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Esquema da palestra: A conversão



1. Introdução

2. Conversão na Sagrada Escritura
      2.1. Conversão nas línguas bíblicas
      2.2. Exemplos de conversão na Sagrada Escritura

3. Processo de conversão pessoal
    3.1. A conversão: resposta ao acolhimento do Evangelho e ao encontro com Cristo, em
         São Paulo
    3.2. Cristificação, vida em profunda união com Cristo, como expressão plena da
    conversão
4. A conversão pastoral e estrutural no Documento de Aparecida
5. Conclusão
A conversão
1. Introdução
O Documento de Aparecida, objetivando mudanças urgentes e necessárias na vida dos
seguidores de Jesus, diz que a conversão “é a resposta inicial de quem escutou o Senhor com
admiração, crê n’Ele pela ação do Espírito, decide-se ser seu amigo e ir após Ele, mudando sua
forma de pensar e de viver, aceitando a cruz de Cristo, consciente de que morrer para o pecado
é alcançar a vida. No Batismo e no sacramento da reconciliação se atualiza para nós a
redenção de Cristo” (DAp 278b).
Dentre as várias chamadas à conversão, podemos destacar três:
   • a conversão pessoal, no encontro com Cristo ressuscitado, numa experiência de fé
       profunda que gera mudança integral de vida: “Em nossa Igreja devemos oferecer a todos
       os nossos fiéis um ‘encontro pessoal com Jesus Cristo’, uma experiência religiosa
       profunda e intensa, um anúncio kerigmático e o testemunho pessoal dos evangelizadores,
       que leve a uma conversão pessoal e a uma mudança de vida integral” (DAp 226);
   • a conversão pastoral, na passagem do esquema existente, de mera conservação, para
       uma pastoral decididamente missionária: “A conversão pastoral de nossas comunidades
       exige que se vá além de uma pastoral de mera conservação para uma pastoral
       decididamente missionária. Assim, será possível que ‘o único programa do Evangelho
       siga introduzindo-se na história de cada comunidade eclesial’ com novo ardor
       missionário, fazendo com que a Igreja se manifeste como uma mãe que nos sai ao
       encontro, uma casa acolhedora, uma escola permanente de comunhão missionária”
       (DAp 370);
   • a conversão estrutural, na renovação das estruturas eclesiais, abandonando as
       ultrapassadas: “[...] Nenhuma comunidade deve se isentar de entrar decididamente, com
       todas suas forças, nos processos constantes de renovação missionária e de abandonar as
       ultrapassadas estruturas que já não favoreçam a transmissão da fé” (DAp 365).
Qual é o verdadeiro sentido da conversão? Será que entendemos verdadeiramente o que ela é?
Muitos pensam que conversão é somente mudança de atitudes. A conversão em sua
profundidade se dá no coração e depois sim, reflete em toda nossa vida, em nosso jeito de ser,
nossas atitudes.

2. Conversão na Sagrada Escritura
Na Bíblia está claro: para que alguém se converta o mais importante é a ação de Deus, mas, ao
mesmo tempo, ninguém se converte se não quer. No Antigo Testamento, Israel, o Povo da
Aliança, é também o Povo da conversão. É um povo que volta a Deus que, por sua vez, acolhe o
povo arrependido. No Novo Testamento, conversão e Reino são realidades intimamente
relacionadas.
2.1. Conversão nas línguas bíblicas:
    • o hebraico utiliza sub (voltar, regressar) e naham (arrepender-se, lamentar-se).
    • o grego, utilizou epistréphein y metanoéîn para traduzir sub no sentido de conversão
       moral ou religiosa.
    • no latim bíblico, convertere traduz sub e correspondentes gregos; poenitere é utilizado
       para traduzir metanoéîn com a consequente perda do significado mais pleno do vocábulo
       grego, já que poenitere significa uma das dimensões da conversão e enfatiza mais as
       obras de penitência.
Todos os términos mencionados são bastante significativos para que entendamos a noção bíblica
de conversão já que todos eles dão essa idéia de retorno, arrependimento, mudança de rumo;
todos eles chamam à volta, à fidelidade e às exigências da própria pertença a Deus.
2.2. Exemplos de conversão na Sagrada Escritura
Na Bíblia encontramos inúmeros exemplos que ilustram o processo de conversão. Entre tantos,
citamos apenas alguns:
    • Naaman (cf. 2Re 5),
    • Manassés (cf. 2Cr 33,11-17),
    • Zaqueu (cf. Lc 19,1-10),
    • a Samaritana (cf. Jo 4,4-30),
    • os três mil batizados no dia de Pentecostes (cf. At 2,37-41),
    • eunuco (cf. At 8, 26-39),
    • Cornélio (cf. At 10,17-48),
    • Paulo (cf. At 9,1-19),
    • Lídia (cf. At 16,11-15).
Nos exemplos acima citados, podemos observar que a conversão, fé e arrependimento são
inseparáveis. A verdadeira conversão nasce de uma dor verdadeira pelo pecado cometido e se
manifesta numa vida de devoção a Deus, surge daí um novo estilo de vida (cf. 2Cor 5,17).
No Novo Testamento, a palabra epistrépho é utilizada uma única vez para indicar o regresso de
um discípulo que caiu em pecado, Pedro (cf. Lc 22,32).
Os cristãos que pecavam eram exortados à conversão e ao arrependimento, bem como às obras
iniciais queridas por Cristo (cf. 2Cor 12,21; Hb 6,1.6; Ap 2,5).
Epistréfo e Metanoéîn referem-se à decisão de voltar a Deus mediante a qual um judeu ou um
pagão se une a Deus em Cristo e recebe a benção escatológica e a remissão dos pecados (cf. Mt
18,3; At 3,19).
Para os escritores do Novo Testamento a conversão representa uma experiência para ser vivida, a
resposta afirmativa do convertido ao Evangelho e a disponibilidade do homem para a união com
Cristo no batismo. A conversão, segundo a Bíblia, é, em primeiro lugar, obra de Deus.
Nessa perspectiva, a missão dos Apóstolos, anunciar a Palavra de Deus, acompanha a chamada à
conversão já que ao anunciar Jesus Cristo proclamam também a necessidade de converter-se e de
crer.
O batismo é o sacramento que faz com que o ser humano experimente essa nova realidade (cf. At
2,38). Conversão também é abandonar o fermento velho para celebrar a Páscoa com os ázimos
da sinceridade (Cf. 1Cor 5,7s). De fato, na vida do cristão, que sempre está em processo de
conversão, a escuta à Palavra e a recepção dos Sacramentos têm um papel insubstituível no
caminho rumo à santidade. A esta conversão contínua chamamos “conversões segundas”.

3. Processo de conversão pessoal
O Catecismo da Igreja Católica distingue a “conversão primeira”, que se dá no batismo, e a
“segunda conversão”, ou seja, a contínua mudança de vida com vistas à santificação que culmina
na escatologia (cf. CEC 1426-1428).
Depois desse encontro inicial, poderíamos dizer que a vida cristã é uma conversão continuada. O
cristão, chamado à santidade, busca a plenitude de vida, a santificação crescente. Podemos
chamar esta conversão permanente de “docilidade ao Espírito que guia no caminho das bem-
aventuranças”.
Neste segundo momento, ainda que também naquele inicial (de pecador a justo), tem uma grande
importância a Igreja como lugar donde se consegue a novidade de vida pela força da Palavra de
Deus e dos Sacramentos.
Ao falar da conversão podemos falar também dos itinerários de conversão ou caminhos de
conversão, itinerário rumo à fé. Já que ninguém pode crer sem um prévio conhecimento do que
“deve” crer, torna-se necessária a pregação do Evangelho, à qual uma pessoa pode responder
afirmativamente (fé) ou negativamente.
A conversão é, em definitiva, obra da graça de Deus e resposta livre do homem. Cada conversão
é uma história pessoal; daí a dificuldade para sistematizar os elementos da conversão.

3.1. A conversão: resposta ao acolhimento do Evangelho e ao encontro com Cristo em São
     Paulo
Para Paulo, o encontro com Jesus Cristo se dá, antes de tudo, através do anúncio do Evangelho.
