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Anais do IX Encontro Nacional de História Oral - 22 a 25/04/2008 - UNISINOS




    GERAÇÕES DE MILITANTES: REFLEXÕES SOBRE A MILITÂNCIA COMUNISTA
                                              EM FAMÍLIA
                                                                                          Claudia Monteiro *


Resumo:
Este trabalho tem como objetivo apresentar uma reflexão sobre a importância da influência
familiar como um fator para a adesão do militante ao Partido Comunista do Brasil em meados do
século XX. Para isso, analisamos o depoimento oral de um antigo membro do PCB, atuante nas
décadas de 1950 e 1960, este era filho de um outro comunista que havia militado no partido nas
décadas de 1930 e 1940. Segundo sua narrativa, percebemos que mesmo com todos os percalços
vividos pela família devido à perseguição política, as motivações de solidariedade e igualdade
que levava ao comunismo sobreviviam, sendo transmitidas de pai para filho, ou seja, muitas
vezes razões emocionais e afetivas eram tão importantes para a adesão ao PCB quanto as
questões relacionadas à lógica marxista.
 Abstract
This article has as objective presents a reflection on the importance of the family influence as a
factor for the adhesion of the militant to Communist Party of Brazil in the middle of the century
XX. For that, we analyzed the oral deposition of an old member of PCB, militant in the decades
of 1950 and 1960, this militant was son of another communist that had militated in the party in
the decades of 1930 and 1940. As your narrative, we noticed that even with all the profits lived
by the family due to the political persecution, the solidarity motivations and equality that it took
to the communism survived, being transmitted of father for son, in other words, a lot of times
emotional and affective reasons were so important for the adhesion to PCB as the subjects related
to the Marxist logic.
Palavras-chave: memória, família, militância comunista.
Key-words: memory, family, communist militancy

        Alguns significados da reconstrução da memória
        A realização de entrevistas com velhos militantes nos obriga a pensar na pluralidade da
história, das cronologias e das realidades. Como escrever a história inserindo sentimentos,
desilusões, críticas, esperanças e avaliações das causas “perdidas”? A entrevista com Milton Ivan
Heller, 74 anos, jornalista paranaense, ex-militante do antigo PCB, revelou-nos aspectos da
militância política ainda não percebido na análise das fontes escritas levantadas para a pesquisa
de mestrado sobre os ferroviários comunistas no Paraná. Milton era filho de um desses
ferroviários sobre o qual foram encontradas várias informações nos arquivos da Delegacia de
Ordem Política e Social (DOPS). Em seu relato, ficou evidente o sentimento de identidade com a
causa comunista e a admiração ao falar da militância do pai que, mesmo depois de velho, quando

*
 Professora do Departamento de História da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro), Campus de Irati-
PR, mestra em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
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já havia deixado o PCB, nunca abandonou os sonhos e os ideais. Este trabalho tem como objetivo
apresentar uma reflexão sobre a importância dessa influência familiar paterna como um fator para
a adesão do militante ao Partido Comunista do Brasil.
       Além destas observações, as fontes orais nos levam a refletir sobre a importância da
memória como um fator para a construção de identidades, atualizando no presente o tempo
passado, trazendo-lhe novos significados. O presente determina a visão que Milton Ivan tem de
sua família, do papel do PCB e dos fracassos da militância, o passado não pode ser descolado
deste presente, pois tanto na história como na memória, passado e presente se mistura, a história e
a memória são dirigidas pelo e para o presente. Para Ecléa Bosi, os usos do passado pela memória
em função do presente fazem com que ele se fragmente (BOSI, 1994, p.54). De acordo com
Roberto Vecchi a memória é constantemente recriação e reconstrução, ela “[...] não é a totalidade
mimética do passado, mas uma síntese fragmentária, uma colagem de cacos do ocorrido,
recolocados em seu lugar – no meio de lacunas, vazios, acréscimos” (VECCHI, 2001, p. 86).
       Devido às escolhas, recriações e reconstruções realizadas pelo sujeito que lembra, as
reflexões sobre a memória e a história oral realçam no debate acadêmico o problema da
subjetividade e da parcialidade das fontes. O relato de um evento ou de uma história de vida, é
um sistema de determinações capaz de oferecer uma interpretação racional, enunciando
significações de causa e efeito sobre um acontecimento, recordar é reconstruir, é transformar o
que ficou inacabado: “A história e a ficção se misturam, a verdade factual se mistura com
conotações estéticas e éticas” (CATROGA, 2001, p. 21). A realidade efetiva, por sua vez,
pressupõe uma abundância de fatos, uma multiplicidade de intenções, um emaranhado de ações e
relações que vai muito além das experiências do protagonista que relata. No entanto, os
elementos constitutivos da memória não são apenas os acontecimentos vividos por aquele que
rememora, de acordo com Michel Pollack, além do que foi vivenciado pessoalmente, também é
elemento da memória os acontecimentos vividos “por tabela”, ou seja, fenômenos de projeção e
identificação tão grande com o passado, que pessoas que não o viveram se sentem co-
participantes e sujeitos deste mesmo passado (POLLACK, 1992, p. 201).
       No caso das lembranças de Milton Ivan Heller, parte do que foi relatado sobre a família e
sobre a sua infância eram acontecimentos vividos “por tabela”, sobre os quais ele ouviu contar
pelo seu pai e outros familiares, ou foi conhecido através de leituras, no entanto, eram histórias
com as quais se indentificava, por isso para ele foi importante reproduzí-las como sua história.
