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Sobre Comportamento 
e Cognição 
( > o/)// / 6 u /  'õ e s p a r a a G o n s / r u ç ã o <Ja O fe o r ia d o G o m p o r ía m e n i a 
O rganizado po r Jfélio tfosé Q uil/iardi 
JlCaria Jiea /riz ‘JSarf) osa t7iin/i(t JíCaili 
7 }aM cia O^iazzon (2ueiroz 
'JlCai'ia Claro fina <^coz 
ESETec 
Editores Associados
Sobre 
Comportamento 
e Cognição Contribuições para d Construção dd Tcorid do 
Comportdmento 
Volume 10 
Ortfiini/iii/o por h iclio José C/uilfhmfi 
Miirni lkitriz Itürbosü Pinho M d d i 
Pdtrícid PUizzon Queiroz 
Miirui C 'iiroliihi Scoz 
Hélio José Guilhardi «Almir Del Prette • Amauri Gouveia Jr • Ana Lúcia Cortegoso • Ana Maria Ló Sónechal- 
Machado • Angélica Capelari • Armando R. das Neves Neto • Donald M. Baer • Cacilda Amorim • Cilene 
Rejane Ramos Alves • Denis Roberto Zamignani • Denise Cerqueira Leite Heller • Edwiges Ferreira de 
Mattos Silvares • Eliane de Oliveira Falcone • Érica Maria Machado Santarém • Gimol Benzaquen Perosa 
• José Antônio Damásio Abib • Joselma Tavares Frutuoso • Laércia Abreu Vasconcelos • Letlcia Furlanetto 
• Lúcia Cavalcanti de A. Williams • Makilim Nunes Baptista • João Vicente de Sousa Marçal • Marcelo 
Beckert • Maria Amalief Andery • Maria da Graça Saldanha Padilha • Maria Tereza Araújo Silva • Marilza 
Mestre • Neury José Botega • Neuza Corassa • Nilza Micheletto • Patrícia Piazzon Queiroz • Paulo Sergio 
T. do Prado • Rachel Rodrigues Kerbauy • Renata F. Bazzo • Renério Fráguas Júnior • Ricardo Corrôa 
Martone • Rosana Righetto Dias • Sandra Leal Calais • Solange L. Machado • Suely Sales Guimarães • 
Tereza Maria de Azevedo Pires Sério • Vanise Dalla Vecchia • Vera Regina L. Otero • Yara K. Ingberman • 
Zilda A. Pereira Del Prette_____________________________________________________________ 
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Editores Associados 
2002
( 'opyright O desta edição: 
F.SKTec Kdifores Associados, Santo André, 2002. 
Todos os direitos reservados 
Guilhardl, Hélio José, et al. 
Sobre Comportamento e Cogniçflo: Contribuições para a Construção da Teoria do 
Comportamento. - Org. Hélio José Guiihardi. 1* ed. Santo André, SP: ESETec Editores Associados, 
2002. v.10 
410 p. 24cm 
1. Psicologia do Comportamento e Cognição 
2. Behaviorismo 
3. Análise do Comportamento 
CDD 155.2 
CDU 159.9.019.4 
ISUN - 
ESETec Editores Associados 
Coordenação editorial: Teresa Cristina Cume Grassi-Leonardi 
Assistente editorial: Jussara Vince Gomes 
Capa original: Solange Torres Tsuchiya 
Projeto gráfico original: Maria Claudia Brigagão 
Equipe de preparação: Maria Eloisa Bonavita Soares Piazzon, 
Noreen Campbell de Aguirre 
RJtSntBO Orat^gramaçào: Erika Horigoshi 
Revisão ortográfica e gramatical: Maria Rita J. Martini Del Guerra 
Solicitação dc exemplares: esetír^uol.com.hr 
Rua Catequese, 845 - Bairro Jardim Santo André SI’ 
CEP 09090-710 
Tcl. ( I I ) 4990 5683/4432 37 47 
www.esetee.com.br
"É exato que as ciências comportamentais 
ainda não cumpriram a promessa que fizeram... 
O que está faltando è uma teoria coerente do comportamento humano” 
Skinner, B. F. (1978) Reflections on Behaviorism and Society, p. 94. 
Com a publicação deste volume estamos oferecendo a nossa contribuição. 
Este livro é dedicado a todos aqueles que se 
interessam pela análise comportamental e que 
compõem a nossa “audiência"... Porque “uma audiência 
é uma variável independente negligenciada. Aquilo que uma 
pessoa diz é determinado, de um modo muito importante, pela 
pessoa para quem ela está dizendo". 
Skinner, B. F. (1987). (Jpon Further Reflection, p .156
S um ário 
Tudo se deve às conseqüências.......................................................................... xi 
Capítulo 1 - Análise do comportamento e cooperativas de trabalho: 
produção de conhecimento, ensino e transformação de 
conhecimento em atuação profissional 
Ana Lucia Cortegoso (UFSCar)......................................................... 01 
Capitulo 2 - A manipulação no contexto clinico 
Ana Maria Lé Sénéchal - Machado (UFMG)........................................ 16 
Capítulo 3 - Modelos animais de psicopatologia: depressão 
Angélica Capelari (USP/UMESP)...................................................... 24 
Capitulo 4 - Terapia Cognitivo-Comportamental na Psicologia da Saúde 
Armando Ribeiro das Neves Neto (UNIFESP - EPM/AMBAN-IPQ-HCFMUSP/ 
lnst. Neurológico de São Paulo/Hospital Beneficência 
Portuguesa)...................................................................................... 29 
Capítulo 5 - Quando esperar (ou não) pela correspondência entre 
comportamento verbal e comportamento não-verbal 
Cacilda Amorim (USP/PUCSP) e Maria Amalia Andery (PUCSP)....... 37 
Capítulo 6 - Modelos animais de psicopatologia: esquizofrenia 
Cilene Rejane Ramos Alves e Maria Teresa Araújo Silva (USP).......... 49 
Capítulo 7 - Anorexia nervosa: etiologia e estratégias de enfrentamento 
Denise Cerqueira Leite Heller (UTP).............................................. 61 
Capítulo 8 - Avaliando programas de autismo: um caso especial de avaliação 
de programa* 
Donald M. Baer (University ofKansas)............................................... 69
Capítulo 9 - Família, enurese e intervenção clinica comportamental 
Edwiges Ferreira de Mattos Silvares.................................................. 79 
Capitulo 10 - Contribuições para o treinamento em habilidades de interação 
Eliane de Oliveira Falcone (UERJ)...................................................... 91 
Capitulo 11 - Modelos animais de psicopatologia: Transtorno Obsessivo- 
Compulsivo 
Érica Maria Machado Santarém (Univ. São Francisco-IT)...................105 
Capitulo 1 2 - Suporte psicológico a gestantes portadoras de fetos com 
diagnóstico de malformação 
Gimol Benzaquen Perosa (UNESP-Botucatu).................................. 113 
Capítulo 13 - Ética de Skinner e metaética 
José Antônio Damásio Abib (UFSCar)............................................... 125 
Capitulo 1 4 - 0 ensino da análise do comportamento: da prática à teoria 
Joselma Tavares Frutuoso (UFSC)..................................................... 138 
Capítulo 15 - Análise comportamental do transtorno de déficit de atenção e 
hiperatividade: implicações para avaliação e tratamento 
Laércia Abreu Vasconcelos (UnB)......................................................144 
Capitulo 16 - Abuso sexual infantil 
Lúcia Cavalcante de Albuquerque Williams (UFSCar/LAPREV)..........155 
Capítulo 17 - Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC): principais caracte­rísticas, 
histórico, prevalência, comorbidade e tratamento 
Makilim Nunes Baptista (UNIFESP/Univ. Brás Cubas/Centro Univ. 
Hemiínio Ometto - Araras), Rosana Righetto Dias (UNICAMP/Centro 
Univ. Hermlnio Ometto - Araras) e Sandra Leal Calais (PUCCamp/ 
UNESP-Bauru)................................................................................ 165 
Capítulo 18 - Psicologia do esporte no contexto escolar 
João Vicente de Souza Marçal (IBAC/UniCEUB)................................ 175 
Capitulo 1 9 - Correspondência: quando o objetivo terapêutico ó o “ digo o 
que faço e faço o que digo" 
Marcelo Beckert (IBAC)..................................................................... 183 
Capítulo 20 - Notas sobre a atualidade de ciência e comportamento humano 
Maria Amalia Andery (PUCSP), Nilza Micheletto (PUCSP) e Tereza 
Maria de Azevedo Pires Sério (PUCSP)............................................. 195
Capítulo 21 
Capítulo 22 
Capitulo 23 
Capítulo 24 
Capítulo 25 
Capítulo 26 
Capitulo 27 
Capítulo 28 
Capítulo 29 
Capítulo 30 
Abuso sexual contra crianças e adolescentes: considerações 
sobre os fatores antecedentes e sua importância na 
prevenção 
Maria da Graça Saldanha Padilha (UTP)....................................... 
Mediadores no sucesso da psicoterapia comportamental 
Marilza Mestre (UFPR/CPEM/USP/UTP) e Neuza Corassa (UTP/ 
PUCPR/CPEM)............................................................................ 
Depressão no paciente acometido por outras doenças 
Neury José Botega (FCM UNICAMP), Letícia Furlanetto (UFSC) 
e Renório Fráguas Jr. (Inst. de Psiquiatria FMUSP)......................... 
Passados 30 anos: “os princípios comportamentais servirão 
para os revolucionários?” 
Nilza Micheletto (PUCSP) e Tereza Maria de Azevedo Pires Sério 
(PUCSP)....................................................................................... 
Redução da agressividade e hiperatividade de um menino 
pelo manejo direto das contingências de reforçamento: um 
estudo de caso conduzido de acordo com a Terapia por 
Contingências 
Patrícia Piazzon Queiroz e Hélio José Guilhardi (Inst. de Análise 
do Comportamento - Campinas)................................................... 
Pode o paradigma de equivalência fundamentar uma 
compreensão comportamental do conceito de número? 
Paulo Sérgio Teixeira do Prado (UNESP- Marllia)......................... 
Contribuição da FAP e pontos a esclarecer 
Rachel Rodrigues Kerbauy (USP)................................................. 
A presença da pesquisa em Farmacologia e Fisiologia no 
JE A B -1957-2000 
Renata F. Bazzo (FC/UNESP - Bauru) e Amauri Gouveia Jr. 
(UNESP-Bauru).......................................................................... 
Esquizofrenia: a análise do comportamento tem o que dizer? 
Ricardo Corrêa Martone (Psicólogo clinico) e Denis Roberto 
Zamignani (Psicólogo cl/nico)...................................................... 
Estresse e doença crônica 
Rosana Righetto Dias (UNICAMP/Centro Univ. Hermlnio Ometto 
- Araras), Makilin Nunes Baptista (UNIFESPICentro Univ. 
Hermlnio Ometto - Araras) e Sandra Leal Calais (PUCCamp/ 
UNESP-Bauru)............................................................................ 
209 
221 
229 
241 
249 
271 
281 
284 
305 
317 
ix
Capítulo 31 - A manipulação coercitiva nas relações interpessoais 
Solange L. Machado (UTP)........................................................... 325 
Capítulo 32 - Uso gradual de exposição e prevenção de respostas para 
portadores de Transtorno Obsessivo-Compulsivo resistentes 
à medicação 
Suely Sales Guimarães (UnB)...................................................... 349 
Capítulo 33 - Obesidade mórbida - aspectos clínicos 
Vanise Dalla Vecchia.................................................................... 356 
Capítulo 34 - Peculiaridades do atendimento psicoterápico do portador do 
transtorno “ Bordeline” de personalidade 
Vera Regina Lignelli Otero (Clínica ORTEC - Ribeirão Preto-SP) 361 
Capítulo 3 5 - 0 atendimento a pais de crianças em psícoterapia: orientação 
ou terapia? 
Yara Kuperstein Ingberman (UFPR).............................................. 369 
Capítulo 36 - Transtornos psicológicos e habilidades sociais 
Zilda Aparecida Pereira Del Prette e Almir Del Prette (UFSCar)... 377
Tudo se deve às conseqüências... 
Os volumes 9 e 10 da coleçào Sobre Comportamento e Cognição reúnem uma amostra 
abrangente do que foi apresentado no X Encontro Anual da ABPMC em 2001. No final de 
uma década de Associação, são claros os produtos da organização anual dos Encontros: 
maior número de trabalhos publicados, por um número crescente de diferentes estudiosos 
do comportamento, para uma audiência progressivamente mais numerosa. Os dados parecem 
indicar que devem ter operado na comunidade dos comportamentalistas contingências 
reforçadoras positivas. Mas, quem reforçou quem? A audiência com certeza reforçou o 
comportamento dos expositores. Os expositores, por sua vez, reforçaram o comportamento 
da audiência. Todos reforçaram todos? Todos se sentiram reforçados? Que bela circularidadel 
“O comportamento positivamente reforçado é em geral acompanhado por um estado que 
descrevemos dizendo que estamos fazendo 'o que queremos fazer', ‘gostamos de fazer' ou 
’amamos fazer'.” (Skinner, 1989, 1995 p. 105).’ Quem participou ativamente dos Encontros 
da ABPMC poderia dizer: Skinner descreveu muito bem o que se viveu nessas ocasiões. 
Imediatamente antes da criação da Associação e de seu produto mais conspícuo, os 
Encontros anuais, a comunidade comportamental estava exageradamente retraída. Tal 
retraimento só era interrompido nos Congressos e nas publicações mais abrangentes, onde 
os trabalhos comportamentais eram apresentados em meio aos de outras orientações e de 
outras áreas, como se viu na SBPC, nas Reuniões Anuais da Sociedade de Psicologia de 
Ribeirão Preto e da Sociedade Brasileira de Psicologia, nas publicações destas sociedades 
e em revistas de diferentes instituições cientificas. Não havia, no entanto, à época, nenhum 
veiculo especifico para organizar a produção comportamental e permitir sua expressão de 
forma mais sistematizada. Os Encontros da Associação adquiriram a função de uma eficaz 
operação estabelecedora, capaz de mobilizar para a ação todos os níveis da comunidade 
comportamental. Eles permitiram, ainda mais, que os comportamentos de seus organizadores 
e participantes funcionassem como poderosos estímulos discriminativos e reforçadores 
condicionados generalizados para as classes comportamentais: comparecer aos Encontros, 
apresentar trabalhos e publicá-los, como jamais se viu antes no ambiente comportamental 
brasileiro. A análise comportamental chegou a sua maturidade, que pode ser caracterizada 
pelos seguintes critérios: 1. Maior 
'Skinner, B. F. (1989. 1995). 
Questões Recentes nu Análise Comportamental Campinas: Papirua 
xi
aproximação entre a comunidade acadêmica e a aplicada; 2. Realização de trabalhos 
conjuntos entre psiquiatras e psicólogos comportamentalistas; 3. Convivência harmoniosa 
entre os psicólogos cognitivo-comportamentais e os behavioristas radicais, sem perda das 
respectivas identidades; 4. Extensão dos trabalhos aplicados para as múltiplas áreas da 
comunidade: clinica, escola, hospital, trânsito, posto de saúde, empresa etc.; 5. 
Desenvolvimento de pesquisa de temas teóricos; 6. Desenvolvimento de pesquisa básica 
com animais e humanos; 7. Desenvolvimento de pesquisa aplicada; 8. Desenvolvimento de 
maneiras de trabalhar voltadas para a comunidade brasileira; 9. Realização por 10 anos 
sucessivos do Encontro Anual da ABPMC com crescente participação de público e de 
apresentação de trabalhos; 10. Aumento significativo de publicações, incluindo os volumes 
da coleção Sobre Comportamento e Cognição b uma revista especializada Revista Brasileira 
de Terapia Comportamental e Cognitiva. Em todos os itens mencionados, o que melhor 
caracterizou cada um deles foi a prevalência de contingências reforçadoras positivas para 
instalação e manutenção dos comportamentos dos estudiosos e para o desenvolvimento 
das relações entre todos os profissionais. O pressuposto básico é que não basta apenas se 
comportar, mas deve-se fazê-lo sob contingências reforçadoras, minimizando os controles 
coercitivos e eliminando os repertórios de fuga-esquiva. Há que se comportar e sentir prazer 
naquilo que se faz; sentir liberdade ao fazer o que se faz. Todos sabemos quais contingências 
produzem tais sentimentos. Dediquemo-nos a elas. 
Hélio José Guilhardi 
Presidente da ABPMC 
Gestão 2000/2001 
xii
Capítulo 1 
Análise do comportamento e cooperativas 
de trabalho: produção de conhecimento, 
ensino e transformação de conhecimento 
em atuação profissional 
Ana Lucia Cor/egos o ' 
Que contribuições pode a AnAllse do Comportamento oferecer pura o desenvolvimento de organizações de trabalho no 
contexto de Economia SolldAria, considerando o conhecimento diBponlvel e as perspectivas abertas pela concepção de 
tiomem o de cultura que Skinner ilustra em seu romance Walden Two? Respostas Inicial» para esta pergunta foram obtidas 
a partir da InverçAo de docentes, alunos e profissionais psicólogos em uma incubadora universitária de cooperativas 
populares Integrando atividade de ensino, pesquisa e extensAo, foi possivel identificar perguntas de pesquisa e necessida­des 
de intervenção que constituíram oportunidades significativas para a capacitação de alunos, futuros profissionais em 
Psicologia, e oferta de contribuições concretas para lidar com o processo de incubação de cooperativas de trabalho em uma 
perspectiva multidiscipllnar e multiprofissional. Apoio a grupos incubados, com assessorla para atividades especificas e 
partlcIpaçAo em equipes de incubação; análise e programação de contingências para a Incubadora, na forma de procedlmon-tos 
e instrumentos de trabalho e de organlzaçAo Interna que foram propostos, desenvolvidos, implementados e avaliados; 
apoio a mediadores no processo de incubação, por n>eio da identificação e descrição de comportamentos de indivíduos e de 
organizações e de proposiçAo de recursos favorecedores dos comportamentos dos mediadores e produçAo de conhecimento 
sobre estes e outros aspectos de interesse no processo de geração e funcionamento de cooperativas populares de trabalho 
correspondem a tais contribuições. 
Palavras-chave, cooperativas de trabalho, contingências organizacionais; comportamentos em organizações. 
What kind of contributions can Behavior Analysis offer to the development of work organizations in the context of Solidary 
Economy, considering the available knowledge and the perspective showed by the human being and culture conceptions that 
Skinner illustrates in his romance, Walden Two? Preliminary answers to this question were produced from Psychology 
teachers, graduates and professionals Insertion in a university incubator of popular work cooperatives. By the articulations 
of teaching, research and professional intervention, it was possible to identify research questions and Intervention necessities 
which were relevant opportunities to prepare students, as future professionals, as much as offer concrete contributions to 
doal with the Incubation process of work cooperatives In a multidisciplinary and multi-professional perspective. Support to 
incubated groups, with counseling to specific activities and participation in incubation times; analysis and programming 
contingencies to the incubator, in form of procedures and means for work and for internal proposed organizations, were 
developed, implemented and evaluated; support to mediators In the Incubation process, by Identification and descriptions of 
individuals and organizations behaviors, and proposition of mediators behavior and knowledge production about this and 
another interesting aspects In the generations and operation of popular work cooperatives promoting conditions are such 
contributions. 
Key words work cooperatives, organizational contingencies, behavior In organizations 
(t ABOR-t aboratrtrlo d* Paicologla Organiiacional. D*p«rijin>*nto da Ptlcotogia da IJntvantdade F ederal de SAo Carlo*) 
Sobrr (.'omportamcntu r Cogniçdo 1
Cooperativas de trabalho como alternativa à forma tradicional de organização do 
trabalho no âmbito capitalista... 
