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28 Anos
Da promoção humana à luta por direitos
Cáritas Brasileira
Regional Nordeste 3
Esta é uma publicação comemorativa da Cáritas Brasileira Regional
Nordeste 3 dos seus 28 anos de caminhada, comprometidos com a
missão de “testemunhar e anunciar o Evangelho de Jesus Cristo,
defendendo e promovendo a vida e participando da construção
solidária de uma sociedade justa, igualitária e plural, junto com as
pessoas em situação de exclusão social”, agosto de 2016.
Bispo Referencial da Cáritas Regional Nordeste 3
Dom João Costa
Coordenação Colegiada da Cáritas Regional Nordeste 3
Cátia Cardoso (Secretária Regional)
Josilene Passos (Assessora Regional)
Alan Lusttosa (Assessor Regional)
Conselho Consultivo da Cáritas Regional Nordeste 3
Otilia Balio Fava – Ruy Barbosa (BA), José Edinaldo da Silva – Estância (SE), Magnólia Vitória dos
Santos – Estância (SE), Jorge Gonçalves de Oliveira – Serrinha (BA), Raimundo de Jesus Santos –
Amargosa (BA) e Ana Tibúrcio – Vitória da Conquista (BA)
Cáritas Brasileira Regional Nordeste 3
Rua Emília Couto, 270B – Brotas
40285-030 – Salvador (BA)
Telefone: +55 (71) 3357-1667
caritasne3@caritas.org.br
www.ne3.caritas.org.br
Expediente
Jornalista responsável: Marilda Ferri – DRT 1948
Redação: Amanda Santos, Darci Moraes, Josilene Passos, Marcos Fabrício Oliveira, Marilda Ferri
Fotos: Allan Lusttosa e acervo da Cáritas Regional Nordeste 3
Revisão: Vanice Araújo l arteemmovimento.org
Projeto gráfico e diagramação: arteemmovimento.org
Impressão:
Equipe
Adriana Pales Santos, Alan Alves Lustosa, Alexsandro Siqueira do Nascimento, Amanda dos Santos
Silva, Candice Ferreira de Araújo, Cátia Maria M. Cardoso, Clêusa Alves da Silva, Ester Borges dos
Santos, Eudes Ferreira Araújo, Gabriel Carneiro Reis, Iasmin Santana Barros, Josilene Nascimento
Passos, Lourival Silva de Jesus, Maíra Barbosa da Silva, Marcus Fabrício G. Oliveira, Patrício Cardozo
dos S. Filho, Rodrigo Araújo da Silva, Sílvia Regina Nascimento Santos, Diogo Oliveira Simas da
Silva, Maurício Silva Araújo, Paula de Oliveira Rios.
Sumário
1
Fé na estrada
Um serviço de amor e por amor
Nosso chão
Constante processo de conversão
Caminhar junto com o povo
Momento novo
Presença solidária
Coragem e ousadia
A força dos novos
Unindo o cordão
Sozinho, isolado, ninguém é capaz
Outras palavras
Entre na roda com a gente
2
3
4
6
9
12
13
14
16
19
22
24
34
Fé na estrada
2
Como podemos ser felizes vendo tanta miséria e tantas injustiças? Frei Beto nos sinaliza um caminho:
não somatizar essas infelicidades, opressões e injustiças e empenhar a vida na direção de mudar esse
estado de coisas. Quando celebramos o aniversário de 28 anos da Cáritas Brasileira Regional
Nordeste 3, vislumbramos que nossos agentes já fazem esse exercício há quase três décadas. São
centenas de mulheres, homens, jovens, trabalhadores, pescadoras, quilombolas, agricultoras,
catadores, povo de rua, crianças e adolescentes que dedicam sua vida em função de um mundo onde
as condições espirituais, culturais, ambientais, sociais e políticas possibilitem a felicidade como
direito de todos e todas. A Cáritas é uma rede que acredita que a felicidade anda de mãos dadas com
a solidariedade e com o bem comum.
Neste momento, estamos conectados com toda a Rede Cáritas Brasileira, fazendo o caminho de
reflexão e celebração. Em novembro, nos reuniremos no santuário de Nossa Senhora Aparecida para,
junto com “Mariama”, celebrar os 60 anos de presença da Cáritas no Brasil. É período de jubileu, é
tempo de colher os frutos semeados no semiárido, no cerrado e no litoral; é tempo de ver brotar o
protagonismo das populações que lutam por Economia Solidária e por uma agricultura agroecológica;
celebrarmos os plebiscitos populares, as leis de iniciativa popular, os tribunais populares do judiciário
e o exercício cidadão do nosso povo, que acredita na democracia e que assume a tarefa de construir
um novo mundo possível hoje e agora.
Quando nos desafiamos a produzir uma revista dos 28 anos da Cáritas Brasileira Regional NE 3,
pensamos na importância de fazer memória, de olhar o caminho percorrido e de lançar mão daquilo
em que acreditamos como referência metodológica: construir conhecimento a partir dos saberes
coletivamente acumulados e solidariamente compartilhados num movimento de ver, julgar, agir e
celebrar que nos orienta e nos conduz em nosso fazer cotidiano.
Provavelmente poucos dos que estão hoje assumindo a missão da Cáritas no nosso Regional iniciaram
esse caminhar há 28 anos, mas isso não faz nenhuma diferença, porque essa obra não tem autor
específico e não se finda. Ela segue sempre em construção e conta com a inspiração do evangelho e
a capacidade de sonhar de cada agente Cáritas que atua no seu tempo, no seu território e com sua
fé. Não podemos nos esquecer de que o ser humano, certamente, tem tanta necessidade de sonho
quanto de realidade. E o nosso sonho alimenta a esperança de que podemos, um dia, transformar o
mundo da competitividade que vivenciamos num mundo da solidariedade que profeticamente Jesus
nos deixou como legado.
Para todas e todos uma saborosa e instigante leitura!
Cátia Cardoso
Secretária Regional
“Eu vim para que todos tenham a vida, para
que tenham em abundância”.
Evangelho de João 10,10
Um serviço de amor
e por amor
3
A Cáritas é uma obra daquelas que são construídas por diversas mãos, porém uma é a mão central,
a de Jesus Cristo, que fortalece e impulsiona as ações dessa entidade internacional de imensa
projeção em defesa dos mais fracos. Aqui, nesta porção de terra, baiana e sergipana, a Cáritas tem
feito um bem enorme a tantas vidas sofridas e marcadas pela exclusão social.
São 28 anos em nosso Regional Nordeste 3 de uma presença atuante, muitas vezes silenciosa, porém
eficaz, na defesa de políticas públicas que priorizem a promoção da pessoa humana, desde crianças,
adolescentes e jovens até os adultos.
A Cáritas surgiu com o propósito de estender as mãos, de servir ao outro, tomando como exemplo o
próprio Cristo: “não vim para ser servido, mas para servir”. É essa força impulsionadora que, em
nome da Igreja, chega aos rincões com a palavra viva de Cristo no gesto concreto que alimenta e
ajuda os assistidos a saber plantar e colher.
É um fermento na massa que faz expandir bons frutos, que dá o peixe, mas ensina a pescar. É a voz
para tantos que não conseguem, por suas próprias forças, gritar. E faz ecoar nos ouvidos dos poderes
constituídos o som de socorro dos desvalidos e esquecidos da sociedade.
É mais do que uma obra social. É a força de Cristo, através de centenas de agentes Cáritas,
voluntários e não voluntários, que abraçam a causa da caridade ensinada pelo apóstolo São Paulo,
que tão sabiamente nos transmitiu e expandiu os ensinamentos de Jesus: “Ainda que eu falasse as
línguas dos homens e dos anjos, se não tiver caridade, sou como o bronze que soa, ou como o
címbalo que retine”. (1 Coríntios 13:1).
Esta é a entidade que abraça todos, não enxerga rótulos, não exclui ninguém, sejam católicos e não
católicos, sejam crentes e não crentes. Onde quer que esteja presente e dê para seus braços alcançar,
a Cáritas é este sol que brilha em todas as direções e não se exime de edificar e defender o progresso.
No rumo de um desenvolvimento sustentável em que o progresso, o meio ambiente e o homem devem
viver em harmonia no presente para um futuro melhor para todos.
Entendendo tudo isso da Cáritas, não podemos deixar de louvar a Deus por esse projeto de amor e por
amor, e de agradecer, imensamente, a cada um e cada uma das pessoas que fazem a Cáritas, que vivem
a Cáritas, em cada Diocese deste nosso Regional Nordeste 3 da CNBB, dos estados da Bahia e Sergipe.
Que o bom Deus, através do manto sagrado de Nossa Senhora, cubra cada pessoa que faz parte
dessa entidade. E que a Cáritas possa continuar sua missão, protegendo, zelando e levando o
evangelho vivo a cada pessoa que precisar.
Parabéns! Com a bênção de pastor,
Dom João José Costa
Arcebispo Coadjutor de Aracaju e
Presidente da Cáritas Nacional
“Porque o Filho do homem não veio para ser
servido, mas para servir e dar a sua vida em
redenção por muitos."
MC 10,45
4
Bahia e Sergipe são os dois estados que abrigam o Regional Nordeste 3 (NE 3) da Cáritas Brasileira.
Nessas duas porções do território nacional, convive e dialoga uma infinidade de povos com histórias,
culturas, espiritualidades e lutas. Cada um à sua maneira, com suas particularidades, acolhe as ações
da Cáritas, junto ao povo, por caminhos que garantam a qualidade de vida.
A Bahia tem uma área territorial de 564.733 km², onde habitam pouco mais de 15 milhões de
habitantes, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2014 (IBGE). Sergipe
possui uma área de 21.918,454 km² e tem 2.242.937 habitantes (IBGE, 2014).
Nos dois estados, o modelo de desenvolvimento é marcado pela concentração das riquezas,
investimento em grandes projetos do capital, como monoculturas, agronegócio e exploração mineral,
em oposição aos interesses dos agricultores familiares, dos povos tradicionais e indígenas.
Cada estado a seu modo apresenta uma cultura marcante e plural, caracterizada por uma confluência
de gêneros de vida europeus, africanos e indígenas, constituindo um mosaico étnico e cultural
importante do patrimônio imaterial do Brasil, abrigado em uma diversidade de biomas: Caatinga,
Cerrado e Mata Atlântica.
No Cerrado, as pequenas árvores de troncos torcidos e recurvados e de folhas grossas, esparsas, em
meio a uma vegetação rala e rasteira, misturam-se com campos limpos ou matas de árvores não
muito altas. A Caatinga atravessa o sertão como uma floresta de árvores pequenas e retorcidas, ora
como formação arbustiva, ora como uma escassa vegetação rasteira. E a Mata Atlântica, com sua
densa e exuberante floresta, é rica em biodiversidade, com presença de diversas espécies de animais
e vegetais.
Nosso chão
“Tem massa de mandioca, batata assada,
tem ovo cru, banana, laranja, manga, batata,
doce, queijo e caju, cenoura, jabuticaba,
guiné, galinha, pato e peru, tem bode,
carneiro, porco, se duvidá... inté cururu...”
A Feira de Caruaru, Luiz Gonzaga
5
Para além da riqueza, importância e diversidade que cada bioma guarda, há uma característica
comum a todos: o processo de extinção em ritmo acelerado, desencadeado pelo modelo de
desenvolvimento agroexportador, alicerçado nos grandes projetos do capital, a exemplo do
monocultivo, agronegócio, mineração, entre outros.
Na contramão dessa história de exploração extensiva e perversa, há muitas tramas sendo
desenvolvidas, experimentadas e vivenciadas por jovens, mulheres, sertanejos, fundos de pasto,
ribeirinhos, pescadores e indígenas, que juntam suas forças e capacidades de luta na defesa dos seus
territórios e pela vida com dignidade.
É nesse chão, que tem homem e mulher, jovem e criança, negro e indígena, massa de aipim ou
macaxeira, laranja, banana, jabuticaba, guiné, galinha, bode, pequi, buriti, umbu, se duvidá... inté
cururu, que a Cáritas Regional NE 3 está assentada, evangelizando e sendo evangelizada, sendo
presença solidária na escuta, na caminhada, na alegria e na luta.
6
“Declaro promulgado o documento da liberdade, da democracia e da justiça social do Brasil.” Com
essa fala, o então deputado federal Ulysses Guimarães anunciou ao povo brasileiro a sua nova
Constituição, na tarde de 5 de outubro de 1988. O documento – marco simbólico do rompimento com
a Constituição de 1967, elaborada pela ditadura militar, que comandou o país de 1964 até 1985 –
é resultado de intensa agitação, pela mobilização de diversos setores da sociedade civil, alguns
setores da Igreja Católica, entre eles a Cáritas Brasileira, e os movimentos sociais que desejavam
influir decisivamente no processo de construção da nova democracia.
O Regional NE 3 nasce nessa conjuntura política. Um ambiente difícil, pautado por diversas forças,
que tinham a democracia como ponto comum, mas com diferenças sobre a forma de alcançá-la. Já
a Cáritas Nacional – que neste ano completa 60 anos –, foi criada em 1956, em um cenário também
muito difícil, com dois projetos de sociedade sendo claramente disputados. O capitalista, que vai se
consolidando, e o pensamento socialista, que avançava na América Latina e encontrava resistência
das forças dominantes.
O pastor Djalma Torres, da Igreja Batista de Nazareth, amigo e parceiro do Regional NE 3, lembra das
lutas desse período. “Para além da abertura política, estávamos lutando, desde os anos 1970, pela
revitalização da Igreja, pela criação de movimentos e instituições, como a Coordenadoria Ecumênica
de Serviço (CESE), o Centro Ecumênico de Documentação e Informação (CEDI) e o Conselho Nacional
de Igrejas Cristãs (CONIC). Aqui na Bahia, participamos da criação do Comitê de Solidariedade aos
Povos da América Latina e Caribe (COSPAC), do Comitê de Solidariedade a Cuba e do engajamento
na Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos. Desenvolvemos um programa de apoio a presos
políticos e às suas famílias e um trabalho de acolhida a pessoas expulsas de igrejas e da sociedade”,
comenta o pastor.
Constante processo
de conversão
“É graça divina começar bem. Graça maior
persistir na caminhada certa.
Mas graça das graças é não desistir nunca.”
Dom Helder Câmara
A Cáritas Nacional surge numa vertente mais assistencialista, com os objetivos de
“articular, em plano nacional, todas as obras sociais católicas ou de inspiração
católica; e planejar, executar e fiscalizar a distribuição de donativos do povo
norte-americano ao povo brasileiro, através da Conferência Nacional dos Bispos do
Brasil (CNBB)”, conforme documentos oficiais.
O Regional NE 3 surge em outro momento. “Eram tempos de investimento em ações
de promoção humana através dos cursos de formação para o trabalho, da
organização de grupos comunitários populares, já ali lançando as primeiras
sementes para o que hoje vem a ser a Economia Popular Solidária e as finanças solidárias”, observa
Cátia Cardoso, Secretária Regional NE 3. Nesse tempo já há um tímido começo da função dos fundos
rotativos, uma semente plantada pelas várias Cáritas Diocesanas do Regional, como Ruy Barbosa, que
tem mais de 50 anos; e a Cáritas Diocesana de Amargosa, que celebra meio século em 2016.
O Regional NE 3 se alicerça nessas experiências e metodologias desenvolvidas pelas Cáritas
Arqui(Diocesanas) da Bahia e Sergipe e inicia a sua caminhada com ações voltadas para o trabalho
de formação comunitária, incorporando elementos da educação popular, do “ver, julgar, agir” e
transformar, tendo como primeiro secretário regional padre Nelson Luiz da Franca, seguido de Daniel
Carvalho.
A dinâmica social, política e econômica foi apontando novos caminhos de atuação. Após 17 anos, o
Regional inaugura a sua gestão colegiada, tendo como Secretário Regional padre Eliomar Gomes,
seguido de Cleusa Alves, e aos poucos vai superando a perspectiva de promoção humana, se
debruçando para a dimensão da luta por direitos; do desenvolvimento sustentável, solidário e
territorial. A metodologia da Economia Popular Solidária vai ganhando força com a experiência dos
Projetos Alternativos Comunitários (PACs), se constituindo como subsídio importante para todo o
acúmulo em torno da questão dos fundos rotativos solidários – FRS, da qualificação do debate em
torno do tema, da organização social, da construção do Fórum de Economia Solidária, e da
constituição do Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional.
O âmbito das políticas públicas, da incidência, também são destaque da metodologia do Regional NE
3, e expressa a fase do “pescar junto”, de ratificar que não são as instituições que detêm
conhecimento e passam para os grupos acompanhados, para as comunidades e agentes, mas que há
um conhecimento produzido por todos e que essa troca de saberes vai construindo tecnologias sociais
e metodologias populares. E ainda da necessidade de um trabalho articulado envolvendo
organizações e movimentos sociais e populares, sociedade civil e poder público. A experiência da
Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), uma rede de organizações sociais que a Cáritas integra, e que
defende, propaga e põe em prática, inclusive através de políticas públicas, o projeto político da
convivência com o semiárido, é um exemplo disso.
7
8
Nessa mesma linha, a experiência da Articulação de Políticas Públicas da Bahia (APP), um coletivo
de organizações sociais, do qual o Regional NE 3 participa, se notabiliza animando o processo de
controle social sobre a gestão pública, a exemplo da campanha Quem Não Deve Não Teme (2005 a
2010) e Tribunal Popular do Judiciário (2011 a 2012), entre outras.
Passados 28 anos, o Regional está consolidado, mas em constante aprendizado, tendo como diretriz
geral o compromisso com a construção do Desenvolvimento Solidário Sustentável e Territorial, na
perspectiva de um projeto popular de sociedade democrática. E, como prioridades estratégicas, a
promoção e fortalecimento de iniciativas locais e territoriais de desenvolvimento solidário e
sustentável; a defesa e promoção de direitos, mobilizações e controle social das políticas públicas; e
a organização e fortalecimento da Rede Cáritas.
Está inserido na Rede Cáritas Nacional, composto de 12 escritórios regionais e quatro articulações, o
NE 3, que reúne 17 entidades-membro, distribuídas entre os estados da Bahia e Sergipe, que
funcionam de forma autônoma junto às comunidades, numa perspectiva de estar junto, de ser
fermento, em um constante processo de conversão, como dizia o seu fundador, dom Helder Câmara.
A vida é luta. Volta e meia, as pessoas nas
comunidades trazem essa máxima, ora com
muita desesperança, ora como um sinal de que
estão na caminhada, firmes e fortes, prontas
para os enfrentamentos. É certo, como bem
lembra Josilene Passos, assessora do Regional
NE 3, que a luta “tem momentos marcados pela
apatia, cooptação de lideranças, descrenças,
falta de unidade e medos. Mas também há
conquistas e vitórias que não podem ser
esquecidas e animam a continuar em frente”.