Quando o Apóstolo fala do Evangelho, ele o entende da seguinte maneira:
   •    O anúncio de Cristo morto pelos nossos pecados... (1Cor 15,3) e ressuscitado para a
        nossa justificação... (Rm, 4,25; cf. At 2,22-41)
A verdade sobre a morte e a ressurreição de Cristo, Paulo a recebeu da tradição, conforme ele
mesmo diz em 1Cor 15. Meditando sobre esse mistério, ele tenta descobrir o significado desses
acontecimentos da vida de Cristo. Cristo é, realmente, morto e, realmente, ressuscitado. O que
significa isso?
A morte de Cristo, que é a vida oferecida, vida doada, tem o efeito sobre os cristãos, ela traz
conseqüências para a nossa vida. Da vida oferecida de Cristo deriva a libertação da
pecaminosidade. Cristo morreu pelos nossos pecados. Ele nos libertou do pecado.
A morte de Cristo tem o seu dinamismo positivo: pelos nossos pecados. Há diversos textos que
nos falam sobre essa verdade: “Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras” (1Cor
15,3); “Mas Deus demonstra seu amor para conosco pelo fato de Cristo ter morrido por nós
quando éramos ainda pecadores” (Rm 5,8); “Graça e paz a vós da parte de Deus nosso Pai e do
Senhor Jesus Cristo, que se entregou a si mesmo pelos nossos pecados [...]” (Gl 1,3-4).
 Paulo vai mais longe e personaliza o efeito da morte de Cristo: a morte pelos meus pecados:
“Minha vida presente na carne, vivo-a pela fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou a si
mesmo por mim” (Gl 2,20). A morte de Cristo alcança pessoas concretas, todas aquelas que têm
pecados. Aliás, Paulo constata o óbvio: “Todos pecaram e todos estão privados da glória de
Deus” (Rm 3,23).
Santo Afonso, fundador dos missionários redentoristas, com frequência, medita sobre o mistério
da morte de Cristo. Recomenda também vivamente aos confrades a meditação desse mistério.
Afonso centraliza toda a sua experiência de Deus no amor ao Verbo encarnado porque o amor de
Deus encarna-se totalmente em seu Filho Jesus. O Cristo histórico encanta e envolve Afonso por
inteiro. Ele contempla Jesus como a expressão viva de um amor infinito, que assume forma
humana para demonstrar o seu amor. A entrega total que o Filho faz de si a nós deixa Afonso
extasiado. É a certeza de que Deus é de fato Amor e Misericórdia. “O Filho de Deus, pelo amor
que nos tem, deu-se também todo a nós: Amou-nos e se entregou a si mesmo por nós (Gl 2.20)”
(A Prática do amor a Jesus Cristo, p. 11, n. 6).
Esta entrega total se concretiza pela "kénosis" do Verbo, isto é, pelo aniquilamento total de si.
Esse foi o modo escolhido por Deus para provar o seu amor infinito por nós. “Eis aqui um Deus
aniquilado! - Esvaziou-se a si mesmo e assumiu a condição de servo tomando a semelhança
humana (Fl 2,7). O Senhor do mundo humilhou-se até tomar a forma de servo. Sujeita-se a
todas as misérias que os homens padecem" (PAJC. p. 11, n. 6). Isso é uma loucura, Deus saiu
fora de si de tanto amor, exclama Afonso junto com outros santos. Com tantos meios para nos
oferecer a salvação, Ele escolheu o caminho da dor porque queria nos mostrar a que ponto
chegava o seu amor por nós. "Amou-nos e, porque nos amava, entregou-se nos braços da dor,
da vergonha, da morte mais dolorosa que algum homem já suportou na terra" (PAJC. p. 12, n.
7). Esquece a sua dignidade e pensa apenas no que mais convém para manifestar-se a quem ama.
A morte de Cristo, nos escritos de Paulo, é sempre vista em união com a sua ressurreição. Os
dois aspectos estão sempre unidos; existe uma reciprocidade entre eles. A morte é a vida
oferecida, oblação de Cristo. Assim, a morte tem dentro de si o dom da vida.
A ressurreição é a plenitude da vida e da vitalidade. Esta plenitude exclui a morte. Cristo, uma
vez morto, não morre mais. A vitalidade de Cristo ressuscitado faz do corpo dele um corpo
espiritual.
Também a ressurreição de Cristo tem o efeito sobre os cristãos, ela traz consequências para a
nossa vida. O que significa isso? Da ressurreição de Cristo deriva a nossa justificação. Cristo
ressuscitou para a nossa justificação: “Para nós que cremos naquele que ressuscitou dos mortos
Jesus, nosso Senhor, o qual foi entregue pelas nossas faltas e ressuscitado para a nossa
justificação” (Rm 4,25).
Outro efeito da ressurreição de Cristo para nós é o dom do Espírito Santo. Ele ressuscitou e,
como ressuscitado, nos comunicou o seu Espírito.
O cristão, através do batismo, no qual mergulha no mistério da morte e da ressurreição de Cristo,
é justificado. É revestido de Cristo. Torna-se também a morada do Espírito de Cristo. O mistério
da morte e da ressurreição de Cristo não é somente um acontecimento do passado, mas uma
realidade viva, presente, operante. O cristão experimenta os efeitos desse mistério na sua vida
pessoal, na vida da Igreja. Através dos sacramentos esse mistério é “ativado”, torna-se atual.
“Cristo morto pelos nossos pecados” e “ressuscitado para a nossa justificação” se faz
experimentar de tantas maneiras: sofrimento, perseguição, fraqueza, abandono, solidão, serviço,
oblação, morte, perdão sacramental, libertação, força interior, Eucaristia, paz interior, comunhão,
coragem, vida na graça, vida segundo o Espírito.
O Evangelho deve ser anunciado. Anunciar é levar o evangelho ao conhecimento de todos.
“Cristo morto pelos nossos pecados” e “ressuscitado para a nossa justificação” deve ser
anunciado para provocar a mudança de vida, a conversão.
Paulo que experimentou a força do mistério que anuncia, a força do Evangelho, ele sente
necessidade de deve partilhar isso com os irmãos. Aquele que experimentou os efeitos do
mistério de “Cristo morto pelos nossos pecados” e “ressuscitado para a nossa justificação”, sente
o imperativo interior para anunciar: “Anunciar o evangelho não é título de glória para mim; é,
antes, necessidade que se me impõe. Ai de mim, se eu não anunciar o evangelho!” (1Cor 9,16).
    • O conteúdo desse anúncio interpela as pessoas, faz pressão sobre elas
O anúncio deve ser entendido. A pessoa deve dar uma resposta. Não é um anúncio geral, mas
muito concreto, que provoca as pessoas concretas: “Irmãos, o que devemos fazer?” (At 2,37);
“Filipe anunciou-lhe a Boa Nova de Jesus [...]. Disse então o eunuco: Eis aqui a água. Que
impede que eu seja batizado?” (cf. At 8,26-39). História de Lídia (At 16,13-15).
A Boa Notícia de Jesus, o Evangelho, interpela as pessoas, faz pressão para receber resposta.
Isso quer dizer, que o evangelho, com o seu conteúdo, faz chegar até a pessoa a proposta de
“Cristo morto pelos nossos pecados” e “ressuscitado para a nossa justificação”. Essa proposta
bate na porta do coração da pessoa, quer entrar na sua vida: “Em nome de Cristo exercemos a
função de embaixadores e por nosso intermédio é Deus mesmo que vos exorta. Em nome de
Cristo suplicamo-vos: reconciliai-vos com Deus” (2Cor 5,20); “Eis que estou à porta e bato: se
alguém ouvir a minha voz a abrir a porta, entrarei em sua casa [...]” (Ap 3,20).
O anúncio do Evangelho chega à porta do coração da pessoa concreta e ela começa a ter
consciência disso. Mas, o anúncio por si mesmo não basta. Dentro desse anúncio existe uma
força misteriosa que à pessoa concreta faz perceber e compreender o conteúdo que é
apresentado. É a força do Espírito Santo. É o conteúdo trazido pelo Espírito Santo que interpela a
pessoa e não o discurso humano: “Minha palavra e minha pregação nada tinham de persuasiva
linguagem de sabedoria, mas eram uma demonstração de Espírito e poder” (1Cor 2,4). O
discurso humano não basta; é o Espírito Santo que causa a interpelação: “Mas o Paráclito, o
Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, vos ensinará tudo e vos recordará tudo o
queevos disse” (Jo 14,26); “Quando vier o Espírito da Verdade, ele vos conduzirá à verdade
plena, pois não falará de si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará as coisas
futuras. Ele me glorificará porque receberá do que é meu e vos anunciará” (Jo 16,13-14).
