1) O documento discute a análise de Marx sobre as classes sociais e a ação política na França entre 1848 e 1851, especificamente sobre as revoluções e repúblicas francesas nesse período.
2) Marx analisa como o Estado francês parece ter se tornado autônomo em relação à sociedade civil sob o governo de Luís Bonaparte, que representava a classe dos pequenos camponeses.
3) O bonapartismo é definido como uma forma de regime político ditatorial no qual a parte executiva do Estado alcança poder sobre todas as outras partes do
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
Marx análise classes 1848-1851
1. Aula 2 - Classe e conflito político
em Marx
Prof. Dr. Everton Picolotto
2. Marx e a análise da ação política das
classes sociais
• Publicado em 1852, O 18 brumário de Luís Bonaparte
compõe, conjuntamente com As lutas de classe na
França (1850) e A guerra civil na França (1871), o que
se costuma chamar de a trilogia política de Marx
sobre a França.
• Nesses três trabalhos, que recobrem o período
histórico francês de 1848 (ano que marca a
Revolução de fevereiro que pôs fim à monarquia
constitucional de Luís Felipe) a 1871 (ano da Comuna
de Paris), encontram-se as principais análises de
Marx sobre as lutas entre as classes sociais pelo
poder político do Estado e o fenômeno
da autonomização relativa do Estado face à
sociedade: o bonapatismo.
3. Categorias teóricas de Marx para
análise da ação coletiva
• Fazer da história (direcionamento do processo
histórico).
• Ação e estrutura.
• Classes sociais
• Partidos
• Indivíduos
4. Revoluções e repúblicas francesas
• I República 1792. O Rei Luís XVI é executado em 1793.
• Golpe militar do General Napoleão Bonaparte recompõe a estabilidade
política em 1799. Se faz coroar Imperador em 1804, sob o título de
Napoleão I.
• As guerras napoleônicas levam a aristocracia europeia ao pânico, até a
derrota de Napoleão em 1815. É restaurada a dinastia dos Bourbon,
perdura entre 1815 e 1830.
• Uma revolução popular, em 1830, derruba o último Bourbon, Carlos X
e leva ao trono um Orleans, Luís Felipe I.
• Em 1848, uma nova revolução, que traz o advento político do
movimento operário na história europeia, instaura a II República. Luís
Bonaparte é eleito presidente. Em 1851, ao final do mandato, este dá
um golpe de Estado e torna-se imperador sob o título de Napoleão III.
• Napoleão III arrasta a França à Guerra Franco-Prussiana (1870), na qual
é derrotado. É derrubado o Império, criada a Comuna e a III República.
5. O Dezoito Brumário de Luis Bonaparte
- História, tragédia e farsa -
• Hegel observou que todos os fatos e personagens de grande
importância na história do mundo ocorrem, por assim dizer,
duas vezes. E esqueceu-se de acrescentar: a primeira vez
como tragédia, a segunda como farsa.
Caussidière por Danton, Louis Blanc por Robespierre, a
Montanha de 1845-1851 pela Montanha de 1793-1795, o
sobrinho pelo tio. E a mesma caricatura ocorre nas
circunstâncias que acompanham a segunda edição do Dezoito
Brumário!
6. • Os homens fazem a sua própria história, mas não a fazem
segundo a sua livre vontade; não a fazem sob circunstâncias
de sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam
diretamente, legadas e transmitidas pelo passado. A tradição
de todas as gerações mortas oprime como um pesadelo o
cérebro dos vivos.
• Em momentos revolucionários, os homens conjuram em seu
auxilio os espíritos do passado, tomando-lhes emprestado os
nomes, os gritos de guerra e as roupagens, a fim de
apresentar, nessa linguagem emprestada, a nova cena da
história. Assim, Lutero adotou a máscara do apóstolo Paulo, a
Revolução de 1789-1814 vestiu-se alternadamente como a
república romana e como o império romano, e a Revolução de
1848 não soube fazer nada melhor do que parodiar ora 1789,
ora a tradição revolucionária de 1793-1795.
• Os eventos de 1848-51 repetem a linguagem, o calendário,
nomes e a família dos Napoleão, novamente, captura o
Estado.