Entre os altos e baixos das batalhas cotidianas, o
Regional NE 3 tem feito um esforço para estar
junto, nas trincheiras por um modelo de
desenvolvimento mais justo. E, para dar
concretude a essa presença solidária no meio do
povo, desenvolve e participa de projetos e ações.
Alguns deles são destaques nesta publicação.
O Grito dos(as) Excluídos(as), que acontece
anualmente no dia 7 de setembro em todo o
Brasil, é um espaço aberto a grupos, movimentos
e igrejas comprometidos com a causa dos
excluídos e excluídas, que a cada ano vem se
desenvolvendo como um processo articulado e
coletivo na tentativa de que seja
verdadeiramente ouvido o grito de excluídos e
excluídas da sociedade.
Desde que surgiu no Brasil no ano de 1995 até
hoje, o NE 3 é presença na animação, articulação
e participação no Grito dos(as) Excluídos(as).
Atualmente, tem articulado a participação de
representantes desse regional no Encontro
Nacional do Grito. E ainda é o regional que
promove o encontro de formação para os(as)
animadores(as) do Grito em nível regional ou
estadual. Ao longo desses anos, muitas
entidades-membro puxam, animam e/ou ajudam
na organização do Grito nas dioceses da Bahia e
de Sergipe.
Caminhar junto
com o povo
Transformar o
que não dá mais
“Quando dou comida aos pobres, me chamam de
santo. Quando pergunto porque eles são pobres,
chamam-me de comunista. Pobre não precisa só
de caridade, mas também de Justiça”.
Dom Helder Câmara
Caminhar junto com o povo 9
O Regional NE 3 da Cáritas é uma das organizações
que realizam, assim como toda a Rede, a
Semana Social Brasileira, iniciativa da
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
(CNBB), que convoca e anima as forças
populares e intelectuais a debater questões
sociopolíticas relevantes e traçar perspectivas
para o país, baseadas no Ensino Social da Igreja.
Até aqui, foram cinco edições de Semana Social
que contaram com a participação da Cáritas
Regional NE 3. Nos estados da Bahia e Sergipe,
lideranças religiosas, de pastoral, movimentos
sociais e organizações populares não pouparam
esforços para mobilizar e animar a sociedade a
discutir sobre questões importantes da realidade
sociopolítica e econômica do país e suas
consequências na vida de todos os brasileiros,
contribuindo para a compreensão e identificação
dos meios de democratização do Estado
brasileiro, numa perspectiva propositiva de
iniciativas transformadoras na construção do
bem viver.
Construir o bem
viver
A campanha da Área de Livre Comércio das
Américas (ALCA) foi mais uma que contou com
ampla participação do Regional NE 3. De olho
nos riscos que uma área de livre comércio, com a
eliminação de barreiras alfandegárias, poderia
causar para a economia dos países periféricos,
entre eles o Brasil, a campanha botou o bloco na
rua. Teatro, jogral, cartazes, cantos se somaram a
outros recursos metodológicos, fazendo chegar a
todas as camadas da população informações
sobre esse projeto e suas consequências. A
mobilização popular foi exitosa, colocando, desde
2005, quando ocorreu a última Cúpula das
Américas, o projeto na geladeira. “Foi um trabalho
gigante nesse Regional. Conseguimos mobilizar
12 mil militantes e coletamos um milhão de
assinaturas, com a participação, claro, de vários
movimentos e organizações. Mas a rede ligada à
Igreja, as Pastorais Sociais, não só a Cáritas, foi
muito importante”, testemunha Cátia Cardoso.
Essa ação animou o trabalho dos outros plebiscitos,
como o da dívida externa, da Vale do Rio Doce.
“Foram momentos importantes, educativos, que
permitiram que a população discutisse temas que
antes estavam só no meio da universidade, da
intelectualidade”, completa a secretária.
Um milhão de
assinaturas
Caminhar junto com o povo10
O Tribunal Popular do Judiciário foi outra ação
desenvolvida pela APP em vista de uma reflexão
profunda sobre o papel e atuação do Poder
Judiciário baiano. A motivação dessa iniciativa
deve-se a uma “histórica situação de negação e
violação dos Direitos Humanos no Estado, sem
que as instituições que compõem a estrutura do
Poder Judiciário assumam efetivamente suas
responsabilidades constitucionais”, comenta
Cátia Cardoso, Secretária do Regional NE 3.
Como resultado concreto dessa inciativa, foram
sistematizados e denunciados 14 casos de
negação de direitos para organismos de controle
nacional e internacional de defesa dos Direitos
Humanos, apontando a responsabilidade do
Poder Judiciário baiano nos casos de negação e
violação de direitos.
É importante salientar que essa foi uma iniciativa
que se inspirou na experiência do Maranhão,
com o objetivo de promover a democratização do
sistema de justiça brasileiro.
A Articulação em Políticas Públicas do Estado da
Bahia (APP) foi mais que uma parceria,
representou a união de forças de movimentos,
pastorais, entidades e organizações da sociedade
civil em torno da causa comum: formulação,
elaboração, execução e controle de políticas
públicas.
Ela foi criada em 2001, reunindo pastorais e
organizações sociais que tinham ações no
âmbito da incidência em políticas públicas e
eram apoiados pela Misereor, agência de
cooperação alemã. Esse espaço permitiu trocas
de experiência, acompanhamento e fiscalização
das contas públicas, denúncias de casos de
abusos, omissões e conivências do Poder
Judiciário, criação de uma mentalidade e
cultura de participação política democrática e
popular na Bahia. “Participar de campanhas
como ‘Quem não deve não teme’; ‘Participação
Política’ e ‘Voto não tem preço, tem
consequência’ constituiu um marco na história
política baiana, em terras de coronéis, onde um
manda, muitos obedecem e não se atrevem a
desafiar”, enfatiza Josilene Passos.
As forças juntar
Caminhar junto com o povo 11
12
O projeto Reciclando Vidas promoveu mudanças significativas na vida dos catadores e catadoras,
oportunizando a saída da invisibilidade, através de formação política e orientação para formação de
cooperativa.
Desenvolvido pelo Regional NE 3, em parceria com as Cáritas Diocesanas de Barreiras e de
Amargosa, no período de 2009 a 2012, o projeto promoveu conquistas, inclusão, cidadania e
dignidade na vida de inúmeras pessoas nos municípios de Barreiras e Santo Antônio de Jesus.
“Costumamos dizer que a reciclagem não é só dos resíduos, mas, sobretudo, do modo de ver a vida,
possibilitando um momento novo”, sinaliza Josilene Passos.
Embora contabilize avanços, ainda há um caminho longo a ser percorrido pela sociedade brasileira e
pelo Estado, que ainda não se vê como elemento importante no processo de reciclagem, e não
conhece e/ou reconhece a Política dos Resíduos Sólidos e sua contribuição para a conservação do
meio ambiente.
Momento novo
“Mais que comum dos dias, olhei o mais
que pude os rostos dos pobres, gastos pela
fome, esmagados pelas humilhações, e neles
descobri teu rosto, Cristo Ressuscitado!”
Dom Helder Câmara
13
Presença solidária
Em 1989, o Regional NE 3 passa a atuar junto a pessoas infectadas pelo vírus do HIV/Aids, em
parceria com as Cáritas Diocesanas de Ilhéus, Vitória da Conquista, Barreiras, em parceria com o
Dignivida – Promoção da Vida Humana; Salvador e Feira de Santana, na Bahia; Aracaju, Estância e
Propriá, em Sergipe, através do Projeto Solidariedade e Esperança Aids (PSE/AIDS). A agente Maria
D’Ajuda Ferreira lembra que a iniciativa foi uma forma que o Regional encontrou de dar resposta à
epidemia, sendo presença solidária junto às famílias e às pessoas contaminadas.
O primeiro passo do trabalho foi conhecer as pessoas que contraíram o vírus. Iam aos hospitais e,
naquele momento, quando não havia ainda medicamentos apropriados para o enfrentamento da
doença, o quadro era muito difícil, com os pacientes já em estado terminal. “A gente fazia um trabalho
de acompanhamento e apoio, do hospital ao cemitério. Procurávamos orientar sobre os diretos à
aposentadoria e auxílio-doença. Levávamos para fazer exames em Salvador”, explica a agente.
Ao lado desse acompanhamento, as equipes diocesanas, com o apoio do Regional, passaram a atuar
na prevenção, promovendo encontros orientadores sobre as formas de contágio. “Íamos aos
estacionamentos dos caminhões conversar com as meninas que se prostituíam”, completa D’Ajuda.
O trabalho notabilizou-se, sendo reconhecido por órgãos públicos. Hoje, a atuação é pautada pela
orientação à prevenção. Apesar de o acesso e a evolução do tratamento levarem ao aumento da
sobrevida dos portadores do HIV/Aids, não se pode perder o medo e o cuidado, pois ainda se trata de
uma doença. “Os desafios continuam. Além do suposto controle, precisamos continuar orientando as
pessoas sobre as doenças sexualmente transmissíveis, entre elas o HIV/Aids”, chama a atenção
D’Ajuda.
“Há criaturas como a cana: mesmo postas
na moenda, esmagadas de todo, reduzidas a
bagaço, só sabem dar doçura.”
Dom Helder Câmara
14
Segundo dados de 2012 do governo federal, a cada 5 minutos uma mulher é agredida no país. Em
80% dos casos, o agressor é o marido, companheiro ou namorado. Recentemente, o caso de estupro
envolvendo uma jovem de 16 anos, abusada por pelo menos 30 homens, no Rio de Janeiro (RJ),
ganhou espaço na mídia nacional e internacional. A Lei Maria da Penha, de 2006, que prevê o
aumento de punição contra o agressor e agora foi classificada como crime de tortura, é um avanço,
mas ainda é insuficiente para inibir a prática desses crimes, restando às mulheres cada vez mais se
organizarem na luta pelos seus direitos.
A Cáritas repudia toda e qualquer forma de violência e se solidariza com as mulheres em suas lutas,
presente na história do cotidiano feminino. Foi assim nas reivindicações por direitos sociais, ao voto,
divórcio, educação, trabalho, liberdade sexual e mais recentemente contra a violência – que está em
um patamar insustentável – e por respeito aos direitos reprodutivos.
O Regional NE 3, apesar de não ter um projeto direcionado para o trabalho, nunca perdeu de vista
essa dimensão. Em todas as suas ações, a questão de gênero é um tema presente, na perspectiva do
empoderamento das mulheres. E são as próprias mulheres que vão dando a linha de como trabalhar,
através da atuação concreta em suas comunidades. No semiárido, é cada vez mais comum encontrar
as mulheres à frente dos processos de Economia Solidária, quintais produtivos e feiras agroecológicas,
ou seja, em ações que oportunizam geração de renda e autonomia.
O trabalho das mulheres da comunidade de Queimada Grande, em 2001, ilustra bem esse
crescimento da participação feminina em espaços de decisão. Localizada no município baiano de
Banzaê, a comunidade se intitulava Pau Ferro, após uma remoção devido a um conflito entre índios
Coragem e ousadia
“Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a
cada instante. Não por vaidade, mas para
corresponderes à obrigação sagrada de
contribuir sempre mais e sempre melhor,
para a construção do mundo.”
Dom Helder Câmara
15
e posseiros no qual os primeiros buscavam a retomada de suas terras. Os(as) trabalhadores(as) rurais
que viviam no povoado permaneceram, resistiram e, após o reconhecimento e a devolução da terra
para os índios kiriris, fundaram a comunidade de Queimada Grande, em 13 de setembro de 1997, a
3 km do seu território original.
Após uma retomada indígena, a comunidade removida ficou abrigada embaixo da lona, sem nenhuma
perspectiva. A partir de uma ação de Economia Solidária do Regional NE 3, o trabalho com as
mulheres foi sendo construído. Aos poucos, elas foram se empoderando e perceberam a possibilidade
não só de aumentar a renda, através do artesanato que produziam, mas de reconstruir a dignidade,
de pensar em um projeto de desenvolvimento para aquele novo território.
Dessa provocação surge toda uma forma organizativa, com a conquista de políticas públicas, com a
construção da escola, do posto médico, da fábrica de beneficiamento de castanha e da sede da
associação para produção do artesanato. “Hoje essas mulheres estão no mundo passando sua
experiência, intercambiando saberes que não se restringem ao crescimento da comunidade, mas
também à construção de novas formas de relacionamento com a família, que antes não via com bons
olhos a saída das mulheres para participação em encontros e feiras, e hoje entende a importância
desse protagonismo”, avalia Cátia Cardoso, Secretária Regional NE 3.
As conquistas dessas mulheres dão conta de um processo de crescimento não só delas, mas também
da própria Cáritas, que contribui e, se alimentando dessas experiências, se transforma também. Até
pouco tempo, não havia muitas mulheres nos espaços de gestão da instituição. Hoje, no entanto, há
um contínuo processo de equidade de gênero, com mais mulheres participando de todas as ações.
16
O cuidado com o ser, o sujeito, respeitando sua individualidade e coletividade, bem como a
contribuição para as conquistas e garantia dos seus direitos, numa construção coletiva e participativa
de todos e todas, é marca da metodologia da Cáritas. E isso se materializou, entre outras ações, no
trabalho com crianças e adolescentes, através do Programa de Defesa e Promoção dos Direitos da
Infância, Adolescência e Juventude (PIAJ).
Em 2003, a Cáritas Brasileira ampliou o trabalho desenvolvido com crianças e adolescentes incluindo
a juventude. A ação saiu da linha das emergências para a de direitos, passando a partir daí a ser o
PIAJ. Isso muda significativamente a orientação política, que passa a assumir o trabalho com o
caráter permanente e extensivo a todas as crianças e adolescentes em situação de exclusão e
vulnerabilidade.
Diante de tamanho desafio, o trabalho se desenvolveu com os grupos e entidades parceiras nas
dioceses. A partir do planejamento, eram promovidas formações em políticas públicas, orientando
crianças e adolescentes e seus responsáveis a ocupar os espaços democráticos, como fóruns e
conselhos de criança e adolescente. Essas iniciativas ampliavam o poder de decisão e visão de mundo
das crianças e adolescentes que integravam o programa, pois a autonomia era um princípio que
permeava o trabalho.
Assim, não só as ações mais locais iam ganhando força, como também as bandeiras estaduais e
nacionais, em relação aos direitos de crianças e adolescentes, passaram a entrar na agenda dos
grupos.
A força dos novos
“Tem pena, Senhor, tem carinho especial
com as pessoas muito lógicas, muito
práticas, muito realistas, que se irritam com
quem crê no cavalinho azul.”
Dom Helder Câmara
17
Em sua caminhada de 10 anos, o PIAJ acumulou momentos marcantes na vida de
todas e todos envolvidos, direta ou indiretamente. Entre eles, destacam-se os
encontros regionais que congregavam participantes do Programa da Bahia e
Sergipe; o projeto de participação política, no qual crianças e adolescentes, entre
7 e 12 anos, estudavam o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), em especial
o artigo 4º, indo a campo na sua comunidade para fotografar onde esses direitos
estavam garantidos ou violados; a campanha de participação política, que reuniu,
a partir de um coletivo, candidatos a prefeito para debater e se comprometer com
a juventude; concurso em escolas públicas sobre a temática da infância e
juventude; e o projeto Tecendo Redes de Enfrentamento ao Trabalho Infantil, com Ênfase na
Exploração Sexual Comercial e do Tráfico de Crianças e Adolescentes, com o envolvimento de
adolescentes, educadores e educadoras de escola pública e a rede de proteção à criança e ao
adolescente.
Para Darci Moraes, então assessora do PIAJ, “o trabalho contribuiu não só para mobilização em torno
do tema e articulação com diversos setores da sociedade, mas sobretudo para a reflexão crítica das
crianças, adolescentes e jovens sobre suas realidades, para a incidência política, e protagonismo das
lutas e reivindicações”, comenta.
Alexsandro Nascimento participou do PIAJ, pertencia ao coletivo Rede de Jovens do Nordeste e
lembra com carinho desse tempo. Ele credita boa parte da sua formação política aos momentos de
formação e participação oportunizados pelo Programa. “Eu e outros jovens fomos acolhidos e
encontramos nesse espaço a possibilidade de fortalecer as nossas reflexões sobre as questões que
envolviam a juventude”, afirma.
As ações desenvolvidas pelo PIAJ foram também fator de integração com a comunidade, fortalecendo
crianças, jovens e adolescentes a participar das decisões e da caminhada da comunidade. “Existe
uma concepção que permeia alguns adultos em relação à autonomia de crianças no que tange ao seu
pensar sobre a realidade que vivenciam. Em muitos casos, as crianças são entendidas apenas como
adultos em miniatura, ou que basta suprir suas necessidades básicas. A Cáritas entende as crianças
como sujeitos de direitos. Que pensa como criança, elabora sua realidade como criança e sabe decidir
o que quer”, afirma Darci Moraes.
As juventudes também são alvos de concepções equivocadas e geralmente responsabilizadas pelos
males que ocorrem na sociedade, estereotipadas como acomodadas, irresponsáveis. É recorrente a
afirmação de que a juventude de hoje não quer nada. “A Cáritas discorda completamente dessa
afirmação, pois testemunha concretamente articulações com jovens que sonham e lutam pela
construção do bem viver, mas que também são vítimas desse sistema capitalista excludente”, pontua
Amanda Santos, assessora do Regional.
Afirmada com a Política de Infância, Adolescência e Juventude que está em processo de construção,
a Cáritas reconhece as juventudes como sujeitos de direitos que têm faixa etária entre 15 e 29 anos
com variadas expressões: políticas, sociais, culturais, religiosas, urbanas, rurais, quilombolas,
indígenas, ribeirinhas, entre outras, e se empenha no fortalecimento dessas para a construção de seus
projetos de vida e consolidação do projeto popular de uma sociedade justa e solidária.
