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A figura na
Comunicação
Visual
A comunicação visual reveste-se de crucial importância
para a publicidade, para o design e para a mídia em geral.
Conceitos, elaborados durante séculos pelos pintores na
arte, são empregados para tornar uma mensagem visual
clara e cativante para os seus receptores.
Se bem empregada, a linguagem visual pode gerar a
sedução e, principalmente, o convencimento para o
consumo.
A comunicação visual existe desde que o ser humano
entendeu que podia alterar a maneira como era visto pelos
outros seres humanos.
Além dos aparatos biológicos visíveis de que dispunham
(altura, cor dos olhos e da pele, comprimento dos cabelos,
etc.), nossos ancestrais começaram a alterar,
intencionalmente, a sua aparência visível.
Por exemplo, pintaram os próprios corpos e usaram
máscaras, tatuagens e adereços para parecerem mais
ferozes aos seu inimigos. Ou, ao contrário, usaram
miçangas, plumas de pássaros e garras de animais para
afirmarem o seu status social perante os outros membros
de sua tribo.
Assim, ao se utilizarem de algum recurso visível junto a si,
eles estavam tentando comunicar uma mensagem aos
outros. Esta mensagem podia até ser transmitida de outras
maneiras (tais como a fala, por exemplo), mas era
produzida, principalmente, para ser vista.
Entretanto, o conceito de “intenção” é bastante
complexo.
Vamos supor que um paleontólogo esteja
estudando as pegadas de um dinossauro,
fossilizadas na pedra. As pegadas transmitem uma
informação para o paleontólogo? Sim, claro. Mas o
animal produziu estas pegadas intencionalmente
para passar informações? Claro que não. As
pegadas foram produzidas como uma
consequência do caminhar do animal sobre a
terra. Elas não podem ser consideradas uma
“comunicação visual”.
Vejamos outra situação.
Uma moça vai se encontrar com um rapaz pelo
qual está interessada. Ela compra roupas novas,
faz um novo corte de cabelo e maquia-se.
Entretanto, para infortúnio da moça, o rapaz não
se apercebe de suas intenções afetivas. A
produção da moça é uma comunicação visual?
Sim, claro, há uma intenção em sua produção
visual. Mas a mensagem foi compreendida? Não.
Embora a definição do conceito de intenção seja
um debate filosófico bastante interessante, neste
livro nós abordaremos apenas aquelas mensagens
visuais cuja intenção comunicativa é evidente, tais
como as publicidades, as obras de arte, etc.
1.3.1 - Função de representação
A primeira função da comunicação visual que
apresentaremos é a função representativa.
Esta função identifica o potencial que as imagens têm de ser
semelhantes às coisas ou seres do mundo visível.
Isto é, se diversos observadores independentes olharem para
uma mesma imagem representativa, todos eles dirão que a
imagem é semelhante a um mesmo objeto do mundo.
Representar, no contexto da comunicação visual, significa
“parecer-se com”, “ser tomado por” ou “trazer algo à
mente”. Sendo assim, a imagem representa o objeto porque
a imagem é semelhante ao objeto.
Quando uma imagem representa um objeto de modo preciso
e unívoco, nós dizemos que a imagem é realista.
Na ilustração ao lado, vemos quatro representações de uma
borboleta.
Na representação nº 1, temos uma fotografia, a qual é um
dos métodos mais precisos e, portanto, mais realistas de
representação.
Na representação nº 2, por outro lado, temos um desenho
que, embora ainda muito parecido, já tem certa diferença na
similaridade com a borboleta real. Mesmo assim, qualquer
observador dirá que a ilustração nº 2 é representativa de
uma borboleta.
Nas ilustrações nº 3 e nº 4, por outro lado, a similaridade é
cada vez menor, entretanto, continuamos a reconhecer o
inseto.
Outra possibilidade cognitiva para a comunicação
visual é mostrar a informação que não é
diretamente visível ao observador.
Isto é, a imagem mostra informações do mundo ao
observador que ele não poderia ver diretamente,
observando o objeto ao natural.
Um exemplo deste tipo de imagem informativa
são as fotografias obtidas através da exposição dos
objetos aos raios-X. Ao lado, acima, vemos uma
destas primeiras experiências realizadas. Estas
radiografias são extremamente informativas aos
médicos para a compreensão de determinados
males que nos acometem.
Abaixo, por outro lado, vemos um cristal de neve
ampliado através de um microscópio eletrônico.
As imagens obtidas com este procedimento nos
revelam informações sobre um mundo que é
inacessível a olho nu.
Outro exemplo bem conhecido deste uso cognitivo
da comunicação visual são os chamados “replays”
de uma jogada de futebol na televisão.