Anúncio é feito através do instrumento humano, mas o protagonista verdadeiro não é o homem,
mas Deus e o seu Espírito.
   •    A pessoa a quem é endereçado o anúncio do Evangelho deve fazer uma escolha:
        "sim" ou "não", conversão ou dureza de coração
A interpelação exige a resposta que se traduz na prática de vida. A resposta pode ser positiva:
“Acolhendo-os, então, naquela mesma hora da noite lavou-lhes as feridas, e imediatamente
recebeu o batismo, ele e todos os seus” (At 16,33) ou negativa: “Ao ouvirem falar da
ressurreição dos mortos, alguns começaram a zombar, enquanto outros diziam a respeito disso
te ouviremos outra vez” (cf. At 17,16-34).
Quando acontece essa interpelação da pessoa? Quando ela está diante da escolha fundamental
que deve fazer na sua vida: viver para si mesma ou viver para os outros. A escolha se traduz na
prática da vida. Quando alguém escolhe, decide viver para os outros, ele acolheu a interpelação
do Espírito. A pessoa que aceitou o evangelho não pode mais viver para si mesma. Sua vida
torna-se um serviço, uma doação, uma entrega aos irmãos. Mas, se alguém não coloca a própria
vida a serviço dos outros e vive, egoisticamente para si mesmo, não aceitou ainda o anúncio, o
evangelho.
Mas, esse dilema: viver para si ou viver para os outros é algo constante na nossa vida. A cada
momento estamos diante das escolhas que precisam ser feitas; a interpelação acontece
constantemente. O Evangelho precisa ser acolhido sempre de novo.
   •    Do "sim" ou do "não" dado ao anúncio do Evangelho depende o desenvolvimento
        da pessoa, de maneira positiva ou negativa
Nos textos paulinos percebemos que se a resposta que a pessoa dá ao Evangelho for "sim", se
desencadeia o movimento positivo na pessoa. Mas, se a resposta for "não", ao contrário, a pessoa
se fecha no próprio egoísmo.
Quais são os efeitos do "sim" ou do "não" dado ao anúncio do Evangelho na vida da pessoa?
O dinamismo, no sentido positivo, é a escolha do espírito: viver segundo o espírito. O efeito
dessa escolha é a vida eterna: “Portanto, não existe mais a condenação para aqueles que estão
em Cristo Jesus. A Lei do Espírito da vida em Cristo Jesus te libertou da lei do pecado e da
morte” (Rm 8,1-2); “Com efeito, os que vivem segundo o espírito desejam as coisas que são do
espírito. [...] O desejo do espírito é a vida e a paz” (Rm 8,5-6); “O que o homem semear, isso
colherá: [...] quem semear no espírito, do espírito colherá a vida eterna.” (Rm 6,7-8).
O que significa viver segundo o Espírito? Em Rm 8 e em Gl 5,22-23, Paulo nos dá resposta: “O
fruto do Espírito é amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade,
mansidão, autodomínio”. A pessoa que se abre ao Espírito é alguém totalmente realizado, porque
corresponde ao Projeto de Deus.
Mas, a pessoa pode fazer também do egoísmo o centro de sua vida, o seu absoluto. Ela pode
viver segundo a carne, na linguagem de Paulo. O dinamismo, no sentido negativo, é a escolha da
carne, viver segundo a carne. O efeito dessa escolha é a morte, pecado, condenação, fracasso
total: “Pois se viverdes segundo a carne, morrereis” (Rm 8,13); “O que o homem semear, isso
colherá: quem semear na sua carne, da carne colherá corrupção [...]” (Rm 6,7-8).
O que significa viver segundo a carne?
Paulo nos dá a seguinte resposta: “Ora, as obras da carne são manifestas: fornicação, impureza,
libertinagem, idolatria, feitiçaria, ódio, rixas, ciúmes, ira, discussões, discórdia, divisões,
invejas, bebedeiras, orgias e coisas semelhantes a estas” (Gl 5,19-21).
A pessoa que se fecha no egoísmo e não acolhe o Evangelho é alguém totalmente falido,
fracassado. Para Paulo, a morte é uma pessoa totalmente incapaz de amar, totalmente vazia. Isso
é o inferno da pessoa.
Abrir-se a Deus ou fechar-se no egoísmo, esta é a alternativa que se coloca, constantemente,
diante de cada pessoa. A escolha tem suas conseqüências. Da aceitação do evangelho depende a
realização plena ou o fracasso total. Somente aceitando plenamente o evangelho, isto é, fazer da
vida uma doação aos outros, é que começa o dinamismo positivo que leva à realização plena da
pessoa.

3.2. Cristificação, vida em profunda união com Cristo, como expressão plena da conversão
Cristo entra na vida da pessoa através do batismo. No batismo o cristão recebe o dom do Espírito
Santo e torna-se sede, morada do Espírito Santo que, pouco a pouco, imprime nele os traços de
Cristo:”Não sabeis que sois templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?” (1Cor
3,16); “Ou não sabeis que o vosso corpo é templo do Espírito Santo, que está em vós e que
recebestes de Deus?” (6,19).
Cristo “morto pelos nossos pecados” e “ressuscitado para a nossa justificação” entra em todos os
detalhes da vida da pessoa, através do seu Espírito. Trata-se da cristificação da pessoa, vida em
profunda união com Cristo: “Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20);
“[...] meus filhos, por quem sofro de novo as dores do parto, até que Cristo seja formado em
vós” (Gl 4,19). O Espírito Santo está continuamente presente na vida da pessoa, depois do
batismo.
Rm 14,23: "Tudo o que não procede da fé é pecado". O que quer dizer isso? Estamos no âmbito
da consciência. Neste sentido, agir contra a consciência é cometer pecado. Fé significa abertura a
Cristo morto e ressuscitado que penetra e enriquece todos os aspectos da vida da pessoa. Se
alguém exclui algum setor, algum aspecto de sua vida da influência de Cristo está pecando. O
que está excluído da influência de Cristo está morto. Na vida do cristão, a abertura a Cristo deve
ser total. Isto quer dizer que essa abertura deve atinge todos os campos, todos os aspectos da
vida. O Espírito Santo age na vida da pessoa, mas o cristão deve acolhê-lo.
Como acontece a cristificação da vida do cristão? Acontece gradualmente; é um processo, até a
cristificação plena, definitiva, até que Cristo seja formado em nós. É o acolhimento contínuo de
Cristo que torna-se um valor pessoal, em todos os campos da vida da pessoa. Esta cristificação
contínua, interior do cristão é obra do Espírito Santo. Os valores de Cristo entram em todos os
aspectos da vida do cristão. Se isso não acontece, temos uma caricatura da pessoa.
Gl 2,20: "Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim. Minha vida presente na carne,
eu a vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou a si mesmo por mim". "Vivo" =
uma vida normal, a vida humana, carnal, física. Esta vida se vive pela fé em Cristo que "me
amou e se entregou a si mesmo por mim". Cristo morto e ressuscitado "por mim" -
personalização. Percebemos neste texto a relação interpessoal entre Paulo e Cristo. Cada dia, em
todos os setores da vida, existe essa influência de Cristo, uma relação de reciprocidade.
"É Cristo que vive em mim": a abertura a Cristo que se realiza cada dia leva à assimilação de
Cristo, de suas atitudes, suas opções, seu modo de viver, de se relacionar, até que Cristo seja
formado em nós. É uma união sem limites. A fé entra em todos os aspectos da vida. Este é o
ideal cristão para Paulo.
Fl 1,21: "Para mim o viver é Cristo e o morrer é lucro". Para Paulo, toda a vida é Cristo, a
relação plena, íntima com Cristo, sem excluir nada. A morte é lucro porque esta é a meta
escatológica; depois da morte o nível de reciprocidade será muito mais alto do que durante a
vida. O viver é Cristo: a reciprocidade entre Paulo e Cristo é total. Mas, esse processo de
cristificação traz também problemas, tensões e cansaço.