A expressão "cooperativa de trabalho" tem sido utilizada com significados 
diferentes, assim como existem diferenças na organização e na prática encontradas em 
situações concretas, justificando um esclarecimento inicial sobre o tipo de organização a 
que faz referência este trabalho. 
São consideradas como objetos de interesse, neste contexto, cooperativas que 
se pautam, efetivamente, por um conjunto de princípios doutrinários reconhecidos como 
definidores de organizações que fazem jus a esta denominação, e que se diferenciam de 
outras iniciativas que apenas se apropriam desta denominação. As “coopergatas", como 
costumam ser conhecidas as "falsas cooperativas”, são empreendimentos que, em busca 
dos benefícios legais previstos para a criação e funcionamento de cooperativas, são criados 
e funcionam de forma a tornar ainda mais precárias do que usualmente as condições de 
trabalho para os seus - apenas teoricamente - sócios. Tais organizações, usualmente, 
mantêm ou mesmo agravam os aspectos mais perniciosos das relações trabalhistas muito 
frequentemente presentes em empresas baseadas na separação entre capital e trabalho, 
e ainda suprimem os direitos trabalhistas que, pelo menos teoricamente, são garantidos 
pela legislação para trabalhadores com vínculos empregatícios. 
Conhecidos pelos que têm familiaridade com a proposta cooperativista, e 
apresentando algumas variações na maneira como são formulados conforme a fonte 
utilizada, constituem princípios da proposta cooperativista "genuína" (Veiga e Fonseca, 
2001) 
- adesão livre e voluntária, estando este tipo de empreendimento aberto todas as pessoas aptas a usar seus serviços e dispostas a aceitar as responsabilidades 
de sócio, sem discriminação social, racial, política ou religiosa e de gênero; 
• controle democrático pelos sócios, em relação ao estabelecimento de políticas e 
tomada de decisões, sendo usual a igualdade na votação, ou seja, a cada sócio 
corresponde um voto; 
• participação econômica equitativa dos sócios, segundo o qual os sócios contribuem 
eqüitativamente para o capital da cooperativa, se houverem juros sobre o capital, eles 
são limitados, e as sobras são destinadas ao desenvolvimento das cooperativas, de 
acordo eom deliberações dos sócios; 
• autonomia e independência (auto-gestão), de acordo com o qual mesmo 
estabelecendo acordos operacionais com outras entidades, inclusive governamentais, 
a cooperativa deve preservar o controle democrático pelos sócios e sua autonomia; 
• compromisso com educação, treinamento e informação dos membros, para 
desenvolvimento das operações cooperativas e da comunidade em relação ao 
cooperativismo; 
• cooperação entre cooperativas, visando o fortalecimento delas e das atividades 
econômicas em questão; 
• preocupação com o desenvolvimento sustentável da comunidade, por meio de 
políticas aprovadas pelos membros. 
í Ana l.ucia Cortc#o*o
Ainda que formulados de modo genérico, estes princípios estabelecem limites e 
possibilidades para organizações que se apresentam como esforço de resistência à 
exclusão que resulta da organização econômica e social vigentes, independentemente de 
representarem iniciativas com potencial para enfrentar tal organização. Constitui, neste 
sentido, uma exigência de produção de conhecimento capaz de amparar, ao menos, as 
tentativas de construção de alternativas ao modelo predominante de relações de trabalho 
e humanas em geral. Ainda que o papel do movimento cooperativista, em termos de sua 
condição para enfrentar a realidade social e econômica vigente, seja um assunto polêmico 
e objeto de exame no âmbito político e científico. 
Os princípios cooperativistas equivalem, pela generalidade de sua formulação, e 
pela mobilização afetiva que geram, a palavras de ordem, estando subjacentes a eles um 
conjunto de valores. Ajuda mútua, responsabilidade, democracia, igualdade, equidade e 
solidariedade, honestidade, transparência, responsabilidade social e preocupação com 
seu semelhante, expressões usualmente utilizadas para expressar tais valores são, contudo, 
elas próprias, excessivamente genéricas para definir os contornos de tais empreendimentos 
humanos e, por isso, insuficientes para orientar as ações envolvidas com a criação, 
implementação e avaliação deste tipo de organização. Em outras palavras, um provocante 
desafio de pesquisa para uma psicologia comportamental. 
Formando profissionais para lidar com necessidades sociais 
O exame da proposta cooperativista justifica-se de vários pontos de vista: 
econômico, social, político... No âmbito da Psicologia, alguns motivos para interesse 
sobre este tipo de empreendimento podem ser destacados. 
Uma ainda presente limitação de profissionais de nível superior para atuar e para 
promover atuações orientadas pela concepção de campo de atuação profissional, mais do 
que pelo mercado de trabalho (Rebelatto e Botomé, 1999) é uma destas razões. A despeito 
do tempo decorrido desde considerações já históricas sobre a relevância de preparar 
profissionais para identificar necessidades e possibilidades de atuação profissional, propor 
alternativas e implementar intervenções considerando as necessidades sociais existentes e 
o conhecimento disponível, e não para buscar empregos, mesmo considerando alguns avanços 
nesta direção, ainda parece insuficiente o que foi possível modificar, substancialmente, na 
formação em nível de graduação e, consequentemente, na realidade existente. 
A possibilidade de lidar com cooperativas de trabalho constitui, neste sentido, 
circunstância potencialmente favorecedora de formação de psicólogos mais preparados 
para atuar sob controle de necessidades sociais, propondo alternativas de atuação 
profissional para atender tais necessidades, e preparo de psicólogos empreendedores, 
capazes de gerar oportunidades de trabalho para outros e não apenas (e quando muito) 
competentes para garantir seus próprios empregos. 
O conhecimento disponível sobre organizações cooperativas no âmbito da Análise 
do Comportamento... 
Outro tipo de justificativa para estudar e intervir no processo de criação e 
funcionamento de cooperativas está relacionado ao conhecimento que vem sendo produzido 
Sobre Comporldmenlo c CoRtilçÜo 3
no âmbito da Análise do Comportamento e os desafios que têm se configurado, em termos 
de lacunas neste conhecimento. Assim como um certo sonho de um outro tipo de vida 
para esta espécie. 
A obra Walden Two, de Skinner (1948/1972), teve papel importante como inspiração 
para muitos pesquisadores que não a compreenderam como obra de ficção ou como 
anúncio do Apocalipse. Ainda que escrito em um momento em que muitas das descobertas 
atuais sobre o comportamento humano não podiam sequer ser previstas, o romance facilita 
compreender o significado de descobertas da Análise do Comportamento, mesmo mais 
atuais. As considerações de Sidman, em seu livro Coerção e suas implicações (1989/ 
1995), acerca da possibilidade de uso de formas de controle comportamental não coercitivo 
e da importância de não compreensão da coerção como "natural" ou inevitável, clareiam-se 
diante da utopia skinneriana, que permite mergulhar em uma forma alternativa de 
organização das relações humanas e, de dentro dela, acolher outras possibilidades, mesmo 
reconhecendo os limites que apresentam e as dificuldades concretas para implementá-las. 
Walden Two constitui, ainda hoje, fonte de encantamento e de esperança, que a 
impossibilidade de estar em um outro mundo que não este tempera com algumas dúvidas 
e, tantas vezes, com uma forte sensação de impotência, mas não consegue eliminar. A 
provocação para produzir dados empíricos que a obra faz, contudo, talvez seja sua maior 
relevância. 
A comunidade de Los Horcones, no México, constitui demonstração viva deste 
valor, e da possibilidade de outras formas de organização social. Afinal, e a despeito das 
dificuldades, lá estão eles, vinte e vários anos depois, construindo possibilidades por meio 
dos mesmos princípios que orientam, nos mais diversos laboratórios de Análise do 
Comportamento que se espalham pelo mundo, investigações sobre diferentes fenômenos 
e variáveis. E, em algum grau, indo além deles, à medida que tomam a si mesmos como 
oportunidade permanente de investigação empírica. 
Do ponto de vista formal, Los Horcones se estabeleceu, considerando a legislação 
Mexicana, como uma cooperativa, sendo esta sua identidade legal. Como coletividade, 
ela também adota "princípios” e Valores", expressos pela própria comunidade ao se 
caracterizar como uma cultura: 
• baseada na cooperação, não em competência; 
• fundada na igualdade, não na desigualdade ou discriminação; 
• com uma organização não hierárquica, aberta a todas as pessoas 
independentemente de sua idade, sexo, nacionalidade, religião, nível cultural ou 
econômico etc.; 
• baseada em compartilhar, não em apropriar-se; 
• pautada no pacifismo, não na violência ou agressão; 
• que respeita as crenças religiosas, desde que não sejam utilizadas para atacar, 
discriminar ou competir com pessoas que tenham outras crenças; 
• ecologicamente orientada; 
• que busca a auto-suficiência em todos os aspectos possíveis. 
4 Ana l.ucid Cortf#o*o
A comparação dos princípios cooperativistas e das características propostas para 
Los Horcones evidencia semelhanças, tanto em relação às direções propostas quanto na 
generalidade de formulação de seus princípios. Ambas convocam para a produção de 
conhecimento e para a geração de contingências capazes de oferecer novas possibilidades 
de relações pessoais a um mundo que esgota velozmente sua capacidade de sobrevivência 
nos danos que causa aos indivíduos, à natureza e à espécie. 
Uma Incubadora de Cooperativas Populares... 
A partir de experiência iniciada na Universidade Federal do Rio de Janeiro, e já 
compondo uma rede com pelo menos 14 unidades (Gonçalo, 2000), vêm sendo criadas 
incubadoras universitárias de cooperativas populares. Com o propósito de produzir 
conhecimento sobre o funcionamento de cooperativas de trabalho e sobre o processo de 
incubação deste tipo de organização para o trabalho, e tendo como prioridade segmentos 
economicamente excluídos da população, atuam nestas incubadoras docentes, alunos 
de graduação e pós graduação e profissionais de diferentes áreas do conhecimento e 
campos profissionais. 
A partir do atendimento a solicitações apresentadas por grupos de indivíduos 
interessados em organizar cooperativas populares ou por agências interessadas em 
promover a formação de cooperativas ou por solucionar problemas sociais por meio desta 
iniciativa (prefeituras, sindicatos etc.), ou ainda a partir de diagnósticos sobre necessidades 
da população (mesmo não havendo nenhum solicitante), têm sido desenvolvidos processos 
de incubação, bem como produzido e sistematizado conhecimento sobre aspectos diversos 
deste processo. 
Uma destas incubadoras foi criada na Universidade Federal de São Carlos, SP, 
em 1999, a INCOOP, na qual tem sido possível contar com a participação de alunos, 
profissionais e docentes de Psicologia, dentre outros. Tal participação tem possibilitado 
identificar necessidades no âmbito desta área de conhecimento e desenvolver um conjunto 
de atividades de pesquisa e de intervenção profissional como parte da formação de 
psicólogos. 
Constituem frentes de atuação em Psicologia, já identificadas nestas situações, 
em relação a cooperativas de trabalho e à incubação de cooperativas populares: 
1) Produção de conhecimento sobre cooperativas e sobre incubação de cooperativas; 
2) Intervenções em situações diversas do processo de incubação de cooperativas. 
Em relação a produção de conhecimento... 
A identificação (ou por vezes proposição) de comportamentos que constituem (ou 
devem constituir) uma organização tem se mantido como projeto permanente de pesquisa, 
produzindo dados que podem ser considerados como fundamentais para que questões de 
outra natureza possam ser adequadamente formuladas e para que sejam produzidas 
respostas cientificamente satisfatórias para elas. No âmbito do ensino, a relevância de 
anteceder a definição de como ensinar de uma adequada definição de "o quê" e "porque" 
ensinar, tem sido enfaticamente defendida com base no conhecimento tornado disponível 
Sobre Comportamento e Cotfniváo 5
pela Análise do Comportamento. Skinner, principalmente em seu livro Tecnologia do Ensino 
(1968/1972), talvez seja pioneiro nestas considerações mas, na década de 80 Botomó 
(1981), e mais atualmente Zanotto (2000), fazem abordagens vigorosas a este problema. 
O mesmo tipo de equívoco (apontado por Melchior, 1987, entre outros), de buscar 
ou oferecer "soluções" antes mesmo de comprovar a existência de “problemas" e identificar 
suas características e limites, ou ainda de prever como ensinar, sem saber o quê deve ser 
ensinado ou, mesmo, de buscar respostas para a pergunta “como ensinar" sem tomar "o 
quê" deve ser ensinado como objeto de estudo sistemático, pode ser observado em 
situações como aquelas com as quais se deparam profissionais, docentes e alunos ao se 
responsabilizar por processos de incubação de cooperativas populares. 
Mesmo dispondo de um conjunto de princípios definidores do tipo de organização 
que era desejável, e que a delineava quanto ao seu papel social, a comunidade de Los 
Horcones identificou a necessidade de explicitar objetivos, com a perspectiva de que 
fossem comuns - condição indispensável para que seja possível cooperar pelo bem comum. 
Ainda que compreendida como uma lista a ser modificada - o que de fato ocorreu e tem 
ocorrido no decorrer dos anos - este conjunto de objetivos servia para que os membros da 
comunidade soubessem que tipos de condutas a comunidade desejava promover, que 
tipos desejava reduzir ou eliminar. Deste conjunto de objetivos foi derivada uma lista de 
condutas consideradas como comunitárias, acompanhada das razões pelas quais eram 
consideradas apropriadas para a vida comunitária, e de “contra exemplos" - ou condutas 
incompatíveis com as desejáveis. A comunidade estabeleceu, para si, um "código de 
condutas". 
Ao comentar o processo de desenvolvimento deste código (atualmente substituído 
pelo código de contingências comunitárias), em sua página na Internet 
(wvvWxl0^QrCQ^nes.0Ca,ril^C0djg0,Mrnl)1 OS autores do texto ressaltam as dificuldades para 
lidar com o código inicialmente formulado. Embora o código inicial ajudasse a prevenir 
que cada membro interpretasse de forma particular cada objetivo, e fossem gerados conflitos, 
o passar dos anos demonstrou ser este código insuficiente para produzir mudanças 
duradouras no comportamento dos membros. Desta forma, a comunidade constatou que, 
embora seus membros apresentassem condutas cooperativas, o faziam em condições 
específicas (diante da presença de observadores, por exemplo) e nào em todas as situações 
relevantes. 
Um^exemplo como este, utilizado para ilustrar dificuldades encontradas na 
comunidade, sugere ser tal dificuldade originada de um equívoco muito frequente, que é o 
de tomar como referência classes de respostas como se fossem classes de 
comportamentos - entendidas aquelas como o conjunto de ações equivalente de um 
organismo, e estas como o conjunto de relações classes de estímulos antecedentes - 
classes de respostas - classes de estímulos subseqüentes funcionalmente semelhantes. 
Ainda que detalhadas, as descrições de condutas desejáveis inicialmente elaboradas 
pela comunidade estavam, aparentemente, centradas nas respostas esperadas, e 
enfatizavam a topografia destas respostas, quando na verdade o desejo da comunidade 
era a de que os seus membros apresentassem determinadas respostas sob controle de 
aspectos específicos (antecedentes e subsequentes) do ambiente. Ao substituir o código 
de condutas pelo código de contingências comunitárias, a comunidade compôs para si 
um referencial constituído de descrições de relações comportamentais desejáveis, nas 
6 Ana I ucia C ortejo*«
quais eram explicitadas não apenas as ações (ou classes de respostas) envolvidas, mas 
as condições diante das quais estas ações eram esperadas, e as consequências ou 
razões que deveriam mantê-las.1 
A experiência de Los Horcones, em termos de construção de um conjunto de 
normas verbais capazes de orientar a conduta de um conjunto de indivíduos que partilha 
de alguns referenciais, colocou em evidência a necessidade de dispor de um conjunto 
muito mais especifico de regras do que os princípios orientadores e mesmo do que a 
enumeração de simples ações desejáveis no âmbito de uma organização com as 
características pretendidas, para que fosse possível identificar e implementar contingências 
comportamentais capazes de garantir a ocorrência e a manutenção destas condutas. 
Tal como os objetivos, valores e características descritivas de Los Horcones, os 
princípios cooperativistas são excessivamente genéricos para orientar a criação e a 
implementação de cooperativas tal como as que são delineadas na proposta cooperativista. 
Indagados sobre que condutas dos indivíduos são necessárias para que uma cooperativa 
funcione apropriadamente, mediadores do processo de incubação apresentaram respostas 
genéricas e diversificadas, apontando uma multiplicidade de interpretações e ênfases dentro 
de uma mesma equipe de trabalho (Franchini, 2002). Tal situação evidencia a necessidade 
de que as diferentes concepções sobre as condutas de interesse sejam afinadas, com 
base em convenções mais específicas, e expressas em linguagem capaz de representar 
adequado controle de estímulos para as condutas destes indivíduos ao participar de 
processos de incubação de cooperativas. Dificuldades de funcionamento interno de uma 
organização que pretende preparar indivíduos para atuar cooperativamente, mas que se 
defronta com suas próprias limitações para atuar cooperativamente, mesmo considerando 
definições amplamente aceitas de cooperação, confirmam a necessidade de investir na 
busca de respostas sobre que comportamentos humanos constituem uma organização 
do tipo cooperativa popular de trabalho. 
A expressão "comportamentos humanos que constituem uma organização" tem, 
subjacente a ela, a concepção de que organizações são comportamentos, em suas 
complexas redes de relações - e não apenas os inclui ou contém. Neste sentido, apontar 
para a necessidade de identificar que comportamentos são desejáveis em uma cooperativa 
de trabalho corresponde a destacara necessidade de definir esta organização com qualidade 
e especificidade capazes de gerar, em torno dela, um alto grau de acordo entre seus 
membros sobre o que ela é ou deve ser, e que oriente suas ações de forma que ela se 
torne viável como“empreendimento humano com determinados objetivos e função social. 
Que comportamentos são esperados de uma cooperativa de trabalho, como 
organização? Que comportamentos são esperados de cada um de seus membros? Que 
comportamentos são esperados de uma organização que visa incubar cooperativas 
populares? Que comportamentos são esperados de cada um dos membros de uma 
organização que assuma tal responsabilidade, ao atuar no processo de incubação? Com 
a mesma perspectiva apontada pela comunidade Los Horcones, que destaca a necessidade 
de rever permanentemente, e a partir de conhecimento confiável produzido, as propostas 
de quais são os comportamentos que produzem os resultados desejáveis para a 
’O» conceito* de comportamento a contingência nfto Mo uMi/adoa de forma Itomogânea no âmbito da AnAHite do Comportamento Emborn relevante esta 
ditcuMâo nâo terá feita neate contexto Deete modo, o termo conttngéncM eali tendo utM/ado de acordo oom o uio leito dele em texto da comunidade Los 
Horoone» em que eete awunto 6 abordado 
Sobrr 1'omport.imrnto r ('ognipio 7
organização, tem sido realizado um trabalho de identificação de comportamentos 
potencialmente relevantes para estes diferentes níveis, a partir de diferentes fontes 
disponíveis. Descrições destes comportamentos, em termos de classes de respostas, 
condições diante das quais estas classes são esperadas (classes de estímulos 
antecedentes) e resultados, efeitos e produtos desejáveis destas ações (ou classes de 
estímulos subseqüentes), bem como análises de comportamentos em termos de seus 
comportamentos mais específicos, têm sido elaboradas, e constituem contribuição tanto 
para a compreensão dos processos envolvidos com a constituição e funcionamento de 
cooperativas, quanto para o trabalho da incubadora. 
