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V Encontro
da Rede Municipal de Bibliotecas
     Escolares de Curitiba

     Literatura, Poesia e Multiculturalismo
TRÊS DIAS E TRÊS NOITES
  ÀS PORTAS DE POTY
Caminhava pelas ruas de Curitiba desorientado e confuso um homem
alto, calvo, com olhos tristes e traços de cansaço na face. Era Olavo. Não
reconhecia o lugar em que estava, mas observava atentamente um muro de
prédios, vai e vem de carros e ônibus e os passos apressados de pessoas que ora
ou outra lançavam olhares para o relógio e aceleravam os passos.
I
Olavo sentia frio, mas fitava o céu e os fios de luz entre as nuvens davam-lhe a
esperança de que o sol logo apontaria, sem muita timidez, para aquecer seu corpo
curvo e retraído. Parado em uma esquina, por horas Olavo buscava uma direção. O
homem ficou ali, imóvel, apático, calado, quase não demonstrava vida. Tanta
inércia logo despertou a curiosidade das pessoas que por ali passavam. Uma
mulher apressada olhou para aquele homem frágil, perdido e clamante por
atenção. Com passos lentos, ela foi aproximando-se dele. Prostada diante da
imagem        daquele       homem,         com       voz    prestativa,    falou:
─Desculpe-me,              senhor,           precisa          de          ajuda?
Olavo      respondeu    calmamente      como       uma       criança  temerosa:
─ Acho que sim, minha senhora! Pode me dizer onde estou? Sei que preciso
atravessar, no entanto, não sei em que lugar devo chegar!
A mulher pronta a ajudá-lo informou ao homem confuso e apático que ele estava
próximo a um museu e, se necessário, havia ali no local um ponto de ônibus para
que ele pudesse retornar a sua casa. Casa? Em que casa ele deveria estar? Pobre
homem, tudo era confuso e o melhor era não se ater a tal palavra.
II

Animado com a informação, sem mesmo entender o porquê, Olavo encontrou
forças e seguiu. Caminhou por quadras e quadras. Aquecido um pouco
mais, mesmo sentindo as pernas fracas, os pés alternavam com voracidade. Era
Olavo, seguindo um grupo de pessoas falantes, agitadas, com avidez e pressa de
chegar.        Uma       delas       exclamou      com      voz        ofegante:
─ Não posso chegar atrasada ao encontro. É uma oportunidade de saber um pouco
mais         sobre       Literatura,      Poesia      e       Multiculturalismo.
Literatura e poesia soavam bem, mas multiculturalismo era um tanto estranho aos
ouvidos de Olavo ─ Seria alguma seita? Um encontro de tribos? Intrigado com
tantos “serás” o homem resolveu conferir a ação do grupo no tal encontro e
sorrateiramente tomou o destino.
Diante de portas imensas Olavo pôde ler: Auditório Poty Lazzarotto. Neste
momento, ele pensou estar encrencado! Era muita gente. Algumas
conversavam, sorriam, cumprimentavam-se com entusiasmo e outras apenas
alongavam os passos em direção às cadeiras, procurando o melhor lugar, fato esse
que deixava o pobre Olavo ainda mais perturbado. Não lhe restava mais nenhuma
dúvida. Algo estava para acontecer naquele local e a decisão certeira era ali ficar e
descobrir o motivo que reunia tanta gente.
III
Com o corpo retraído e esquivo Olavo entrou, sentou ao fundo da sala -porque
desejava não ser notado. Agora com a coluna reta, pernas paralelamente alinhadas e
um olhar vidrado e atento ao foco de luz que incandescia o palco. Aos poucos uma
composição de instrumentos, sons, vozes e letra tornaram aquele espaço um convite
à boa música. Olavo se encontrava mais à vontade, tanto que arriscou acompanhar
um refrão e, em seguida, ouviu as boas-vindas dadas pela Secretária Municipal da
Educação em um vídeo gravado especialmente para o público presente.
