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O objeto interativo foi proposto para trabalhar os conceitos de interação, lógica programática e dialógica.
Com isso, elaborei um Óculos interativo, pautado na interação pessoa-pessoa e pessoa-objeto, e na ex-
ploraçãosensitiva. Oobjetofoidesenvolvidoemcimadaexecuçãodeumaideia,porémaexperimentação
e a reinvenção dos conceitos originais tiveram também importância crucial para a composição do projeto.
introdução
introdução
Índice
A ideia 10
A execução 17
O uso 27
O subjeto 30
A ideia.
Tendo a premissa de promover interação, busquei
referência na obra “Diálogo: Óculos”da artista Lygia
Clark:
A obra (que ao final do processo foi praticamente rein-
terpretada em meu objeto), despertou minha atenção
para a interação pelo olhar. A reflexão a que me propus
foi a de que a interação convencional entre as pessoas,
por meio das palavras, não está centrada necessaria-
mente na interação. Isso por que, tendo o poder da pa-
lavra, acabamos por nos preocupar mais em nos expres-
sar e nos fazer ouvidos, do que em de fato estabelecer
um diálogo.
Assim, a interação pelo olhar, trabalhada
pela artista,
promove um diálogo muito mais profundo
e sensitivo do que a palavra normalmente
consegue alcançar.
Além disso, a proximidade proporcionada
pela troca de olhares é de uma intensidade
ímpar. Raramente nos encontramos na
posição de trocar um olhar com alguém que
não seja o “Blasé”. Os óculos de Lygia colo-
cam os “interatores”a se olhar como namora-
dos. E esse é o efeito da interação pelo olhar,
as pessoas têm a oportunidade de se con-
hecer como namorados.
A artista neo-concreta trabalha muito com a interação
em suas obras.
www.lygiaclark.org.br
13
Minha segunda referência primordial foi algo simples, mas que abriu grandes possibilidades.
Em uma cena famosa do filme “2001” de Stanley Kubrick, um diálogo de grande tensão é estabele-
cido entre o protagonista e o computador “HAL”.
Alimentada por (ou alimentando) essa tensão, em um momento da cena, há um close no rosto
do protagonista e ouvem-se vários ruídos do funcionamento das máquinas do ambiente do
filme. Esses ruídos trabalham a percepção sonora do expectador e contribuem para a tensão
da cena intensamente. E esse foi um grande estímulo para mim, a percepção sonora. O tra-
balho com os sons promove uma grande exploração sensorial, e me pareceu interessante asso-
ciar duas formas de sensibilidade, a auditiva e a visual. Com isso eu poderia estabelecer várias
formas de diálogos sensoriais,
os sons com as pessoas e suas ações,
os sons com o olhar,
o olhar com as pessoas,
e os sons com cada indivíduo separadamente.
Com isso estava constituída minha ideia inicial:
A interação pelo olhar, associada à sensibilidade auditiva.
A execução.
Com isso, comecei a elaborar formas para meu objeto. A principio, fugindo da ideia dos óculos, pro-
pus algo como uma divisória:
A ideia era de colocar as pessoas em uma posição tal
em que pudessem trocar olhares e junto a isso estives-
sem dispostos a interagir com um sistema de sons
18
O sistema sonoro seria algo simples, en-
volvendo apenas botões e campainhas,
pra que os “interagentes” dialogassem
com isso.
Porém, ao escutar críticas, abandonei a
ideia da divisória e dos botões, por perceber
que esta era uma conformação muito sim-
plória, e que, possivelmente proporcionaria
uma interação meramente reativa e pouco
convidativa. Diante disso, voltei à forma dos
óculos, e a partir de então, meu objeto pas-
saria a ser cada vez mais uma releitura dos
óculos de Lygia Clark.
Então passei a experimentar criati-
vamente maneiras de proporcionar
minha ideia de interação na estrutu-
ra de óculos.
Tentei executar a ideia com sensores
magnéticos, para identificar o toque
e acionar buzzers (campainhas
eletrônicas).
