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RESUMO DE PORTUGUÊS – GRAMÁTICA
FUNÇÕES SINTÁTICAS
Funções sintáticas ao nível da frase:
1. Sujeito – elemento que controla a concordância, em pessoa e em número, relativamente ao núcleo.
Pode ser:
a. Simples – constituído apenas por um grupo nominal ou por uma frase.
b. Composto – constituído por duas ou mais expressões nominais ou por duas ou mais frases.
c. Nulo – não está realizado lexicalmente, sendo possível classificá-lo em:
i. Subentendido – quando é possível identificar no contexto o referente para o qual
remete o sufixo flexional. EX: «[Tu] Querias crescer depressa, aí tens.»
ii. Indeterminado – quando o verbo se encontra na 3ª pessoa do plural ou do singular,
acompanhado, neste último caso, do pronome pessoal se com valor impessoal, não
sendo possível identificar o referente do sujeito nulo indeterminado, uma vez que não é
definido nem específico. EX: «Disseram-me que ia chover.»; «Via-se bem que alguns
deles faziam logo as contas.»
iii. Expletivo – ocorre apenas com verbos impessoais. EX: «Havia já algumas pessoas à
sombra dos toldos ou estendidos ao sol.»
2. Predicado – função sintática desempenhada pelo grupo verbal.
3. Modificador da frase – grupo preposicional (1) ou adverbial (2) que, ao contrário dos complementos,
não sendo selecionados pelo verbo, modificam-no, acrescentando informação suplementar.
Caracterizam-se essencialmente pela sua grande mobilidade, podendo ocorrer em várias posições da
frase.
EX: (1) «O carrinho partiu, com Lourival, por entre a azinhaga.»
(2) «O conselheiro enrolava vagarosamente o seu lenço de seda da Índia.»
4. Vocativo – constituinte (não obrigatório) que identifica o interlocutor, ocorrendo em frases
imperativas (1), exclamativas (2) e interrogativas (3).
EX: (1) «Fecha a porta, Pedro.»
(2) «Dói-me muito o peito, mãe!»
(3) «Quando tenho alta, senhor doutor?»
Funções sintáticas internas ao grupo verbal:
1. Complementos – constituintes da frase selecionados pelo verbo:
a. Complemento direto – grupo nominal (1) ou oração substantiva completiva (2) que pode ser
substituído respetivamente pelo pronome pessoal de 3ª pessoa (o/a, os/as) e pelo pronome
demonstrativo átono o.
EX: (1) «Dois homens seguravam o porco.» → «Dois homens seguravam-no»
(2) «Hão de jurar que não me conhecem.» → «Hão de jurá-lo.»
b. Complemento indireto – grupo preposicional (geralmente introduzido pela preposição a) que
pode ser substituído por um pronome pessoal de 3ª pessoa (lhe/lhes).
EX: «Perguntem aí ao Gouveia.» → «Perguntem-lhe aí.»
c. Complemento oblíquo – grupo adverbial (1) ou preposicional (2) que, ao contrário do
complemento indireto, não pode ser substituído por um pronome pessoal (lhe/lhes).
EX: (1) «Faz bem à alma.» →/ «Faz-lhe à alma.»
(2) «Também me lembro do sopro do maçarico.» →/ «Também me lembro-lhe.»
Exemplos de verbos que pedem complemento oblíquo:
a) ir a, vir de, estar em, partir de (nome ou pronome precedido de preposição; advérbio);
b) comunicar com, concordar com, discordar de, precisar de, necessitar de, troçar de, casar-se
com, divorciar-se de, dispor-se a, arrepender-se de, interessar-se por (nome ou pronome
precedido de preposição).
d. Complemento agente da passiva – grupo preposicional (geralmente introduzido pela
preposição por) que, na frase ativa correspondente, passa a grupo nominal com função de
sujeito.
EX: «Uma Câmara não é eleita pelo povo, é nomeada pelo Governo.» → «O povo não
elege uma Câmara, o Governo nomeia-a.»
2. Predicativos:
a. Predicativo do sujeito – grupo nominal (1), adjetival (2), adverbial (3) ou proposicional (4) ou
oração (5) selecionado por um verbo copulativo (estar, ficar, continuar, parecer, permanecer,
revelar-se, ser, tornar-se…) que atribui uma propriedade ou uma localização (espacial ou
temporal) ao sujeito.
EX: (1) «A mãe era uma criatura desagradável e azeda.»
(2) «Garcia ficou aturdido.»
(3) «Olhe que isto é preciso é que todos fiquem bem.»
(4) «Caeiro era de estatura média.»
(5) «Pensar é estar doente dos olhos.»
b. Predicativo do complemento direto – grupo nominal (1), adjetival (2) ou preposicional (3),
selecionado por um verbo transitivo predicativo (achar, chamar, considerar, eleger, julgar,
nomear, tratar,…) que atribui uma propriedade ou uma localização (espacial ou temporal) ao
complemento direto.
EX: (1) «[…] se o ministro fizer esse ladrão recebedor de comarca.»
(2) «Todos a achavam simpática.»
(3) «Todos o tinham por tolo.»
3. Modificador do grupo verbal – grupo preposicional (1), adverbial (2) ou oração subordinada (3) que,
ao contrário dos complementos, não sendo selecionados pelo verbo, modificam-no, acrescentando
informação suplementar. Caracterizam-se essencialmente pela sua grande mobilidade, podendo ocorrer
em várias posições da frase.
EX: (1) «O carrinho partiu, com Lourival, por entre a azinhaga.»
(2) «O conselheiro enrolava vagarosamente o seu lenço de seda da Índia.»
(3) «Não te posso dar minha filha, porque já não tenho filha.»
Funções sintáticas internas ao grupo nominal:
1. Complemento do nome – grupo preposicional [oracional (1) ou não oracional (2)] ou, menos
frequentemente, adjetival (3) que integra o grupo nominal, ocorrendo sempre à direita do nome que
completa e sendo sempre de preenchimento opcional.
EX: (1) «Tem curiosidade de saber como é esta pobre máquina por dentro […].»
(2) «Ter pena dele seria como ter pena dum plátano […].»
(3) «A procura turística tem aumentado.»
2. Modificador do nome – função sintática que integra o grupo nominal, modificando-o através de
informações suplementares.
a. Restritivo – grupo preposicional (1), grupo adjetival (2) ou oração relativa restritiva (3) que
modifica o nome, restringindo a sua referência.
EX: (1) «Fechou a porta da cela atrás de si […].»
(2) «De repente, a rapariga loira viu uma criança sair a correr.»
(3) «Há palavras que fazem bater mais depressa o coração […].»
b. Apositivo – grupo nominal (1), adjetival (2) ou preposicional (3) ou oração relativa explicativa
(4) que, ao modificarem o nome, não limitam a sua referência. Na escrita, está sempre separado
por vírgulas do nome que modifica e ocorre normalmente à direita do mesmo.
EX: (1) «Alguma vez a sua Loló, magra e frenética criatura de olhos verdes, brincara
nos jardins dos palacetes […]?»
(2) «Que doença estranha, lenta mas tenaz, matava o Rei?»
(3) «A velha tinha-se dado preparatoriamente um choro, de grande efeito em
corações de viajante.»
(4) «O rapaz, que chegou pelo lado de trás, abriu a cancela de madeira.»
Funções sintáticas internas ao grupo adjetival:
c. Complemento do adjetivo – grupo preposicional [não oracional (1) ou oracional (2)] que
integra o grupo adjetival, ocorrendo sempre à sua direita. Não é de preenchimento obrigatório.
