vez, feixes detru-
sores são revestidos por fibras elásticas e colágenas, vasos
sanguíneos e terminações nervosas. Acredita-se que a
presença de fibras elásticas e colágenas revestindo os fei-
xes musculares talvez seja responsável pela manutenção
da arquitetura da parede vesical e por suas propriedades
viscoelásticas, permitindo seu enchimento sem elevação
da pressão vesical. Em nível celular, cada célula muscular
lisa é separada das outras por fibras colágenas.
INERVAÇÃO DA BEXIGA
O funcionamento da bexiga é coordenado em
diferentes níveis do sistema nervoso central (SNC),
localizados na medula, na ponte e nos centros superio-
res por meio de influências neurológicas excitatórias e
inibitórias que se dirigem aos órgãos do trato urinário
inferior (TUI – bexiga, aparelho esfincteriano e uretra)
e da aferência sensitiva desses órgãos. Perifericamente, o
TUI é inervado por três tipos de fibras: parassimpáticas,
simpáticas e somáticas.
Inervação vesical parassimpática origina-se de neu-
rônios localizados na coluna intermediolateral dos seg-
mentos S2 a S4 da medula, sendo conduzida através de
fibras pré-ganglionares pelo nervo pélvico até os gânglios
no plexo pélvico. Este localiza-se lateralmente ao reto
e dá origem às fibras parassimpáticas pós-ganglionares,
que se dirigem à bexiga. Algumas fibras pré-ganglionares
passam pelo plexo pélvico diretamente e fazem sinapse
com gânglios localizados na parede vesical.
Inervação eferente simpática origina-se de núcleos da
coluna intermediolateral da substância cinzenta da T10
a L2 (segmento tóraco-lombar da medula) e direciona-
se através da cadeia simpática ao plexo hipogástrico
superior (pré-aórtico). A subdivisão caudal desse plexo
forma o nervo hipogástrico, que contém os eferentes
pós-ganglionares simpáticos para a bexiga e a uretra.
Inervação da musculatura estriada do esfíncter
uretral é predominantemente somática. Origina-se no
núcleo de Onuf, localizado no corno anterior de um
ou mais segmentos da medula espinhal sacral (S2-S4).
Fibras somatomotoras originadas desse núcleo inervam
o esfíncter uretral através dos nervos pudendos, sem
conexão com gânglios periféricos. Há evidências de que
o esfíncter uretral também receba influência simpática
e parassimpática a partir de ramos dos nervos hipogás-
31
Anatomia e
Fisiologia da Micção
trico e pélvico. Vias aferentes partindo de receptores
localizados na bexiga e na uretra são responsáveis pela
transmissão de informações vindas dos referidos órgãos
ao SNC. Dirigem-se ao plexo pélvico, de onde partem
para a medula, através dos nervos pélvico, hipogástrico
e pudendo. Na medula, fazem sinapse com neurônios
localizados no corno dorsal.
Nervos aferentes são identificados na musculatura
detrusora e na lâmina própria. Abaixo do urotélio os
aferentes formam um plexo mais denso no trígono e
menos na cúpula vesical, cujos terminais chegam às
partes basais do urotélio,
A atividade dos centros medulares é controlada por
centros superiores através de tratos descendentes cefa-
loespinais. A micção é coordenada em nível do tronco
encefálico, especificamente na substância pontino-
mesencefálica, denominado centro pontino da micção
(CPM), que é a via final comum para motoneurônios
da bexiga, localizados na medula espinhal (Figura 1).
Em circunstâncias normais, a micção depende de um
reflexo espino-bulbo-espinal liberado pelo CPM, que
recebe influências, na maior parte inibitórias, do córtex
cerebral, do cerebelo, dos gânglios da base, do tálamo e
do hipotálamo (influências suprapontinas).
FISIOLOGIA
Contração vesical
Como a maior parte das funções do trato urinário
inferior relaciona-se com contração ou relaxamento de
sua musculatura lisa, é importante rever o mecanismo
pelo qual isso ocorre. Várias etapas do metabolismo
celular relacionam-se com geração de força na mus-
culatura lisa do TUI. Potencialmente, cada uma delas
pode ser alterada em diferentes condições patológicas
e contribuir para causar anormalidades contráteis da
bexiga. Da mesma forma, todas são alvos potenciais de
tratamento farmacológico. A seguir, uma breve descri-
ção sobre os componentes celulares e os mecanismos
envolvidos no processo de excitação-contração das
células musculares lisas.
Células musculares lisas têm formato de fuso com
5 a 50 µm de largura e até 0,5 mm de comprimento
e três tipos de filamentos em seu citoplasma: espessos
(miosina), finos (actina) e intermediários (vimentina
e desmina). A função dos filamentos intermediários
parece estar relacionada à formação do citoesqueleto.
Actina e miosina, por outro lado, têm sua função
bem-estudada e constituem a base estrutural que
permite a geração de força pelas células musculares
lisas. Um filamento de miosina é composto de múlti-
plas moléculas de miosina, cada qual contendo duas
cadeias polipeptídicas de 200 KDa, chamadas cadeias
pesadas. Numa de suas extremidades (cabeça), cada
uma das cadeias pesadas tem duas cadeias menores de
polipeptídeos (cadeias leves) de 20 KDa e 17 KDa.