7. Golpe inesperado, mas como?
• Em 02 de dezembro de 1851, a Constituição, a Assembleia
Nacional, os partidos dinásticos, os republicanos azuis e vermelhos,
os heróis da África, o trovão vibrado da tribuna, a cortina de
relâmpagos da imprensa diária, toda a literatura, os políticos de
renome e os intelectuais de prestígio, o código civil e o código
penal, a liberte, égalité, fraternité e o segundo domingo de maio de
1852 - tudo desaparecera como uma fantasmagoria diante da
magia de um homem medíocre.
• O sufrágio universal parece ter sobrevivido apenas por um
momento, a fim de fazer, de próprio punho, o seu último
testamento perante os olhos do mundo inteiro e declarar em nome
do próprio povo: Tudo o que existe merece perecer.
• Não é suficiente dizer, como fazem os franceses, que a nação fora
tomada de surpresa.
8. Fases da revolução de 1848-1851
1ª - República Social - 24.02 - queda de Louis-Philippe - até 04.05
de 1848 - instalação da Assembleia Constituinte (2 meses)
• Todos os elementos que haviam preparado ou feito a revolução - a
oposição dinástica, a burguesia republicana, a pequena burguesia
democrático-republicana e os trabalhadores social-democratas -
encontram provisoriamente seu lugar no governo de fevereiro.
• Tendo-a conquistado de armas na mão, o proletariado imprimiu-lhe
sua chancela e proclamou-a uma república social.
• Enquanto o proletariado de Paris deleitava-se ainda ante a visão das
amplas perspectivas que se abriam diante de si e se entregava a
discussões sérias sobre os problemas sociais, as velhas forças da
sociedade se haviam agrupado, reunido, concertado e encontrado o
apoio inesperado da massa da nação: os camponeses e a pequena
burguesia.
9. 2ª - República Burguesa - 4.05 de 1848 até fins de maio de 1849,
é o período da constituição, da fundação da república burguesa
(1 ano).
• A Assembleia Nacional, que se reunira a 4 de maio de 1848, sendo
o resultado de eleições nacionais, representava a nação. Era um
protesto vivo contra as presunçosas pretensões das jornadas de
fevereiro e devia reduzir os resultados da revolução à escala
burguesa.
• O proletariado tenta em vão dissolver pela força a Assembleia
(insurreições de maio e junho).
• A república burguesa triunfou. A seu lado alinhavam-se a
aristocracia financeira, a burguesia industrial, a classe média, a
pequena burguesia, o exército, o lúmpen proletariado organizado
em Guarda Móvel, os intelectuais de prestígio, o clero e a
população rural. Tinham "salvo" a sociedade dos "inimigos da
sociedade". Tinham dado como senhas a seu exércitos as palavras
de ordem da velha sociedade -"propriedade, família, religião,
ordem”.
• Do lado do proletariado de Paris não havia senão ele próprio. Mais
de três mil insurretos foram massacrados depois da vitória e quinze
mil foram deportados sem julgamento.
10. 3ª República Constitucional – 28.05 de 1849 a 02.12 de 1851
(data do golpe de Estado).
• Eleição e governo republicano de Luiz Bonaparte, eleito por uma
aliança entre o lumpemproletariado, a memoria do tio e as dívidas
dos camponeses para com sua família.
• É formado o “partido da ordem”, congregando as frações dos
monarquistas e republicanos. Ocupava os principais postos do
governo, do exército e do Poder Legislativo.
• Os legitimistas e os orleanistas, formavam as duas grandes facções
do partido da ordem. Sob os Bourbons governara a grande
propriedade territorial, com seus padres e lacaios; sob os Orléans, a
alta finança, a grande indústria, o alto comércio, ou seja, o capital,
com seu séquito de advogados, professores e oradores.
• Os republicanos puros verificaram que estavam reduzidos a um
grupo de cerca de 50 homens.
• O principal partido de oposição era a Montanha (200 parlamentares
de 750), o partido social-deomocrata (pequenos burgueses e
operários).
11. Desmoralização do Parlamento de da
Constituição
• Logo que se reuniu a Assembleia Nacional, o partido da
ordem provocou a Montanha.
• O bombardeio de Roma pelas tropas francesas foi a isca
que lhe atiraram. Violava o artigo 5 da Constituição, que
proibia qualquer declaração de guerra por parte do Poder
Executivo sem o assentimento da Assembleia Nacional.