Desacelerando a velocidade normal da filmagem,
é possível verificar a ocorrência de infrações em
uma jogada, por exemplo.
Ao lado, acima, vemos uma pintura de Constable, “A Catedral
de Salisbury vista dos jardins do Bispo”.
O tamanho absoluto do suporte que estamos vendo é de
poucos centímetros quadrados. Entretanto, a cena
representada tem, talvez, o tamanho absoluto de vários
quilômetros de extensão. A imensa catedral, por exemplo,
que tem várias dezenas de metros de altura, fica diminuta na
pintura.
Este é o conceito de escala na comunicação visual:
reduzimos o tamanho da cena representada
proporcionalmente, para que mesmo as maiores dimensões
possam ser representadas em pequenos suportes. Usando
deste conceito, teoricamente é possível representar todos os
objetos da terra sobre uma única cabeça de alfinete.
Nesta pintura em particular, vemos a representação de
figuras humanas, no caso, um casal passeando sob a sombra
das árvores, à esquerda inferior da pintura.
Na ilustração abaixo, marcamos na posição nº 1 um pequeno
retângulo em branco, exatamente com a mesma altura das
figuras que estão passeando.
Se usarmos essa medida como um padrão, veremos que a
árvore marcada pelo nº 2 teria, aproximadamente, 8
medidas da figura humana.
Se avaliarmos a altura da figura em 1,80 mts., por exemplo,
poderíamos avaliar o tamanho da árvore em ao menos 14,4
mts. de altura (1,8 mts. x 8 padrões).
2.1.2 - A escala das figuras
A determinação da posição das figuras sobre o suporte é
denominada na comunicação visual de composição.
Quando se organiza e dispõe figuras sobre um suporte, está-
se organizando sua composição.
Duas comunicações visuais podem ter significados visuais
muito diferentes, mesmo que as figuras de que se utilizem
sejam idênticas em todos os outros aspectos.
Nos dois exemplos ao lado, ilustrações nº 1 e nº 2, há o
mesmo número e tipo de figuras. São 5 triângulos e 13
círculos vermelhos em ambas as ilustrações.
Além disso, os triângulos e os círculos da ilustração nº 1 tem
o mesmo tamanho na ilustração nº 2.
Por fim, nas duas ilustrações, os 5 triângulos tem a mesma
orientação.
Entretanto, as duas ilustrações têm significados visuais
completamente diferentes dadas as suas diferentes
composições.
Na ilustração nº 1, as figuras são posicionadas
aleatoriamente sobre o suporte, criando um sentido de caos
e espontaneidade.
Já na ilustração nº 2, as figuras são posicionadas de maneira
organizada sobre o suporte. O sentido visual aqui é o de
ordem e hierarquia.
2.1.6 – Posicionamento
Na ilustração nº 7, vemos o
dodecaedro planificado em
suas 12 faces, as quais são
pentágonos regulares.
Na ilustração nº 8, vemos o
dodecaedro em três
dimensões.
Na ilustração nº 9, vemos o
icosaedro desmontado em
suas 15 faces constituintes, as
quais são triângulos
equiláteros.
Na ilustração nº 10, o
icosaedro sólido.
O conceito de fundo, por outro lado, não se
confunde com o conceito de suporte.
É fácil de perceber que, sobre dois suportes que
tenham as mesmas características visuais (tais
como as dimensões, a textura etc.) podemos ter
dois fundos completamente diferentes.
Por exemplo, ao lado, acima, vemos novamente a
“Mulher com arminho”, de Da Vinci.
Na ilustração abaixo, vemos que o fundo foi
alterado para uma cor amarela. Na pintura original
de Da Vinci, acima, e na ilustração abaixo, os
suportes são idênticos, isto é, tem o mesmo
tamanho, a mesma proporção entre altura e
largura, etc. Entretanto, a alteração de cor
provocou uma modificação completa no sentido
estético da obra.
O suporte tem determinações importantes para
definir uma estratégia de comunicação, mas, essas
determinações não são as mesmas determinações
que tem o fundo da comunicação visual.
Para representarmos as 3 dimensões dos objetos reais
em um suporte que é bidimensional, precisaremos
recorrer à um artifício.
Ao lado, na ilustração nº 1, vemos a fotografia de uma
mesa com banquetas. Tanto a mesa quanto as banquetas
são objetos tridimensionais. Já a fotografia da mesa, ao
contrário, assim como o monitor onde estamos vemos
esta fotografia, são todos bidimensionais.
Para facilitar nossa demonstração, acrescentamos na
ilustração nº 2, abaixo, algumas linhas em vermelho e
verde, superpostas à fotografia. Analisando estas linhas,
vemos como é resolvido o problema da representação da
tridimensionalidade na comunicação visual
bidimensional.