No discurso de abertura, o homem logo pôde perceber que aquele público era então
conhecido como agentes de leitura de bibliotecas e faróis da Rede Municipal de
Ensino de Curitiba. Curioso, ele perguntou a uma das pessoas sentadas ao lado qual
o propósito de estarem ali e o que significava este V encontro. Atenciosamente ela
lhe explicou que o encontro pretende disseminar a literatura, em especial a
poesia, nas diferentes culturas, sobretudo a indígena e a africana. A programação
contou com palestras, concertos, apresentações teatrais, café literário, exposição de
trovas das escolas municipais, além de explanações de projetos culturais realizados
por diversas bibliotecas das escolas da Rede Municipal de Ensino.
Começava, então, o primeiro dia e Olavo ouviu atentamente à temática “Mitologia
dos Orixás, da oralidade à escrita”. Tudo foi detalhado e exemplificado por um
homem que respondia pelo nome de Reginaldo. E quem era Reginaldo?
Reginaldo     Prandi, doutor em Sociologia pela USP, é professor titular de
Sociologia   dessa universidade. É autor de mais de 30 livros de sociologia,
mitologia,    literatura infantojuvenil e ficção policial. Entre outros prêmios,
recebeu o    Érico Vannucci Mendes, outorgado pelo CNPq, SBPC e Ministério da
Cultura.
IV
Olavo encantara-se com tudo. Ele via surgir naquele palco mais do que teoria, eram
histórias vivas do que se vê e do que se faz nos espaços das bibliotecas
escolares, destacados principalmente com a chamada comunicação oral feita pelos
núcleos regionais.
Denise Prosdócimo, da Escola Municipal CEI Doutel de Andrade, agente de leitura há
três anos, contou que é sempre uma expectativa muito grande pelo encontro de
bibliotecas escolares de Curitiba “Aguardo o encontro com muita ansiedade, pois é
um momento que favorece a aprendizagem e o conhecimento de novas estratégias
para a disseminação da literatura e a ampliação pelo prazer de ler”.
No circuito de palestras, Maria
Célia       Martirani       Bernardi
Fantin, escritora consagrada nos
meios     literários   da     capital
paranaense, proferiu a sublime
palestra “Helena Kolody: a rosa
que resiste”. Fantin ressaltou que a
poesia contemporânea busca o
minimalismo             e           a
transcendentalidade, onde “muito
pouco” é necessário para se
alcançar o verdadeiro “sentir”.
O escritor paraense Daniel
Munduruku, considerado um dos
mais influentes escritores da atual
literatura indígena produzida no
Brasil, apresentou duas marcantes
comunicações: “Mitos indígenas
brasileiros: a manutenção da
memória ancestral através do
domínio das novas tecnologias” e
“Literatura indígena: o tênue fio
entre a escrita e a oralidade”.
Para Ana Verônica Terra Burda, da Escola Municipal E.M. Prof.ª Erica P. Mlynarczyk “ O
encontro foi envolvente, motivador, inovador e criativo. Um jeito diferente de falar de
literatura”.
Quando ouviu o autor e contador de histórias Cleber Fabiano da Silva, Olavo sentiu
seu coração em chamas. Tudo aquilo parecia tão próximo e conhecido e ao mesmo
tempo confuso e distante. Sem mesmo entender os motivos o homem chorou, sorriu
e sentiu-se feliz por estar exatamente naquele lugar.
“Contar histórias é uma arte sem regras que deve cativar e envolver as pessoas”
, disse Yoshie Ito, agente de leitura do farol do saber Hideohanda.
Chamou a atenção também, uma atividade intitulada Intervenção Literária “Livro
Vivo” com Maria Célia Martinari Fantin, Márcio Renato dos Santos, Júlio
Damásio, Assionara Souza, Marilda Confortim, Luiz Felipe Leprevost, Ivan
Justen, Eloi Zanetti e Ricardo Corona.
“Adorei a poesia ‘Terezinha de Jesus’, declamada por Marilda Confortin, pois
retrata, verdadeira e intensamente o cotidiano de muitos moradores das periferias
das cidades”, relatou a agente de leitura Micheli Marturelli, do Farol do Saber Heitor
Stockler de França”.
O Café Literário foi parte da agenda de atividades promovidas pela encontro.
