No século XVI e XVII no Brasil:
1) A música era trazida pelos colonizadores portugueses e era tocada durante missas e procissões com instrumentos como órgãos e trombetas.
2) Os jesuítas ensinavam música para crianças indígenas usando instrumentos como flautas, violas e órgãos portáteis.
3) Em cidades como Salvador e Mogi das Cruzes havia mestres de capela e músicos que tocavam durante cerimônias religiosas com instrumentos como violas
3. Século XVI
A Primeira Missa
A Carta de Pero Vaz de Caminha, escrita em 1º de
maio de 1500, relata que Pedro Álvares Cabral,
ordenou que os índios fossem presenteados com
chocalhos e campainhas, trombetas e gaitas, segundo
o estudo de Manuel Veiga, todos instrumentos
europeus.
A Primeira Missa, celebrada na manhã de 1º de maio,
é descrita com os sacerdotes entrando em forma de
procissão, tendo sido presidida pelo Frei Henrique
Soares de Coimbra, acompanhado dos auxiliares Frei
Masseu ou Maffeu, sacerdote organista e Frei Pedro
Netto, corista de ordens sacras.
Os franciscanos são conhecidos pelas suas funções,
por causa deste fato, o Pe. Jaime Diniz sugere que
houvesse um órgão manual portátil, instrumento
bastante conhecido dos europeus daquela época.
Órgão portátil
5. Salvador - capital da Colônia
• No ano de sua fundação, 1549, encontramos o trombeta (sic) Diogo Dias, aos 26 de
outubro, recebendo a “importância de 2.248 reis de cestos que fez para as obras da
cidade do Salvador”.
• Ainda no mesmo ano, em 21 de julho, encontramos o padre jesuíta Leonardo Nunes (os
jesuítas haviam chegado em 29 de março daquele ano) e um outro clérigo, não
identificado pelo cronista, regendo um coro que era formado por “leigos de boas vozes”
em Ilhéus, e, ainda, o registro de “grande música a que respondiam as trombetas” na
procissão que foi realizada no mesmo dia festivo. As circunstâncias indicam quem fosse
música ibérica.
• “Outra procissão se fez dia de Corpus Christi, mui solene, em que jogou toda a artilharia
que estava na cerca, as ruas muito enramadas, houve danças e invenções à maneira de
Portugal.”
• Em 1551, foram criados na Sé de Salvador os cargos de Chantre e dois moços do coro.
O primeiro chantre se chamava Francisco de Vaccas, que morreu 3 anos após a sua
posse. O Bispo de Salvador pede ao rei que mandasse uns órgãos para que o serviço
religioso fosse realizado com solenidade.
• Há o registro também de música na fundação de uma ermida em Camaragibe, hoje Rio
Vermelho, informando que houve a presença do mestre-de-capela da Sé, e que houve
música a dois coros, formado por estudantes do colégio dos jesuítas, acompanhados
por flautas e dirigidos pelo irmão Antonio Rodrigues que espalhou o ensino de música
do sul do Recôncavo Baiano até as fronteiras com o que, hoje, é o estado de Sergipe.
6. • A função de mestre-de-capela da Sé, foi criado por carta régia em 15 de junho de
1559, assumida por Bartholomeu Pires, aumentando o número de moços do coro
de 2 para 4, além de um tangedor de órgãos, um organista. Régis Duprat sugere
que havia música polifônica quinhentista, mas Jaime Diniz afirma que só se cantava
cantochões e obras corais não polifônicas.
• Em 1581, foram fundados os primeiros mosteiros beneditinos na Bahia, o primeiro
das Américas, que contribuíram para a manutenção da música sacra em terras
baianas com cantores, organistas e instrumentistas dos mais variados
instrumentos.
• Em 1648, foi nomeado mestre-de-capela da igreja de S. Luiz do Maranhão, João
Ribeiro Leão, o qual ficava autorizado a por uma Escola [de música] aos quisessem
aprender, tanto na cidade quanto na comarca.