No cenário atual de retrocessos de direitos conquistados e de total desrespeito à jovem democracia,
é importante valorizar o fortalecimento institucional da Cáritas Brasileira em nível nacional e também
no Regional NE 3, no que se refere à atuação com juventudes, ocorrido desde 2003, com uma
articulação com a Rede de Jovens do Nordeste, Rede de Protagonismo Juvenil, além das pastorais de
juventudes (PJ, PJMP e PJR), Levante Popular da Juventude, Juventude da Teia dos Povos e
organizações que atuam com juventudes na Bahia, como Comunicação Interativa (CIPÓ), Centro de
Educação e Cultura Popular (CECUP), Assessoria ao Movimento Popular de Salvador (ISPAC). Isso
tem possibilitado processos formativos em políticas públicas com juventudes; participação na
Campanha contra a Violência e o Extermínio de Jovens; o encontro internacional de juventudes
Cáritas, no qual os jovens de diversos países, maioria da América Latina, intercambiaram saberes e
desafios e politizaram a participação na Jornada Mundial da Juventude com a “Tenda das
Juventudes”; fortalecimento do Grito dos(as) Excluídos(as); encontros regionais com as juventudes da
Bahia e Sergipe; formação do GT de Juventudes Cáritas NE 3, animando jovens a se integrar em
espaços dentro e fora da Rede Cáritas, seja no âmbito da Economia Solidária, convivência com o
semiárido, incidência em políticas públicas e rede de comunicadores.
O cuidado com as relações tem sido essencial nesse caminho de pedras e flores. Por isso, a juventude
continua resistente, com sonhos sendo construídos coletivamente e com a convicção de que “não se
pode pretender construir um futuro melhor sem pensar na crise do meio ambiente e no sofrimento
dos(as) excluídos(as)”, como bem provoca o papa Francisco.
18
Ao longo dos 28 anos de caminhada do Regional NE 3, a Economia Popular Solidária (EPS) vem
sendo considerada como um dos pilares estratégicos para a construção social do desenvolvimento
sustentável, solidário e territorial. Iniciou-se por meio dos Projetos Alternativos Comunitários (PACs),
onde, desde o ano de 1984, serviu-se como gesto concreto às necessidades de sobrevivência e
organização de grupos e comunidades, sendo instrumento de promoção da justiça social,
fortalecimento político-institucional, valorização das lutas populares e apoio às iniciativas locais de
desenvolvimento comunitário.
A Ir. Delires Brun faz memória desses tempos iniciais dos PACs. Ela conta que eram feitas visitas
formativas nas dioceses com o objetivo de dialogar e incentivar o processo de fortalecimento
institucional da Cáritas e dar maior visibilidade à questão solidária na região. Eram momentos de
marcar presença junto aos grupos de base, entidades e movimentos locais. “A minha experiência
nesse período era acompanhar os PACs com foco nos grupos produtivos, que, mesmo em sua
finalização, eram a forma de enfrentamento à pobreza e combate à fome”, pontua a religiosa.
Ainda nesse período, iniciou-se a avaliação dos PACs. Um dos aspectos apontados nesse processo foi
a necessidade de incentivar os grupos beneficiários para uma interação mais efetiva junto aos
movimentos sociais, isto é, a necessidade de provocá-los para uma participação maior no Grito
dos(as) Excluídos(as), nas campanhas e reivindicações dos trabalhadores.
Com as mudanças, nos anos de 1990, no perfil da cooperação internacional, que apoiava, por meio
de dotação de recursos, os fundos de apoio aos PACs, a Cáritas partiu para um diálogo com a CNBB,
motivando o fortalecimento do Fundo Nacional de Solidariedade, como proposta de apoio aos PACs.
“Mesmo sendo um período bastante desgastante, foi possível ajustar outras formas de apoio aos
grupos e assim continuar a solidariedade própria da Cáritas”, destaca Delires.
Unindo o cordão
“Quando sonhamos sozinhos, é só um
sonho; mas quando sonhamos
juntos, é o início de uma nova realidade.”
Dom Helder Câmara
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20
O Regional NE 3 notabilizou-se na dinâmica de divulgação e circulação e no
intercâmbio em rede de conhecimentos dos projetos bem-sucedidos, visando
articular entidades parceiras, envolver instituições governamentais e influir nas
políticas públicas.
A partir dessa realidade, aos poucos os PACs foram incorporados à linguagem da
Economia Popular Solidária também em nível nacional. “Foi um período rico que
favoreceu a articulação e a participação nos Fóruns Sociais Mundiais”, acentua
Delires.
Essa linha de ação iniciada na época dos PACs ainda é um elemento central da atuação do Regional,
principalmente na dinâmica de articulação dos movimentos sociais na construção da política de
Economia Solidária nos estados da Bahia e Sergipe, evidenciado sobretudo no esforço coletivo de
entidades de apoio e fomento, empreendimentos econômicos solidários e poder público na criação do
Fórum Baiano e Sergipano de Economia Solidária, nos anos de 2003 e 2004, respectivamente.
Outro elemento de destaque por parte do Regional NE 3 está no desenvolvimento de programas e
projetos, em articulação com o Estado, em seus diversos âmbitos de atuação. Destaca-se ao longo
dos anos, uma série de projetos, entre os quais o Projeto de Segurança Alimentar e Nutricional para
Acampamentos e Pré-Assentamentos de Reforma Agrária do Semiárido dos estados da Bahia e
Sergipe (PSAN), iniciado no ano de 2006 e envolvendo diversos parceiros no âmbito dos governos
federal e estaduais (Bahia e Sergipe); projetos de fortalecimento de empreendimentos econômicos
solidários, com apoio do Banco do Nordeste do Brasil, realizados nos anos de 2006 e em 2012;
Fortalecer as Finanças Solidárias no Estado da Bahia através da Consolidação de Metodologias de
Constituição de Implementação e Gestão de FRS, construído a partir de uma parceria da sociedade
civil com o governo do estado da Bahia, tendo seu processo de articulação, iniciado no ano de 2009
e sua finalização no ano de 2015.
Ao longo dos anos, a Cáritas Brasileira Regional NE 3 vem cumprindo um papel de articuladora no
fortalecimento da política pública de Economia Popular Solidária e dinamizadora da metodologia de
Fundos Rotativos Solidários, sendo essa metodologia de finanças solidárias uma estratégia essencial
de fortalecimento de acesso a recursos financeiros e não financeiros, constituindo-se como eixo
integrador das políticas públicas, principalmente aquelas que visam à construção de modelo de
desenvolvimento calcado na sociedade do bem viver e tendo o empoderamento político e econômico
dos sujeitos.
“Com o recrudescimento das políticas de desenvolvimento, tendo maior enfoque no rentismo, partindo
da excessiva mercantilização dos bens coletivos, principalmente a natureza; o enfraquecimento do
papel do Estado na implementação de políticas públicas com gravíssimos retrocessos
político-institucionais, faz-se necessário a retomada das articulações dos movimentos sociais, tendo
como foco a construção de um modelo de desenvolvimento que permeie a coletividade e a relação
harmoniosa com a natureza”, reflete Marcos Fabrício Oliveira, assessor da Cáritas Regional NE 3.
Enquanto proposições de ações para o fortalecimento da Economia Popular Solidária como elemento
de transformação da realidade, apontam-se a construção de uma política pública permanente, tendo
como eixo essencial a construção de um sistema de finanças solidárias que permita acesso ao crédito
de forma apropriada com as necessidades dos grupos produtivos; o assessoramento técnico
permanente, considerando a perspectiva dos Centros Públicos de Economia Solidária (CESOL),
focando no respeito aos princípios da Economia Solidária e garantindo acesso ao assessoramento
técnico, de forma contextualizada com as diversas dinâmicas territoriais; fortalecimento da
comercialização e formação de redes colaborativas, considerando as dinâmicas territoriais e as
cadeias produtivas, tendo como princípios a solidariedade e as relações harmoniosas entre todos os
participantes da cadeia.
21
Com um jeito bem particular de ser presente, o Regional NE 3 norteia a sua caminhada
fundamentada em espiritualidade ecumênica e de diálogo inter-religioso. No desenvolvimento de suas
ações, frente ao mundo de demarcações religiosas, busca firmar sua identidade reconhecendo e
valorizando as diferenças, respeitando a religiosidade, a crença, a cultura e a história de cada povo.
Tudo isso junto com a militância social são alguns elementos que tornam real e significativo o sentido
de ser Cáritas – sempre atenta aos sinais dos tempos e comprometida com a construção do Reino de
Deus.
“Ir ao encontro dos irmãos e irmãs e caminhar juntos é parte essencial da nossa missão. Esse
compromisso se expressa em cada gesto de defesa da vida, frequentemente ameaçada e violentada”,
enfatiza Cleusa Alves, assessora Regional.
Se incialmente a solidariedade tinha como marca dar o peixe, em uma relação recíproca, grupos e
entidades foram travando novas formas de exercer a escuta, o apoio, sempre de forma respeitosa, se
colocando no lugar do outro, acolhendo e partilhando saberes, de modo a efetivar a busca por
dignidade e justiça. “Temos essa marca da solidariedade, não da promoção social, mas da promoção
do discurso do sujeito. As famílias dizem que temos um jeito diferente, uma forma de tratar as
questões sociais, um modo particular de lidar com os conteúdos, uma mobilização para a
solidariedade. Isso é uma marca, é a nossa identidade”, comenta padre Francisco José de Almeida,
agente da Cáritas Diocesana de Irecê.
“A maneira de ajudar os outros é provar-lhes
que eles são capazes de pensar.”
Dom Helder Câmara
Sozinho, isolado
ninguém é capaz
22
Essa presença solidária não é expressa somente no âmbito das relações com as comunidades, mas
também através da cooperação de entidades parceiras, com recursos humanos e materiais, que
possibilitam ao Regional desenvolver projetos e ações de apoio aos que mais necessitam. “É no
compromisso comum na luta por justiça que realmente vamos construindo juntos esse caminhar em
comum: seja na preparação e na execução do Grito dos(as) Excluídos(as) a cada ano; na construção
da Campanha da Fraternidade Ecumênica, em especial a de 2016; na luta pelo Rio São Francisco”,
ressalta Joel Zeferino, pastor na Igreja Batista Nazareth e Presidente da Aliança de Batistas do Brasil.
A cooperação, o voluntariado, o trabalho conjunto e a solidariedade são uma marca também dos
agentes Cáritas, sem os quais o trabalho não seria possível. São os agentes que levam adiante a
missão institucional, motivados pela vivência da espiritualidade, sentindo Deus em todas as coisas.
Ser agente Cáritas é embriagar-se de uma energia que brota do Evangelho, de uma espiritualidade
embasada na fé, na ressurreição, e inspirada na prática libertadora de Jesus de Nazaré. Com gratidão,
o Regional registra a alegria de poder contar com uma rede de agentes comprometidos com a missão
da instituição e com a construção da sociedade do bem viver.
23
Eu ainda era um jovem adolescente quando ecoava em todas as rádios e TVs do Brasil essa linda
música, obra coletiva de grandes artistas brasileiros. Lançada em meados dos anos 1980 (1985), a
música era parte de um disco que era o elemento central de uma campanha em prol do povo
nordestino, que sofria com o flagelo de mais um período longo de estiagem na região. Exemplos como
esse mostram que a solidariedade e a preocupação humanitária sempre foram uma constante quando
o assunto eram as secas e a “Região Nordeste”, seja na sociedade como todo, seja em setores
específicos, ou mesmo instituições.
O fenômeno climático de estiagens prolongadas no semiárido brasileiro é um fator natural que
acontece nessa região há muitos séculos, tendo um território que se estende por uma área que
abrange a maior parte dos estados da Região Nordeste (86,48%), a região setentrional do estado de
Minas Gerais (11,01%) e mesmo com questionamentos técnicos e científicos, para muitos, se amplia
ao norte do Espírito Santo (2,51%). Possui 1.133 municípios e ocupa uma área de 974.752 km². É
o maior e mais populoso do mundo. Com mais de 22,6 milhões de habitantes, representa 11,8% da
população brasileira, sendo 44% desta residente na área rural, a maior porcentagem do país.
Depois da chuva,
o sol da manhã
“ Chega de mágoa... Chega de tanto penar
Canto e o nosso canto... Joga no tempo uma semente
Gente, olha essa gente... Olha essa gente, olha essa gente
Te quero água de beber... Um copo d’ água
Marola mansa da maré... Mulher amada
Te quero terra pra plantar... Te quero verde, hum
Te quero casa pra morar... Te quero rede
Depois da chuva, o sol da manhã...”
Luiz Cláudio Mandela*
Outras palavras24
Desde o Brasil Império que essa região tem motivado posicionamentos, ações e
também processos políticos. A célebre frase “Venda-se o último brilhante da coroa,
contanto que nenhum brasileiro morra de fome!”, proferida pelo o Imperador Dom
Pedro II, é um exemplo histórico e emblemático. Ainda no período do Estado Novo,
foi criado o DNOCS, e mais à frente, em 1959, o governo, motivado e sensibilizado
por uma série de posicionamentos políticos e técnicos, especialmente pela carta final
do Encontro dos Bispos do Nordeste, realizado em 1956, criou a SUDENE e instituiu
fundos federativos para financiar o desenvolvimento da região.
No entanto, o grande problema do Nordeste e do semiárido nunca foi atacado, pelo contrário, as
ações para promover o desenvolvimento nessa região sempre foram equivocadamente pautadas no
ataque à natureza, como inclusive está presente no próprio nome do Departamento Nacional de
Obras contra as Secas (DNOCS), e não na promoção da convivência com essa realidade. Igualmente
ao restante do Brasil, o semiárido é uma região com alto grau de concentração da terra, das riquezas,
com forte presença do patriarcado, do fisiologismo político e da corrupção. Tudo isso se agrava pelo
empobrecimento congênito, causado por séculos de exploração das pessoas e dos recursos naturais.
A presença viva, companheira e profética da Igreja na região, tem sido sempre constante e definitiva
para esses povos. Exemplos como o do padre Ibiapina, dos conselheiristas, de D. Fragoso, assim
como os leigos engajados em suas pastorais, que têm no decorrer da história reafirmado e construído
junto com os povos sertanejos a dimensão da convivência com o semiárido e da garantia dos direitos.
A Cáritas, nos seus quase 60 anos, sempre esteve presente e ativamente em ação e missão nessa
terra tão sofrida que é o semiárido. Acompanhando os passos e os processos da sociedade, essa
presença se deu ora através de campanhas para arrecadar e distribuir alimentos, ora mobilizando e
desenvolvendo experiências para buscar autonomia alimentar e hídrica das famílias da região. Foi
durante um período de longa estiagem e pensando em mais uma campanha que a Cáritas, já
inspirada em várias experiências exitosas, propôs a parceiros da cooperação internacional o Projeto
El Niño, uma proposta de trabalhar durante um período (dois anos) uma ação piloto de convivência
com o semiárido, pautada nas obras hídricas descentralizadas, na educação ambiental e na produção
apropriada, principalmente na pecuária de pequenos e médios animais (caprinos e ovinos).
A experiência desenvolvida pelo Projeto El Niño foi avaliada muito positiva e produziu acúmulos para
que a Rede Cáritas, em seu I Congresso, realizado no ano de 1999 em Fortaleza, no Ceará, definisse,
após uma longa reflexão, colocar o tema do semiárido como uma das suas prioridades. E, além disso,
criar um programa de ações tendo como horizonte estratégico e metodológico a convivência com o
semiárido, baseado em três pilares: água, produção e formação.
Outras palavras 25
Já se passaram mais de 15 anos, desde então, e o PCSA, como é chamado até hoje o Programa de
Convivência com o Semiárido da Cáritas Brasileira, vem contribuindo de forma significativa para as
transformações na realidade dessa imensa região. Com atuação em todos os estados do Nordeste e
mais parte de Minas Gerais, o PCSA foi a primeira ação regional pensada para a região, tendo a
convivência com o Semiárido como estratégia de atuação. É um orgulho para a Cáritas ter servido
como exemplo e espelho para o que se tornou a maior e mais participativa experiência de política
pública no Brasil.
Os programas de convivência com o Semiárido propostos pela ASA (Articulação no Semiárido), além
de executados pela articulação e suas mais de 3 mil instituições, são hoje assumidos e executados
por governos estaduais e municipais de todos os estados que compõem o território. Diferentemente
das obras “contra a seca”, esses programas, conceitualmente e na prática, são processos de
mobilização social, com forte participação das famílias, das mulheres e também de uma juventude
cada vez com mais vontade de morar e viver no semiárido.
Nessa caminhada, podemos perceber e confirmar que o semiárido não é e nunca foi uma região pobre
por natureza, e muito menos está pobre por motivo da falta de chuvas ou mesmo pela sua má
distribuição. Para nós, foi construída no decorrer de séculos uma estrutura de pensamento, levando a
sociedade brasileira a pensar que o problema da região é a falta de água, e não a sua democratização.
Da mesma forma, foi concebido o estigma de que o grande inimigo dos povos do semiárido é o clima
em que vivem, e não a concentração da terra, da renda e riqueza produzida e existente nessa região.
Esse pensamento levou todos, de dentro e de fora do semiárido, a achar que esse clima deve ser
combatido, pois as possibilidades endógenas de geração de desenvolvimento para essa região são
ínfimas nesse clima e com tão grande população.
Outras palavras26
* Engenheiro Agrônomo e mestre em política e desenvolvimento, é Diretor Executivo Nacional da
Cáritas Brasileira
Muitos avanços foram constatados nesses anos, são populações inteiras de municípios que já têm
segurança hídrica para superar os períodos de seca, crianças que crescem estudando de forma
contextualizada, aprendendo como é viver e conviver com o semiárido. No entanto, desafios ainda
permanecem, principalmente os relacionados à democratização da terra e da água, assim como o da
consolidação das políticas públicas que promovam o desenvolvimento da região.
O que podemos dizer que é uma grande conquista do PCSA e, por conseguinte, da ASA e de suas
tantas entidades, é a virada desse pensamento, o que o professor e pesquisador Roberto Marinho
afirma ser a mudança paradigmática, na qual o antes ecossistema inóspito e impossível de gerar
desenvolvimento passa a ser um espaço de possibilidades. Essa mudança de paradigma refletido pelo
pesquisador não se justifica e se restringe a apenas a milhares de cisternas implantadas em todo o
território, ela tem a ver com as modificações vistas, ouvidas, sentidas por todos os povos de dentro e
de fora do semiárido. Essas mudanças estão nas músicas, que pararam de falar de tristeza, de mágoa,
estão nas imagens que deixaram de retratar a morte, estão na mídia que para de falar e retratar os
saques e o êxodo, assim como estão nos dados e índices sociais e econômicos, pois começamos a ver
uma região que de forma endógena começa a ter uma educação contextualizada, uma produção
apropriada e uma cultura da alegria e da vida. Afinal de contas, como diria a poetiza do norte de
Minas Gerais: “É no semiárido que a vida pulsa”.
Outras palavras 27
Convidado para escrever sobre a contribuição da Cáritas Regional Nordeste 3 nas experiências da
Articulação em Políticas Públicas (APP) e no Tribunal Popular do Judiciário (TPJ), gostaria de
colocar-me na condição de “testemunha ocular” de um valoroso processo político-pedagógico que
tem seus fundamentos teóricos e práticos no método da educação popular e no jeito próprio de ser,
estar e fazer proféticos num contexto histórico tão complexo e desafiante.
