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Poderá a participação no Mundial de futebol e a inauguração de um voo
direto para Lisboa alterar a sina de uma cidade que cresceu, quase por
capricho, no meio da selva amazónica e que ainda faz dos rios as suas
principais vias de transporte e de comunicação com o exterior?
Fomos a Manaus em busca desta e de outras respostas.
T E X T O D E J O Ã O M I G U E L S I M Õ E S | F O T O G R A F I A S D E P A U L O B A R A T A
A REVELAÇÃO AMAZÓNICA
MANAUS
Manaus-Volta ao Mundo Junho 2014
74 Volta ao Mundo junho 2014
C
omo todos os eldorados que não
cumpriram a sua vocação de
grandeza, a capital do estado
do Amazonas presta-se ao en-
gano – ainda há quem, no século xxi, aqui desem-
barque persuadido de ter deixado a «civilização»
para trás; como se não fosse dela o sexto maior PIB
do Brasil (dados de 2013) ou não tivesse sido a
primeira cidade brasileira a ser urbanizada e a
segunda do país a receber energia elétrica.
Seja como for, Manaus está nas bocas do mundo.
Quis o Brasil e a FIFA que, após a implantação
da zona franca na década de 1960 e da indústria
pesada – que a tiraram da ruína em que havia mer-
gulhado desde que os ingleses levaram mudas das
seringueiras, de onde se extrai o látex, para a Malásia
e iniciaram ali, com condições mais propícias, um
novo ciclo da borracha natural –, fosse o Mundial
a colocá-la novamente no mapa. Ou na geografia
dos amantes de futebol, pelo menos, já que, de entre
os jogos mais aguardados da primeira fase, dois – o
Inglaterra-Itália, a 14 de junho, e o Portugal-EUA,
a 22 de junho – estão marcados para a sua arena.
Não foi uma decisão óbvia tornar Manaus uma
das 12 cidades-sede da «Copa». Afinal, estamos
a falar de uma quase ilha no meio da floresta
amazónica e da capital de um estado onde as
principais vias de transporte, de pessoas e de mer-
cadorias, são fluviais e morosas. Muitos duvidaram,
inclusive, da sua capacidade de organização e de
conseguir cumprir todos os requisitos necessários
para tal empreitada.
Algummérito,porém,ninguémlhetira.Manaus
conseguiu que a TAP fizesse dela uma aposta (são,
desde junho, três voos semanais com partida de
Lisboa) e, ao contrário de outras sedes, foi das que
entregou o seu estádio a tempo e horas – por mais
que a bonita Arena Amazónica (que teve módu-
los fabricados em Aveiro), com capacidade para
44 500 adeptos e um custo estimado em cerca de
670 milhões de reais (mais 170 milhões do que o
previsto), tenha futuro incerto numa metrópole
sem tradição de futebol (os locais torcem por clubes
do Rio e de São Paulo) e que não está na rota dos
grandes espetáculos internacionais.
Com quase dois milhões de habitantes, de
origens dispersas, Manaus diz-se pronta para o
que der e vier. Quem a conhece de antes, como
eu, e tem noção dos seus profundos problemas
estruturais, reconhece o esforço feito, mas depressa
se dá conta também de que a força mobilizadora
do Mundial não chegou para resolver tudo o que
era preciso – porventura inverteu as prioridades.
«Manaus cresceu assim: no tumulto de quem
chega primeiro» (Dois Irmãos, Milton Hatoum). Na
minha primeira visita à cidade, recordo-me bem, foi
a prosa de Hatoum, nascido em Manaus na década
de 1950 e com romances publicados em Portugal,
que me ajudou a olhar a capital amazonense com
outra benevolência. Neste regresso, porém, não
estava muito confiante. Não via como, em três anos
apenas, a cidade poderia ter recuperado o seu centro
histórico, domado o caos do seu trânsito, resolvido
o drama dos seus subúrbios ou feito o necessário
update da sua oferta hoteleira tão datada – só para
citar o incontornável.
A bem da verdade, todos esses problemas per-
sistem, mas os 18 quilómetros de orla que acom-
panham a praia urbana da Ponta Negra, afastada
do centro, são talvez dos trechos em que mais se
notam diferenças – para melhor, muito melhor.
Ancorada às margens do rio Negro, o maior aflu-
ente do gigante Amazonas, esta zona de lazer que
já era o endereço da grande dama da hotelaria lo-
cal – o Tropical (ver Onde Ficar), com os seus 400
mil metros quadrados, seis blocos de apartamentos,
piscina com ondas, zoo privado, tanques com tarta-
rugas e peixes de rio amazónicos, mantém-se uma
Longe da vista, Manaus não é, ainda assim, uma completa estranha.
Mesmo os que nunca foram além da sua zona de conforto
já ouviram falar da antiga «Paris dos trópicos», por mais que depois,
na imensidão amazónica, não a saibam apontar.
Ou entender.
COMO IR
A partir de junho, a TAP (flytap.
com) passa a dispor de voos
circulares (três ligações
semanais com partida de
Lisboa e paragem em Belém
do Pará) para Manaus a partir
de 810 euros.
INFORMAÇÕES ÚTEIS
Documentos necessários:
passaporte válido.
Câmbio: R$1 vale cerca de
€0,35. É fácil encontrar pontos
ATM em Manaus, os cartões de
crédito são bem-vindos.
Diferença horária: Manaus tem
menos 5h00 do que Portugal
continental (menos 4h00 no
nosso horário de Inverno).
Clima: é raro a temperatura
máxima de Manaus cair
abaixo dos 30ºC, mas o maior
pico regista-se na estação
seca, de agosto a novembro,
altura em que a humidade
é também muito elevada.
Quando ir: a época de chuvas,
de dezembro a maio/junho, faz
aumentar em muito o caudal
dos rios, que transbordam e
inundam as florestas e matas,
proporcionando passeios de
barco por entre as copas das
árvores submersas. Já a época
seca permite o aparecimento
de praias fluviais.
PORTAAMAZÓNICA
A abrir, na dupla anterior:
navegação, ao largo do
Amazon Ecopark Jungle
Lodge, num afluente do rio
Negro, o Tarumã; jovem
índio da tribo Caniço,
oriunda de São Gabriel da
Cachoeira, Alto Rio Negro.
FAZERAFEIRA
À direita, no sentido
horário: variedades
de banana à venda no
mercado Manaus Moderna;
embarcações no porto
manauara; feira de rua
junto ao Mercado Adolpho
Lisboa; Amazon Ecopark.
75Volta ao Mundo junho 2014
76 Volta ao Mundo junho 2014
referência, por mais que a extinção da companhia
aérea Varig, de que era subsidiário, tenha sido um
duro golpe – e disputada pelos condomínios mais
caros voltou, depois da sua requalificação urbana,
a fazer jus a este outro excerto de Hatoum: «Aos
domingos quando os manauaras saem ao sol e a
cidade se concilia com o rio Negro.» Bem ilumi-
nado à noite, o seu «calçadão» ganhou quadras de
voleibol de praia, miradouros e vários quiosques
com filiais dos principais restaurantes e lanchonetes
da cidade (ver Onde Comer).