As linhas da mesa que são verticais - tais como os pés,
por exemplo - estão assinaladas pelas linhas em verde. Já
as linhas da mesa que recuam na profundidade da foto,
tais como, por exemplo, as linhas do piso de lajotas, são
convertidas, na foto, em linhas diagonais.
Estas diagonais “especiais” são uma das soluções
utilizadas na comunicação visual para representar a
realidade das 3 dimensões do mundo real em um
suporte de 2 dimensões.
Considerando que o círculo tem 360⁰, podemos dividir este
valor por números naturais (n) para definir a quantidade de
repetições da figura rotacionada.
Assim, dividindo a circunferência por 2, por exemplo,
obtemos a rotação de 180⁰, como visto na ilustração à
direita, acima.
Alguns exemplos de n são: n = 2; n = 3; n = 4; n = 5; n = 6; n=
8, etc.
Abaixo, à esquerda vemos uma rotação de n = 3, com 120⁰. À
direita, vemos uma rotação n = 6, com rotações de 60⁰.
Na página seguinte, veremos 4 exemplos de flores naturais
cujos valores de n são 3, 4, 5, e 6.
Na foto acima, à direita, vemos uma dança
folclórica inglesa. Marcadas pelas linhas em verde,
vemos que a coreografia é, neste momento ao
menos, uma simetria translacional.
Na pintura à direita, abaixo, vemos crianças
brincando de ciranda. Indicado pelo círculo em
verde, vemos que a coreografia é uma simetria
rotacional.
Já na foto abaixo, à esquerda, um simples aperto
de mãos representa uma simetria reflexional.
5.2.1 – O fundo em movimento
Às vezes ocorre do fundo representado em
uma comunicação visual ser suficiente para
induzir a sensação de movimento.
Nas ilustrações ao lado, nº 1 e 2, vemos a
representação de um avião. É uma figura
onde não há grandes possibilidades de
alterações na representação de sua
morfologia.
Assim, o ilustrador obtém a ideia de
movimento apoiando-se em outras
características da comunicação visual. No
caso, ele se utiliza de diferenças no fundo das
duas ilustrações.
Em 1, o fundo é azul com algumas áreas em
branco, tal como seria em um céu com
nuvens. Esta evidência implica em que
consideremos que este avião está em pleno
voo.
Em 2, ao contrário, vê-se a sombra do avião
projetada por baixo do mesmo, o que implica
que há uma base, ou um solo sobre o qual
esta sombra se projeta. Este avião está em
terra, pousado, possivelmente parado.
6.1.1 - O módulo (cânone)
Por outro lado, ao invés de usar as medidas absolutas de um
objeto para calcular uma proporção, nós podemos, também,
escolher usar um padrão arbitrário de medida como um
comparativo.
Este padrão é denominado de módulo (ou cânone).
Na história, nós encontramos referências a diversos módulos
muito conhecidos.
Por exemplo, nós temos a polegada (inch). Usada nos países
de língua inglesa, ela tem origem na época romana e seria a
medida da largura de um polegar de uma pessoa, como
vemos na fotografia ao lado. Uma polegada mede 2,54 cm.
Outro módulo muito famoso na época antiga era o côvado,
que correspondia à medida que vai da ponta do dedo médio
até o cotovelo. Um côvado dos antigos egípcios media,
aproximadamente, 50 cm., e um côvado dos romanos
antigos media 45 cm.
Toda arquitetura antiga relevante foi construída usando
algum módulo para estabelecer as relações de proporção.
O módulo moderno, o qual é amplamente empregado nos
dias de hoje, é o conhecido metro. Ele tem sua origem na
França de 1799, e foi definido, até 1960, por uma barra real
de platina-iridium.
Hoje, o metro é definido cientificamente através da medição
da propagação da luz no vácuo.
Ao lado, na foto nº 1, vemos uma planta do
gênero Aloe. Observe como a distribuição das
folhas, a partir do centro, se dá em várias espirais
de Fibonacci.
O mesmo ocorre com o miolo de uma flor de
girassol, na foto nº 2. As sementes se distribuem
desde o centro da flor em várias espirais Fibonacci.
Na foto nº 3, em uma planta do gênero Aeonium,
também vemos uma estrutura segundo a
morfologia da espiral Fibonacci.
Ao lado, no rosto da “Monalisa”,
vemos novamente uma aplicação da
seção áurea.
O retângulo maior em branco tem
as medidas de 10,96 unidades de
altura por 6,773 unidades de
largura.
Dividindo estas duas medidas, uma
pela outra, encontraremos o Phi,
1,618.