Assim, cada molécula de miosina tem duas cabeças e
uma cauda, que por sua vez é responsável pela habili-
dade da miosina de se arranjar em filamentos espessos,
enquanto na cabeça residem os sítios para ligação de
ATP e actina e atividade enzimática. Filamentos de ac-
tina são compostos de múltiplos monômeros de actina
Figura 1 – Centro pontino da micção, centro medular sacral e
inervação vesical.
32
UROLOGIA FUNDAMENTAL
arranjados na forma de uma cadeia de dupla hélice.
A geração de força na célula muscular lisa se faz pela
interação entre os filamentos de actina e miosina, que
formam pontes entre si e, quando ativados, deslizam
de maneira a causar contração celular.
A seguir, descreveremos algumas etapas do metabo-
lismo celular durante a contração vesical:
A contração da musculatura lisa vesical, assim como
a de outros músculos lisos, é iniciada pela elevação da
concentração intracitoplasmática de cálcio (Ca2+
) no
citoplasma da célula muscular. Vários estudos mos-
tram que Ca2+
livre liga-se ao calmodulin e o complexo
formado ativa a quinase da cadeia leve de miosina, que
cataliza a fosforilação da cadeia leve de miosina, causan-
do alterações conformacionais da molécula de miosina
provocando contração da fibra muscular e gerando força.
Ca2+
citoplasmático origina-se principalmente de
um reservatório intracelular, o retículo sarcoplasmá-
tico (RS). Ele é armazenado no RS através de uma
bomba de cálcio ATP-dependente, que transporta Ca2+
contra o gradiente de sua concentração. Mensageiros
intracelulares são responsáveis pela liberação do Ca2+
para o citoplasma através de canais específicos de Ca2+
.
Assim, acetilcolina liberada na terminação nervosa
parassimpática atua sobre receptores muscarínicos da
musculatura lisa vesical, provocando liberação de um
mensageiro intracelular (inositol-trifosfato [IP3]), que
sinaliza ao RS para que libere seus estoques de Ca2+
.
Por sua vez, aumento na concentração intracelular de
Ca2+
determina liberação ainda maior desse elemento
a partir do RS. Outros neurotransmissores liberados
nas terminações nervosas da eferência parassimpática
sobre o TUI podem afetar a concentração intracito-
plasmática de Ca2+
por esse ou por outros mecanismos
e promover ou potencializar a contração vesical. Entre
eles, destaca-se o ATP.
Declínio na concentração intracitoplasmática de Ca2+
induz ao relaxamento da fibra muscular, principalmente
pelo retorno ativo do Ca2+
ao RS.
O sistema nervoso parassimpático atua princi-
palmente por meio da liberação de acetilcolina, que
estimula os receptores muscarínicos da parede vesical,
promovendo sua contração. Em condições normais, tal
contração ocorre apenas durante a micção; durante
a fase de enchimento, a estimulação parassimpática
permanece inibida. Na bexiga, há pelo menos cinco
subtipos de receptores muscarínicos, M1–M5. Na
humana, predominam os subtipos M2 e M3 e os re-
ceptores M3 parecem ser responsáveis pela contração
vesical. Portanto, medicamentos que estimulam esses
receptores seriam mais eficazes em promover contra-
ção vesical. Em contrapartida, os que bloqueiam tais
receptores seriam mais eficientes em reduzir a hipera-
tividade detrusora.
Receptores M2 parecem atuar bloqueando o sistema
nervoso simpático, dessa forma, liberando o parassimpá-
tico para promover contração vesical. Assim, bloqueio
dos receptores M2 também pode diminuir a contratili-
dade vesical, e medicamentos que atuam em receptores
M2 ou M3 podem apresentar boa eficiência na inibição
vesical. Além da acetilcolina, outros neurotransmissores
estão envolvidos na inervação parassimpática sobre o
TUI. São os neurotransmissores não adrenérgicos e não
colinérgicos (NANC), dentre os quais se destacam os pu-
rinérgicos e, mais especificamente, o ATP. Atuando sobre
receptores P2X e P2Y, ATP pode facilitar a contração ou
o relaxamento da bexiga. Contração detrusora normal
parece depender quase exclusivamente da estimulação
colinérgica, ao contrário de alguns mamíferos em que a
contração NANC tem importância significativa em con-
dições normais. Entretanto, em condições patológicas,
a importância da estimulação NANC parece aumentar
significativamente.
O sistema nervoso simpático exerce sua influência
sobre oTUI por meio de estimulação adrenérgica, atuan-
do principalmente na liberação de noradrenalina em
receptores do corpo vesical, da base vesical, da próstata
e da uretra. No corpo vesical, a influência simpática é
inibitória, facilitando o relaxamento vesical durante seu
enchimento. Tal ação acontece por meio de receptores
β2 e β3. Estes são os mais importantes e sua estimulação
aumenta os níveis citoplasmáticos de AMPc, determi-
nando sequestro de Ca2+
ao retículo sarcoplasmático,
diminuindo a excitabilidade da célula (Figura 2).