Até o presente momento, o esforço por identificar condutas de interesse no âmbito 
da organização cooperativa de trabalho e de analisar estas condutas em outras mais 
específicas que as compõem, possibilitou estabelecer um ponto de partida que parece ser 
mais apropriado para formular perguntas de pesquisa e para elaborar propostas de 
intervenção do que as expressões usualmente utilizadas para definir características e 
finalidades de tais organizações. 
Quatro grandes categorias de comportamentos envolvidos no complexo processo 
de geração e funcionamento de cooperativas atendidas por uma incubadora como a 
INCOOP, foram propostas como relevantes para estudo: condutas de cooperantes (membros 
de cooperativas); condutas de cooperativas como organizações com determinadas 
características e finalidades; condutas de incubadoras de cooperativas com tais 
peculiaridades e condutas de indivíduos que atuam como mediadores do processo de 
incubação. 
No caso de comportamentos de membros de cooperativas, foram identificadas 
categorias de comportamentos relacionadas a três grandes subcategorias: comportamentos 
relativos à avaliação de viabilidade da cooperativa, comportamentos relativos à implantação 
da cooperativa e comportamentos relativos ao processo de constituição e funcionamento 
da cooperativa. No âmbito desta última subcategoria, foram identificados comportamentos 
de indivíduos em alguns âmbitos: administrativo, profissional, pessoal e de relações 
interpessoais. Em relação a cada uma destas novas categorias, foram identificados 
comportamentos, gerais e específicos, produzindo um “mapeamento” de comportamentos 
humanos e organizacionais considerados como significativos para o adequado funcionamento 
de uma cooperativa e de uma incubadora universitária, com os objetivos propostos para 
estas organizações. 
Para grande parte dos comportamentos identificados, foi possível ainda elaborar 
definições compatíveis com a noção de comportamento como relação ambiente-organismo, 
tal como ilustrado no Quadro 1. 
Outros estudos têm sido desenvolvidos, na perspectiva de produção de 
conhecimento sobre os objetos de interesse da Psicologia no âmbito da Incubadora. Cinco 
estudos sistemáticos foram iniciados por alunos de graduação em Psicologia no âmbito 
da INCOOP, e três deles encontram-se já concluídos: um deles, voltado para a investigação 
de condições favorecedoras e desfavorecedoras de comportamentos verbais indesejáveis 
em cooperativas, com informações obtidas por meio de entrevistas com cooperantes e 
mediadores do processo de incubação (Vieira, 2001); outro, investigando relações entre 
aspectos do comportamento de mediadores em reuniões do grupo em incubação e 
propriedades de processos decisórios em cooperativas, a partir de informações obtidas 
8 Ana Lúcia CorteRtKo
Quadro 1. Descrição da classe de comportamentos de membros de cooperativas populares 
em seus elementos componentes 
Diante de... 0 que fazer Com os seguintes resultados, 
efeitos, produtos 
• Quaisquer situações em que haja 
necessidade ou oportunidade de • acesso às informações garantido 
comunicação no âmbito da COMUNICAR-SE para o(s) interlocutor(es) 
cooperativa COM OUTROS • possibilidade de continuidade da 
* Características do(s) Interlocutor(es) COOPERANTES comunicação com probabilidade 
• Características da informação a ser aumentada 
transmitida/ assunto a ser tratado 
• Objetivos a serem atingidos com a 
comunicação 
• Condições disponíveis para a 
comunicação 
por meio de observação de situações de tomada de decisão mediadas em cooperativas 
(Cia, 2001); o terceiro, buscando identificar relações entre aspectos da organização do 
trabalho (funções fixas x rodízio de funções) sobre satisfação do trabalhador, com 
informações obtidas a partir de entrevistas com cooperantes (Ferreira, 2001). Um dos 
trabalhos ainda em desenvolvimento pretende avaliar a eficácia de uma estratégia de 
construção de código de conduta cooperativa como condição para promover comportamentos 
cooperativos e o outro identificar variáveis favorecedoras e desfavorecedoras de inserção 
de novos membros em grupos já constituídos. 
Em relação a intervenções junto a grupos incubados... 
Em termos de intervenções diretas no processo de incubação de cooperativas, 
elas têm se dado nas formas de: a) apoio a grupos de trabalho no âmbito de cooperativas, 
b) participação em equipes multiprofissionais e multidiscipinares de incubação e c) apoio 
para o funcionamento da incubadora como organização. 
Apoio a grupo dae trabalho de uma cooperativa de limpeza e zeladoria. 
A cooperativa atendida, que já mantinha um grupo de cooperantes realizando 
atividades de limpeza no restaurante da instituição contratante (uma universidade), passou 
a ocupar postos de trabalho em um serviço de apoio ao ensino de graduação nesta mesma 
instituição, realizando atividades de agendamento de solicitações de equipamentos 
audiovisuais de docentes e alunos para atividades didáticas, transporte, instalação e 
manutenção destes equipamentos, controle de empréstimo, utilização e devolução de 
equipamentos, controle das condições ambientais de salas de aula etc. 
Considerando a novidade do serviço mesmo para a contratante do serviço e a 
inexistência de experiência anterior com as atividades requeridas para funcionamento do 
serviço, o grupo de trabalho necessitou de apoio para organizar o desenvolvimento das 
atividades e mesmo para interagir com a contratante ao definir responsabilidades e 
Sobre Comportamento c Co^niçAo Ç
procedimentos. Para tanto, foram realizadas, com a participação de alunos do curso de 
graduação em Psicologia, sob supervisão, atividades como: identificar dificuldades no 
desenvolvimento das atividades e na interlocução com a instituição contratante, propor e 
apoiar implantação de procedimentos e materiais para execução e avaliação das atividades 
(reserva de equipamentos, controle de entrega e recebimento etc.), criar condições para 
capacitação do grupo na realização das atividades, criar condições para a adequada inserção 
dos membros do grupo de trabalho que passaram a fazer parte da cooperativa em função 
das exigências de formação académica imposta pela contratante para ocupação dos postos 
de trabalho etc. 
Participação em equipes de incubação 
Juntamente com alunos e docentes de outros campos profissionais e áreas do 
conhecimento, alunos do curso de Psicologia, sob supervisão, participaram de processo 
de incubação na condição de membro da equipe de incubação. Esta equipe, neste caso, 
era responsável por desenvolver este processo, partindo de "etapas" gerais já delineadas 
no âmbito da Incubadora a partir de experiências acumuladas, sendo que etapas mais 
especificas, sequência de desenvolvimento de etapas, procedimentos e recursos envolvidos 
na implementação do processo e no enfrentamento de problemas surgidos constituíram 
objetos de definição e investigação. 
Constituem etapas do processo de incubação, tal como proposto no atual estágio 
de desenvolvimento da Incubadora: identificação e recrutamento de membros potenciais: 
apresentação e sensibilização dos atores envolvidos: formação e consolidação do grupo 
potencial para formação de cooperativa; capacitação dos participantes do grupo potencial 
para o cooperativismo; escolha da atividade econômica; capacitação técnica dos membros 
em relação à atividade econômica selecionada; capacitação administrativa dos membros 
do grupo potencial ou constituído para autogestão; elaboração do estatuto; legalização da 
cooperativa; assessoria para implementação das atividades da cooperativa; desincubação 
da cooperativa. No desenvolvimento do processo de incubação, são realizadas atividades 
como: planejamento de reuniões, coordenação de reuniões, preparo e execução de 
treinamentos, apoio para organização do grupo e do trabalho etc. 
Apoio à incubadora como organização 
Em termos de atividades de apoio à incubadora como organização, foram 
desenvolvidas algumas atividades: elaboração, implementação e avaliação de processo 
de inserção de novos participantes na Incubadora; proposição e implementação de 
sistemática de trabalho para a equipe: tipos de reuniões, objetivos, características, 
procedimentos e instrumentos para realização de atividades etc.; identificação e descrição 
de comportamentos da Incubadora, como relações entre ações e ambiente, de 
organizações e de indivíduos, desejáveis no âmbito da proposta cooperativista e de 
incubação de cooperativas populares de trabalho. 
Quanto a processos de inserção de novos membros na Incubadora, foi proposta 
uma sistemática que prevê um conjunto de atividades a serem desenvolvidas, algumas 
permanentemente, outras de forma episódica (cadastro de interessados, apresentação da 
incubadora, curso introdutório sobre cooperativismo e assuntos afins, triagem, treinamento 
1 0 Ana Lucid Corteno*o
em serviço, manutenção do interesse de alunos não aproveitados em projetos e avaliação 
da sistemática), para as quais foram explicitadas a função e as características principais. 
Uma síntese desta sistemática pode ser vista no Quadro 2. 
Quadro 2. Sistemática de inserção de alunos na equipe INCOOP proposta como parte das 
atividades de apoio ao funcionamento da incubadora pela equipe de Psicologia. 
Atividade Função Características 
Cadastro 
do Interessados 
Facilitar a localização de pessoas 
para compor equipes: orientar a 
INCOOP na proposição de 
atividades de inserção de 
interessados quanto n época de 
ocorrência 
Preenchimento de uma ficha com dadoB 
pessoais, académicos e de interesse e 
expectativas A ficha deve estar disponível nf 
INCOOP e com os membros da equipe, 
permanentemente 
Apresentação da 
INCOOP(2) 
Subsidiar interessados como 
divulgadores da INCOOP e para 
sua decisão quanto ao tipo de 
envolvimento que terá com o 
projeto 
Reuniôo breve, de aproximadamente duas 
horas, com informações gerais, contexto em 
que a INCOOP se insere, função, 
composição, atividades regulares, projetos dei 
incubação, possibilidades de participação de 
interessados etc Apresentação de recursos 
motivacionaís (filme) e disponibilização de 
recursos para esclarecimentos conceituais 
(textos) 
Curso Introdutório 
sobre 
cooperativismo e 
sobre a proposta da 
INCOOP 
Apresentar aos interessados 
informações necessárias para 
tomada de decisões sobre 
inserção, garantir capacitação 
preliminar para participação em 
atividades; subsidiar equipes na 
triagem de alunos 
Desenvolvimento de atividades em módulos 
relativos a a) conceitos básicos e princípios 
do cooperativismo, b) processo de incubaçAo 
c) motivação e treino para trabalho em 
equipe e junto a grupos; d) projetos 
desenvolvidos e em desenvolvimento 
Triagem Selecionar alunos a serem 
convidados a participar, como 
parte de uma equipe e na 
condição de voluntário, do 
acompanhamento de um grupo 
em processo de incubação 
Podendo ser feita apenas a partir do contato 
entre equipes o alunos interessados ou com 
dmãmica(s) especlfica(s) adicionais, sempre 
envolvendo a equipe, com classificação de 
todos os interessados 
Capacitação em 
serviço 
Completar a capacitação 
iniciada, levando em 
consideração o contexto 
especifico em que o trabalho é 
desenvolvido, de modo a garantir 
autonomia e adequado controle 
de estimulos para ações 
individuais e participação em 
atividades coletivas 
Participação dos alunos em atividades 
programadas, de nfvel crescente de 
dificuldade, acompanhadas de forma a 
garantir “dicas" e “feed-backs'' sistemáticos 
para desempenho desses individuos e 
condições para generalização das condutas 
relevantes para o processo de incubação 
Avaliaç&o 
do processo 
Subsidiar decisões da equ»pe 
sobre processo de inserção de 
novos alunos, sejam de 
manutenção, sejam de mudanças 
Reunião geral com participantes de projetos, 
para discussão sobre o andamento do 
processo, identificação de dificuldades e 
definição de encaminhamentos 
Manutenção de 
Interesse dos não 
inseridos em 
projetos 
Garantir a possibilidade de contar 
com a participação de pessoas já 
familiarizadas com a proposta em 
momentos futuros ou novos 
projetos 
Informes, convites para participação em 
grupos de estudo, palestras, oficinas etc. 
Sobrr Comportamento c Co^nlçAo 11
De acordo com a sistemática de inserção de alunos proposta, está previsto um 
envolvimento gradual e uma capacitação crescente dos interessados. A sistemática prevê, 
ainda, diversidade de tipos de participação e a manutenção de interesse e proximidade 
dos indivíduos que buscam a Incubadora, mesmo quando a possibilidade de participação 
destes indivíduos é restrita ou não imediata. 
No Quadro 3 pode ser encontrada uma síntese da sistemática de reuniões proposta 
para a equipe da Incubadora, como forma de apoio ao seu funcionamento. 
Quadro 3 - Sistemática de encontros dos membros da INCOOP, em termos de tipos de 
reuniões e suas características. 
1. Reuniões gerais ordinárias de caráter deliberativo, com pauta previamente indicada 
om convocação especifica, que deverão ocorrer quinzenalmente, salvo convocações 
extraordinárias adicionais ou inexistência de assuntos que justifiquem sua ocorrência. 
Nestas reuniões, além de informes (que deverão ser apresentados com brevidade, de 
preferência selecionados de lista elaborada no inicio da reunião), serão discutidos e 
encaminhadas questões com caráter de urgência, monitoramento dos projetos em 
andamento, apreciação de propostas elaboradas em reuniões preparatórias e outros 
assuntos considerados pertinentes pelos membros da Incubadora; 
2. Reuniões gerais ordinárias de trabalho, preparatórias de reuniões deliberativas, com 
temas de interesse da Incubadora, indicados em reuniões deliberativas. Tais reuniões 
deverão ocorrer também quinzenalmente, altornadas com as do primeiro tipo (a monos 
que seja necessária a ocorrência de reuniões deliberativas extraordinárias ou que o 
desenvolvimento dos trabalhos de preparação exijam maior duração). Exemplos do temas 
que requerem reunião ou organização de informações ou elaboração de propostas 
preliminares: critérios para compor equipes responsáveis por incubação de grupos, 
critérios para elaboração de orçamentos (incluindo existência e valores de bolsas 
institucionais para alunos e docentes), critérios para aceitação ou identificação de 
demandas, formas de operacionalização dos princípios do cooperativismo (no 
funcionamento da Incubadora e om cooperativas), funções e limites de autonomia dos 
diferentes participantes da Incubadora, procedimentos para geração de fundos, critérios 
para utilização de recursos disponíveis, acesso ao conhecimento produzido a partir da 
atuação da Incubadora. Em reunião deliberativa deverão ser estabelecidas prioridades 
para o encaminhamento destes (e de outros temas que venham a ser acrescentados à 
lista) em reuniões preparatórias. 
3. Reuniões de equipe, para tratar de encaminhamentos relativos ao grupo atendido pela 
equipe para incubação ou ao projeto pelo qual a equipe responde, com dinâmica, 
periodicidade, data, assuntos e local definidos pela própria equipe, e indicados no quadro 
de atividades da Incubadora. 
4. Reuniões de grupos temáticos (de estudo ou trabalho), para atender a necessidades e 
Interesses específicos de uma parte dos membros. 
Observação: as diferentes reuniões deverão ser Indicadas em quadro destinado a esta 
finalidade, devendo ser usadas cores correspondentes aos tipos de reuniões e grupos ou 
projetos, de modo a favorecer sua identificação por todos os participantes da INCOOP. 
12 And I ucid Cortftfoío
Diferentes tipos de reuniões, em termos de finalidade, condições e exigências 
para ocorrência e participação, composição etc. foram previstos, de modo a possibilitar 
uma articulação de atividades a serem desenvolvidas por um conjunto também diversificado 
de pessoas, em termos de vinculação com a Incubadora, interesses, disponibilidades etc. 
Favorecer processos de tomada de decisão com alto grau de acesso a informações por 
parte de todos os potencialmente interessados e possibilidade de participação ampla, a 
despeito das dificuldades práticas envolvidas na reunião de tal diversidade, foi um dos 
objetivos estabelecidos e orientadores da proposta, ainda em implantação e teste. 
O apoio ao funcionamento da incubadora se dá também em relação aos 
mediadores que desenvolvem o processo de incubação junto aos grupos de cooperantes. 
A proposição de recursos favorecedores de condutas de mediadores do processo 
de incubação relevantes para instalar e manter condutas de cooperantes e da cooperativa 
identificados como desejáveis no contexto da proposta cooperativista aplicada a cooperativas 
populares de trabalho, constituiu o objetivo desta frente de intervenção com Psicologia na 
Incubadora. 
Tomando como base condutas de indivíduos identificadas como relevantes para a 
participação em cooperativas populares de trabalho, foram elaboradas: a) descrições 
comportamentais destas condutas e b) sugestões sobre como mediadores podem atuar, 
ao interagir com grupos em processo de incubação, de forma a favorecer a instalação e 
manutenção destes comportamentos. 
A descrição comportamental dos comportamentos indicados como desejáveis, 
com a explicitação não apenas de ações, mas das condições antecedentes (aquelas 
diante das quais tais ações são desejáveis, ou estímulos discriminativos, e das que são 
necessárias para a ação ocorrer) e das condições subsequentes (resultados, produtos ou 
efeitos esperados destas ações) já constitui, por si só, uma contribuição para o trabalho 
dos mediadores. Ao tornar explícitos os aspectos considerados relevantes na relação 
comportamental, a descrição comportamental facilita a conferência do grau de concordância 
sobre o fenômeno de interesse, a identificação de concepções diversas dentro da mesma 
equipe e o estabelecimento de convenções mais apropriadas para orientar um trabalho 
consistente, por parte dos mediadores, junto aos grupos. Um exemplo do tipo de descrição 
elaborada foi apresentada no Quadro 1. 
A esta contribuição foi acrescida a indicação de providências, de diferentes graus 
de complexidade, que podem ser implementadas pelos mediadores, para promover, em 
situações cotidianas ou formalmente conduzidas para esta finalidade, condutas desejáveis 
dos membros do grupo para o adequado funcionamento de cooperativas. 
No Quadro 4 são apresentados exemplos de procedimentos e providências 
propostos como forma de orientação dos mediadores para que sejam promovidos 
comportamentos de comunicação entre os cooperantes (e destes com outras pessoas), 
um daqueles considerados como relevantes de serem apresentados por indivíduos que 
participam de uma cooperativa, desde sua proposição até a implementação e administração 
de seu funcionamento. 
Sobrr Comportamento e Corti*v3o 13
Quadro 4. Exemplos de providências e procedimentos sugeridos aos mediadores para 
instalar e manter comportamentos no âmbito da comunicação em cooperantes de grupos 
em processo de incubação. 
- em reuniões com o grupo de cooperantes, a) propor que todos se manifestem, dôem 
suas contribuições para o encaminhamento do debate; b) fa*er perguntas ou comentários 
sobre o assunto discutido; c) destacar a Importância de uma comunicação adequada 
para o grupo. 
- em reuniões com o grupo, pedir para que os próprios cooperantes se organizem em 
grupos menores para discussão de determinado assunto, de modo a facilitar a 
comunicação dos mais tímidos, e posteriormente, propor uma discussão com todo o 
grupo. 
- em quaisquer situações de comunicação, destacar aspectos favorecedores de 
comportamentos adequados de comunicação que tenham ocorrido. 
- apresentar modefos de forma de comunicação adequada e, sempre que possível, 
destacar as propriedades adequadas demonstradas 
Uma adequada caracterização de comportamentos de cooperação e de 
concepções de cooperantes e de mediadores sobre "cooperação", com elaboração de 
estratégias e recursos para desenvolvimento de comportamentos de cooperação em 
cooperantes, como forma de apoio ao trabalho dos mediadores, foi também iniciada. Os 
produtos deste trabalho devem contribuir, também, para o funcionamento da Incubadora, 
que se encontra em uma fase de avaliação e reformulação de seu funcionamento como 
equipe de trabalho, em função, dentre outras coisas, de dificuldades para implementar, 
dentro dela mesma, condições de trabalho compatíveis com a proposta cooperativista. 