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        Se o indivíduo é, inevitavelmente, um ser social, quando falamos de identidade como
inerente à construção de um grupo, o “vivido junto” gera a ligação que cada indivíduo tem a um
outro: temos histórias em comuns que determina nossa coesão e unidade. O exemplo mais claro
de uma ligação forte entre indivíduos, motivada por histórias vividas em comum é a família, este
“recontar” constante das lembranças familiares feitas pelos seus membros, quase sempre é levado
em consideração ao definirmos nossa própria identidade individual. De acordo com Philippe
Ariès, “toda a evolução de nossos costumes contemporâneos tornou-se incompreensível se
desprezarmos esse prodigioso crescimento do sentimento da família” (ARIÈS, 1981, p. 274). As
entrevistas orais nos fornecem dados privilegiados sobre as relações e histórias familiares que são
muito pouco perceptíveis em outros tipos de fontes. As lembranças familiares tem a função de
unir afetivamente, para Halbwachs a memória do “vivido junto”, das experiências comuns,
herdadas ou partilhadas, é fundamental para coesão social do grupo (HALBWACHS, 1990, p.
122).


        A história falada: a voz de um velho militante
        Walter Benjamim lamentava que se tornava “cada vez mais raro o encontro com pessoas
que sabem narrar alguma coisa direito” (BENJAMIM, 1983, p.57). O bombardeio de
informações e de explicações nos priva do prazer de decifrar “aquela lenta superposição de
camadas finas e transparentes, que oferece a imagem mais exata da maneira pela qual a narrativa
perfeita emerge da estratificação de múltiplas re-narrações” (Idem, p.63). Segundo Benjamim a
troca de experiência advindo da narrativa tem uma utilidade:


                      Esta pode consistir ora numa lição de moral, ora numa indicação prática, ora num ditado
                      ou norma de vida – em qualquer caso o narrador é um homem que dá conselhos aos
                      ouvintes. Mas se hoje ‘dar conselhos’ começa a soar nos ouvidos como algo fora da moda,
                      a culpa é da circunstância de estar diminuindo a imediatez da experiência (Idem, p. 59).


        Fontes orais são fontes narrativas, o narrador colhe o que narra na experiência, própria ou
relatada, e transforma isso outra vez em experiência dos que ouvem sua história. Para Lucília
Neves as narrativas, “são instrumentos importantes de preservação e transmissão de heranças
identitárias e tradições” (NEVES, 2006, p. 43). Sem qualquer poder de alteração do que se
passou, o narrador pode atuar modificando ou reafirmando o significado do que foi vivido e a
representação individual ou coletiva sobre o passado.
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        “Filho de peixe né...”
        O pai de nosso entrevistado foi militante do PCB nas décadas de 1930 e 1940. De acordo
com a Revista O Cruzeiro (17 de setembro de 1949, p.69-94), Jorge Herlain, era russo de
nascimento, natural da Sibéria, chegou ao Brasil em 1912 quando tinha 6 anos em companhia dos
pais e duas irmãs, vindos todos morar em Curitiba. Atingindo a maioridade, Herlain empregou-se
na “Rede de Viação Paraná-Santa Catarina”. Em 1935, por ter se envolvido nas atividades da
“Aliança Nacional Libertadora” foi demitido do emprego e teve de fugir da ação da polícia. Para
tanto, tinha de mudar seguidamente de trabalho nas colônias que circundavam a capital
paranaense. Todavia, em 1937, foi detido, processado por atentar contra a segurança nacional e
sentenciado a dois anos de prisão que cumpriu na Penitenciária do Paraná. Transferiu-se em 1942
para o Rio de Janeiro trabalhando nesta capital em várias firmas. Em 1945 apresentou-se ao
Partido Comunista do Brasil e pelos seus antecedentes foi aceito como membro da Secretaria
Sindical do Comitê Central do Partido. Depois disso Jorge Herlain partiu para São Paulo, onde
foi detido novamente pela polícia.
        Na ficha de Jorge Herlain da DOPS havia as seguintes informações: tinha trabalhado
durante 14 anos na Rede de Viação Paraná-Santa Catarina (EFSPRG), foi um dos promotores da
greve ocorrida em 1934, por pregar indisciplina entre os ferroviários e ser suspeito de distribuir
boletins comunistas acabou sendo suspenso no mesmo ano. Logo após o fracasso do movimento
subversivo comunista que irrompeu na Capital Federal no dia 27/11/1935 e como estava sendo
procurado pela polícia local, desapareceu (Dossiê DOPS, n. 1961, top.386).
        Uma outra versão da história do militante comunista Jorge Herlain nos é narrada por um
de seus filhos Milton Ivan Heller. A entrevista foi realizada em Curitiba no dia 30 de julho de
2005.
        Eis a transcrição do relato: “O salário do ferroviário era miserável e na minha família as
três primeiras crianças que nasceram morreram com poucos dias, depois eu nasci e por algum
motivo eu consegui sobreviver e depois disso vieram mais duas imãs, e o meu pai depois que ele
foi demitido da Rede ele ficou o tempo todo a serviço do partido, inclusive teve um congresso de
ferroviários no Rio de Janeiro, e o meu pai embora tivesse sido demitido da Rede foi indicado
pela categoria em assembléia pra representar os ferroviários no congresso no Rio, isso indica que
ele devia ter alguma liderança. [...] O meu pai ficou muito tempo entre prisões e foragido e
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clandestino e tal e ficou muitos anos fora, desligado da família, eu fui criado em casa de parente,
uma parte em Curitiba, uma parte no Rio de Janeiro. Depois que a minha mãe faleceu o meu pai
tornou a casar de novo e teve mais oito filhos, e foi uma coisa difícil né, porque não foi uma
família estruturada, minha mãe era uma pessoa já doente, morreu relativamente cedo, tinha
anemia, na época também a nossa medicina era muito precária, a pessoa tinha tuberculose morria
de tuberculose, outra tinha pneumonia morria de pneumonia, minha mãe morreu porque a
medicina era muito atrasada e também a família não tinha recurso pra procurar um tratamento
melhor, essas coisas. E o meu pai quando a gente finalmente se reencontrou isso já em 1945, de
1934 a gente só foi se reencontrar em 1945, quando houve aquela abertura democrática, anistia
dos presos políticos, a legalidade do partido, ele falava ás vezes sobre a greve dos ferroviários,
mas eu tinha o quê? 11 anos, ou seja, pra mim ele tava falando grego, eu me arrependo disso,
porque com o tempo a gente acaba adquirindo consciência política e eu entendi que aquelas
memórias do meu pai era importante.