Do ano de 2002 pra cá, meus olhos têm acompanhado o esforço da Cáritas, em conjunto com outras
pastorais e movimentos sociais, num intenso processo de produção e sistematização de conteúdos
educativos com os objetivos de denunciar as mazelas produzidas pelo modelo de desenvolvimento
economicista vigente que tudo transforma em mercadoria e lançar sementes de esperança,
democracia direta, solidariedade, justiça, paz, acolhida, aconchego, empoderamento, compaixão,
mobilização social.
Através da Articulação em Políticas Públicas – APP, foi possível perceber uma forte ação
socioeducativa de empoderamento de lideranças comunitárias e agentes pastorais sobre os caminhos
a serem percorridos para a realização de uma incidência eficaz junto ao poder executivo, tendo em
vista a transparência do orçamento público e a efetivação de direitos e políticas públicas
fundamentais. A campanha “Quem não deve não teme” tornou-se uma referência efetiva de controle
social e seus ecos foram além dos limites geográficos e políticos do regional. Nesse seu fazer trabalho
de base, a Cáritas tornou-se importante âncora de animação e agregação de organizações sociais em
torno desse importante tema.
O controle social sobre o poder executivo não bastava para avançar na efetivação de direitos e
políticas. Era preciso fortalecer e subsidiar as organizações sociais, potencializar as mobilizações
sociais e incidir sobre um poder judiciário ultraconservador e historicamente alheio às demandas das
organizações e movimentos populares do campo e da cidade.
Contribuições da Cáritas
nas experiências da
APP e TPJ
Gilmar Santos*
Outras palavras28
O Tribunal Popular do Judiciário serviu pra denunciar os desmandos e as omissões do judiciário e
contribuiu para uma reflexão crítica sobre o papel dessa instituição frente aos direitos civis, políticos
e sociais. Lembro-me das várias reuniões de preparação, dos e-mails e das diversas ligações
telefônicas feitas pela Cáritas para garantir a realização das atividades do TPJ.
Sementes lançadas caem em terrenos diversos. Além de despertar e motivar envolvimento de
organizações sociais e das comunidades sobre esse tema, o TPJ produziu um importante dossiê sobre
casos emblemáticos denunciados pelas comunidades tradicionais (quilombolas, pescadores,
indígenas, trabalhadores(as) do campo e da cidade) que foram alvos do descaso do poder judiciário.
Hoje, 2016, observo que toda onda/reação conservadora do Congresso Nacional, do Judiciário e o
golpe de estado contra a “democracia” são respostas violentas a um período de muita ousadia,
incidência política, democracia ativa-direta. Período de afirmação de identidades: étnico-racial,
gênero, orientação sexual, religiosas, juventudes, pessoas com deficiências, formas de convivência
com o semiárido, visibilidade das resistências e lutas dos povos e comunidades tradicionais,
experiências de Economia Solidária, etc.
Vida que segue. A contribuição da Cáritas junto à APP e ao TPJ nos ensina que, mais do que produzir
“peças” críticas e postar nas redes sociais, é preciso avaliar profundamente o caminho. Intensificar o
trabalho de base. Contribuir mais ainda para a formação política do nosso povo. Aglutinar forças.
Continuar lançando sementes.
Sem sombra de dúvidas, as sementes que brotaram até aqui são resultado de um intenso processo
coletivo de educação popular com a notável contribuição da Cáritas Regional NE 3 nos seus 28 anos
de serviço na Bahia e em Sergipe.
*Arte-Educador Popular – Integrante do Conselho Pastoral dos Pescadores (BA)
Outras palavras 29
A Cáritas e o Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro), empresa pública vinculada ao
Ministério da Fazenda, já fazem parcerias há uns 8 anos, desde a implantação do 1º telecentro em
Ilhéus, na Casa de Acolhimento, em 14/11/2008 e, na sequência, em Queimada Grande, no dia
21/11/2008. Evidentemente que os agentes, parceiros, agregados ou todos que são protagonistas
nas ações com a Cáritas logo desejaram ter telecentros em seus ambientes sociais. E aí foram
contemplados a Comunidade Quilombola de Paus Altos, no município de Antônio Cardoso, a
Arquidiocese de Amargosa, no município de Iaçu, o Movimento da População de Rua, no Pelourinho,
em Salvador, e a Escola de Música EMARTES, em Serrinha. Ou seja: a Cáritas solicitava, avaliávamos
o projeto e invariavelmente aprovávamos a solicitação, por constatar que os solicitantes tinham
trabalho social relevante em suas comunidades.
Para nós do Serpro, uma empresa pública de informática, cada telecentro implantado significa a
vitória de uma gestão que apostou num projeto dessa magnitude. Antes esses computadores eram
vendidos em leilões para a iniciativa privada. Mudar o foco e disponibilizar acesso à tecnologia da
informação para camadas populares de forma gratuita descaracteriza a ideia individualizante de cada
um ter o seu, principalmente para camadas sociais que não se enquadram nesse perfil. Aqui, todos
são donos e devem cuidar solidariamente do patrimônio. É uma forma diferente de pensar o
organismo Estado como elemento provedor.
Entre solicitar um telecentro e tê-lo efetivamente implantado, nos deparamos com desafios e algumas
dificuldades. Uma coisa é desejar ter, outra é reunir condições para ter. Aí vêm as questões de
infraestrutura básica, como espaço físico, mesas, cadeiras apropriadas, rede elétrica e lógica,
climatização, estabilizadores, monitores, etc. Nesse momento, outras parcerias tornam-se
necessárias, pois nem sempre a comunidade tem condições de arcar com esses custos. Outro fator
importante é a necessidade de se ter um projeto definindo claramente o uso desses equipamentos,
qual público, conteúdo, horários de funcionamento, quem vai orientar (monitor), se é voluntário ou
Jorge Vasconcelos*
Contribuições da Cáritas nas experiências
com organização do
Estado
Outras palavras30
com ajuda de custo ou salário. Cabe registrar que doamos as máquinas,
preparamos a monitoria, presencial ou a distância, e atualmente ajudamos na
manutenção dos equipamentos. Oferecemos também uma grade de conteúdos
com cursos a distância e certificação, que são fornecidos pela nossa Universidade
Corporativa do Serpro – UniSerpro.
Durante essa trajetória, aprendemos muita coisa com nossos erros e acertos. Do
nosso ponto de vista, que envolve a criação de outros telecentros, além dos feitos com a
Cáritas, ter um projeto bem definido pela comunidade solicitante ajuda a estabelecer a
durabilidade de uma experiência como essa. Alguns telecentros estão vivos até hoje, outros já se
perderam pelo caminho. As causas são variadas, vai desde quem está gerindo as ações daquela
comunidade, pessoa, grupos, etc., passando pela importância fundamental das monitorias, pelos
estímulos que são suscitados nos diversos segmentos que frequentam um telecentro, pelo
estabelecimento de ações educativas que deem sentido e vinculação prática ao cotidiano das
pessoas, percebendo os diversos tipos de usuários: os pontuais, os que estudam de forma seriada, os
que utilizam o espaço pelos infinitos motivos que aqui não cabe elencar.
Na prática, o espaço vira uma espécie de escola informal, pelas características do trabalho, para um
público eclético, que em tese não teria condições de ter computadores e internet à sua disposição
para estudar, pesquisar, divertir e "conhecer o mundo". Um telecentro pode potencializar as ações de
uma comunidade carente de forma significativa na vida das pessoas. É preciso saber usá-lo e
transformá-lo em um projeto de ações afirmativas. Acho interessante que a Cáritas, enquanto
entidade intermediária nas doações dos equipamentos, até aqui, possa refletir sobre os resultados
alcançados. Isso é ponto de partida, para uma retomada nessas ações, agora sob uma nova ótica do
MROSC – Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil.
Outra parceria importante são os Bazares Solidários nas instalações do Serpro, o que já é uma marca
consagrada que, a cada ano, os empregados cobram sua realização. Vender objetos em um bazar,
nesse caso, nessa parceria, não pode ser uma ação apenas mercadológica, consumista. Tem todo um
trabalho anterior e durante o processo de explicação e esclarecimento. O que é a Cáritas? Que ações
realiza? Para onde vai o dinheiro arrecadado? Ao passar essas informações em fôlderes, cartazes,
boca a boca e jornal, estamos ajudando os empregados a fazer uma compra mais consciente e ao
mesmo tempo entender como funcionam algumas entidades da sociedade civil, mudar o olhar de
colegas para além das informações da grande mídia que, muitas vezes, descaracterizam um trabalho
sério. Fica legal o raciocínio assim posto: eu compro um item e esse dinheiro servirá, por exemplo,
para a construção de uma cisterna no semiárido. O empregado fica duplamente satisfeito: se
beneficia com um preço bom e ajuda uma obra social.
Da nossa disposição de servir as comunidades carentes, ter um parceiro como a Cáritas só amplia
nosso horizonte de atuação, considerando a capilaridade que o Regional NE 3 tem para os estados
da Bahia e Sergipe, nas suas extensões territoriais e no compromisso político, filosófico e ético até
então demonstrados.
*Coordenador Regional PSID – Programa Serpro de Inclusão Digital
Outras palavras 31
Celebrar a existência da Cáritas Nordeste 3 é poder comemorar a história de uma organização que
tem como marcas identitárias a solidariedade, a luta pela construção de uma sociedade justa e
igualitária e o compromisso com a transformação social. Não estamos falando de algo somente
simbólico, mas de um conjunto de princípios e diretrizes que se materializam em resultados concretos
na vida de milhares de pessoas, sobretudo das mais pobres.
Através da integração de uma rede de solidariedade, que perpassa os diversos coletivos e pessoas, a
Cáritas contribuiu para semear esperança e promover uma vida digna nos lugares mais necessitados
do nosso estado e região. Seu trabalho voltado para o processo de articulação dos movimentos
sociais, pastorais sociais e organizações da sociedade civil, para o desenvolvimento sustentável e a
luta pela garantia dos direitos humanos, foi fundamental para os avanços que pudemos experimentar
nos últimos anos de forma mais ampla.
Quando cheguei à Bahia na década de 1980, junto com um grupo de missionários, lembro de quanto
era forte a atuação da Cáritas, junto com a CPT e outros organismos que se articulavam em defesa
do semiárido. Tema aliás que se transformou numa das principais bandeiras de luta, sempre
denunciando a indústria da seca, pautando a democratização do acesso à água e colaborando com a
implementação de projetos pioneiros de convivência com o semiárido. Um dos exemplos foi o apoio
ao município de Pintadas, que no ano de 2005 se tornou o primeiro do Nordeste a efetivar 100% de
cisternas na zona rural do município. Essa conquista foi motivo de comemoração no Festival das
Águas realizado em dezembro desse mesmo ano com a presença de dezenas de organizações
integrantes da Articulação do Semiárido Brasileiro (ASA).
Sou testemunha da presença da Igreja, especialmente na região da Diocese de Ruy Barbosa,
animando as comunidades e despertando o espírito solidário do povo na luta pela água, pela terra,
Neusa Cadore*
Cáritas Nordeste 3: 28 anos semeando
vida e promovendo
cidadania
Outras palavras32
pelo combate à fome e à violência. Na formação de grandes lideranças, no
incentivo à organização popular, sobretudo da juventude e das mulheres, são
importantes as contribuições da Cáritas e muitos os frutos que se multiplicaram no
decorrer dessa trajetória.
O trabalho de fomento às iniciativas da Economia Popular e Solidária, de
Segurança Alimentar e Nutricional, o estímulo aos Fundos Solidários, a luta em
prol dos(as) agricultores(as), acampados(as) e assentados(as) de reforma agrária, das
populações ribeirinhas, das comunidades quilombolas e indígenas, dos povos em situação de
riscos e afetadas por desastres socioambientais mostram a pluralidade e a grandeza da sua atuação.
Quero ressaltar ainda o apoio à educação do campo, através das Escolas Famílias Agrícolas, que
promovem um modelo de ensino diferenciado com valorização do homem e da mulher do campo, da
proteção e respeito à natureza. No que se refere à agricultura familiar, destaco o apoio dado ao
desenvolvimento de diversas experiências de produção no campo. As inúmeras iniciativas, sem
dúvida, contribuíram para a promoção da igualdade social, para o empoderamento das populações
vulneráveis, a auto-organização e reconhecimento de muitas comunidades.
Na linha das conquistas estruturantes, quero lembrar da importante participação da Cáritas junto à
Plataforma das Organizações Sociais da Bahia para a aprovação do Marco Regulatório das
Organizações Sociais. A legislação é o reconhecimento da inestimável contribuição dos movimentos
e entidades sociais para o fortalecimento da democracia no país, esta, aliás, que se encontra
ameaçada pelas forças conservadoras e opressoras que querem usurpar o poder conquistado pelo
povo de forma legítima.
Na atual conjuntura, em que os direitos conquistados duramente pela classe trabalhadora têm sido
atacados, é preciso destacar também os processos de educação popular, a luta da Cáritas pela
democracia participativa e por uma cultura política baseada na ética, na transparência e no respeito.
Nesse sentido, insere-se a campanha por eleições limpas e a formação permanente de agentes
públicos para a compreensão da política como instrumento para a efetivação dos direitos e a
cidadania plena.
Congratulamo-nos com esta bonita caminhada da Cáritas ao lado do povo, alimentando a utopia da
liberdade e da justiça social, apostando num processo educativo e emancipatório, no diálogo e na
tolerância por um mundo melhor para todos e todas.
* Deputada Estadual (PT)
Outras palavras 33
Entre na roda com
a gente
Vinte e oito anos de caminhada contribuindo para a participação dos pobres e excluídos na
construção de um país justo, democrático, solidário e sustentável. O momento é de celebrar, de
renovar o compromisso, de ser presença fecunda no meio do povo, de refletir sobre a caminhada e
focar nos desafios, que não são poucos, sobretudo diante do estarrecedor cenário político que
estamos vivendo, com profunda desorganização administrativa, política, econômica e ética.
Embora o momento seja de perplexidade, a história nos mostra que nesse modelo de desenvolvimento
perverso e excludente nada nunca foi fácil para as camadas mais empobrecidas da sociedade. Então,
sigamos na luta, regozijando as conquistas obtidas, denunciando as injustiças e anunciando a
esperança.
Assim, é com esperança que nos debruçamos sobre a realidade, enfrentando os desafios. A começar,
com uma reflexão da nossa ação pastoral de conjunto, entendendo a sua complexidade e a beleza de
sua riqueza, investindo no diálogo com as diferentes dimensões do projeto de Jesus Cristo, de forma
a contribuir com mais elementos de comunhão, que nos fortaleça como ação da Igreja.
Olhando para fora das ações pastorais, é tempo de investir ainda mais na colaboração para a
consolidação da democracia, através da construção de um projeto popular para o Brasil. Já nascemos
com esse compromisso e não podemos perdê-lo de vista. Esse processo não vai acontecer de uma
hora para outra. Demanda tempo, mas tem que ser iniciado com brevidade.
“Quando os problemas se tornam absurdos,
os desafios se tornam apaixonantes.”
Dom Helder Câmara
34
Do ponto de vista da Rede, a provocação que está posta é a renovação. Como nos atualizamos
enquanto Rede? Como trazer novos agentes para a roda? Como encantar os jovens para esse jeito de
ser Igreja? O protagonismo da juventude é a chave. Não esquecendo também a presença do
voluntariado, priorizando a sua qualificação, tanto técnica quanto da nossa mística e espiritualidade,
dedicando o tempo necessário para a reflexão, para o exercício do raciocínio crítico.
Nessas quase três décadas, as inquietações têm mais força que as certezas. Que possamos ter
sabedoria para aprofundá-las, e assim continuar a nossa trajetória junto com a chegada de novos
atores sociais, unidos na construção do Reino, aqui na Terra.