Momento em que profissionais e autores puderam se conhecer, trocar ideias e
opiniões.
A agente de leitura Márcia Secco, da Escola Municipal Dom Manuel D’Elboux, diz
que o encontro “Alimenta a alma com poesia, literatura e velhos amigos”.
Olavo ficou inebriado com a energia daquelas pessoas e, sem perceber, o tempo
passou e o homem permaneceu ali três dias e três noites.
Ao soar dos aplausos de despedida Olavo percebeu que era hora de seguir. Agora
um homem refeito com força e vitalidade para dirigir seus passos, prosseguiu até a
saída. Duas pessoas se aproximaram e sem palavras, calorosamente o abraçaram
e, por este abraço, o homem reconheceu seus filhos.
Quando questionado sobre o que fazia ali Olavo não pôde responder, disse apenas:
─ Desejei por toda minha vida estar exatamente neste lugar, por razões que não sei
explicar.
Então, sem nada mais a questionar, pai e filhos seguiram juntos, ambos felizes. O
pai, por estar contagiado por um misto de cores, sons, palavras e pessoas e os
filhos, por ter de volta seu velho, ranzinza, confuso, atrapalhado, sem lembranças e
amado pai.
Olavo foi escritor, por toda sua vida escreveu muitas e muitas histórias, no entanto, a
ausência da memória e o tremor das mãos já não o permitia riscar uma palavra.
Pode ser que Olavo nunca se recorde de quem foi, mas pra quem participou do V
Encontro da Rede Municipal de Bibliotecas, uma coisa é certa: “Mesmo que o corpo
morra e a saudade amargure, um bom escritor terá a alma de Olavo, será
eterno, guiado pelos amantes de uma boa leitura”.
                                  Clique aqui para ver o vídeo!
Imagem

Ana Pierina S. Alves
Ana Cristina Dakiw Piaceski Lagos
Eliziany Cristine Chaves Pinto
Paulo Henrique Machado
Vaneska Mezete Pegoraro
Lilian Fernanda de Christo

Texto
Claudia Muniz

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Três dias e três noites

  • 1. V Encontro da Rede Municipal de Bibliotecas Escolares de Curitiba Literatura, Poesia e Multiculturalismo
  • 2. TRÊS DIAS E TRÊS NOITES ÀS PORTAS DE POTY
  • 3. Caminhava pelas ruas de Curitiba desorientado e confuso um homem alto, calvo, com olhos tristes e traços de cansaço na face. Era Olavo. Não reconhecia o lugar em que estava, mas observava atentamente um muro de prédios, vai e vem de carros e ônibus e os passos apressados de pessoas que ora ou outra lançavam olhares para o relógio e aceleravam os passos.
  • 4. I Olavo sentia frio, mas fitava o céu e os fios de luz entre as nuvens davam-lhe a esperança de que o sol logo apontaria, sem muita timidez, para aquecer seu corpo curvo e retraído. Parado em uma esquina, por horas Olavo buscava uma direção. O homem ficou ali, imóvel, apático, calado, quase não demonstrava vida. Tanta inércia logo despertou a curiosidade das pessoas que por ali passavam. Uma mulher apressada olhou para aquele homem frágil, perdido e clamante por atenção. Com passos lentos, ela foi aproximando-se dele. Prostada diante da imagem daquele homem, com voz prestativa, falou: ─Desculpe-me, senhor, precisa de ajuda?
  • 5. Olavo respondeu calmamente como uma criança temerosa: ─ Acho que sim, minha senhora! Pode me dizer onde estou? Sei que preciso atravessar, no entanto, não sei em que lugar devo chegar! A mulher pronta a ajudá-lo informou ao homem confuso e apático que ele estava próximo a um museu e, se necessário, havia ali no local um ponto de ônibus para que ele pudesse retornar a sua casa. Casa? Em que casa ele deveria estar? Pobre homem, tudo era confuso e o melhor era não se ater a tal palavra.