EX: (1) «E será o pai feliz com o meu sacrifício?»
(2) «Sou fácil de definir.»
d. Modificador do adjetivo – grupo adverbial que integra o grupo adjetival, correspondendo a um
advérbio colocado à esquerda do adjetivo.
EX: «verão como o elefante se enfrenta com os mais furiosos ventos contrários.»
TESTES PRÁTICOS PARA IDENTIFICAR OS COMPLEMENTOS DO VERBO E O MODIFICADOR DO GRUPO VERBAL
1. Complemento direto: pode ser substituído pelo pronome pessoal o, a, os, as. Se for uma oração, pode
substituir-se pelo pronome demonstrativo isso. Surge na resposta à questão: O sujeito + verbo + o quê? ou +
quem?
2. Complemento indireto: pode ser substituído pelo pronome pessoal lhe, lhes. Surge na resposta à questão: O
sujeito + verbo (+ complemento direto) + a quem?
3. Complemento agente da passiva: na frase ativa, desempenharia a função de sujeito.
4. Complemento oblíquo: não pode ser substituído pelos pronomes pessoais o e lhe.
DEIXIS
A deixis designa o conjunto de palavras ou expressões (expressões deíticas) que têm como função ‘apontar’
para o contexto situacional. Assim, assinalam o sujeito que enuncia (locutor), o sujeito a quem se dirige
(interlocutor), o tempo e o espaço da enunciação. Em função da sua natureza deítica, é possível apresentar a
seguinte classificação:
1. Deítico pessoal – indica as pessoas do discurso (locutor e interlocutor); integram este grupo os
pronomes pessoais (ex: tu, me, nós, etc.), determinantes e pronomes possessivos (ex: o meu, o vosso,
teu, etc.), sufixos flexionais de pessoa-número (ex: falas, falamos, etc.), bem como vocativos. EX:
«Aceita que eu exista como os sonhos.»; «Quando eu disser não ouças.»
2. Deítico espacial – assinala os elementos espaciais, evidenciando a relação de maior ou menor
proximidade relativamente ao lugar ocupado pelo locutor; integram este grupo os advérbios ou
locuções adverbiais de lugar (ex: aqui, cá, além, lá de cima, etc.), os determinantes e pronomes
demonstrativos (ex: este, essa, aquilo, etc.), bem como alguns verbos que indicam movimento (ex: ir,
partir, chegar, aproximar-se, afastar-se, entrar, sair, subir, descer, etc.). EX: «Vamos até ali.»
3. Deítico temporal – localiza fatos no tempo; integram este grupo os advérbios, locuções adverbias ou
expressões de tempo (ex: amanhã, ontem, na semana passada, no dia seguinte, etc.) e sufixos
flexionais de tempo-modo-aspeto (ex: falarei, faláveis, etc.). EX: «Depois de amanha serei outro.»
4. Deítico social – assinala a relação hierárquica existente entre os participantes da interação discursiva
e os papéis por eles assumidos (ex: o senhor, vossa excelência, senhor diretor, etc.) EX: «Eu quero
prevenir já o senhor doutor que ele não está bom da cabeça.»
ATOS ILOCUTÓRIOS
É possível classificar os atos ilocutórios com base nas intenções comunicativas (objetivo ilocutório) e na
função que assumem no contexto da sua enunciação (força ilocutória).
Dois enunciados podem ter o mesmo objetivo ilocutório mas forças ilocutórias distintas. Por exemplo, uma
ordem e um pedido têm o mesmo objetivo ilocutório (levar alguém a agir), no entanto as suas forças ilocutórias
são diferentes, já que o primeiro tem a força ilocutória de uma ordem e o segundo a de um pedido.
Tipo Objetivo ilocutório
Atos ilocutórios
assertivos
Descrever um determinado estado de coisas e exprimir a
crença na verdade do seu enunciado (1).
Atos ilocutórios
diretivos
Levar o interlocutor* a praticar uma ação futura, que pode ser
de natureza verbal [ato ilocutório diretivo de resposta verbal:
perguntas (2)] ou não verbal [ato ilocutório diretivo de
resposta não verbal (3)].
Atos ilocutórios
compromissivos
Comprometer o locutor*1 relativamente à prática de uma ação
futura (4).
Atos ilocutórios
expressivos
Exprimir o estado psicológico do locutor relativamente ao
conteúdo do seu enunciado, sendo necessário que este seja
sincero naquilo que exprime. Podem ser realizados utilizando
verbos como agradecer (5) ou lamentar (6); frases e
expressões exclamativas com adjetivos valorativos (7) ou
ainda frases exclamativas com verbos de valor afetivo como
adorar (8), gostar, odiar, etc.
Atos ilocutórios
declarativos
Ciar uma nova realidade, capacidade que lhe advém do seu
estatuto institucional (9).
Atos ilocutórios
indiretos
Transmitir no enunciado do locutor mais do que aquilo que
realmente diz, ou transmitir algo diferente (10).
* → a quem a frase se dirige
* → quem anuncia a frase
EX: (1) «Não percebo esta matéria.»
(2) «O que pensas deste filme?»
(3) «Conduz mais devagar!»
(4) «Prometo que estarei lá à hora marcada.»
(5) «Obrigada pela folha.»
(6) «Lamento o atraso.»
(7) «Boa noite!»
(8) «Adoro viajar!»
(9) «Declaro-vos marido e mulher.»
(10) «Sabe onde fica o Centro de Congressos?» → o que o locutor quis de fato transmitir foi diga-me onde
fica o Centro de Congressos.
FRASE SIMPLES E FRASE COMPLEXA
Frase simples → frase em que existe um único verbo principal ou copulativo.
Frase complexa → frase em que existe mais do que um verbo principal ou copulativo, que contêm mais do que
uma oração. Numa frase complexa, podemos ter orações coordenadas e/ou subordinantes e subordinadas.
COORDENAÇÃO
A coordenação é a relação sintática estabelecida entre elementos que pertencem à mesma categoria gramatical
e que desempenham a mesma função sintática.
As orações coordenadas podem-se classificar em:
1. Copulativa – estabelece uma relação de adição com a(s) oração(ões) com que se combina.
EX: «Estou cansado e vou descansar.»
2. Adversativa – transmite uma ideia de contraste, de oposição, relativamente à ideia expressa na frase
ou oração com que se combina.
EX: «Estou cansado, mas vou continuar.»
3. Disjuntiva – exprime um valor de alternativa face ao que é expresso pela oração com que se combina.
EX: «Ou descanso ou não posso continuar.»
4. Conclusiva – transmite uma ideia de conclusão decorrente da ideia expressa na frase ou oração com
que se combina.
EX: «Estou cansado, logo não posso continuar.»
5. Explicativa – apresenta uma justificação ou explicação relativa à frase ou oração com que se combina.
EX: «Estou cansado porque andei muito.»
SUBORDINAÇÃO
A subordinação é a relação sintática estabelecida entre orações em que uma (subordinada) está
sintaticamente dependente de outra (subordinante).
As orações subordinadas podem-se classificar em:
 Substantiva – desempenha a função sintática de sujeito ou de complemento de um verbo, nome ou
adjetivo, podendo ser facilmente substituída por um pronome como isso e subdividindo-se em:
1. Completiva, que completa a ideia da oração anterior e pode ser introduzida pelas conjunções
subordinativas «que», «se» e «para».
