Carta Aberta dos Pescadores em Defesa da Democracia
1. ____________________________________________________________________________
Carta Aberta do Movimento dos Pescadores e Pescadoras Artesanais do Brasil Em Defesa da
Democracia
“Contra a intolerância dos ricos, a intransigência dos pobres”.
Florestan Fernandes
Nós, pescadores e pescadoras artesanais de todo Brasil, posicionamo-nos em defesa da
democracia brasileira e não vamos permitir um golpe sobre nossas conquistas democráticas,
que são fruto de muita luta e manifestações. A defesa dos nossos direitos civis, políticos e
sociais é um principio do nosso movimento. Somos contra qualquer tipo de retrocesso
conservador que tem como objetivo principal a supressão das liberdades democráticas.
Temos total clareza de que as chagas do golpe civil militar de 1964 ainda estão abertas na vida
e na memória dos pescadores e pescadoras artesanais: as prisões, perseguições, estupros de
mulheres, tortura e morte de lutadores e lutadoras do povo, perseguição às comunidades
indígenas, perseguição e morte de sindicalistas e estudantes. Esse é o retrato da violência
extremada da ditadura civil militar no Brasil. Nossas lembranças estão vivas e não admitimos
nem mais um tipo de golpe.
A democracia em nossa América Latina, índia e negra, é sempre ameaçada quando as
conquistas populares e o Estado Democrático de direito, como instituição, é consolidado à
gosto de luta. Os interesses da burguesia não são os interesses dos trabalhadores, os
interesses da mídia conservadora não representam, em nada, o povo brasileiro. A nossa
disponibilidade e disposição de resistir são alimentadas pelas lutas populares do Quilombo dos
Palmares, da Revolta Praieira, Revolta dos Malês, Revolta da Chibata, de Caldeirão, Canudos,
Contestado. Somos filhos e filhas de Dandara, Lélia Gonzáles , Maria do Paraguaçu, Zumbi dos
Palmares, Abdias Nascimento, Loerte Oliveira, Dragão do Mar e de tantos outros/as cujas vidas
foram ceifadas pelas mãos de tiranos. O sangue dos nossos só alimenta a nossa esperança de
construir um projeto popular para o Brasil.
Nossa posição é defender a democracia e reivindicar mais direitos sociais pela dignidade
humana e pelo trabalho. Continuamos nas águas, na luta pelo reconhecimento e regularização
dos territórios tradicionais pesqueiros, pelos direitos trabalhistas e previdenciários, pela
garantia de direitos dos homens, mulheres e jovens pescadores, pelos investimentos para a
pesca artesanal, contra a reforma previdenciária, contra o cancelamento dos defesos, contra o
agro e hidronegócios, a privatização dos corpos d’água, a flexibilização do licenciamento
ambiental e contra o destino de isolamento da pesca artesanal no Ministério do Agronegócio -
MAPA.
Petrolina/Juazeiro, 03 de abril de 2016