Cooperativas de trabalho como organização de interesse: controle de estímulos 
para comportamentos ao produzir conhecimento e ao intervir profissionalmente 
As possibilidades de atuação abertas pela ampliação dos empreendimentos 
solidários, para pesquisadores e profissionais em Psicologia é considerável, e requer 
respostas relativas tanto ao melhor aproveitamento do conhecimento disponível sobre 
conduta humana, organizações em geral e organizações de trabalho, quanto para produção 
de conhecimento especificamente voltado para as exigências comportamentais impostas 
pela necessidade de gerar e manter novas formas de relações em relação às predominantes. 
A inserção de pesquisadores da área Psicologia, e de profissionais, formados ou em 
formação, do campo profissional que mais diretamente depende do conhecimento da área, 
em projetos multidisciplinares e multiprofissionais contribui para que, de modo amplificado, 
a Psicologia responda a este desafio com conhecimento de qualidade, socialmente relevante 
e promissor para que seja possivel alcançar uma sociedade mais justa e digna. Nesta 
direção, parece relevante que pesquisadores e psicólogos decidam não apenas lidar com 
situações correspondentes a necessidades sociais relevantes, mas buscar sua própria 
exposição a ambientes favorecedores da percepção de tais necessidades. 
14 Anu J.ucw Lortetfoío
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Sobrt Comportamento c totfnjçilo 15
Capítulo 2 
A manipulação no contexto clínico * 
Atm Mdrià LéStnéchâl-Machiuio " 
A manipulação no contaxto clinico pode ser vi»t« como uma estratégia d« análise funcional, á medida que for utili/ada pelo 
terapeuta para iniciar e dasignar uma ahordagnm particular á problemática apresentada pelo cliente Assim, o teraponta 
poderá manipular estímulos associados a consequências positivas, tais como descritas pelo cliente, de forma a tornar 
algumas açAes deste mais prováveis e mais favoráveis ao alcance do objetivos mais funcionais, mais aduptatlvos Atravós 
da manipulação de contingôncias t do estabelecimento de condições indicadoras de provável alivio do sofrimento ou dn 
) gratificação efetiva, transformações nos repertórios disfuncionais do cliente podem ser produzidas. A manipulação no 
", contexto clinico se Insere, em grands parte das intervenções, quando o objetivo do terapeuta è ensinar o cltenlo sobre o que 
fazer, em vez de. simplesmente, alertá-lo sobre o que nâo fazer. Quando as práticas de controle do comportamento sâo 
explicitadas, o contracontrole se torna menos dificll, pois se fica sabendo de quem se deve escapar ou a quem se deve 
atacar Quando a manipulação explicita o controle, a funcionalidade do contracontrole aparece e a coerçAo enfraqueço. A 
funcionalidade da manipulação na relaçáo pnlcoterápica è (ratada, neste toxto, como uma proposta de Intorvençâo çentrada 
na pessoa do cliente e no modo ético de contingenciaçâo e de atendimento clinico comportamental 
Palavras-chave: mampulaçfto clinica; contracontrole coercitivo; funcionalidade 
The manipulation in the clinical context may be seen as a strategy of functional analysis, as it is used by the therapist to 
initiate and designate a particular approach to the problematic presented by the client Thus, tlie therapist will be able to 
manipulate stimuli associated to positive consequences, such as they are described by the client, In a means to turn some 
of his/her actions more likely and favorable to the achievement of more functional and adaptative goals. Through the 
manipulation of contingences and the establishment of indicative conditions of feasible suffering relief or effective 
gratification, transformations in the client's dlsfunctional repertories may be produced The manipulation in the clinical context 
is Inserted, in aiost interventions, when the therapist's goal is to teach the client what to do, instead of simply alerting him/ 
her of what not to do When the practices of behavior control are made explicit, the countercontrol becomes less difficult, 
because It becomes known of whom one should escape, or of whom one should attack. When the manipulation makes the 
control explicit, the countercontrol functionality arises and coercion weakens The manipulation functionality in tho 
psychotherapeutic relation is handled, in this text, as an intervention proposal centered in the client's person and In the ethical 
manner of contingency and of clinical behavioral attempting. 
Key words: clinical manipulation, coercive countercontrol; functionality. 
O contexto clinico comportamental 
As terapias comportamentais, e outras que se alinham a elas, têm enfatizado a 
necessidade de uma investigação sistemática da disfuncionalidade de repertórios 
' Texto mtmtmutóo na mmn rwdonó* 'MmUpulaçào do comport*nmlo dn fwicionaJKJíide h oo*fpío'. r6»llzi»d» dumnlaoX Cncontro B*mIMtd de Pticoleríipin 
« Medicina Comportamenw, da Aaaociaçâo Bra»ile*a d« Pttootefaplíi • Medicina Comportamental - ABPMC, em Cainplna«/SP, «etembro da 2001 
" Umveraidade Federal de Mina* Qerala - Faculdade de Filoeofle e Clénciaa Humana* - Departamento de Milcologla 
1 6 And M.iria Lé Sénéchal-M<ich«nlo
comportamentais particulares, o que aponta na direção do estabelecimento de condições 
terapêuticas específicas. Na condução do processo de atendimento clínico psicoterápico, 
a direção relevante a ser empreendida tem sido a de se produzir, como objetivo final, o 
autoconhecimento por parte do cliente. A esse respeito, Skinner (1989/19911) observa 
que, 
"A psicoterapia ô, freqüentemente, um espaço para melhorar a auto-observaçâo, 
para ‘trazer à consciência' uma parcela maior daquilo que ô feito e das razões 
pelas quais as coisas são feitas.’’ (págs. 46-47). Destacando ainda que "Todo 
mmportamento, seja ele humano ou não humano, ó Inconsciente; ele se torna 
'consciente’ quando os ambientes verbais fornecem as contingências necessári­as 
à auto-observaçâo.” (pág. 88), 
sugere que ê a comunidade verbal que pode estabelecer as contingências que levam ao 
conhecimento, na medida em que nos questiona sobre o que fizemos, estamos fazendo 
ou estamos prestes a fazer. Assim, sob condições específicas - setting terapêutico, por 
exemplo - mantidas pela comunidade verbal, é possível ensinar pessoas a relatar os seus 
comportamentos privados, seus sentimentos mais íntimos, pois os comportamentos de 
auto-observação e auto-descriçâo são produtos sociais. Portanto, se o autoconhecimento 
depende da comunidade social, a situação terapêutica e o papel do terapeuta revelam-se 
como aspectos importantes para a explicitação, ao cliente, das contingências atuantes 
em seu contexto de vida pessoal e social. O terapeuta deverá conduzir o cliente à 
discriminação dessas contingências e à respectiva alteração funcional delas. Deverá, ainda, 
conduzir o cliente ao autoconhecimento, ensinando-lhe que, se "O euéo que uma pessoa 
sente a respeito de si própria. "(Skinner, 1989/1991, pág. 45), ao se conhecer, uma pessoa 
passa a ter, á sua disposição, informações sobre os outros e sobre si mesma que lhe 
possibilitarão desenvolver repertórios comportamentais de autocontrole, que a auxiliarão a 
lidar melhor consigo mesmo. Nesse sentido, o comportamento terapêutico voltado para a 
análise funcional das contingências positivas e negativas da vida do cliente poderá incluir 
a estratégia de manipulação (neste trabalho, denominada ‘manipulação terapêutica’) como 
uma forma de interação e de condução do cliente ao ajuste comportamental e a um 
estado de relações menos conflitante s e mais gratificantes (Beech, 1969/1971 ; Sidman, 
1989/1995; Bernardes, 1993; Guilhardie Queiroz, 1997; Baum, 1994/1999). 
A manipulação como procedimento 
Manipulação, como uma categoria de conteúdo verbal de comportamento 
terapêutico, foi, em trabalho anterior, definida como 
“o conjunto de verbalizações emitidas por um indivíduo, em uma interação com 
outro, no sentido de imprimir neste, de modo planejado, outras formas de agir, 
que facilitem a realização funcional de um objetivo." (Lô Sônéchal-Machado, 
1999, pág. 88). 
Machado (2001), discutindo o papel da manipulação no contexto das relações 
sociais, pessoais e íntimas, descreve manipulação como a maneira pela qual indivíduos, 
intencional e propositadamente (embora não necessariamente conscientemente), alteram, 
1A primeira data refera •« ao ano da ptibUcaçAo original, em inglêa, • a aagurtda ao ano da irnduçAo • «dtçAo. am portiiguéa, conauKada 
Sobre Comportamento e Cojjnlçüo 17
mudam e influenciam ou exploram outros. Ainda com base em Buss (1987) e em Buss, 
Gomes, Higgins e Lauterbach (1987), essa mesma autora observa que, no campo das 
relações interpessoais, a manipulação pode ser reconhecida como inerente ao processo 
de interação, o que não implica, necessariamente, a adoção de atitudes de maldade, de 
malícia ou de intenção perniciosa. Muito embora tais atitudes possam estar presentes em 
muitos destes processos interacionais, a manipulação comportamental, compreendida 
como uma forma de controle de estímulos, não está vinculada à produção de relações 
constrangedoras ou coercitivas, e sim à produção de comportamentos discriminatórios 
que permitam a diferenciação de respostas mais aceitas socialmente e mais gratificantes 
pessoalmente. O terapeuta vai procurar, nesse contexto, dar mais ênfase ao trato dos 
problemas encobertos, dos quais o cliente não tem consciência. A manipulação, assim, 
pode ser empregada como uma disposição de condições para a indução de uma decisão 
ou ação, por meio de estímulos, verbais ou não, mas sem discussão (Lé Sénéchal- 
Machado, 1993,1999; Machado, 2001). 
A ‘manipulação terapêutica' 
A manipulação terapêutica, no contexto clínico da análise funcional, justifica-se 
na reconhecida ênfase atribuída à necessidade de aquisição e manutenção, pelo cliente, 
de repertórios mais adaptativos, mais recompensadores, que privilegiem o 
autoconhecimento e o autocontrole; e também, em grande parte das intervenções nas 
quais o objetivo do terapeuta é, por exemplo, ensinar ao cliente sobre ‘o que fazer’, em vez 
de, simplesmente, alertá-lo sobre 'o que não fazer'. Bernardes ( 1993) observa que 
"o conjunto de características pessoais que compõem o repertório total relatado 
por uma pessoa, constitui o eu que ela aprendeu a observar e, obviamente, não 
abrange todas as suas probabilidades comportamentais nas diversas situações 
de estímulos, " (pág. 67). 
Assim, a apresentação direta de um estímulo funcionará como modelo de ação 
diversa, criando, inclusive, condições para que novas respostas se instalem. Isto equivale 
a dizer que parece ser muito importante o fornecimento de incentivos, a fim de que uma 
pessoa mude de atitude: a alteração da atitude deve ser provocada através de incentivos e 
reforçadores para que se incorpore ao repertório comportamental da pessoa e permita 
melhores ajustamentos. A nossa comunidade social não costuma aceitar, amavelmente, 
o fracasso e acaba por transformar os fracassados em vítimas, em pessoas ‘incompletas, 
insatisfeitas, mal definidas’ - em pessoas com ‘falta de vontade’ para agir, pois fizeram 
seleções mal feitas e continuam a fazê-las a cada dia. Durante o processo terapêutico, 
pode-se supor que o terapeuta, conforme vai conhecendo o cliente, sua história passada 
e seu 'aqui agora’, ou ainda, sua história de fracassos, de más escolhas e de punições, e 
os convencimentos decorrentes, vai adquirindo melhores condições de identificação dos 
níveis de privação e de estimulação aversiva que compõem o sistema de regras e de 
contingências do cotidiano do cliente. Desse modo, o terapeuta vai sendo instrumentado 
para fazer previsões, por exemplo, sobre o valor reforçador de uma determinada condição 
e sobre a probabilidade de seu cliente empenhar-se na realização de comportamentos 
pertinentes. A implementação de tais procedimentos, por parte do terapeuta, implicará o 
que estamos chamando de ‘manipulação funcional’: através da apresentação de avisos, 
de sugestões, de conselhos e de propostas de ensaios comportamentais, o terapeuta 
18 Ana M.irid l.é Sénéchdl-Mdchdtlo
estará auxiliando o cliente a alterar a compreensão de suas dificuldades particulares e de 
suas limitações especificas. Trata-se, portanto, do terapeuta assumir um desafio - o de 
intervir de forma forte, ativa e dinâmica: instalar um regime terapêutico com objetivos e 
planos de ação claros, nos quais o 'fazer' do cliente tem papel mais importante do que o 
‘falar’ do terapeuta. 
As metas clinicas compartilhadas 
Na terapia comportamental, o cliente percebe logo que os objetivos do atendimento 
são imediatamente esclarecidos de comum acordo com o terapeuta, o que permite a ele, 
cliente, reconhecer o terapeuta como o indivíduo que, na relação em curso, é, em geral, a 
pessoa mais ativa, mais animadora, mais persuasiva. Assim, pode-se supor que o terapeuta 
não deverá negligenciar os fatores suscetíveis à modificação desejada por ambos (terapeuta 
e cliente), concentrando sua relação com o cliente na identificação das contribuições 
ambientais e dos processos de aprendizagem aos quais o cliente deverá ser exposto. De 
acordo com Skinner (1974/1982), "O conhecimento vem sendo usado há muito tempo 
para fins de controle.” (pág. 46), e é nessa direção, de dar a conhecer ao cliente os 
controladores de seus comportamentos, que o terapeuta lhe explicita os esquemas e os 
valores de reforçamento atuantes em sua vida atual e que, deficitários ou em excesso, 
muito possivelmente atuaram assim em sua história de vida passada. O terapeuta, assim, 
irá propor ao cliente a testagem de comportamentos em direção ao contracontrole. 
Assumindo esse pape), o terapeuta facilitará ao cliente a seleção de outros repertórios e 
de novas estratégias para contingenciar as apresentações incisivas e indutoras de ação, 
fornecidas pelo seu (do cliente) cotidiano de relações sociais e interpessoais. É na relação 
com o ambiente que um comportamento é selecionado, moldado e mantido por suas 
conseqüências: é na relação com o ambiente que aprendemos a manejar o nosso próprio 
comportamento e o comportamento dos outros, de modo a ajustar as nossas ações às 
demandas do mundo que nos rodeia (Skinner, 1974/1982,1983;Sidman, 1989/1995). E 
esse ‘manejo' pode incluir ‘manipulação’, intenção e propósitos funcionais para a obtenção 
de bons desempenhos, no controle pessoal de nossas próprias vidas. Muitos progressos 
no atendimento às dificuldades do cliente serão obtidos, conforme o terapeuta for 
identificando as variáveis que estão no controle do ajustamento desse cliente. Para tanto, 
o terapeuta precisa isolar as variáveis que supõe sejam específicas e importantes para o 
bom funcionamento do cliente e então testá-las. Manipulando essas variáveis, o terapeuta 
poderá distinguira que acontece: observando a freqüência com que o cliente se engaja 
numa dada atividade, o terapeuta terá mais chances de identificar a grande maioria das 
variáveis das quais aquela freqüência ó função. A esse respeito, Skinner (1953/1993) 
observa: 
“O poder de manipular as condições que afetam outro Indivíduo pode ser delega-do 
ao indivíduo controlador por (...) agências organizadas. A relação entre 
controlador e controlado pode assim ser caracterizada como a de (...) terapeuta a 
paciente (...), professor a aluno, e assim por diante. (...) Mas quase todos controla­mos 
algumas variáveis relevantes, independentemente dos papéis como os 
mencionados, que podem ser empregados em beneficio próprio. A isto se pode 
chamar ‘controle pessoal’. O tipo e a extensão dependem dos dons e da habilida­de 
pessoal do controlador." (págs. 299-300). 
Sobrr Comportamento t Cognição 19
A funcionalidade da ‘manipulação terapêutica’ 
Ao utilizar-se da estratégia de 'manipulação terapêutica', condições específicas 
de observação de processos comportamentais do cliente estarão sendo criadas pelo 
terapeuta. Sob condições relativamente controladas - o 'setting terapêutico' - o terapeuta 
poderá localizar, mais facilmente, as funções do comportamento do cliente num contexto 
mais amplo, mais generalizável. O que equivale a dizer que, ampliando-se a classe de 
variáveis independentes, manipuláveis, ampliar-se-á também a classe de variáveis 
dependentes a serem medidas e observadas funcionalmente (Skinner, 1974/1982; Guilhardi, 
1988; Lé SénéchaUMachado, 1997, 2000). E é nesse ponto que a ‘funcionalidade da 
manipulação’ vai permitir a identificação e a distinção do repertório de respostas ao controle 
coercitivo, que vêm fazendo parte da vida do cliente. A partir dos relatos do cliente sobre 
suas ações no dia-a-dia, o terapeuta passa a observar a regularidade entre condições 
antecedentes, respostas do cliente e conseqüentes. O estabelecimento de relações 
contigenciais entre esses eventos (antecedentes, comportamento e conseqüentes) 
decorrente da análise funcional empreendida pelo terapeuta, junto com o cliente, favorecerá 
a ambos a identificação das variáveis das quais o comportamento do cliente é função. Por 
isso a ‘manipulação terapêutica’ se justifica, porque o terapeuta, ao dar conselhos ao 
cliente, por exemplo, indica um comportamento a ser copiado: descreve, para o cliente, 
as conseqüências de reforçamento implicadas na distinção entre o modo como está fazendo 
as coisas e o modo novo ou nova vida. 
"Todo o avanço em terapia comportamontal vai nessa direção, porque ela come­ça 
mudando o mundo em que as pessoas vivem e assim, apenas indiretamente, 
o que eias fazem e sontem. * (Skinner, 1989/1991, pág. 115). 
Portanto, é preciso testar novos comportamentos para que a generalização dos 
novos comportamentos, bem aprendidos, possa acontecer. Ou seja, para que o cliente 
possa reconhecer que náo são os seus sentimentos e sim as condições em que eles 
ocorrem ó que sáo importantes. Para sentimentos positivos ó imprescindível a construção 
de contingências positivas. Nesse sentido, a possibilidade de manipulação de estímulos e 
de modulação de comportamentos, em direção à ampliação de repertórios, se instala. Um 
treinamento de evitação ou fuga, eventualmente, poderá ajudar o cliente a fazer 
aprendizagens mais rápidas e atuações mais duradouras, de modo a que possa reduzir 
boa parte dos eventos aversivos que controlam seu (do cliente) comportamento. Assim, a 
'manipulação terapêutica’ poderá se voltar para uma programação de generalização das 
novas maneiras de o cliente se relacionar consigo mesmo e com os outros, enfim, com 
sua vida pessoal e social. 
"Os estímulos verbais que chamamos conselhos, as regras ou as leis, descre­vem 
ou aludem a contingências de reforçamento. Pessoas que foram aconselha­das, 
ou que seguem regras e obedecem a leis comportam-se por uma das se­guintes 
razões: seu comportamento foi diretamente reforçado pelas conseqüên­cias 
ou elas estão respondendo a descrição de contingências. Como e por que 
e/as respondem a descrições ô explicado pela análise das contingências verbais 
de reforçamento." (Skinner, 1989/1991, p.87-88). 
E a 'manipulação terapêutica’ permite essa distinção e essa análise apurada. 