EX: «Eu bem sei que tu não voltas».
2. Relativa, que é introduzida por quantificadores e pronomes relativos sem antecedente, como
quem, o que, onde, quanto, que, o qual, os quais, a qual, as quais.
EX: «Quem espera sempre alcança.»
 Adjetivas – exerce a mesma função que um adjetivo e subdivide-se em:
1. Relativa restritiva, que tem como função restringir a informação dada sobre o antecedente; a
sua omissão acarreta uma alteração do sentido da oração subordinante, pois apresenta
informação relevante para a definição do antecedente.
EX: «O poeta português que escreveu Os Lusíadas foi grandioso.»
2. Relativa explicativa, que apresenta informação adicional sobre o antecedente; a sua omissão
não altera o sentido da oração subordinante, uma vez que o antecedente já se encontra
suficientemente definido.
EX: «A literatura, que é imortal, encanta os leitores.»
 Adverbiais – desempenha a função sintática de modificador da frase ou do grupo verbal e, modificando
o sentido de outras orações, subdivide-se em:
1. Causal, que indica a causa ou o motivo daquilo que é expresso na subordinante.
EX: «Não compro este carro porque consome muito.»
2. Final, que enuncia o objetivo da realização da situação descrita na subordinante.
EX: «Leva dinheiro para pagares as compras.»
3. Temporal, que estabelece a referência temporal em relação à qual a subordinante é
interpretada.
EX: «Estavas ao telefone, quando entrei.»
4. Concessiva, que admite algo contrário ao que é apresentado na subordinante mas incapaz de
impedi-lo.
EX: «Iremos à piscina, embora não seja do meu agrado.»
5. Condicional, que indica uma hipótese ou condição em relação ao que é expresso na
subordinante.
EX: «Se ele fosse rico, teria muitos criados.»
6. Comparativa, que contém o segundo elemento de uma comparação que estabelece em relação a
uma situação apresentada na subordinante.
EX: «Ele trata-me como se eu fosse sua inimiga.»
7. Consecutiva, que apresenta uma consequência da situação expressa na subordinante.
EX: «Comi tanto que fiquei indisposta.»
CLASSES DE PALAVRAS
1. Nome:
a. Comum – não se aplica a uma entidade única, podendo designar objetos, seres, fatos e conceitos
de forma não individualizada. EX: «Quero aquele pão.»
b. Próprio – designa uma única entidade num determinado contexto comunicativo. EX: «Basílio
tomou-lhe as mãos.»
c. Contável – designa entidades ou seres singulares, passíveis de serem divididos em partes
distintas e enumerados. EX: caderno, cadeira, lápis, etc.
d. Não-contável – designa algo que é concebido como um todo contínuo, não podendo ser dividido
em partes singulares nem contado. Ex: farinha, açúcar, água, etc.
e. Concreto – designa objetos ou entidades físicas que podem ser localizadas no tempo e no
espaço. EX: janela, porta, árvore, gato, etc.
f. Abstrato – refere-se a entidades não tangíveis, imateriais, como sentimentos ou conceitos. EX:
felicidade, beleza, perigo, medo, verdade, etc.
2. Adjetivo:
a. Qualificativo – modifica um grupo nominal, atribuindo-lhe uma qualidade.
b. Numeral – modifica o nome, atribuindo-lhe uma determinada ordem dentro de uma série.
Corresponde a uma palavra tradicionalmente classificada como numeral ordinal. EX: primeiro,
segundo, vigésimo lugar, etc.
c. Relacional – palavra que se distingue dos restantes adjetivos por apresentar características
próprias: completa, geralmente, o sentido do nome, atribuindo-lhe informações de natureza
classificatória, deriva de nomes [comércio → comercial], não admite variação em grau [uma
manifestação operária →/ uma manifestação muito operária], ocorre sempre em posição pós-
nominal e não tem antónimo.
2.1. Variação em género:
d. Biforme – possui uma forma para o feminino e para o masculino.
e. Uniforme – possui apenas uma forma para ambos os géneros.
2.2. Variação em grau:
f. Normal – expressa simplesmente a qualidade.
g. Comparativo – compara uma qualidade entre duas entidades, distinguindo-se três
modalidades:
I. De superioridade – EX: «Londres é mais cosmopolita do que Lisboa.»
II. De inferioridade – EX: «Lisboa é menos agitada do que Londres.»
III. De igualdade – EX: «Londres é tão movimentada como Paris.»
h. Superlativo:
I. Relativo – apresenta uma qualidade atribuída a uma entidade que é comparada a um
conjunto de entidades.
i. De superioridade – EX: «O Everest é a mais alta montanha do mundo.»
ii. De inferioridade – EX: «Os países da África subsariana são os menos
desenvolvidos.»
II. Absoluto – indica uma qualidade que supera a noção que normalmente se tem dessa
mesma qualidade, não se relacionando com nenhum conjunto de entidades.
i. Sintético – EX: «Este problema é facílimo.»
ii. Analítico – EX: «Aquele ator é bastante célebre.»
3. Pronome:
a. Pessoal –
b. Demonstrativo –
c. Possessivo –
d. Indefinido –
e. Relativo –
f. Interrogativo –
4. Determinante:
a. Artigo definido –
b. Artigo indefinido –
c. Demonstrativo –
d. Possessivo –
e. Indefinido –
f. Relativo –
g. Interrogativo –
5. Quantificador:
a. Universal –
b. Existencial –
c. Numeral –
d. Relativo –
e. Interrogativo –
6. Verbo:
a. Principal –
b. Copulativo –
c. Auxiliar –
7. Advérbio:
a. De negação –
b. De afirmação –
c. De quantidade e grau –
d. De inclusão e exclusão –
e. Relativo –
f. Interrogativo –
g. De predicado –
h. De frase –
i. Conetivo –
8. Conjunção/locução conjuncional:
a. Coordenativa –
b. Subordinativa –
9. Preposição/locução prepositiva –
10. Interjeição –
COMPREENSÃO
FIGURAS DE ESTILO:
 A nível fónico:
1. Aliteração – repetição de sons consonânticos em sílabas próximas. (O vento vago voltou);
2. Assonância – repetição intencional dos mesmos sons vocálicos (À tona de águas paradas);
 A nível sintático:
1. Anáfora – repetição de uma ou mais palavras no início de uma frase, de um membro de frase ou de um
verbo (nem rei nem lei, nem paz nem guerra);
2. Anástrofe – alteração da ordem direta da frase devido à anteposição de um complemento ou à deslocação
de uma palavra (Às horas em que um frio vento passa);
3. Assíndeto – supressão da partícula de ligação (Grécia, Roma, cristandade, Europa);
4. Enumeração – acumulação ou inventariação de elementos da mesma natureza (Mas o melhor do são as
crianças/flores, música, o luar e o sol);
5. Hipérbato – transposição da ordem normal das palavras de uma oração, donde resulta a separação dos
elementos constituintes de um sintagma (Súbdita a frase o busca);
6. Paralelismo de construção – repetição da estrutura frásica para memorizar ou destacar ideias (Três
vezes do leme as mãos ergueu,/Três vezes ao leme as reprendeu);
7. Polissíndeto – repetição do elemento de ligação entre frases ou palavras (E com as mãos e os pés/ E com
o nariz e a boca).