Fl 3,8-11: "Tudo considero perda, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu
Senhor. Por ele, perdi tudo e tudo tenho como esterco, para ganhar a Cristo e ser achado nele,
não tendo como minha justiça aquela que vem da Lei, mas aquela pela fé em Cristo, aquela que
vem de Deus e se apóia na fé, para conhecê-lo, conhecer o poder da sua ressurreição e a
participação nos seus sofrimentos, conformando-me com ele na sua morte, para ver se alcanço
a ressurreição de entre os mortos". O desejo de Paulo é conhecer Cristo e a força da sua
ressurreição e a participação nos seus sofrimentos. Escolher Cristo, a relação com Cristo, o
conhecimento sempre mais profundo - em detalhes - de Cristo, isso tudo implica sentir a força de
Cristo, mas também partilhar a cruz de Cristo, com o sofrimento e a dor. A fé uma vez aceita
deve ser praticada cada dia. Trata-se de um processo, de uma caminhada.
Para Paulo, Cristo é muito concreto. Os valores de Cristo devem ser vividos na vida de cada dia.
A interrelação, o progresso vão se realizando e aprofundando continuamente. O amor para com
Cristo se estreitam sempre mais.
Rm 8,35-37: "Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação, a angústia, a perseguição,
a fome, a nudez, os perigos, a espada? [...] Mas em tudo isto somos mais que vencedores,
graças àquele que nos amou". Paulo fala da sua experiência pessoal. Ele vivenciou todas essas
realidades. Mas, por causa dessa reciprocidade profunda que existia entre ele e Cristo, nada o foi
capaz de separar do amor de Cristo A fé é um caminho.

4. A conversão pastoral e estrutural no Documento de Aparecida
Sem conversão não há discípulo e sem discípulo não há missão e, em não havendo missão:
“Jesus Cristo não é encontrado, seguido, amado, adorado e anunciado” (DA 14). Por isso a
Igreja é convidada a estar em estado permanente de conversão, que é a atitude do discípulo
missionário que realmente encontrou o Senhor.
Ao lado da conversão pessoal, o Documento de Aparecida fala também da conversão pastoral;
esta talvez seja tão importante para a missão como é a conversão pessoal. Converter-se
pastoralmente significa “sair de uma pastoral de mera conservação para uma pastoral
decididamente missionária”(DAp 370). A Assembleia de Aparecida diz categoricamente que
“Bispos, presbíteros, diáconos permanentes, consagrados e consagradas, leigos e leigas, são
chamados a assumir atitudes permanentes de conversão pastoral” (DAp 366).
Em nossa tradicional pastoral de conservação, há um escasso acompanhamento aos leigos em
suas tarefas de serviço à sociedade, bem como uma evangelização com pouco ardor e sem novos
métodos e expressões, com ênfase no ritualismo. Muitos católicos vivem e morrem sem
assistência da Igreja. Falta uma sólida estrutura de formação dos agentes de pastoral. Há
movimentos eclesiais que nem sempre se integram na pastoral paroquial e diocesana.
Conversão pastoral é também ter a coragem de abandonar “as ultrapassadas estruturas que já
não favorecem a transmissão da fé” (DAp 365), deixando o Espírito Santo soprar o seu vento
renovador que “implique reformas espirituais, pastorais e também institucionais” (DAp 367),
pois a Igreja no dizer do Concílio Vaticano II “é chamada por Cristo a uma reforma perene”
(UR 777). Sempre reformar para poder seguir em frente.
É preciso que pastores e fiéis se questionem continuamente a respeito de métodos, costumes e
atitudes pastorais ultrapassadas e anacrônicas que mais afastam as pessoas de Cristo do que
levam a Ele. A mensagem central de Aparecida é que, tudo deve estar aberto e levar a missão, o
que foge a isso deve ser abandonado.
Impregnar do Espírito missionário “todas as estruturas eclesiais e todos os planos de pastorais
de dioceses, paróquias, comunidades religiosas, movimentos e instituições da Igreja” (DAp
365), é sinônimo de conversão pastoral, pois, às vezes nossas estruturas de Igreja, nossos
métodos de trabalhos pastorais, nossas igrejas cheias, nos dão a falsa sensação de que tudo está
indo bem, de que nada é preciso fazer e mudar, mas “na verdade a fé vai se desgastando e
degenerando em mesquinhez” – “no pragmatismo da vida cotidiana da Igreja” (DAp 12).
Diante dos tempos difíceis em que vivemos não custa lembrar um pouco de história, quando a
Igreja se acomodou e não procurou ler os sinais dos tempos, vindo a sofrer sérios abalos que
redundaram na perca de inúmeros de seus fiéis. Assim a Igreja de hoje também “necessita de
forte comoção que a impeça de se instalar na comodidade, no estancamento e na indiferença”
(DAp 362).
É preciso, portanto, ouvir o que o Espírito Santo disse a nossos bispos em Aparecida e ter a
coragem de mudar o que tem que ser mudado, para que nas atuais circunstâncias do mundo,
Cristo seja anunciado como a grande solução para as pessoas e nações porque “sem Cristo não
há luz, não há esperança, não há amor, não há futuro” (DAp 146).
O mundo mudou e novos desafios exigem novas respostas pastorais. Por isso uma conversão
pastoral vai implicar em:
    • Assumir os novos rostos da pobreza. A conversão pastoral começa pelo compromisso
        com os novos rostos da pobreza (cf. DAp 402). Entre tantos outros, há alguns rostos
        sofredores, de “pobres descartáveis” que doem em nós: os que vivem na rua, os
        migrantes, os doentes, os dependentes de drogas e os presidiários;
    • Uma Pastoral Social estruturada, orgânica e integral. A promoção humana deve ser
        integral, isto é, precisa abarcar a pessoa inteira e todas as pessoas, fazendo-as sujeito de
        seu próprio desenvolvimento (cf. DAp 399) (cf. DAp 401);
    • Uma renovada pastoral urbana. Para uma conversão pastoral, faz-se necessário,
        também, um estilo de ação adequado à realidade urbana em sua linguagem, estruturas,
        práticas e horários; uma ação eclesial, orgânica e articulada, que incida sobre a cidade,
        em seu conjunto; estratégias para chegar aos condomínios fechados, prédios residenciais
        e favelas; uma maior presença nos centros de decisão da cidade, tanto nas estruturas
        administrativas como nas organizações comunitárias (cf. DAp 518).
Aparecida nos convoca também a uma renovação eclesial, renovação da própria instituição,
conversão estrutural. A renovação eclesial, que envolve reformas espirituais, pastorais e
também institucionais (cf. DAp 367).
    • Renovar a paróquia. Ela é célula viva da Igreja, mas faz-se necessário uma vigorosa
        renovação da mesma, a fim de que seja, de fato: espaço de iniciação cristã, educação e
        celebração da fé, aberta à diversidade dos carismas, serviços e ministérios; organizada
        de maneira comunitária e responsável; integradora de movimentos; aberta à
        diversidade cultural e a projetos pastorais supra-paroquiais e das realidades circundantes
        (170). A renovação das paróquias exige reformular suas estruturas, para que sejam
        redes de comunidades e grupos (cf. DAp 173).
    • Criar comunidades eclesiais de base. Levando-se em consideração as dimensões de
        nossas paróquias, é aconselhável a setorização das mesmas em unidades territoriais
        menores, com equipes próprias de animação e coordenação, que permitam uma maior
        proximidade às pessoas e grupos que vivem na região. E mais, que os agentes
        missionários promovam a criação de comunidades de famílias, que coloquem em
        comum sua fé e as respostas aos seus próprios problemas (cf. DAp 372) (cf. DAp 179).
    • O protagonismo das mulheres. Impulsionar uma organização pastoral que promova o
        protagonismo das mulheres e garanta a efetiva presença da mulher nos ministérios,
        assim como nas esferas de planejamento e decisão (458). É necessário na América
        Latina, como disse o Papa, superar uma mentalidade machista, que ignora a novidade
        do cristianismo, que reconhece e proclama a “igual dignidade e responsabilidade da
        mulher em relação ao homem” (cf. DAp 453) (cf. DAp 454).
    • Uma ação pastoral pensada. A renovação eclesial passa também pelo esforço de uma
        ação pastoral pensada, a partir das pequenas comunidades, passando pelas paróquias e
        desembocando em uma pastoral de conjunto diocesana. O plano pastoral diocesano
        deve ser uma resposta consciente e eficaz, para atender às exigências do mundo de
        hoje. Os leigos precisam participar do discernimento, da tomada de decisões, do
        planejamento e da execução (cf. DAp 371).
•   A presença nos novos espaços. É preciso continuar semeando os valores evangélicos
       nos ambientes onde se faz cultura e nos novos lugares: o mundo das comunicações, da
       cultura, das ciências e das relações internacionais (cf. DAp 491).