20
Mas com algumas orientações, o recur-
so que descobri como mais adequado,
e que abria mais possibilidades para a
interação, foi o potenciômetro.
Com ele, seria possível dimensionar a intensidade dos
ruídos de acordo com os movimentos da interação pelo
olhar.
Mas ainda assim, a forma do objeto não era satisfatória
e, depois de mais críticas e experimentações, me voltei
radicalmente para o formato de releitura dos óculos de
Lygia.
Pantográfico: articulação utilizada nos
óculos de Lygia Clark que permite
uma movimentação “sanfonada”.
Tendo definido uma forma referencial, voltei-me à confecção
de um protótipo funcional.
Vale lembrar que as características estéticas do objeto, bem
como as funcionais, foram concebidas fundamentalmente pela
experimentação e exploração dos recursos disponíveis em cada
etapa da criação.
Assim, com os recursos que dispunha, reproduzi a forma da obra
de Lygia Clark ligada a um circuito formado por potenciômetro,
bateria e buzzers. Tendo encontrado óculos de natação para
reproduzir os óculos e palitos de picolé para fazer os pantográfi-
cos, acabei por constituir uma composição estética interessante
para o trabalho.
Óculos de
natação
Palitos de picolé
Potenciômetro
Bateria
Buzzer
Com o protótipo em uso, percebi alguns detalhes que deveriam ser revistos.
Para reparar a fragilidade da
estrutura, substituí arames e
fita isolante por parafusos e
porcas.
Para facilitar o movimento, esten-
di o pantográfico, utilizando as
mesmas proporções dos óculos de
Lygia.
23
A última e mais fundamental mudança foi nos sons do objeto.
Ao perceber que o ruído do buzzer era excessivamente alto e incômodo, resolvi modificar o cir-
cuito e utilizar gravações em um mp3 player ligado ao potenciômetro e fones de ouvido para o as-
pecto sonoro do trabalho. Explorando esse novo recurso, percebi as inúmeras novas possibilidades
que se abriram para a exploração sonora. Tendo o controle do que seria escutado na interação,
tornou-se possível criar um maior diálogo com os sons e proporcionar uma intensa exploração da
sensibilidade auditiva.
Assim, sons incômodos, por exemplo, fariam com que os “interagentes” se movimentas-
sem com o intuito de diminuir o volume do som reproduzido, enquanto que, uma música
agradável ou uma narração misteriosa provocaria a movimentação oposta para aumentar
o volume. Com isso, a exploração sensitiva e a intensidade da interação cresceram, e abri-
ram-se novas portas para a experimentação.
Alarme! este seu olhar...
Pessoas se afastam para diminuir sons desagradáveis e aproximam para aumentar
os agradáveis/curiosos.
Assim, nessa configuração, pus o objeto em uso.
O uso.
Com o objeto em uso, evidenciou-se o caráter transitório do trabalho. De-
pendendo da condição da estrutura no momento da interação, do am-
biente em que está sendo usado e das pessoas que o estão utilizando, a
interação se modifica, sendo sempre algo a mais do que foi projetado. Em
diferentes situações,a interação foi centrada nos movimentos, na audição
ou na comunicação pelo olhar, tendo cada uma dessas formas um efeito
diferente.
É importante ressaltar que em cada nova utilização, as pes-
soas se intrigavam com um aspecto diferente do trabalho, e o
seu propósito foi a cada momento sendo reinventado, como
foi também ao longo do processo de confecção. Além disso,
foi possível notar que alguns aspectos do objeto desfavoreci-
am a interação, como sua fragilidade e a limitação dos mov-
imentos. Ao final da experiência, a impressão que sobressaiu
foi a de que o ponto central do objeto está na exploração e
abertura de possibilidades. Nesses dois pontos é que de fato
se desenvolvia a interação.
29
O subjeto.
Portanto, para continuar com o processo
de reinvenção e experimentação, é preci-
so propor uma nova visitação do objeto.
Para ampliar as possibilidades de ex-
ploração e intensificar a interação, é
possível identificar algumas coisas a serem
alteradas/adicionadas ao trabalho.