Fora do centro, na periferia, mas também nas
zonas ribeirinhas, é possível compreender a génese
de Manaus, uma capital erguida, quase como um
capricho, no meio da selva em tempo de bonança,
mas que cresceu, sem rei nem roque, já numa fase
de declínio. Quando o ciclo da borracha brasileira
entrou em colapso, muitos dos que vieram em
busca de trabalho nessa indústria perderam o seu
sustento e, com uma mão à frente e uma família
às costas, foram trocando os seringais pela cidade.
E instalaram-se como puderam, «no tumulto de
quem chega primeiro» e tomou a sua vez sobre-
tudo nos bairros anfíbios de São Raimundo ou de
Educandos, com as casas toscas, mas coloridas,
empoleiradas em andas que as colocam a salvo da
subida das águas nas enchentes.
O centro histórico, ainda que não escape ileso
à desordem e que clame por uma recuperação
séria que tarda em vir (e não foi desta!), guarda
resquícios da era de ouro, em que os barões da bor-
racha se davam ao luxo de encomendar palacetes
ou até mesmo uma ópera à escala europeia. As
torres despropositadas que cercam a Praça de São
Sebastião são empecilhos à circulação da brisa
vinda do rio, mas, por comparação, aumentam o
viço dos casarões antigos que sobejaram e fazem que
só tenhamos olhos para o Teatro Amazonas. Entre
mangueiras e ficus aparados (os benjaminzeiros),
rodeada da calçada portuguesa que um dia se
viu atapetada de látex para que o barulho das
carruagens fosse amortecido, o teatro de finais
do século xix mantém-se em atividade e ainda
é possível sentir entranhado, em meio de tanto
esplendor, o frenesim e as conversas de salão que
entretinham a fina flor da sociedade sempre que
Na periferia, mas também nas zonas ribeirinhas de Manaus,
é possível compreender a génese de Manaus, uma capital erguida,
quase como um capricho, no meio da selva em tempo de bonança.
A não perder: o Festival de
Ópera, no Teatro Amazonas,
realiza-se todos os anos, de
abril a maio.
TRANSPORTES
Hotéis mais afastados do
centro, como o Tropical, têm
vantagens mas implicam
gastos maiores em táxis e,
em horas de ponta, mais
tempo no trânsito. Por seu
turno, a maioria dos hotéis de
selva assegura transfers em
carrinhas a partir dos hotéis
de Manaus,
ONDE FICAR
EM MANAUS
Tropical
Av. Cel. Teixeira, 1320 (Ponta
Negra)
Afastado do centro, junto
ao rio e à area recreativa da
Ponta Negra, é um gigante,
mas também um clássico para
quem se hospeda em Manaus.
Acusa a passagem dos anos,
mas atrai pela variedade de
opções, piscina com ondas e
até um minizoo.
tropicalhotel.com
NOS ARREDORES
Amazon Ecopark Jungle Lodge
Igarapé do Tarumã-Açu,
Rio Negro
A viagem de lancha a partir da
marina de Manaus não leva
mais do que 20 minutos, mas é
o tempo suficiente para mudar
de ares e se sentir rodeado
de água e verde por todo o
lado. O alojamento faz-se em
chalés, sem luxos mas muito
confortáveis e pitorescos.
Tem wi-fi na área principal e
compensa optar pelos pacotes
que incluem atividades e
alojamento com pensão
completa.
amazonecopark.com.br
ESPLENDORTROPICAL
O que sobrou do passado
próspero e farto de Manaus
carece de maiores cuidados,
mas subsistem alguns
belos casarões (em baixo, à
direita), palacetes e, claro, o
Teatro Amazonas (em baixo,
à esquerda, e à direita)
77Volta ao Mundo junho 2014
78 Volta ao Mundo junho 2014
havia espectáculo. O eldorado era então aqui
e tudo parecia possível.
Quase colado, o Palácio da Justiça, de
estilo renascentista, alberga desde 2006 um
cinema e exposições temporárias, mas são o
Palacete Provincial, na bonita praça ajar-
dinada de Heliodoro Balbi, e o Palácio Rio
Negro, antiga casa baronesa e sede do governo
estadual, que mais merecem uma visita, a par
da Casa Eduardo Ribeiro e do Centro Cultural
Palácio Rio Branco (atenção ao mural de
arte de rua alusivo à República, bem perto).
A 7 de Setembro, que liga o centro ao
sul, é um dos principais eixos de Manaus e
mergu­lha-nos na confusão: cachos de fios
elétricos, trânsito nervoso, música alta… A
Praça da Matriz, onde está a catedral, não
é muito diferente, mas, a par da redução da
criminalidade e da prostituição, continua-se
a tentar que os vendedores ambulantes, que
atravancam as ruas e tapam a entrada para
o comércio local, se mudem em definitivo
para junto da antiga alfândega, já no porto.
A olho nu, vê-se que muito do património
está em estado periclitante. Agora, como
antes, continuo a conseguir encontrar nisto
uma certa melancolia decadente, mas nem
todos são tão generosos na sua avaliação.
Até porque o calor excessivo, potenciado
por uma humidade de quase cem por cento,
não é para todos. «Estava ensopado de suor,
irritado com a sujeira acumulada nas ruas. Aos
poucos, tudo isso foi perdendo importância»,
escreve ainda Hatoum.
A proximidade ao rio, com o seu vaivém
incessante de embarcações de convés duplo
(lembram os barcos a vapor do Mississípi),
passageiros e estivadores, traz-me à lembrança
que muito do mérito da cozinha manauara,
assumidamente mestiça, assenta na riqueza
dos peixes amazónicos. Quem está habituado
à textura e sabor dos peixes de mar, estranha
um pouco, mas vale a pena dar um voto
de confiança ao tambaqui, ao pirarucu e ao
tucunaré (para citar os mais apreciados). Na
frente ribeirinha de Manaus, o recentemente
recuperado Mercado Adolpho Lisboa, com
venda de artesanato e praça de alimentação,
A proximidade ao rio, com o seu vaivém incessante de embarcações de convés duplo,
passageiros e estivadores, traz à lembrança que muito do mérito da cozinha manauara,
assumidamente mestiça, assenta na riqueza dos peixes amazónicos.
79Volta ao Mundo junho 2014
é a resposta manaura ao internacionalmente
famoso mercado Ver-o-Peso de Belém do Pará,
mas embora já seja possível admirar aqui as
ervas, os frutos e os peixes amazónicos, nada
se compara (por mais que os nossos sentidos
peçam um tempo de aclimatação) à explosão
de cores e cheiros (nem todos agradáveis) que
se testemunha nas feiras populares de rua ou,
mais institucional mas nem por isso menos
apaixonante, dos vários setores que compõem
o mercado Manaus Moderna.
Foi aqui, mais do que em qualquer outro
lugar de Manaus, entre tambaquis, tucunarés,
piranhas, dezenas de variedades de bananas
ou tucumãs (ver Onde Comer), que me senti
chegar perto da essência manauara.