 A nível interpretativo:
1. Antítese – apresentação de dois conceitos opostos (Julguei que isto era o fim e afinal é o princípio);
2. Antonomásia – substituição de um nome próprio por uma palavra ou expressão que o designem de
modo inconfundível (Cessem do sábio grego e do Troiano);
3. Apóstrofe/invocação – interpelação, chamamento de alguém ou de algo personificado (Ó céu! Ó campo!
Ó canção!);
4. Comparação – relação de semelhança entre duas ideias usando uma partícula comparativa ou verbos
como «parecer», «assemelhar-se» (O meu olhar é nítido como um girassol);
5. Disfemismo – apresentação, de forma violenta, de uma ideia que pode ser expressa de forma suave
(Cheiro que não ofende estes narizes, habituados, que estão ao churrasco do auto de fé);
6. Eufemismo – expressão, de uma ideia chocante, de uma forma suave (quando a fogueira se apagar tens
de te ir embora [= morrer]);
7. Gradação – encadeamento, disposição de palavras/ideias segundo uma ordem crescente ou decrescente
(Sagaz consumidora conhecida/de fazendas, de Reinos e de Impérios);
8. Hipérbole – exagero da realidade (corre um rio sem fim);
9. Hipálage – transferência de uma impressão causada por um ser para outro ser, ao qual
logicamente não pertence, mas que se encontra relacionado com o primeiro. (No plaino
abandonado.)
10. Interrogação – pergunta retórica que não pretende obter resposta, mas enfatizar a questão (Quem vem
viver a verdade/Que morrer D. Sebastião?);
11. Ironia – afirmação que pretende sugerir ou insinuar o contrário;
12. Metáfora – comparação de dois conceitos sem utilização da partícula comparativa (Numa onda de
alegria);
13. Metonímia – utilização de um vocábulo em vez de outro, com o qual tem uma relação de contiguidade (o
continente pelo conteúdo; o autor pela obra, por exemplo: Estou a estudar Camões);
14. Oximoro – expressão que inclui contradição (São coisas vestindo nadas);
15. Perífrase – utilização de muitas palavras para dizer o que pode ser expresso por poucas (Pelo neto
gentil do velho Atlante [= Mercúrio]);
16. Personificação – atribuição de qualidades ou de comportamentos humanos a seres inanimados ou a
animais (Quando uma nuvem passa a mão por cima da luz);
17. Pleonasmo – repetição da mesma ideia (Vi, claramente visto, o lume vivo);
18. Sinédoque – expressão do todo pela parte ou da parte pelo todo, do singular pelo plural, do plural pelo
singular, do género pelo indivíduo (Vós, ó novo temor da maura lança [= exército mouro]);
19. Sinestesia – expressão simultânea de sensações diferentes (Brancura quente da calçada).
NOÇÕES DE VERSIFICAÇÃO
VERSO
 Ritmo – efeito sonoro produzido intencionalmente pela alternância entre sílabas tónicas (acentuadas) e
sílabas átonas (não acentuadas). Ao conjunto das sílabas acentuadas presentes num verso atribui-se a
designação de acento rítmico.
 Metro/métrica – medida poética que corresponde ao número de sílabas métricas de um verso. A
contagem do número de sílabas métricas:
o É efetuada apenas até à sílaba tónica (sílaba acentuada) da última palavra do verso;
o Procede-se normalmente à junção/elisão das vogais átonas finais quando a palavra seguinte é
iniciada por vogal.
EX: «Mu/dam/-se os/tem/pos/, mu/dam/-se as/von/ta/des.»
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 (ùltima sílaba métrica)
(elisão) (elisão)
Classificação dos versos quando à métrica:
o Monossílabo – uma sílaba
o Dissílabo – duas sílabas
o Trissílabo – três sílabas
o Tetrassílabo – quatro sílabas
o Pentassílabo/redondilha menor – cinco sílabas
o Hexassílabo – seis sílabas
o Heptassílabo/redondilha maior – sete sílabas
o Octossílabo – oito sílabas
o Eneassílabo – nove sílabas
o Decassílabo – dez sílabas
o Hendecassílabo – onze sílabas
o Dodecassílabo – doze sílabas
RIMA
Classificação da rima:
 Em função da correspondência de sons:
o Rima consoante/perfeita – correspondência total de sons (consoantes e vogais) a partir da
última sílaba tónica.
o Rima toante/imperfeita – existe apenas uma correspondência de sons vocálicos a partir da
última sílaba tónica.
 Em função da natureza gramatical das palavras que rimam:
o Rima rica – incide em unidades pertencentes a classes de palavras diferentes.
o Rima pobre – incide em unidades pertencentes à mesma classe de palavras.
 Em função do esquema rimático (combinações de rima):
o Rima cruzada – a b a b
o Rima emparelhada – a a b b
o Rima interpolada – a b b a ou a b c a
o Rima encadeada – última palavra de um verso rima com o meio do verso seguinte.
EX: «E há nevoentos desencantos
Dos encantos dos pensamentos»
o Rima interior – uma das palavras (ou ambas) que rima encontra-se no interior do verso.
EX: «E eu na alma – tenho a calma»
ESTROFE
Classificação da estrofe em função do número de versos:
 Monóstico – um verso
 Dístico ou parelha – dois versos
 Terceto – três versos
 Quadra – quatro versos
 Quintilha – cinco versos
 Sextilha – seis versos
 Oitava – oito versos
 Novena – nove versos
 Décima – dez versos
TEMÁTICAS
O FINGIMENTO POÉTICO
Crendo na afirmação de que o significado das palavras está em quem as lê e não em quem as escreve, Fernando
Pessoa aborda a temática do “fingimento”; o poeta baseia--se em experiências vividas, mas transcreve apenas o
que lhe vai na imaginação e não o real, não está a sentir o que não é real. O leitor é que ao ler, vai sentir o
poema.
DOR DE PENSAR
Fernando Pessoa sente-se condenado a ser lúcido, a ter de pensar. Gostava, muitas vezes, de ter a inconsciência
das coisas ou de seres comuns que agem como uma pobre ceifeira. (“O que em mim sente ‘stá pensando.”).
O ortónimo é obcecado pelo pensamento. Contudo, o pensamento está na origem de ser incapaz de sentir
intuitivamente, como quem descobre o mundo sem preconceitos. Impedido de ser feliz, devido à lucidez,
procura a realização do paradoxo de ter uma consciência inconsciente. Mas ao pensar sobre o pensamento,
percebe o vazio que não permite conciliar a consciência e a inconsciência.
O SER FRAGMENTADO
O sujeito poético assume-se como uma espécie de palco por onde desfilam diversas personagens, distintas e
contraditórias. Incapaz de se manter dentro dos limites de si próprio, o sujeito poético procura observar o seu
“eu”, ou seja, conhecer-se a si próprio, o que leva à fragmentação e à consciência de que é capaz de viver apenas
o presente.
Questiona a sinceridade das emoções escritas nos seus textos, porque não sente hoje da mesma forma que
sentiu no passado, pois as emoções, ao serem escritas e lidas, são intelectualizadas (“não sei quantas almas
tenho”).
NOSTALGIA DA INFÂNCIA PERDIDA
Em Fernando Pessoa ortónimo, a infância é entendida como um tempo mítico do bem, da felicidade e da
inconsciência. Nela permanecem sempre vivos a família e os lugares, a segurança e o aconchego, entretanto
perdidos pelo sujeito poético. A inconsciência de que todo esse bem é irrecuperável, fá-lo sentir-se
obsessivamente nostálgico da infância, um tempo perdido que serve sobretudo para acentuar a negatividade do
presente. O profundo desencanto e a angústia acompanham o sentido da brevidade da vida e da passagem dos
dias. Ao mesmo tempo que gostava de ter a infância das crianças que brincam, sente a saudade de uma ternura
que lhe passou ao lado.