2 0 An,i M.iriii l.f Sintchal-M dchdtlo
A funcionalidade no controle da coerção 
Considerando-se a relação terapêutica como um contexto de relação interpessoal, 
obviamente muitos comportamentos problemáticos, dificuldades e limitações do cliente, 
nessa área, poderão ser evocados. A partir da manipulação terapêutica, a variabilidade de 
comportamentos funcionais do cliente tem a chance de ser aumentada, em direção à 
produção de conseqüências reforçadoras positivas naturais e sociais e ao ajustamento de 
repertórios de fuga e esquiva aos esquemas coercitivos atuantes na vida do cliente. Portanto, 
a exposição do cliente à estimulação aversiva e conseqüente enfrentamento do controle 
coercitivo do seu espaço vital poderá promover a extinção de reações neuróticas e a 
habituação a novos modos de contato, ou seja, a respostas diferenciadas de autocontrole. 
A manipulação terapêutica visa, portanto, a alteração da capacidade do cliente para resolver 
problemas e o fortalecimento de repertórios de contracontrole das condições ambientais 
coercitivas (tanto encobertas quanto públicas): 
"Modificamos a maneira pela qual uma pessoa vê alguma coisa, bem como o 
que vê quando olha, através da manipulação das contingências; (...) Alteramos 
as forças relativas de respostas através de reforçamento diferencial de cursos 
alternativos de ação; (...) modificamos a probabilidade de ocorrência de um ato 
ao mudarmos uma condição de (...) estimulação aversiva.” (Skinner, 1971/1983, 
pág. 73). 
O terapeuta como 'manipulador' 
Ser terapeuta é estar na situação clinica como um explorador de potencial, no 
sentido de levar o cliente a dar tudo de si para promover seu autoconhecimento e seu 
autocontrole. Ser terapeuta é reconhecer, também, que o cliente sabe de si melhor que 
qualquer pessoa, mas carece de consciência e poder de auto transformação: necessita 
do terapeuta como aquele que o acompanhará no esclarecimento plausível de suas 
disfuncionalídades, através de ‘manipulações’ funcionais, determinadas e não teimosas, 
disciplinadas e não escravizantes. Skinner (1971/1983), ao esclarecer distorções quanto 
ao entendimento dos comportamentos de 'incitar à ação’ ou de 'persuadir', afirma que, 
quando fazemos esses comportamentos, "parece que estamos atuando sobre a mente 
quando 'incitamos'ou ‘persuadimos’alguém a agir. "(pág. 72). O que estamos fazendo, na 
realidade, diz de uma exploração e/ou explicitação de situações mais favoráveis à ação 
funcional. Ou ainda, quando ‘incitamos’ ou ‘persuadimos’ alguém, estamos ‘adoçando 
condições' através da manipulação de variáveis e de estímulos associados á produção de 
conseqüências positivas e/ou negativas, conforme identificadas, pelo‘manipulador’, como 
atuantes na história de vida desse alguém (Skinner, 1971/1983; Lé Sénéchal-Machado, 
1999). Evidentemente, a presença de um terapeuta acolhedor e apoiador, que ofereça 
segurança ao cliente, é elemento importante no conjunto de estímulos contextuais que 
favorecerão ao cliente a seleção de comportamentos específicos, em direção à adaptação 
e à maior liberação de reforçamento positivo ou negativo, se for o caso. O terapeuta funciona 
como ‘manipulador' na medida em que, na situação clínica, é a pessoa que emite um 
maior número de comportamentos específicos (solicita informações, manipula SDs, insiste 
no esclarecimento de algum dado relevante), estimulando contínua e regularmente o cliente, 
até obter a identificação das variáveis controladoras - determinantes e mantenedoras - do 
repertório comportamental deste. No contexto do atendimento psicoterápico, o cliente é 
Sobre Comportamento c Cognição 21
estimulado - via manipulação - a ‘experimentar’ novos modos de atuar, com o propósito 
de ampliar seu repertório de ações adaptativas. Enquanto 'manipulador funcional’, o terapeuta 
vai especificando ocasiões para a ocorrência de comportamentos alternativos, de maneira 
a auxiliá-lo na substituição de ações disfuncionais: o terapeuta manipula condições para 
que o cliente aprenda e treine novas habilidades contingenciais de contracontrole do seu 
bem estar pessoal e social (Beech, 1969/1971; Sidman, 1989/1995; Lé Sénéchal-Machado, 
1999). Enfim, como manipulador funcional, o terapeuta poderá programar, junto com o 
cliente, a execução de repetidos comportamentos de auto-afirmação em condições 
relativamente controladas. O cliente poderá aprender repertórios de confiança em si mesmo 
para lidar de maneira mais apropriada e eficiente com as dificuldades próprias dos 
relacionamentos sociais, já que somos seres essencialmente sociais. 
Considerações óticas à manipulação terapêutica 
A primeira consideração, ao se fazer julgamentos a respeito da manipulação 
terapêutica, não é de natureza ótica. Em vez disso, deve-se primeiro avaliar a adequação 
técnica e cientifica-a padronização-dos procedimentos utilizados para tal manipulação. 
Se o controle de um terapeuta sobre elementos importantes e críticos da análise funcional 
da problemática do cliente é frágil, torna-se imperativa uma análise contextual do repertório 
de comportamentos terapêuticos na relação clínica com o cliente em questão. Essa 
reavaliação de procedimentos na situação clínica relevante permitirá, então, ao terapeuta, 
a interpretação clara dos resultados alcançados e a obtenção de conclusões plausíveis ao 
conflito básico vivenciado pelo cliente. Só assim o terapeuta poderá, efetivamente, ajudar 
o cliente a se auto-observar e a ampliar essa observação às novas contingências 
estabelecidas, de modo a interagir diretamente com o (seu) mundo, agora, de regras 
mudadas (Sidman, 1989/1995). 
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Sobrr Compoitimrnto e Cognição 23
Capítulo 3 
Modelos Animais de Psicopatologia: 
Depressão 
Angélica Capdari' * 
(A/> 
Pode-te obter rut literatura, * o menot, dezoito modeloê animam de depressAo, A partir do uma avaliaçôo doates modelos 
em relação A reprodoçAo da etiologia, bioquímica, sintomatologia 0 tratamento da depressAo, destacamos 0 modelo do 
Desamparo Aprendido Segundo este modelo, sujeitos que foram submetidos a uma experiência prévia com choques 
Incontroláveis apresentam dificuldade em aprender novas respostas operantes quando posteriormente estas forom 
exigidas Estes sujeitos aprendem que nAo há relação entre as respostas que emitem e 0 desllgnmonlo de estímulos 
averslvos que recebem e, portanto, encontram-se em uma sltuaçAo de Incontrolabllldade (nAo tôm controle sobre oa 
estímulos ambientais, por mais que emitam diversas respostas). A incontrolabllldade rofere-se a nAo ter controle Bobre 
os estímulos ambieritaiB e, através da utili/açAo do modelo triàdico, comprova-se que a variável critica a Incontrolabllldado 
e nAo os estímulos averslvos aos quais os sujeitos foram submetidos Este modelo tem sido amplamente divulgado 0 
utlli/ado em testes farmacológicos. Sua generalidade foi testada em diversas espécies, com diversas respostas t» 
estímulos. O modelo do Desamparo Aprendido Investiga apenas uma das diversas rotas possíveis na instalaçAo e* 
manutenção da depressAo 
Palavras-chave: desamparo aprendido / depressAo / incontrolabllldade I modelos animaisAbstract 
There are at least eighteen models of depression In the literature. Those models study the etiology, biochemistry, 
slntomatology and treatment of depression. Learned Helplessness is one of these models. The subjects were submitted 
to previous experience with chocks that they could not control After this experience, the subjects were not able to learn 
new operant responses, when this kind of response was demanded These subjects learned that there was no relation 
between their responses and the environmental consequences once the interruption of tho aversive stimuli occurs 
independently of the behavior/response of the organism. The Incontrolabillty refers to the lack of control of the organism 
over environmental stimuli. The triadic model proved that the critic variable is incontrolability and not the aversive 
stimuli. The model have been divulged and published widely and used In pharmacological tests. The generality was tested 
in many speclfes, with many responses and different stimuli. The learned helplessness models study only one of tho 
many possibilities of the onset and maintenance of depression. 
Key word*: learned helplessness I depression I Incontrolabillty I animal models 
A depressão tem sido considerada como uma desordem do humor caracterizada 
pela perda de interesse e prazer nas atividades cotidianas, lentificaçâo, humor depressivo 
ou irritável, apatia ou agitaçào psicomotora, dificuldade de concentração, pensamentos 
’ A autora é aluna d« meetrado no programa de Pticologia Experimental da Univeraidade de SAo Paulo (USP) e protmora da Universidade Metodista 
de Sêo Paulo (UMESP) 
’ A autora agradece a professora Mana Teresa A/au)o S/Iva, a Fàbio leyserg pelo convite para participar da meea, e a Ma/M Helena Hunzlkw pelas 
dica» e discusaOes «obre o lema 
24 Angélica Caprldri
negativos, redução no apetite ou peso, alteração no sono, diminuição da energia, 
pensamentos de morte e ideação suicida. A presença de cinco ou mais sintomas durante 
duas semanas é necessária para o diagnóstico de depressão, levando em conta todas as 
subdivisões que o distúrbio apresenta. (DSM IV; Louzã Neto, 1997 e Fennell, 1997). 
Em geral, a descrição da depressão ó feita utilizando-se termos mentalistas 
(Hunziker, 1997). Uma definição funcional da depressão deve enfocar a interação do 
organismo com o meio. Essa interação sofre influências da história filogenética, 
ontogenética e cultural às quais o organismo está submetido (Ferster, 1973). Segundo 
Fennell (1997), o inicio e a evolução da depressão dependem de variáveis biológicas, 
históricas e ambientais. Essa conclusão vai de encontro com o que Ferster (1973) postulou 
como uma das explicações para a ocorrência da depressão: queda na obtenção de reforços 
e/ou diminuição do valor reforçador de quando os estímulos conseqüências são liberados. 
A falta de reforços poderia ser, na verdade, uma insensibilidade dos organismos aos 
reforçadores disponíveis. Essa insensibilidade seria decorrente de disfunções no sistema 
de neurotransmissão do reforçamento. De qualquer forma, ó o reforçamento (ou sua 
inexistência) o ponto central. (Hunziker, 1997). 
Modelos Animais 
Para investigar os determinantes, as variáveis que envolvem a ocorrência, 
manutenção e tratamento da depressão, alguns modelos animais têm sido utilizados. 
Através de modelos animais, mudanças comportamentais podem ser objetivamente 
avaliadas, independente da concordância entre observadores sobre um estado subjetivo, 
e podem ser reproduzíveis por outros investigadores. Além disso, variáveis experimentais 
podem ser isoladas e investigadas separadamente, aumentando a confiabilidade do dado 
obtido. 
Para que um modelo animal seja considerado válido, segundo Wilnner (1984), 
ele teria que reproduzir condições de etiologia, bioquímica, sintomatologia e tratamento 
da patologia a ser investigada. Maier (1984) estabeleceu, a partir da literatura, quatro 
critérios para estabelecer um modelo experimental para investigação de uma condição 
clínica: 
1) similaridade entre o estado comportamental e os sintomas que caracterizam 
a psicopatologia; 
2) similaridade entre as mudanças neuroquímicas que ocorrem em pacientes 
com o transtorno e observadas em animais submetidos a determinadas 
situações; 
3) similaridade de indução de condições ambientais que aumentariam a 
probabilidade de ocorrência daquela psicopatologia; 
4) similaridade de respostas a intervenções terapêuticas, incluindo prevenção e 
tratamento de pacientes, observada em animais submetidos a situações 
específicas e em animais submetidos a determinadas situações. 
Willner (1984,1986) fez um levantamento e analisou a validade de 18 modelos 
animais de depressão. Do levantamento feito, 5 modelos apresentaram validade preditiva 
Sobre Comportamento e (‘ogniçilo 25
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Comportamento e Cognição

  • 1. Sobre Comportamento e Cognição ( > o/)// / 6 u / 'õ e s p a r a a G o n s / r u ç ã o <Ja O fe o r ia d o G o m p o r ía m e n i a O rganizado po r Jfélio tfosé Q uil/iardi JlCaria Jiea /riz ‘JSarf) osa t7iin/i(t JíCaili 7 }aM cia O^iazzon (2ueiroz 'JlCai'ia Claro fina <^coz ESETec Editores Associados
  • 2. Sobre Comportamento e Cognição Contribuições para d Construção dd Tcorid do Comportdmento Volume 10 Ortfiini/iii/o por h iclio José C/uilfhmfi Miirni lkitriz Itürbosü Pinho M d d i Pdtrícid PUizzon Queiroz Miirui C 'iiroliihi Scoz Hélio José Guilhardi «Almir Del Prette • Amauri Gouveia Jr • Ana Lúcia Cortegoso • Ana Maria Ló Sónechal- Machado • Angélica Capelari • Armando R. das Neves Neto • Donald M. Baer • Cacilda Amorim • Cilene Rejane Ramos Alves • Denis Roberto Zamignani • Denise Cerqueira Leite Heller • Edwiges Ferreira de Mattos Silvares • Eliane de Oliveira Falcone • Érica Maria Machado Santarém • Gimol Benzaquen Perosa • José Antônio Damásio Abib • Joselma Tavares Frutuoso • Laércia Abreu Vasconcelos • Letlcia Furlanetto • Lúcia Cavalcanti de A. Williams • Makilim Nunes Baptista • João Vicente de Sousa Marçal • Marcelo Beckert • Maria Amalief Andery • Maria da Graça Saldanha Padilha • Maria Tereza Araújo Silva • Marilza Mestre • Neury José Botega • Neuza Corassa • Nilza Micheletto • Patrícia Piazzon Queiroz • Paulo Sergio T. do Prado • Rachel Rodrigues Kerbauy • Renata F. Bazzo • Renério Fráguas Júnior • Ricardo Corrôa Martone • Rosana Righetto Dias • Sandra Leal Calais • Solange L. Machado • Suely Sales Guimarães • Tereza Maria de Azevedo Pires Sério • Vanise Dalla Vecchia • Vera Regina L. Otero • Yara K. Ingberman • Zilda A. Pereira Del Prette_____________________________________________________________ ESETec Editores Associados 2002
  • 3. ( 'opyright O desta edição: F.SKTec Kdifores Associados, Santo André, 2002. Todos os direitos reservados Guilhardl, Hélio José, et al. Sobre Comportamento e Cogniçflo: Contribuições para a Construção da Teoria do Comportamento. - Org. Hélio José Guiihardi. 1* ed. Santo André, SP: ESETec Editores Associados, 2002. v.10 410 p. 24cm 1. Psicologia do Comportamento e Cognição 2. Behaviorismo 3. Análise do Comportamento CDD 155.2 CDU 159.9.019.4 ISUN - ESETec Editores Associados Coordenação editorial: Teresa Cristina Cume Grassi-Leonardi Assistente editorial: Jussara Vince Gomes Capa original: Solange Torres Tsuchiya Projeto gráfico original: Maria Claudia Brigagão Equipe de preparação: Maria Eloisa Bonavita Soares Piazzon, Noreen Campbell de Aguirre RJtSntBO Orat^gramaçào: Erika Horigoshi Revisão ortográfica e gramatical: Maria Rita J. Martini Del Guerra Solicitação dc exemplares: esetír^uol.com.hr Rua Catequese, 845 - Bairro Jardim Santo André SI’ CEP 09090-710 Tcl. ( I I ) 4990 5683/4432 37 47 www.esetee.com.br
  • 4. "É exato que as ciências comportamentais ainda não cumpriram a promessa que fizeram... O que está faltando è uma teoria coerente do comportamento humano” Skinner, B. F. (1978) Reflections on Behaviorism and Society, p. 94. Com a publicação deste volume estamos oferecendo a nossa contribuição. Este livro é dedicado a todos aqueles que se interessam pela análise comportamental e que compõem a nossa “audiência"... Porque “uma audiência é uma variável independente negligenciada. Aquilo que uma pessoa diz é determinado, de um modo muito importante, pela pessoa para quem ela está dizendo". Skinner, B. F. (1987). (Jpon Further Reflection, p .156
  • 5. S um ário Tudo se deve às conseqüências.......................................................................... xi Capítulo 1 - Análise do comportamento e cooperativas de trabalho: produção de conhecimento, ensino e transformação de conhecimento em atuação profissional Ana Lucia Cortegoso (UFSCar)......................................................... 01 Capitulo 2 - A manipulação no contexto clinico Ana Maria Lé Sénéchal - Machado (UFMG)........................................ 16 Capítulo 3 - Modelos animais de psicopatologia: depressão Angélica Capelari (USP/UMESP)...................................................... 24 Capitulo 4 - Terapia Cognitivo-Comportamental na Psicologia da Saúde Armando Ribeiro das Neves Neto (UNIFESP - EPM/AMBAN-IPQ-HCFMUSP/ lnst. Neurológico de São Paulo/Hospital Beneficência Portuguesa)...................................................................................... 29 Capítulo 5 - Quando esperar (ou não) pela correspondência entre comportamento verbal e comportamento não-verbal Cacilda Amorim (USP/PUCSP) e Maria Amalia Andery (PUCSP)....... 37 Capítulo 6 - Modelos animais de psicopatologia: esquizofrenia Cilene Rejane Ramos Alves e Maria Teresa Araújo Silva (USP).......... 49 Capítulo 7 - Anorexia nervosa: etiologia e estratégias de enfrentamento Denise Cerqueira Leite Heller (UTP).............................................. 61 Capítulo 8 - Avaliando programas de autismo: um caso especial de avaliação de programa* Donald M. Baer (University ofKansas)............................................... 69
  • 6. Capítulo 9 - Família, enurese e intervenção clinica comportamental Edwiges Ferreira de Mattos Silvares.................................................. 79 Capitulo 10 - Contribuições para o treinamento em habilidades de interação Eliane de Oliveira Falcone (UERJ)...................................................... 91 Capitulo 11 - Modelos animais de psicopatologia: Transtorno Obsessivo- Compulsivo Érica Maria Machado Santarém (Univ. São Francisco-IT)...................105 Capitulo 1 2 - Suporte psicológico a gestantes portadoras de fetos com diagnóstico de malformação Gimol Benzaquen Perosa (UNESP-Botucatu).................................. 113 Capítulo 13 - Ética de Skinner e metaética José Antônio Damásio Abib (UFSCar)............................................... 125 Capitulo 1 4 - 0 ensino da análise do comportamento: da prática à teoria Joselma Tavares Frutuoso (UFSC)..................................................... 138 Capítulo 15 - Análise comportamental do transtorno de déficit de atenção e hiperatividade: implicações para avaliação e tratamento Laércia Abreu Vasconcelos (UnB)......................................................144 Capitulo 16 - Abuso sexual infantil Lúcia Cavalcante de Albuquerque Williams (UFSCar/LAPREV)..........155 Capítulo 17 - Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC): principais caracte­rísticas, histórico, prevalência, comorbidade e tratamento Makilim Nunes Baptista (UNIFESP/Univ. Brás Cubas/Centro Univ. Hemiínio Ometto - Araras), Rosana Righetto Dias (UNICAMP/Centro Univ. Hermlnio Ometto - Araras) e Sandra Leal Calais (PUCCamp/ UNESP-Bauru)................................................................................ 165 Capítulo 18 - Psicologia do esporte no contexto escolar João Vicente de Souza Marçal (IBAC/UniCEUB)................................ 175 Capitulo 1 9 - Correspondência: quando o objetivo terapêutico ó o “ digo o que faço e faço o que digo" Marcelo Beckert (IBAC)..................................................................... 183 Capítulo 20 - Notas sobre a atualidade de ciência e comportamento humano Maria Amalia Andery (PUCSP), Nilza Micheletto (PUCSP) e Tereza Maria de Azevedo Pires Sério (PUCSP)............................................. 195
  • 7. Capítulo 21 Capítulo 22 Capitulo 23 Capítulo 24 Capítulo 25 Capítulo 26 Capitulo 27 Capítulo 28 Capítulo 29 Capítulo 30 Abuso sexual contra crianças e adolescentes: considerações sobre os fatores antecedentes e sua importância na prevenção Maria da Graça Saldanha Padilha (UTP)....................................... Mediadores no sucesso da psicoterapia comportamental Marilza Mestre (UFPR/CPEM/USP/UTP) e Neuza Corassa (UTP/ PUCPR/CPEM)............................................................................ Depressão no paciente acometido por outras doenças Neury José Botega (FCM UNICAMP), Letícia Furlanetto (UFSC) e Renório Fráguas Jr. (Inst. de Psiquiatria FMUSP)......................... Passados 30 anos: “os princípios comportamentais servirão para os revolucionários?” Nilza Micheletto (PUCSP) e Tereza Maria de Azevedo Pires Sério (PUCSP)....................................................................................... Redução da agressividade e hiperatividade de um menino pelo manejo direto das contingências de reforçamento: um estudo de caso conduzido de acordo com a Terapia por Contingências Patrícia Piazzon Queiroz e Hélio José Guilhardi (Inst. de Análise do Comportamento - Campinas)................................................... Pode o paradigma de equivalência fundamentar uma compreensão comportamental do conceito de número? Paulo Sérgio Teixeira do Prado (UNESP- Marllia)......................... Contribuição da FAP e pontos a esclarecer Rachel Rodrigues Kerbauy (USP)................................................. A presença da pesquisa em Farmacologia e Fisiologia no JE A B -1957-2000 Renata F. Bazzo (FC/UNESP - Bauru) e Amauri Gouveia Jr. (UNESP-Bauru).......................................................................... Esquizofrenia: a análise do comportamento tem o que dizer? Ricardo Corrêa Martone (Psicólogo clinico) e Denis Roberto Zamignani (Psicólogo cl/nico)...................................................... Estresse e doença crônica Rosana Righetto Dias (UNICAMP/Centro Univ. Hermlnio Ometto - Araras), Makilin Nunes Baptista (UNIFESPICentro Univ. Hermlnio Ometto - Araras) e Sandra Leal Calais (PUCCamp/ UNESP-Bauru)............................................................................ 209 221 229 241 249 271 281 284 305 317 ix