A ampliação das possibilidades de movi-
mento, para além do binário para frente
e “para trás, torna o uso mais versátil e a
exploração das possibilidades do objeto
mais livre.
32
Isso pode ser feito acoplando o pantográfi-
co a uma base ligada a um super-imã.
O imã possibilita movimentos para
todas as direções. Além disso, com
o movimento articulado dessa for-
ma, é possível programar o repro-
dutor de áudio para reproduzir sons
e alterar o volume de uma maneira
bem mais aberta.
mp3
Placa programada
Super-imã com
movimentos ras-
treados
33
Dessa forma, para cada movimento que
for feito na interação, é possível programar
alguma alteração no som, podendo assim a
interação determinar os sons e o som deter-
minar a interação de uma maneira bem mais
intensa.
Movimentos em diálogo com os
sons
Em decorrência disso, a interação se torna
mais dialógica e envolvente, e se torna mais
intensa a exploração e reinvenção do objeto.
Então, por fim, assim se constitui o objeto. Óculos de na-
tação, palitos de picolé, Mp3 player, imã.
Disposto para o uso, aberto para a exploração, para a reinvenção.
Sem peças ou forma estritamente definidos, o objeto se modifica pela
interação. E seu uso e consideração são fundamentais para a con-
tinuidade desse processo. E ele vive.
Imagens: (9) (10) (11) (12) (17), Scheilla Exupéry
(13) (14) e (15), autor não encontrado
(16) Cena de “2001: Uma odisséia no espaço” (1968) de Stanley Kubrick
Bibliografia/referências: “Diálogo: Óculos”, Lygia Clark, 1968
“Nosso Programa”capítulo do livro “Pós- história: vinte instantâneos e um
modo de usar”, Vilém Flusser, 1983
Orientação: Ana Paula Baltazar, José Santos Cabral Filho, Sandro Canavezzi de Abreu, Guilherme Ferreira
de Arruda, Diego Fagundes.
Agradecimentos especial aos monitores do laboratório LAGEAR.
Arquitetura e Urbanismo, UFMG.

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  • 10. O objeto interativo foi proposto para trabalhar os conceitos de interação, lógica programática e dialógica. Com isso, elaborei um Óculos interativo, pautado na interação pessoa-pessoa e pessoa-objeto, e na ex- ploraçãosensitiva. Oobjetofoidesenvolvidoemcimadaexecuçãodeumaideia,porémaexperimentação e a reinvenção dos conceitos originais tiveram também importância crucial para a composição do projeto. introdução introdução
  • 11. Índice A ideia 10 A execução 17 O uso 27 O subjeto 30
  • 12.
  • 14. Tendo a premissa de promover interação, busquei referência na obra “Diálogo: Óculos”da artista Lygia Clark: A obra (que ao final do processo foi praticamente rein- terpretada em meu objeto), despertou minha atenção para a interação pelo olhar. A reflexão a que me propus foi a de que a interação convencional entre as pessoas, por meio das palavras, não está centrada necessaria- mente na interação. Isso por que, tendo o poder da pa- lavra, acabamos por nos preocupar mais em nos expres- sar e nos fazer ouvidos, do que em de fato estabelecer um diálogo.