Frequentemente, para Pessoa, o passado é um sonho inútil, pois nada se concretizou, antes se traduziu numa
desilusão.

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Funções sintáticas e gramática

  • 1. RESUMO DE PORTUGUÊS – GRAMÁTICA FUNÇÕES SINTÁTICAS Funções sintáticas ao nível da frase: 1. Sujeito – elemento que controla a concordância, em pessoa e em número, relativamente ao núcleo. Pode ser: a. Simples – constituído apenas por um grupo nominal ou por uma frase. b. Composto – constituído por duas ou mais expressões nominais ou por duas ou mais frases. c. Nulo – não está realizado lexicalmente, sendo possível classificá-lo em: i. Subentendido – quando é possível identificar no contexto o referente para o qual remete o sufixo flexional. EX: «[Tu] Querias crescer depressa, aí tens.» ii. Indeterminado – quando o verbo se encontra na 3ª pessoa do plural ou do singular, acompanhado, neste último caso, do pronome pessoal se com valor impessoal, não sendo possível identificar o referente do sujeito nulo indeterminado, uma vez que não é definido nem específico. EX: «Disseram-me que ia chover.»; «Via-se bem que alguns deles faziam logo as contas.» iii. Expletivo – ocorre apenas com verbos impessoais. EX: «Havia já algumas pessoas à sombra dos toldos ou estendidos ao sol.» 2. Predicado – função sintática desempenhada pelo grupo verbal. 3. Modificador da frase – grupo preposicional (1) ou adverbial (2) que, ao contrário dos complementos, não sendo selecionados pelo verbo, modificam-no, acrescentando informação suplementar. Caracterizam-se essencialmente pela sua grande mobilidade, podendo ocorrer em várias posições da frase. EX: (1) «O carrinho partiu, com Lourival, por entre a azinhaga.» (2) «O conselheiro enrolava vagarosamente o seu lenço de seda da Índia.» 4. Vocativo – constituinte (não obrigatório) que identifica o interlocutor, ocorrendo em frases imperativas (1), exclamativas (2) e interrogativas (3). EX: (1) «Fecha a porta, Pedro.» (2) «Dói-me muito o peito, mãe!» (3) «Quando tenho alta, senhor doutor?» Funções sintáticas internas ao grupo verbal: 1. Complementos – constituintes da frase selecionados pelo verbo: a. Complemento direto – grupo nominal (1) ou oração substantiva completiva (2) que pode ser substituído respetivamente pelo pronome pessoal de 3ª pessoa (o/a, os/as) e pelo pronome demonstrativo átono o. EX: (1) «Dois homens seguravam o porco.» → «Dois homens seguravam-no» (2) «Hão de jurar que não me conhecem.» → «Hão de jurá-lo.» b. Complemento indireto – grupo preposicional (geralmente introduzido pela preposição a) que pode ser substituído por um pronome pessoal de 3ª pessoa (lhe/lhes). EX: «Perguntem aí ao Gouveia.» → «Perguntem-lhe aí.» c. Complemento oblíquo – grupo adverbial (1) ou preposicional (2) que, ao contrário do complemento indireto, não pode ser substituído por um pronome pessoal (lhe/lhes). EX: (1) «Faz bem à alma.» →/ «Faz-lhe à alma.» (2) «Também me lembro do sopro do maçarico.» →/ «Também me lembro-lhe.» Exemplos de verbos que pedem complemento oblíquo: a) ir a, vir de, estar em, partir de (nome ou pronome precedido de preposição; advérbio); b) comunicar com, concordar com, discordar de, precisar de, necessitar de, troçar de, casar-se com, divorciar-se de, dispor-se a, arrepender-se de, interessar-se por (nome ou pronome precedido de preposição). d. Complemento agente da passiva – grupo preposicional (geralmente introduzido pela preposição por) que, na frase ativa correspondente, passa a grupo nominal com função de sujeito.
  • 2. EX: «Uma Câmara não é eleita pelo povo, é nomeada pelo Governo.» → «O povo não elege uma Câmara, o Governo nomeia-a.» 2. Predicativos: a. Predicativo do sujeito – grupo nominal (1), adjetival (2), adverbial (3) ou proposicional (4) ou oração (5) selecionado por um verbo copulativo (estar, ficar, continuar, parecer, permanecer, revelar-se, ser, tornar-se…) que atribui uma propriedade ou uma localização (espacial ou temporal) ao sujeito. EX: (1) «A mãe era uma criatura desagradável e azeda.» (2) «Garcia ficou aturdido.» (3) «Olhe que isto é preciso é que todos fiquem bem.» (4) «Caeiro era de estatura média.» (5) «Pensar é estar doente dos olhos.» b. Predicativo do complemento direto – grupo nominal (1), adjetival (2) ou preposicional (3), selecionado por um verbo transitivo predicativo (achar, chamar, considerar, eleger, julgar, nomear, tratar,…) que atribui uma propriedade ou uma localização (espacial ou temporal) ao complemento direto. EX: (1) «[…] se o ministro fizer esse ladrão recebedor de comarca.» (2) «Todos a achavam simpática.» (3) «Todos o tinham por tolo.» 3. Modificador do grupo verbal – grupo preposicional (1), adverbial (2) ou oração subordinada (3) que, ao contrário dos complementos, não sendo selecionados pelo verbo, modificam-no, acrescentando informação suplementar. Caracterizam-se essencialmente pela sua grande mobilidade, podendo ocorrer em várias posições da frase. EX: (1) «O carrinho partiu, com Lourival, por entre a azinhaga.» (2) «O conselheiro enrolava vagarosamente o seu lenço de seda da Índia.» (3) «Não te posso dar minha filha, porque já não tenho filha.» Funções sintáticas internas ao grupo nominal: 1. Complemento do nome – grupo preposicional [oracional (1) ou não oracional (2)] ou, menos frequentemente, adjetival (3) que integra o grupo nominal, ocorrendo sempre à direita do nome que completa e sendo sempre de preenchimento opcional. EX: (1) «Tem curiosidade de saber como é esta pobre máquina por dentro […].» (2) «Ter pena dele seria como ter pena dum plátano […].» (3) «A procura turística tem aumentado.» 2. Modificador do nome – função sintática que integra o grupo nominal, modificando-o através de informações suplementares. a. Restritivo – grupo preposicional (1), grupo adjetival (2) ou oração relativa restritiva (3) que modifica o nome, restringindo a sua referência. EX: (1) «Fechou a porta da cela atrás de si […].» (2) «De repente, a rapariga loira viu uma criança sair a correr.» (3) «Há palavras que fazem bater mais depressa o coração […].» b. Apositivo – grupo nominal (1), adjetival (2) ou preposicional (3) ou oração relativa explicativa (4) que, ao modificarem o nome, não limitam a sua referência. Na escrita, está sempre separado por vírgulas do nome que modifica e ocorre normalmente à direita do mesmo. EX: (1) «Alguma vez a sua Loló, magra e frenética criatura de olhos verdes, brincara nos jardins dos palacetes […]?» (2) «Que doença estranha, lenta mas tenaz, matava o Rei?» (3) «A velha tinha-se dado preparatoriamente um choro, de grande efeito em corações de viajante.» (4) «O rapaz, que chegou pelo lado de trás, abriu a cancela de madeira.» Funções sintáticas internas ao grupo adjetival: c. Complemento do adjetivo – grupo preposicional [não oracional (1) ou oracional (2)] que integra o grupo adjetival, ocorrendo sempre à sua direita. Não é de preenchimento obrigatório. EX: (1) «E será o pai feliz com o meu sacrifício?» (2) «Sou fácil de definir.»