Outros neurotransmissores potenciais foram
identificados em gânglios e em nervos do TUI,
mas suas funções fisiológicas ainda não são bem
conhecidas. Entre eles, destacam-se neuropeptídeo
Y, encefalinas, somatostatina, polipeptídeo intestinal
vasoativo e galanina.
Urotélio também exerce função nas fases de arma-
zenamento e de micção. Em resposta ao estiramento,
ele libera ATP local, que ativa terminações nervosas
suburoteliais, agindo em receptores P2X2/3
. Estudos
33
Anatomia e
Fisiologia da Micção
experimentais mostraram que receptores P2X3
estão
envolvidos na regulação fisiológica das vias aferen-
tes que controlam os reflexos de volume na bexiga,
sendo considerados receptores de volume. Outras
substâncias, como óxido nítrico e capsaicina (através
de receptores vaniloides VR1) e taquicininas (através de
receptores NK1) e prostanoides podem exercer fun-
ções inibidoras ou estimuladoras da ativação vesical.
Dessa forma, o urotélio também tem função meca-
norreceptora na regulação vesical (Figura 3).
Recentemente, estudos enfatizaram a importância
das células intersticiais e dos neurônios periféricos
(gânglios nervosos vesicais), constituindo o plexo
miovesical em analogia ao plexo mioentérico, com
possível função de iniciar a contração e propagá-la.
O funcionamento vesical pode ser modular e cada
módulo se une para formar um órgão esférico, se-
melhante aos gomos de uma bola de futebol. Dessa
forma, as unidades básicas de funcionamento vesical
seriam esses módulos, que podem se contrair de ma-
neira independente ou coordenada de acordo com as
circunstâncias. Na hiperatividade detrusora existiria
uma atividade anormal e coordenada dos módulos,
enquanto uma atividade excessivamente localizada
e sem coordenação provocaria distorções na parede
vesical, aumentando a sensação vesical que pode ser
responsável pela urgência. A micção se daria pela
ativação coordenada de todos os módulos.
De acordo com a interpretação anterior, o plexo
miovesical auxilia também na percepção da repleção
vesical de duas maneiras: 1) através de nervos que
expressam transmissores típicos de nervos sensitivos e
correm próximos às células intersticiais e 2) pela ação
da acetilcolina. Estudos experimentais mostraram
que a resposta à acetilcolina em segmentos isolados
de bexiga é afetada pelo volume vesical. Com baixo
volume, a atividade vesical é mínima, enquanto vo-
lumes elevados acompanham-se de atividade fásica
mais pronunciada. Falha no funcionamento do plexo
miovesical provocaria contração detrusora ineficiente,
com resíduo miccional. Tal fato poderia explicar por
que a contratilidade vesical fica frequentemente com-
prometida em pacientes idosos, nos quais o fenômeno
de denervação vesical é comum.
Controle esfincteriano
Esfíncteres liso e estriado recebem inervação por
fibras simpáticas e parassimpáticas. Entre elas, somen-
te a simpática parece ser importante funcionalmente
Figura 2 – Mecanismo de ação dos sistemas simpático e parassimpáticos. NA-noradrenalina; AC-acetilcolina.
34
UROLOGIA FUNDAMENTAL
para a continência. Na base vesical predominam os re-
ceptores α, em especial α1. Sua estimulação promove
contração do colo vesical, aumentando a resistência a
esse nível, bem como na uretra prostática. Por outro
lado, seu bloqueio tende a relaxar tais componentes,
resultando em diminuição de resistência ao fluxo
urinário. Em situações patológicas, como nos casos
de obstrução infravesical, parece haver aumento da
expressão de receptores α no corpo vesical e sua
estimulação poderia ser responsável pelos sintomas
de enchimento apresentados por boa parte dos pa-
cientes. Esse pode ser um dos mecanismos de ação
dos alfabloqueadores para diminuição dos sintomas
desses pacientes. Esfíncter estriado tem eferência
somática vinda do pudendo, que permite seu con-
trole voluntário.
Relaxamento esfincteriano durante a micção é
um processo complexo e não totalmente conhecido.
Recentemente, estudos mostraram a importância de
um mecanismo NANC mediado pelo óxido nítrico,
que parece ser importante neurotransmissor envolvido
no relaxamento.
Além dos receptores eferentes, é relevante men-
cionar a transmissão aferente vesical. Em condições
normais ela é feita por fibras mielinizadas de con-
dução rápida, denominadas Aδ, que respondem à
distensão vesical fisiológica. Fibras não mielinizadas
(tipo C) respondem aos estímulos nociceptivos do
urotélio e do detrusor (Figura 4). Podem também
responder a alterações químicas da composição da
urina, liberando neuroquininas de terminações ner-
vosas centrais e periféricas.
Nervos aferentes que apresentam óxido nítrico
como neurotransmissor também foram descritos.
Inibição de sua atividade parece provocar aumento
da atividade vesical. Assim, acredita-se que seu papel
seja de regular o nível de sensibilidade da bexiga
para sinalização aos centros principais da sensação
de enchimento vesical.