       Em 1945 meu pai era secretário sindical do comitê nacional do Partido, então ele viajava
muito, participava de assembléias, tinha uma conferência dele em Madureira no Rio de Janeiro,
que eu me lembro de uma frase dele, na sua exposição sobre a política do Partido, a defesa dos
trabalhadores, e aquela coisa, Revolução Russa, eu tô lá no meu cantinho, com fome, querendo ir
pra casa, daí um sujeito perguntou: como é a democracia socialista? É diferente da democracia
capitalista? E o meu pai disse assim: não existe democracia capitalista, porque o capitalismo o
povo é explorado, o trabalhador não tem direito, isso e aquilo tal, e aquilo que ele falou realmente
ficou, gravou. Mas antes disso o pai fundou o Partido aqui no Paraná, o Partido Comunista, e
ajudou a fundar o Partido em vários outros Estados, inclusive ele falava muito em Vitória no
Espírito Santo, [...] só mais tarde eu conversando com os dirigentes mais velhos do partido que eu
fiquei sabendo que ele ajudou a fundar o Partido no Rio Grande, em Santa Catarina, em vários
Estados, inclusive no Espírito Santo, então ele era profundamente engajado. Agora com o tempo,
na mocidade, a gente tem a impressão que o Partido Comunista era o bom, o certo, os heróis e tal
e os outros eram todos bandidos, e a gente não tinha noção da fraqueza ideológica, política e
cultural do próprio partido. Meu pai mesmo tinha dificuldade pra escrever, tinha uma letra bem
miudinha assim, e sempre trocava o t pelo b, ele não era capaz de dizer tesoura, ele dizia besoura,
por causa da descendência russa, ele nunca procurou estudar e ninguém do Partido procurou
motivar pra que ele estudasse, pra que adquirisse mais cultura, mais conhecimento, então era
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aquela coisa: tudo o que Marx e Engels disseram sobre determinadas coisas lá, eles ficavam
repetindo aquilo como se fosse alguém que estivesse lendo a Bíblia, querendo adaptar a realidade
brasileira ao marxismo, quando tinha que se adaptar o marxismo à realidade brasileira. O Partido
nunca conseguiu realmente se qualificar, se transformar em um partido capaz de conduzir, eles
falavam muito na Aliança Operário-Camponesa, eles não eram capazes de conduzir muito nem
operários, nem camponeses.
         [...] Depois na ilegalidade o meu pai continuou militando, mas daí ele começou a ter
problemas cardíacos e ele meio que foi se afastando, mas ele nunca deixou de acreditar nas coisas
que ele acreditava. Mas foi envelhecendo, problemas cardíacos e um bando de filhos, de repente
ele descobriu que tinha que ser pai, já que não pode educar a primeira geração tinha que educar a
outra, dar alguma assistência, daí ele foi se afastando, mas através do noticiário ele sempre
procurava saber como é que estava o movimento e tal, e também os companheiros da época dele
que atuavam foram morrendo, as pessoas tem o mau costume de morrer e vão embora né, então
ele foi perdendo a referência, morreu o Miguel Pan, que era um líder ferroviário da época dele,
daí morreu o Hortêncio, que trabalhava com ele. O meu pai morreu em 1972, faz tempo já.
         A minha mãe era descendente de polonês, esses imigrantes, filhos de imigrantes, tem uma
dificuldade de se comunicar, de aprender, a mãe sabia que o meu pai vivia foragido, mas não
atinava essas coisas. Eu me lembro que uma vez, eu tinha de 5 pra 6 anos, a primeira recordação
que eu tenho, e o pessoal do DOPS cercou a casa, nós morávamos na casa de minha vó, e
cercaram a casa, e a minha vó muito ingenuamente dava café para os policiais, bolinho de arroz,
aí o policial chegou e me pegou no colo, queria saber do meu pai: “onde é que ta o teu pai?”, “o
meu pai ta fugindo”, “porquê ta fugindo?”, “porquê os bandidos querem pegar ele.” Minha vó ia
chegando mas deu risada... [risos] Depois a gente ficou sabendo que o meu pai tava na casa de
um alemão, que tinha um sítio aqui em Quatro Barras, um dia a gente foi visitar lá, era um sítio
bem moderninho, tinha um tanque de peixe, esse alemão devia ser simpatizante do comunismo,
porque deu guarida por muito tempo né, e polícia procurando ele, querendo saber, interrogando
gente.
         Depois o meu pai foi preso, não me lembro muito bem a época, mas eu devia ter 11 ou 12
anos, ele tava preso, ficou no Ahú, um tempão no Ahú, não existia penitenciária. Nós íamos
visitar, eles reclamavam que ficavam preso 24 horas por dia em uma cela lá, em dez, doze preso
onde cabia dois, três, isso existe até hoje, hoje muito pior, as instalações são as mesmas e o
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número de presos aumentou geometricamente, e eu sei que os presos lá fizeram um movimento,
uma greve de fome, e conseguiram que eles tivessem acesso ao pátio, apanhassem sol, fizessem
exercício, tinha até uma foto do meu pai jogando basquete, uma fotinha pequena, não sei aonde
foi parar esta foto.