  • 3. d. Modificador do adjetivo – grupo adverbial que integra o grupo adjetival, correspondendo a um advérbio colocado à esquerda do adjetivo. EX: «verão como o elefante se enfrenta com os mais furiosos ventos contrários.» TESTES PRÁTICOS PARA IDENTIFICAR OS COMPLEMENTOS DO VERBO E O MODIFICADOR DO GRUPO VERBAL 1. Complemento direto: pode ser substituído pelo pronome pessoal o, a, os, as. Se for uma oração, pode substituir-se pelo pronome demonstrativo isso. Surge na resposta à questão: O sujeito + verbo + o quê? ou + quem? 2. Complemento indireto: pode ser substituído pelo pronome pessoal lhe, lhes. Surge na resposta à questão: O sujeito + verbo (+ complemento direto) + a quem? 3. Complemento agente da passiva: na frase ativa, desempenharia a função de sujeito. 4. Complemento oblíquo: não pode ser substituído pelos pronomes pessoais o e lhe. DEIXIS A deixis designa o conjunto de palavras ou expressões (expressões deíticas) que têm como função ‘apontar’ para o contexto situacional. Assim, assinalam o sujeito que enuncia (locutor), o sujeito a quem se dirige (interlocutor), o tempo e o espaço da enunciação. Em função da sua natureza deítica, é possível apresentar a seguinte classificação: 1. Deítico pessoal – indica as pessoas do discurso (locutor e interlocutor); integram este grupo os pronomes pessoais (ex: tu, me, nós, etc.), determinantes e pronomes possessivos (ex: o meu, o vosso, teu, etc.), sufixos flexionais de pessoa-número (ex: falas, falamos, etc.), bem como vocativos. EX: «Aceita que eu exista como os sonhos.»; «Quando eu disser não ouças.» 2. Deítico espacial – assinala os elementos espaciais, evidenciando a relação de maior ou menor proximidade relativamente ao lugar ocupado pelo locutor; integram este grupo os advérbios ou locuções adverbiais de lugar (ex: aqui, cá, além, lá de cima, etc.), os determinantes e pronomes demonstrativos (ex: este, essa, aquilo, etc.), bem como alguns verbos que indicam movimento (ex: ir, partir, chegar, aproximar-se, afastar-se, entrar, sair, subir, descer, etc.). EX: «Vamos até ali.» 3. Deítico temporal – localiza fatos no tempo; integram este grupo os advérbios, locuções adverbias ou expressões de tempo (ex: amanhã, ontem, na semana passada, no dia seguinte, etc.) e sufixos flexionais de tempo-modo-aspeto (ex: falarei, faláveis, etc.). EX: «Depois de amanha serei outro.» 4. Deítico social – assinala a relação hierárquica existente entre os participantes da interação discursiva e os papéis por eles assumidos (ex: o senhor, vossa excelência, senhor diretor, etc.) EX: «Eu quero prevenir já o senhor doutor que ele não está bom da cabeça.»
  • 4. ATOS ILOCUTÓRIOS É possível classificar os atos ilocutórios com base nas intenções comunicativas (objetivo ilocutório) e na função que assumem no contexto da sua enunciação (força ilocutória). Dois enunciados podem ter o mesmo objetivo ilocutório mas forças ilocutórias distintas. Por exemplo, uma ordem e um pedido têm o mesmo objetivo ilocutório (levar alguém a agir), no entanto as suas forças ilocutórias são diferentes, já que o primeiro tem a força ilocutória de uma ordem e o segundo a de um pedido. Tipo Objetivo ilocutório Atos ilocutórios assertivos Descrever um determinado estado de coisas e exprimir a crença na verdade do seu enunciado (1). Atos ilocutórios diretivos Levar o interlocutor* a praticar uma ação futura, que pode ser de natureza verbal [ato ilocutório diretivo de resposta verbal: perguntas (2)] ou não verbal [ato ilocutório diretivo de resposta não verbal (3)]. Atos ilocutórios compromissivos Comprometer o locutor*1 relativamente à prática de uma ação futura (4). Atos ilocutórios expressivos Exprimir o estado psicológico do locutor relativamente ao conteúdo do seu enunciado, sendo necessário que este seja sincero naquilo que exprime. Podem ser realizados utilizando verbos como agradecer (5) ou lamentar (6); frases e expressões exclamativas com adjetivos valorativos (7) ou ainda frases exclamativas com verbos de valor afetivo como adorar (8), gostar, odiar, etc. Atos ilocutórios declarativos Ciar uma nova realidade, capacidade que lhe advém do seu estatuto institucional (9). Atos ilocutórios indiretos Transmitir no enunciado do locutor mais do que aquilo que realmente diz, ou transmitir algo diferente (10). * → a quem a frase se dirige * → quem anuncia a frase EX: (1) «Não percebo esta matéria.» (2) «O que pensas deste filme?» (3) «Conduz mais devagar!» (4) «Prometo que estarei lá à hora marcada.» (5) «Obrigada pela folha.» (6) «Lamento o atraso.» (7) «Boa noite!» (8) «Adoro viajar!» (9) «Declaro-vos marido e mulher.» (10) «Sabe onde fica o Centro de Congressos?» → o que o locutor quis de fato transmitir foi diga-me onde fica o Centro de Congressos. FRASE SIMPLES E FRASE COMPLEXA Frase simples → frase em que existe um único verbo principal ou copulativo. Frase complexa → frase em que existe mais do que um verbo principal ou copulativo, que contêm mais do que uma oração. Numa frase complexa, podemos ter orações coordenadas e/ou subordinantes e subordinadas.