Prostanoides também são liberados pelas termi-
nações nervosas do TUI após alguns estímulos, como
distensão vesical e estimulação do nervo pélvico, e
provocam contração de fibras detrusoras isoladas em
humanos, mas relaxamento de fibras lisas uretrais.
Como esse efeito é lento, sua função parece relacionar-
se com modulação local da neurotransmissão aferente
e eferente. Inibidores da síntese de prostanoides
também podem aliviar sintomas irritativos vesicais e
melhorar a continência.
Resumidamente, pode-se descrever o ciclo mic-
cional normal da seguinte forma:
Figura 3 – Mecanismo de ação da teoria mecanorreceptora do urotélio.
35
Anatomia e
Fisiologia da Micção
1) Enchimento: distensão da bexiga induz ativação
progressiva dos nervos aferentes vesicais. Essa ativação
é acompanhada pela inibição reflexa da bexiga através
do nervo hipogástrico e simultânea estimulação do es-
fíncter externo via nervo pudendo. O CPM é continua-
mente monitorado sobre as condições de enchimento
vesical, mantendo sua influência inibitória sobre o
centro medular sacral, que inerva a bexiga, e liberando
progressivamente a ativação do esfíncter externo;
2) Esvaziamento: após alcançar um nível crítico
de enchimento vesical e sendo a micção desejada
naquele momento, o CPM interrompe a inibição
sobre o centro sacral da micção (parassimpático),
que ativa a contração vesical através do nervo pélvi-
co. Ao mesmo tempo, a influência inibitória sobre a
bexiga, feita pelo sistema simpático através do nervo
hipogástrico, é interrompida e ocorre simultânea
inibição da ativação somática do esfíncter, relaxando
o aparelho esfincteriano e garantindo a coordenação
da micção. Pode-se descrever o ciclo miccional nor-
mal como simples processo de liga-desliga, em que,
num primeiro momento, ocorre inibição dos reflexos
da micção (inibição vesical por meio da estimulação
simpática e inibição da estimulação parassimpática)
e ativação dos reflexos de enchimento vesical (esti-
mulação esfincteriana pudenda). Esse mecanismo é
alternado para ativação dos reflexos da micção (esti-
mulação vesical parassimpática) e inibição dos reflexos
de enchimento (inibição da ativação esfincteriana) e
as duas fases alternam-se seguidamente.
LEITURA RECOMENDADA
1. Andersson KE, Arner A. Urinary bladder contraction and
relaxation: physiology and pathophysiology. Physiol Rev.
2004;84(3):935-86.
2. Andersson KE. Treatment-resistant detrusor overactivity-
-underlying pharmacology and potential mechanisms. Int
J Clin Pract Suppl. 2006;(151):8-16.
3. Drake MJ. The integrative physiology of the bladder. Ann
R Coll Surg Engl. 2007;89(6):580-5.
4. Francis K. Physiology and management of bladder and
bowel continence following spinal cord injury. Ostomy
Wound Manage. 2007;53(12):18-27.
5. Hanna-Mitchell AT, Birder LA. New insights into the pharma-
cology of the bladder. Curr Opin Urol. 2008;18(4):347-52.
6. Anderson KE, Hedlund P. Pharmalogic perspective on the
physiology of the lower urinary tract. Urology. 2002;60(Su-
ppl 5A):13-20.
7. Blok BFM. Central pathways controlling micturation and
urinary continence. Urology. 2002;59(Suppl 5A):13-7.
8. Yoshimura N, Chancellor MB. Physiology and pharmacology
of the bladder and urethra. In: WeinAJ, Kavoussi LR, Novick
AC, Partin AW, Peter CA, editors. Campbell-Walsh Urology.
9th ed. Philadelphia: Saunders; 2007.
9. Lagou M, Gillespie JI, Hedlund P, Harvey IJ, Andersson KE,
Drake MJ. Bladder volume alters cholinergic responses of
the isolates whole rat bladder. J Urol. 2006;175:771-6.
10. Andersson KE, Wein AJ. Pharmacology of the lower urinary
tract: Basis for current and future treatments of urinary
incontinence. Pharmacol Rev. 2004;56:581-631.
Figura 4 – Aferência vesical: fibras Aδ respondem à distensão vesical; fibras C respondem a estímulos nosciceptivos.

