[1] Felipe Koberg fundou o parque Veragua Rainforest na Costa Rica para mostrar a beleza da floresta tropical aos visitantes, mas o empreendimento enfrentou dificuldades financeiras.
[2] Koberg e seus sócios levantaram US$ 8 milhões para o projeto através de investidores, mas a frequência de cruzeiros foi menor que o esperado.
[3] Em 2012, o parque precisava de refinanciamento e foi vendido para a empresa Global Destinations para garantir sua sobrevivência financeira.
Paixão pela floresta, América Economía Brasil março 2013
1. EMPREENDEDORISMO
TURISMO
Paixão pela floresta
Apostar alto, com pouco capital, é uma armadilha na qual já caíram
muitos empreendedores. A lição também foi aprendida pelo costarriquenho
Felipe Koberg, fundador da Veragua Rainforest
David Cornejo, de Santiago
D
epois de terminar seus estu- teiro de arvorismo na propriedade, mas o e não havia uma oferta de qualidade para
dos de administração na uni- negócio não prosperou. O empreendedor o porto de Limón”, afirma Martí Jiménez.
versidade de Southern Missis- dedicou-se a outros negócios e a questão Segundo dados do Instituto Costarrique-
sippi (EUA) em 1993, Felipe ficou na gaveta por nove anos. Mas a flo- nho de Turismo, Limón receberia 165 mil
Koberg voltou para a Costa Rica e pas- resta continuava chamando, e ele montou turistas em 2006 e a taxa de crescimento
sou um mês em um terreno de 1.300 mil uma equipe com dois amigos de adoles- poderia alcançar 10% ao ano.
hectares na floresta tropical, a 40 minutos cência: Eric Fulmmer, MBA pela Kello- A ideia era criar um parque na flores-
do porto de Limón e do Mar do Caribe, gg, e Martí Jiménez, MBA por Harvard. ta tropical chuvosa da Costa Rica. Ima-
de propriedade de sua família. Saiu des- “Felipe era a inspiração, Eric os números ginavam um mirante, pontes suspensas e
sa experiência com uma picada do mos- e Martí o que executa”, afirma Juan Car- uma loja de artesanato. Mas precisavam
quito tropical papalomoyo e uma ideia de los Barahona, professor da Incae Business de um diferencial, que foi encontrado em
negócios: um projeto turístico para aque- School e autor, junto com Andrey Elizon- uma cachoeira na parte alta do terreno, de
la bela paisagem. do, do artigo “Veragua Rainforest: bioi- onde se podia ver o mar do Caribe. Defi-
“Meu pai era empresário madeireiro novação e liderança responsável” (2009). niram um espaço de 78 hectares e com-
e me parecia um crime ver essas árvores A ideia era atacar o mercado dos cru- praram o terreno do pai de Koberg e seus
cortadas. Era mais razoável mostrá-las zeiros americanos que visitavam o vizi- sócios. O lugar era atraente, mas era pre-
aos visitantes”, diz Koberg. Mas o Cari- nho porto de Limón, algo que em 2004 ciso melhorar a acessibilidade. Para isso,
be costarriquenho é um território difícil. já parecia factível. Os três sócios viaja- acrescentaram um teleférico. E, em busca
Naquela época, mal atraía turistas e nem ram para a Flórida, nos Estados Unidos, de valor agregado, somaram uma assesso-
tinha infraestrutura para recebê-los. Em e confirmaram o interesse dos empresá- ria científica biológica. Em aliança com o
1995, Koberg passou a oferecer um ro- rios do setor. “Vinham muitos cruzeiros INBio (Instituto Nacional de Biodiversi-
Cachoeira, o
diferencial que
ajudou a erguer o
projeto do parque
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2. Teleférico,
passarelas e
assessoria científica
para agregar valor
greve e o Estado dava pouco ou nenhum unir esforços e fazer um pacote com to-
apoio ao turismo em Limón. dos”, afirma Koberg. “Mas o banco pre-
Esta baixa nas projeções não compli- cisava de uma decisão imediata e a Nature
cou o parque diante dos credores, inves- Air estava entrando, e precisava de tem-
tidores e colaboradores. O acordo com o po”, acrescenta.