  • 5. COORDENAÇÃO A coordenação é a relação sintática estabelecida entre elementos que pertencem à mesma categoria gramatical e que desempenham a mesma função sintática. As orações coordenadas podem-se classificar em: 1. Copulativa – estabelece uma relação de adição com a(s) oração(ões) com que se combina. EX: «Estou cansado e vou descansar.» 2. Adversativa – transmite uma ideia de contraste, de oposição, relativamente à ideia expressa na frase ou oração com que se combina. EX: «Estou cansado, mas vou continuar.» 3. Disjuntiva – exprime um valor de alternativa face ao que é expresso pela oração com que se combina. EX: «Ou descanso ou não posso continuar.» 4. Conclusiva – transmite uma ideia de conclusão decorrente da ideia expressa na frase ou oração com que se combina. EX: «Estou cansado, logo não posso continuar.» 5. Explicativa – apresenta uma justificação ou explicação relativa à frase ou oração com que se combina. EX: «Estou cansado porque andei muito.» SUBORDINAÇÃO A subordinação é a relação sintática estabelecida entre orações em que uma (subordinada) está sintaticamente dependente de outra (subordinante). As orações subordinadas podem-se classificar em:  Substantiva – desempenha a função sintática de sujeito ou de complemento de um verbo, nome ou adjetivo, podendo ser facilmente substituída por um pronome como isso e subdividindo-se em: 1. Completiva, que completa a ideia da oração anterior e pode ser introduzida pelas conjunções subordinativas «que», «se» e «para». EX: «Eu bem sei que tu não voltas». 2. Relativa, que é introduzida por quantificadores e pronomes relativos sem antecedente, como quem, o que, onde, quanto, que, o qual, os quais, a qual, as quais. EX: «Quem espera sempre alcança.»  Adjetivas – exerce a mesma função que um adjetivo e subdivide-se em: 1. Relativa restritiva, que tem como função restringir a informação dada sobre o antecedente; a sua omissão acarreta uma alteração do sentido da oração subordinante, pois apresenta informação relevante para a definição do antecedente. EX: «O poeta português que escreveu Os Lusíadas foi grandioso.» 2. Relativa explicativa, que apresenta informação adicional sobre o antecedente; a sua omissão não altera o sentido da oração subordinante, uma vez que o antecedente já se encontra suficientemente definido. EX: «A literatura, que é imortal, encanta os leitores.»  Adverbiais – desempenha a função sintática de modificador da frase ou do grupo verbal e, modificando o sentido de outras orações, subdivide-se em: 1. Causal, que indica a causa ou o motivo daquilo que é expresso na subordinante. EX: «Não compro este carro porque consome muito.» 2. Final, que enuncia o objetivo da realização da situação descrita na subordinante. EX: «Leva dinheiro para pagares as compras.» 3. Temporal, que estabelece a referência temporal em relação à qual a subordinante é interpretada. EX: «Estavas ao telefone, quando entrei.» 4. Concessiva, que admite algo contrário ao que é apresentado na subordinante mas incapaz de impedi-lo. EX: «Iremos à piscina, embora não seja do meu agrado.»
  • 6. 5. Condicional, que indica uma hipótese ou condição em relação ao que é expresso na subordinante. EX: «Se ele fosse rico, teria muitos criados.» 6. Comparativa, que contém o segundo elemento de uma comparação que estabelece em relação a uma situação apresentada na subordinante. EX: «Ele trata-me como se eu fosse sua inimiga.» 7. Consecutiva, que apresenta uma consequência da situação expressa na subordinante. EX: «Comi tanto que fiquei indisposta.»
  • 7. CLASSES DE PALAVRAS 1. Nome: a. Comum – não se aplica a uma entidade única, podendo designar objetos, seres, fatos e conceitos de forma não individualizada. EX: «Quero aquele pão.» b. Próprio – designa uma única entidade num determinado contexto comunicativo. EX: «Basílio tomou-lhe as mãos.» c. Contável – designa entidades ou seres singulares, passíveis de serem divididos em partes distintas e enumerados. EX: caderno, cadeira, lápis, etc. d. Não-contável – designa algo que é concebido como um todo contínuo, não podendo ser dividido em partes singulares nem contado. Ex: farinha, açúcar, água, etc. e. Concreto – designa objetos ou entidades físicas que podem ser localizadas no tempo e no espaço. EX: janela, porta, árvore, gato, etc. f. Abstrato – refere-se a entidades não tangíveis, imateriais, como sentimentos ou conceitos. EX: felicidade, beleza, perigo, medo, verdade, etc. 2. Adjetivo: a. Qualificativo – modifica um grupo nominal, atribuindo-lhe uma qualidade. b. Numeral – modifica o nome, atribuindo-lhe uma determinada ordem dentro de uma série. Corresponde a uma palavra tradicionalmente classificada como numeral ordinal. EX: primeiro, segundo, vigésimo lugar, etc. c. Relacional – palavra que se distingue dos restantes adjetivos por apresentar características próprias: completa, geralmente, o sentido do nome, atribuindo-lhe informações de natureza classificatória, deriva de nomes [comércio → comercial], não admite variação em grau [uma manifestação operária →/ uma manifestação muito operária], ocorre sempre em posição pós- nominal e não tem antónimo. 2.1. Variação em género: d. Biforme – possui uma forma para o feminino e para o masculino. e. Uniforme – possui apenas uma forma para ambos os géneros. 2.2. Variação em grau: f. Normal – expressa simplesmente a qualidade. g. Comparativo – compara uma qualidade entre duas entidades, distinguindo-se três modalidades: I. De superioridade – EX: «Londres é mais cosmopolita do que Lisboa.» II. De inferioridade – EX: «Lisboa é menos agitada do que Londres.» III. De igualdade – EX: «Londres é tão movimentada como Paris.» h. Superlativo: I. Relativo – apresenta uma qualidade atribuída a uma entidade que é comparada a um conjunto de entidades. i. De superioridade – EX: «O Everest é a mais alta montanha do mundo.» ii. De inferioridade – EX: «Os países da África subsariana são os menos desenvolvidos.» II. Absoluto – indica uma qualidade que supera a noção que normalmente se tem dessa mesma qualidade, não se relacionando com nenhum conjunto de entidades. i. Sintético – EX: «Este problema é facílimo.» ii. Analítico – EX: «Aquele ator é bastante célebre.» 3. Pronome: a. Pessoal – b. Demonstrativo – c. Possessivo – d. Indefinido – e. Relativo – f. Interrogativo – 4. Determinante: a. Artigo definido – b. Artigo indefinido –
  • 8. c. Demonstrativo – d. Possessivo – e. Indefinido – f. Relativo – g. Interrogativo – 5. Quantificador: a. Universal – b. Existencial – c. Numeral – d. Relativo – e. Interrogativo – 6. Verbo: a. Principal – b. Copulativo – c. Auxiliar – 7. Advérbio: a. De negação – b. De afirmação – c. De quantidade e grau – d. De inclusão e exclusão – e. Relativo – f. Interrogativo – g. De predicado – h. De frase – i. Conetivo – 8. Conjunção/locução conjuncional: a. Coordenativa – b. Subordinativa – 9. Preposição/locução prepositiva – 10. Interjeição –