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1331412997 urologia cap2

  • 1. Urologia Fundamental CAPÍTULO 2 Cristiano Mendes Gomes Marcelo Hisano Anatomia e Fisiologia da Micção
  • 2. 30 UROLOGIA FUNDAMENTAL INTRODUÇÃO A bexiga funciona como reservatório para armazena- mento e eliminação periódica da urina. Para que essas funções ocorram adequadamente, é necessário que a musculatura lisa vesical (detrusor) relaxe e haja aumento coordenado do tônus esfincteriano uretral durante a fase de enchimento da bexiga – e o oposto durante a micção. A coordenação das atividades da bexiga e do esfíncter uretral envolve complexa interação entre os sistemas nervosos central e periférico e os fatores regulatórios locais, e é mediada por vários neurotransmissores. As propriedades miogênicas e viscoelásticas da bexiga e da uretra também são muito importantes para manutenção da função adequada de reservatório da bexiga. A seguir, descreveremos aspectos fundamentais da anatomia e fisiologia vesicoesfincterianas. O leitor interessado em detalhes mais aprofundados pode se referir à bibliografia recomendada no final do capítulo. ANATOMIA A bexiga é um órgão muscular oco, revestido inter- namente por epitélio transicional denominado urotélio. Externamente ao urotélio encontram-se a lâmina pró- pria e as camadas muscular lisa e adventícia. Lâmina própria é uma camada bem desenvolvida, ricamente vascularizada, formada basicamente de tecido conectivo com abundância de fibras elásticas. A camada muscular própria da bexiga (músculo detrusor) é constituída por fibras musculares lisas que formam feixes sem orien- tação definida, ramificam-se e reúnem-se livremente, mudando de orientação e de profundidade na parede da bexiga e entrelaçando-se com outros feixes. Esse arranjo sob a forma de malha complexa, sem formar camadas distintas, permite que o detrusor possa contrair-se har- monicamente, comprimindo a urina em direção à uretra proximal durante a micção. O detrusor pode ser dividido em duas porções com base nas diferenças regionais de sua inervação simpática: 1) a porção localizada acima dos orifícios ureterais, denominada corpo vesical, que compreende sua maior parte e 2) a base, que incorpora o trígono e o colo vesical. Feixes musculares do detrusor são formados por células musculares lisas que se organizam em fascículos separados uns dos outros, de forma incompleta, por septos de interstício compostos por fibras elásticas e colágenas e raros fibroblastos. Por sua vez, feixes detru- sores são revestidos por fibras elásticas e colágenas, vasos sanguíneos e terminações nervosas. Acredita-se que a presença de fibras elásticas e colágenas revestindo os fei- xes musculares talvez seja responsável pela manutenção da arquitetura da parede vesical e por suas propriedades viscoelásticas, permitindo seu enchimento sem elevação da pressão vesical. Em nível celular, cada célula muscular lisa é separada das outras por fibras colágenas. INERVAÇÃO DA BEXIGA O funcionamento da bexiga é coordenado em diferentes níveis do sistema nervoso central (SNC), localizados na medula, na ponte e nos centros superio- res por meio de influências neurológicas excitatórias e inibitórias que se dirigem aos órgãos do trato urinário inferior (TUI – bexiga, aparelho esfincteriano e uretra) e da aferência sensitiva desses órgãos. Perifericamente, o TUI é inervado por três tipos de fibras: parassimpáticas, simpáticas e somáticas. Inervação vesical parassimpática origina-se de neu- rônios localizados na coluna intermediolateral dos seg- mentos S2 a S4 da medula, sendo conduzida através de fibras pré-ganglionares pelo nervo pélvico até os gânglios no plexo pélvico. Este localiza-se lateralmente ao reto e dá origem às fibras parassimpáticas pós-ganglionares, que se dirigem à bexiga. Algumas fibras pré-ganglionares passam pelo plexo pélvico diretamente e fazem sinapse com gânglios localizados na parede vesical. Inervação eferente simpática origina-se de núcleos da coluna intermediolateral da substância cinzenta da T10 a L2 (segmento tóraco-lombar da medula) e direciona- se através da cadeia simpática ao plexo hipogástrico superior (pré-aórtico). A subdivisão caudal desse plexo forma o nervo hipogástrico, que contém os eferentes pós-ganglionares simpáticos para a bexiga e a uretra. Inervação da musculatura estriada do esfíncter uretral é predominantemente somática. Origina-se no núcleo de Onuf, localizado no corno anterior de um ou mais segmentos da medula espinhal sacral (S2-S4). Fibras somatomotoras originadas desse núcleo inervam o esfíncter uretral através dos nervos pudendos, sem conexão com gânglios periféricos. Há evidências de que o esfíncter uretral também receba influência simpática e parassimpática a partir de ramos dos nervos hipogás-