7. Jesuítas
1583 – Há um registro da estada do Visitador Cristóvão de Gouveia, jesuíta, que
escreveu em seu diário: “em todas essas 3 aldeias, há escolas de ler e escrever,
aonde os padres ensinam os meninos índios; e alguns mais hábeis também
ensinam contar, cantar e tanger. Tudo tomam muito bem e há já muitos que
tangem frautas, violas e cravos e oficiam missas em canto de órgão, coisa que
os Pais [padres] estimam muito.”
Segundo Serafim Leite, os cantos ensinados eram de quatro tipos:
• Canto litúrgico – canto de órgão (notação mensurada) e gregoriano,
essencialmente religioso.
• Cantigas para os índios – não necessariamente religiosas, para serem
aproveitadas em bailados, teatro e catequese, ou de temas que não
ofendessem a religião e os bons costumes.
• Canto colegial – cantos eruditos, como cânones ou descantos, para as festas
e colações de grau.
• Canções missionárias – usadas na catequese rural
8. Entre os instrumentos utilizados e listados nas ações jesuíticas, Manuel Veiga classifica
da seguinte forma:
• Idiofones – indígenas como os maracas e taquaras e portugueses como as nésperas
(campainhas sem badalo que são tocadas batendo-se uma na outra) e ferrinhos
com argolinhas dentro.
• Os membrafones: tambor, tamboril, pandeiros com soalhas
• Os aerofones: flautas, pífaros, baixos e tenores de metal, contraltos, oboés,
charamelas, baixão, sacabuxa, cornetas, trombetas, clarins, fagotes e órgãos.
• Os cordofones: violas, rabecas, rabecões, manicórdios e cravos.
• Acrescenta, isoladamente, o berimbau de boca e a harpa.
Jaime Diniz acrescenta que órgãos no plural, vem da expressão litúrgica “pulsantur
organa”, usada desde a Idade Média, que referia-se aos Salmos bíblicos.
Provavelmente eram órgãos positivos portáteis, sem pedaleira, transportados em
carros de tração animal, alimentados por foles manejados por escravos.
9. Os mosteiros beneditinos da Bahia
• Os mosteiros beneditinos contribuíram proficuamente na manutenção e
desenvolvimento da música sacra em terras baianas com seus cantores, organistas e
instrumentistas.
• Em 15 de abril de 1581 foi fundado o mosteiro beneditino de São Sebastião que teve
sua elevação a abadia em 13 de outubro de 1584 e Arquiceróbio dos Mosteiros do
Brasil a partir de 22 de agosto de 1596, tornando-se a abadia mais antiga da
América.
• O mosteiro de Nossa Senhora da Graça foi fundado em 16 de julho de 1586, com
presidência a partir de 13 de junho de 1694 e elevação a abadia em 27 de fevereiro
de 1720. Por decreto da Santa Sé de 20 de janeiro de 1906 foi incorporado à abadia
da Bahia, continuando como priorado claustral.
• Mais tarde, em 1670, foi fundado o mosteiro de Nossa Senhora das Brotas com
presidência a 13 de janeiro de 1694 e elevação a abadia em 21 de junho de 1713
(supresso a 26 de junho de 1911).
10. • No século XVI foram várias as mudanças políticas, porém, até onde se tem notícia,
não afetaram diretamente as manifestações musicais. Depois da criação do
Governo Geral que durou de 1548 a 1572, que instituiu a cidade de Salvador como
capital da Colônia, houve a divisão do Brasil em dois governos, promovida por D.
Sebastião, ficando Salvador como a capital da Repartição do Norte (1573-1578) e o
Rio de Janeiro como a capital da Repartição do Sul (1574-1578). Em 1578 o
governo foi reunificado e Salvador voltou a ser a capital da Colônia.
• Em 1608 aconteceu a segunda divisão administrativa com o interesse da
descoberta de minas que veio a separar as capitanias do Rio de Janeiro, Espírito
Santo e São Vicente do governo da Bahia. Em 1612 o governo foi reunificado
novamente.
• Em 1621 foi criado o Estado do Maranhão (Ceará, Maranhão e Grão-Pará,
pertencentes à Coroa) por facilitar o entendimento direto com Portugal, o que já
vinha acontecendo anteriormente.
• Em 1645 o Brasil foi elevado à categoria de principado, sendo conferido ao herdeiro
do trono português o título de Príncipe do Brasil (excluído o Maranhão).