As outras duas subdivisões internas
deste retângulo também estão
proporcionadas segundo a seção
áurea.
A medida de 4,18 está em razão
áurea com a medida de 6,773. Isto
é, se dividirmos 6,773 por 4,18,
encontraremos, também, o Phi
como resultado.
8.3.1 – Exterior x Interior
Os melhores exemplos para este par de conceitos
vivenciais na comunicação visual vêm da
arquitetura.
Para nós, hoje, é inimaginável o que deve ter
significado para nossos ancestrais poder
estabelecer um limite (uma parede, muralha)
entre si e o meio ambiente.
A experiência de viver ao ar livre, à mercê de
predadores, das intempéries ou de grupos rivais -
como foi desde a pré-história até o surgimento das
primeiras moradias - deve ter sido muito
estressante e deve ter marcado indelevelmente a
imaginação coletiva de nossos ancestrais.
Sendo assim, o castelo medieval talvez seja o
melhor exemplo de uma construção humana cuja
finalidade principal seja separar o exterior do
interior de um modo extremo, fortificado.
Um castelo é uma construção funcional, mas que
também é expressiva. Para os que estão no
exterior, ao olhar para um castelo, a sensação é de
“inacessibilidade”, “inexpugnabilidade”. Já para os
que estão no interior, a sensação é de “segurança”.
Ao lado, abaixo, vemos outra versão funcional e
expressiva de um “interior fortificado”, a
armadura.
Outros 200 anos depois, e vamos encontrar outra
pincelada artística de grande significado expressivo e
cultural.
Ao lado, vemos outro gênio das artes mundiais, Van
Gogh, o qual também é considerado outro precursor da
valorização contemporânea da pincelada do artista na
pintura.
Deste “Autorretrato” que mostramos, podemos ver,
abaixo, um pequeno detalhe em torno aos olhos.
Igualmente como fez Rembrandt, Van Gogh também cria
uma pintura com espessas e expressivas pinceladas. Diz-
se, inclusive, que o artista aplicava a tinta diretamente
dos tubos sobre a tela.
A partir deste estilo de Van Gogh (e de outros artistas do
século XIX, diga-se), o gestual do artista foi adquirindo
um crescente valor cultural.
Podemos dizer que, inclusive, para nossa cultura atual, a
pincelada do artista tornou-se um meio expressivo em
si. Movimentos artísticos do século XX, tais como o
Expressionismo Abstrato, por exemplo, foram
concebidos, inteiramente, dentro deste novo enfoque de
valor cultural.
Assim, o que é expressivo ou não em uma comunicação
visual pode ser determinado por seletividade cultural.
A simbologia da linha curva é uma das
mais difundidas da comunicação visual. O
círculo é percebido em diversas situações
reais significativas e tal fato é a origem de
muitos símbolos.
Ao lado, acima, vemos uma escultura
Azteca, uma “Serpente de duas cabeças”.
O padrão do corpo da serpente é um
padrão de linha ondulada, quase
geométrica. A ondulação representa o
caminhar da serpente, bem como é,
também, um forte padrão estético.
Ao lado, abaixo, vemos uma das cartas do
baralho de Tarô, a “Roda da fortuna”. A
rotação imaginária do círculo serve para
simbolizar as alterações da sorte na vida
de todas as pessoas. Ora se está “por
cima”, ora “por baixo”, e o círculo
simboliza perfeitamente estas variações.
À direita, vemos o uso de um triângulo
escaleno como modelo de estrutura
compositiva.
É uma pintura de Guido Reni, “Atalanta e
Hippomenes”. Vê-se, no diagrama nº 1,
como a composição triangular projeta as
figuras da esquerda para a direita,
estabelecendo grande dinamismo e
movimentação.
Além deste grande triângulo que engloba
as duas figuras, vemos, no diagrama nº 2,
como a posição dos membros de cada
um dos personagens também configura
dois triângulos.
Em 3, finalmente, podemos observar
como o espaço entre as duas
personagens também foi estruturado a
partir de um triângulo.
A figura na Comunicação Visual
Autor: João Werner
ISBN: 978-85-919150-0-2
Número de páginas: 326
Edição: 1ª (2015)
R$ 38,75
Sinopse:
Introdução à linguagem visual. A figura visual e a sua
expressividade. Os usos e as funções da figura visual. Conceitos
visuais apresentados neste livro: figura e fundo; simetria;
movimento; proporção, profundidade visual e expressão.
Material fartamente ilustrado com dezenas de obras de arte, de
publicidade e arquitetura, entre outras. Os conceitos visuais
apresentados são contextualizados, sempre que possível, em
relação à cultura atual ou à antropologia. Exemplos da ocorrência
dos elementos da linguagem visual na morfologia biológica, bem
como a sua importância para os processos vitais. Os métodos
geométricos de construção das figuras são apresentados em suas
várias etapas constitutivas, de modo didático e explicativo.