35
Rede Cáritas Regional Nordeste 3
Associação Escolas Comunidades Famílias
Agrícolas da Bahia – AECOFABA
Av. do Agricultor, s/nº – Sítio São Félix
46470-970 – Riacho de Santana (BA)
Telefone: +55 (77) 3457-2157
aecofaba@yahoo.com.br
Cáritas Arquidiocesana de Feira de Santana
Av. Getúlio Vargas, 394
44025-010 – Feira de Santana (BA)
Telefone: +55 (75) 3485-6242
feiradesantana@caritas.org.br
Cáritas Diocesana de Paulo Afonso
Avenida Getúlio Vargas, 614 – Centro
48601- 000 – Paulo Afonso (BA)
Telefone: +55 (75) 3214-5033
pauloafonso@caritas.org.br
Cáritas Diocesana de Propriá
Travessa Municipal, 117 – Centro
49900-000 – Propriá (SE)
Telefone: +55 (79) 3337-1658
caritaspropria@gmail.com
Cáritas Diocesana de Serrinha
Rua Emiliano Santigo, 291 – Centro
48700-000 – Serrinha (BA)
Telefone: +55 (75) 3261-2334
serrinha@caritas.org.br
Cáritas Arquidiocesana de Vitória da Conquista
Paróquia Nossa Senhora das Candeias
Av. Franklin Ferraz, 179
45028-185 – Vitória da Conquista (BA)
Telefone: +55 (77) 3420-9038
conquista@caritas.org.br
Cáritas Diocesana de Ruy Barbosa
Rua Antônio Novais – Centro
46800-000 – Ruy Barbosa (BA)
Telefone: +55 (75) 3252-2605 /1001
ruybarbosa@caritas.org.br
Cáritas Diocesana de Irecê
Rua Noel Nuts, 28
44900-000 – Irecê (BA)
Telefone: +55 (74) 3641-3422
irece@caritas.org.br
Cáritas Diocesana de Ilhéus
Rua Dom Tepe, 21 – Cúria Diocesana
45653-230 – Ilhéus (BA)
Telefone: +55 (73) 3086-2153
ilheus@caritas.org.br
Cáritas Diocesana de Amargosa
Av. Lomanto Júnior, 11 – Centro
45300-000 – Amargosa (BA)
Telefone: +55 (75) 3634-1413
amargosa@caritas.org.br
Cáritas Arquidiocesana de Aracaju
Praça Olímpio Campos, 228
49010-040 – Aracaju (SE)
Telefone: +55 (79) 3214-5973
caritasaracaju@hotmail.com
Cáritas Diocesana de Barreiras
Rua 26 de maio, 427
47805-090 – Barreiras (BA)
Telefone: +55 (77) 3611-5926
barreiras@caritas.org.br
Cáritas Diocesana de Caetité
Centro Paroquial Nossa Senhora Santana
Rua Barão de Caetité, 316, Sala 09 – Centro
46400-000 – Caetité (BA)
Telefone: +55 (77) 3454-3398
bispocte@gmail.com
Cáritas Diocesana de Alagoinhas
Praça Antônio Conselheiro, 640 – Centro
48480-000 – Crisópolis (BA)
Telefone: +55 (75) 3422-3209
alagoinhas@caritas.org.br
Cáritas Diocesana de Eunápolis
Praça Frei Calisto, s/nº – Centro
45820-430 – Eunápolis (BA)
Telefone: +55 (73) 3281-4851
caritaseunapolis@hotmail.com
Cáritas Diocesana de Estância
Rua Dr. Vicente Portela, 41
49200-970 – Estância (SE)
Telefone: +55 (79) 3522-2138
estancia@caritas.org
36
28 Anos
REGIONAL NORDESTE 3
Apoio
Realização
REGIONAL NORDESTE 3

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Mais de Cáritas Brasileira Regional Nordeste 3

Mais de Cáritas Brasileira Regional Nordeste 3 (6)

Boletim Virtual Cáritas Regional Nordeste 3 – Junho 2016
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Boletim Virtual Cáritas Regional Nordeste 3 – Maio 2016
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Boletim Virtual Cáritas Regional Nordeste 3 – Abril 2016
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Boletim Virtual Cáritas Regional Nordeste 3 - Março 2016
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Boletim Virtual Cáritas Regional Nordeste 3 - Janeiro 2016
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Boletim Virtual Cáritas Regional Nordeste 3 - Maio 2015
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A caminhada de 28 anos da Cáritas Regional Nordeste 3 na promoção humana e defesa dos direitos

  • 1. 28 Anos Da promoção humana à luta por direitos Cáritas Brasileira Regional Nordeste 3
  • 2. Esta é uma publicação comemorativa da Cáritas Brasileira Regional Nordeste 3 dos seus 28 anos de caminhada, comprometidos com a missão de “testemunhar e anunciar o Evangelho de Jesus Cristo, defendendo e promovendo a vida e participando da construção solidária de uma sociedade justa, igualitária e plural, junto com as pessoas em situação de exclusão social”, agosto de 2016. Bispo Referencial da Cáritas Regional Nordeste 3 Dom João Costa Coordenação Colegiada da Cáritas Regional Nordeste 3 Cátia Cardoso (Secretária Regional) Josilene Passos (Assessora Regional) Alan Lusttosa (Assessor Regional) Conselho Consultivo da Cáritas Regional Nordeste 3 Otilia Balio Fava – Ruy Barbosa (BA), José Edinaldo da Silva – Estância (SE), Magnólia Vitória dos Santos – Estância (SE), Jorge Gonçalves de Oliveira – Serrinha (BA), Raimundo de Jesus Santos – Amargosa (BA) e Ana Tibúrcio – Vitória da Conquista (BA) Cáritas Brasileira Regional Nordeste 3 Rua Emília Couto, 270B – Brotas 40285-030 – Salvador (BA) Telefone: +55 (71) 3357-1667 caritasne3@caritas.org.br www.ne3.caritas.org.br Expediente Jornalista responsável: Marilda Ferri – DRT 1948 Redação: Amanda Santos, Darci Moraes, Josilene Passos, Marcos Fabrício Oliveira, Marilda Ferri Fotos: Allan Lusttosa e acervo da Cáritas Regional Nordeste 3 Revisão: Vanice Araújo l arteemmovimento.org Projeto gráfico e diagramação: arteemmovimento.org Impressão: Equipe Adriana Pales Santos, Alan Alves Lustosa, Alexsandro Siqueira do Nascimento, Amanda dos Santos Silva, Candice Ferreira de Araújo, Cátia Maria M. Cardoso, Clêusa Alves da Silva, Ester Borges dos Santos, Eudes Ferreira Araújo, Gabriel Carneiro Reis, Iasmin Santana Barros, Josilene Nascimento Passos, Lourival Silva de Jesus, Maíra Barbosa da Silva, Marcus Fabrício G. Oliveira, Patrício Cardozo dos S. Filho, Rodrigo Araújo da Silva, Sílvia Regina Nascimento Santos, Diogo Oliveira Simas da Silva, Maurício Silva Araújo, Paula de Oliveira Rios.
  • 3. Sumário 1 Fé na estrada Um serviço de amor e por amor Nosso chão Constante processo de conversão Caminhar junto com o povo Momento novo Presença solidária Coragem e ousadia A força dos novos Unindo o cordão Sozinho, isolado, ninguém é capaz Outras palavras Entre na roda com a gente 2 3 4 6 9 12 13 14 16 19 22 24 34
  • 4. Fé na estrada 2 Como podemos ser felizes vendo tanta miséria e tantas injustiças? Frei Beto nos sinaliza um caminho: não somatizar essas infelicidades, opressões e injustiças e empenhar a vida na direção de mudar esse estado de coisas. Quando celebramos o aniversário de 28 anos da Cáritas Brasileira Regional Nordeste 3, vislumbramos que nossos agentes já fazem esse exercício há quase três décadas. São centenas de mulheres, homens, jovens, trabalhadores, pescadoras, quilombolas, agricultoras, catadores, povo de rua, crianças e adolescentes que dedicam sua vida em função de um mundo onde as condições espirituais, culturais, ambientais, sociais e políticas possibilitem a felicidade como direito de todos e todas. A Cáritas é uma rede que acredita que a felicidade anda de mãos dadas com a solidariedade e com o bem comum. Neste momento, estamos conectados com toda a Rede Cáritas Brasileira, fazendo o caminho de reflexão e celebração. Em novembro, nos reuniremos no santuário de Nossa Senhora Aparecida para, junto com “Mariama”, celebrar os 60 anos de presença da Cáritas no Brasil. É período de jubileu, é tempo de colher os frutos semeados no semiárido, no cerrado e no litoral; é tempo de ver brotar o protagonismo das populações que lutam por Economia Solidária e por uma agricultura agroecológica; celebrarmos os plebiscitos populares, as leis de iniciativa popular, os tribunais populares do judiciário e o exercício cidadão do nosso povo, que acredita na democracia e que assume a tarefa de construir um novo mundo possível hoje e agora. Quando nos desafiamos a produzir uma revista dos 28 anos da Cáritas Brasileira Regional NE 3, pensamos na importância de fazer memória, de olhar o caminho percorrido e de lançar mão daquilo em que acreditamos como referência metodológica: construir conhecimento a partir dos saberes coletivamente acumulados e solidariamente compartilhados num movimento de ver, julgar, agir e celebrar que nos orienta e nos conduz em nosso fazer cotidiano. Provavelmente poucos dos que estão hoje assumindo a missão da Cáritas no nosso Regional iniciaram esse caminhar há 28 anos, mas isso não faz nenhuma diferença, porque essa obra não tem autor específico e não se finda. Ela segue sempre em construção e conta com a inspiração do evangelho e a capacidade de sonhar de cada agente Cáritas que atua no seu tempo, no seu território e com sua fé. Não podemos nos esquecer de que o ser humano, certamente, tem tanta necessidade de sonho quanto de realidade. E o nosso sonho alimenta a esperança de que podemos, um dia, transformar o mundo da competitividade que vivenciamos num mundo da solidariedade que profeticamente Jesus nos deixou como legado. Para todas e todos uma saborosa e instigante leitura! Cátia Cardoso Secretária Regional “Eu vim para que todos tenham a vida, para que tenham em abundância”. Evangelho de João 10,10
  • 5. Um serviço de amor e por amor 3 A Cáritas é uma obra daquelas que são construídas por diversas mãos, porém uma é a mão central, a de Jesus Cristo, que fortalece e impulsiona as ações dessa entidade internacional de imensa projeção em defesa dos mais fracos. Aqui, nesta porção de terra, baiana e sergipana, a Cáritas tem feito um bem enorme a tantas vidas sofridas e marcadas pela exclusão social. São 28 anos em nosso Regional Nordeste 3 de uma presença atuante, muitas vezes silenciosa, porém eficaz, na defesa de políticas públicas que priorizem a promoção da pessoa humana, desde crianças, adolescentes e jovens até os adultos. A Cáritas surgiu com o propósito de estender as mãos, de servir ao outro, tomando como exemplo o próprio Cristo: “não vim para ser servido, mas para servir”. É essa força impulsionadora que, em nome da Igreja, chega aos rincões com a palavra viva de Cristo no gesto concreto que alimenta e ajuda os assistidos a saber plantar e colher. É um fermento na massa que faz expandir bons frutos, que dá o peixe, mas ensina a pescar. É a voz para tantos que não conseguem, por suas próprias forças, gritar. E faz ecoar nos ouvidos dos poderes constituídos o som de socorro dos desvalidos e esquecidos da sociedade. É mais do que uma obra social. É a força de Cristo, através de centenas de agentes Cáritas, voluntários e não voluntários, que abraçam a causa da caridade ensinada pelo apóstolo São Paulo, que tão sabiamente nos transmitiu e expandiu os ensinamentos de Jesus: “Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver caridade, sou como o bronze que soa, ou como o címbalo que retine”. (1 Coríntios 13:1). Esta é a entidade que abraça todos, não enxerga rótulos, não exclui ninguém, sejam católicos e não católicos, sejam crentes e não crentes. Onde quer que esteja presente e dê para seus braços alcançar, a Cáritas é este sol que brilha em todas as direções e não se exime de edificar e defender o progresso. No rumo de um desenvolvimento sustentável em que o progresso, o meio ambiente e o homem devem viver em harmonia no presente para um futuro melhor para todos. Entendendo tudo isso da Cáritas, não podemos deixar de louvar a Deus por esse projeto de amor e por amor, e de agradecer, imensamente, a cada um e cada uma das pessoas que fazem a Cáritas, que vivem a Cáritas, em cada Diocese deste nosso Regional Nordeste 3 da CNBB, dos estados da Bahia e Sergipe. Que o bom Deus, através do manto sagrado de Nossa Senhora, cubra cada pessoa que faz parte dessa entidade. E que a Cáritas possa continuar sua missão, protegendo, zelando e levando o evangelho vivo a cada pessoa que precisar. Parabéns! Com a bênção de pastor, Dom João José Costa Arcebispo Coadjutor de Aracaju e Presidente da Cáritas Nacional “Porque o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em redenção por muitos." MC 10,45
  • 6. 4 Bahia e Sergipe são os dois estados que abrigam o Regional Nordeste 3 (NE 3) da Cáritas Brasileira. Nessas duas porções do território nacional, convive e dialoga uma infinidade de povos com histórias, culturas, espiritualidades e lutas. Cada um à sua maneira, com suas particularidades, acolhe as ações da Cáritas, junto ao povo, por caminhos que garantam a qualidade de vida. A Bahia tem uma área territorial de 564.733 km², onde habitam pouco mais de 15 milhões de habitantes, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2014 (IBGE). Sergipe possui uma área de 21.918,454 km² e tem 2.242.937 habitantes (IBGE, 2014). Nos dois estados, o modelo de desenvolvimento é marcado pela concentração das riquezas, investimento em grandes projetos do capital, como monoculturas, agronegócio e exploração mineral, em oposição aos interesses dos agricultores familiares, dos povos tradicionais e indígenas. Cada estado a seu modo apresenta uma cultura marcante e plural, caracterizada por uma confluência de gêneros de vida europeus, africanos e indígenas, constituindo um mosaico étnico e cultural importante do patrimônio imaterial do Brasil, abrigado em uma diversidade de biomas: Caatinga, Cerrado e Mata Atlântica. No Cerrado, as pequenas árvores de troncos torcidos e recurvados e de folhas grossas, esparsas, em meio a uma vegetação rala e rasteira, misturam-se com campos limpos ou matas de árvores não muito altas. A Caatinga atravessa o sertão como uma floresta de árvores pequenas e retorcidas, ora como formação arbustiva, ora como uma escassa vegetação rasteira. E a Mata Atlântica, com sua densa e exuberante floresta, é rica em biodiversidade, com presença de diversas espécies de animais e vegetais. Nosso chão “Tem massa de mandioca, batata assada, tem ovo cru, banana, laranja, manga, batata, doce, queijo e caju, cenoura, jabuticaba, guiné, galinha, pato e peru, tem bode, carneiro, porco, se duvidá... inté cururu...” A Feira de Caruaru, Luiz Gonzaga
  • 7. 5 Para além da riqueza, importância e diversidade que cada bioma guarda, há uma característica comum a todos: o processo de extinção em ritmo acelerado, desencadeado pelo modelo de desenvolvimento agroexportador, alicerçado nos grandes projetos do capital, a exemplo do monocultivo, agronegócio, mineração, entre outros. Na contramão dessa história de exploração extensiva e perversa, há muitas tramas sendo desenvolvidas, experimentadas e vivenciadas por jovens, mulheres, sertanejos, fundos de pasto, ribeirinhos, pescadores e indígenas, que juntam suas forças e capacidades de luta na defesa dos seus territórios e pela vida com dignidade. É nesse chão, que tem homem e mulher, jovem e criança, negro e indígena, massa de aipim ou macaxeira, laranja, banana, jabuticaba, guiné, galinha, bode, pequi, buriti, umbu, se duvidá... inté cururu, que a Cáritas Regional NE 3 está assentada, evangelizando e sendo evangelizada, sendo presença solidária na escuta, na caminhada, na alegria e na luta.
  • 8. 6 “Declaro promulgado o documento da liberdade, da democracia e da justiça social do Brasil.” Com essa fala, o então deputado federal Ulysses Guimarães anunciou ao povo brasileiro a sua nova Constituição, na tarde de 5 de outubro de 1988. O documento – marco simbólico do rompimento com a Constituição de 1967, elaborada pela ditadura militar, que comandou o país de 1964 até 1985 – é resultado de intensa agitação, pela mobilização de diversos setores da sociedade civil, alguns setores da Igreja Católica, entre eles a Cáritas Brasileira, e os movimentos sociais que desejavam influir decisivamente no processo de construção da nova democracia. O Regional NE 3 nasce nessa conjuntura política. Um ambiente difícil, pautado por diversas forças, que tinham a democracia como ponto comum, mas com diferenças sobre a forma de alcançá-la. Já a Cáritas Nacional – que neste ano completa 60 anos –, foi criada em 1956, em um cenário também muito difícil, com dois projetos de sociedade sendo claramente disputados. O capitalista, que vai se consolidando, e o pensamento socialista, que avançava na América Latina e encontrava resistência das forças dominantes. O pastor Djalma Torres, da Igreja Batista de Nazareth, amigo e parceiro do Regional NE 3, lembra das lutas desse período. “Para além da abertura política, estávamos lutando, desde os anos 1970, pela revitalização da Igreja, pela criação de movimentos e instituições, como a Coordenadoria Ecumênica de Serviço (CESE), o Centro Ecumênico de Documentação e Informação (CEDI) e o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC). Aqui na Bahia, participamos da criação do Comitê de Solidariedade aos Povos da América Latina e Caribe (COSPAC), do Comitê de Solidariedade a Cuba e do engajamento na Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos. Desenvolvemos um programa de apoio a presos políticos e às suas famílias e um trabalho de acolhida a pessoas expulsas de igrejas e da sociedade”, comenta o pastor. Constante processo de conversão “É graça divina começar bem. Graça maior persistir na caminhada certa. Mas graça das graças é não desistir nunca.” Dom Helder Câmara
  • 9. A Cáritas Nacional surge numa vertente mais assistencialista, com os objetivos de “articular, em plano nacional, todas as obras sociais católicas ou de inspiração católica; e planejar, executar e fiscalizar a distribuição de donativos do povo norte-americano ao povo brasileiro, através da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB)”, conforme documentos oficiais. O Regional NE 3 surge em outro momento. “Eram tempos de investimento em ações de promoção humana através dos cursos de formação para o trabalho, da organização de grupos comunitários populares, já ali lançando as primeiras sementes para o que hoje vem a ser a Economia Popular Solidária e as finanças solidárias”, observa Cátia Cardoso, Secretária Regional NE 3. Nesse tempo já há um tímido começo da função dos fundos rotativos, uma semente plantada pelas várias Cáritas Diocesanas do Regional, como Ruy Barbosa, que tem mais de 50 anos; e a Cáritas Diocesana de Amargosa, que celebra meio século em 2016. O Regional NE 3 se alicerça nessas experiências e metodologias desenvolvidas pelas Cáritas Arqui(Diocesanas) da Bahia e Sergipe e inicia a sua caminhada com ações voltadas para o trabalho de formação comunitária, incorporando elementos da educação popular, do “ver, julgar, agir” e transformar, tendo como primeiro secretário regional padre Nelson Luiz da Franca, seguido de Daniel Carvalho. A dinâmica social, política e econômica foi apontando novos caminhos de atuação. Após 17 anos, o Regional inaugura a sua gestão colegiada, tendo como Secretário Regional padre Eliomar Gomes, seguido de Cleusa Alves, e aos poucos vai superando a perspectiva de promoção humana, se debruçando para a dimensão da luta por direitos; do desenvolvimento sustentável, solidário e territorial. A metodologia da Economia Popular Solidária vai ganhando força com a experiência dos Projetos Alternativos Comunitários (PACs), se constituindo como subsídio importante para todo o acúmulo em torno da questão dos fundos rotativos solidários – FRS, da qualificação do debate em torno do tema, da organização social, da construção do Fórum de Economia Solidária, e da constituição do Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional. O âmbito das políticas públicas, da incidência, também são destaque da metodologia do Regional NE 3, e expressa a fase do “pescar junto”, de ratificar que não são as instituições que detêm conhecimento e passam para os grupos acompanhados, para as comunidades e agentes, mas que há um conhecimento produzido por todos e que essa troca de saberes vai construindo tecnologias sociais e metodologias populares. E ainda da necessidade de um trabalho articulado envolvendo organizações e movimentos sociais e populares, sociedade civil e poder público. A experiência da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), uma rede de organizações sociais que a Cáritas integra, e que defende, propaga e põe em prática, inclusive através de políticas públicas, o projeto político da convivência com o semiárido, é um exemplo disso. 7
  • 10. 8 Nessa mesma linha, a experiência da Articulação de Políticas Públicas da Bahia (APP), um coletivo de organizações sociais, do qual o Regional NE 3 participa, se notabiliza animando o processo de controle social sobre a gestão pública, a exemplo da campanha Quem Não Deve Não Teme (2005 a 2010) e Tribunal Popular do Judiciário (2011 a 2012), entre outras. Passados 28 anos, o Regional está consolidado, mas em constante aprendizado, tendo como diretriz geral o compromisso com a construção do Desenvolvimento Solidário Sustentável e Territorial, na perspectiva de um projeto popular de sociedade democrática. E, como prioridades estratégicas, a promoção e fortalecimento de iniciativas locais e territoriais de desenvolvimento solidário e sustentável; a defesa e promoção de direitos, mobilizações e controle social das políticas públicas; e a organização e fortalecimento da Rede Cáritas. Está inserido na Rede Cáritas Nacional, composto de 12 escritórios regionais e quatro articulações, o NE 3, que reúne 17 entidades-membro, distribuídas entre os estados da Bahia e Sergipe, que funcionam de forma autônoma junto às comunidades, numa perspectiva de estar junto, de ser fermento, em um constante processo de conversão, como dizia o seu fundador, dom Helder Câmara.