INBio consistia em uma percentagem por Aceitaram a oferta da Global Destina-
ingresso ao parque. Mas, em 2010, as fi- tions, cujo fundador, Michael Greve, pôs
dade), estabeleceram um jardim de coli- nanças não permitiam mais assumir se- como condição que não fossem mais só-
bris, um borboletário, um criadouro de quer esses custos. Eles cortaram a relação cios. “Eric e Felipe estavam dispostos a
répteis e um ranário diurno e noturno. E com o Instituto e começaram a trabalhar continuar envolvidos, mas a Global não
os cientistas do INBio acabaram tornan- na pesquisa científica com a Universida- quis”, comenta Jiménez, o único que con-
do-se parte da atração. de da Costa Rica, sem o custo da percen- tinua na Veragua como sócio e CEO.
tagem sobre os ingressos. ”Foi uma deci- Ao se sacrificar como sócio, Koberg
ARVORISMO NO VÁCUO são pela sobrevivência”, explica Jiménez. conseguiu a sobrevivência do parque. A
“A princípio, pensamos em um investi- Como o personagem Klaus Kinski no ideia concebida nove anos antes começou
mento de US$ 250 mil, em seis meses”, filme Fitzcarraldo, que queria levar a ópe- a tomar vida, executada agora por outros:
afirma Jiménez. O projeto completo cus- ra à selva, Koberg apegava-se a sua ideia a carga financeira da Veragua reduziu-se,
tou US$ 8 milhões, entre ativos fixos e ca- original, com uma determinação que foi a dívida foi refinanciada e todo o pessoal
pital de giro. Para reuni-los, montaram o reconhecida pela AméricaEconomia atra- operacional foi mantido. Em julho próxi-
clássico mix de fundos próprios, investi- vés do prêmio Excelência Empresarial mo o parque passará a barreira dos cinco
mentos de conhecidos e uma dívida com 2012. No fim do ano, a situação era crítica anos, já sem a asfixia financeira de 2012.
um banco local. Para Barahona, da Incae, e a empresa precisava de refinanciamen- Desde então, o empresário workaho-
os sócios prenderam-se “ao que realmente to. “Não havia um retorno para pagar de lic e amante das motocicletas dedica-se
iria diferenciá-los, e não mudaram a ideia imediato uma dívida alta”, explica Full- a outros empreendimentos. Um deles é
principal diante das dificuldades”. mer. E os investidores não estavam dis- a exploração de intercâmbios comerciais
O parque Veragua Rainforest abriu postos a colocar mais dinheiro, como ha- com a China, com sua empresa Factory
em 4 de julho de 2008, com Koberg co- viam feito desde a inauguração do parque. Direct. “O ensinamento que aplico agora
mo CEO. Os visitantes foram contatados Em novembro de 2012, o banco lhes deu é não superdimensionar; é melhor come-
através de agências de viagens que admi- um ultimato. Jiménez, Fulmmer e Koberg çar pouco a pouco, sem perder o controle”.
nistravam as rotas de cruzeiros que pas- reuniram-se para tomar uma decisão. Voltar à floresta? Koberg não descar-
savam por Limón. Mas, dois anos depois, As opções eram duas: aceitar como in- ta a possibilidade. No fim das contas,
a frequência dos cruzeiros não foi a espe- vestidores a empresa turística e de cru- do terreno de seu pai e sócios ainda so-
Fotos: Dilvugação
rada. A infraestrutura portuária costarri- zeiros Global Destinations, proposta por bram 1.222 hectares. Talvez um hotel
quenha nunca melhorou, os trabalhado- Jiménez, ou a companhia aérea Nature que complemente a Veragua Rainfo-
res do setor estavam frequentemente em Air, proposta por Fulmmer. “Eu propus rest, especula.
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