2. a exposições, lançamentos de livros e apresentações
de filmes. “O projeto original era muito ornamental,
sintetizava a alma do Porto”, diz a engenheira, mas
nunca passou por sua cabeça “tentar refazer o que se
perdera”. Com exceção da fachada, reproduzida com
a máxima fidelidade, o ateliê se permitiu arriscar, e a
ruptura fica clara quando se entra na edificação.
A volumetria foi respeitada, e acrescentou-se o
quintoandar,oqueperfazumaáreatotalde600m².
No lugar da escadaria desaparecida, que era a pièce-
-de-résistance,umgrandiosohall,deconcretocru,faz
o acesso vertical, através de elevador e escadas, a to-
dos os pisos. Alexandra apelida essa intervenção de
“arquitetura fóssil”, pois na textura do concreto são
nítidas as marcas das antigas estruturas.
No térreo e no primeiro andar, ficam a recep-
ção, as salas de refeições e estar, e uma pequena
biblioteca na varanda acoplada ao salão, que dá
acessoaojardimnosfundos.Nafachadaposterior,a
silhueta da casa surge depurada, revestida com cha-
pa ondulada de zinco para não destoar dos prédios
vizinhos. Os ambientes são pontuados por mobiliá-
rio e acessórios retrô ou contemporâneos, assinados
por ilustres como os portugueses Siza Vieira (são
dele as luminárias) e Souto de Moura ou o brasileiro
Percival Lafer (o sofá de couro domina a recepção).
Antes de passar às suítes, apenas seis, é impossí-
vel não reparar na claraboia que coroa o hall e nada
mais é do que um olho “à Le Corbusier”, aberto no
concreto, para deixar entrar a luz natural. Viradas
para a rua ou o jardim, as suítes fazem a apologia do
“menos é mais”: têm roupa de cama branca e poucas
peças de design escolhidas a dedo.
Ostetossãoumcapítuloàparte.Emparceriacom
os criativos da R2 Design, poemas e contos – de no-
mesligadosaoPorto,comoFilipaLeal,JorgeFigueira
e Nuno Grande – sofreram cofragem para gravação
embaixorelevonostetosdeconcreto.Obembolado
recurso estilístico já valeu dois prêmios internacio-
nais de design gráfico: o SEGD Design Awards e o
Uma das peças-chave
da recepção é o sofá
do brasileiro Percival
Lafer. Na pág.
ao lado, no alto,
à esq., varanda
da suíte Residence NG,
voltada para o jardim;
à dir., escadaria com
aplicação manual
de couro no corrimão;
e, abaixo, no lugar
da claraboia tradicional,
há um “olho”, ao estilo
Le Corbusier, para
a entrada de luz natural
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Golden Award do European Design Awards, na ca-
tegoria Signs & Displays.
Num primeiro momento, em que a frieza do
concreto se sobrepunha, temeu-se um desfecho
inóspito,masficouprovadoque,conjugadocomou-
tros materiais – como madeira, couro e veludo –, o
material pode funcionar, e bem, em obras de escala
mais intimista. Como esta, que preserva a memória
mesmo rompendo com o passado. n
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