O bom selvagem à mata torna
Em finais de 2010 tive o meu primeiro «ba-
tismo» na selva. Por outras palavras, tive um
prenúncio da mata. Da floresta às portas da
civilização. E essa foi, quase por oposição às
impressões viscerais que guardara de Manaus,
a imagem que resolvi preservar da minha
viagem inaugural à Amazónia brasileira.
Como previra então, não consegui ver-me
livre dela. Bastou um trajeto de meros vinte
minutos, a bordo de uma lancha, entre a ma-
rina de Manaus e o Amazon Ecopark Jungle
Lodge, um dos autodenominados «hotéis de
selva» nos arredores da capital amazonense,
para me avivar a memória. Flanar por entre
os igarapés do rio Negro (como se chama
aos canais ou braços de rios nesta região),
com a paisagem ao mesmo tempo singela e
avassaladora refletida numa assimetria quase
perfeita, qual realidade paralela, tem um
efeito hipnótico.
E põe-nos a pensar.
Para começar, sempre que se fala da
Amazónia, ou da Pan-Amazónia – toda a
área de 5,5 milhões de quilómetros quadrados,
em boa parte coberta por floresta tropical ou
amazónica, partilhada por nove países sul-
-americanos na bacia do maior rio do mundo,
o Amazonas –, ficamos num dilema: até que
ponto as notícias mais alarmantes espelham
com exatidão a realidade ou são antes ten-
tativas para levar a opinião pública mundial
(porque estamos a falar de um património
comum à humanidade, reconhecido pela
UNESCO) a tomar um partido?
Há quem diga que a floresta tropical, no
quinhão gigantesco de sessenta por cento que
coube ao Brasil, nunca esteve tão protegida
– uma das grandes bandeiras dos governos
de Lula da Silva e de Dilma Rousseff foi
precisamente a redução em 75 por cento do
desmatamento na Amazónia Legal (a de­
signação brasileira para efeitos económicos
e governamentais) e ter colocado o Brasil
na dianteira da defesa ambiental. Mas há
quem, ainda assim, não se canse de alertar
para a morte anunciada da maior reserva
do planeta de água doce, plantas e animais.
Sem falar no turismo. Não sendo, pelas suas
80 Volta ao Mundo junho 2014
caraterísticas tão específicas, um destino para
todos, o apelo da Amazónia brasileira é grande
e crescente. Há uma aura de encantamento, até
mesmo de mistério, à sua volta que atrai um tipo
de turista disposto a gastar mais pelo privilégio
– porque é longe (para se ter noção, só no Brasil,
a norte, a Amazónia distribui-se por nada menos
do que nove estados), porque as distâncias são
enormes, porque a infraestrutura turística é menor
e porque não é um produto de massas.
Convém, por isso, saber ao que se vai – e, já
agora, esquecer os documentários da National Geo-
graphic. Já que estou prestes a partilhar a experiên-
cia que se seguiu no Amazon Ecopark, interessa
desde já esclarecer certos pontos para evitar mal-
entendidos a priori e desilusões a posteriori. Os ditos
«hotéis de selva», em diferentes níveis de conforto
e luxo, mais ou menos isolados, mas quase sempre
caros, proporcionam diversos graus de imersão nas
florestas e matas amazónicas, mas, até por questões
de ordem prática – e porque a maioria dos visitantes
está menos disposta do que imagina, à partida, a
renunciar à «civilização» –, proporcionam apenas
um vislumbre; um primeiro contacto com a «selva»
(imagine-se a floresta amazónica em camadas,
como uma cebola, e ficar-se-á apenas pelas mais
superficiais, por regra as áreas próximas aos rios,
conhecidas por floresta de igapó).
O mesmo se passa com os passeios e excursões.
Não são expedições; nem acampamentos de sobre-
vivência (embora, por acaso, o Amazon Ecopark
tenha entre as suas propostas um treino na selva
«à militar»). São passeios, visitas guiadas quando
muito, uns mais imperdíveis do que outros, que
nos permitem navegar nos rios, caminhar na mata,
tirar fotografias às enormes seringueiras e aos ne-
núfares gigantes (as vitórias-régias), aprender um
ou outro truque, admirar os ninhos das térmitas,
mas que só muito raramente, e com sorte, lhe vão
dar a oportunidade de avistar animais selvagens.
Eles estão lá, podemos ouvi-los e até imaginá-los,
mas não se deixam ver, por muita boa vontade que
tenham os guias. Há exceções, claro, mas nada
que se possa comparar à profusão do Pantanal, por
exemplo, no Mato Grosso do Sul.
Dito isto, vem a melhor parte. Avisado sobre
tudo aquilo que, por regra não vem nos guias e nos
fo­lhetos de promoção, está-se pronto para embarcar
numa viagem que, mesmo limitada no tempo e no
espaço, tem tudo para ser uma experiência que,
mais tarde, vai gostar de recordar (e de repetir).
O livro da selva
Depois de ter estado, anos atrás, em Novo Airão,
entre o rio Negro e o arquipélago das Anavilhanas
(um dos maiores da região, com mais de quatro-
centas ilhas), a mais de três horas de Manaus,
embarquei para o Amazon Ecopark Jungle Lodge,
às portas da capital, convicto de que não repetiria
a sensação de «ilhamento».
TEMPEROFORTE
Nesta página: a floresta
virgem (à esquerda) em
redor do Amazon Ecopark
possui inúmeras trilhas;
pirarucu com banana
pacovã e queijo coalho
no restaurante Banzeiro
(à direita). Na página ao
lado: índios da tribo Caniço.
EM ANAVILHANAS
Anavilhanas Jungle Lodge
Acesso pelo km 1 da AM-352,
5,5 km
A viagem de carro pode
demorar até 3h30, mas vale
muito a pena. É, até ver, a
mais charmosa de todas as
propostas de alojamento na
selva, à beira do rio Negro.
Consegue ser rústico, sem
deixar de ser muito confortável
e de providenciar boa comida e
regalias como wi-fi por satélite.
Funciona em regime de tudo
incluído, até os passeios.
anavilhanaslodge.com
ONDE COMER
EM MANAUS
Banzeiro
Rua Libertador, 102
(Adrianópolis), Tel. 3234-1621
Abriu em finais de 2009 e o
responsável é o jovem chef
Felipe Schaedler, o mais
premiado da cidade, que trouxe
para a capital do Amazonas
uma nova abordagem para a
típica cozinha local.
Peixaria Bom Gosto
Av. Bispo Pedro Massa, 15
(Cidade Nova), Tel. 3645-2784
O nome não engana.
A especialidade da casa são
peixes de rio amazónicos
preparados de diferentes
modos (fritos, grelhados ou
em ensopados).
Orla da Ponta Negra
O habitual passeio dos
manauaras na orla do rio
Negro beneficiou de uma
requalificação urbana que
embelezou e equipou o
«calçadão» com quadras de
voleibol de praia, miradouros e
inúmeros quiosques de comes
e bebes.
Só no Brasil, a Amazónia distribui-se por nada menos do que nove
estados. Há uma aura de encantamento à sua volta que atrai um
tipo de turista disposto a gastar mais pelo privilégio de estar aqui.