  • 6. II Animado com a informação, sem mesmo entender o porquê, Olavo encontrou forças e seguiu. Caminhou por quadras e quadras. Aquecido um pouco mais, mesmo sentindo as pernas fracas, os pés alternavam com voracidade. Era Olavo, seguindo um grupo de pessoas falantes, agitadas, com avidez e pressa de chegar. Uma delas exclamou com voz ofegante: ─ Não posso chegar atrasada ao encontro. É uma oportunidade de saber um pouco mais sobre Literatura, Poesia e Multiculturalismo. Literatura e poesia soavam bem, mas multiculturalismo era um tanto estranho aos ouvidos de Olavo ─ Seria alguma seita? Um encontro de tribos? Intrigado com tantos “serás” o homem resolveu conferir a ação do grupo no tal encontro e sorrateiramente tomou o destino.
  • 7. Diante de portas imensas Olavo pôde ler: Auditório Poty Lazzarotto. Neste momento, ele pensou estar encrencado! Era muita gente. Algumas conversavam, sorriam, cumprimentavam-se com entusiasmo e outras apenas alongavam os passos em direção às cadeiras, procurando o melhor lugar, fato esse que deixava o pobre Olavo ainda mais perturbado. Não lhe restava mais nenhuma dúvida. Algo estava para acontecer naquele local e a decisão certeira era ali ficar e descobrir o motivo que reunia tanta gente.
  • 8. III Com o corpo retraído e esquivo Olavo entrou, sentou ao fundo da sala -porque desejava não ser notado. Agora com a coluna reta, pernas paralelamente alinhadas e um olhar vidrado e atento ao foco de luz que incandescia o palco. Aos poucos uma composição de instrumentos, sons, vozes e letra tornaram aquele espaço um convite à boa música. Olavo se encontrava mais à vontade, tanto que arriscou acompanhar um refrão e, em seguida, ouviu as boas-vindas dadas pela Secretária Municipal da Educação em um vídeo gravado especialmente para o público presente.
  • 9.
  • 10.
  • 11. No discurso de abertura, o homem logo pôde perceber que aquele público era então conhecido como agentes de leitura de bibliotecas e faróis da Rede Municipal de Ensino de Curitiba. Curioso, ele perguntou a uma das pessoas sentadas ao lado qual o propósito de estarem ali e o que significava este V encontro. Atenciosamente ela lhe explicou que o encontro pretende disseminar a literatura, em especial a poesia, nas diferentes culturas, sobretudo a indígena e a africana. A programação contou com palestras, concertos, apresentações teatrais, café literário, exposição de trovas das escolas municipais, além de explanações de projetos culturais realizados por diversas bibliotecas das escolas da Rede Municipal de Ensino.
  • 12. Começava, então, o primeiro dia e Olavo ouviu atentamente à temática “Mitologia dos Orixás, da oralidade à escrita”. Tudo foi detalhado e exemplificado por um homem que respondia pelo nome de Reginaldo. E quem era Reginaldo?
  • 13. Reginaldo Prandi, doutor em Sociologia pela USP, é professor titular de Sociologia dessa universidade. É autor de mais de 30 livros de sociologia, mitologia, literatura infantojuvenil e ficção policial. Entre outros prêmios, recebeu o Érico Vannucci Mendes, outorgado pelo CNPq, SBPC e Ministério da Cultura.
  • 14. IV Olavo encantara-se com tudo. Ele via surgir naquele palco mais do que teoria, eram histórias vivas do que se vê e do que se faz nos espaços das bibliotecas escolares, destacados principalmente com a chamada comunicação oral feita pelos núcleos regionais.
  • 15.
  • 16.
  • 17.
  • 18. Denise Prosdócimo, da Escola Municipal CEI Doutel de Andrade, agente de leitura há três anos, contou que é sempre uma expectativa muito grande pelo encontro de bibliotecas escolares de Curitiba “Aguardo o encontro com muita ansiedade, pois é um momento que favorece a aprendizagem e o conhecimento de novas estratégias para a disseminação da literatura e a ampliação pelo prazer de ler”.
  • 19. No circuito de palestras, Maria Célia Martirani Bernardi Fantin, escritora consagrada nos meios literários da capital paranaense, proferiu a sublime palestra “Helena Kolody: a rosa que resiste”. Fantin ressaltou que a poesia contemporânea busca o minimalismo e a transcendentalidade, onde “muito pouco” é necessário para se alcançar o verdadeiro “sentir”.