        [...] Quando o Prestes saiu da cadeia em 1945 eu morava no Rio, aquele famoso
reencontro com a família e tal e o partido alugou uma sede próximo ao Largo da Lapa, uma sede
enorme, cada vez que a gente chegava lá tinha três, quatro mil pessoas, era uma coisa
inacreditável, um mundo de gente, o partido botava mesinhas, colocava a bandeira, a famosa
foice e o martelo, as pessoas iam e se inscreviam no partido, o Partido realizava comícios-
monstro, eu assisti vários assim, o primeiro foi no campo do Vasco, em São Januário, super
lotado, depois fizeram vários comícios no Largo que fica no início de quem vai para a Zona Sul,
e o no Largo Carioca que chamavam o famoso Tabuleiro da Baiana, que é uma área enorme,
super lotado.
        Filho de peixe né... Eu me criei com aquela... [breve silêncio] Eu cheguei a ser aqui do
Secretariado Estadual do Partido.
        Em 59, eu fui numa assembléia do Partido, daí falaram: “e a Klabin, a maior fábrica de
papel da América Latina, e o Partido não tem nada lá”, daí me mandaram pra lá. Eu fui lá, fazer
uma investigação, pra ver como é que era, acabei ficando lá mais de dois anos, organizamos
sindicatos, fizemos greve, daí chegou o momento que ninguém mais me dava emprego. E eu
tinha que pagar pensão, aí descobri que eu só tinha a roupa do corpo, não tinha nada, cabeça
cheia de minhoca, de revolução utópica que não chegava nunca, sabe do quê? Eu vou cuidar da
minha vida, fiz uma declaração lá que eu me afastava, o pessoal protestou, mas daí eu já estava
com 32 anos, casei e fui cuidar da família, nasceu um filho, depois nasceu outro, mas sempre
continuei amigo do pessoal da minha época, nunca passei pra outra trincheira, em 64 após o
golpe a polícia militar do Paraná me denunciava como subversivo, e mesmos colegas meus
achavam que eu era comunista, e eu não queria explicar que eu não estava mais envolvido. Não
me envergonha também não me orgulho, não há motivo nem pra orgulho, nem pra vergonha. O
capitalismo não oferece solução alguma pra nenhum problema social, até sai nos jornais, trabalho
escravo no interior do país, favela, miséria, falta de assistência médica, então o socialismo era
uma esperança, que era com a queda do mundo socialista, o capitalismo se tornou absoluto né,
mas o que move o capitalismo é o lucro, o maior lucro possível, se possível honestamente, mas se
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não desonestamente. Aí se que dane a desigualdade social, o ideal do capitalismo é que exista
sempre um exército de desempregados e os empregados se sujeitam a trabalhar por um salário
menor, aceitam piores condições de trabalho. Nesta greve de ferroviários, o pessoal trabalhava 12
horas por dia, pra ganhar uma miséria que não dava nem pra alimentar a família, o ordenado era
insuficiente, isto é típico do capitalismo”.


       Considerações finais
       No depoimento de Milton Ivan Heller fala o ancião do tempo presente, mas em seu
dircurso está presente a percepção da criança que ouvia perplexa as histórias dos adultos, os
sonhos do jovem militante que ouvia atentamente os discursos do pai e também a visão do adulto
que resolveu cuidar da vida e da família, abandonando a militância desiludido com os fracassos e
os erros do Partido Comunista. São múltiplas temporalidades entrelaçadas, que traz em si
memórias de experiências vividas pessoalmente ou relatadas por terceiros, registram-se nestas
memórias “[...] sentimentos, testemunhos, visões, interpretações em uma narrativa entrecortada
pelas emoções do ontem, renovadas ou resignificadas pelas emoções do hoje” (NEVES, 2006,
p.18). Muitos destes sentimentos, como a admiração pela militância e o engajamento do pai,
demonstra a importância dessa influência paterna para a adesão de Milton Ivan ao Partido
Comunista, ou seja, as ações humanas e as convicções políticas nem sempre são motivadas por
uma lógica racional.
       A memória tem um caráter livre; a história vivida não é transportada tal e qual para os
depoimentos: “lembrar não é reviver, mas refazer, repensar, com imagens e idéias de hoje as
experiências do passado” (BOSI, p.398, 1994). O que dá autoridade à fala de Milton Ivan Heller é
a experiência vivida, “a matéria de onde surgem as histórias” (BENJAMIM, 1983, p.64), isto lhe
permite principalmente dar conselhos, nos avisar que os males que os comunistas tanto
combatiam ainda persistem e é preciso curá-los.


Referências bibliográficas
ARIÈS, Philippe. História social da criança e da família. 2.ed. Rio de Janeiro: LTC, 1981.
BENJAMIN, Walter. “O narrador: observações sobre a obra de Nikolai Leskow”. ____. Textos
escolhidos. 2 ed. São Paulo: Abril Cultural, 1983. (Os Pensadores).
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BOSI, Eclea. Memória e sociedade. Lembranças de velhos. São Paulo: Companhia das Letras,
1994.
CATROGA, Fernando. Memória, história e historiografia. Lisboa: Quarteto, 2001.
HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. São Paulo: Vértice, 1990.
NEVES, Lucília de Almeida. História oral: memória, tempo, identidades. Belo Horizonte:
Autêntica, 2006.
POLLAK, Michael. “Memória e identidade social”. Revista Estudos históricos. Rio de Janeiro,
v.5, n.10, 1992.
VECCHI, Roberto. “Barbárie e representação: o silêncio da testemunha”. In: PESAVENTO,
Sandra J. (org.). Fronteiras do milênio. Porto Alegre: Ed. da UFRGS, 2001.