  • 8. Capítulo 31 - A manipulação coercitiva nas relações interpessoais Solange L. Machado (UTP)........................................................... 325 Capítulo 32 - Uso gradual de exposição e prevenção de respostas para portadores de Transtorno Obsessivo-Compulsivo resistentes à medicação Suely Sales Guimarães (UnB)...................................................... 349 Capítulo 33 - Obesidade mórbida - aspectos clínicos Vanise Dalla Vecchia.................................................................... 356 Capítulo 34 - Peculiaridades do atendimento psicoterápico do portador do transtorno “ Bordeline” de personalidade Vera Regina Lignelli Otero (Clínica ORTEC - Ribeirão Preto-SP) 361 Capítulo 3 5 - 0 atendimento a pais de crianças em psícoterapia: orientação ou terapia? Yara Kuperstein Ingberman (UFPR).............................................. 369 Capítulo 36 - Transtornos psicológicos e habilidades sociais Zilda Aparecida Pereira Del Prette e Almir Del Prette (UFSCar)... 377
  • 9. Tudo se deve às conseqüências... Os volumes 9 e 10 da coleçào Sobre Comportamento e Cognição reúnem uma amostra abrangente do que foi apresentado no X Encontro Anual da ABPMC em 2001. No final de uma década de Associação, são claros os produtos da organização anual dos Encontros: maior número de trabalhos publicados, por um número crescente de diferentes estudiosos do comportamento, para uma audiência progressivamente mais numerosa. Os dados parecem indicar que devem ter operado na comunidade dos comportamentalistas contingências reforçadoras positivas. Mas, quem reforçou quem? A audiência com certeza reforçou o comportamento dos expositores. Os expositores, por sua vez, reforçaram o comportamento da audiência. Todos reforçaram todos? Todos se sentiram reforçados? Que bela circularidadel “O comportamento positivamente reforçado é em geral acompanhado por um estado que descrevemos dizendo que estamos fazendo 'o que queremos fazer', ‘gostamos de fazer' ou ’amamos fazer'.” (Skinner, 1989, 1995 p. 105).’ Quem participou ativamente dos Encontros da ABPMC poderia dizer: Skinner descreveu muito bem o que se viveu nessas ocasiões. Imediatamente antes da criação da Associação e de seu produto mais conspícuo, os Encontros anuais, a comunidade comportamental estava exageradamente retraída. Tal retraimento só era interrompido nos Congressos e nas publicações mais abrangentes, onde os trabalhos comportamentais eram apresentados em meio aos de outras orientações e de outras áreas, como se viu na SBPC, nas Reuniões Anuais da Sociedade de Psicologia de Ribeirão Preto e da Sociedade Brasileira de Psicologia, nas publicações destas sociedades e em revistas de diferentes instituições cientificas. Não havia, no entanto, à época, nenhum veiculo especifico para organizar a produção comportamental e permitir sua expressão de forma mais sistematizada. Os Encontros da Associação adquiriram a função de uma eficaz operação estabelecedora, capaz de mobilizar para a ação todos os níveis da comunidade comportamental. Eles permitiram, ainda mais, que os comportamentos de seus organizadores e participantes funcionassem como poderosos estímulos discriminativos e reforçadores condicionados generalizados para as classes comportamentais: comparecer aos Encontros, apresentar trabalhos e publicá-los, como jamais se viu antes no ambiente comportamental brasileiro. A análise comportamental chegou a sua maturidade, que pode ser caracterizada pelos seguintes critérios: 1. Maior 'Skinner, B. F. (1989. 1995). Questões Recentes nu Análise Comportamental Campinas: Papirua xi
  • 10. aproximação entre a comunidade acadêmica e a aplicada; 2. Realização de trabalhos conjuntos entre psiquiatras e psicólogos comportamentalistas; 3. Convivência harmoniosa entre os psicólogos cognitivo-comportamentais e os behavioristas radicais, sem perda das respectivas identidades; 4. Extensão dos trabalhos aplicados para as múltiplas áreas da comunidade: clinica, escola, hospital, trânsito, posto de saúde, empresa etc.; 5. Desenvolvimento de pesquisa de temas teóricos; 6. Desenvolvimento de pesquisa básica com animais e humanos; 7. Desenvolvimento de pesquisa aplicada; 8. Desenvolvimento de maneiras de trabalhar voltadas para a comunidade brasileira; 9. Realização por 10 anos sucessivos do Encontro Anual da ABPMC com crescente participação de público e de apresentação de trabalhos; 10. Aumento significativo de publicações, incluindo os volumes da coleção Sobre Comportamento e Cognição b uma revista especializada Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva. Em todos os itens mencionados, o que melhor caracterizou cada um deles foi a prevalência de contingências reforçadoras positivas para instalação e manutenção dos comportamentos dos estudiosos e para o desenvolvimento das relações entre todos os profissionais. O pressuposto básico é que não basta apenas se comportar, mas deve-se fazê-lo sob contingências reforçadoras, minimizando os controles coercitivos e eliminando os repertórios de fuga-esquiva. Há que se comportar e sentir prazer naquilo que se faz; sentir liberdade ao fazer o que se faz. Todos sabemos quais contingências produzem tais sentimentos. Dediquemo-nos a elas. Hélio José Guilhardi Presidente da ABPMC Gestão 2000/2001 xii
  • 11. Capítulo 1 Análise do comportamento e cooperativas de trabalho: produção de conhecimento, ensino e transformação de conhecimento em atuação profissional Ana Lucia Cor/egos o ' Que contribuições pode a AnAllse do Comportamento oferecer pura o desenvolvimento de organizações de trabalho no contexto de Economia SolldAria, considerando o conhecimento diBponlvel e as perspectivas abertas pela concepção de tiomem o de cultura que Skinner ilustra em seu romance Walden Two? Respostas Inicial» para esta pergunta foram obtidas a partir da InverçAo de docentes, alunos e profissionais psicólogos em uma incubadora universitária de cooperativas populares Integrando atividade de ensino, pesquisa e extensAo, foi possivel identificar perguntas de pesquisa e necessida­des de intervenção que constituíram oportunidades significativas para a capacitação de alunos, futuros profissionais em Psicologia, e oferta de contribuições concretas para lidar com o processo de incubação de cooperativas de trabalho em uma perspectiva multidiscipllnar e multiprofissional. Apoio a grupos incubados, com assessorla para atividades especificas e partlcIpaçAo em equipes de incubação; análise e programação de contingências para a Incubadora, na forma de procedlmon-tos e instrumentos de trabalho e de organlzaçAo Interna que foram propostos, desenvolvidos, implementados e avaliados; apoio a mediadores no processo de incubação, por n>eio da identificação e descrição de comportamentos de indivíduos e de organizações e de proposiçAo de recursos favorecedores dos comportamentos dos mediadores e produçAo de conhecimento sobre estes e outros aspectos de interesse no processo de geração e funcionamento de cooperativas populares de trabalho correspondem a tais contribuições. Palavras-chave, cooperativas de trabalho, contingências organizacionais; comportamentos em organizações. What kind of contributions can Behavior Analysis offer to the development of work organizations in the context of Solidary Economy, considering the available knowledge and the perspective showed by the human being and culture conceptions that Skinner illustrates in his romance, Walden Two? Preliminary answers to this question were produced from Psychology teachers, graduates and professionals Insertion in a university incubator of popular work cooperatives. By the articulations of teaching, research and professional intervention, it was possible to identify research questions and Intervention necessities which were relevant opportunities to prepare students, as future professionals, as much as offer concrete contributions to doal with the Incubation process of work cooperatives In a multidisciplinary and multi-professional perspective. Support to incubated groups, with counseling to specific activities and participation in incubation times; analysis and programming contingencies to the incubator, in form of procedures and means for work and for internal proposed organizations, were developed, implemented and evaluated; support to mediators In the Incubation process, by Identification and descriptions of individuals and organizations behaviors, and proposition of mediators behavior and knowledge production about this and another interesting aspects In the generations and operation of popular work cooperatives promoting conditions are such contributions. Key words work cooperatives, organizational contingencies, behavior In organizations (t ABOR-t aboratrtrlo d* Paicologla Organiiacional. D*p«rijin>*nto da Ptlcotogia da IJntvantdade F ederal de SAo Carlo*) Sobrr (.'omportamcntu r Cogniçdo 1
  • 12. Cooperativas de trabalho como alternativa à forma tradicional de organização do trabalho no âmbito capitalista... A expressão "cooperativa de trabalho" tem sido utilizada com significados diferentes, assim como existem diferenças na organização e na prática encontradas em situações concretas, justificando um esclarecimento inicial sobre o tipo de organização a que faz referência este trabalho. São consideradas como objetos de interesse, neste contexto, cooperativas que se pautam, efetivamente, por um conjunto de princípios doutrinários reconhecidos como definidores de organizações que fazem jus a esta denominação, e que se diferenciam de outras iniciativas que apenas se apropriam desta denominação. As “coopergatas", como costumam ser conhecidas as "falsas cooperativas”, são empreendimentos que, em busca dos benefícios legais previstos para a criação e funcionamento de cooperativas, são criados e funcionam de forma a tornar ainda mais precárias do que usualmente as condições de trabalho para os seus - apenas teoricamente - sócios. Tais organizações, usualmente, mantêm ou mesmo agravam os aspectos mais perniciosos das relações trabalhistas muito frequentemente presentes em empresas baseadas na separação entre capital e trabalho, e ainda suprimem os direitos trabalhistas que, pelo menos teoricamente, são garantidos pela legislação para trabalhadores com vínculos empregatícios. Conhecidos pelos que têm familiaridade com a proposta cooperativista, e apresentando algumas variações na maneira como são formulados conforme a fonte utilizada, constituem princípios da proposta cooperativista "genuína" (Veiga e Fonseca, 2001) - adesão livre e voluntária, estando este tipo de empreendimento aberto todas as pessoas aptas a usar seus serviços e dispostas a aceitar as responsabilidades de sócio, sem discriminação social, racial, política ou religiosa e de gênero; • controle democrático pelos sócios, em relação ao estabelecimento de políticas e tomada de decisões, sendo usual a igualdade na votação, ou seja, a cada sócio corresponde um voto; • participação econômica equitativa dos sócios, segundo o qual os sócios contribuem eqüitativamente para o capital da cooperativa, se houverem juros sobre o capital, eles são limitados, e as sobras são destinadas ao desenvolvimento das cooperativas, de acordo eom deliberações dos sócios; • autonomia e independência (auto-gestão), de acordo com o qual mesmo estabelecendo acordos operacionais com outras entidades, inclusive governamentais, a cooperativa deve preservar o controle democrático pelos sócios e sua autonomia; • compromisso com educação, treinamento e informação dos membros, para desenvolvimento das operações cooperativas e da comunidade em relação ao cooperativismo; • cooperação entre cooperativas, visando o fortalecimento delas e das atividades econômicas em questão; • preocupação com o desenvolvimento sustentável da comunidade, por meio de políticas aprovadas pelos membros. í Ana l.ucia Cortc#o*o
  • 13. Ainda que formulados de modo genérico, estes princípios estabelecem limites e possibilidades para organizações que se apresentam como esforço de resistência à exclusão que resulta da organização econômica e social vigentes, independentemente de representarem iniciativas com potencial para enfrentar tal organização. Constitui, neste sentido, uma exigência de produção de conhecimento capaz de amparar, ao menos, as tentativas de construção de alternativas ao modelo predominante de relações de trabalho e humanas em geral. Ainda que o papel do movimento cooperativista, em termos de sua condição para enfrentar a realidade social e econômica vigente, seja um assunto polêmico e objeto de exame no âmbito político e científico. Os princípios cooperativistas equivalem, pela generalidade de sua formulação, e pela mobilização afetiva que geram, a palavras de ordem, estando subjacentes a eles um conjunto de valores. Ajuda mútua, responsabilidade, democracia, igualdade, equidade e solidariedade, honestidade, transparência, responsabilidade social e preocupação com seu semelhante, expressões usualmente utilizadas para expressar tais valores são, contudo, elas próprias, excessivamente genéricas para definir os contornos de tais empreendimentos humanos e, por isso, insuficientes para orientar as ações envolvidas com a criação, implementação e avaliação deste tipo de organização. Em outras palavras, um provocante desafio de pesquisa para uma psicologia comportamental. Formando profissionais para lidar com necessidades sociais O exame da proposta cooperativista justifica-se de vários pontos de vista: econômico, social, político... No âmbito da Psicologia, alguns motivos para interesse sobre este tipo de empreendimento podem ser destacados. Uma ainda presente limitação de profissionais de nível superior para atuar e para promover atuações orientadas pela concepção de campo de atuação profissional, mais do que pelo mercado de trabalho (Rebelatto e Botomé, 1999) é uma destas razões. A despeito do tempo decorrido desde considerações já históricas sobre a relevância de preparar profissionais para identificar necessidades e possibilidades de atuação profissional, propor alternativas e implementar intervenções considerando as necessidades sociais existentes e o conhecimento disponível, e não para buscar empregos, mesmo considerando alguns avanços nesta direção, ainda parece insuficiente o que foi possível modificar, substancialmente, na formação em nível de graduação e, consequentemente, na realidade existente. A possibilidade de lidar com cooperativas de trabalho constitui, neste sentido, circunstância potencialmente favorecedora de formação de psicólogos mais preparados para atuar sob controle de necessidades sociais, propondo alternativas de atuação profissional para atender tais necessidades, e preparo de psicólogos empreendedores, capazes de gerar oportunidades de trabalho para outros e não apenas (e quando muito) competentes para garantir seus próprios empregos. O conhecimento disponível sobre organizações cooperativas no âmbito da Análise do Comportamento... Outro tipo de justificativa para estudar e intervir no processo de criação e funcionamento de cooperativas está relacionado ao conhecimento que vem sendo produzido Sobre Comporldmenlo c CoRtilçÜo 3
  • 14. no âmbito da Análise do Comportamento e os desafios que têm se configurado, em termos de lacunas neste conhecimento. Assim como um certo sonho de um outro tipo de vida para esta espécie. A obra Walden Two, de Skinner (1948/1972), teve papel importante como inspiração para muitos pesquisadores que não a compreenderam como obra de ficção ou como anúncio do Apocalipse. Ainda que escrito em um momento em que muitas das descobertas atuais sobre o comportamento humano não podiam sequer ser previstas, o romance facilita compreender o significado de descobertas da Análise do Comportamento, mesmo mais atuais. As considerações de Sidman, em seu livro Coerção e suas implicações (1989/ 1995), acerca da possibilidade de uso de formas de controle comportamental não coercitivo e da importância de não compreensão da coerção como "natural" ou inevitável, clareiam-se diante da utopia skinneriana, que permite mergulhar em uma forma alternativa de organização das relações humanas e, de dentro dela, acolher outras possibilidades, mesmo reconhecendo os limites que apresentam e as dificuldades concretas para implementá-las. Walden Two constitui, ainda hoje, fonte de encantamento e de esperança, que a impossibilidade de estar em um outro mundo que não este tempera com algumas dúvidas e, tantas vezes, com uma forte sensação de impotência, mas não consegue eliminar. A provocação para produzir dados empíricos que a obra faz, contudo, talvez seja sua maior relevância. A comunidade de Los Horcones, no México, constitui demonstração viva deste valor, e da possibilidade de outras formas de organização social. Afinal, e a despeito das dificuldades, lá estão eles, vinte e vários anos depois, construindo possibilidades por meio dos mesmos princípios que orientam, nos mais diversos laboratórios de Análise do Comportamento que se espalham pelo mundo, investigações sobre diferentes fenômenos e variáveis. E, em algum grau, indo além deles, à medida que tomam a si mesmos como oportunidade permanente de investigação empírica. Do ponto de vista formal, Los Horcones se estabeleceu, considerando a legislação Mexicana, como uma cooperativa, sendo esta sua identidade legal. Como coletividade, ela também adota "princípios” e Valores", expressos pela própria comunidade ao se caracterizar como uma cultura: • baseada na cooperação, não em competência; • fundada na igualdade, não na desigualdade ou discriminação; • com uma organização não hierárquica, aberta a todas as pessoas independentemente de sua idade, sexo, nacionalidade, religião, nível cultural ou econômico etc.; • baseada em compartilhar, não em apropriar-se; • pautada no pacifismo, não na violência ou agressão; • que respeita as crenças religiosas, desde que não sejam utilizadas para atacar, discriminar ou competir com pessoas que tenham outras crenças; • ecologicamente orientada; • que busca a auto-suficiência em todos os aspectos possíveis. 4 Ana l.ucid Cortf#o*o
  • 15. A comparação dos princípios cooperativistas e das características propostas para Los Horcones evidencia semelhanças, tanto em relação às direções propostas quanto na generalidade de formulação de seus princípios. Ambas convocam para a produção de conhecimento e para a geração de contingências capazes de oferecer novas possibilidades de relações pessoais a um mundo que esgota velozmente sua capacidade de sobrevivência nos danos que causa aos indivíduos, à natureza e à espécie. Uma Incubadora de Cooperativas Populares... A partir de experiência iniciada na Universidade Federal do Rio de Janeiro, e já compondo uma rede com pelo menos 14 unidades (Gonçalo, 2000), vêm sendo criadas incubadoras universitárias de cooperativas populares. Com o propósito de produzir conhecimento sobre o funcionamento de cooperativas de trabalho e sobre o processo de incubação deste tipo de organização para o trabalho, e tendo como prioridade segmentos economicamente excluídos da população, atuam nestas incubadoras docentes, alunos de graduação e pós graduação e profissionais de diferentes áreas do conhecimento e campos profissionais. A partir do atendimento a solicitações apresentadas por grupos de indivíduos interessados em organizar cooperativas populares ou por agências interessadas em promover a formação de cooperativas ou por solucionar problemas sociais por meio desta iniciativa (prefeituras, sindicatos etc.), ou ainda a partir de diagnósticos sobre necessidades da população (mesmo não havendo nenhum solicitante), têm sido desenvolvidos processos de incubação, bem como produzido e sistematizado conhecimento sobre aspectos diversos deste processo. Uma destas incubadoras foi criada na Universidade Federal de São Carlos, SP, em 1999, a INCOOP, na qual tem sido possível contar com a participação de alunos, profissionais e docentes de Psicologia, dentre outros. Tal participação tem possibilitado identificar necessidades no âmbito desta área de conhecimento e desenvolver um conjunto de atividades de pesquisa e de intervenção profissional como parte da formação de psicólogos. Constituem frentes de atuação em Psicologia, já identificadas nestas situações, em relação a cooperativas de trabalho e à incubação de cooperativas populares: 1) Produção de conhecimento sobre cooperativas e sobre incubação de cooperativas; 2) Intervenções em situações diversas do processo de incubação de cooperativas. Em relação a produção de conhecimento... A identificação (ou por vezes proposição) de comportamentos que constituem (ou devem constituir) uma organização tem se mantido como projeto permanente de pesquisa, produzindo dados que podem ser considerados como fundamentais para que questões de outra natureza possam ser adequadamente formuladas e para que sejam produzidas respostas cientificamente satisfatórias para elas. No âmbito do ensino, a relevância de anteceder a definição de como ensinar de uma adequada definição de "o quê" e "porque" ensinar, tem sido enfaticamente defendida com base no conhecimento tornado disponível Sobre Comportamento e Cotfniváo 5