  • 3. 31 Anatomia e Fisiologia da Micção trico e pélvico. Vias aferentes partindo de receptores localizados na bexiga e na uretra são responsáveis pela transmissão de informações vindas dos referidos órgãos ao SNC. Dirigem-se ao plexo pélvico, de onde partem para a medula, através dos nervos pélvico, hipogástrico e pudendo. Na medula, fazem sinapse com neurônios localizados no corno dorsal. Nervos aferentes são identificados na musculatura detrusora e na lâmina própria. Abaixo do urotélio os aferentes formam um plexo mais denso no trígono e menos na cúpula vesical, cujos terminais chegam às partes basais do urotélio, A atividade dos centros medulares é controlada por centros superiores através de tratos descendentes cefa- loespinais. A micção é coordenada em nível do tronco encefálico, especificamente na substância pontino- mesencefálica, denominado centro pontino da micção (CPM), que é a via final comum para motoneurônios da bexiga, localizados na medula espinhal (Figura 1). Em circunstâncias normais, a micção depende de um reflexo espino-bulbo-espinal liberado pelo CPM, que recebe influências, na maior parte inibitórias, do córtex cerebral, do cerebelo, dos gânglios da base, do tálamo e do hipotálamo (influências suprapontinas). FISIOLOGIA Contração vesical Como a maior parte das funções do trato urinário inferior relaciona-se com contração ou relaxamento de sua musculatura lisa, é importante rever o mecanismo pelo qual isso ocorre. Várias etapas do metabolismo celular relacionam-se com geração de força na mus- culatura lisa do TUI. Potencialmente, cada uma delas pode ser alterada em diferentes condições patológicas e contribuir para causar anormalidades contráteis da bexiga. Da mesma forma, todas são alvos potenciais de tratamento farmacológico. A seguir, uma breve descri- ção sobre os componentes celulares e os mecanismos envolvidos no processo de excitação-contração das células musculares lisas. Células musculares lisas têm formato de fuso com 5 a 50 µm de largura e até 0,5 mm de comprimento e três tipos de filamentos em seu citoplasma: espessos (miosina), finos (actina) e intermediários (vimentina e desmina). A função dos filamentos intermediários parece estar relacionada à formação do citoesqueleto. Actina e miosina, por outro lado, têm sua função bem-estudada e constituem a base estrutural que permite a geração de força pelas células musculares lisas. Um filamento de miosina é composto de múlti- plas moléculas de miosina, cada qual contendo duas cadeias polipeptídicas de 200 KDa, chamadas cadeias pesadas. Numa de suas extremidades (cabeça), cada uma das cadeias pesadas tem duas cadeias menores de polipeptídeos (cadeias leves) de 20 KDa e 17 KDa. Assim, cada molécula de miosina tem duas cabeças e uma cauda, que por sua vez é responsável pela habili- dade da miosina de se arranjar em filamentos espessos, enquanto na cabeça residem os sítios para ligação de ATP e actina e atividade enzimática. Filamentos de ac- tina são compostos de múltiplos monômeros de actina Figura 1 – Centro pontino da micção, centro medular sacral e inervação vesical.
  • 4. 32 UROLOGIA FUNDAMENTAL arranjados na forma de uma cadeia de dupla hélice. A geração de força na célula muscular lisa se faz pela interação entre os filamentos de actina e miosina, que formam pontes entre si e, quando ativados, deslizam de maneira a causar contração celular. A seguir, descreveremos algumas etapas do metabo- lismo celular durante a contração vesical: A contração da musculatura lisa vesical, assim como a de outros músculos lisos, é iniciada pela elevação da concentração intracitoplasmática de cálcio (Ca2+ ) no citoplasma da célula muscular. Vários estudos mos- tram que Ca2+ livre liga-se ao calmodulin e o complexo formado ativa a quinase da cadeia leve de miosina, que cataliza a fosforilação da cadeia leve de miosina, causan- do alterações conformacionais da molécula de miosina provocando contração da fibra muscular e gerando força. Ca2+ citoplasmático origina-se principalmente de um reservatório intracelular, o retículo sarcoplasmá- tico (RS). Ele é armazenado no RS através de uma bomba de cálcio ATP-dependente, que transporta Ca2+ contra o gradiente de sua concentração. Mensageiros intracelulares são responsáveis pela liberação do Ca2+ para o citoplasma através de canais específicos de Ca2+ . Assim, acetilcolina liberada na terminação nervosa parassimpática atua sobre receptores muscarínicos da musculatura lisa vesical, provocando liberação de um mensageiro intracelular (inositol-trifosfato [IP3]), que sinaliza ao RS para que libere seus estoques de Ca2+ . Por sua vez, aumento na concentração intracelular de Ca2+ determina liberação ainda maior desse elemento a partir do RS. Outros neurotransmissores liberados nas terminações nervosas da eferência parassimpática sobre o TUI podem afetar a concentração intracito- plasmática de Ca2+ por esse ou por outros mecanismos e promover ou potencializar a contração vesical. Entre eles, destaca-se o ATP. Declínio na concentração intracitoplasmática de Ca2+ induz ao relaxamento da fibra muscular, principalmente pelo retorno ativo do Ca2+ ao RS. O sistema nervoso parassimpático atua princi- palmente por meio da liberação de acetilcolina, que estimula os receptores muscarínicos da parede vesical, promovendo sua contração. Em condições normais, tal contração ocorre apenas durante a