Esperamos que seja um material útil aos interessados por este
fascinante tema.
https://www.clubedeautores.com.br/book/255251--A_figura_na_Comunicacao_Visual

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A comunicação visual: da pré-história à arte contemporânea

  • 2. A comunicação visual reveste-se de crucial importância para a publicidade, para o design e para a mídia em geral. Conceitos, elaborados durante séculos pelos pintores na arte, são empregados para tornar uma mensagem visual clara e cativante para os seus receptores. Se bem empregada, a linguagem visual pode gerar a sedução e, principalmente, o convencimento para o consumo. A comunicação visual existe desde que o ser humano entendeu que podia alterar a maneira como era visto pelos outros seres humanos. Além dos aparatos biológicos visíveis de que dispunham (altura, cor dos olhos e da pele, comprimento dos cabelos, etc.), nossos ancestrais começaram a alterar, intencionalmente, a sua aparência visível. Por exemplo, pintaram os próprios corpos e usaram máscaras, tatuagens e adereços para parecerem mais ferozes aos seu inimigos. Ou, ao contrário, usaram miçangas, plumas de pássaros e garras de animais para afirmarem o seu status social perante os outros membros de sua tribo. Assim, ao se utilizarem de algum recurso visível junto a si, eles estavam tentando comunicar uma mensagem aos outros. Esta mensagem podia até ser transmitida de outras maneiras (tais como a fala, por exemplo), mas era produzida, principalmente, para ser vista.
  • 3. Entretanto, o conceito de “intenção” é bastante complexo. Vamos supor que um paleontólogo esteja estudando as pegadas de um dinossauro, fossilizadas na pedra. As pegadas transmitem uma informação para o paleontólogo? Sim, claro. Mas o animal produziu estas pegadas intencionalmente para passar informações? Claro que não. As pegadas foram produzidas como uma consequência do caminhar do animal sobre a terra. Elas não podem ser consideradas uma “comunicação visual”. Vejamos outra situação. Uma moça vai se encontrar com um rapaz pelo qual está interessada. Ela compra roupas novas, faz um novo corte de cabelo e maquia-se. Entretanto, para infortúnio da moça, o rapaz não se apercebe de suas intenções afetivas. A produção da moça é uma comunicação visual? Sim, claro, há uma intenção em sua produção visual. Mas a mensagem foi compreendida? Não. Embora a definição do conceito de intenção seja um debate filosófico bastante interessante, neste livro nós abordaremos apenas aquelas mensagens visuais cuja intenção comunicativa é evidente, tais como as publicidades, as obras de arte, etc.
  • 4. 1.3.1 - Função de representação A primeira função da comunicação visual que apresentaremos é a função representativa. Esta função identifica o potencial que as imagens têm de ser semelhantes às coisas ou seres do mundo visível. Isto é, se diversos observadores independentes olharem para uma mesma imagem representativa, todos eles dirão que a imagem é semelhante a um mesmo objeto do mundo. Representar, no contexto da comunicação visual, significa “parecer-se com”, “ser tomado por” ou “trazer algo à mente”. Sendo assim, a imagem representa o objeto porque a imagem é semelhante ao objeto. Quando uma imagem representa um objeto de modo preciso e unívoco, nós dizemos que a imagem é realista. Na ilustração ao lado, vemos quatro representações de uma borboleta. Na representação nº 1, temos uma fotografia, a qual é um dos métodos mais precisos e, portanto, mais realistas de representação. Na representação nº 2, por outro lado, temos um desenho que, embora ainda muito parecido, já tem certa diferença na similaridade com a borboleta real. Mesmo assim, qualquer observador dirá que a ilustração nº 2 é representativa de uma borboleta. Nas ilustrações nº 3 e nº 4, por outro lado, a similaridade é cada vez menor, entretanto, continuamos a reconhecer o inseto.
  • 5. Outra possibilidade cognitiva para a comunicação visual é mostrar a informação que não é diretamente visível ao observador. Isto é, a imagem mostra informações do mundo ao observador que ele não poderia ver diretamente, observando o objeto ao natural. Um exemplo deste tipo de imagem informativa são as fotografias obtidas através da exposição dos objetos aos raios-X. Ao lado, acima, vemos uma destas primeiras experiências realizadas. Estas radiografias são extremamente informativas aos médicos para a compreensão de determinados males que nos acometem. Abaixo, por outro lado, vemos um cristal de neve ampliado através de um microscópio eletrônico. As imagens obtidas com este procedimento nos revelam informações sobre um mundo que é inacessível a olho nu. Outro exemplo bem conhecido deste uso cognitivo da comunicação visual são os chamados “replays” de uma jogada de futebol na televisão. Desacelerando a velocidade normal da filmagem, é possível verificar a ocorrência de infrações em uma jogada, por exemplo.