• Em 1658 aconteceu nova divisão administrativa voltando Salvador a ser capital da
Repartição do Norte e o Rio de Janeiro da Repartição do Sul. Em 1662 foi
restabelecida a unidade administrativa.
11. A banda do francês
O viajante francês François Pyrard de Laval (Viagem de Francisco Pyrard de Laval,
trad. Joaquim Heliodoro da Cunha, Livraria Civilização, Porto, 1944, II, p. 236-7) ,
visitando a Bahia entre 10 de agosto e 7 de outubro de 1610, encontrou um
francês da Provença ensinando a vinte ou trinta negros escravos a tocar e a
cantar.
Contratado pelo magnata do açúcar, identificado como João Furtado de
Mendonça (foi governador de Angola entre 1594 e 1602) que podia sustentar o
luxo de manter sua orquestra e coro particulares “fazendo música dia e noite”,
porque a sua fortuna de trezentos mil réis aumentava anualmente com os lucros
do açúcar. O maestro provençal morou ali por alguns anos.
12. Colégio dos jesuítas – século XVII
• Nos levantamentos de Serafim Leite consta que no regulamento do seminário ou
colégio dos padres jesuítas, Internato de Belém da Cachoeira, em 1694 foi criada a
"Classe de Solfa". Além da classe, "os alunos nos domingos, dias santos e feriados,
podem à tarde durante a recreação, ocupar-se aprendendo a tocar os
instrumentos".
• Pelo Regulamento Geral, o “mestre de Música será um secular". Como o
estabelecimento ficava distante de Salvador e fora dos limites da Vila da Cachoeira
onde estes mestres seriam encontrados, dificultava o cumprimento da lei. No
entanto, o irmão Pedro de Matos, de Torres Vedras, a quem outras ordens
religiosas ofereceram a admissão com o sacerdócio, preferiu ficar como irmão leigo
naquele colégio, onde faleceu em 1725, com a menção de “grande cantor".
13. Robert Stevenson informa que em 1696 vem à luz a carreira do virtuoso
harpista e mestre de capela Antão de Santo Elias, que tomou o hábito
carmelita na Bahia, em 8 de abril, professando um ano depois. Compositor de
vários Responsórios de Natal para dois coros, acompanhados por “rebecas,
rebecões, e flautas” e de Missas a 4 e a 8 vozes “com diversidade de
instrumentos". Deixou ainda um Te Deum para coros acompanhados de quatro
instrumentos, muitos hinos, salmos, um Magnificat e numerosos vilhancicos.
14. O grupo de Mogi das Cruzes
• A prática musical na capitania de São Paulo, era a mesma que na capitania das
Minas Gerais, sempre vinculada aos atos litúrgicos e às festas religiosas.
• A documentação tem mostrado que entre as populações dessas vilas paulistas
do s. XVI e XVII, era usual tanger viola, harpa, cítara e pandeiro.
• Em meados do s. XVII circulam em vilas como S. Paulo e Santana do Parnaíba
livros de canto de órgão (notação redonda mensurada), papéis de música, não
apenas nas mãos dos mestres de capela
• Muitos tangedores de viola eram letrados “tinham à mão um Cervantes, um
Vieira, um Mendes Pinto, um Bento Pereira ou livros de comédia e entremezes,
além de muita literatura espiritual, jurídica e médica”.
15. Sorocaba era o ponto de partida e de chegada nas comunicações com os campos
do sul do Brasil.
A partir de 1732, completada a ligação por terra com os extensos campos vizinhos
ao Prata, ali se tornou o foco do comércio de gado muar, vacum e equino.
Em 1772 encontra-se em Sorocaba Timóteo Leme do Prado, que na assinatura se
qualifica como padre. Timóteo Leme do Prado, também aparece compondo.
Padre Faustino Xavier, clérigo paulista cônego da Sé de São Paulo, desde 1760.
Nasceu em c. 1708 na Vila de Mogi das Cruzes, nomeado aos 21 anos, serviu na
Matriz como mestre de capela “pela muita perícia na Arte da música”, pelo Bispo
do Rio de Janeiro, D. Fr. Antonio de Guadalupe.
Angelo Prado Xavier, parece ter vivido sob a proteção do Pe. Faustino, cantando na
capela de música, desenvolvendo-se na música.