• A 12 de junho a Assembleia Nacional rejeitou o projeto de
impeachment e a Montanha deixou o Parlamento.
• Tenta pegar em armas para defender a Constituição, mas é
derrotada...
• Quebrou-se, assim, a influência da Montanha no
Parlamento e a força da pequena burguesia e dos
operários.
12. O partido da ordem conquistou a vitória;
Bonaparte tinha apenas que embolsá-la.
• O partido da ordem não tinha apenas destroçado a Montanha:
tinha efetuado a subordinação da Constituição às decisões
majoritárias da Assembleia Nacional. Esta era uma república
parlamentar, a burguesia governava diretamente, sem encontrar,
como na monarquia, quaisquer barreiras tais como o veto do Poder
Executivo ou o direito de dissolver o Parlamento.
• Mas se a burguesia assegurou a 13 de junho sua onipotência dentro
do Parlamento, não tornara ao mesmo tempo o próprio Parlamento
irremediavelmente fraco diante do Poder Executivo e do povo,
expulsando a bancada mais popular?
• Denunciando uma insurreição em defesa da carta constitucional
como um ato de subversão do regime, vedou a si própria a
possibilidade de recorrer à insurreição no caso de o Poder Executivo
violar contra ela a Constituição.
13. Estado torna-se autônomo perante à
sociedade civil?
• A França parece ter escapado ao despotismo de uma classe apenas para
cair sob o despotismo de um indivíduo, e, o que é ainda pior, sob a
autoridade de um indivíduo sem autoridade.
• Sob a monarquia absoluta, durante a primeira Revolução, sob Napoleão, a
burocracia era apenas o meio de preparar o domínio de classe da
burguesia. Sob a Restauração, sob Luís Filipe, sob a república parlamentar,
era o instrumento da classe dominante.
• Unicamente sob o segundo Bonaparte o Estado parece tornar-se
completamente autônomo. A máquina do Estado consolidou a tal ponto a
sua posição em face da sociedade civil que lhe basta ter à frente o chefe
da Sociedade de 10 de Dezembro, um aventureiro surgido de fora,
glorificado por uma soldadesca embriagada, comprada com aguardente e
salsichas e que deve ser constantemente recheada de salsichas (sic). Daí o
pusilânime desalento, o sentimento de terrível humilhação e degradação
que oprime a França e lhe corta a respiração. A França se sente
desonrada.
14. Eleito pelos camponeses
• Bonaparte representa uma classe, e justamente a classe mais numerosa
da sociedade francesa, os pequenos camponeses.
• A grande massa da nação francesa é formada pela simples adição de
grandezas homólogas, da mesma maneira que batatas em um saco
constituem um saco de batatas.
• São uma classe? Na medida em que milhões de famílias camponesas
vivem em condições econômicas que as separam umas das outras, e
opõem o seu modo de vida, os seus interesses e sua cultura aos das outras
classes da sociedade, estes milhões constituem uma classe. Mas na
medida em que existe entre os pequenos camponeses apenas uma ligação
local e em que a similitude de seus interesses não cria entre eles
comunidade alguma, ligação nacional alguma, nem organização política,
nessa exata medida não constituem uma classe.
• São incapazes de fazer valer seu interesse de classe em seu próprio nome.
15. Partido de Bonaparte:
Sociedade 10 de Dezembro
Fundada em 1849. Sob o pretexto da instituição de uma
sociedade beneficente, o lumpemproletariado de Paris foi
organizado em facções secretas...
rufiões decadentes com meios de subsistência duvidosos e de
origem duvidosa, rebentos arruinados e aventurescos da
burguesia eram ladeados por vagabundos, soldados
exonerados, ex-presidiários, escravos fugidos, gatunos,
trapaceiros, batedores de carteira, prestidigitadores,
jogadores, cafetões, donos de bordel, carregadores, literatos,
tocadores de realejo, trapeiros, amoladores de tesouras,
funileiros, mendigos, em suma, toda essa massa indefinida,
desestruturada e jogada de um lado para outro, que os
franceses denominam a “boemia”.
16. Bonapartismo
Refere-se a uma forma de regime político da sociedade
capitalista na qual a parte executiva do Estado, sob
domínio de um indivíduo, alcança poder ditatorial sobre
todas as outras partes do Estado e sobre a sociedade.