  • 6. Ao lado, acima, vemos uma pintura de Constable, “A Catedral de Salisbury vista dos jardins do Bispo”. O tamanho absoluto do suporte que estamos vendo é de poucos centímetros quadrados. Entretanto, a cena representada tem, talvez, o tamanho absoluto de vários quilômetros de extensão. A imensa catedral, por exemplo, que tem várias dezenas de metros de altura, fica diminuta na pintura. Este é o conceito de escala na comunicação visual: reduzimos o tamanho da cena representada proporcionalmente, para que mesmo as maiores dimensões possam ser representadas em pequenos suportes. Usando deste conceito, teoricamente é possível representar todos os objetos da terra sobre uma única cabeça de alfinete. Nesta pintura em particular, vemos a representação de figuras humanas, no caso, um casal passeando sob a sombra das árvores, à esquerda inferior da pintura. Na ilustração abaixo, marcamos na posição nº 1 um pequeno retângulo em branco, exatamente com a mesma altura das figuras que estão passeando. Se usarmos essa medida como um padrão, veremos que a árvore marcada pelo nº 2 teria, aproximadamente, 8 medidas da figura humana. Se avaliarmos a altura da figura em 1,80 mts., por exemplo, poderíamos avaliar o tamanho da árvore em ao menos 14,4 mts. de altura (1,8 mts. x 8 padrões). 2.1.2 - A escala das figuras
  • 7. A determinação da posição das figuras sobre o suporte é denominada na comunicação visual de composição. Quando se organiza e dispõe figuras sobre um suporte, está- se organizando sua composição. Duas comunicações visuais podem ter significados visuais muito diferentes, mesmo que as figuras de que se utilizem sejam idênticas em todos os outros aspectos. Nos dois exemplos ao lado, ilustrações nº 1 e nº 2, há o mesmo número e tipo de figuras. São 5 triângulos e 13 círculos vermelhos em ambas as ilustrações. Além disso, os triângulos e os círculos da ilustração nº 1 tem o mesmo tamanho na ilustração nº 2. Por fim, nas duas ilustrações, os 5 triângulos tem a mesma orientação. Entretanto, as duas ilustrações têm significados visuais completamente diferentes dadas as suas diferentes composições. Na ilustração nº 1, as figuras são posicionadas aleatoriamente sobre o suporte, criando um sentido de caos e espontaneidade. Já na ilustração nº 2, as figuras são posicionadas de maneira organizada sobre o suporte. O sentido visual aqui é o de ordem e hierarquia. 2.1.6 – Posicionamento
  • 8. Na ilustração nº 7, vemos o dodecaedro planificado em suas 12 faces, as quais são pentágonos regulares. Na ilustração nº 8, vemos o dodecaedro em três dimensões. Na ilustração nº 9, vemos o icosaedro desmontado em suas 15 faces constituintes, as quais são triângulos equiláteros. Na ilustração nº 10, o icosaedro sólido.
  • 9. O conceito de fundo, por outro lado, não se confunde com o conceito de suporte. É fácil de perceber que, sobre dois suportes que tenham as mesmas características visuais (tais como as dimensões, a textura etc.) podemos ter dois fundos completamente diferentes. Por exemplo, ao lado, acima, vemos novamente a “Mulher com arminho”, de Da Vinci. Na ilustração abaixo, vemos que o fundo foi alterado para uma cor amarela. Na pintura original de Da Vinci, acima, e na ilustração abaixo, os suportes são idênticos, isto é, tem o mesmo tamanho, a mesma proporção entre altura e largura, etc. Entretanto, a alteração de cor provocou uma modificação completa no sentido estético da obra. O suporte tem determinações importantes para definir uma estratégia de comunicação, mas, essas determinações não são as mesmas determinações que tem o fundo da comunicação visual.
  • 10. Para representarmos as 3 dimensões dos objetos reais em um suporte que é bidimensional, precisaremos recorrer à um artifício. Ao lado, na ilustração nº 1, vemos a fotografia de uma mesa com banquetas. Tanto a mesa quanto as banquetas são objetos tridimensionais. Já a fotografia da mesa, ao contrário, assim como o monitor onde estamos vemos esta fotografia, são todos bidimensionais. Para facilitar nossa demonstração, acrescentamos na ilustração nº 2, abaixo, algumas linhas em vermelho e verde, superpostas à fotografia. Analisando estas linhas, vemos como é resolvido o problema da representação da tridimensionalidade na comunicação visual bidimensional. As linhas da mesa que são verticais - tais como os pés, por exemplo - estão assinaladas pelas linhas em verde. Já as linhas da mesa que recuam na profundidade da foto, tais como, por exemplo, as linhas do piso de lajotas, são convertidas, na foto, em linhas diagonais. Estas diagonais “especiais” são uma das soluções utilizadas na comunicação visual para representar a realidade das 3 dimensões do mundo real em um suporte de 2 dimensões.
