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- Adotar-se-á a perspectiva de que as profissões
influenciam o social bem como o social as influencia,
importando concebê-las como situadas no tempo e no
espaço, para apreender como se delineia a profissão
docente relacionada à classe social, ao gênero e a etnia-
raça
.
Na literatura sociológica se faz uma diferenciação entre
ocupação e profissão (FREIDSON, 1998). Podemos
diferenciar, desta maneira, a segunda da primeira mediante
a “universitarização” da formação.
Pergunta-se o que leva, em uma sociedade determinada,
uma profissão a ser mais valorizada do que outras?
Dubar (1997) nos chama a atenção para diferenças
hierarquizadas no seio de uma mesma profissão e entre as
profissões.
.
Definição de Profissão:
Profissão seria a livre escolha individual da formação
associada a uma atividade do mundo do trabalho.
Escolha essa considerada, na sociologia anglo-
saxônica, como uma das principais justificativas para a
superioridade das profissões em relação aos ofícios,
uma vez que nas corporações de ofício o conhecimento
era passado de pai para filho quase como sendo um
ritual religioso (BOUDON e BOURRICAUD, 2000,
451).
- Dubar, no seu trabalho sobre Socialização Profissional, indica a
obra de Carr-Saunders e Wilson como aquela que inicia um
campo de estudo, onde é afirmado que “uma profissão emerge
quando um número ‘x’ de pessoas começa a praticar uma técnica
definida, baseada numa formação especializada” (1997, 128).
Dubar acrescenta, no entanto, que a profissão requer uma
formação sistemática teórica que permita a aquisição de uma
cultura profissional, ponto por ele considerado como mais
relevante na constituição de uma profissão.
Outro aspecto seria a criação de associações profissionais
definindo regras de conduta profissional, como também uma
linha imaginária de separação entre os membros destas
associações, no caso, os profissionais e as pessoas não
qualificadas.
Com efeito as profissões estariam, pois, relacionadas a um
conhecimento sistematizado a ser incorporado mediante
vários anos de estudo e a regras de conduta definidas por suas
associações profissionais.
Freidson (1998) propõe uma nova perspectiva no estudo das
profissões. Para ele, as profissões devem ser estudadas num
contexto histórico e apreendidas a partir de uma visão
relacional do processo histórico ocorrido em cada país.
Freidson adota critérios para definir as profissões:“na
exposição à educação superior e ao conhecimento formal
abstrato que ela transmite; na capacidade de a profissão
exercer poder e ser uma forma de ganhar a vida; em ser uma
ocupação cuja educação é pré-requisito para obter posições
específicas no mercado de trabalho, excluindo aqueles que não
possuem tal qualificação” (Bonelli, 1998: 24).
• Outra contribuição de Freidson, citada por Bonelli, seria em
relação à análise dos poderes e privilégios profissionais e de
suas esferas de controle, resultantes do monopólio do
conhecimento e das atividades de proteção às profissões. Desta
maneira, seriam as articulações políticas dos grupos
profissionais, a briga por espaços, o monopólio no exercício
das profissões que intermedeiam o direito de formar e avaliar, a
licença e “expertise” concedidas pelo Estado. É nesse âmbito
que se estabelecem as hierarquias e o surgimento das
chamadas “semi-profissões” ou “quase-profissões” como, por
exemplo, a Nutrição, a Fisioterapia, a Odontologia. Estas são
atividades que surgiram para “auxiliar” profissões de destaque,
como a Medicina, sendo-lhes atribuído menos status na
sociedade.
•E a docência como é classificada?
As divisões hierarquizadas não acontecem apenas em relação
ao tipo de atividade exercida dentro de uma profissão, mas
também elas são suscitadas pelo gênero, pela raça/etnia,
origem social de quem as exerce, podendo conduzir a uma
acumulação de discriminações. No exemplo citado por Dubar
das pediatras, a discriminação estaria relacionada ao fato de
que o cuidar de crianças é uma atividade associada ao gênero
feminino, o que segundo alguns estudiosos (Enguita, 1991;
Louro, 1997) justificaria a sua desvalorização social.
Esta reflexão sobre as diferenças hierárquicas geradas em
contextos históricos e relacionais entre e dentro de uma
mesma profissão pode orientar o enfoque a ser empregado na
análise do status diferenciado da docência tanto da perspectiva
intra como inter profissional.
“não é difícil perceber que tratar a professora de tia é
muito mais uma dissimulação de uma relação de
autoridade do que a solução de um problema afetivo. A
criança não se relaciona com a professora da mesma
forma que se relaciona com uma tia e a professora
também não trata seus alunos como sobrinhos. As
relações são diferentes em si, na sua natureza” (NOVAES,
1992, 128-129).