  • 11. A vida é luta. Volta e meia, as pessoas nas comunidades trazem essa máxima, ora com muita desesperança, ora como um sinal de que estão na caminhada, firmes e fortes, prontas para os enfrentamentos. É certo, como bem lembra Josilene Passos, assessora do Regional NE 3, que a luta “tem momentos marcados pela apatia, cooptação de lideranças, descrenças, falta de unidade e medos. Mas também há conquistas e vitórias que não podem ser esquecidas e animam a continuar em frente”. Entre os altos e baixos das batalhas cotidianas, o Regional NE 3 tem feito um esforço para estar junto, nas trincheiras por um modelo de desenvolvimento mais justo. E, para dar concretude a essa presença solidária no meio do povo, desenvolve e participa de projetos e ações. Alguns deles são destaques nesta publicação. O Grito dos(as) Excluídos(as), que acontece anualmente no dia 7 de setembro em todo o Brasil, é um espaço aberto a grupos, movimentos e igrejas comprometidos com a causa dos excluídos e excluídas, que a cada ano vem se desenvolvendo como um processo articulado e coletivo na tentativa de que seja verdadeiramente ouvido o grito de excluídos e excluídas da sociedade. Desde que surgiu no Brasil no ano de 1995 até hoje, o NE 3 é presença na animação, articulação e participação no Grito dos(as) Excluídos(as). Atualmente, tem articulado a participação de representantes desse regional no Encontro Nacional do Grito. E ainda é o regional que promove o encontro de formação para os(as) animadores(as) do Grito em nível regional ou estadual. Ao longo desses anos, muitas entidades-membro puxam, animam e/ou ajudam na organização do Grito nas dioceses da Bahia e de Sergipe. Caminhar junto com o povo Transformar o que não dá mais “Quando dou comida aos pobres, me chamam de santo. Quando pergunto porque eles são pobres, chamam-me de comunista. Pobre não precisa só de caridade, mas também de Justiça”. Dom Helder Câmara Caminhar junto com o povo 9
  • 12. O Regional NE 3 da Cáritas é uma das organizações que realizam, assim como toda a Rede, a Semana Social Brasileira, iniciativa da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que convoca e anima as forças populares e intelectuais a debater questões sociopolíticas relevantes e traçar perspectivas para o país, baseadas no Ensino Social da Igreja. Até aqui, foram cinco edições de Semana Social que contaram com a participação da Cáritas Regional NE 3. Nos estados da Bahia e Sergipe, lideranças religiosas, de pastoral, movimentos sociais e organizações populares não pouparam esforços para mobilizar e animar a sociedade a discutir sobre questões importantes da realidade sociopolítica e econômica do país e suas consequências na vida de todos os brasileiros, contribuindo para a compreensão e identificação dos meios de democratização do Estado brasileiro, numa perspectiva propositiva de iniciativas transformadoras na construção do bem viver. Construir o bem viver A campanha da Área de Livre Comércio das Américas (ALCA) foi mais uma que contou com ampla participação do Regional NE 3. De olho nos riscos que uma área de livre comércio, com a eliminação de barreiras alfandegárias, poderia causar para a economia dos países periféricos, entre eles o Brasil, a campanha botou o bloco na rua. Teatro, jogral, cartazes, cantos se somaram a outros recursos metodológicos, fazendo chegar a todas as camadas da população informações sobre esse projeto e suas consequências. A mobilização popular foi exitosa, colocando, desde 2005, quando ocorreu a última Cúpula das Américas, o projeto na geladeira. “Foi um trabalho gigante nesse Regional. Conseguimos mobilizar 12 mil militantes e coletamos um milhão de assinaturas, com a participação, claro, de vários movimentos e organizações. Mas a rede ligada à Igreja, as Pastorais Sociais, não só a Cáritas, foi muito importante”, testemunha Cátia Cardoso. Essa ação animou o trabalho dos outros plebiscitos, como o da dívida externa, da Vale do Rio Doce. “Foram momentos importantes, educativos, que permitiram que a população discutisse temas que antes estavam só no meio da universidade, da intelectualidade”, completa a secretária. Um milhão de assinaturas Caminhar junto com o povo10
  • 13. O Tribunal Popular do Judiciário foi outra ação desenvolvida pela APP em vista de uma reflexão profunda sobre o papel e atuação do Poder Judiciário baiano. A motivação dessa iniciativa deve-se a uma “histórica situação de negação e violação dos Direitos Humanos no Estado, sem que as instituições que compõem a estrutura do Poder Judiciário assumam efetivamente suas responsabilidades constitucionais”, comenta Cátia Cardoso, Secretária do Regional NE 3. Como resultado concreto dessa inciativa, foram sistematizados e denunciados 14 casos de negação de direitos para organismos de controle nacional e internacional de defesa dos Direitos Humanos, apontando a responsabilidade do Poder Judiciário baiano nos casos de negação e violação de direitos. É importante salientar que essa foi uma iniciativa que se inspirou na experiência do Maranhão, com o objetivo de promover a democratização do sistema de justiça brasileiro. A Articulação em Políticas Públicas do Estado da Bahia (APP) foi mais que uma parceria, representou a união de forças de movimentos, pastorais, entidades e organizações da sociedade civil em torno da causa comum: formulação, elaboração, execução e controle de políticas públicas. Ela foi criada em 2001, reunindo pastorais e organizações sociais que tinham ações no âmbito da incidência em políticas públicas e eram apoiados pela Misereor, agência de cooperação alemã. Esse espaço permitiu trocas de experiência, acompanhamento e fiscalização das contas públicas, denúncias de casos de abusos, omissões e conivências do Poder Judiciário, criação de uma mentalidade e cultura de participação política democrática e popular na Bahia. “Participar de campanhas como ‘Quem não deve não teme’; ‘Participação Política’ e ‘Voto não tem preço, tem consequência’ constituiu um marco na história política baiana, em terras de coronéis, onde um manda, muitos obedecem e não se atrevem a desafiar”, enfatiza Josilene Passos. As forças juntar Caminhar junto com o povo 11
  • 14. 12 O projeto Reciclando Vidas promoveu mudanças significativas na vida dos catadores e catadoras, oportunizando a saída da invisibilidade, através de formação política e orientação para formação de cooperativa. Desenvolvido pelo Regional NE 3, em parceria com as Cáritas Diocesanas de Barreiras e de Amargosa, no período de 2009 a 2012, o projeto promoveu conquistas, inclusão, cidadania e dignidade na vida de inúmeras pessoas nos municípios de Barreiras e Santo Antônio de Jesus. “Costumamos dizer que a reciclagem não é só dos resíduos, mas, sobretudo, do modo de ver a vida, possibilitando um momento novo”, sinaliza Josilene Passos. Embora contabilize avanços, ainda há um caminho longo a ser percorrido pela sociedade brasileira e pelo Estado, que ainda não se vê como elemento importante no processo de reciclagem, e não conhece e/ou reconhece a Política dos Resíduos Sólidos e sua contribuição para a conservação do meio ambiente. Momento novo “Mais que comum dos dias, olhei o mais que pude os rostos dos pobres, gastos pela fome, esmagados pelas humilhações, e neles descobri teu rosto, Cristo Ressuscitado!” Dom Helder Câmara
  • 15. 13 Presença solidária Em 1989, o Regional NE 3 passa a atuar junto a pessoas infectadas pelo vírus do HIV/Aids, em parceria com as Cáritas Diocesanas de Ilhéus, Vitória da Conquista, Barreiras, em parceria com o Dignivida – Promoção da Vida Humana; Salvador e Feira de Santana, na Bahia; Aracaju, Estância e Propriá, em Sergipe, através do Projeto Solidariedade e Esperança Aids (PSE/AIDS). A agente Maria D’Ajuda Ferreira lembra que a iniciativa foi uma forma que o Regional encontrou de dar resposta à epidemia, sendo presença solidária junto às famílias e às pessoas contaminadas. O primeiro passo do trabalho foi conhecer as pessoas que contraíram o vírus. Iam aos hospitais e, naquele momento, quando não havia ainda medicamentos apropriados para o enfrentamento da doença, o quadro era muito difícil, com os pacientes já em estado terminal. “A gente fazia um trabalho de acompanhamento e apoio, do hospital ao cemitério. Procurávamos orientar sobre os diretos à aposentadoria e auxílio-doença. Levávamos para fazer exames em Salvador”, explica a agente. Ao lado desse acompanhamento, as equipes diocesanas, com o apoio do Regional, passaram a atuar na prevenção, promovendo encontros orientadores sobre as formas de contágio. “Íamos aos estacionamentos dos caminhões conversar com as meninas que se prostituíam”, completa D’Ajuda. O trabalho notabilizou-se, sendo reconhecido por órgãos públicos. Hoje, a atuação é pautada pela orientação à prevenção. Apesar de o acesso e a evolução do tratamento levarem ao aumento da sobrevida dos portadores do HIV/Aids, não se pode perder o medo e o cuidado, pois ainda se trata de uma doença. “Os desafios continuam. Além do suposto controle, precisamos continuar orientando as pessoas sobre as doenças sexualmente transmissíveis, entre elas o HIV/Aids”, chama a atenção D’Ajuda. “Há criaturas como a cana: mesmo postas na moenda, esmagadas de todo, reduzidas a bagaço, só sabem dar doçura.” Dom Helder Câmara
  • 16. 14 Segundo dados de 2012 do governo federal, a cada 5 minutos uma mulher é agredida no país. Em 80% dos casos, o agressor é o marido, companheiro ou namorado. Recentemente, o caso de estupro envolvendo uma jovem de 16 anos, abusada por pelo menos 30 homens, no Rio de Janeiro (RJ), ganhou espaço na mídia nacional e internacional. A Lei Maria da Penha, de 2006, que prevê o aumento de punição contra o agressor e agora foi classificada como crime de tortura, é um avanço, mas ainda é insuficiente para inibir a prática desses crimes, restando às mulheres cada vez mais se organizarem na luta pelos seus direitos. A Cáritas repudia toda e qualquer forma de violência e se solidariza com as mulheres em suas lutas, presente na história do cotidiano feminino. Foi assim nas reivindicações por direitos sociais, ao voto, divórcio, educação, trabalho, liberdade sexual e mais recentemente contra a violência – que está em um patamar insustentável – e por respeito aos direitos reprodutivos. O Regional NE 3, apesar de não ter um projeto direcionado para o trabalho, nunca perdeu de vista essa dimensão. Em todas as suas ações, a questão de gênero é um tema presente, na perspectiva do empoderamento das mulheres. E são as próprias mulheres que vão dando a linha de como trabalhar, através da atuação concreta em suas comunidades. No semiárido, é cada vez mais comum encontrar as mulheres à frente dos processos de Economia Solidária, quintais produtivos e feiras agroecológicas, ou seja, em ações que oportunizam geração de renda e autonomia. O trabalho das mulheres da comunidade de Queimada Grande, em 2001, ilustra bem esse crescimento da participação feminina em espaços de decisão. Localizada no município baiano de Banzaê, a comunidade se intitulava Pau Ferro, após uma remoção devido a um conflito entre índios Coragem e ousadia “Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do mundo.” Dom Helder Câmara
  • 17. 15 e posseiros no qual os primeiros buscavam a retomada de suas terras. Os(as) trabalhadores(as) rurais que viviam no povoado permaneceram, resistiram e, após o reconhecimento e a devolução da terra para os índios kiriris, fundaram a comunidade de Queimada Grande, em 13 de setembro de 1997, a 3 km do seu território original. Após uma retomada indígena, a comunidade removida ficou abrigada embaixo da lona, sem nenhuma perspectiva. A partir de uma ação de Economia Solidária do Regional NE 3, o trabalho com as mulheres foi sendo construído. Aos poucos, elas foram se empoderando e perceberam a possibilidade não só de aumentar a renda, através do artesanato que produziam, mas de reconstruir a dignidade, de pensar em um projeto de desenvolvimento para aquele novo território. Dessa provocação surge toda uma forma organizativa, com a conquista de políticas públicas, com a construção da escola, do posto médico, da fábrica de beneficiamento de castanha e da sede da associação para produção do artesanato. “Hoje essas mulheres estão no mundo passando sua experiência, intercambiando saberes que não se restringem ao crescimento da comunidade, mas também à construção de novas formas de relacionamento com a família, que antes não via com bons olhos a saída das mulheres para participação em encontros e feiras, e hoje entende a importância desse protagonismo”, avalia Cátia Cardoso, Secretária Regional NE 3. As conquistas dessas mulheres dão conta de um processo de crescimento não só delas, mas também da própria Cáritas, que contribui e, se alimentando dessas experiências, se transforma também. Até pouco tempo, não havia muitas mulheres nos espaços de gestão da instituição. Hoje, no entanto, há um contínuo processo de equidade de gênero, com mais mulheres participando de todas as ações.
  • 18. 16 O cuidado com o ser, o sujeito, respeitando sua individualidade e coletividade, bem como a contribuição para as conquistas e garantia dos seus direitos, numa construção coletiva e participativa de todos e todas, é marca da metodologia da Cáritas. E isso se materializou, entre outras ações, no trabalho com crianças e adolescentes, através do Programa de Defesa e Promoção dos Direitos da Infância, Adolescência e Juventude (PIAJ). Em 2003, a Cáritas Brasileira ampliou o trabalho desenvolvido com crianças e adolescentes incluindo a juventude. A ação saiu da linha das emergências para a de direitos, passando a partir daí a ser o PIAJ. Isso muda significativamente a orientação política, que passa a assumir o trabalho com o caráter permanente e extensivo a todas as crianças e adolescentes em situação de exclusão e vulnerabilidade. Diante de tamanho desafio, o trabalho se desenvolveu com os grupos e entidades parceiras nas dioceses. A partir do planejamento, eram promovidas formações em políticas públicas, orientando crianças e adolescentes e seus responsáveis a ocupar os espaços democráticos, como fóruns e conselhos de criança e adolescente. Essas iniciativas ampliavam o poder de decisão e visão de mundo das crianças e adolescentes que integravam o programa, pois a autonomia era um princípio que permeava o trabalho. Assim, não só as ações mais locais iam ganhando força, como também as bandeiras estaduais e nacionais, em relação aos direitos de crianças e adolescentes, passaram a entrar na agenda dos grupos. A força dos novos “Tem pena, Senhor, tem carinho especial com as pessoas muito lógicas, muito práticas, muito realistas, que se irritam com quem crê no cavalinho azul.” Dom Helder Câmara
  • 19. 17 Em sua caminhada de 10 anos, o PIAJ acumulou momentos marcantes na vida de todas e todos envolvidos, direta ou indiretamente. Entre eles, destacam-se os encontros regionais que congregavam participantes do Programa da Bahia e Sergipe; o projeto de participação política, no qual crianças e adolescentes, entre 7 e 12 anos, estudavam o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), em especial o artigo 4º, indo a campo na sua comunidade para fotografar onde esses direitos estavam garantidos ou violados; a campanha de participação política, que reuniu, a partir de um coletivo, candidatos a prefeito para debater e se comprometer com a juventude; concurso em escolas públicas sobre a temática da infância e juventude; e o projeto Tecendo Redes de Enfrentamento ao Trabalho Infantil, com Ênfase na Exploração Sexual Comercial e do Tráfico de Crianças e Adolescentes, com o envolvimento de adolescentes, educadores e educadoras de escola pública e a rede de proteção à criança e ao adolescente. Para Darci Moraes, então assessora do PIAJ, “o trabalho contribuiu não só para mobilização em torno do tema e articulação com diversos setores da sociedade, mas sobretudo para a reflexão crítica das crianças, adolescentes e jovens sobre suas realidades, para a incidência política, e protagonismo das lutas e reivindicações”, comenta. Alexsandro Nascimento participou do PIAJ, pertencia ao coletivo Rede de Jovens do Nordeste e lembra com carinho desse tempo. Ele credita boa parte da sua formação política aos momentos de formação e participação oportunizados pelo Programa. “Eu e outros jovens fomos acolhidos e encontramos nesse espaço a possibilidade de fortalecer as nossas reflexões sobre as questões que envolviam a juventude”, afirma. As ações desenvolvidas pelo PIAJ foram também fator de integração com a comunidade, fortalecendo crianças, jovens e adolescentes a participar das decisões e da caminhada da comunidade. “Existe uma concepção que permeia alguns adultos em relação à autonomia de crianças no que tange ao seu pensar sobre a realidade que vivenciam. Em muitos casos, as crianças são entendidas apenas como adultos em miniatura, ou que basta suprir suas necessidades básicas. A Cáritas entende as crianças como sujeitos de direitos. Que pensa como criança, elabora sua realidade como criança e sabe decidir o que quer”, afirma Darci Moraes. As juventudes também são alvos de concepções equivocadas e geralmente responsabilizadas pelos males que ocorrem na sociedade, estereotipadas como acomodadas, irresponsáveis. É recorrente a afirmação de que a juventude de hoje não quer nada. “A Cáritas discorda completamente dessa afirmação, pois testemunha concretamente articulações com jovens que sonham e lutam pela construção do bem viver, mas que também são vítimas desse sistema capitalista excludente”, pontua Amanda Santos, assessora do Regional.