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  • 1. Anais do IX Encontro Nacional de História Oral - 22 a 25/04/2008 - UNISINOS GERAÇÕES DE MILITANTES: REFLEXÕES SOBRE A MILITÂNCIA COMUNISTA EM FAMÍLIA Claudia Monteiro * Resumo: Este trabalho tem como objetivo apresentar uma reflexão sobre a importância da influência familiar como um fator para a adesão do militante ao Partido Comunista do Brasil em meados do século XX. Para isso, analisamos o depoimento oral de um antigo membro do PCB, atuante nas décadas de 1950 e 1960, este era filho de um outro comunista que havia militado no partido nas décadas de 1930 e 1940. Segundo sua narrativa, percebemos que mesmo com todos os percalços vividos pela família devido à perseguição política, as motivações de solidariedade e igualdade que levava ao comunismo sobreviviam, sendo transmitidas de pai para filho, ou seja, muitas vezes razões emocionais e afetivas eram tão importantes para a adesão ao PCB quanto as questões relacionadas à lógica marxista. Abstract This article has as objective presents a reflection on the importance of the family influence as a factor for the adhesion of the militant to Communist Party of Brazil in the middle of the century XX. For that, we analyzed the oral deposition of an old member of PCB, militant in the decades of 1950 and 1960, this militant was son of another communist that had militated in the party in the decades of 1930 and 1940. As your narrative, we noticed that even with all the profits lived by the family due to the political persecution, the solidarity motivations and equality that it took to the communism survived, being transmitted of father for son, in other words, a lot of times emotional and affective reasons were so important for the adhesion to PCB as the subjects related to the Marxist logic. Palavras-chave: memória, família, militância comunista. Key-words: memory, family, communist militancy Alguns significados da reconstrução da memória A realização de entrevistas com velhos militantes nos obriga a pensar na pluralidade da história, das cronologias e das realidades. Como escrever a história inserindo sentimentos, desilusões, críticas, esperanças e avaliações das causas “perdidas”? A entrevista com Milton Ivan Heller, 74 anos, jornalista paranaense, ex-militante do antigo PCB, revelou-nos aspectos da militância política ainda não percebido na análise das fontes escritas levantadas para a pesquisa de mestrado sobre os ferroviários comunistas no Paraná. Milton era filho de um desses ferroviários sobre o qual foram encontradas várias informações nos arquivos da Delegacia de Ordem Política e Social (DOPS). Em seu relato, ficou evidente o sentimento de identidade com a causa comunista e a admiração ao falar da militância do pai que, mesmo depois de velho, quando * Professora do Departamento de História da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro), Campus de Irati- PR, mestra em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
  • 2. Anais do IX Encontro Nacional de História Oral - 22 a 25/04/2008 - UNISINOS 2 já havia deixado o PCB, nunca abandonou os sonhos e os ideais. Este trabalho tem como objetivo apresentar uma reflexão sobre a importância dessa influência familiar paterna como um fator para a adesão do militante ao Partido Comunista do Brasil. Além destas observações, as fontes orais nos levam a refletir sobre a importância da memória como um fator para a construção de identidades, atualizando no presente o tempo passado, trazendo-lhe novos significados. O presente determina a visão que Milton Ivan tem de sua família, do papel do PCB e dos fracassos da militância, o passado não pode ser descolado deste presente, pois tanto na história como na memória, passado e presente se mistura, a história e a memória são dirigidas pelo e para o presente. Para Ecléa Bosi, os usos do passado pela memória em função do presente fazem com que ele se fragmente (BOSI, 1994, p.54). De acordo com Roberto Vecchi a memória é constantemente recriação e reconstrução, ela “[...] não é a totalidade mimética do passado, mas uma síntese fragmentária, uma colagem de cacos do ocorrido, recolocados em seu lugar – no meio de lacunas, vazios, acréscimos” (VECCHI, 2001, p. 86). Devido às escolhas, recriações e reconstruções realizadas pelo sujeito que lembra, as reflexões sobre a memória e a história oral realçam no debate acadêmico o problema da subjetividade e da parcialidade das fontes. O relato de um evento ou de uma história de vida, é um sistema de determinações capaz de oferecer uma interpretação racional, enunciando significações de causa e efeito sobre um acontecimento, recordar é reconstruir, é transformar o que ficou inacabado: “A história e a ficção se misturam, a verdade factual se mistura com conotações estéticas e éticas” (CATROGA, 2001, p. 21). A realidade efetiva, por sua vez, pressupõe uma abundância de fatos, uma multiplicidade de intenções, um emaranhado de ações e relações que vai muito além das experiências do protagonista que relata. No entanto, os elementos constitutivos da memória não são apenas os acontecimentos vividos por aquele que rememora, de acordo com Michel Pollack, além do que foi vivenciado pessoalmente, também é elemento da memória os acontecimentos vividos “por tabela”, ou seja, fenômenos de projeção e identificação tão grande com o passado, que pessoas que não o viveram se sentem co- participantes e sujeitos deste mesmo passado (POLLACK, 1992, p. 201). No caso das lembranças de Milton Ivan Heller, parte do que foi relatado sobre a família e sobre a sua infância eram acontecimentos vividos “por tabela”, sobre os quais ele ouviu contar pelo seu pai e outros familiares, ou foi conhecido através de leituras, no entanto, eram histórias com as quais se indentificava, por isso para ele foi importante reproduzí-las como sua história.