  • 15. Assim, a interação pelo olhar, trabalhada pela artista, promove um diálogo muito mais profundo e sensitivo do que a palavra normalmente consegue alcançar. Além disso, a proximidade proporcionada pela troca de olhares é de uma intensidade ímpar. Raramente nos encontramos na posição de trocar um olhar com alguém que não seja o “Blasé”. Os óculos de Lygia colo- cam os “interatores”a se olhar como namora- dos. E esse é o efeito da interação pelo olhar, as pessoas têm a oportunidade de se con- hecer como namorados. A artista neo-concreta trabalha muito com a interação em suas obras. www.lygiaclark.org.br 13
  • 16. Minha segunda referência primordial foi algo simples, mas que abriu grandes possibilidades. Em uma cena famosa do filme “2001” de Stanley Kubrick, um diálogo de grande tensão é estabele- cido entre o protagonista e o computador “HAL”. Alimentada por (ou alimentando) essa tensão, em um momento da cena, há um close no rosto do protagonista e ouvem-se vários ruídos do funcionamento das máquinas do ambiente do filme. Esses ruídos trabalham a percepção sonora do expectador e contribuem para a tensão da cena intensamente. E esse foi um grande estímulo para mim, a percepção sonora. O tra- balho com os sons promove uma grande exploração sensorial, e me pareceu interessante asso- ciar duas formas de sensibilidade, a auditiva e a visual. Com isso eu poderia estabelecer várias formas de diálogos sensoriais,
  • 17. os sons com as pessoas e suas ações, os sons com o olhar, o olhar com as pessoas, e os sons com cada indivíduo separadamente. Com isso estava constituída minha ideia inicial: A interação pelo olhar, associada à sensibilidade auditiva.
  • 18.
  • 20. Com isso, comecei a elaborar formas para meu objeto. A principio, fugindo da ideia dos óculos, pro- pus algo como uma divisória: A ideia era de colocar as pessoas em uma posição tal em que pudessem trocar olhares e junto a isso estives- sem dispostos a interagir com um sistema de sons 18
  • 21. O sistema sonoro seria algo simples, en- volvendo apenas botões e campainhas, pra que os “interagentes” dialogassem com isso.
  • 22. Porém, ao escutar críticas, abandonei a ideia da divisória e dos botões, por perceber que esta era uma conformação muito sim- plória, e que, possivelmente proporcionaria uma interação meramente reativa e pouco convidativa. Diante disso, voltei à forma dos óculos, e a partir de então, meu objeto pas- saria a ser cada vez mais uma releitura dos óculos de Lygia Clark. Então passei a experimentar criati- vamente maneiras de proporcionar minha ideia de interação na estrutu- ra de óculos. Tentei executar a ideia com sensores magnéticos, para identificar o toque e acionar buzzers (campainhas eletrônicas). 20
  • 23. Mas com algumas orientações, o recur- so que descobri como mais adequado, e que abria mais possibilidades para a interação, foi o potenciômetro. Com ele, seria possível dimensionar a intensidade dos ruídos de acordo com os movimentos da interação pelo olhar. Mas ainda assim, a forma do objeto não era satisfatória e, depois de mais críticas e experimentações, me voltei radicalmente para o formato de releitura dos óculos de Lygia. Pantográfico: articulação utilizada nos óculos de Lygia Clark que permite uma movimentação “sanfonada”.
  • 24. Tendo definido uma forma referencial, voltei-me à confecção de um protótipo funcional. Vale lembrar que as características estéticas do objeto, bem como as funcionais, foram concebidas fundamentalmente pela experimentação e exploração dos recursos disponíveis em cada etapa da criação. Assim, com os recursos que dispunha, reproduzi a forma da obra de Lygia Clark ligada a um circuito formado por potenciômetro, bateria e buzzers. Tendo encontrado óculos de natação para reproduzir os óculos e palitos de picolé para fazer os pantográfi- cos, acabei por constituir uma composição estética interessante para o trabalho. Óculos de natação Palitos de picolé Potenciômetro Bateria Buzzer
  • 25. Com o protótipo em uso, percebi alguns detalhes que deveriam ser revistos. Para reparar a fragilidade da estrutura, substituí arames e fita isolante por parafusos e porcas. Para facilitar o movimento, esten- di o pantográfico, utilizando as mesmas proporções dos óculos de Lygia. 23
  • 26. A última e mais fundamental mudança foi nos sons do objeto. Ao perceber que o ruído do buzzer era excessivamente alto e incômodo, resolvi modificar o cir- cuito e utilizar gravações em um mp3 player ligado ao potenciômetro e fones de ouvido para o as- pecto sonoro do trabalho. Explorando esse novo recurso, percebi as inúmeras novas possibilidades que se abriram para a exploração sonora. Tendo o controle do que seria escutado na interação, tornou-se possível criar um maior diálogo com os sons e proporcionar uma intensa exploração da sensibilidade auditiva.