micção; durante a fase de enchimento, a estimulação parassimpática permanece inibida. Na bexiga, há pelo menos cinco subtipos de receptores muscarínicos, M1–M5. Na humana, predominam os subtipos M2 e M3 e os re- ceptores M3 parecem ser responsáveis pela contração vesical. Portanto, medicamentos que estimulam esses receptores seriam mais eficazes em promover contra- ção vesical. Em contrapartida, os que bloqueiam tais receptores seriam mais eficientes em reduzir a hipera- tividade detrusora. Receptores M2 parecem atuar bloqueando o sistema nervoso simpático, dessa forma, liberando o parassimpá- tico para promover contração vesical. Assim, bloqueio dos receptores M2 também pode diminuir a contratili- dade vesical, e medicamentos que atuam em receptores M2 ou M3 podem apresentar boa eficiência na inibição vesical. Além da acetilcolina, outros neurotransmissores estão envolvidos na inervação parassimpática sobre o TUI. São os neurotransmissores não adrenérgicos e não colinérgicos (NANC), dentre os quais se destacam os pu- rinérgicos e, mais especificamente, o ATP. Atuando sobre receptores P2X e P2Y, ATP pode facilitar a contração ou o relaxamento da bexiga. Contração detrusora normal parece depender quase exclusivamente da estimulação colinérgica, ao contrário de alguns mamíferos em que a contração NANC tem importância significativa em con- dições normais. Entretanto, em condições patológicas, a importância da estimulação NANC parece aumentar significativamente. O sistema nervoso simpático exerce sua influência sobre oTUI por meio de estimulação adrenérgica, atuan- do principalmente na liberação de noradrenalina em receptores do corpo vesical, da base vesical, da próstata e da uretra. No corpo vesical, a influência simpática é inibitória, facilitando o relaxamento vesical durante seu enchimento. Tal ação acontece por meio de receptores β2 e β3. Estes são os mais importantes e sua estimulação aumenta os níveis citoplasmáticos de AMPc, determi- nando sequestro de Ca2+ ao retículo sarcoplasmático, diminuindo a excitabilidade da célula (Figura 2). Outros neurotransmissores potenciais foram identificados em gânglios e em nervos do TUI, mas suas funções fisiológicas ainda não são bem conhecidas. Entre eles, destacam-se neuropeptídeo Y, encefalinas, somatostatina, polipeptídeo intestinal vasoativo e galanina. Urotélio também exerce função nas fases de arma- zenamento e de micção. Em resposta ao estiramento, ele libera ATP local, que ativa terminações nervosas suburoteliais, agindo em receptores P2X2/3 . Estudos
  • 5. 33 Anatomia e Fisiologia da Micção experimentais mostraram que receptores P2X3 estão envolvidos na regulação fisiológica das vias aferen- tes que controlam os reflexos de volume na bexiga, sendo considerados receptores de volume. Outras substâncias, como óxido nítrico e capsaicina (através de receptores vaniloides VR1) e taquicininas (através de receptores NK1) e prostanoides podem exercer fun- ções inibidoras ou estimuladoras da ativação vesical. Dessa forma, o urotélio também tem função meca- norreceptora na regulação vesical (Figura 3). Recentemente, estudos enfatizaram a importância das células intersticiais e dos neurônios periféricos (gânglios nervosos vesicais), constituindo o plexo miovesical em analogia ao plexo mioentérico, com possível função de iniciar a contração e propagá-la. O funcionamento vesical pode ser modular e cada módulo se une para formar um órgão esférico, se- melhante aos gomos de uma bola de futebol. Dessa forma, as unidades básicas de funcionamento vesical seriam esses módulos, que podem se contrair de ma- neira independente ou coordenada de acordo com as circunstâncias. Na hiperatividade detrusora existiria uma atividade anormal e coordenada dos módulos, enquanto uma atividade excessivamente localizada e sem coordenação provocaria distorções na parede vesical, aumentando a sensação vesical que pode ser responsável pela urgência. A micção se daria pela ativação coordenada de todos os módulos. De acordo com a interpretação anterior, o plexo miovesical auxilia também na percepção da repleção vesical de duas maneiras: 1) através de nervos que expressam transmissores típicos de nervos sensitivos e correm próximos às células intersticiais e 2) pela ação da acetilcolina. Estudos experimentais mostraram que a resposta à acetilcolina em segmentos isolados de bexiga é afetada pelo volume vesical. Com baixo volume, a atividade vesical é mínima, enquanto vo- lumes elevados acompanham-se de atividade fásica mais pronunciada. Falha no funcionamento do plexo miovesical provocaria contração detrusora ineficiente, com resíduo miccional. Tal fato poderia explicar por que a contratilidade vesical fica frequentemente com- prometida em pacientes idosos, nos quais o fenômeno de denervação vesical é comum. Controle esfincteriano Esfíncteres liso e estriado recebem inervação por fibras simpáticas e parassimpáticas. Entre elas, somen- te a simpática parece ser importante funcionalmente Figura 2 – Mecanismo de ação dos sistemas simpático e parassimpáticos. NA-noradrenalina; AC-acetilcolina.