  • 3. Anais do IX Encontro Nacional de História Oral - 22 a 25/04/2008 - UNISINOS 3 Se o indivíduo é, inevitavelmente, um ser social, quando falamos de identidade como inerente à construção de um grupo, o “vivido junto” gera a ligação que cada indivíduo tem a um outro: temos histórias em comuns que determina nossa coesão e unidade. O exemplo mais claro de uma ligação forte entre indivíduos, motivada por histórias vividas em comum é a família, este “recontar” constante das lembranças familiares feitas pelos seus membros, quase sempre é levado em consideração ao definirmos nossa própria identidade individual. De acordo com Philippe Ariès, “toda a evolução de nossos costumes contemporâneos tornou-se incompreensível se desprezarmos esse prodigioso crescimento do sentimento da família” (ARIÈS, 1981, p. 274). As entrevistas orais nos fornecem dados privilegiados sobre as relações e histórias familiares que são muito pouco perceptíveis em outros tipos de fontes. As lembranças familiares tem a função de unir afetivamente, para Halbwachs a memória do “vivido junto”, das experiências comuns, herdadas ou partilhadas, é fundamental para coesão social do grupo (HALBWACHS, 1990, p. 122). A história falada: a voz de um velho militante Walter Benjamim lamentava que se tornava “cada vez mais raro o encontro com pessoas que sabem narrar alguma coisa direito” (BENJAMIM, 1983, p.57). O bombardeio de informações e de explicações nos priva do prazer de decifrar “aquela lenta superposição de camadas finas e transparentes, que oferece a imagem mais exata da maneira pela qual a narrativa perfeita emerge da estratificação de múltiplas re-narrações” (Idem, p.63). Segundo Benjamim a troca de experiência advindo da narrativa tem uma utilidade: Esta pode consistir ora numa lição de moral, ora numa indicação prática, ora num ditado ou norma de vida – em qualquer caso o narrador é um homem que dá conselhos aos ouvintes. Mas se hoje ‘dar conselhos’ começa a soar nos ouvidos como algo fora da moda, a culpa é da circunstância de estar diminuindo a imediatez da experiência (Idem, p. 59). Fontes orais são fontes narrativas, o narrador colhe o que narra na experiência, própria ou relatada, e transforma isso outra vez em experiência dos que ouvem sua história. Para Lucília Neves as narrativas, “são instrumentos importantes de preservação e transmissão de heranças identitárias e tradições” (NEVES, 2006, p. 43). Sem qualquer poder de alteração do que se passou, o narrador pode atuar modificando ou reafirmando o significado do que foi vivido e a representação individual ou coletiva sobre o passado.
  • 4. Anais do IX Encontro Nacional de História Oral - 22 a 25/04/2008 - UNISINOS 4 “Filho de peixe né...” O pai de nosso entrevistado foi militante do PCB nas décadas de 1930 e 1940. De acordo com a Revista O Cruzeiro (17 de setembro de 1949, p.69-94), Jorge Herlain, era russo de nascimento, natural da Sibéria, chegou ao Brasil em 1912 quando tinha 6 anos em companhia dos pais e duas irmãs, vindos todos morar em Curitiba. Atingindo a maioridade, Herlain empregou-se na “Rede de Viação Paraná-Santa Catarina”. Em 1935, por ter se envolvido nas atividades da “Aliança Nacional Libertadora” foi demitido do emprego e teve de fugir da ação da polícia. Para tanto, tinha de mudar seguidamente de trabalho nas colônias que circundavam a capital paranaense. Todavia, em 1937, foi detido, processado por atentar contra a segurança nacional e sentenciado a dois anos de prisão que cumpriu na Penitenciária do Paraná. Transferiu-se em 1942 para o Rio de Janeiro trabalhando nesta capital em várias firmas. Em 1945 apresentou-se ao Partido Comunista do Brasil e pelos seus antecedentes foi aceito como membro da Secretaria Sindical do Comitê Central do Partido. Depois disso Jorge Herlain partiu para São Paulo, onde foi detido novamente pela polícia. Na ficha de Jorge Herlain da DOPS havia as seguintes informações: tinha trabalhado durante 14 anos na Rede de Viação Paraná-Santa Catarina (EFSPRG), foi um dos promotores da greve ocorrida em 1934, por pregar indisciplina entre os ferroviários e ser suspeito de distribuir boletins comunistas acabou sendo suspenso no mesmo ano. Logo após o fracasso do movimento subversivo comunista que irrompeu na Capital Federal no dia 27/11/1935 e como estava sendo procurado pela polícia local, desapareceu (Dossiê DOPS, n. 1961, top.386). Uma outra versão da história do militante comunista Jorge Herlain nos é narrada por um de seus filhos Milton Ivan Heller. A entrevista foi realizada em Curitiba no dia 30 de julho de 2005. Eis a transcrição do relato: “O salário do ferroviário era miserável e na minha família as três primeiras crianças que nasceram morreram com poucos dias, depois eu nasci e por algum motivo eu consegui sobreviver e depois disso vieram mais duas imãs, e o meu pai depois que ele foi demitido da Rede ele ficou o tempo todo a serviço do partido, inclusive teve um congresso de ferroviários no Rio de Janeiro, e o meu pai embora tivesse sido demitido da Rede foi indicado pela categoria em assembléia pra representar os ferroviários no congresso no Rio, isso indica que ele devia ter alguma liderança. [...] O meu pai ficou muito tempo entre prisões e foragido e