  • 9. COMPREENSÃO FIGURAS DE ESTILO:  A nível fónico: 1. Aliteração – repetição de sons consonânticos em sílabas próximas. (O vento vago voltou); 2. Assonância – repetição intencional dos mesmos sons vocálicos (À tona de águas paradas);  A nível sintático: 1. Anáfora – repetição de uma ou mais palavras no início de uma frase, de um membro de frase ou de um verbo (nem rei nem lei, nem paz nem guerra); 2. Anástrofe – alteração da ordem direta da frase devido à anteposição de um complemento ou à deslocação de uma palavra (Às horas em que um frio vento passa); 3. Assíndeto – supressão da partícula de ligação (Grécia, Roma, cristandade, Europa); 4. Enumeração – acumulação ou inventariação de elementos da mesma natureza (Mas o melhor do são as crianças/flores, música, o luar e o sol); 5. Hipérbato – transposição da ordem normal das palavras de uma oração, donde resulta a separação dos elementos constituintes de um sintagma (Súbdita a frase o busca); 6. Paralelismo de construção – repetição da estrutura frásica para memorizar ou destacar ideias (Três vezes do leme as mãos ergueu,/Três vezes ao leme as reprendeu); 7. Polissíndeto – repetição do elemento de ligação entre frases ou palavras (E com as mãos e os pés/ E com o nariz e a boca).  A nível interpretativo: 1. Antítese – apresentação de dois conceitos opostos (Julguei que isto era o fim e afinal é o princípio); 2. Antonomásia – substituição de um nome próprio por uma palavra ou expressão que o designem de modo inconfundível (Cessem do sábio grego e do Troiano); 3. Apóstrofe/invocação – interpelação, chamamento de alguém ou de algo personificado (Ó céu! Ó campo! Ó canção!); 4. Comparação – relação de semelhança entre duas ideias usando uma partícula comparativa ou verbos como «parecer», «assemelhar-se» (O meu olhar é nítido como um girassol); 5. Disfemismo – apresentação, de forma violenta, de uma ideia que pode ser expressa de forma suave (Cheiro que não ofende estes narizes, habituados, que estão ao churrasco do auto de fé); 6. Eufemismo – expressão, de uma ideia chocante, de uma forma suave (quando a fogueira se apagar tens de te ir embora [= morrer]); 7. Gradação – encadeamento, disposição de palavras/ideias segundo uma ordem crescente ou decrescente (Sagaz consumidora conhecida/de fazendas, de Reinos e de Impérios); 8. Hipérbole – exagero da realidade (corre um rio sem fim); 9. Hipálage – transferência de uma impressão causada por um ser para outro ser, ao qual logicamente não pertence, mas que se encontra relacionado com o primeiro. (No plaino abandonado.) 10. Interrogação – pergunta retórica que não pretende obter resposta, mas enfatizar a questão (Quem vem viver a verdade/Que morrer D. Sebastião?); 11. Ironia – afirmação que pretende sugerir ou insinuar o contrário; 12. Metáfora – comparação de dois conceitos sem utilização da partícula comparativa (Numa onda de alegria); 13. Metonímia – utilização de um vocábulo em vez de outro, com o qual tem uma relação de contiguidade (o continente pelo conteúdo; o autor pela obra, por exemplo: Estou a estudar Camões); 14. Oximoro – expressão que inclui contradição (São coisas vestindo nadas); 15. Perífrase – utilização de muitas palavras para dizer o que pode ser expresso por poucas (Pelo neto gentil do velho Atlante [= Mercúrio]); 16. Personificação – atribuição de qualidades ou de comportamentos humanos a seres inanimados ou a animais (Quando uma nuvem passa a mão por cima da luz); 17. Pleonasmo – repetição da mesma ideia (Vi, claramente visto, o lume vivo);
  • 10. 18. Sinédoque – expressão do todo pela parte ou da parte pelo todo, do singular pelo plural, do plural pelo singular, do género pelo indivíduo (Vós, ó novo temor da maura lança [= exército mouro]); 19. Sinestesia – expressão simultânea de sensações diferentes (Brancura quente da calçada). NOÇÕES DE VERSIFICAÇÃO VERSO  Ritmo – efeito sonoro produzido intencionalmente pela alternância entre sílabas tónicas (acentuadas) e sílabas átonas (não acentuadas). Ao conjunto das sílabas acentuadas presentes num verso atribui-se a designação de acento rítmico.  Metro/métrica – medida poética que corresponde ao número de sílabas métricas de um verso. A contagem do número de sílabas métricas: o É efetuada apenas até à sílaba tónica (sílaba acentuada) da última palavra do verso; o Procede-se normalmente à junção/elisão das vogais átonas finais quando a palavra seguinte é iniciada por vogal. EX: «Mu/dam/-se os/tem/pos/, mu/dam/-se as/von/ta/des.» 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 (ùltima sílaba métrica) (elisão) (elisão) Classificação dos versos quando à métrica: o Monossílabo – uma sílaba o Dissílabo – duas sílabas o Trissílabo – três sílabas o Tetrassílabo – quatro sílabas o Pentassílabo/redondilha menor – cinco sílabas o Hexassílabo – seis sílabas o Heptassílabo/redondilha maior – sete sílabas o Octossílabo – oito sílabas o Eneassílabo – nove sílabas o Decassílabo – dez sílabas o Hendecassílabo – onze sílabas o Dodecassílabo – doze sílabas RIMA Classificação da rima:  Em função da correspondência de sons: o Rima consoante/perfeita – correspondência total de sons (consoantes e vogais) a partir da última sílaba tónica. o Rima toante/imperfeita – existe apenas uma correspondência de sons vocálicos a partir da última sílaba tónica.  Em função da natureza gramatical das palavras que rimam: o Rima rica – incide em unidades pertencentes a classes de palavras diferentes. o Rima pobre – incide em unidades pertencentes à mesma classe de palavras.  Em função do esquema rimático (combinações de rima): o Rima cruzada – a b a b o Rima emparelhada – a a b b o Rima interpolada – a b b a ou a b c a o Rima encadeada – última palavra de um verso rima com o meio do verso seguinte. EX: «E há nevoentos desencantos Dos encantos dos pensamentos» o Rima interior – uma das palavras (ou ambas) que rima encontra-se no interior do verso. EX: «E eu na alma – tenho a calma»
  • 11. ESTROFE Classificação da estrofe em função do número de versos:  Monóstico – um verso  Dístico ou parelha – dois versos  Terceto – três versos  Quadra – quatro versos  Quintilha – cinco versos  Sextilha – seis versos  Oitava – oito versos  Novena – nove versos  Décima – dez versos TEMÁTICAS O FINGIMENTO POÉTICO Crendo na afirmação de que o significado das palavras está em quem as lê e não em quem as escreve, Fernando Pessoa aborda a temática do “fingimento”; o poeta baseia--se em experiências vividas, mas transcreve apenas o que lhe vai na imaginação e não o real, não está a sentir o que não é real. O leitor é que ao ler, vai sentir o poema. DOR DE PENSAR Fernando Pessoa sente-se condenado a ser lúcido, a ter de pensar. Gostava, muitas vezes, de ter a inconsciência das coisas ou de seres comuns que agem como uma pobre ceifeira. (“O que em mim sente ‘stá pensando.”). O ortónimo é obcecado pelo pensamento. Contudo, o pensamento está na origem de ser incapaz de sentir intuitivamente, como quem descobre o mundo sem preconceitos. Impedido de ser feliz, devido à lucidez, procura a realização do paradoxo de ter uma consciência inconsciente. Mas ao pensar sobre o pensamento, percebe o vazio que não permite conciliar a consciência e a inconsciência. O SER FRAGMENTADO O sujeito poético assume-se como uma espécie de palco por onde desfilam diversas personagens, distintas e contraditórias. Incapaz de se manter dentro dos limites de si próprio, o sujeito poético procura observar o seu “eu”, ou seja, conhecer-se a si próprio, o que leva à fragmentação e à consciência de que é capaz de viver apenas o presente. Questiona a sinceridade das emoções escritas nos seus textos, porque não sente hoje da mesma forma que sentiu no passado, pois as emoções, ao serem escritas e lidas, são intelectualizadas (“não sei quantas almas tenho”). NOSTALGIA DA INFÂNCIA PERDIDA Em Fernando Pessoa ortónimo, a infância é entendida como um tempo mítico do bem, da felicidade e da inconsciência. Nela permanecem sempre vivos a família e os lugares, a segurança e o aconchego, entretanto perdidos pelo sujeito poético. A inconsciência de que todo esse bem é irrecuperável, fá-lo sentir-se obsessivamente nostálgico da infância, um tempo perdido que serve sobretudo para acentuar a negatividade do presente. O profundo desencanto e a angústia acompanham o sentido da brevidade da vida e da passagem dos dias. Ao mesmo tempo que gostava de ter a infância das crianças que brincam, sente a saudade de uma ternura que lhe passou ao lado. Frequentemente, para Pessoa, o passado é um sonho inútil, pois nada se concretizou, antes se traduziu numa desilusão.