  • 16. pela Análise do Comportamento. Skinner, principalmente em seu livro Tecnologia do Ensino (1968/1972), talvez seja pioneiro nestas considerações mas, na década de 80 Botomó (1981), e mais atualmente Zanotto (2000), fazem abordagens vigorosas a este problema. O mesmo tipo de equívoco (apontado por Melchior, 1987, entre outros), de buscar ou oferecer "soluções" antes mesmo de comprovar a existência de “problemas" e identificar suas características e limites, ou ainda de prever como ensinar, sem saber o quê deve ser ensinado ou, mesmo, de buscar respostas para a pergunta “como ensinar" sem tomar "o quê" deve ser ensinado como objeto de estudo sistemático, pode ser observado em situações como aquelas com as quais se deparam profissionais, docentes e alunos ao se responsabilizar por processos de incubação de cooperativas populares. Mesmo dispondo de um conjunto de princípios definidores do tipo de organização que era desejável, e que a delineava quanto ao seu papel social, a comunidade de Los Horcones identificou a necessidade de explicitar objetivos, com a perspectiva de que fossem comuns - condição indispensável para que seja possível cooperar pelo bem comum. Ainda que compreendida como uma lista a ser modificada - o que de fato ocorreu e tem ocorrido no decorrer dos anos - este conjunto de objetivos servia para que os membros da comunidade soubessem que tipos de condutas a comunidade desejava promover, que tipos desejava reduzir ou eliminar. Deste conjunto de objetivos foi derivada uma lista de condutas consideradas como comunitárias, acompanhada das razões pelas quais eram consideradas apropriadas para a vida comunitária, e de “contra exemplos" - ou condutas incompatíveis com as desejáveis. A comunidade estabeleceu, para si, um "código de condutas". Ao comentar o processo de desenvolvimento deste código (atualmente substituído pelo código de contingências comunitárias), em sua página na Internet (wvvWxl0^QrCQ^nes.0Ca,ril^C0djg0,Mrnl)1 OS autores do texto ressaltam as dificuldades para lidar com o código inicialmente formulado. Embora o código inicial ajudasse a prevenir que cada membro interpretasse de forma particular cada objetivo, e fossem gerados conflitos, o passar dos anos demonstrou ser este código insuficiente para produzir mudanças duradouras no comportamento dos membros. Desta forma, a comunidade constatou que, embora seus membros apresentassem condutas cooperativas, o faziam em condições específicas (diante da presença de observadores, por exemplo) e nào em todas as situações relevantes. Um^exemplo como este, utilizado para ilustrar dificuldades encontradas na comunidade, sugere ser tal dificuldade originada de um equívoco muito frequente, que é o de tomar como referência classes de respostas como se fossem classes de comportamentos - entendidas aquelas como o conjunto de ações equivalente de um organismo, e estas como o conjunto de relações classes de estímulos antecedentes - classes de respostas - classes de estímulos subseqüentes funcionalmente semelhantes. Ainda que detalhadas, as descrições de condutas desejáveis inicialmente elaboradas pela comunidade estavam, aparentemente, centradas nas respostas esperadas, e enfatizavam a topografia destas respostas, quando na verdade o desejo da comunidade era a de que os seus membros apresentassem determinadas respostas sob controle de aspectos específicos (antecedentes e subsequentes) do ambiente. Ao substituir o código de condutas pelo código de contingências comunitárias, a comunidade compôs para si um referencial constituído de descrições de relações comportamentais desejáveis, nas 6 Ana I ucia C ortejo*«
  • 17. quais eram explicitadas não apenas as ações (ou classes de respostas) envolvidas, mas as condições diante das quais estas ações eram esperadas, e as consequências ou razões que deveriam mantê-las.1 A experiência de Los Horcones, em termos de construção de um conjunto de normas verbais capazes de orientar a conduta de um conjunto de indivíduos que partilha de alguns referenciais, colocou em evidência a necessidade de dispor de um conjunto muito mais especifico de regras do que os princípios orientadores e mesmo do que a enumeração de simples ações desejáveis no âmbito de uma organização com as características pretendidas, para que fosse possível identificar e implementar contingências comportamentais capazes de garantir a ocorrência e a manutenção destas condutas. Tal como os objetivos, valores e características descritivas de Los Horcones, os princípios cooperativistas são excessivamente genéricos para orientar a criação e a implementação de cooperativas tal como as que são delineadas na proposta cooperativista. Indagados sobre que condutas dos indivíduos são necessárias para que uma cooperativa funcione apropriadamente, mediadores do processo de incubação apresentaram respostas genéricas e diversificadas, apontando uma multiplicidade de interpretações e ênfases dentro de uma mesma equipe de trabalho (Franchini, 2002). Tal situação evidencia a necessidade de que as diferentes concepções sobre as condutas de interesse sejam afinadas, com base em convenções mais específicas, e expressas em linguagem capaz de representar adequado controle de estímulos para as condutas destes indivíduos ao participar de processos de incubação de cooperativas. Dificuldades de funcionamento interno de uma organização que pretende preparar indivíduos para atuar cooperativamente, mas que se defronta com suas próprias limitações para atuar cooperativamente, mesmo considerando definições amplamente aceitas de cooperação, confirmam a necessidade de investir na busca de respostas sobre que comportamentos humanos constituem uma organização do tipo cooperativa popular de trabalho. A expressão "comportamentos humanos que constituem uma organização" tem, subjacente a ela, a concepção de que organizações são comportamentos, em suas complexas redes de relações - e não apenas os inclui ou contém. Neste sentido, apontar para a necessidade de identificar que comportamentos são desejáveis em uma cooperativa de trabalho corresponde a destacara necessidade de definir esta organização com qualidade e especificidade capazes de gerar, em torno dela, um alto grau de acordo entre seus membros sobre o que ela é ou deve ser, e que oriente suas ações de forma que ela se torne viável como“empreendimento humano com determinados objetivos e função social. Que comportamentos são esperados de uma cooperativa de trabalho, como organização? Que comportamentos são esperados de cada um de seus membros? Que comportamentos são esperados de uma organização que visa incubar cooperativas populares? Que comportamentos são esperados de cada um dos membros de uma organização que assuma tal responsabilidade, ao atuar no processo de incubação? Com a mesma perspectiva apontada pela comunidade Los Horcones, que destaca a necessidade de rever permanentemente, e a partir de conhecimento confiável produzido, as propostas de quais são os comportamentos que produzem os resultados desejáveis para a ’O» conceito* de comportamento a contingência nfto Mo uMi/adoa de forma Itomogânea no âmbito da AnAHite do Comportamento Emborn relevante esta ditcuMâo nâo terá feita neate contexto Deete modo, o termo conttngéncM eali tendo utM/ado de acordo oom o uio leito dele em texto da comunidade Los Horoone» em que eete awunto 6 abordado Sobrr 1'omport.imrnto r ('ognipio 7
  • 18. organização, tem sido realizado um trabalho de identificação de comportamentos potencialmente relevantes para estes diferentes níveis, a partir de diferentes fontes disponíveis. Descrições destes comportamentos, em termos de classes de respostas, condições diante das quais estas classes são esperadas (classes de estímulos antecedentes) e resultados, efeitos e produtos desejáveis destas ações (ou classes de estímulos subseqüentes), bem como análises de comportamentos em termos de seus comportamentos mais específicos, têm sido elaboradas, e constituem contribuição tanto para a compreensão dos processos envolvidos com a constituição e funcionamento de cooperativas, quanto para o trabalho da incubadora. Até o presente momento, o esforço por identificar condutas de interesse no âmbito da organização cooperativa de trabalho e de analisar estas condutas em outras mais específicas que as compõem, possibilitou estabelecer um ponto de partida que parece ser mais apropriado para formular perguntas de pesquisa e para elaborar propostas de intervenção do que as expressões usualmente utilizadas para definir características e finalidades de tais organizações. Quatro grandes categorias de comportamentos envolvidos no complexo processo de geração e funcionamento de cooperativas atendidas por uma incubadora como a INCOOP, foram propostas como relevantes para estudo: condutas de cooperantes (membros de cooperativas); condutas de cooperativas como organizações com determinadas características e finalidades; condutas de incubadoras de cooperativas com tais peculiaridades e condutas de indivíduos que atuam como mediadores do processo de incubação. No caso de comportamentos de membros de cooperativas, foram identificadas categorias de comportamentos relacionadas a três grandes subcategorias: comportamentos relativos à avaliação de viabilidade da cooperativa, comportamentos relativos à implantação da cooperativa e comportamentos relativos ao processo de constituição e funcionamento da cooperativa. No âmbito desta última subcategoria, foram identificados comportamentos de indivíduos em alguns âmbitos: administrativo, profissional, pessoal e de relações interpessoais. Em relação a cada uma destas novas categorias, foram identificados comportamentos, gerais e específicos, produzindo um “mapeamento” de comportamentos humanos e organizacionais considerados como significativos para o adequado funcionamento de uma cooperativa e de uma incubadora universitária, com os objetivos propostos para estas organizações. Para grande parte dos comportamentos identificados, foi possível ainda elaborar definições compatíveis com a noção de comportamento como relação ambiente-organismo, tal como ilustrado no Quadro 1. Outros estudos têm sido desenvolvidos, na perspectiva de produção de conhecimento sobre os objetos de interesse da Psicologia no âmbito da Incubadora. Cinco estudos sistemáticos foram iniciados por alunos de graduação em Psicologia no âmbito da INCOOP, e três deles encontram-se já concluídos: um deles, voltado para a investigação de condições favorecedoras e desfavorecedoras de comportamentos verbais indesejáveis em cooperativas, com informações obtidas por meio de entrevistas com cooperantes e mediadores do processo de incubação (Vieira, 2001); outro, investigando relações entre aspectos do comportamento de mediadores em reuniões do grupo em incubação e propriedades de processos decisórios em cooperativas, a partir de informações obtidas 8 Ana Lúcia CorteRtKo
  • 19. Quadro 1. Descrição da classe de comportamentos de membros de cooperativas populares em seus elementos componentes Diante de... 0 que fazer Com os seguintes resultados, efeitos, produtos • Quaisquer situações em que haja necessidade ou oportunidade de • acesso às informações garantido comunicação no âmbito da COMUNICAR-SE para o(s) interlocutor(es) cooperativa COM OUTROS • possibilidade de continuidade da * Características do(s) Interlocutor(es) COOPERANTES comunicação com probabilidade • Características da informação a ser aumentada transmitida/ assunto a ser tratado • Objetivos a serem atingidos com a comunicação • Condições disponíveis para a comunicação por meio de observação de situações de tomada de decisão mediadas em cooperativas (Cia, 2001); o terceiro, buscando identificar relações entre aspectos da organização do trabalho (funções fixas x rodízio de funções) sobre satisfação do trabalhador, com informações obtidas a partir de entrevistas com cooperantes (Ferreira, 2001). Um dos trabalhos ainda em desenvolvimento pretende avaliar a eficácia de uma estratégia de construção de código de conduta cooperativa como condição para promover comportamentos cooperativos e o outro identificar variáveis favorecedoras e desfavorecedoras de inserção de novos membros em grupos já constituídos. Em relação a intervenções junto a grupos incubados... Em termos de intervenções diretas no processo de incubação de cooperativas, elas têm se dado nas formas de: a) apoio a grupos de trabalho no âmbito de cooperativas, b) participação em equipes multiprofissionais e multidiscipinares de incubação e c) apoio para o funcionamento da incubadora como organização. Apoio a grupo dae trabalho de uma cooperativa de limpeza e zeladoria. A cooperativa atendida, que já mantinha um grupo de cooperantes realizando atividades de limpeza no restaurante da instituição contratante (uma universidade), passou a ocupar postos de trabalho em um serviço de apoio ao ensino de graduação nesta mesma instituição, realizando atividades de agendamento de solicitações de equipamentos audiovisuais de docentes e alunos para atividades didáticas, transporte, instalação e manutenção destes equipamentos, controle de empréstimo, utilização e devolução de equipamentos, controle das condições ambientais de salas de aula etc. Considerando a novidade do serviço mesmo para a contratante do serviço e a inexistência de experiência anterior com as atividades requeridas para funcionamento do serviço, o grupo de trabalho necessitou de apoio para organizar o desenvolvimento das atividades e mesmo para interagir com a contratante ao definir responsabilidades e Sobre Comportamento c Co^niçAo Ç
  • 20. procedimentos. Para tanto, foram realizadas, com a participação de alunos do curso de graduação em Psicologia, sob supervisão, atividades como: identificar dificuldades no desenvolvimento das atividades e na interlocução com a instituição contratante, propor e apoiar implantação de procedimentos e materiais para execução e avaliação das atividades (reserva de equipamentos, controle de entrega e recebimento etc.), criar condições para capacitação do grupo na realização das atividades, criar condições para a adequada inserção dos membros do grupo de trabalho que passaram a fazer parte da cooperativa em função das exigências de formação académica imposta pela contratante para ocupação dos postos de trabalho etc. Participação em equipes de incubação Juntamente com alunos e docentes de outros campos profissionais e áreas do conhecimento, alunos do curso de Psicologia, sob supervisão, participaram de processo de incubação na condição de membro da equipe de incubação. Esta equipe, neste caso, era responsável por desenvolver este processo, partindo de "etapas" gerais já delineadas no âmbito da Incubadora a partir de experiências acumuladas, sendo que etapas mais especificas, sequência de desenvolvimento de etapas, procedimentos e recursos envolvidos na implementação do processo e no enfrentamento de problemas surgidos constituíram objetos de definição e investigação. Constituem etapas do processo de incubação, tal como proposto no atual estágio de desenvolvimento da Incubadora: identificação e recrutamento de membros potenciais: apresentação e sensibilização dos atores envolvidos: formação e consolidação do grupo potencial para formação de cooperativa; capacitação dos participantes do grupo potencial para o cooperativismo; escolha da atividade econômica; capacitação técnica dos membros em relação à atividade econômica selecionada; capacitação administrativa dos membros do grupo potencial ou constituído para autogestão; elaboração do estatuto; legalização da cooperativa; assessoria para implementação das atividades da cooperativa; desincubação da cooperativa. No desenvolvimento do processo de incubação, são realizadas atividades como: planejamento de reuniões, coordenação de reuniões, preparo e execução de treinamentos, apoio para organização do grupo e do trabalho etc. Apoio à incubadora como organização Em termos de atividades de apoio à incubadora como organização, foram desenvolvidas algumas atividades: elaboração, implementação e avaliação de processo de inserção de novos participantes na Incubadora; proposição e implementação de sistemática de trabalho para a equipe: tipos de reuniões, objetivos, características, procedimentos e instrumentos para realização de atividades etc.; identificação e descrição de comportamentos da Incubadora, como relações entre ações e ambiente, de organizações e de indivíduos, desejáveis no âmbito da proposta cooperativista e de incubação de cooperativas populares de trabalho. Quanto a processos de inserção de novos membros na Incubadora, foi proposta uma sistemática que prevê um conjunto de atividades a serem desenvolvidas, algumas permanentemente, outras de forma episódica (cadastro de interessados, apresentação da incubadora, curso introdutório sobre cooperativismo e assuntos afins, triagem, treinamento 1 0 Ana Lucid Corteno*o
  • 21. em serviço, manutenção do interesse de alunos não aproveitados em projetos e avaliação da sistemática), para as quais foram explicitadas a função e as características principais. Uma síntese desta sistemática pode ser vista no Quadro 2. Quadro 2. Sistemática de inserção de alunos na equipe INCOOP proposta como parte das atividades de apoio ao funcionamento da incubadora pela equipe de Psicologia. Atividade Função Características Cadastro do Interessados Facilitar a localização de pessoas para compor equipes: orientar a INCOOP na proposição de atividades de inserção de interessados quanto n época de ocorrência Preenchimento de uma ficha com dadoB pessoais, académicos e de interesse e expectativas A ficha deve estar disponível nf INCOOP e com os membros da equipe, permanentemente Apresentação da INCOOP(2) Subsidiar interessados como divulgadores da INCOOP e para sua decisão quanto ao tipo de envolvimento que terá com o projeto Reuniôo breve, de aproximadamente duas horas, com informações gerais, contexto em que a INCOOP se insere, função, composição, atividades regulares, projetos dei incubação, possibilidades de participação de interessados etc Apresentação de recursos motivacionaís (filme) e disponibilização de recursos para esclarecimentos conceituais (textos) Curso Introdutório sobre cooperativismo e sobre a proposta da INCOOP Apresentar aos interessados informações necessárias para tomada de decisões sobre inserção, garantir capacitação preliminar para participação em atividades; subsidiar equipes na triagem de alunos Desenvolvimento de atividades em módulos relativos a a) conceitos básicos e princípios do cooperativismo, b) processo de incubaçAo c) motivação e treino para trabalho em equipe e junto a grupos; d) projetos desenvolvidos e em desenvolvimento Triagem Selecionar alunos a serem convidados a participar, como parte de uma equipe e na condição de voluntário, do acompanhamento de um grupo em processo de incubação Podendo ser feita apenas a partir do contato entre equipes o alunos interessados ou com dmãmica(s) especlfica(s) adicionais, sempre envolvendo a equipe, com classificação de todos os interessados Capacitação em serviço Completar a capacitação iniciada, levando em consideração o contexto especifico em que o trabalho é desenvolvido, de modo a garantir autonomia e adequado controle de estimulos para ações individuais e participação em atividades coletivas Participação dos alunos em atividades programadas, de nfvel crescente de dificuldade, acompanhadas de forma a garantir “dicas" e “feed-backs'' sistemáticos para desempenho desses individuos e condições para generalização das condutas relevantes para o processo de incubação Avaliaç&o do processo Subsidiar decisões da equ»pe sobre processo de inserção de novos alunos, sejam de manutenção, sejam de mudanças Reunião geral com participantes de projetos, para discussão sobre o andamento do processo, identificação de dificuldades e definição de encaminhamentos Manutenção de Interesse dos não inseridos em projetos Garantir a possibilidade de contar com a participação de pessoas já familiarizadas com a proposta em momentos futuros ou novos projetos Informes, convites para participação em grupos de estudo, palestras, oficinas etc. Sobrr Comportamento c Co^nlçAo 11