5. Conclusão
O encontro pessoal com Jesus Cristo pode levar à conversão e no mesmo tempo ao seguimento
em uma comunidade eclesial. Cuidar a própria vida na vivência com Cristo provoca a
santificação da pessoa e também a comunidade da Igreja. Por isso, a conversão, comunhão e a
missão estão profundamente unidas entre si. Tendo em vista a Trindade, como modelo da
comunhão, somos chamados a viver em comunhão. O Documento de Aparecida nos exorta para
fazer das nossas comunidades paroquiais “uma casa e escola de comunhão” (DAp 188).

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A Conversão

  • 1. Esquema da palestra: A conversão 1. Introdução 2. Conversão na Sagrada Escritura 2.1. Conversão nas línguas bíblicas 2.2. Exemplos de conversão na Sagrada Escritura 3. Processo de conversão pessoal 3.1. A conversão: resposta ao acolhimento do Evangelho e ao encontro com Cristo, em São Paulo 3.2. Cristificação, vida em profunda união com Cristo, como expressão plena da conversão 4. A conversão pastoral e estrutural no Documento de Aparecida 5. Conclusão
  • 2. A conversão 1. Introdução O Documento de Aparecida, objetivando mudanças urgentes e necessárias na vida dos seguidores de Jesus, diz que a conversão “é a resposta inicial de quem escutou o Senhor com admiração, crê n’Ele pela ação do Espírito, decide-se ser seu amigo e ir após Ele, mudando sua forma de pensar e de viver, aceitando a cruz de Cristo, consciente de que morrer para o pecado é alcançar a vida. No Batismo e no sacramento da reconciliação se atualiza para nós a redenção de Cristo” (DAp 278b). Dentre as várias chamadas à conversão, podemos destacar três: • a conversão pessoal, no encontro com Cristo ressuscitado, numa experiência de fé profunda que gera mudança integral de vida: “Em nossa Igreja devemos oferecer a todos os nossos fiéis um ‘encontro pessoal com Jesus Cristo’, uma experiência religiosa profunda e intensa, um anúncio kerigmático e o testemunho pessoal dos evangelizadores, que leve a uma conversão pessoal e a uma mudança de vida integral” (DAp 226); • a conversão pastoral, na passagem do esquema existente, de mera conservação, para uma pastoral decididamente missionária: “A conversão pastoral de nossas comunidades exige que se vá além de uma pastoral de mera conservação para uma pastoral decididamente missionária. Assim, será possível que ‘o único programa do Evangelho siga introduzindo-se na história de cada comunidade eclesial’ com novo ardor missionário, fazendo com que a Igreja se manifeste como uma mãe que nos sai ao encontro, uma casa acolhedora, uma escola permanente de comunhão missionária” (DAp 370); • a conversão estrutural, na renovação das estruturas eclesiais, abandonando as ultrapassadas: “[...] Nenhuma comunidade deve se isentar de entrar decididamente, com todas suas forças, nos processos constantes de renovação missionária e de abandonar as ultrapassadas estruturas que já não favoreçam a transmissão da fé” (DAp 365). Qual é o verdadeiro sentido da conversão? Será que entendemos verdadeiramente o que ela é? Muitos pensam que conversão é somente mudança de atitudes. A conversão em sua profundidade se dá no coração e depois sim, reflete em toda nossa vida, em nosso jeito de ser, nossas atitudes. 2. Conversão na Sagrada Escritura Na Bíblia está claro: para que alguém se converta o mais importante é a ação de Deus, mas, ao mesmo tempo, ninguém se converte se não quer. No Antigo Testamento, Israel, o Povo da Aliança, é também o Povo da conversão. É um povo que volta a Deus que, por sua vez, acolhe o povo arrependido. No Novo Testamento, conversão e Reino são realidades intimamente relacionadas. 2.1. Conversão nas línguas bíblicas: • o hebraico utiliza sub (voltar, regressar) e naham (arrepender-se, lamentar-se). • o grego, utilizou epistréphein y metanoéîn para traduzir sub no sentido de conversão moral ou religiosa. • no latim bíblico, convertere traduz sub e correspondentes gregos; poenitere é utilizado para traduzir metanoéîn com a consequente perda do significado mais pleno do vocábulo grego, já que poenitere significa uma das dimensões da conversão e enfatiza mais as obras de penitência.
  • 3. Todos os términos mencionados são bastante significativos para que entendamos a noção bíblica de conversão já que todos eles dão essa idéia de retorno, arrependimento, mudança de rumo; todos eles chamam à volta, à fidelidade e às exigências da própria pertença a Deus. 2.2. Exemplos de conversão na Sagrada Escritura Na Bíblia encontramos inúmeros exemplos que ilustram o processo de conversão. Entre tantos, citamos apenas alguns: • Naaman (cf. 2Re 5), • Manassés (cf. 2Cr 33,11-17), • Zaqueu (cf. Lc 19,1-10), • a Samaritana (cf. Jo 4,4-30), • os três mil batizados no dia de Pentecostes (cf. At 2,37-41), • eunuco (cf. At 8, 26-39), • Cornélio (cf. At 10,17-48), • Paulo (cf. At 9,1-19), • Lídia (cf. At 16,11-15). Nos exemplos acima citados, podemos observar que a conversão, fé e arrependimento são inseparáveis. A verdadeira conversão nasce de uma dor verdadeira pelo pecado cometido e se manifesta numa vida de devoção a Deus, surge daí um novo estilo de vida (cf. 2Cor 5,17). No Novo Testamento, a palabra epistrépho é utilizada uma única vez para indicar o regresso de um discípulo que caiu em pecado, Pedro (cf. Lc 22,32). Os cristãos que pecavam eram exortados à conversão e ao arrependimento, bem como às obras iniciais queridas por Cristo (cf. 2Cor 12,21; Hb 6,1.6; Ap 2,5). Epistréfo e Metanoéîn referem-se à decisão de voltar a Deus mediante a qual um judeu ou um pagão se une a Deus em Cristo e recebe a benção escatológica e a remissão dos pecados (cf. Mt 18,3; At 3,19). Para os escritores do Novo Testamento a conversão representa uma experiência para ser vivida, a resposta afirmativa do convertido ao Evangelho e a disponibilidade do homem para a união com Cristo no batismo. A conversão, segundo a Bíblia, é, em primeiro lugar, obra de Deus. Nessa perspectiva, a missão dos Apóstolos, anunciar a Palavra de Deus, acompanha a chamada à conversão já que ao anunciar Jesus Cristo proclamam também a necessidade de converter-se e de crer. O batismo é o sacramento que faz com que o ser humano experimente essa nova realidade (cf. At 2,38). Conversão também é abandonar o fermento velho para celebrar a Páscoa com os ázimos da sinceridade (Cf. 1Cor 5,7s). De fato, na vida do cristão, que sempre está em processo de conversão, a escuta à Palavra e a recepção dos Sacramentos têm um papel insubstituível no caminho rumo à santidade. A esta conversão contínua chamamos “conversões segundas”. 3. Processo de conversão pessoal O Catecismo da Igreja Católica distingue a “conversão primeira”, que se dá no batismo, e a “segunda conversão”, ou seja, a contínua mudança de vida com vistas à santificação que culmina na escatologia (cf. CEC 1426-1428). Depois desse encontro inicial, poderíamos dizer que a vida cristã é uma conversão continuada. O cristão, chamado à santidade, busca a plenitude de vida, a santificação crescente. Podemos chamar esta conversão permanente de “docilidade ao Espírito que guia no caminho das bem- aventuranças”. Neste segundo momento, ainda que também naquele inicial (de pecador a justo), tem uma grande importância a Igreja como lugar donde se consegue a novidade de vida pela força da Palavra de Deus e dos Sacramentos.