O bonapartismo constitui, assim, uma manifestação
extrema daquilo que, em escritos marxistas recentes
sobre o Estado, foi chamado de sua “autonomia relativa”
(Poulantzas, 1968). O principal exemplo dessa forma de
regime durante a viela de Marx foi o de Luís Bonaparte.
Engels, por sua vez, também dedicou considerável
atenção ao governo de Bismarck na Alemanha, nele
encontrando muitos paralelos com o bonapartismo
(Bottomore, 2012)
17.
18. Guerra civil na França
- Comuna de Paris -
• Na madrugada do 18 de Março de 1871, Paris acordou com o
rebentamento do trovão de «Viva a Comuna!». Que é a Comuna,
essa esfinge que tanto atormenta o espírito burguês?
“Os proletários da capital” — dizia o Comité Central no
seu manifesto do 18 de Março — “no meio dos
desfalecimentos e das traições das classes governantes,
compreenderam que para eles tinha chegado a hora de
salvar a situação tomando em mãos a direção dos
negócios públicos... O proletariado... compreendeu que
era seu dever imperioso e seu direito absoluto tomar em
mãos os seus destinos e assegurar-lhes o triunfo
conquistando o poder.”
• A antítese direta do Império foi a Comuna.
19. O que foi a Comuna?
• A Comuna de Paris, que durou dois meses, não resultou de
qualquer ação planejada e nem beneficiou-se da liderança de
qualquer indivíduo ou organização que dispusesse de um programa
coerente.
• Um terço dos membros eleitos da Comuna fossem trabalhadores
manuais. Alguns eram ativistas da Primeira Internacional de
Trabalhadores.
• Os membros desse governo foram escolhidos pelos eleitores
parisienses numa eleição especial, organizada pelo Comitê Central
da Guarda Nacional de Paris, uma semana depois que este se viu,
inesperadamente, com o poder de Estado nas mãos, uma vez que o
governo provisório francês se havia retirado apressadamente da
capital depois que algumas de suas tropas confraternizarem com o
povo em 18 de março de 1871.
20. Como era a Comuna?
• A Comuna foi formada por conselheiros municipais, eleitos por
sufrágio universal nos vários bairros da cidade, responsáveis e
revogáveis em qualquer momento. A maioria dos seus membros
eram naturalmente operários ou representantes reconhecidos da
classe operária.
• A Comuna havia de ser não um corpo parlamentar mas operante,
executivo e legislativo ao mesmo tempo.
• A polícia foi despojada dos seus atributos políticos e transformada
no instrumento da Comuna, responsável e revogável em qualquer
momento. O mesmo aconteceu com os funcionários de todos os
outros ramos da administração.
• Desde os membros da Comuna para baixo, o serviço público tinha
de ser feito em troca de salários de operários.
• Os direitos adquiridos e os subsídios de representação dos altos
dignitários do Estado desapareceram com os próprios dignitários do
Estado.
21. • A Comuna tornou realidade o lema das revoluções
burguesas — governo barato — destruindo as duas
maiores fontes de despesa: o exército permanente e o
funcionalismo estatal.
• Emancipado o trabalho, todo o homem se torna um
trabalhador e o trabalho produtivo deixa de ser um
atributo de classe .
• A Comuna, exclamam eles, tenciona abolir a
propriedade, base de toda a civilização! Sim, senhores,
a Comuna tencionava abolir toda essa propriedade de
classe que faz do trabalho de muitos a riqueza de
poucos. Ela aspirava à expropriação dos
expropriadores.
• Mas, contiveram-se respeitosamente diante das portas
do Banco da França. Teria sido um erro?
22. Significado heroico da Comuna
• Quando a Comuna de Paris tomou a direção da
revolução nas suas próprias mãos; quando simples
operários ousaram pela primeira vez infringir o
privilégio governamental dos seus «superiores
naturais» e, em circunstâncias de dificuldade sem
exemplo, executaram a sua obra modestamente,
conscienciosamente e eficazmente — executaram-na
com salários, o mais elevado dos quais mal atingia um
quinto do mínimo requerido para uma secretária de
certo conselho escolar de Londres — o velho mundo
contorceu-se em convulsões de raiva, à vista da
Bandeira Vermelha, símbolo da República do Trabalho,
a flutuar sobre o Hotel de Ville.