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TENDÊNCIAS                                                      / DEBATES
OS artigos publicados com assinatura nlo traduzem a opinião do jornal Sua publicao;:lIo obedece ao propósito de estimular
o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de rdletir as diversas tendências do pelSilmento contemporâneo
                                                                                                          debateS@uol.com.br         Iltwltter.oom/Folhadebate




  Minério, petróleo e os novos inconfidentes
                                                            ANTONIO ANASTASIA

   A Inconfidência Mineira legou
aos brasileiros um dos mais vigoro­
sos pilares na formação da naciona­
lidade. Seus líderes tomaram-se íco­
nes da luta pela liberdade e pela in­
dependência. Dessa maneira, é mui­
to apropriado buscar inspiração em
 1789 para o movimento Justiça Ain­
da que Tardia, que lançamos recen­
temente e cujo nome homenageia a
bandeira dos inconfidentes.
   Nosso combate de hoje busca
maior compensação financeira pe­
la exploração de recursos minerais.
   Há, atualmente, uma grande dis­
paridade entre os royalties do petró­
leo e do minério, o que prejudica Es­
tados como Minas Gerais e Pará,
com atividade mineradora intensa.
   Enquanto, em 2011, os royalties e
partidpações especiais referentes ao
petróleo alcançaram a soma de R$
25,8 bilhões,o valor arrecadado com
a Contribuição Financeira pela Ex­
ploração de Recursos Minerais
(CFEM) foi de apenas R$1,54 bilhão,
   Queremos mudanças na legisla­
ção brasileira que define os royal­
ties sobre as atividades de minera­
ção. Não se justifica a disparidade
existente entre a CFEM e os royal­
ties do petróleo. Por mais que se re­
jeite a comparação, não há como
negar tão grande distorção.
   No caso do minério de ferro,prin­
cipal produto da pauta das expor­
tações brasileiras, nossa proposta
é que o percentual da CFEM seja,
em média,de40/0 sobre ofaturamen­
to bruto das empresas mineradoras.
   Em2011, verificamos que enquan­
to a CFEM destinou aos cofres de
Minas Gerais cerca de R$181,4 mi­
lhões, o Rio de Janeiro foi destina­
tário do significativo montante de                      Petróleo dá bem mais royalties                             Esta é uma discussão mundial.
R$6,9 bilhões relativo aos royalties                                                                            Muitos países têm proposto um au­
                                                        do que núnério. Em 2011, o RJ
e à participação especial (valor 38                                                                             mento de alíquota que pocle chegar,
vezes maior do que Minas).                              levou R$ 6,9 bi; MG, só R$ 181                          em alguns casos, a 150/0 do fatura­
   Essa gritante distorção se repete                    milhões. Mas núnério também                             mento bruto.
em relação aos muniópios. Enquan-                                                                                  Na Austrália, por exemplo, a alí­
                                                        é fmito, também é "safra única"
                                                                                                                quota é de 7,5% sobre o faturamen­
���;:d�=�t=::J��                                                                                               to bruto no caso do minério de ferro,
milhões, os muniópios fluminenses                          A arrecadação estatal em relação                     e está sendo discutida uma partici­
produtores de petróleo receberam                        ao minério de ferro teve uma redu­                      pação especial de 30%sobre olucro.
R$ 3,7 bilhões (sete vezes mais).                       ção expressiva nas últimas décadas.                     Na lndia, a alíquota está em 10%.
  As atividades de exploração de                        Em 1988, era de US$ 1,30 por tone·                         O debate nacional sobre os royal­
petróleo e de minérios, produtos                        lada explorada. Hoje, equivale a                        ties dos minérios não pode mais ser
primários não renováveis, têm, am­                      apenas a US$0,26 por tonelada de                        postergado. O clamor de Tiraden­
bas, alto impacto ambiental. Entre­                     minério de ferro.                                       tes e seus contemporâneos de re­
tanto, são tratadas de forma mui­                          O aumento do valor dos royalties                     beldia ajudou a formar o nosso Bra­
to desigual. Enquanto os royalties                      da mineração é necessário para fi­                      sil. Esse é o exemplo de civismo que
do petróleo chegam a até 100/0 do                       nanciar projetos de desenvolvimen­                      nos inspira.
faturamento bruto, no caso dos mi­                      to sustentável de longo prazo, pois
nérios são de, no máximo, 30/0 do                       trata-se de uma riqueza finita -co­
                                                                                                                ANTONIOANASTASlA,51. profe�sordedireiloda
faturamento líquido (faturamento                        mo dizia o ex-presidenteArthur Ber­                     Universidade Federalde r.1ina� Gerais, égovernador
bruto menos despesas).                                  nardes, o minério só dá uma safra.                      do Eslado de lIIinas Gerals pelo PSDB