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  • 3. Na literatura sociológica se faz uma diferenciação entre ocupação e profissão (FREIDSON, 1998). Podemos diferenciar, desta maneira, a segunda da primeira mediante a “universitarização” da formação. Pergunta-se o que leva, em uma sociedade determinada, uma profissão a ser mais valorizada do que outras? Dubar (1997) nos chama a atenção para diferenças hierarquizadas no seio de uma mesma profissão e entre as profissões. .
  • 4. Definição de Profissão: Profissão seria a livre escolha individual da formação associada a uma atividade do mundo do trabalho. Escolha essa considerada, na sociologia anglo- saxônica, como uma das principais justificativas para a superioridade das profissões em relação aos ofícios, uma vez que nas corporações de ofício o conhecimento era passado de pai para filho quase como sendo um ritual religioso (BOUDON e BOURRICAUD, 2000, 451).
  • 5. - Dubar, no seu trabalho sobre Socialização Profissional, indica a obra de Carr-Saunders e Wilson como aquela que inicia um campo de estudo, onde é afirmado que “uma profissão emerge quando um número ‘x’ de pessoas começa a praticar uma técnica definida, baseada numa formação especializada” (1997, 128). Dubar acrescenta, no entanto, que a profissão requer uma formação sistemática teórica que permita a aquisição de uma cultura profissional, ponto por ele considerado como mais relevante na constituição de uma profissão. Outro aspecto seria a criação de associações profissionais definindo regras de conduta profissional, como também uma linha imaginária de separação entre os membros destas associações, no caso, os profissionais e as pessoas não qualificadas.
  • 6. Com efeito as profissões estariam, pois, relacionadas a um conhecimento sistematizado a ser incorporado mediante vários anos de estudo e a regras de conduta definidas por suas associações profissionais. Freidson (1998) propõe uma nova perspectiva no estudo das profissões. Para ele, as profissões devem ser estudadas num contexto histórico e apreendidas a partir de uma visão relacional do processo histórico ocorrido em cada país. Freidson adota critérios para definir as profissões:“na exposição à educação superior e ao conhecimento formal abstrato que ela transmite; na capacidade de a profissão exercer poder e ser uma forma de ganhar a vida; em ser uma ocupação cuja educação é pré-requisito para obter posições específicas no mercado de trabalho, excluindo aqueles que não possuem tal qualificação” (Bonelli, 1998: 24).
  • 7. • Outra contribuição de Freidson, citada por Bonelli, seria em relação à análise dos poderes e privilégios profissionais e de suas esferas de controle, resultantes do monopólio do conhecimento e das atividades de proteção às profissões. Desta maneira, seriam as articulações políticas dos grupos profissionais, a briga por espaços, o monopólio no exercício das profissões que intermedeiam o direito de formar e avaliar, a licença e “expertise” concedidas pelo Estado. É nesse âmbito que se estabelecem as hierarquias e o surgimento das chamadas “semi-profissões” ou “quase-profissões” como, por exemplo, a Nutrição, a Fisioterapia, a Odontologia. Estas são atividades que surgiram para “auxiliar” profissões de destaque, como a Medicina, sendo-lhes atribuído menos status na sociedade. •E a docência como é classificada?
  • 8. As divisões hierarquizadas não acontecem apenas em relação ao tipo de atividade exercida dentro de uma profissão, mas também elas são suscitadas pelo gênero, pela raça/etnia, origem social de quem as exerce, podendo conduzir a uma acumulação de discriminações. No exemplo citado por Dubar das pediatras, a discriminação estaria relacionada ao fato de que o cuidar de crianças é uma atividade associada ao gênero feminino, o que segundo alguns estudiosos (Enguita, 1991; Louro, 1997) justificaria a sua desvalorização social. Esta reflexão sobre as diferenças hierárquicas geradas em contextos históricos e relacionais entre e dentro de uma mesma profissão pode orientar o enfoque a ser empregado na análise do status diferenciado da docência tanto da perspectiva intra como inter profissional.
  • 9. “não é difícil perceber que tratar a professora de tia é muito mais uma dissimulação de uma relação de autoridade do que a solução de um problema afetivo. A criança não se relaciona com a professora da mesma forma que se relaciona com uma tia e a professora também não trata seus alunos como sobrinhos. As relações são diferentes em si, na sua natureza” (NOVAES, 1992, 128-129). Neoliberalismo e trabalho voluntário. Amigos da Escola???)