81Volta ao Mundo junho 2014
82 Volta ao Mundo junho 2014
Estava, não tenho vergonha em assumi-lo
publicamente, enganado. Desde o primeiro mo-
mento, o pier do Amazon Ecopark arrebatou-me,
precisamente, pela sua simplicidade. Ancorado
junto a um afluente do rio Negro, o Tarumã, este
aldea­mento turístico, vou chamar-lhe assim, faz
do apelo rústico a sua melhor bandeira. E cumpre
perfeitamente – quer nos chalés (um total de 64,
sendo a maioria de madeira, mas com ar condicio-
nado, chuveiro elétrico) quer nas zonas comuns,
de arquitetura aberta, como a receção (há wi-fi), o
bar ou o restaurante. E dá-nos, sim, a sensação de
estarmos numa ilha e a ilusão de que a civilização
está longe – quando, na realidade, está bem perto.
Para uma coisa e outra contribui o facto de o acesso
se fazer apenas por rio (com direito a praia fluvial
na época seca) e de a toda volta existir uma mata
virgem onde muitos animais procuram refúgio.
Mesmo numa estada curta, como foi o caso,
vai sobrar tempo para usufruir momentos de pura
indulgência nas camas de rede, para ir a banhos
nas piscinas naturais (aproveitando a existência
de córregos de água) ou até para fazer uma sesta ou
jogar uma partida de sinuca, mas, um pouco como
nos safaris, o Amazon Ecopark tem previstas várias
atividades – as mais comuns são as saídas de canoa
ou lancha para a pesca com cana e isco de piranhas
e outros peixes, para escutar as aves na alvorada
ou para ouvir os sons da mata à noite. Ah, e uma
ida ao Centro de Reabilitação e Reintrodução de
Animais Silvestres, conhecido como «Floresta
dos Macacos», onde é possível, duas vezes ao dia,
assistir à alimentação da espécie Lagothrix, os
macacos-barrigudos.
Seja em que circunstância for, os hóspedes far-se-
ão sempre acompanhar de um guia. À nossa equipa
calhou o «seu» Francisco, que reúne o melhor dos
dois mundos. Filho de professsores, um índio e uma
italiana, foi criado numa tribo do Alto Rio Negro, o
que lhe permitiu desde cedo aprender a sobreviver
na floresta amazónica sem nunca descurar o gosto
por outro tipo de aprendizagem. Isso fez dele um
homem informado, capaz de discorrer sobre a troika,
os Açores ou a crise na Ucrânia enquanto nos guia
INNATURA
O Amazon Ecopark (em
baixo, à direita, e na página
ao lado) possui um total
de 64 chalés. Em baixo,
à esquerda: macaco-
-barrigudo da espécie
Lagothrix.
Tacacá da Gisela
Lgo. São Sebastião (Centro),
Tel. 8801-4901
Tacacá é um caldo servido
numa cuia (cabaça) que leva
tucupi (caldo de mandioca
brava), goma (amido obtido a
partir do caldo), camarão seco
e jambu (erva típica, com um
travo azedo). A provar.
Casa da Pamonha
R. Barroso, 375 (Centro)
Um dos endereços mais
conhecidos para provar a
pamonha (feita com milho
verde cozido) e a especialidade
local, a sanduíche de tucumã
também conhecida como
x-caboclinho (pão recheado
com lascas de tucumã, fruto
de uma palmeira amazónica,
banana e queijo coalho).
Café Regional Joelza
Av. Torquato Tapajós (acesso
pela AM-010), Tel. 3654-5487
Servido todos os dias, entre as
6h00 e as 14h30, é uma atração
à parte; o festim inclui bolo de
macaxeira, mungunzá, cuscuz,
pamonha, mingau de banana
ou o x-caboclinho. No total, são
mais de 150 itens à disposição.
À NOITE
Bar do Armando
R. 10 de Julho, 593 (Centro)
É um clássico de Manaus,
conhecido também pela sua
sanduíche de pernil com limão.
Bar Caldeira
R. José Clemente, 237 (Centro)
Escapou ileso a uma explosão
de caldeiras em 1970.
Autoproclama-se como «o bar
“oficial” da Copa» na cidade.
PASSEIOS
Primeiro conselho: não fique
apenas em Manaus e reserve
alguns dias para ficar num
«hotel de selva». A partir
da cidade, é «obrigatório»
realizar o passeio de barco
Ancorado junto a um afluente do rio Negro, o Tarumã, o Amazon
Ecopark Jungle Lodge, a vinte minutos de lancha de Manaus,
faz do apelo rústico a sua melhor bandeira. E cumpre perfeitamente.
83Volta ao Mundo junho 2014
pelas trilhas da mata e nos vai ensinando a distinguir
orquídeas, uma seringueira de uma sapopemba,
a fazer fogo, a saber qual casca de árvore ajuda a
prevenir a malária ou a usar a resina perfumada do
breu-branco para improvisar uma torcha.
E há mais o que fazer e ver. Em alternativa aos
barcos que saem do porto flutuante de Manaus,
também o Amazon Ecopark proporciona, dia sim
dia não, um passeio para ir ao encontro dos rios
Negro e Solimões. Estamos a cerca de 1650 quiló-
metros do Atlântico e, até se fundirem num só,
os dois rios correm, lado a lado, por mais de dez
quilómetros sem se misturarem (composição e
densidade diferentes) – as águas escuras e mornas
do rio Negro e as águas leitosas e mais frias do
Solimões dão-nos a sensação de estarmos a servir
de enfeite a um bolo mármore. E assim será até que
a mestiçagem se dá e um único rio leva o nome
de Amazonas.
Cada vez mais arredios, os botos – golfinhos
da região amazónica, que ganham um tom rosado
quando adultos –, num dia de sorte, dar-nos-ão
um ar da sua graça, mas sempre à distância. Sabe
sempre a pouco. Cientes disso, o Amazon Eco-
park, à semelhança da concorrência, junta à sua
programação a possibilidade de se ir nadar com
os «golfinhos narigudos». Desta vez não fui ver
os botos, mas entre uma visita a uma comunidade
de caboclos e assistir às danças e cantares rituais
de uma comunidade de índios que vive a cerca de
quarenta minutos de lancha do Amazon Ecopark,
eu e o fotógrafo optámos pela segunda (ainda que
paga, cerca de 25 euros por pessoa). Oriundos das
terras indígenas de São Gabriel da Cachoeira, no
Alto Rio Negro junto à fronteira com a Colômbia,
estes membros da tribo Caniço vestem-se (ou
melhor, despem-se) e enfeitam-se a rigor para
receber os forasteiros numa grande maloca (cabana
comunitária), onde executam danças e cantares
ancestrais. É para turista ver, mas não chega a ser
uma farsa. É um modo de vida, uma encenação
que lhes permite sobreviver. Porque não está fácil
para ninguém. No final, de consciência pesada,
gastei à pressa alguns reais em pulseiras de contas
e porta-chaves de penas.
A culpa não morre solteira; e também não per-
dura sobre outras recordações. Na minha memória,
uma vez mais, quis amealhar aquilo que sei não
ser fácil de apagar. Guardo os banhos solitários de
rio. E as conversas com o «seu» Francisco. E cada
entardecer incandescente que aplaudi por dentro.