  • 20. Afirmada com a Política de Infância, Adolescência e Juventude que está em processo de construção, a Cáritas reconhece as juventudes como sujeitos de direitos que têm faixa etária entre 15 e 29 anos com variadas expressões: políticas, sociais, culturais, religiosas, urbanas, rurais, quilombolas, indígenas, ribeirinhas, entre outras, e se empenha no fortalecimento dessas para a construção de seus projetos de vida e consolidação do projeto popular de uma sociedade justa e solidária. No cenário atual de retrocessos de direitos conquistados e de total desrespeito à jovem democracia, é importante valorizar o fortalecimento institucional da Cáritas Brasileira em nível nacional e também no Regional NE 3, no que se refere à atuação com juventudes, ocorrido desde 2003, com uma articulação com a Rede de Jovens do Nordeste, Rede de Protagonismo Juvenil, além das pastorais de juventudes (PJ, PJMP e PJR), Levante Popular da Juventude, Juventude da Teia dos Povos e organizações que atuam com juventudes na Bahia, como Comunicação Interativa (CIPÓ), Centro de Educação e Cultura Popular (CECUP), Assessoria ao Movimento Popular de Salvador (ISPAC). Isso tem possibilitado processos formativos em políticas públicas com juventudes; participação na Campanha contra a Violência e o Extermínio de Jovens; o encontro internacional de juventudes Cáritas, no qual os jovens de diversos países, maioria da América Latina, intercambiaram saberes e desafios e politizaram a participação na Jornada Mundial da Juventude com a “Tenda das Juventudes”; fortalecimento do Grito dos(as) Excluídos(as); encontros regionais com as juventudes da Bahia e Sergipe; formação do GT de Juventudes Cáritas NE 3, animando jovens a se integrar em espaços dentro e fora da Rede Cáritas, seja no âmbito da Economia Solidária, convivência com o semiárido, incidência em políticas públicas e rede de comunicadores. O cuidado com as relações tem sido essencial nesse caminho de pedras e flores. Por isso, a juventude continua resistente, com sonhos sendo construídos coletivamente e com a convicção de que “não se pode pretender construir um futuro melhor sem pensar na crise do meio ambiente e no sofrimento dos(as) excluídos(as)”, como bem provoca o papa Francisco. 18
  • 21. Ao longo dos 28 anos de caminhada do Regional NE 3, a Economia Popular Solidária (EPS) vem sendo considerada como um dos pilares estratégicos para a construção social do desenvolvimento sustentável, solidário e territorial. Iniciou-se por meio dos Projetos Alternativos Comunitários (PACs), onde, desde o ano de 1984, serviu-se como gesto concreto às necessidades de sobrevivência e organização de grupos e comunidades, sendo instrumento de promoção da justiça social, fortalecimento político-institucional, valorização das lutas populares e apoio às iniciativas locais de desenvolvimento comunitário. A Ir. Delires Brun faz memória desses tempos iniciais dos PACs. Ela conta que eram feitas visitas formativas nas dioceses com o objetivo de dialogar e incentivar o processo de fortalecimento institucional da Cáritas e dar maior visibilidade à questão solidária na região. Eram momentos de marcar presença junto aos grupos de base, entidades e movimentos locais. “A minha experiência nesse período era acompanhar os PACs com foco nos grupos produtivos, que, mesmo em sua finalização, eram a forma de enfrentamento à pobreza e combate à fome”, pontua a religiosa. Ainda nesse período, iniciou-se a avaliação dos PACs. Um dos aspectos apontados nesse processo foi a necessidade de incentivar os grupos beneficiários para uma interação mais efetiva junto aos movimentos sociais, isto é, a necessidade de provocá-los para uma participação maior no Grito dos(as) Excluídos(as), nas campanhas e reivindicações dos trabalhadores. Com as mudanças, nos anos de 1990, no perfil da cooperação internacional, que apoiava, por meio de dotação de recursos, os fundos de apoio aos PACs, a Cáritas partiu para um diálogo com a CNBB, motivando o fortalecimento do Fundo Nacional de Solidariedade, como proposta de apoio aos PACs. “Mesmo sendo um período bastante desgastante, foi possível ajustar outras formas de apoio aos grupos e assim continuar a solidariedade própria da Cáritas”, destaca Delires. Unindo o cordão “Quando sonhamos sozinhos, é só um sonho; mas quando sonhamos juntos, é o início de uma nova realidade.” Dom Helder Câmara 19
  • 22. 20 O Regional NE 3 notabilizou-se na dinâmica de divulgação e circulação e no intercâmbio em rede de conhecimentos dos projetos bem-sucedidos, visando articular entidades parceiras, envolver instituições governamentais e influir nas políticas públicas. A partir dessa realidade, aos poucos os PACs foram incorporados à linguagem da Economia Popular Solidária também em nível nacional. “Foi um período rico que favoreceu a articulação e a participação nos Fóruns Sociais Mundiais”, acentua Delires. Essa linha de ação iniciada na época dos PACs ainda é um elemento central da atuação do Regional, principalmente na dinâmica de articulação dos movimentos sociais na construção da política de Economia Solidária nos estados da Bahia e Sergipe, evidenciado sobretudo no esforço coletivo de entidades de apoio e fomento, empreendimentos econômicos solidários e poder público na criação do Fórum Baiano e Sergipano de Economia Solidária, nos anos de 2003 e 2004, respectivamente. Outro elemento de destaque por parte do Regional NE 3 está no desenvolvimento de programas e projetos, em articulação com o Estado, em seus diversos âmbitos de atuação. Destaca-se ao longo dos anos, uma série de projetos, entre os quais o Projeto de Segurança Alimentar e Nutricional para Acampamentos e Pré-Assentamentos de Reforma Agrária do Semiárido dos estados da Bahia e Sergipe (PSAN), iniciado no ano de 2006 e envolvendo diversos parceiros no âmbito dos governos federal e estaduais (Bahia e Sergipe); projetos de fortalecimento de empreendimentos econômicos solidários, com apoio do Banco do Nordeste do Brasil, realizados nos anos de 2006 e em 2012; Fortalecer as Finanças Solidárias no Estado da Bahia através da Consolidação de Metodologias de Constituição de Implementação e Gestão de FRS, construído a partir de uma parceria da sociedade civil com o governo do estado da Bahia, tendo seu processo de articulação, iniciado no ano de 2009 e sua finalização no ano de 2015. Ao longo dos anos, a Cáritas Brasileira Regional NE 3 vem cumprindo um papel de articuladora no fortalecimento da política pública de Economia Popular Solidária e dinamizadora da metodologia de Fundos Rotativos Solidários, sendo essa metodologia de finanças solidárias uma estratégia essencial de fortalecimento de acesso a recursos financeiros e não financeiros, constituindo-se como eixo integrador das políticas públicas, principalmente aquelas que visam à construção de modelo de desenvolvimento calcado na sociedade do bem viver e tendo o empoderamento político e econômico dos sujeitos.
  • 23. “Com o recrudescimento das políticas de desenvolvimento, tendo maior enfoque no rentismo, partindo da excessiva mercantilização dos bens coletivos, principalmente a natureza; o enfraquecimento do papel do Estado na implementação de políticas públicas com gravíssimos retrocessos político-institucionais, faz-se necessário a retomada das articulações dos movimentos sociais, tendo como foco a construção de um modelo de desenvolvimento que permeie a coletividade e a relação harmoniosa com a natureza”, reflete Marcos Fabrício Oliveira, assessor da Cáritas Regional NE 3. Enquanto proposições de ações para o fortalecimento da Economia Popular Solidária como elemento de transformação da realidade, apontam-se a construção de uma política pública permanente, tendo como eixo essencial a construção de um sistema de finanças solidárias que permita acesso ao crédito de forma apropriada com as necessidades dos grupos produtivos; o assessoramento técnico permanente, considerando a perspectiva dos Centros Públicos de Economia Solidária (CESOL), focando no respeito aos princípios da Economia Solidária e garantindo acesso ao assessoramento técnico, de forma contextualizada com as diversas dinâmicas territoriais; fortalecimento da comercialização e formação de redes colaborativas, considerando as dinâmicas territoriais e as cadeias produtivas, tendo como princípios a solidariedade e as relações harmoniosas entre todos os participantes da cadeia. 21
  • 24. Com um jeito bem particular de ser presente, o Regional NE 3 norteia a sua caminhada fundamentada em espiritualidade ecumênica e de diálogo inter-religioso. No desenvolvimento de suas ações, frente ao mundo de demarcações religiosas, busca firmar sua identidade reconhecendo e valorizando as diferenças, respeitando a religiosidade, a crença, a cultura e a história de cada povo. Tudo isso junto com a militância social são alguns elementos que tornam real e significativo o sentido de ser Cáritas – sempre atenta aos sinais dos tempos e comprometida com a construção do Reino de Deus. “Ir ao encontro dos irmãos e irmãs e caminhar juntos é parte essencial da nossa missão. Esse compromisso se expressa em cada gesto de defesa da vida, frequentemente ameaçada e violentada”, enfatiza Cleusa Alves, assessora Regional. Se incialmente a solidariedade tinha como marca dar o peixe, em uma relação recíproca, grupos e entidades foram travando novas formas de exercer a escuta, o apoio, sempre de forma respeitosa, se colocando no lugar do outro, acolhendo e partilhando saberes, de modo a efetivar a busca por dignidade e justiça. “Temos essa marca da solidariedade, não da promoção social, mas da promoção do discurso do sujeito. As famílias dizem que temos um jeito diferente, uma forma de tratar as questões sociais, um modo particular de lidar com os conteúdos, uma mobilização para a solidariedade. Isso é uma marca, é a nossa identidade”, comenta padre Francisco José de Almeida, agente da Cáritas Diocesana de Irecê. “A maneira de ajudar os outros é provar-lhes que eles são capazes de pensar.” Dom Helder Câmara Sozinho, isolado ninguém é capaz 22
  • 25. Essa presença solidária não é expressa somente no âmbito das relações com as comunidades, mas também através da cooperação de entidades parceiras, com recursos humanos e materiais, que possibilitam ao Regional desenvolver projetos e ações de apoio aos que mais necessitam. “É no compromisso comum na luta por justiça que realmente vamos construindo juntos esse caminhar em comum: seja na preparação e na execução do Grito dos(as) Excluídos(as) a cada ano; na construção da Campanha da Fraternidade Ecumênica, em especial a de 2016; na luta pelo Rio São Francisco”, ressalta Joel Zeferino, pastor na Igreja Batista Nazareth e Presidente da Aliança de Batistas do Brasil. A cooperação, o voluntariado, o trabalho conjunto e a solidariedade são uma marca também dos agentes Cáritas, sem os quais o trabalho não seria possível. São os agentes que levam adiante a missão institucional, motivados pela vivência da espiritualidade, sentindo Deus em todas as coisas. Ser agente Cáritas é embriagar-se de uma energia que brota do Evangelho, de uma espiritualidade embasada na fé, na ressurreição, e inspirada na prática libertadora de Jesus de Nazaré. Com gratidão, o Regional registra a alegria de poder contar com uma rede de agentes comprometidos com a missão da instituição e com a construção da sociedade do bem viver. 23
  • 26. Eu ainda era um jovem adolescente quando ecoava em todas as rádios e TVs do Brasil essa linda música, obra coletiva de grandes artistas brasileiros. Lançada em meados dos anos 1980 (1985), a música era parte de um disco que era o elemento central de uma campanha em prol do povo nordestino, que sofria com o flagelo de mais um período longo de estiagem na região. Exemplos como esse mostram que a solidariedade e a preocupação humanitária sempre foram uma constante quando o assunto eram as secas e a “Região Nordeste”, seja na sociedade como todo, seja em setores específicos, ou mesmo instituições. O fenômeno climático de estiagens prolongadas no semiárido brasileiro é um fator natural que acontece nessa região há muitos séculos, tendo um território que se estende por uma área que abrange a maior parte dos estados da Região Nordeste (86,48%), a região setentrional do estado de Minas Gerais (11,01%) e mesmo com questionamentos técnicos e científicos, para muitos, se amplia ao norte do Espírito Santo (2,51%). Possui 1.133 municípios e ocupa uma área de 974.752 km². É o maior e mais populoso do mundo. Com mais de 22,6 milhões de habitantes, representa 11,8% da população brasileira, sendo 44% desta residente na área rural, a maior porcentagem do país. Depois da chuva, o sol da manhã “ Chega de mágoa... Chega de tanto penar Canto e o nosso canto... Joga no tempo uma semente Gente, olha essa gente... Olha essa gente, olha essa gente Te quero água de beber... Um copo d’ água Marola mansa da maré... Mulher amada Te quero terra pra plantar... Te quero verde, hum Te quero casa pra morar... Te quero rede Depois da chuva, o sol da manhã...” Luiz Cláudio Mandela* Outras palavras24
  • 27. Desde o Brasil Império que essa região tem motivado posicionamentos, ações e também processos políticos. A célebre frase “Venda-se o último brilhante da coroa, contanto que nenhum brasileiro morra de fome!”, proferida pelo o Imperador Dom Pedro II, é um exemplo histórico e emblemático. Ainda no período do Estado Novo, foi criado o DNOCS, e mais à frente, em 1959, o governo, motivado e sensibilizado por uma série de posicionamentos políticos e técnicos, especialmente pela carta final do Encontro dos Bispos do Nordeste, realizado em 1956, criou a SUDENE e instituiu fundos federativos para financiar o desenvolvimento da região. No entanto, o grande problema do Nordeste e do semiárido nunca foi atacado, pelo contrário, as ações para promover o desenvolvimento nessa região sempre foram equivocadamente pautadas no ataque à natureza, como inclusive está presente no próprio nome do Departamento Nacional de Obras contra as Secas (DNOCS), e não na promoção da convivência com essa realidade. Igualmente ao restante do Brasil, o semiárido é uma região com alto grau de concentração da terra, das riquezas, com forte presença do patriarcado, do fisiologismo político e da corrupção. Tudo isso se agrava pelo empobrecimento congênito, causado por séculos de exploração das pessoas e dos recursos naturais. A presença viva, companheira e profética da Igreja na região, tem sido sempre constante e definitiva para esses povos. Exemplos como o do padre Ibiapina, dos conselheiristas, de D. Fragoso, assim como os leigos engajados em suas pastorais, que têm no decorrer da história reafirmado e construído junto com os povos sertanejos a dimensão da convivência com o semiárido e da garantia dos direitos. A Cáritas, nos seus quase 60 anos, sempre esteve presente e ativamente em ação e missão nessa terra tão sofrida que é o semiárido. Acompanhando os passos e os processos da sociedade, essa presença se deu ora através de campanhas para arrecadar e distribuir alimentos, ora mobilizando e desenvolvendo experiências para buscar autonomia alimentar e hídrica das famílias da região. Foi durante um período de longa estiagem e pensando em mais uma campanha que a Cáritas, já inspirada em várias experiências exitosas, propôs a parceiros da cooperação internacional o Projeto El Niño, uma proposta de trabalhar durante um período (dois anos) uma ação piloto de convivência com o semiárido, pautada nas obras hídricas descentralizadas, na educação ambiental e na produção apropriada, principalmente na pecuária de pequenos e médios animais (caprinos e ovinos). A experiência desenvolvida pelo Projeto El Niño foi avaliada muito positiva e produziu acúmulos para que a Rede Cáritas, em seu I Congresso, realizado no ano de 1999 em Fortaleza, no Ceará, definisse, após uma longa reflexão, colocar o tema do semiárido como uma das suas prioridades. E, além disso, criar um programa de ações tendo como horizonte estratégico e metodológico a convivência com o semiárido, baseado em três pilares: água, produção e formação. Outras palavras 25
  • 28. Já se passaram mais de 15 anos, desde então, e o PCSA, como é chamado até hoje o Programa de Convivência com o Semiárido da Cáritas Brasileira, vem contribuindo de forma significativa para as transformações na realidade dessa imensa região. Com atuação em todos os estados do Nordeste e mais parte de Minas Gerais, o PCSA foi a primeira ação regional pensada para a região, tendo a convivência com o Semiárido como estratégia de atuação. É um orgulho para a Cáritas ter servido como exemplo e espelho para o que se tornou a maior e mais participativa experiência de política pública no Brasil. Os programas de convivência com o Semiárido propostos pela ASA (Articulação no Semiárido), além de executados pela articulação e suas mais de 3 mil instituições, são hoje assumidos e executados por governos estaduais e municipais de todos os estados que compõem o território. Diferentemente das obras “contra a seca”, esses programas, conceitualmente e na prática, são processos de mobilização social, com forte participação das famílias, das mulheres e também de uma juventude cada vez com mais vontade de morar e viver no semiárido. Nessa caminhada, podemos perceber e confirmar que o semiárido não é e nunca foi uma região pobre por natureza, e muito menos está pobre por motivo da falta de chuvas ou mesmo pela sua má distribuição. Para nós, foi construída no decorrer de séculos uma estrutura de pensamento, levando a sociedade brasileira a pensar que o problema da região é a falta de água, e não a sua democratização. Da mesma forma, foi concebido o estigma de que o grande inimigo dos povos do semiárido é o clima em que vivem, e não a concentração da terra, da renda e riqueza produzida e existente nessa região. Esse pensamento levou todos, de dentro e de fora do semiárido, a achar que esse clima deve ser combatido, pois as possibilidades endógenas de geração de desenvolvimento para essa região são ínfimas nesse clima e com tão grande população. Outras palavras26
  • 29. * Engenheiro Agrônomo e mestre em política e desenvolvimento, é Diretor Executivo Nacional da Cáritas Brasileira Muitos avanços foram constatados nesses anos, são populações inteiras de municípios que já têm segurança hídrica para superar os períodos de seca, crianças que crescem estudando de forma contextualizada, aprendendo como é viver e conviver com o semiárido. No entanto, desafios ainda permanecem, principalmente os relacionados à democratização da terra e da água, assim como o da consolidação das políticas públicas que promovam o desenvolvimento da região. O que podemos dizer que é uma grande conquista do PCSA e, por conseguinte, da ASA e de suas tantas entidades, é a virada desse pensamento, o que o professor e pesquisador Roberto Marinho afirma ser a mudança paradigmática, na qual o antes ecossistema inóspito e impossível de gerar desenvolvimento passa a ser um espaço de possibilidades. Essa mudança de paradigma refletido pelo pesquisador não se justifica e se restringe a apenas a milhares de cisternas implantadas em todo o território, ela tem a ver com as modificações vistas, ouvidas, sentidas por todos os povos de dentro e de fora do semiárido. Essas mudanças estão nas músicas, que pararam de falar de tristeza, de mágoa, estão nas imagens que deixaram de retratar a morte, estão na mídia que para de falar e retratar os saques e o êxodo, assim como estão nos dados e índices sociais e econômicos, pois começamos a ver uma região que de forma endógena começa a ter uma educação contextualizada, uma produção apropriada e uma cultura da alegria e da vida. Afinal de contas, como diria a poetiza do norte de Minas Gerais: “É no semiárido que a vida pulsa”. Outras palavras 27