  • 4. Ao falar da conversão podemos falar também dos itinerários de conversão ou caminhos de conversão, itinerário rumo à fé. Já que ninguém pode crer sem um prévio conhecimento do que “deve” crer, torna-se necessária a pregação do Evangelho, à qual uma pessoa pode responder afirmativamente (fé) ou negativamente. A conversão é, em definitiva, obra da graça de Deus e resposta livre do homem. Cada conversão é uma história pessoal; daí a dificuldade para sistematizar os elementos da conversão. 3.1. A conversão: resposta ao acolhimento do Evangelho e ao encontro com Cristo em São Paulo Para Paulo, o encontro com Jesus Cristo se dá, antes de tudo, através do anúncio do Evangelho. Quando o Apóstolo fala do Evangelho, ele o entende da seguinte maneira: • O anúncio de Cristo morto pelos nossos pecados... (1Cor 15,3) e ressuscitado para a nossa justificação... (Rm, 4,25; cf. At 2,22-41) A verdade sobre a morte e a ressurreição de Cristo, Paulo a recebeu da tradição, conforme ele mesmo diz em 1Cor 15. Meditando sobre esse mistério, ele tenta descobrir o significado desses acontecimentos da vida de Cristo. Cristo é, realmente, morto e, realmente, ressuscitado. O que significa isso? A morte de Cristo, que é a vida oferecida, vida doada, tem o efeito sobre os cristãos, ela traz conseqüências para a nossa vida. Da vida oferecida de Cristo deriva a libertação da pecaminosidade. Cristo morreu pelos nossos pecados. Ele nos libertou do pecado. A morte de Cristo tem o seu dinamismo positivo: pelos nossos pecados. Há diversos textos que nos falam sobre essa verdade: “Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras” (1Cor 15,3); “Mas Deus demonstra seu amor para conosco pelo fato de Cristo ter morrido por nós quando éramos ainda pecadores” (Rm 5,8); “Graça e paz a vós da parte de Deus nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo, que se entregou a si mesmo pelos nossos pecados [...]” (Gl 1,3-4). Paulo vai mais longe e personaliza o efeito da morte de Cristo: a morte pelos meus pecados: “Minha vida presente na carne, vivo-a pela fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou a si mesmo por mim” (Gl 2,20). A morte de Cristo alcança pessoas concretas, todas aquelas que têm pecados. Aliás, Paulo constata o óbvio: “Todos pecaram e todos estão privados da glória de Deus” (Rm 3,23). Santo Afonso, fundador dos missionários redentoristas, com frequência, medita sobre o mistério da morte de Cristo. Recomenda também vivamente aos confrades a meditação desse mistério. Afonso centraliza toda a sua experiência de Deus no amor ao Verbo encarnado porque o amor de Deus encarna-se totalmente em seu Filho Jesus. O Cristo histórico encanta e envolve Afonso por inteiro. Ele contempla Jesus como a expressão viva de um amor infinito, que assume forma humana para demonstrar o seu amor. A entrega total que o Filho faz de si a nós deixa Afonso extasiado. É a certeza de que Deus é de fato Amor e Misericórdia. “O Filho de Deus, pelo amor que nos tem, deu-se também todo a nós: Amou-nos e se entregou a si mesmo por nós (Gl 2.20)” (A Prática do amor a Jesus Cristo, p. 11, n. 6). Esta entrega total se concretiza pela "kénosis" do Verbo, isto é, pelo aniquilamento total de si. Esse foi o modo escolhido por Deus para provar o seu amor infinito por nós. “Eis aqui um Deus aniquilado! - Esvaziou-se a si mesmo e assumiu a condição de servo tomando a semelhança humana (Fl 2,7). O Senhor do mundo humilhou-se até tomar a forma de servo. Sujeita-se a todas as misérias que os homens padecem" (PAJC. p. 11, n. 6). Isso é uma loucura, Deus saiu fora de si de tanto amor, exclama Afonso junto com outros santos. Com tantos meios para nos oferecer a salvação, Ele escolheu o caminho da dor porque queria nos mostrar a que ponto chegava o seu amor por nós. "Amou-nos e, porque nos amava, entregou-se nos braços da dor, da vergonha, da morte mais dolorosa que algum homem já suportou na terra" (PAJC. p. 12, n. 7). Esquece a sua dignidade e pensa apenas no que mais convém para manifestar-se a quem ama.
  • 5. A morte de Cristo, nos escritos de Paulo, é sempre vista em união com a sua ressurreição. Os dois aspectos estão sempre unidos; existe uma reciprocidade entre eles. A morte é a vida oferecida, oblação de Cristo. Assim, a morte tem dentro de si o dom da vida. A ressurreição é a plenitude da vida e da vitalidade. Esta plenitude exclui a morte. Cristo, uma vez morto, não morre mais. A vitalidade de Cristo ressuscitado faz do corpo dele um corpo espiritual. Também a ressurreição de Cristo tem o efeito sobre os cristãos, ela traz consequências para a nossa vida. O que significa isso? Da ressurreição de Cristo deriva a nossa justificação. Cristo ressuscitou para a nossa justificação: “Para nós que cremos naquele que ressuscitou dos mortos Jesus, nosso Senhor, o qual foi entregue pelas nossas faltas e ressuscitado para a nossa justificação” (Rm 4,25). Outro efeito da ressurreição de Cristo para nós é o dom do Espírito Santo. Ele ressuscitou e, como ressuscitado, nos comunicou o seu Espírito. O cristão, através do batismo, no qual mergulha no mistério da morte e da ressurreição de Cristo, é justificado. É revestido de Cristo. Torna-se também a morada do Espírito de Cristo. O mistério da morte e da ressurreição de Cristo não é somente um acontecimento do passado, mas uma realidade viva, presente, operante. O cristão experimenta os efeitos desse mistério na sua vida pessoal, na vida da Igreja. Através dos sacramentos esse mistério é “ativado”, torna-se atual. “Cristo morto pelos nossos pecados” e “ressuscitado para a nossa justificação” se faz experimentar de tantas maneiras: sofrimento, perseguição, fraqueza, abandono, solidão, serviço, oblação, morte, perdão sacramental, libertação, força interior, Eucaristia, paz interior, comunhão, coragem, vida na graça, vida segundo o Espírito. O Evangelho deve ser anunciado. Anunciar é levar o evangelho ao conhecimento de todos. “Cristo morto pelos nossos pecados” e “ressuscitado para a nossa justificação” deve ser anunciado para provocar a mudança de vida, a conversão. Paulo que experimentou a força do mistério que anuncia, a força do Evangelho, ele sente necessidade de deve partilhar isso com os irmãos. Aquele que experimentou os efeitos do mistério de “Cristo morto pelos nossos pecados” e “ressuscitado para a nossa justificação”, sente o imperativo interior para anunciar: “Anunciar o evangelho não é título de glória para mim; é, antes, necessidade que se me impõe. Ai de mim, se eu não anunciar o evangelho!” (1Cor 9,16). • O conteúdo desse anúncio interpela as pessoas, faz pressão sobre elas O anúncio deve ser entendido. A pessoa deve dar uma resposta. Não é um anúncio geral, mas muito concreto, que provoca as pessoas concretas: “Irmãos, o que devemos fazer?” (At 2,37); “Filipe anunciou-lhe a Boa Nova de Jesus [...]. Disse então o eunuco: Eis aqui a água. Que impede que eu seja batizado?” (cf. At 8,26-39). História de Lídia (At 16,13-15). A Boa Notícia de Jesus, o Evangelho, interpela as pessoas, faz pressão para receber resposta. Isso quer dizer, que o evangelho, com o seu conteúdo, faz chegar até a pessoa a proposta de “Cristo morto pelos nossos pecados” e “ressuscitado para a nossa justificação”. Essa proposta bate na porta do coração da pessoa, quer entrar na sua vida: “Em nome de Cristo exercemos a função de embaixadores e por nosso intermédio é Deus mesmo que vos exorta. Em nome de Cristo suplicamo-vos: reconciliai-vos com Deus” (2Cor 5,20); “Eis que estou à porta e bato: se alguém ouvir a minha voz a abrir a porta, entrarei em sua casa [...]” (Ap 3,20). O anúncio do Evangelho chega à porta do coração da pessoa concreta e ela começa a ter consciência disso. Mas, o anúncio por si mesmo não basta. Dentro desse anúncio existe uma força misteriosa que à pessoa concreta faz perceber e compreender o conteúdo que é apresentado. É a força do Espírito Santo. É o conteúdo trazido pelo Espírito Santo que interpela a pessoa e não o discurso humano: “Minha palavra e minha pregação nada tinham de persuasiva linguagem de sabedoria, mas eram uma demonstração de Espírito e poder” (1Cor 2,4). O discurso humano não basta; é o Espírito Santo que causa a interpelação: “Mas o Paráclito, o Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, vos ensinará tudo e vos recordará tudo o