E a paz que foi, mesmo com o barulho do motor,
percorrer o rio à noite apenas alumiados pelo clarão
da Lua. Num reino anfíbio pejado de lendas, esse
é o meu chamado. Aquele que sempre ouvirei por
mais que tudo o resto me deixe dividido. n
para testemunhar o encontro
dos rios Negro e Solimões.
Dura meio-dia, custa cerca
de 50 euros e inclui visitas a
comunidades ribeirinhas e
caminhada na floresta.
Na net
manaus.am.gov.br
visitbrasil.com
copa2014.gov.br/pt-br/sedes/Manaus
pt.fifa.com/worldcup
AGRADECIMENTOS
Tap
Tropical
Amazon Ecopark Jungle Lodge

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  • 1. Poderá a participação no Mundial de futebol e a inauguração de um voo direto para Lisboa alterar a sina de uma cidade que cresceu, quase por capricho, no meio da selva amazónica e que ainda faz dos rios as suas principais vias de transporte e de comunicação com o exterior? Fomos a Manaus em busca desta e de outras respostas. T E X T O D E J O Ã O M I G U E L S I M Õ E S | F O T O G R A F I A S D E P A U L O B A R A T A A REVELAÇÃO AMAZÓNICA MANAUS
  • 3. 74 Volta ao Mundo junho 2014 C omo todos os eldorados que não cumpriram a sua vocação de grandeza, a capital do estado do Amazonas presta-se ao en- gano – ainda há quem, no século xxi, aqui desem- barque persuadido de ter deixado a «civilização» para trás; como se não fosse dela o sexto maior PIB do Brasil (dados de 2013) ou não tivesse sido a primeira cidade brasileira a ser urbanizada e a segunda do país a receber energia elétrica. Seja como for, Manaus está nas bocas do mundo. Quis o Brasil e a FIFA que, após a implantação da zona franca na década de 1960 e da indústria pesada – que a tiraram da ruína em que havia mer- gulhado desde que os ingleses levaram mudas das seringueiras, de onde se extrai o látex, para a Malásia e iniciaram ali, com condições mais propícias, um novo ciclo da borracha natural –, fosse o Mundial a colocá-la novamente no mapa. Ou na geografia dos amantes de futebol, pelo menos, já que, de entre os jogos mais aguardados da primeira fase, dois – o Inglaterra-Itália, a 14 de junho, e o Portugal-EUA, a 22 de junho – estão marcados para a sua arena. Não foi uma decisão óbvia tornar Manaus uma das 12 cidades-sede da «Copa». Afinal, estamos a falar de uma quase ilha no meio da floresta amazónica e da capital de um estado onde as principais vias de transporte, de pessoas e de mer- cadorias, são fluviais e morosas. Muitos duvidaram, inclusive, da sua capacidade de organização e de conseguir cumprir todos os requisitos necessários para tal empreitada. Algummérito,porém,ninguémlhetira.Manaus conseguiu que a TAP fizesse dela uma aposta (são, desde junho, três voos semanais com partida de Lisboa) e, ao contrário de outras sedes, foi das que entregou o seu estádio a tempo e horas – por mais que a bonita Arena Amazónica (que teve módu- los fabricados em Aveiro), com capacidade para 44 500 adeptos e um custo estimado em cerca de 670 milhões de reais (mais 170 milhões do que o previsto), tenha futuro incerto numa metrópole sem tradição de futebol (os locais torcem por clubes do Rio e de São Paulo) e que não está na rota dos grandes espetáculos internacionais. Com quase dois milhões de habitantes, de origens dispersas, Manaus diz-se pronta para o que der e vier. Quem a conhece de antes, como eu, e tem noção dos seus profundos problemas estruturais, reconhece o esforço feito, mas depressa se dá conta também de que a força mobilizadora do Mundial não chegou para resolver tudo o que era preciso – porventura inverteu as prioridades. «Manaus cresceu assim: no tumulto de quem chega primeiro» (Dois Irmãos, Milton Hatoum). Na minha primeira visita à cidade, recordo-me bem, foi a prosa de Hatoum, nascido em Manaus na década de 1950 e com romances publicados em Portugal, que me ajudou a olhar a capital amazonense com outra benevolência. Neste regresso, porém, não estava muito confiante. Não via como, em três anos apenas, a cidade poderia ter recuperado o seu centro histórico, domado o caos do seu trânsito, resolvido o drama dos seus subúrbios ou feito o necessário update da sua oferta hoteleira tão datada – só para citar o incontornável. A bem da verdade, todos esses problemas per- sistem, mas os 18 quilómetros de orla que acom- panham a praia urbana da Ponta Negra, afastada do centro, são talvez dos trechos em que mais se notam diferenças – para melhor, muito melhor. Ancorada às margens do rio Negro, o maior aflu- ente do gigante Amazonas, esta zona de lazer que já era o endereço da grande dama da hotelaria lo- cal – o Tropical (ver Onde Ficar), com os seus 400 mil metros quadrados, seis blocos de apartamentos, piscina com ondas, zoo privado, tanques com tarta- rugas e peixes de rio amazónicos, mantém-se uma Longe da vista, Manaus não é, ainda assim, uma completa estranha. Mesmo os que nunca foram além da sua zona de conforto já ouviram falar da antiga «Paris dos trópicos», por mais que depois, na imensidão amazónica, não a saibam apontar. Ou entender. COMO IR A partir de junho, a TAP (flytap. com) passa a dispor de voos circulares (três ligações semanais com partida de Lisboa e paragem em Belém do Pará) para Manaus a partir de 810 euros. INFORMAÇÕES ÚTEIS Documentos necessários: passaporte válido. Câmbio: R$1 vale cerca de €0,35. É fácil encontrar pontos ATM em Manaus, os cartões de crédito são bem-vindos. Diferença horária: Manaus tem menos 5h00 do que Portugal continental (menos 4h00 no nosso horário de Inverno). Clima: é raro a temperatura máxima de Manaus cair abaixo dos 30ºC, mas o maior pico regista-se na estação seca, de agosto a novembro, altura em que a humidade é também muito elevada. Quando ir: a época de chuvas, de dezembro a maio/junho, faz aumentar em muito o caudal dos rios, que transbordam e inundam as florestas e matas, proporcionando passeios de barco por entre as copas das árvores submersas. Já a época seca permite o aparecimento de praias fluviais. PORTAAMAZÓNICA A abrir, na dupla anterior: navegação, ao largo do Amazon Ecopark Jungle Lodge, num afluente do rio Negro, o Tarumã; jovem índio da tribo Caniço, oriunda de São Gabriel da Cachoeira, Alto Rio Negro. FAZERAFEIRA À direita, no sentido horário: variedades de banana à venda no mercado Manaus Moderna; embarcações no porto manauara; feira de rua junto ao Mercado Adolpho Lisboa; Amazon Ecopark.