  • 11. Considerando que o círculo tem 360⁰, podemos dividir este valor por números naturais (n) para definir a quantidade de repetições da figura rotacionada. Assim, dividindo a circunferência por 2, por exemplo, obtemos a rotação de 180⁰, como visto na ilustração à direita, acima. Alguns exemplos de n são: n = 2; n = 3; n = 4; n = 5; n = 6; n= 8, etc. Abaixo, à esquerda vemos uma rotação de n = 3, com 120⁰. À direita, vemos uma rotação n = 6, com rotações de 60⁰. Na página seguinte, veremos 4 exemplos de flores naturais cujos valores de n são 3, 4, 5, e 6.
  • 12. Na foto acima, à direita, vemos uma dança folclórica inglesa. Marcadas pelas linhas em verde, vemos que a coreografia é, neste momento ao menos, uma simetria translacional. Na pintura à direita, abaixo, vemos crianças brincando de ciranda. Indicado pelo círculo em verde, vemos que a coreografia é uma simetria rotacional. Já na foto abaixo, à esquerda, um simples aperto de mãos representa uma simetria reflexional.
  • 13. 5.2.1 – O fundo em movimento Às vezes ocorre do fundo representado em uma comunicação visual ser suficiente para induzir a sensação de movimento. Nas ilustrações ao lado, nº 1 e 2, vemos a representação de um avião. É uma figura onde não há grandes possibilidades de alterações na representação de sua morfologia. Assim, o ilustrador obtém a ideia de movimento apoiando-se em outras características da comunicação visual. No caso, ele se utiliza de diferenças no fundo das duas ilustrações. Em 1, o fundo é azul com algumas áreas em branco, tal como seria em um céu com nuvens. Esta evidência implica em que consideremos que este avião está em pleno voo. Em 2, ao contrário, vê-se a sombra do avião projetada por baixo do mesmo, o que implica que há uma base, ou um solo sobre o qual esta sombra se projeta. Este avião está em terra, pousado, possivelmente parado.
  • 14. 6.1.1 - O módulo (cânone) Por outro lado, ao invés de usar as medidas absolutas de um objeto para calcular uma proporção, nós podemos, também, escolher usar um padrão arbitrário de medida como um comparativo. Este padrão é denominado de módulo (ou cânone). Na história, nós encontramos referências a diversos módulos muito conhecidos. Por exemplo, nós temos a polegada (inch). Usada nos países de língua inglesa, ela tem origem na época romana e seria a medida da largura de um polegar de uma pessoa, como vemos na fotografia ao lado. Uma polegada mede 2,54 cm. Outro módulo muito famoso na época antiga era o côvado, que correspondia à medida que vai da ponta do dedo médio até o cotovelo. Um côvado dos antigos egípcios media, aproximadamente, 50 cm., e um côvado dos romanos antigos media 45 cm. Toda arquitetura antiga relevante foi construída usando algum módulo para estabelecer as relações de proporção. O módulo moderno, o qual é amplamente empregado nos dias de hoje, é o conhecido metro. Ele tem sua origem na França de 1799, e foi definido, até 1960, por uma barra real de platina-iridium. Hoje, o metro é definido cientificamente através da medição da propagação da luz no vácuo.
  • 15. Ao lado, na foto nº 1, vemos uma planta do gênero Aloe. Observe como a distribuição das folhas, a partir do centro, se dá em várias espirais de Fibonacci. O mesmo ocorre com o miolo de uma flor de girassol, na foto nº 2. As sementes se distribuem desde o centro da flor em várias espirais Fibonacci. Na foto nº 3, em uma planta do gênero Aeonium, também vemos uma estrutura segundo a morfologia da espiral Fibonacci.
  • 16. Ao lado, no rosto da “Monalisa”, vemos novamente uma aplicação da seção áurea. O retângulo maior em branco tem as medidas de 10,96 unidades de altura por 6,773 unidades de largura. Dividindo estas duas medidas, uma pela outra, encontraremos o Phi, 1,618. As outras duas subdivisões internas deste retângulo também estão proporcionadas segundo a seção áurea. A medida de 4,18 está em razão áurea com a medida de 6,773. Isto é, se dividirmos 6,773 por 4,18, encontraremos, também, o Phi como resultado.