  • 5. Anais do IX Encontro Nacional de História Oral - 22 a 25/04/2008 - UNISINOS 5 clandestino e tal e ficou muitos anos fora, desligado da família, eu fui criado em casa de parente, uma parte em Curitiba, uma parte no Rio de Janeiro. Depois que a minha mãe faleceu o meu pai tornou a casar de novo e teve mais oito filhos, e foi uma coisa difícil né, porque não foi uma família estruturada, minha mãe era uma pessoa já doente, morreu relativamente cedo, tinha anemia, na época também a nossa medicina era muito precária, a pessoa tinha tuberculose morria de tuberculose, outra tinha pneumonia morria de pneumonia, minha mãe morreu porque a medicina era muito atrasada e também a família não tinha recurso pra procurar um tratamento melhor, essas coisas. E o meu pai quando a gente finalmente se reencontrou isso já em 1945, de 1934 a gente só foi se reencontrar em 1945, quando houve aquela abertura democrática, anistia dos presos políticos, a legalidade do partido, ele falava ás vezes sobre a greve dos ferroviários, mas eu tinha o quê? 11 anos, ou seja, pra mim ele tava falando grego, eu me arrependo disso, porque com o tempo a gente acaba adquirindo consciência política e eu entendi que aquelas memórias do meu pai era importante. Em 1945 meu pai era secretário sindical do comitê nacional do Partido, então ele viajava muito, participava de assembléias, tinha uma conferência dele em Madureira no Rio de Janeiro, que eu me lembro de uma frase dele, na sua exposição sobre a política do Partido, a defesa dos trabalhadores, e aquela coisa, Revolução Russa, eu tô lá no meu cantinho, com fome, querendo ir pra casa, daí um sujeito perguntou: como é a democracia socialista? É diferente da democracia capitalista? E o meu pai disse assim: não existe democracia capitalista, porque o capitalismo o povo é explorado, o trabalhador não tem direito, isso e aquilo tal, e aquilo que ele falou realmente ficou, gravou. Mas antes disso o pai fundou o Partido aqui no Paraná, o Partido Comunista, e ajudou a fundar o Partido em vários outros Estados, inclusive ele falava muito em Vitória no Espírito Santo, [...] só mais tarde eu conversando com os dirigentes mais velhos do partido que eu fiquei sabendo que ele ajudou a fundar o Partido no Rio Grande, em Santa Catarina, em vários Estados, inclusive no Espírito Santo, então ele era profundamente engajado. Agora com o tempo, na mocidade, a gente tem a impressão que o Partido Comunista era o bom, o certo, os heróis e tal e os outros eram todos bandidos, e a gente não tinha noção da fraqueza ideológica, política e cultural do próprio partido. Meu pai mesmo tinha dificuldade pra escrever, tinha uma letra bem miudinha assim, e sempre trocava o t pelo b, ele não era capaz de dizer tesoura, ele dizia besoura, por causa da descendência russa, ele nunca procurou estudar e ninguém do Partido procurou motivar pra que ele estudasse, pra que adquirisse mais cultura, mais conhecimento, então era
  • 6. Anais do IX Encontro Nacional de História Oral - 22 a 25/04/2008 - UNISINOS 6 aquela coisa: tudo o que Marx e Engels disseram sobre determinadas coisas lá, eles ficavam repetindo aquilo como se fosse alguém que estivesse lendo a Bíblia, querendo adaptar a realidade brasileira ao marxismo, quando tinha que se adaptar o marxismo à realidade brasileira. O Partido nunca conseguiu realmente se qualificar, se transformar em um partido capaz de conduzir, eles falavam muito na Aliança Operário-Camponesa, eles não eram capazes de conduzir muito nem operários, nem camponeses. [...] Depois na ilegalidade o meu pai continuou militando, mas daí ele começou a ter problemas cardíacos e ele meio que foi se afastando, mas ele nunca deixou de acreditar nas coisas que ele acreditava. Mas foi envelhecendo, problemas cardíacos e um bando de filhos, de repente ele descobriu que tinha que ser pai, já que não pode educar a primeira geração tinha que educar a outra, dar alguma assistência, daí ele foi se afastando, mas através do noticiário ele sempre procurava saber como é que estava o movimento e tal, e também os companheiros da época dele que atuavam foram morrendo, as pessoas tem o mau costume de morrer e vão embora né, então ele foi perdendo a referência, morreu o Miguel Pan, que era um líder ferroviário da época dele, daí morreu o Hortêncio, que trabalhava com ele. O meu pai morreu em 1972, faz tempo já. A minha mãe era descendente de polonês, esses imigrantes, filhos de imigrantes, tem uma dificuldade de se comunicar, de aprender, a mãe sabia que o meu pai vivia foragido, mas não atinava essas coisas. Eu me lembro que uma vez, eu tinha de 5 pra 6 anos, a primeira recordação que eu tenho, e o pessoal do DOPS cercou a casa, nós morávamos na casa de minha vó, e cercaram a casa, e a minha vó muito ingenuamente dava café para os policiais, bolinho de arroz, aí o policial chegou e me pegou no colo, queria saber do meu pai: “onde é que ta o teu pai?”, “o meu pai ta fugindo”, “porquê ta fugindo?”, “porquê os bandidos querem pegar ele.” Minha vó ia chegando mas deu risada... [risos] Depois a gente ficou sabendo que o meu pai tava na casa de um alemão, que tinha um sítio aqui em Quatro Barras, um dia a gente foi visitar lá, era um sítio bem moderninho, tinha um tanque de peixe, esse alemão devia ser simpatizante do comunismo, porque deu guarida por muito tempo né, e polícia procurando ele, querendo saber, interrogando gente. Depois o meu pai foi preso, não me lembro muito bem a época, mas eu devia ter 11 ou 12 anos, ele tava preso, ficou no Ahú, um tempão no Ahú, não existia penitenciária. Nós íamos visitar, eles reclamavam que ficavam preso 24 horas por dia em uma cela lá, em dez, doze preso onde cabia dois, três, isso existe até hoje, hoje muito pior, as instalações são as mesmas e o