  • 27. Assim, sons incômodos, por exemplo, fariam com que os “interagentes” se movimentas- sem com o intuito de diminuir o volume do som reproduzido, enquanto que, uma música agradável ou uma narração misteriosa provocaria a movimentação oposta para aumentar o volume. Com isso, a exploração sensitiva e a intensidade da interação cresceram, e abri- ram-se novas portas para a experimentação. Alarme! este seu olhar... Pessoas se afastam para diminuir sons desagradáveis e aproximam para aumentar os agradáveis/curiosos. Assim, nessa configuração, pus o objeto em uso.
  • 28.
  • 30. Com o objeto em uso, evidenciou-se o caráter transitório do trabalho. De- pendendo da condição da estrutura no momento da interação, do am- biente em que está sendo usado e das pessoas que o estão utilizando, a interação se modifica, sendo sempre algo a mais do que foi projetado. Em diferentes situações,a interação foi centrada nos movimentos, na audição ou na comunicação pelo olhar, tendo cada uma dessas formas um efeito diferente.
  • 31. É importante ressaltar que em cada nova utilização, as pes- soas se intrigavam com um aspecto diferente do trabalho, e o seu propósito foi a cada momento sendo reinventado, como foi também ao longo do processo de confecção. Além disso, foi possível notar que alguns aspectos do objeto desfavoreci- am a interação, como sua fragilidade e a limitação dos mov- imentos. Ao final da experiência, a impressão que sobressaiu foi a de que o ponto central do objeto está na exploração e abertura de possibilidades. Nesses dois pontos é que de fato se desenvolvia a interação. 29
  • 32.
  • 34. Portanto, para continuar com o processo de reinvenção e experimentação, é preci- so propor uma nova visitação do objeto. Para ampliar as possibilidades de ex- ploração e intensificar a interação, é possível identificar algumas coisas a serem alteradas/adicionadas ao trabalho. A ampliação das possibilidades de movi- mento, para além do binário para frente e “para trás, torna o uso mais versátil e a exploração das possibilidades do objeto mais livre. 32
  • 35. Isso pode ser feito acoplando o pantográfi- co a uma base ligada a um super-imã. O imã possibilita movimentos para todas as direções. Além disso, com o movimento articulado dessa for- ma, é possível programar o repro- dutor de áudio para reproduzir sons e alterar o volume de uma maneira bem mais aberta. mp3 Placa programada Super-imã com movimentos ras- treados 33
  • 36. Dessa forma, para cada movimento que for feito na interação, é possível programar alguma alteração no som, podendo assim a interação determinar os sons e o som deter- minar a interação de uma maneira bem mais intensa. Movimentos em diálogo com os sons Em decorrência disso, a interação se torna mais dialógica e envolvente, e se torna mais intensa a exploração e reinvenção do objeto. Então, por fim, assim se constitui o objeto. Óculos de na- tação, palitos de picolé, Mp3 player, imã.
  • 37. Disposto para o uso, aberto para a exploração, para a reinvenção. Sem peças ou forma estritamente definidos, o objeto se modifica pela interação. E seu uso e consideração são fundamentais para a con- tinuidade desse processo. E ele vive.
  • 38.
  • 39. Imagens: (9) (10) (11) (12) (17), Scheilla Exupéry (13) (14) e (15), autor não encontrado (16) Cena de “2001: Uma odisséia no espaço” (1968) de Stanley Kubrick Bibliografia/referências: “Diálogo: Óculos”, Lygia Clark, 1968 “Nosso Programa”capítulo do livro “Pós- história: vinte instantâneos e um modo de usar”, Vilém Flusser, 1983 Orientação: Ana Paula Baltazar, José Santos Cabral Filho, Sandro Canavezzi de Abreu, Guilherme Ferreira de Arruda, Diego Fagundes. Agradecimentos especial aos monitores do laboratório LAGEAR. Arquitetura e Urbanismo, UFMG.