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Minério,petróleo e os novos inconfidentes

  • 1. TENDÊNCIAS / DEBATES OS artigos publicados com assinatura nlo traduzem a opinião do jornal Sua publicao;:lIo obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de rdletir as diversas tendências do pelSilmento contemporâneo debateS@uol.com.br Iltwltter.oom/Folhadebate Minério, petróleo e os novos inconfidentes ANTONIO ANASTASIA A Inconfidência Mineira legou aos brasileiros um dos mais vigoro­ sos pilares na formação da naciona­ lidade. Seus líderes tomaram-se íco­ nes da luta pela liberdade e pela in­ dependência. Dessa maneira, é mui­ to apropriado buscar inspiração em 1789 para o movimento Justiça Ain­ da que Tardia, que lançamos recen­ temente e cujo nome homenageia a bandeira dos inconfidentes. Nosso combate de hoje busca maior compensação financeira pe­ la exploração de recursos minerais. Há, atualmente, uma grande dis­ paridade entre os royalties do petró­ leo e do minério, o que prejudica Es­ tados como Minas Gerais e Pará, com atividade mineradora intensa. Enquanto, em 2011, os royalties e partidpações especiais referentes ao petróleo alcançaram a soma de R$ 25,8 bilhões,o valor arrecadado com a Contribuição Financeira pela Ex­ ploração de Recursos Minerais (CFEM) foi de apenas R$1,54 bilhão, Queremos mudanças na legisla­ ção brasileira que define os royal­ ties sobre as atividades de minera­ ção. Não se justifica a disparidade existente entre a CFEM e os royal­ ties do petróleo. Por mais que se re­ jeite a comparação, não há como negar tão grande distorção. No caso do minério de ferro,prin­ cipal produto da pauta das expor­ tações brasileiras, nossa proposta é que o percentual da CFEM seja, em média,de40/0 sobre ofaturamen­ to bruto das empresas mineradoras. Em2011, verificamos que enquan­ to a CFEM destinou aos cofres de Minas Gerais cerca de R$181,4 mi­ lhões, o Rio de Janeiro foi destina­ tário do significativo montante de Petróleo dá bem mais royalties Esta é uma discussão mundial. R$6,9 bilhões relativo aos royalties Muitos países têm proposto um au­ do que núnério. Em 2011, o RJ e à participação especial (valor 38 mento de alíquota que pocle chegar, vezes maior do que Minas). levou R$ 6,9 bi; MG, só R$ 181 em alguns casos, a 150/0 do fatura­ Essa gritante distorção se repete milhões. Mas núnério também mento bruto. em relação aos muniópios. Enquan- Na Austrália, por exemplo, a alí­ é fmito, também é "safra única" quota é de 7,5% sobre o faturamen­ ���;:d�=�t=::J�� to bruto no caso do minério de ferro, milhões, os muniópios fluminenses A arrecadação estatal em relação e está sendo discutida uma partici­ produtores de petróleo receberam ao minério de ferro teve uma redu­ pação especial de 30%sobre olucro. R$ 3,7 bilhões (sete vezes mais). ção expressiva nas últimas décadas. Na lndia, a alíquota está em 10%. As atividades de exploração de Em 1988, era de US$ 1,30 por tone· O debate nacional sobre os royal­ petróleo e de minérios, produtos lada explorada. Hoje, equivale a ties dos minérios não pode mais ser primários não renováveis, têm, am­ apenas a US$0,26 por tonelada de postergado. O clamor de Tiraden­ bas, alto impacto ambiental. Entre­ minério de ferro. tes e seus contemporâneos de re­ tanto, são tratadas de forma mui­ O aumento do valor dos royalties beldia ajudou a formar o nosso Bra­ to desigual. Enquanto os royalties da mineração é necessário para fi­ sil. Esse é o exemplo de civismo que do petróleo chegam a até 100/0 do nanciar projetos de desenvolvimen­ nos inspira. faturamento bruto, no caso dos mi­ to sustentável de longo prazo, pois nérios são de, no máximo, 30/0 do trata-se de uma riqueza finita -co­ ANTONIOANASTASlA,51. profe�sordedireiloda faturamento líquido (faturamento mo dizia o ex-presidenteArthur Ber­ Universidade Federalde r.1ina� Gerais, égovernador bruto menos despesas). nardes, o minério só dá uma safra. do Eslado de lIIinas Gerals pelo PSDB