  • 7. Anais do IX Encontro Nacional de História Oral - 22 a 25/04/2008 - UNISINOS 7 número de presos aumentou geometricamente, e eu sei que os presos lá fizeram um movimento, uma greve de fome, e conseguiram que eles tivessem acesso ao pátio, apanhassem sol, fizessem exercício, tinha até uma foto do meu pai jogando basquete, uma fotinha pequena, não sei aonde foi parar esta foto. [...] Quando o Prestes saiu da cadeia em 1945 eu morava no Rio, aquele famoso reencontro com a família e tal e o partido alugou uma sede próximo ao Largo da Lapa, uma sede enorme, cada vez que a gente chegava lá tinha três, quatro mil pessoas, era uma coisa inacreditável, um mundo de gente, o partido botava mesinhas, colocava a bandeira, a famosa foice e o martelo, as pessoas iam e se inscreviam no partido, o Partido realizava comícios- monstro, eu assisti vários assim, o primeiro foi no campo do Vasco, em São Januário, super lotado, depois fizeram vários comícios no Largo que fica no início de quem vai para a Zona Sul, e o no Largo Carioca que chamavam o famoso Tabuleiro da Baiana, que é uma área enorme, super lotado. Filho de peixe né... Eu me criei com aquela... [breve silêncio] Eu cheguei a ser aqui do Secretariado Estadual do Partido. Em 59, eu fui numa assembléia do Partido, daí falaram: “e a Klabin, a maior fábrica de papel da América Latina, e o Partido não tem nada lá”, daí me mandaram pra lá. Eu fui lá, fazer uma investigação, pra ver como é que era, acabei ficando lá mais de dois anos, organizamos sindicatos, fizemos greve, daí chegou o momento que ninguém mais me dava emprego. E eu tinha que pagar pensão, aí descobri que eu só tinha a roupa do corpo, não tinha nada, cabeça cheia de minhoca, de revolução utópica que não chegava nunca, sabe do quê? Eu vou cuidar da minha vida, fiz uma declaração lá que eu me afastava, o pessoal protestou, mas daí eu já estava com 32 anos, casei e fui cuidar da família, nasceu um filho, depois nasceu outro, mas sempre continuei amigo do pessoal da minha época, nunca passei pra outra trincheira, em 64 após o golpe a polícia militar do Paraná me denunciava como subversivo, e mesmos colegas meus achavam que eu era comunista, e eu não queria explicar que eu não estava mais envolvido. Não me envergonha também não me orgulho, não há motivo nem pra orgulho, nem pra vergonha. O capitalismo não oferece solução alguma pra nenhum problema social, até sai nos jornais, trabalho escravo no interior do país, favela, miséria, falta de assistência médica, então o socialismo era uma esperança, que era com a queda do mundo socialista, o capitalismo se tornou absoluto né, mas o que move o capitalismo é o lucro, o maior lucro possível, se possível honestamente, mas se
  • 8. Anais do IX Encontro Nacional de História Oral - 22 a 25/04/2008 - UNISINOS 8 não desonestamente. Aí se que dane a desigualdade social, o ideal do capitalismo é que exista sempre um exército de desempregados e os empregados se sujeitam a trabalhar por um salário menor, aceitam piores condições de trabalho. Nesta greve de ferroviários, o pessoal trabalhava 12 horas por dia, pra ganhar uma miséria que não dava nem pra alimentar a família, o ordenado era insuficiente, isto é típico do capitalismo”. Considerações finais No depoimento de Milton Ivan Heller fala o ancião do tempo presente, mas em seu dircurso está presente a percepção da criança que ouvia perplexa as histórias dos adultos, os sonhos do jovem militante que ouvia atentamente os discursos do pai e também a visão do adulto que resolveu cuidar da vida e da família, abandonando a militância desiludido com os fracassos e os erros do Partido Comunista. São múltiplas temporalidades entrelaçadas, que traz em si memórias de experiências vividas pessoalmente ou relatadas por terceiros, registram-se nestas memórias “[...] sentimentos, testemunhos, visões, interpretações em uma narrativa entrecortada pelas emoções do ontem, renovadas ou resignificadas pelas emoções do hoje” (NEVES, 2006, p.18). Muitos destes sentimentos, como a admiração pela militância e o engajamento do pai, demonstra a importância dessa influência paterna para a adesão de Milton Ivan ao Partido Comunista, ou seja, as ações humanas e as convicções políticas nem sempre são motivadas por uma lógica racional. A memória tem um caráter livre; a história vivida não é transportada tal e qual para os depoimentos: “lembrar não é reviver, mas refazer, repensar, com imagens e idéias de hoje as experiências do passado” (BOSI, p.398, 1994). O que dá autoridade à fala de Milton Ivan Heller é a experiência vivida, “a matéria de onde surgem as histórias” (BENJAMIM, 1983, p.64), isto lhe permite principalmente dar conselhos, nos avisar que os males que os comunistas tanto combatiam ainda persistem e é preciso curá-los. Referências bibliográficas ARIÈS, Philippe. História social da criança e da família. 2.ed. Rio de Janeiro: LTC, 1981. BENJAMIN, Walter. “O narrador: observações sobre a obra de Nikolai Leskow”. ____. Textos escolhidos. 2 ed. São Paulo: Abril Cultural, 1983. (Os Pensadores).
  • 9. Anais do IX Encontro Nacional de História Oral - 22 a 25/04/2008 - UNISINOS 9 BOSI, Eclea. Memória e sociedade. Lembranças de velhos. São Paulo: Companhia das Letras, 1994. CATROGA, Fernando. Memória, história e historiografia. Lisboa: Quarteto, 2001. HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. São Paulo: Vértice, 1990. NEVES, Lucília de Almeida. História oral: memória, tempo, identidades. Belo Horizonte: Autêntica, 2006. POLLAK, Michael. “Memória e identidade social”. Revista Estudos históricos. Rio de Janeiro, v.5, n.10, 1992. VECCHI, Roberto. “Barbárie e representação: o silêncio da testemunha”. In: PESAVENTO, Sandra J. (org.). Fronteiras do milênio. Porto Alegre: Ed. da UFRGS, 2001.