16. Criada em 1611 como vila, a povoação de Mogi das Cruzes desde 1630, estava com o
seu convento e igreja da Ordem 1ª de N. S. do Carmo funcionando, conjunto algumas
décadas depois acrescido de uma capela anexa de Irmãos Terceiros. Tinha irmandades
e confrarias. A cultura de latifúndios com uma vida rural equilibrada, com escravos
índios. Produzia mantimentos básicos, tabaco, algodão e cana.
Os carmelitanos do convento da Vila possuíam duas grandes fazendas com capelas
capazes de dizer missa para a população rural: Santo Alberto e Santo Angelo.
“Essa estrutura é o bastante para que as instituições da ordem social vigente na
Colônia tomem forma, se projetando na vila. É o que basta para haver músico
profissional e até mesmo boa música na terra”, segundo Jaelson Trindade.
O caráter sóbrio, ainda atado ao maneirismo português, caracteriza as peças de Mogi.
Nas igrejas paulistas, cantava-se o cantochão, a música em canto de órgão
(polifônica/homofônica), às vezes, acompanhada de instrumentos musicais (órgão,
cravo, harpa, baixão).
Pueri hebraeorum – Anônimo ou Francisco Martins (c.1620-1680)
As músicas de Mogi se conformam estilisticamente em uma situação pré-barroca.
Até inícios da década de 80, eram raros os documentos musicais encontrados no Brasil
que exibiam uma estética cronologicamente anterior aos estilos musicais estudados.
17. ANEXO VIII
Manuscritos de Mogi das Cruzes, Regina Coeli laetare, Parte do tiple. Circa século XVII.
Acervo fotográfico de Paulo Castagna.
Clave de sol
na segunda
linha para o
tiple
(soprano)
Sinal de
repetição
de texto
(alleluja)
Indicação de
tempo
perfeito com
prolação
perfeita,
proportio
tripla
Notação
proporcional
redonda branca
e negra
Barras de
compasso
dividindo em
períodos de
arsis e thesis
As duas últimas
semibreves como
figuras de maior
duração indicando
a divisão
proporcional do
tempo perfeito
(ternário)
18. A descoberta dos manuscritos de Mogi das Cruzes possui um grande significado na
musicologia brasileira, por ter permitido, pela primeira vez, o estabelecimento de uma
relação clara entre a música maneirista ou pré-barroca ibérica e a prática musical na
América Portuguesa.
Suas principais características são:
1 – formação coral a capella, com emprego possível de um instrumento grave
(melódico ou harmônico) dobrando ou substituindo o baixo vocal;
2 – utilização do sistema modal;
3 – escrita em partes separadas;
4 – utilização da notação proporcional;
5 – musica ficta, ou seja, ausência de grande parte das alterações cromáticas ou
acidentes, que deveriam ser introduzidos pelos cantores;
6 – repousos por cadencias;
7 – contraponto simples;
8 – movimentação por graus conjuntos;
9 – sujeição total ao texto;
10 – estilo predominantemente silábico (uma nota para cada sílaba);
11 – utilização de três procedimentos musicais básicos: fabordão, homofonia modal e
polifonia.
20. Anônimo – início do século XVIII – Matais de incêndio – canção ou villancico português
de Natal (entre o sagrado e o profano) – autoria de António Marques Lésbio
O villancico barroco ou cantata-villancico foi uma das principais formas poético-musicais da
música da Península Ibérica e respectivas colônias. Surgiu da evolução dos villancicos, ou
villancetes, do Renascimento. A sua popularidade era tal que enchia as igrejas de
fiéis durante as festividades, tendo praticamente todos os grandes compositores ibéricos do
século XVII escrito villancicos.
Matais de Incêndios, meu lindo! Ai! Iê, Iê.
Porque um sol me pareceis: não me mateis!
Deixai que eu goze essas luzes! Ai! Iê, Iê.
Meu amor, não me mateis, não me mateis!
Hei de chegar aos Incêndios! Ai! Iê, Iê.
Inda que raios vibreis: não me mateis!
Mas se a vós me chego, amante! Ai! Iê, Iê.
Meu amor, não me mateis, não me mateis!