  • 4. 75Volta ao Mundo junho 2014
  • 5. 76 Volta ao Mundo junho 2014 referência, por mais que a extinção da companhia aérea Varig, de que era subsidiário, tenha sido um duro golpe – e disputada pelos condomínios mais caros voltou, depois da sua requalificação urbana, a fazer jus a este outro excerto de Hatoum: «Aos domingos quando os manauaras saem ao sol e a cidade se concilia com o rio Negro.» Bem ilumi- nado à noite, o seu «calçadão» ganhou quadras de voleibol de praia, miradouros e vários quiosques com filiais dos principais restaurantes e lanchonetes da cidade (ver Onde Comer). Fora do centro, na periferia, mas também nas zonas ribeirinhas, é possível compreender a génese de Manaus, uma capital erguida, quase como um capricho, no meio da selva em tempo de bonança, mas que cresceu, sem rei nem roque, já numa fase de declínio. Quando o ciclo da borracha brasileira entrou em colapso, muitos dos que vieram em busca de trabalho nessa indústria perderam o seu sustento e, com uma mão à frente e uma família às costas, foram trocando os seringais pela cidade. E instalaram-se como puderam, «no tumulto de quem chega primeiro» e tomou a sua vez sobre- tudo nos bairros anfíbios de São Raimundo ou de Educandos, com as casas toscas, mas coloridas, empoleiradas em andas que as colocam a salvo da subida das águas nas enchentes. O centro histórico, ainda que não escape ileso à desordem e que clame por uma recuperação séria que tarda em vir (e não foi desta!), guarda resquícios da era de ouro, em que os barões da bor- racha se davam ao luxo de encomendar palacetes ou até mesmo uma ópera à escala europeia. As torres despropositadas que cercam a Praça de São Sebastião são empecilhos à circulação da brisa vinda do rio, mas, por comparação, aumentam o viço dos casarões antigos que sobejaram e fazem que só tenhamos olhos para o Teatro Amazonas. Entre mangueiras e ficus aparados (os benjaminzeiros), rodeada da calçada portuguesa que um dia se viu atapetada de látex para que o barulho das carruagens fosse amortecido, o teatro de finais do século xix mantém-se em atividade e ainda é possível sentir entranhado, em meio de tanto esplendor, o frenesim e as conversas de salão que entretinham a fina flor da sociedade sempre que Na periferia, mas também nas zonas ribeirinhas de Manaus, é possível compreender a génese de Manaus, uma capital erguida, quase como um capricho, no meio da selva em tempo de bonança. A não perder: o Festival de Ópera, no Teatro Amazonas, realiza-se todos os anos, de abril a maio. TRANSPORTES Hotéis mais afastados do centro, como o Tropical, têm vantagens mas implicam gastos maiores em táxis e, em horas de ponta, mais tempo no trânsito. Por seu turno, a maioria dos hotéis de selva assegura transfers em carrinhas a partir dos hotéis de Manaus, ONDE FICAR EM MANAUS Tropical Av. Cel. Teixeira, 1320 (Ponta Negra) Afastado do centro, junto ao rio e à area recreativa da Ponta Negra, é um gigante, mas também um clássico para quem se hospeda em Manaus. Acusa a passagem dos anos, mas atrai pela variedade de opções, piscina com ondas e até um minizoo. tropicalhotel.com NOS ARREDORES Amazon Ecopark Jungle Lodge Igarapé do Tarumã-Açu, Rio Negro A viagem de lancha a partir da marina de Manaus não leva mais do que 20 minutos, mas é o tempo suficiente para mudar de ares e se sentir rodeado de água e verde por todo o lado. O alojamento faz-se em chalés, sem luxos mas muito confortáveis e pitorescos. Tem wi-fi na área principal e compensa optar pelos pacotes que incluem atividades e alojamento com pensão completa. amazonecopark.com.br ESPLENDORTROPICAL O que sobrou do passado próspero e farto de Manaus carece de maiores cuidados, mas subsistem alguns belos casarões (em baixo, à direita), palacetes e, claro, o Teatro Amazonas (em baixo, à esquerda, e à direita)
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  • 7. 78 Volta ao Mundo junho 2014 havia espectáculo. O eldorado era então aqui e tudo parecia possível. Quase colado, o Palácio da Justiça, de estilo renascentista, alberga desde 2006 um cinema e exposições temporárias, mas são o Palacete Provincial, na bonita praça ajar- dinada de Heliodoro Balbi, e o Palácio Rio Negro, antiga casa baronesa e sede do governo estadual, que mais merecem uma visita, a par da Casa Eduardo Ribeiro e do Centro Cultural Palácio Rio Branco (atenção ao mural de arte de rua alusivo à República, bem perto). A 7 de Setembro, que liga o centro ao sul, é um dos principais eixos de Manaus e mergu­lha-nos na confusão: cachos de fios elétricos, trânsito nervoso, música alta… A Praça da Matriz, onde está a catedral, não é muito diferente, mas, a par da redução da criminalidade e da prostituição, continua-se a tentar que os vendedores ambulantes, que atravancam as ruas e tapam a entrada para o comércio local, se mudem em definitivo para junto da antiga alfândega, já no porto. A olho nu, vê-se que muito do património está em estado periclitante. Agora, como antes, continuo a conseguir encontrar nisto uma certa melancolia decadente, mas nem todos são tão generosos na sua avaliação. Até porque o calor excessivo, potenciado por uma humidade de quase cem por cento, não é para todos. «Estava ensopado de suor, irritado com a sujeira acumulada nas ruas. Aos poucos, tudo isso foi perdendo importância», escreve ainda Hatoum. A proximidade ao rio, com o seu vaivém incessante de embarcações de convés duplo (lembram os barcos a vapor do Mississípi), passageiros e estivadores, traz-me à lembrança que muito do mérito da cozinha manauara, assumidamente mestiça, assenta na riqueza dos peixes amazónicos. Quem está habituado à textura e sabor dos peixes de mar, estranha um pouco, mas vale a pena dar um voto de confiança ao tambaqui, ao pirarucu e ao tucunaré (para citar os mais apreciados). Na frente ribeirinha de Manaus, o recentemente recuperado Mercado Adolpho Lisboa, com venda de artesanato e praça de alimentação, A proximidade ao rio, com o seu vaivém incessante de embarcações de convés duplo, passageiros e estivadores, traz à lembrança que muito do mérito da cozinha manauara, assumidamente mestiça, assenta na riqueza dos peixes amazónicos.
