O documento descreve a carreira política de Mário Soares desde a ditadura até à fundação da sua fundação, destacando vários episódios controversos e acusações de corrupção e nepotismo. Critica suas posições contraditórias ao longo dos anos e o responsabiliza pelos problemas de Portugal.
2. …permitiu-lhe escapar à PIDE e a um desterro principesco (Março
1968) em S.Tomé e Príncipe, “preso” numa das melhores casa existentes
na capital àquela data e livre para se deslocar à vontade no arquipélago
onde chegou a advogar. Marcelo Caetano amnistia-o pouco tempo depois
de tomar posse e então regressa a Portugal. Concorre às eleições à A.N.
pela CEUD e perde, apesar de apoiado por um homem forte do Estado
Novo, Melo e Castro. Em 1970 “exila-se” em Paris com casa no centro
da cidade, e pavoneia-se pelos luxuosos corredores do poder da cidade luz,
com o beneplácito de “son ami Mitéran” que o força a um pacto com
Álvaro Cunhal (pacto de Paris/1973) em todo semelhante ao que aquele
fizera com George Marchais e que mais tarde redundou num enorme
desastre.
5. …que lhe permitiu conseguir que os Estados Unidos
financiassem o PS durante os primeiros anos da Democracia.
…que o fez meter o socialismo na gaveta durante a sua
experiência governativa.
…que lhe permitiu governar sem ler os «dossiers».
…que lhe permitiu não voltar a ser primeiro-ministro depois
de tão fantástico desempenho do cargo.
6. …que lhe permitiu pôr-se a jeito para ser agredido na Marinha
Grande e, dessa forma, vitimizar-se aos olhos da opinião pública e
vencer as eleições presidenciais.
…que lhe permitiu, após a vitória nessas eleições, fundar um
grupo empresarial, a Emaudio, com «testas de ferro» no comando
e um conjunto de negócios obscuros que envolveram grandes
magnatas internacionais.
…que lhe permitiu utilizar a Emaudio para financiar a sua
segunda campanha presidencial.
7. …que lhe permitiu nomear para Governador de Macau Carlos
Melancia, um dos homens da Emaudio.
…que lhe permitiu passar incólume ao caso Emaudio e ao caso
Aeroporto de Macau e, ao mesmo tempo, dar os primeiros
passos para uma Fundação na sua fase pós-presidencial.
…que lhe permitiu ler o livro de Rui Mateus,
«Contos Proibidos», que contava tudo sobre a
Emaudio, e ter a sorte de esse mesmo livro, depois
de esgotado, jamais voltar a ser publicado.
8. … que lhe permitiu passar incólume às
«ligações perigosas» com Angola, ligações essas
que quase lhe roubaram o filho no célebre
acidente de avião na Jamba (avião esse
carregado de diamantes, no dizer do Ministro
da Comunicação Social de Angola).
9. …que lhe permitiu, durante a sua passagem por Belém, visitar
57 países («recorde» absoluto para a Espanha - 24 vezes - e
França - 21), num total equivalente a 22 voltas ao mundo (mais
de 992 mil quilómetros).
…que lhe permitiu visitar as Seychelles, esse território de
grande importância estratégica para Portugal.
10. …que lhe permitiu, no final destas viagens, levar para a Casa-
Museu João Soares uma grande parte dos valiosos presentes
oferecidos oficialmente ao Presidente da República Portuguesa.
…que lhe permitiu guardar esses presentes numa caixa-forte
blindada daquela Casa, em vez de os guardar no Museu da
Presidência da República.
…que lhe permite, ainda hoje, ter 24 horas por dia de
vigilância paga pelo Estado nas suas casas de Nafarros, Vau e
Campo Grande.
11. …que lhe permitiu, abandonada a Presidência da República, constituir a
Fundação Mário Soares. Uma fundação de Direito privado, que, vivendo à
custa de subsídios do Estado, tem apenas como única função visível ser
depósito de documentos valiosos de Mário Soares. Os mesmos que, se são
valiosos, deviam estar na Torre do Tombo.
…que lhe permitiu construir o edifício-sede da Fundação violando o PDM de
Lisboa, segundo um relatório do IGAT, que decretou a nulidade da licença de
obras.
…que lhe permitiu conseguir que o processo das velhas construções que ali
existiam e que se encontrava no Arquivo Municipal fosse requisitado pelo
filho e que acabasse por desaparecer convenientemente num incêndio dos
Paços do Concelho.
12. …que lhe permitiu receber do Estado, ao longo dos últimos anos, donativos e
subsídios superiores a um milhão de contos.
…que lhe permitiu receber, entre os vários subsídios, um de quinhentos mil
contos, do Governo Guterres, para a criação de um auditório, uma biblioteca
e um arquivo num edifício cedido pela Câmara de Lisboa.
…que lhe permitiu receber, entre 1995 e 2005, uma subvenção anual da
Câmara Municipal de Lisboa, na qual o seu filho era Vereador e Presidente.
…que lhe permitiu que o Estado lhe arrendasse e lhe pagasse um gabinete,
a que tinha direito como ex-Presidente da República, na... Fundação Mário
Soares.
…que lhe permite que, ainda hoje, a Fundação Mário Soares receba quase
4 mil euros mensais da Câmara Municipal de Leiria.
13. …que lhe permitiu fazer obras no Colégio Moderno, propriedade
da família, sem licença municipal, numa altura em que o
Presidente era... João Soares.
…que lhe permitiu silenciar, através de pressões sobre o director
do «Público», José Manuel Fernandes, a investigação jornalística
que José António Cerejo começara a publicar sobre o tema.
…que lhe permitiu candidatar-se a Presidente do Parlamento
Europeu e chamar dona de casa, durante a campanha, à
vencedora Nicole Fontaine.
14. …que lhe permitiu considerar José Sócrates «o pior
do guterrismo» e ignorar hoje em dia tal frase como
se nada fosse.
…que lhe permitiu passar por cima de um amigo, Manuel Alegre, para
concorrer às eleições presidenciais uma última vez.
…que lhe permitiu, então, fazer mais um frete ao Partido Socialista.
…que lhe permitiu ler os artigos «O Polvo» de Joaquim Vieira na «Grande
Reportagem», baseados no livro de Rui Mateus, e assistir, logo a seguir, ao
despedimento do jornalista e ao fim da revista.
…que lhe permitiu passar incólume depois de apelar ao voto no filho, em
pleno dia de eleições Autárquicas
15. No final de uma vida de lucidez, o que resta a
Mário Soares?
Mário Soares tem a história à frente para que a História se ocupe das
posições contraditórias, ziguezagueantes de um homem que afinal nada
mais queria que o Poder, em benefício dele e dos amigos.
Penalizar-se como um dos grandes responsáveis pela guerra civil em
Angola, pelos massacres em Timor, pela escalada da União Soviética em
África e como o principal pela miséria em que Portugal se encontra.
Resta a história para julgar os anos de 1974 a 1985 e retirar da falta de
competência de Mário Soares as consequências de Portugal ser hoje a
lanterna vermelha da Europa.
*Alguns extractos da obra “Nixon e Caetano-Promessas e abandono” de Freire Antunes
** Outros do blog do Dr. José Maria Martins, com a devida vénia
*** Autor: um português indignado mas com memória