  • 6. queevos disse” (Jo 14,26); “Quando vier o Espírito da Verdade, ele vos conduzirá à verdade plena, pois não falará de si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará as coisas futuras. Ele me glorificará porque receberá do que é meu e vos anunciará” (Jo 16,13-14). Anúncio é feito através do instrumento humano, mas o protagonista verdadeiro não é o homem, mas Deus e o seu Espírito. • A pessoa a quem é endereçado o anúncio do Evangelho deve fazer uma escolha: "sim" ou "não", conversão ou dureza de coração A interpelação exige a resposta que se traduz na prática de vida. A resposta pode ser positiva: “Acolhendo-os, então, naquela mesma hora da noite lavou-lhes as feridas, e imediatamente recebeu o batismo, ele e todos os seus” (At 16,33) ou negativa: “Ao ouvirem falar da ressurreição dos mortos, alguns começaram a zombar, enquanto outros diziam a respeito disso te ouviremos outra vez” (cf. At 17,16-34). Quando acontece essa interpelação da pessoa? Quando ela está diante da escolha fundamental que deve fazer na sua vida: viver para si mesma ou viver para os outros. A escolha se traduz na prática da vida. Quando alguém escolhe, decide viver para os outros, ele acolheu a interpelação do Espírito. A pessoa que aceitou o evangelho não pode mais viver para si mesma. Sua vida torna-se um serviço, uma doação, uma entrega aos irmãos. Mas, se alguém não coloca a própria vida a serviço dos outros e vive, egoisticamente para si mesmo, não aceitou ainda o anúncio, o evangelho. Mas, esse dilema: viver para si ou viver para os outros é algo constante na nossa vida. A cada momento estamos diante das escolhas que precisam ser feitas; a interpelação acontece constantemente. O Evangelho precisa ser acolhido sempre de novo. • Do "sim" ou do "não" dado ao anúncio do Evangelho depende o desenvolvimento da pessoa, de maneira positiva ou negativa Nos textos paulinos percebemos que se a resposta que a pessoa dá ao Evangelho for "sim", se desencadeia o movimento positivo na pessoa. Mas, se a resposta for "não", ao contrário, a pessoa se fecha no próprio egoísmo. Quais são os efeitos do "sim" ou do "não" dado ao anúncio do Evangelho na vida da pessoa? O dinamismo, no sentido positivo, é a escolha do espírito: viver segundo o espírito. O efeito dessa escolha é a vida eterna: “Portanto, não existe mais a condenação para aqueles que estão em Cristo Jesus. A Lei do Espírito da vida em Cristo Jesus te libertou da lei do pecado e da morte” (Rm 8,1-2); “Com efeito, os que vivem segundo o espírito desejam as coisas que são do espírito. [...] O desejo do espírito é a vida e a paz” (Rm 8,5-6); “O que o homem semear, isso colherá: [...] quem semear no espírito, do espírito colherá a vida eterna.” (Rm 6,7-8). O que significa viver segundo o Espírito? Em Rm 8 e em Gl 5,22-23, Paulo nos dá resposta: “O fruto do Espírito é amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, autodomínio”. A pessoa que se abre ao Espírito é alguém totalmente realizado, porque corresponde ao Projeto de Deus. Mas, a pessoa pode fazer também do egoísmo o centro de sua vida, o seu absoluto. Ela pode viver segundo a carne, na linguagem de Paulo. O dinamismo, no sentido negativo, é a escolha da carne, viver segundo a carne. O efeito dessa escolha é a morte, pecado, condenação, fracasso total: “Pois se viverdes segundo a carne, morrereis” (Rm 8,13); “O que o homem semear, isso colherá: quem semear na sua carne, da carne colherá corrupção [...]” (Rm 6,7-8). O que significa viver segundo a carne? Paulo nos dá a seguinte resposta: “Ora, as obras da carne são manifestas: fornicação, impureza, libertinagem, idolatria, feitiçaria, ódio, rixas, ciúmes, ira, discussões, discórdia, divisões, invejas, bebedeiras, orgias e coisas semelhantes a estas” (Gl 5,19-21).
  • 7. A pessoa que se fecha no egoísmo e não acolhe o Evangelho é alguém totalmente falido, fracassado. Para Paulo, a morte é uma pessoa totalmente incapaz de amar, totalmente vazia. Isso é o inferno da pessoa. Abrir-se a Deus ou fechar-se no egoísmo, esta é a alternativa que se coloca, constantemente, diante de cada pessoa. A escolha tem suas conseqüências. Da aceitação do evangelho depende a realização plena ou o fracasso total. Somente aceitando plenamente o evangelho, isto é, fazer da vida uma doação aos outros, é que começa o dinamismo positivo que leva à realização plena da pessoa. 3.2. Cristificação, vida em profunda união com Cristo, como expressão plena da conversão Cristo entra na vida da pessoa através do batismo. No batismo o cristão recebe o dom do Espírito Santo e torna-se sede, morada do Espírito Santo que, pouco a pouco, imprime nele os traços de Cristo:”Não sabeis que sois templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?” (1Cor 3,16); “Ou não sabeis que o vosso corpo é templo do Espírito Santo, que está em vós e que recebestes de Deus?” (6,19). Cristo “morto pelos nossos pecados” e “ressuscitado para a nossa justificação” entra em todos os detalhes da vida da pessoa, através do seu Espírito. Trata-se da cristificação da pessoa, vida em profunda união com Cristo: “Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20); “[...] meus filhos, por quem sofro de novo as dores do parto, até que Cristo seja formado em vós” (Gl 4,19). O Espírito Santo está continuamente presente na vida da pessoa, depois do batismo. Rm 14,23: "Tudo o que não procede da fé é pecado". O que quer dizer isso? Estamos no âmbito da consciência. Neste sentido, agir contra a consciência é cometer pecado. Fé significa abertura a Cristo morto e ressuscitado que penetra e enriquece todos os aspectos da vida da pessoa. Se alguém exclui algum setor, algum aspecto de sua vida da influência de Cristo está pecando. O que está excluído da influência de Cristo está morto. Na vida do cristão, a abertura a Cristo deve ser total. Isto quer dizer que essa abertura deve atinge todos os campos, todos os aspectos da vida. O Espírito Santo age na vida da pessoa, mas o cristão deve acolhê-lo. Como acontece a cristificação da vida do cristão? Acontece gradualmente; é um processo, até a cristificação plena, definitiva, até que Cristo seja formado em nós. É o acolhimento contínuo de Cristo que torna-se um valor pessoal, em todos os campos da vida da pessoa. Esta cristificação contínua, interior do cristão é obra do Espírito Santo. Os valores de Cristo entram em todos os aspectos da vida do cristão. Se isso não acontece, temos uma caricatura da pessoa. Gl 2,20: "Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim. Minha vida presente na carne, eu a vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou a si mesmo por mim". "Vivo" = uma vida normal, a vida humana, carnal, física. Esta vida se vive pela fé em Cristo que "me amou e se entregou a si mesmo por mim". Cristo morto e ressuscitado "por mim" - personalização. Percebemos neste texto a relação interpessoal entre Paulo e Cristo. Cada dia, em todos os setores da vida, existe essa influência de Cristo, uma relação de reciprocidade. "É Cristo que vive em mim": a abertura a Cristo que se realiza cada dia leva à assimilação de Cristo, de suas atitudes, suas opções, seu modo de viver, de se relacionar, até que Cristo seja formado em nós. É uma união sem limites. A fé entra em todos os aspectos da vida. Este é o ideal cristão para Paulo. Fl 1,21: "Para mim o viver é Cristo e o morrer é lucro". Para Paulo, toda a vida é Cristo, a relação plena, íntima com Cristo, sem excluir nada. A morte é lucro porque esta é a meta escatológica; depois da morte o nível de reciprocidade será muito mais alto do que durante a vida. O viver é Cristo: a reciprocidade entre Paulo e Cristo é total. Mas, esse processo de cristificação traz também problemas, tensões e cansaço. Fl 3,8-11: "Tudo considero perda, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor. Por ele, perdi tudo e tudo tenho como esterco, para ganhar a Cristo e ser achado nele,