  • 8. 79Volta ao Mundo junho 2014 é a resposta manaura ao internacionalmente famoso mercado Ver-o-Peso de Belém do Pará, mas embora já seja possível admirar aqui as ervas, os frutos e os peixes amazónicos, nada se compara (por mais que os nossos sentidos peçam um tempo de aclimatação) à explosão de cores e cheiros (nem todos agradáveis) que se testemunha nas feiras populares de rua ou, mais institucional mas nem por isso menos apaixonante, dos vários setores que compõem o mercado Manaus Moderna. Foi aqui, mais do que em qualquer outro lugar de Manaus, entre tambaquis, tucunarés, piranhas, dezenas de variedades de bananas ou tucumãs (ver Onde Comer), que me senti chegar perto da essência manauara. O bom selvagem à mata torna Em finais de 2010 tive o meu primeiro «ba- tismo» na selva. Por outras palavras, tive um prenúncio da mata. Da floresta às portas da civilização. E essa foi, quase por oposição às impressões viscerais que guardara de Manaus, a imagem que resolvi preservar da minha viagem inaugural à Amazónia brasileira. Como previra então, não consegui ver-me livre dela. Bastou um trajeto de meros vinte minutos, a bordo de uma lancha, entre a ma- rina de Manaus e o Amazon Ecopark Jungle Lodge, um dos autodenominados «hotéis de selva» nos arredores da capital amazonense, para me avivar a memória. Flanar por entre os igarapés do rio Negro (como se chama aos canais ou braços de rios nesta região), com a paisagem ao mesmo tempo singela e avassaladora refletida numa assimetria quase perfeita, qual realidade paralela, tem um efeito hipnótico. E põe-nos a pensar. Para começar, sempre que se fala da Amazónia, ou da Pan-Amazónia – toda a área de 5,5 milhões de quilómetros quadrados, em boa parte coberta por floresta tropical ou amazónica, partilhada por nove países sul- -americanos na bacia do maior rio do mundo, o Amazonas –, ficamos num dilema: até que ponto as notícias mais alarmantes espelham com exatidão a realidade ou são antes ten- tativas para levar a opinião pública mundial (porque estamos a falar de um património comum à humanidade, reconhecido pela UNESCO) a tomar um partido? Há quem diga que a floresta tropical, no quinhão gigantesco de sessenta por cento que coube ao Brasil, nunca esteve tão protegida – uma das grandes bandeiras dos governos de Lula da Silva e de Dilma Rousseff foi precisamente a redução em 75 por cento do desmatamento na Amazónia Legal (a de­ signação brasileira para efeitos económicos e governamentais) e ter colocado o Brasil na dianteira da defesa ambiental. Mas há quem, ainda assim, não se canse de alertar para a morte anunciada da maior reserva do planeta de água doce, plantas e animais. Sem falar no turismo. Não sendo, pelas suas
  • 9. 80 Volta ao Mundo junho 2014 caraterísticas tão específicas, um destino para todos, o apelo da Amazónia brasileira é grande e crescente. Há uma aura de encantamento, até mesmo de mistério, à sua volta que atrai um tipo de turista disposto a gastar mais pelo privilégio – porque é longe (para se ter noção, só no Brasil, a norte, a Amazónia distribui-se por nada menos do que nove estados), porque as distâncias são enormes, porque a infraestrutura turística é menor e porque não é um produto de massas. Convém, por isso, saber ao que se vai – e, já agora, esquecer os documentários da National Geo- graphic. Já que estou prestes a partilhar a experiên- cia que se seguiu no Amazon Ecopark, interessa desde já esclarecer certos pontos para evitar mal- entendidos a priori e desilusões a posteriori. Os ditos «hotéis de selva», em diferentes níveis de conforto e luxo, mais ou menos isolados, mas quase sempre caros, proporcionam diversos graus de imersão nas florestas e matas amazónicas, mas, até por questões de ordem prática – e porque a maioria dos visitantes está menos disposta do que imagina, à partida, a renunciar à «civilização» –, proporcionam apenas um vislumbre; um primeiro contacto com a «selva» (imagine-se a floresta amazónica em camadas, como uma cebola, e ficar-se-á apenas pelas mais superficiais, por regra as áreas próximas aos rios, conhecidas por floresta de igapó). O mesmo se passa com os passeios e excursões. Não são expedições; nem acampamentos de sobre- vivência (embora, por acaso, o Amazon Ecopark tenha entre as suas propostas um treino na selva «à militar»). São passeios, visitas guiadas quando muito, uns mais imperdíveis do que outros, que nos permitem navegar nos rios, caminhar na mata, tirar fotografias às enormes seringueiras e aos ne- núfares gigantes (as vitórias-régias), aprender um ou outro truque, admirar os ninhos das térmitas, mas que só muito raramente, e com sorte, lhe vão dar a oportunidade de avistar animais selvagens. Eles estão lá, podemos ouvi-los e até imaginá-los, mas não se deixam ver, por muita boa vontade que tenham os guias. Há exceções, claro, mas nada que se possa comparar à profusão do Pantanal, por exemplo, no Mato Grosso do Sul. Dito isto, vem a melhor parte. Avisado sobre tudo aquilo que, por regra não vem nos guias e nos fo­lhetos de promoção, está-se pronto para embarcar numa viagem que, mesmo limitada no tempo e no espaço, tem tudo para ser uma experiência que, mais tarde, vai gostar de recordar (e de repetir). O livro da selva Depois de ter estado, anos atrás, em Novo Airão, entre o rio Negro e o arquipélago das Anavilhanas (um dos maiores da região, com mais de quatro- centas ilhas), a mais de três horas de Manaus, embarquei para o Amazon Ecopark Jungle Lodge, às portas da capital, convicto de que não repetiria a sensação de «ilhamento». TEMPEROFORTE Nesta página: a floresta virgem (à esquerda) em redor do Amazon Ecopark possui inúmeras trilhas; pirarucu com banana pacovã e queijo coalho no restaurante Banzeiro (à direita). Na página ao lado: índios da tribo Caniço. EM ANAVILHANAS Anavilhanas Jungle Lodge Acesso pelo km 1 da AM-352, 5,5 km A viagem de carro pode demorar até 3h30, mas vale muito a pena. É, até ver, a mais charmosa de todas as propostas de alojamento na selva, à beira do rio Negro. Consegue ser rústico, sem deixar de ser muito confortável e de providenciar boa comida e regalias como wi-fi por satélite. Funciona em regime de tudo incluído, até os passeios. anavilhanaslodge.com ONDE COMER EM MANAUS Banzeiro Rua Libertador, 102 (Adrianópolis), Tel. 3234-1621 Abriu em finais de 2009 e o responsável é o jovem chef Felipe Schaedler, o mais premiado da cidade, que trouxe para a capital do Amazonas uma nova abordagem para a típica cozinha local. Peixaria Bom Gosto Av. Bispo Pedro Massa, 15 (Cidade Nova), Tel. 3645-2784 O nome não engana. A especialidade da casa são peixes de rio amazónicos preparados de diferentes modos (fritos, grelhados ou em ensopados). Orla da Ponta Negra O habitual passeio dos manauaras na orla do rio Negro beneficiou de uma requalificação urbana que embelezou e equipou o «calçadão» com quadras de voleibol de praia, miradouros e inúmeros quiosques de comes e bebes. Só no Brasil, a Amazónia distribui-se por nada menos do que nove estados. Há uma aura de encantamento à sua volta que atrai um tipo de turista disposto a gastar mais pelo privilégio de estar aqui.