  • 17. 8.3.1 – Exterior x Interior Os melhores exemplos para este par de conceitos vivenciais na comunicação visual vêm da arquitetura. Para nós, hoje, é inimaginável o que deve ter significado para nossos ancestrais poder estabelecer um limite (uma parede, muralha) entre si e o meio ambiente. A experiência de viver ao ar livre, à mercê de predadores, das intempéries ou de grupos rivais - como foi desde a pré-história até o surgimento das primeiras moradias - deve ter sido muito estressante e deve ter marcado indelevelmente a imaginação coletiva de nossos ancestrais. Sendo assim, o castelo medieval talvez seja o melhor exemplo de uma construção humana cuja finalidade principal seja separar o exterior do interior de um modo extremo, fortificado. Um castelo é uma construção funcional, mas que também é expressiva. Para os que estão no exterior, ao olhar para um castelo, a sensação é de “inacessibilidade”, “inexpugnabilidade”. Já para os que estão no interior, a sensação é de “segurança”. Ao lado, abaixo, vemos outra versão funcional e expressiva de um “interior fortificado”, a armadura.
  • 18. Outros 200 anos depois, e vamos encontrar outra pincelada artística de grande significado expressivo e cultural. Ao lado, vemos outro gênio das artes mundiais, Van Gogh, o qual também é considerado outro precursor da valorização contemporânea da pincelada do artista na pintura. Deste “Autorretrato” que mostramos, podemos ver, abaixo, um pequeno detalhe em torno aos olhos. Igualmente como fez Rembrandt, Van Gogh também cria uma pintura com espessas e expressivas pinceladas. Diz- se, inclusive, que o artista aplicava a tinta diretamente dos tubos sobre a tela. A partir deste estilo de Van Gogh (e de outros artistas do século XIX, diga-se), o gestual do artista foi adquirindo um crescente valor cultural. Podemos dizer que, inclusive, para nossa cultura atual, a pincelada do artista tornou-se um meio expressivo em si. Movimentos artísticos do século XX, tais como o Expressionismo Abstrato, por exemplo, foram concebidos, inteiramente, dentro deste novo enfoque de valor cultural. Assim, o que é expressivo ou não em uma comunicação visual pode ser determinado por seletividade cultural.
  • 19. A simbologia da linha curva é uma das mais difundidas da comunicação visual. O círculo é percebido em diversas situações reais significativas e tal fato é a origem de muitos símbolos. Ao lado, acima, vemos uma escultura Azteca, uma “Serpente de duas cabeças”. O padrão do corpo da serpente é um padrão de linha ondulada, quase geométrica. A ondulação representa o caminhar da serpente, bem como é, também, um forte padrão estético. Ao lado, abaixo, vemos uma das cartas do baralho de Tarô, a “Roda da fortuna”. A rotação imaginária do círculo serve para simbolizar as alterações da sorte na vida de todas as pessoas. Ora se está “por cima”, ora “por baixo”, e o círculo simboliza perfeitamente estas variações.
  • 20. À direita, vemos o uso de um triângulo escaleno como modelo de estrutura compositiva. É uma pintura de Guido Reni, “Atalanta e Hippomenes”. Vê-se, no diagrama nº 1, como a composição triangular projeta as figuras da esquerda para a direita, estabelecendo grande dinamismo e movimentação. Além deste grande triângulo que engloba as duas figuras, vemos, no diagrama nº 2, como a posição dos membros de cada um dos personagens também configura dois triângulos. Em 3, finalmente, podemos observar como o espaço entre as duas personagens também foi estruturado a partir de um triângulo.
  • 21. A figura na Comunicação Visual Autor: João Werner ISBN: 978-85-919150-0-2 Número de páginas: 326 Edição: 1ª (2015) R$ 38,75 Sinopse: Introdução à linguagem visual. A figura visual e a sua expressividade. Os usos e as funções da figura visual. Conceitos visuais apresentados neste livro: figura e fundo; simetria; movimento; proporção, profundidade visual e expressão. Material fartamente ilustrado com dezenas de obras de arte, de publicidade e arquitetura, entre outras. Os conceitos visuais apresentados são contextualizados, sempre que possível, em relação à cultura atual ou à antropologia. Exemplos da ocorrência dos elementos da linguagem visual na morfologia biológica, bem como a sua importância para os processos vitais. Os métodos geométricos de construção das figuras são apresentados em suas várias etapas constitutivas, de modo didático e explicativo. Esperamos que seja um material útil aos interessados por este fascinante tema. https://www.clubedeautores.com.br/book/255251--A_figura_na_Comunicacao_Visual