  • 6. 34 UROLOGIA FUNDAMENTAL para a continência. Na base vesical predominam os re- ceptores α, em especial α1. Sua estimulação promove contração do colo vesical, aumentando a resistência a esse nível, bem como na uretra prostática. Por outro lado, seu bloqueio tende a relaxar tais componentes, resultando em diminuição de resistência ao fluxo urinário. Em situações patológicas, como nos casos de obstrução infravesical, parece haver aumento da expressão de receptores α no corpo vesical e sua estimulação poderia ser responsável pelos sintomas de enchimento apresentados por boa parte dos pa- cientes. Esse pode ser um dos mecanismos de ação dos alfabloqueadores para diminuição dos sintomas desses pacientes. Esfíncter estriado tem eferência somática vinda do pudendo, que permite seu con- trole voluntário. Relaxamento esfincteriano durante a micção é um processo complexo e não totalmente conhecido. Recentemente, estudos mostraram a importância de um mecanismo NANC mediado pelo óxido nítrico, que parece ser importante neurotransmissor envolvido no relaxamento. Além dos receptores eferentes, é relevante men- cionar a transmissão aferente vesical. Em condições normais ela é feita por fibras mielinizadas de con- dução rápida, denominadas Aδ, que respondem à distensão vesical fisiológica. Fibras não mielinizadas (tipo C) respondem aos estímulos nociceptivos do urotélio e do detrusor (Figura 4). Podem também responder a alterações químicas da composição da urina, liberando neuroquininas de terminações ner- vosas centrais e periféricas. Nervos aferentes que apresentam óxido nítrico como neurotransmissor também foram descritos. Inibição de sua atividade parece provocar aumento da atividade vesical. Assim, acredita-se que seu papel seja de regular o nível de sensibilidade da bexiga para sinalização aos centros principais da sensação de enchimento vesical. Prostanoides também são liberados pelas termi- nações nervosas do TUI após alguns estímulos, como distensão vesical e estimulação do nervo pélvico, e provocam contração de fibras detrusoras isoladas em humanos, mas relaxamento de fibras lisas uretrais. Como esse efeito é lento, sua função parece relacionar- se com modulação local da neurotransmissão aferente e eferente. Inibidores da síntese de prostanoides também podem aliviar sintomas irritativos vesicais e melhorar a continência. Resumidamente, pode-se descrever o ciclo mic- cional normal da seguinte forma: Figura 3 – Mecanismo de ação da teoria mecanorreceptora do urotélio.
  • 7. 35 Anatomia e Fisiologia da Micção 1) Enchimento: distensão da bexiga induz ativação progressiva dos nervos aferentes vesicais. Essa ativação é acompanhada pela inibição reflexa da bexiga através do nervo hipogástrico e simultânea estimulação do es- fíncter externo via nervo pudendo. O CPM é continua- mente monitorado sobre as condições de enchimento vesical, mantendo sua influência inibitória sobre o centro medular sacral, que inerva a bexiga, e liberando progressivamente a ativação do esfíncter externo; 2) Esvaziamento: após alcançar um nível crítico de enchimento vesical e sendo a micção desejada naquele momento, o CPM interrompe a inibição sobre o centro sacral da micção (parassimpático), que ativa a contração vesical através do nervo pélvi- co. Ao mesmo tempo, a influência inibitória sobre a bexiga, feita pelo sistema simpático através do nervo hipogástrico, é interrompida e ocorre simultânea inibição da ativação somática do esfíncter, relaxando o aparelho esfincteriano e garantindo a coordenação da micção. Pode-se descrever o ciclo miccional nor- mal como simples processo de liga-desliga, em que, num primeiro momento, ocorre inibição dos reflexos da micção (inibição vesical por meio da estimulação simpática e inibição da estimulação parassimpática) e ativação dos reflexos de enchimento vesical (esti- mulação esfincteriana pudenda). Esse mecanismo é alternado para ativação dos reflexos da micção (esti- mulação vesical parassimpática) e inibição dos reflexos de enchimento (inibição da ativação esfincteriana) e as duas fases alternam-se seguidamente. LEITURA RECOMENDADA 1. Andersson KE, Arner A. Urinary bladder contraction and relaxation: physiology and pathophysiology. Physiol Rev. 2004;84(3):935-86. 2. Andersson KE. Treatment-resistant detrusor overactivity- -underlying pharmacology and potential mechanisms. Int J Clin Pract Suppl. 2006;(151):8-16. 3. Drake MJ. The integrative physiology of the bladder. Ann R Coll Surg Engl. 2007;89(6):580-5. 4. Francis K. Physiology and management of bladder and bowel continence following spinal cord injury. Ostomy Wound Manage. 2007;53(12):18-27. 5. Hanna-Mitchell AT, Birder LA. New insights into the pharma- cology of the bladder. Curr Opin Urol. 2008;18(4):347-52. 6. Anderson KE, Hedlund P. Pharmalogic perspective on the physiology of the lower urinary tract. Urology. 2002;60(Su- ppl 5A):13-20. 7. Blok BFM. Central pathways controlling micturation and urinary continence. Urology. 2002;59(Suppl 5A):13-7. 8. Yoshimura N, Chancellor MB. Physiology and pharmacology of the bladder and urethra. In: WeinAJ, Kavoussi LR, Novick AC, Partin AW, Peter CA, editors. Campbell-Walsh Urology. 9th ed. Philadelphia: Saunders; 2007. 9. Lagou M, Gillespie JI, Hedlund P, Harvey IJ, Andersson KE, Drake MJ. Bladder volume alters cholinergic responses of the isolates whole rat bladder. J Urol. 2006;175:771-6. 10. Andersson KE, Wein AJ. Pharmacology of the lower urinary tract: Basis for current and future treatments of urinary incontinence. Pharmacol Rev. 2004;56:581-631. Figura 4 – Aferência vesical: fibras Aδ respondem à distensão vesical; fibras C respondem a estímulos nosciceptivos.