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  • 11. 82 Volta ao Mundo junho 2014 Estava, não tenho vergonha em assumi-lo publicamente, enganado. Desde o primeiro mo- mento, o pier do Amazon Ecopark arrebatou-me, precisamente, pela sua simplicidade. Ancorado junto a um afluente do rio Negro, o Tarumã, este aldea­mento turístico, vou chamar-lhe assim, faz do apelo rústico a sua melhor bandeira. E cumpre perfeitamente – quer nos chalés (um total de 64, sendo a maioria de madeira, mas com ar condicio- nado, chuveiro elétrico) quer nas zonas comuns, de arquitetura aberta, como a receção (há wi-fi), o bar ou o restaurante. E dá-nos, sim, a sensação de estarmos numa ilha e a ilusão de que a civilização está longe – quando, na realidade, está bem perto. Para uma coisa e outra contribui o facto de o acesso se fazer apenas por rio (com direito a praia fluvial na época seca) e de a toda volta existir uma mata virgem onde muitos animais procuram refúgio. Mesmo numa estada curta, como foi o caso, vai sobrar tempo para usufruir momentos de pura indulgência nas camas de rede, para ir a banhos nas piscinas naturais (aproveitando a existência de córregos de água) ou até para fazer uma sesta ou jogar uma partida de sinuca, mas, um pouco como nos safaris, o Amazon Ecopark tem previstas várias atividades – as mais comuns são as saídas de canoa ou lancha para a pesca com cana e isco de piranhas e outros peixes, para escutar as aves na alvorada ou para ouvir os sons da mata à noite. Ah, e uma ida ao Centro de Reabilitação e Reintrodução de Animais Silvestres, conhecido como «Floresta dos Macacos», onde é possível, duas vezes ao dia, assistir à alimentação da espécie Lagothrix, os macacos-barrigudos. Seja em que circunstância for, os hóspedes far-se- ão sempre acompanhar de um guia. À nossa equipa calhou o «seu» Francisco, que reúne o melhor dos dois mundos. Filho de professsores, um índio e uma italiana, foi criado numa tribo do Alto Rio Negro, o que lhe permitiu desde cedo aprender a sobreviver na floresta amazónica sem nunca descurar o gosto por outro tipo de aprendizagem. Isso fez dele um homem informado, capaz de discorrer sobre a troika, os Açores ou a crise na Ucrânia enquanto nos guia INNATURA O Amazon Ecopark (em baixo, à direita, e na página ao lado) possui um total de 64 chalés. Em baixo, à esquerda: macaco- -barrigudo da espécie Lagothrix. Tacacá da Gisela Lgo. São Sebastião (Centro), Tel. 8801-4901 Tacacá é um caldo servido numa cuia (cabaça) que leva tucupi (caldo de mandioca brava), goma (amido obtido a partir do caldo), camarão seco e jambu (erva típica, com um travo azedo). A provar. Casa da Pamonha R. Barroso, 375 (Centro) Um dos endereços mais conhecidos para provar a pamonha (feita com milho verde cozido) e a especialidade local, a sanduíche de tucumã também conhecida como x-caboclinho (pão recheado com lascas de tucumã, fruto de uma palmeira amazónica, banana e queijo coalho). Café Regional Joelza Av. Torquato Tapajós (acesso pela AM-010), Tel. 3654-5487 Servido todos os dias, entre as 6h00 e as 14h30, é uma atração à parte; o festim inclui bolo de macaxeira, mungunzá, cuscuz, pamonha, mingau de banana ou o x-caboclinho. No total, são mais de 150 itens à disposição. À NOITE Bar do Armando R. 10 de Julho, 593 (Centro) É um clássico de Manaus, conhecido também pela sua sanduíche de pernil com limão. Bar Caldeira R. José Clemente, 237 (Centro) Escapou ileso a uma explosão de caldeiras em 1970. Autoproclama-se como «o bar “oficial” da Copa» na cidade. PASSEIOS Primeiro conselho: não fique apenas em Manaus e reserve alguns dias para ficar num «hotel de selva». A partir da cidade, é «obrigatório» realizar o passeio de barco Ancorado junto a um afluente do rio Negro, o Tarumã, o Amazon Ecopark Jungle Lodge, a vinte minutos de lancha de Manaus, faz do apelo rústico a sua melhor bandeira. E cumpre perfeitamente.
  • 12. 83Volta ao Mundo junho 2014 pelas trilhas da mata e nos vai ensinando a distinguir orquídeas, uma seringueira de uma sapopemba, a fazer fogo, a saber qual casca de árvore ajuda a prevenir a malária ou a usar a resina perfumada do breu-branco para improvisar uma torcha. E há mais o que fazer e ver. Em alternativa aos barcos que saem do porto flutuante de Manaus, também o Amazon Ecopark proporciona, dia sim dia não, um passeio para ir ao encontro dos rios Negro e Solimões. Estamos a cerca de 1650 quiló- metros do Atlântico e, até se fundirem num só, os dois rios correm, lado a lado, por mais de dez quilómetros sem se misturarem (composição e densidade diferentes) – as águas escuras e mornas do rio Negro e as águas leitosas e mais frias do Solimões dão-nos a sensação de estarmos a servir de enfeite a um bolo mármore. E assim será até que a mestiçagem se dá e um único rio leva o nome de Amazonas. Cada vez mais arredios, os botos – golfinhos da região amazónica, que ganham um tom rosado quando adultos –, num dia de sorte, dar-nos-ão um ar da sua graça, mas sempre à distância. Sabe sempre a pouco. Cientes disso, o Amazon Eco- park, à semelhança da concorrência, junta à sua programação a possibilidade de se ir nadar com os «golfinhos narigudos». Desta vez não fui ver os botos, mas entre uma visita a uma comunidade de caboclos e assistir às danças e cantares rituais de uma comunidade de índios que vive a cerca de quarenta minutos de lancha do Amazon Ecopark, eu e o fotógrafo optámos pela segunda (ainda que paga, cerca de 25 euros por pessoa). Oriundos das terras indígenas de São Gabriel da Cachoeira, no Alto Rio Negro junto à fronteira com a Colômbia, estes membros da tribo Caniço vestem-se (ou melhor, despem-se) e enfeitam-se a rigor para receber os forasteiros numa grande maloca (cabana comunitária), onde executam danças e cantares ancestrais. É para turista ver, mas não chega a ser uma farsa. É um modo de vida, uma encenação que lhes permite sobreviver. Porque não está fácil para ninguém. No final, de consciência pesada, gastei à pressa alguns reais em pulseiras de contas e porta-chaves de penas. A culpa não morre solteira; e também não per- dura sobre outras recordações. Na minha memória, uma vez mais, quis amealhar aquilo que sei não ser fácil de apagar. Guardo os banhos solitários de rio. E as conversas com o «seu» Francisco. E cada entardecer incandescente que aplaudi por dentro. E a paz que foi, mesmo com o barulho do motor, percorrer o rio à noite apenas alumiados pelo clarão da Lua. Num reino anfíbio pejado de lendas, esse é o meu chamado. Aquele que sempre ouvirei por mais que tudo o resto me deixe dividido. n para testemunhar o encontro dos rios Negro e Solimões. Dura meio-dia, custa cerca de 50 euros e inclui visitas a comunidades ribeirinhas e caminhada na floresta. Na net manaus.am.gov.br visitbrasil.com copa2014.gov.br/pt-br/sedes/Manaus pt.fifa.com/worldcup AGRADECIMENTOS Tap Tropical Amazon Ecopark Jungle Lodge