  • 30. Convidado para escrever sobre a contribuição da Cáritas Regional Nordeste 3 nas experiências da Articulação em Políticas Públicas (APP) e no Tribunal Popular do Judiciário (TPJ), gostaria de colocar-me na condição de “testemunha ocular” de um valoroso processo político-pedagógico que tem seus fundamentos teóricos e práticos no método da educação popular e no jeito próprio de ser, estar e fazer proféticos num contexto histórico tão complexo e desafiante. Do ano de 2002 pra cá, meus olhos têm acompanhado o esforço da Cáritas, em conjunto com outras pastorais e movimentos sociais, num intenso processo de produção e sistematização de conteúdos educativos com os objetivos de denunciar as mazelas produzidas pelo modelo de desenvolvimento economicista vigente que tudo transforma em mercadoria e lançar sementes de esperança, democracia direta, solidariedade, justiça, paz, acolhida, aconchego, empoderamento, compaixão, mobilização social. Através da Articulação em Políticas Públicas – APP, foi possível perceber uma forte ação socioeducativa de empoderamento de lideranças comunitárias e agentes pastorais sobre os caminhos a serem percorridos para a realização de uma incidência eficaz junto ao poder executivo, tendo em vista a transparência do orçamento público e a efetivação de direitos e políticas públicas fundamentais. A campanha “Quem não deve não teme” tornou-se uma referência efetiva de controle social e seus ecos foram além dos limites geográficos e políticos do regional. Nesse seu fazer trabalho de base, a Cáritas tornou-se importante âncora de animação e agregação de organizações sociais em torno desse importante tema. O controle social sobre o poder executivo não bastava para avançar na efetivação de direitos e políticas. Era preciso fortalecer e subsidiar as organizações sociais, potencializar as mobilizações sociais e incidir sobre um poder judiciário ultraconservador e historicamente alheio às demandas das organizações e movimentos populares do campo e da cidade. Contribuições da Cáritas nas experiências da APP e TPJ Gilmar Santos* Outras palavras28
  • 31. O Tribunal Popular do Judiciário serviu pra denunciar os desmandos e as omissões do judiciário e contribuiu para uma reflexão crítica sobre o papel dessa instituição frente aos direitos civis, políticos e sociais. Lembro-me das várias reuniões de preparação, dos e-mails e das diversas ligações telefônicas feitas pela Cáritas para garantir a realização das atividades do TPJ. Sementes lançadas caem em terrenos diversos. Além de despertar e motivar envolvimento de organizações sociais e das comunidades sobre esse tema, o TPJ produziu um importante dossiê sobre casos emblemáticos denunciados pelas comunidades tradicionais (quilombolas, pescadores, indígenas, trabalhadores(as) do campo e da cidade) que foram alvos do descaso do poder judiciário. Hoje, 2016, observo que toda onda/reação conservadora do Congresso Nacional, do Judiciário e o golpe de estado contra a “democracia” são respostas violentas a um período de muita ousadia, incidência política, democracia ativa-direta. Período de afirmação de identidades: étnico-racial, gênero, orientação sexual, religiosas, juventudes, pessoas com deficiências, formas de convivência com o semiárido, visibilidade das resistências e lutas dos povos e comunidades tradicionais, experiências de Economia Solidária, etc. Vida que segue. A contribuição da Cáritas junto à APP e ao TPJ nos ensina que, mais do que produzir “peças” críticas e postar nas redes sociais, é preciso avaliar profundamente o caminho. Intensificar o trabalho de base. Contribuir mais ainda para a formação política do nosso povo. Aglutinar forças. Continuar lançando sementes. Sem sombra de dúvidas, as sementes que brotaram até aqui são resultado de um intenso processo coletivo de educação popular com a notável contribuição da Cáritas Regional NE 3 nos seus 28 anos de serviço na Bahia e em Sergipe. *Arte-Educador Popular – Integrante do Conselho Pastoral dos Pescadores (BA) Outras palavras 29
  • 32. A Cáritas e o Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro), empresa pública vinculada ao Ministério da Fazenda, já fazem parcerias há uns 8 anos, desde a implantação do 1º telecentro em Ilhéus, na Casa de Acolhimento, em 14/11/2008 e, na sequência, em Queimada Grande, no dia 21/11/2008. Evidentemente que os agentes, parceiros, agregados ou todos que são protagonistas nas ações com a Cáritas logo desejaram ter telecentros em seus ambientes sociais. E aí foram contemplados a Comunidade Quilombola de Paus Altos, no município de Antônio Cardoso, a Arquidiocese de Amargosa, no município de Iaçu, o Movimento da População de Rua, no Pelourinho, em Salvador, e a Escola de Música EMARTES, em Serrinha. Ou seja: a Cáritas solicitava, avaliávamos o projeto e invariavelmente aprovávamos a solicitação, por constatar que os solicitantes tinham trabalho social relevante em suas comunidades. Para nós do Serpro, uma empresa pública de informática, cada telecentro implantado significa a vitória de uma gestão que apostou num projeto dessa magnitude. Antes esses computadores eram vendidos em leilões para a iniciativa privada. Mudar o foco e disponibilizar acesso à tecnologia da informação para camadas populares de forma gratuita descaracteriza a ideia individualizante de cada um ter o seu, principalmente para camadas sociais que não se enquadram nesse perfil. Aqui, todos são donos e devem cuidar solidariamente do patrimônio. É uma forma diferente de pensar o organismo Estado como elemento provedor. Entre solicitar um telecentro e tê-lo efetivamente implantado, nos deparamos com desafios e algumas dificuldades. Uma coisa é desejar ter, outra é reunir condições para ter. Aí vêm as questões de infraestrutura básica, como espaço físico, mesas, cadeiras apropriadas, rede elétrica e lógica, climatização, estabilizadores, monitores, etc. Nesse momento, outras parcerias tornam-se necessárias, pois nem sempre a comunidade tem condições de arcar com esses custos. Outro fator importante é a necessidade de se ter um projeto definindo claramente o uso desses equipamentos, qual público, conteúdo, horários de funcionamento, quem vai orientar (monitor), se é voluntário ou Jorge Vasconcelos* Contribuições da Cáritas nas experiências com organização do Estado Outras palavras30
  • 33. com ajuda de custo ou salário. Cabe registrar que doamos as máquinas, preparamos a monitoria, presencial ou a distância, e atualmente ajudamos na manutenção dos equipamentos. Oferecemos também uma grade de conteúdos com cursos a distância e certificação, que são fornecidos pela nossa Universidade Corporativa do Serpro – UniSerpro. Durante essa trajetória, aprendemos muita coisa com nossos erros e acertos. Do nosso ponto de vista, que envolve a criação de outros telecentros, além dos feitos com a Cáritas, ter um projeto bem definido pela comunidade solicitante ajuda a estabelecer a durabilidade de uma experiência como essa. Alguns telecentros estão vivos até hoje, outros já se perderam pelo caminho. As causas são variadas, vai desde quem está gerindo as ações daquela comunidade, pessoa, grupos, etc., passando pela importância fundamental das monitorias, pelos estímulos que são suscitados nos diversos segmentos que frequentam um telecentro, pelo estabelecimento de ações educativas que deem sentido e vinculação prática ao cotidiano das pessoas, percebendo os diversos tipos de usuários: os pontuais, os que estudam de forma seriada, os que utilizam o espaço pelos infinitos motivos que aqui não cabe elencar. Na prática, o espaço vira uma espécie de escola informal, pelas características do trabalho, para um público eclético, que em tese não teria condições de ter computadores e internet à sua disposição para estudar, pesquisar, divertir e "conhecer o mundo". Um telecentro pode potencializar as ações de uma comunidade carente de forma significativa na vida das pessoas. É preciso saber usá-lo e transformá-lo em um projeto de ações afirmativas. Acho interessante que a Cáritas, enquanto entidade intermediária nas doações dos equipamentos, até aqui, possa refletir sobre os resultados alcançados. Isso é ponto de partida, para uma retomada nessas ações, agora sob uma nova ótica do MROSC – Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil. Outra parceria importante são os Bazares Solidários nas instalações do Serpro, o que já é uma marca consagrada que, a cada ano, os empregados cobram sua realização. Vender objetos em um bazar, nesse caso, nessa parceria, não pode ser uma ação apenas mercadológica, consumista. Tem todo um trabalho anterior e durante o processo de explicação e esclarecimento. O que é a Cáritas? Que ações realiza? Para onde vai o dinheiro arrecadado? Ao passar essas informações em fôlderes, cartazes, boca a boca e jornal, estamos ajudando os empregados a fazer uma compra mais consciente e ao mesmo tempo entender como funcionam algumas entidades da sociedade civil, mudar o olhar de colegas para além das informações da grande mídia que, muitas vezes, descaracterizam um trabalho sério. Fica legal o raciocínio assim posto: eu compro um item e esse dinheiro servirá, por exemplo, para a construção de uma cisterna no semiárido. O empregado fica duplamente satisfeito: se beneficia com um preço bom e ajuda uma obra social. Da nossa disposição de servir as comunidades carentes, ter um parceiro como a Cáritas só amplia nosso horizonte de atuação, considerando a capilaridade que o Regional NE 3 tem para os estados da Bahia e Sergipe, nas suas extensões territoriais e no compromisso político, filosófico e ético até então demonstrados. *Coordenador Regional PSID – Programa Serpro de Inclusão Digital Outras palavras 31
  • 34. Celebrar a existência da Cáritas Nordeste 3 é poder comemorar a história de uma organização que tem como marcas identitárias a solidariedade, a luta pela construção de uma sociedade justa e igualitária e o compromisso com a transformação social. Não estamos falando de algo somente simbólico, mas de um conjunto de princípios e diretrizes que se materializam em resultados concretos na vida de milhares de pessoas, sobretudo das mais pobres. Através da integração de uma rede de solidariedade, que perpassa os diversos coletivos e pessoas, a Cáritas contribuiu para semear esperança e promover uma vida digna nos lugares mais necessitados do nosso estado e região. Seu trabalho voltado para o processo de articulação dos movimentos sociais, pastorais sociais e organizações da sociedade civil, para o desenvolvimento sustentável e a luta pela garantia dos direitos humanos, foi fundamental para os avanços que pudemos experimentar nos últimos anos de forma mais ampla. Quando cheguei à Bahia na década de 1980, junto com um grupo de missionários, lembro de quanto era forte a atuação da Cáritas, junto com a CPT e outros organismos que se articulavam em defesa do semiárido. Tema aliás que se transformou numa das principais bandeiras de luta, sempre denunciando a indústria da seca, pautando a democratização do acesso à água e colaborando com a implementação de projetos pioneiros de convivência com o semiárido. Um dos exemplos foi o apoio ao município de Pintadas, que no ano de 2005 se tornou o primeiro do Nordeste a efetivar 100% de cisternas na zona rural do município. Essa conquista foi motivo de comemoração no Festival das Águas realizado em dezembro desse mesmo ano com a presença de dezenas de organizações integrantes da Articulação do Semiárido Brasileiro (ASA). Sou testemunha da presença da Igreja, especialmente na região da Diocese de Ruy Barbosa, animando as comunidades e despertando o espírito solidário do povo na luta pela água, pela terra, Neusa Cadore* Cáritas Nordeste 3: 28 anos semeando vida e promovendo cidadania Outras palavras32
  • 35. pelo combate à fome e à violência. Na formação de grandes lideranças, no incentivo à organização popular, sobretudo da juventude e das mulheres, são importantes as contribuições da Cáritas e muitos os frutos que se multiplicaram no decorrer dessa trajetória. O trabalho de fomento às iniciativas da Economia Popular e Solidária, de Segurança Alimentar e Nutricional, o estímulo aos Fundos Solidários, a luta em prol dos(as) agricultores(as), acampados(as) e assentados(as) de reforma agrária, das populações ribeirinhas, das comunidades quilombolas e indígenas, dos povos em situação de riscos e afetadas por desastres socioambientais mostram a pluralidade e a grandeza da sua atuação. Quero ressaltar ainda o apoio à educação do campo, através das Escolas Famílias Agrícolas, que promovem um modelo de ensino diferenciado com valorização do homem e da mulher do campo, da proteção e respeito à natureza. No que se refere à agricultura familiar, destaco o apoio dado ao desenvolvimento de diversas experiências de produção no campo. As inúmeras iniciativas, sem dúvida, contribuíram para a promoção da igualdade social, para o empoderamento das populações vulneráveis, a auto-organização e reconhecimento de muitas comunidades. Na linha das conquistas estruturantes, quero lembrar da importante participação da Cáritas junto à Plataforma das Organizações Sociais da Bahia para a aprovação do Marco Regulatório das Organizações Sociais. A legislação é o reconhecimento da inestimável contribuição dos movimentos e entidades sociais para o fortalecimento da democracia no país, esta, aliás, que se encontra ameaçada pelas forças conservadoras e opressoras que querem usurpar o poder conquistado pelo povo de forma legítima. Na atual conjuntura, em que os direitos conquistados duramente pela classe trabalhadora têm sido atacados, é preciso destacar também os processos de educação popular, a luta da Cáritas pela democracia participativa e por uma cultura política baseada na ética, na transparência e no respeito. Nesse sentido, insere-se a campanha por eleições limpas e a formação permanente de agentes públicos para a compreensão da política como instrumento para a efetivação dos direitos e a cidadania plena. Congratulamo-nos com esta bonita caminhada da Cáritas ao lado do povo, alimentando a utopia da liberdade e da justiça social, apostando num processo educativo e emancipatório, no diálogo e na tolerância por um mundo melhor para todos e todas. * Deputada Estadual (PT) Outras palavras 33
  • 36. Entre na roda com a gente Vinte e oito anos de caminhada contribuindo para a participação dos pobres e excluídos na construção de um país justo, democrático, solidário e sustentável. O momento é de celebrar, de renovar o compromisso, de ser presença fecunda no meio do povo, de refletir sobre a caminhada e focar nos desafios, que não são poucos, sobretudo diante do estarrecedor cenário político que estamos vivendo, com profunda desorganização administrativa, política, econômica e ética. Embora o momento seja de perplexidade, a história nos mostra que nesse modelo de desenvolvimento perverso e excludente nada nunca foi fácil para as camadas mais empobrecidas da sociedade. Então, sigamos na luta, regozijando as conquistas obtidas, denunciando as injustiças e anunciando a esperança. Assim, é com esperança que nos debruçamos sobre a realidade, enfrentando os desafios. A começar, com uma reflexão da nossa ação pastoral de conjunto, entendendo a sua complexidade e a beleza de sua riqueza, investindo no diálogo com as diferentes dimensões do projeto de Jesus Cristo, de forma a contribuir com mais elementos de comunhão, que nos fortaleça como ação da Igreja. Olhando para fora das ações pastorais, é tempo de investir ainda mais na colaboração para a consolidação da democracia, através da construção de um projeto popular para o Brasil. Já nascemos com esse compromisso e não podemos perdê-lo de vista. Esse processo não vai acontecer de uma hora para outra. Demanda tempo, mas tem que ser iniciado com brevidade. “Quando os problemas se tornam absurdos, os desafios se tornam apaixonantes.” Dom Helder Câmara 34
  • 37. Do ponto de vista da Rede, a provocação que está posta é a renovação. Como nos atualizamos enquanto Rede? Como trazer novos agentes para a roda? Como encantar os jovens para esse jeito de ser Igreja? O protagonismo da juventude é a chave. Não esquecendo também a presença do voluntariado, priorizando a sua qualificação, tanto técnica quanto da nossa mística e espiritualidade, dedicando o tempo necessário para a reflexão, para o exercício do raciocínio crítico. Nessas quase três décadas, as inquietações têm mais força que as certezas. Que possamos ter sabedoria para aprofundá-las, e assim continuar a nossa trajetória junto com a chegada de novos atores sociais, unidos na construção do Reino, aqui na Terra. 35
  • 38. Rede Cáritas Regional Nordeste 3 Associação Escolas Comunidades Famílias Agrícolas da Bahia – AECOFABA Av. do Agricultor, s/nº – Sítio São Félix 46470-970 – Riacho de Santana (BA) Telefone: +55 (77) 3457-2157 aecofaba@yahoo.com.br Cáritas Arquidiocesana de Feira de Santana Av. Getúlio Vargas, 394 44025-010 – Feira de Santana (BA) Telefone: +55 (75) 3485-6242 feiradesantana@caritas.org.br Cáritas Diocesana de Paulo Afonso Avenida Getúlio Vargas, 614 – Centro 48601- 000 – Paulo Afonso (BA) Telefone: +55 (75) 3214-5033 pauloafonso@caritas.org.br Cáritas Diocesana de Propriá Travessa Municipal, 117 – Centro 49900-000 – Propriá (SE) Telefone: +55 (79) 3337-1658 caritaspropria@gmail.com Cáritas Diocesana de Serrinha Rua Emiliano Santigo, 291 – Centro 48700-000 – Serrinha (BA) Telefone: +55 (75) 3261-2334 serrinha@caritas.org.br Cáritas Arquidiocesana de Vitória da Conquista Paróquia Nossa Senhora das Candeias Av. Franklin Ferraz, 179 45028-185 – Vitória da Conquista (BA) Telefone: +55 (77) 3420-9038 conquista@caritas.org.br Cáritas Diocesana de Ruy Barbosa Rua Antônio Novais – Centro 46800-000 – Ruy Barbosa (BA) Telefone: +55 (75) 3252-2605 /1001 ruybarbosa@caritas.org.br Cáritas Diocesana de Irecê Rua Noel Nuts, 28 44900-000 – Irecê (BA) Telefone: +55 (74) 3641-3422 irece@caritas.org.br Cáritas Diocesana de Ilhéus Rua Dom Tepe, 21 – Cúria Diocesana 45653-230 – Ilhéus (BA) Telefone: +55 (73) 3086-2153 ilheus@caritas.org.br Cáritas Diocesana de Amargosa Av. Lomanto Júnior, 11 – Centro 45300-000 – Amargosa (BA) Telefone: +55 (75) 3634-1413 amargosa@caritas.org.br Cáritas Arquidiocesana de Aracaju Praça Olímpio Campos, 228 49010-040 – Aracaju (SE) Telefone: +55 (79) 3214-5973 caritasaracaju@hotmail.com Cáritas Diocesana de Barreiras Rua 26 de maio, 427 47805-090 – Barreiras (BA) Telefone: +55 (77) 3611-5926 barreiras@caritas.org.br Cáritas Diocesana de Caetité Centro Paroquial Nossa Senhora Santana Rua Barão de Caetité, 316, Sala 09 – Centro 46400-000 – Caetité (BA) Telefone: +55 (77) 3454-3398 bispocte@gmail.com Cáritas Diocesana de Alagoinhas Praça Antônio Conselheiro, 640 – Centro 48480-000 – Crisópolis (BA) Telefone: +55 (75) 3422-3209 alagoinhas@caritas.org.br Cáritas Diocesana de Eunápolis Praça Frei Calisto, s/nº – Centro 45820-430 – Eunápolis (BA) Telefone: +55 (73) 3281-4851 caritaseunapolis@hotmail.com Cáritas Diocesana de Estância Rua Dr. Vicente Portela, 41 49200-970 – Estância (SE) Telefone: +55 (79) 3522-2138 estancia@caritas.org 36