  • 8. não tendo como minha justiça aquela que vem da Lei, mas aquela pela fé em Cristo, aquela que vem de Deus e se apóia na fé, para conhecê-lo, conhecer o poder da sua ressurreição e a participação nos seus sofrimentos, conformando-me com ele na sua morte, para ver se alcanço a ressurreição de entre os mortos". O desejo de Paulo é conhecer Cristo e a força da sua ressurreição e a participação nos seus sofrimentos. Escolher Cristo, a relação com Cristo, o conhecimento sempre mais profundo - em detalhes - de Cristo, isso tudo implica sentir a força de Cristo, mas também partilhar a cruz de Cristo, com o sofrimento e a dor. A fé uma vez aceita deve ser praticada cada dia. Trata-se de um processo, de uma caminhada. Para Paulo, Cristo é muito concreto. Os valores de Cristo devem ser vividos na vida de cada dia. A interrelação, o progresso vão se realizando e aprofundando continuamente. O amor para com Cristo se estreitam sempre mais. Rm 8,35-37: "Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação, a angústia, a perseguição, a fome, a nudez, os perigos, a espada? [...] Mas em tudo isto somos mais que vencedores, graças àquele que nos amou". Paulo fala da sua experiência pessoal. Ele vivenciou todas essas realidades. Mas, por causa dessa reciprocidade profunda que existia entre ele e Cristo, nada o foi capaz de separar do amor de Cristo A fé é um caminho. 4. A conversão pastoral e estrutural no Documento de Aparecida Sem conversão não há discípulo e sem discípulo não há missão e, em não havendo missão: “Jesus Cristo não é encontrado, seguido, amado, adorado e anunciado” (DA 14). Por isso a Igreja é convidada a estar em estado permanente de conversão, que é a atitude do discípulo missionário que realmente encontrou o Senhor. Ao lado da conversão pessoal, o Documento de Aparecida fala também da conversão pastoral; esta talvez seja tão importante para a missão como é a conversão pessoal. Converter-se pastoralmente significa “sair de uma pastoral de mera conservação para uma pastoral decididamente missionária”(DAp 370). A Assembleia de Aparecida diz categoricamente que “Bispos, presbíteros, diáconos permanentes, consagrados e consagradas, leigos e leigas, são chamados a assumir atitudes permanentes de conversão pastoral” (DAp 366). Em nossa tradicional pastoral de conservação, há um escasso acompanhamento aos leigos em suas tarefas de serviço à sociedade, bem como uma evangelização com pouco ardor e sem novos métodos e expressões, com ênfase no ritualismo. Muitos católicos vivem e morrem sem assistência da Igreja. Falta uma sólida estrutura de formação dos agentes de pastoral. Há movimentos eclesiais que nem sempre se integram na pastoral paroquial e diocesana. Conversão pastoral é também ter a coragem de abandonar “as ultrapassadas estruturas que já não favorecem a transmissão da fé” (DAp 365), deixando o Espírito Santo soprar o seu vento renovador que “implique reformas espirituais, pastorais e também institucionais” (DAp 367), pois a Igreja no dizer do Concílio Vaticano II “é chamada por Cristo a uma reforma perene” (UR 777). Sempre reformar para poder seguir em frente. É preciso que pastores e fiéis se questionem continuamente a respeito de métodos, costumes e atitudes pastorais ultrapassadas e anacrônicas que mais afastam as pessoas de Cristo do que levam a Ele. A mensagem central de Aparecida é que, tudo deve estar aberto e levar a missão, o que foge a isso deve ser abandonado. Impregnar do Espírito missionário “todas as estruturas eclesiais e todos os planos de pastorais de dioceses, paróquias, comunidades religiosas, movimentos e instituições da Igreja” (DAp 365), é sinônimo de conversão pastoral, pois, às vezes nossas estruturas de Igreja, nossos métodos de trabalhos pastorais, nossas igrejas cheias, nos dão a falsa sensação de que tudo está indo bem, de que nada é preciso fazer e mudar, mas “na verdade a fé vai se desgastando e degenerando em mesquinhez” – “no pragmatismo da vida cotidiana da Igreja” (DAp 12). Diante dos tempos difíceis em que vivemos não custa lembrar um pouco de história, quando a Igreja se acomodou e não procurou ler os sinais dos tempos, vindo a sofrer sérios abalos que
  • 9. redundaram na perca de inúmeros de seus fiéis. Assim a Igreja de hoje também “necessita de forte comoção que a impeça de se instalar na comodidade, no estancamento e na indiferença” (DAp 362). É preciso, portanto, ouvir o que o Espírito Santo disse a nossos bispos em Aparecida e ter a coragem de mudar o que tem que ser mudado, para que nas atuais circunstâncias do mundo, Cristo seja anunciado como a grande solução para as pessoas e nações porque “sem Cristo não há luz, não há esperança, não há amor, não há futuro” (DAp 146). O mundo mudou e novos desafios exigem novas respostas pastorais. Por isso uma conversão pastoral vai implicar em: • Assumir os novos rostos da pobreza. A conversão pastoral começa pelo compromisso com os novos rostos da pobreza (cf. DAp 402). Entre tantos outros, há alguns rostos sofredores, de “pobres descartáveis” que doem em nós: os que vivem na rua, os migrantes, os doentes, os dependentes de drogas e os presidiários; • Uma Pastoral Social estruturada, orgânica e integral. A promoção humana deve ser integral, isto é, precisa abarcar a pessoa inteira e todas as pessoas, fazendo-as sujeito de seu próprio desenvolvimento (cf. DAp 399) (cf. DAp 401); • Uma renovada pastoral urbana. Para uma conversão pastoral, faz-se necessário, também, um estilo de ação adequado à realidade urbana em sua linguagem, estruturas, práticas e horários; uma ação eclesial, orgânica e articulada, que incida sobre a cidade, em seu conjunto; estratégias para chegar aos condomínios fechados, prédios residenciais e favelas; uma maior presença nos centros de decisão da cidade, tanto nas estruturas administrativas como nas organizações comunitárias (cf. DAp 518). Aparecida nos convoca também a uma renovação eclesial, renovação da própria instituição, conversão estrutural. A renovação eclesial, que envolve reformas espirituais, pastorais e também institucionais (cf. DAp 367). • Renovar a paróquia. Ela é célula viva da Igreja, mas faz-se necessário uma vigorosa renovação da mesma, a fim de que seja, de fato: espaço de iniciação cristã, educação e celebração da fé, aberta à diversidade dos carismas, serviços e ministérios; organizada de maneira comunitária e responsável; integradora de movimentos; aberta à diversidade cultural e a projetos pastorais supra-paroquiais e das realidades circundantes (170). A renovação das paróquias exige reformular suas estruturas, para que sejam redes de comunidades e grupos (cf. DAp 173). • Criar comunidades eclesiais de base. Levando-se em consideração as dimensões de nossas paróquias, é aconselhável a setorização das mesmas em unidades territoriais menores, com equipes próprias de animação e coordenação, que permitam uma maior proximidade às pessoas e grupos que vivem na região. E mais, que os agentes missionários promovam a criação de comunidades de famílias, que coloquem em comum sua fé e as respostas aos seus próprios problemas (cf. DAp 372) (cf. DAp 179). • O protagonismo das mulheres. Impulsionar uma organização pastoral que promova o protagonismo das mulheres e garanta a efetiva presença da mulher nos ministérios, assim como nas esferas de planejamento e decisão (458). É necessário na América Latina, como disse o Papa, superar uma mentalidade machista, que ignora a novidade do cristianismo, que reconhece e proclama a “igual dignidade e responsabilidade da mulher em relação ao homem” (cf. DAp 453) (cf. DAp 454). • Uma ação pastoral pensada. A renovação eclesial passa também pelo esforço de uma ação pastoral pensada, a partir das pequenas comunidades, passando pelas paróquias e desembocando em uma pastoral de conjunto diocesana. O plano pastoral diocesano deve ser uma resposta consciente e eficaz, para atender às exigências do mundo de hoje. Os leigos precisam participar do discernimento, da tomada de decisões, do planejamento e da execução (cf. DAp 371).
  • 10. A presença nos novos espaços. É preciso continuar semeando os valores evangélicos nos ambientes onde se faz cultura e nos novos lugares: o mundo das comunicações, da cultura, das ciências e das relações internacionais (cf. DAp 491). 5. Conclusão O encontro pessoal com Jesus Cristo pode levar à conversão e no mesmo tempo ao seguimento em uma comunidade eclesial. Cuidar a própria vida na vivência com Cristo provoca a santificação da pessoa e também a comunidade da Igreja. Por isso, a conversão, comunhão e a missão estão profundamente unidas entre si. Tendo em vista a Trindade, como modelo da comunhão, somos chamados a viver em comunhão. O Documento de Aparecida nos exorta para fazer das nossas comunidades paroquiais “uma casa e escola de comunhão” (DAp 188).