  • 20. O escritor paraense Daniel Munduruku, considerado um dos mais influentes escritores da atual literatura indígena produzida no Brasil, apresentou duas marcantes comunicações: “Mitos indígenas brasileiros: a manutenção da memória ancestral através do domínio das novas tecnologias” e “Literatura indígena: o tênue fio entre a escrita e a oralidade”.
  • 21. Para Ana Verônica Terra Burda, da Escola Municipal E.M. Prof.ª Erica P. Mlynarczyk “ O encontro foi envolvente, motivador, inovador e criativo. Um jeito diferente de falar de literatura”.
  • 22. Quando ouviu o autor e contador de histórias Cleber Fabiano da Silva, Olavo sentiu seu coração em chamas. Tudo aquilo parecia tão próximo e conhecido e ao mesmo tempo confuso e distante. Sem mesmo entender os motivos o homem chorou, sorriu e sentiu-se feliz por estar exatamente naquele lugar.
  • 23. “Contar histórias é uma arte sem regras que deve cativar e envolver as pessoas” , disse Yoshie Ito, agente de leitura do farol do saber Hideohanda.
  • 24. Chamou a atenção também, uma atividade intitulada Intervenção Literária “Livro Vivo” com Maria Célia Martinari Fantin, Márcio Renato dos Santos, Júlio Damásio, Assionara Souza, Marilda Confortim, Luiz Felipe Leprevost, Ivan Justen, Eloi Zanetti e Ricardo Corona.
  • 25. “Adorei a poesia ‘Terezinha de Jesus’, declamada por Marilda Confortin, pois retrata, verdadeira e intensamente o cotidiano de muitos moradores das periferias das cidades”, relatou a agente de leitura Micheli Marturelli, do Farol do Saber Heitor Stockler de França”.
  • 26.
  • 27.
  • 28. O Café Literário foi parte da agenda de atividades promovidas pela encontro. Momento em que profissionais e autores puderam se conhecer, trocar ideias e opiniões.
  • 29.
  • 30.
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  • 32. A agente de leitura Márcia Secco, da Escola Municipal Dom Manuel D’Elboux, diz que o encontro “Alimenta a alma com poesia, literatura e velhos amigos”.
  • 33. Olavo ficou inebriado com a energia daquelas pessoas e, sem perceber, o tempo passou e o homem permaneceu ali três dias e três noites.
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  • 39. Ao soar dos aplausos de despedida Olavo percebeu que era hora de seguir. Agora um homem refeito com força e vitalidade para dirigir seus passos, prosseguiu até a saída. Duas pessoas se aproximaram e sem palavras, calorosamente o abraçaram e, por este abraço, o homem reconheceu seus filhos. Quando questionado sobre o que fazia ali Olavo não pôde responder, disse apenas: ─ Desejei por toda minha vida estar exatamente neste lugar, por razões que não sei explicar. Então, sem nada mais a questionar, pai e filhos seguiram juntos, ambos felizes. O pai, por estar contagiado por um misto de cores, sons, palavras e pessoas e os filhos, por ter de volta seu velho, ranzinza, confuso, atrapalhado, sem lembranças e amado pai.
  • 40. Olavo foi escritor, por toda sua vida escreveu muitas e muitas histórias, no entanto, a ausência da memória e o tremor das mãos já não o permitia riscar uma palavra. Pode ser que Olavo nunca se recorde de quem foi, mas pra quem participou do V Encontro da Rede Municipal de Bibliotecas, uma coisa é certa: “Mesmo que o corpo morra e a saudade amargure, um bom escritor terá a alma de Olavo, será eterno, guiado pelos amantes de uma boa leitura”. Clique aqui para ver o vídeo!
  • 41. Imagem Ana Pierina S. Alves Ana Cristina Dakiw Piaceski Lagos Eliziany Cristine Chaves Pinto Paulo Henrique Machado Vaneska Mezete Pegoraro Lilian Fernanda de Christo Texto Claudia Muniz