  • 22. De acordo com a sistemática de inserção de alunos proposta, está previsto um envolvimento gradual e uma capacitação crescente dos interessados. A sistemática prevê, ainda, diversidade de tipos de participação e a manutenção de interesse e proximidade dos indivíduos que buscam a Incubadora, mesmo quando a possibilidade de participação destes indivíduos é restrita ou não imediata. No Quadro 3 pode ser encontrada uma síntese da sistemática de reuniões proposta para a equipe da Incubadora, como forma de apoio ao seu funcionamento. Quadro 3 - Sistemática de encontros dos membros da INCOOP, em termos de tipos de reuniões e suas características. 1. Reuniões gerais ordinárias de caráter deliberativo, com pauta previamente indicada om convocação especifica, que deverão ocorrer quinzenalmente, salvo convocações extraordinárias adicionais ou inexistência de assuntos que justifiquem sua ocorrência. Nestas reuniões, além de informes (que deverão ser apresentados com brevidade, de preferência selecionados de lista elaborada no inicio da reunião), serão discutidos e encaminhadas questões com caráter de urgência, monitoramento dos projetos em andamento, apreciação de propostas elaboradas em reuniões preparatórias e outros assuntos considerados pertinentes pelos membros da Incubadora; 2. Reuniões gerais ordinárias de trabalho, preparatórias de reuniões deliberativas, com temas de interesse da Incubadora, indicados em reuniões deliberativas. Tais reuniões deverão ocorrer também quinzenalmente, altornadas com as do primeiro tipo (a monos que seja necessária a ocorrência de reuniões deliberativas extraordinárias ou que o desenvolvimento dos trabalhos de preparação exijam maior duração). Exemplos do temas que requerem reunião ou organização de informações ou elaboração de propostas preliminares: critérios para compor equipes responsáveis por incubação de grupos, critérios para elaboração de orçamentos (incluindo existência e valores de bolsas institucionais para alunos e docentes), critérios para aceitação ou identificação de demandas, formas de operacionalização dos princípios do cooperativismo (no funcionamento da Incubadora e om cooperativas), funções e limites de autonomia dos diferentes participantes da Incubadora, procedimentos para geração de fundos, critérios para utilização de recursos disponíveis, acesso ao conhecimento produzido a partir da atuação da Incubadora. Em reunião deliberativa deverão ser estabelecidas prioridades para o encaminhamento destes (e de outros temas que venham a ser acrescentados à lista) em reuniões preparatórias. 3. Reuniões de equipe, para tratar de encaminhamentos relativos ao grupo atendido pela equipe para incubação ou ao projeto pelo qual a equipe responde, com dinâmica, periodicidade, data, assuntos e local definidos pela própria equipe, e indicados no quadro de atividades da Incubadora. 4. Reuniões de grupos temáticos (de estudo ou trabalho), para atender a necessidades e Interesses específicos de uma parte dos membros. Observação: as diferentes reuniões deverão ser Indicadas em quadro destinado a esta finalidade, devendo ser usadas cores correspondentes aos tipos de reuniões e grupos ou projetos, de modo a favorecer sua identificação por todos os participantes da INCOOP. 12 And I ucid Cortftfoío
  • 23. Diferentes tipos de reuniões, em termos de finalidade, condições e exigências para ocorrência e participação, composição etc. foram previstos, de modo a possibilitar uma articulação de atividades a serem desenvolvidas por um conjunto também diversificado de pessoas, em termos de vinculação com a Incubadora, interesses, disponibilidades etc. Favorecer processos de tomada de decisão com alto grau de acesso a informações por parte de todos os potencialmente interessados e possibilidade de participação ampla, a despeito das dificuldades práticas envolvidas na reunião de tal diversidade, foi um dos objetivos estabelecidos e orientadores da proposta, ainda em implantação e teste. O apoio ao funcionamento da incubadora se dá também em relação aos mediadores que desenvolvem o processo de incubação junto aos grupos de cooperantes. A proposição de recursos favorecedores de condutas de mediadores do processo de incubação relevantes para instalar e manter condutas de cooperantes e da cooperativa identificados como desejáveis no contexto da proposta cooperativista aplicada a cooperativas populares de trabalho, constituiu o objetivo desta frente de intervenção com Psicologia na Incubadora. Tomando como base condutas de indivíduos identificadas como relevantes para a participação em cooperativas populares de trabalho, foram elaboradas: a) descrições comportamentais destas condutas e b) sugestões sobre como mediadores podem atuar, ao interagir com grupos em processo de incubação, de forma a favorecer a instalação e manutenção destes comportamentos. A descrição comportamental dos comportamentos indicados como desejáveis, com a explicitação não apenas de ações, mas das condições antecedentes (aquelas diante das quais tais ações são desejáveis, ou estímulos discriminativos, e das que são necessárias para a ação ocorrer) e das condições subsequentes (resultados, produtos ou efeitos esperados destas ações) já constitui, por si só, uma contribuição para o trabalho dos mediadores. Ao tornar explícitos os aspectos considerados relevantes na relação comportamental, a descrição comportamental facilita a conferência do grau de concordância sobre o fenômeno de interesse, a identificação de concepções diversas dentro da mesma equipe e o estabelecimento de convenções mais apropriadas para orientar um trabalho consistente, por parte dos mediadores, junto aos grupos. Um exemplo do tipo de descrição elaborada foi apresentada no Quadro 1. A esta contribuição foi acrescida a indicação de providências, de diferentes graus de complexidade, que podem ser implementadas pelos mediadores, para promover, em situações cotidianas ou formalmente conduzidas para esta finalidade, condutas desejáveis dos membros do grupo para o adequado funcionamento de cooperativas. No Quadro 4 são apresentados exemplos de procedimentos e providências propostos como forma de orientação dos mediadores para que sejam promovidos comportamentos de comunicação entre os cooperantes (e destes com outras pessoas), um daqueles considerados como relevantes de serem apresentados por indivíduos que participam de uma cooperativa, desde sua proposição até a implementação e administração de seu funcionamento. Sobrr Comportamento e Corti*v3o 13
  • 24. Quadro 4. Exemplos de providências e procedimentos sugeridos aos mediadores para instalar e manter comportamentos no âmbito da comunicação em cooperantes de grupos em processo de incubação. - em reuniões com o grupo de cooperantes, a) propor que todos se manifestem, dôem suas contribuições para o encaminhamento do debate; b) fa*er perguntas ou comentários sobre o assunto discutido; c) destacar a Importância de uma comunicação adequada para o grupo. - em reuniões com o grupo, pedir para que os próprios cooperantes se organizem em grupos menores para discussão de determinado assunto, de modo a facilitar a comunicação dos mais tímidos, e posteriormente, propor uma discussão com todo o grupo. - em quaisquer situações de comunicação, destacar aspectos favorecedores de comportamentos adequados de comunicação que tenham ocorrido. - apresentar modefos de forma de comunicação adequada e, sempre que possível, destacar as propriedades adequadas demonstradas Uma adequada caracterização de comportamentos de cooperação e de concepções de cooperantes e de mediadores sobre "cooperação", com elaboração de estratégias e recursos para desenvolvimento de comportamentos de cooperação em cooperantes, como forma de apoio ao trabalho dos mediadores, foi também iniciada. Os produtos deste trabalho devem contribuir, também, para o funcionamento da Incubadora, que se encontra em uma fase de avaliação e reformulação de seu funcionamento como equipe de trabalho, em função, dentre outras coisas, de dificuldades para implementar, dentro dela mesma, condições de trabalho compatíveis com a proposta cooperativista. Cooperativas de trabalho como organização de interesse: controle de estímulos para comportamentos ao produzir conhecimento e ao intervir profissionalmente As possibilidades de atuação abertas pela ampliação dos empreendimentos solidários, para pesquisadores e profissionais em Psicologia é considerável, e requer respostas relativas tanto ao melhor aproveitamento do conhecimento disponível sobre conduta humana, organizações em geral e organizações de trabalho, quanto para produção de conhecimento especificamente voltado para as exigências comportamentais impostas pela necessidade de gerar e manter novas formas de relações em relação às predominantes. A inserção de pesquisadores da área Psicologia, e de profissionais, formados ou em formação, do campo profissional que mais diretamente depende do conhecimento da área, em projetos multidisciplinares e multiprofissionais contribui para que, de modo amplificado, a Psicologia responda a este desafio com conhecimento de qualidade, socialmente relevante e promissor para que seja possivel alcançar uma sociedade mais justa e digna. Nesta direção, parece relevante que pesquisadores e psicólogos decidam não apenas lidar com situações correspondentes a necessidades sociais relevantes, mas buscar sua própria exposição a ambientes favorecedores da percepção de tais necessidades. 14 Anu J.ucw Lortetfoío
  • 25. Referências Botomé, S. P. (1981). Objetivos dô_Ensino.. necessidades sociais e tecnologia educacional Tese de doutorado. São Paulo: Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. Cia, F. (2002). Comportamentos de mediadores.em._prQcessQS.de decisão na incubação de cooperativas populares. Monografia de bacharelado. São Carlos: Curso de Graduação em Psicologia da Univorsidade Federal de São Carlos. Ferreira, L. S. A. (2002). Rodiilo deJun5fiaa_eJynçGes íixainolrabalhQireflexQ3_na.saii8fa' ção de trabalhadores em cooperativas populares- Monografia de bacharelado. São Carlos: Curso de Graduação em Psicologia da Universidade Federal de São Carlos. Franchini, V. de A. c. (2002). Concepção de mediadores de uma incubadora_de cooperati­vas populares sobre .cooperação (processQ.23112000151/2QQJ). Sfio Carlos: Pró-Reitoria de Extensão/Universidade Federal de São Carlos. Guimarães, G. (2000). Incubadoras Tecnológicas de Cooperativas Populares: contribuição para um modelo alternativo de geração de trabalho e renda. In P. Singer & A. R. de Souza (Org.), A economia Solidária no Brasil (pp. 11-122). São Paulo: Contexto. Meichior, L. (1987). Derivação de comportamentos institucionais e profissionais em relação a pessoas "com deficiência, mental" a partir. dacaracterUaçãodaJncidôncia desse problema na população de um município. Dissertação de mestrado. São Carlos: Programa de Mestrado em Educação Especial da Universidade Federal de São Carlos. Rebelatto, J. R., & Botomé, S. P. (1999). Fisioterapia no Brasil (2* ed.) São Paulo: Ed. Manole. (Trabalho original publicado em 1987) Sidman, M. (1995). Coerção e suas implicações. Campinas: Editorial Psy. (Trabalho origi­nal publicado em 1989) Skinner, B. F. (1977). Walden Two. São Paulo: EPU. (Trabalho original publicado em 1948) Skinner, F. F. (1972). Te.cnolfi9ia.dQ EnsiHO- São Paulo: EPU-EDUSP. (Trabalho original publicado em 1968) Veiga, S. M., & Fonseca, I. (2001). Cooperativismo: uma revolução pacifica em ação. Rio de Janeiro: DP&A/Fase. Voira, K. A. L. (2002). Contingências para comportamento verbaJ em cooperativas populares de trabalho. Monografia de bacharelado. São Carlos: Curso de Graduação em Psicologia da Universidade Federal de São Carlos. Zanotto, M. L. B. (2000). Formação de ProfessoresLa. contribuição da análise do comporta­mento. São Paulo: ÈDUC. Sobrt Comportamento c totfnjçilo 15
  • 26. Capítulo 2 A manipulação no contexto clínico * Atm Mdrià LéStnéchâl-Machiuio " A manipulação no contaxto clinico pode ser vi»t« como uma estratégia d« análise funcional, á medida que for utili/ada pelo terapeuta para iniciar e dasignar uma ahordagnm particular á problemática apresentada pelo cliente Assim, o teraponta poderá manipular estímulos associados a consequências positivas, tais como descritas pelo cliente, de forma a tornar algumas açAes deste mais prováveis e mais favoráveis ao alcance do objetivos mais funcionais, mais aduptatlvos Atravós da manipulação de contingôncias t do estabelecimento de condições indicadoras de provável alivio do sofrimento ou dn ) gratificação efetiva, transformações nos repertórios disfuncionais do cliente podem ser produzidas. A manipulação no ", contexto clinico se Insere, em grands parte das intervenções, quando o objetivo do terapeuta è ensinar o cltenlo sobre o que fazer, em vez de. simplesmente, alertá-lo sobre o que nâo fazer. Quando as práticas de controle do comportamento sâo explicitadas, o contracontrole se torna menos dificll, pois se fica sabendo de quem se deve escapar ou a quem se deve atacar Quando a manipulação explicita o controle, a funcionalidade do contracontrole aparece e a coerçAo enfraqueço. A funcionalidade da manipulação na relaçáo pnlcoterápica è (ratada, neste toxto, como uma proposta de Intorvençâo çentrada na pessoa do cliente e no modo ético de contingenciaçâo e de atendimento clinico comportamental Palavras-chave: mampulaçfto clinica; contracontrole coercitivo; funcionalidade The manipulation in the clinical context may be seen as a strategy of functional analysis, as it is used by the therapist to initiate and designate a particular approach to the problematic presented by the client Thus, tlie therapist will be able to manipulate stimuli associated to positive consequences, such as they are described by the client, In a means to turn some of his/her actions more likely and favorable to the achievement of more functional and adaptative goals. Through the manipulation of contingences and the establishment of indicative conditions of feasible suffering relief or effective gratification, transformations in the client's dlsfunctional repertories may be produced The manipulation in the clinical context is Inserted, in aiost interventions, when the therapist's goal is to teach the client what to do, instead of simply alerting him/ her of what not to do When the practices of behavior control are made explicit, the countercontrol becomes less difficult, because It becomes known of whom one should escape, or of whom one should attack. When the manipulation makes the control explicit, the countercontrol functionality arises and coercion weakens The manipulation functionality in tho psychotherapeutic relation is handled, in this text, as an intervention proposal centered in the client's person and In the ethical manner of contingency and of clinical behavioral attempting. Key words: clinical manipulation, coercive countercontrol; functionality. O contexto clinico comportamental As terapias comportamentais, e outras que se alinham a elas, têm enfatizado a necessidade de uma investigação sistemática da disfuncionalidade de repertórios ' Texto mtmtmutóo na mmn rwdonó* 'MmUpulaçào do comport*nmlo dn fwicionaJKJíide h oo*fpío'. r6»llzi»d» dumnlaoX Cncontro B*mIMtd de Pticoleríipin « Medicina Comportamenw, da Aaaociaçâo Bra»ile*a d« Pttootefaplíi • Medicina Comportamental - ABPMC, em Cainplna«/SP, «etembro da 2001 " Umveraidade Federal de Mina* Qerala - Faculdade de Filoeofle e Clénciaa Humana* - Departamento de Milcologla 1 6 And M.iria Lé Sénéchal-M<ich«nlo
  • 27. comportamentais particulares, o que aponta na direção do estabelecimento de condições terapêuticas específicas. Na condução do processo de atendimento clínico psicoterápico, a direção relevante a ser empreendida tem sido a de se produzir, como objetivo final, o autoconhecimento por parte do cliente. A esse respeito, Skinner (1989/19911) observa que, "A psicoterapia ô, freqüentemente, um espaço para melhorar a auto-observaçâo, para ‘trazer à consciência' uma parcela maior daquilo que ô feito e das razões pelas quais as coisas são feitas.’’ (págs. 46-47). Destacando ainda que "Todo mmportamento, seja ele humano ou não humano, ó Inconsciente; ele se torna 'consciente’ quando os ambientes verbais fornecem as contingências necessári­as à auto-observaçâo.” (pág. 88), sugere que ê a comunidade verbal que pode estabelecer as contingências que levam ao conhecimento, na medida em que nos questiona sobre o que fizemos, estamos fazendo ou estamos prestes a fazer. Assim, sob condições específicas - setting terapêutico, por exemplo - mantidas pela comunidade verbal, é possível ensinar pessoas a relatar os seus comportamentos privados, seus sentimentos mais íntimos, pois os comportamentos de auto-observação e auto-descriçâo são produtos sociais. Portanto, se o autoconhecimento depende da comunidade social, a situação terapêutica e o papel do terapeuta revelam-se como aspectos importantes para a explicitação, ao cliente, das contingências atuantes em seu contexto de vida pessoal e social. O terapeuta deverá conduzir o cliente à discriminação dessas contingências e à respectiva alteração funcional delas. Deverá, ainda, conduzir o cliente ao autoconhecimento, ensinando-lhe que, se "O euéo que uma pessoa sente a respeito de si própria. "(Skinner, 1989/1991, pág. 45), ao se conhecer, uma pessoa passa a ter, á sua disposição, informações sobre os outros e sobre si mesma que lhe possibilitarão desenvolver repertórios comportamentais de autocontrole, que a auxiliarão a lidar melhor consigo mesmo. Nesse sentido, o comportamento terapêutico voltado para a análise funcional das contingências positivas e negativas da vida do cliente poderá incluir a estratégia de manipulação (neste trabalho, denominada ‘manipulação terapêutica’) como uma forma de interação e de condução do cliente ao ajuste comportamental e a um estado de relações menos conflitante s e mais gratificantes (Beech, 1969/1971 ; Sidman, 1989/1995; Bernardes, 1993; Guilhardie Queiroz, 1997; Baum, 1994/1999). A manipulação como procedimento Manipulação, como uma categoria de conteúdo verbal de comportamento terapêutico, foi, em trabalho anterior, definida como “o conjunto de verbalizações emitidas por um indivíduo, em uma interação com outro, no sentido de imprimir neste, de modo planejado, outras formas de agir, que facilitem a realização funcional de um objetivo." (Lô Sônéchal-Machado, 1999, pág. 88). Machado (2001), discutindo o papel da manipulação no contexto das relações sociais, pessoais e íntimas, descreve manipulação como a maneira pela qual indivíduos, intencional e propositadamente (embora não necessariamente conscientemente), alteram, 1A primeira data refera •« ao ano da ptibUcaçAo original, em inglêa, • a aagurtda ao ano da irnduçAo • «dtçAo. am portiiguéa, conauKada Sobre Comportamento e Cojjnlçüo 17
  • 28. mudam e influenciam ou exploram outros. Ainda com base em Buss (1987) e em Buss, Gomes, Higgins e Lauterbach (1987), essa mesma autora observa que, no campo das relações interpessoais, a manipulação pode ser reconhecida como inerente ao processo de interação, o que não implica, necessariamente, a adoção de atitudes de maldade, de malícia ou de intenção perniciosa. Muito embora tais atitudes possam estar presentes em muitos destes processos interacionais, a manipulação comportamental, compreendida como uma forma de controle de estímulos, não está vinculada à produção de relações constrangedoras ou coercitivas, e sim à produção de comportamentos discriminatórios que permitam a diferenciação de respostas mais aceitas socialmente e mais gratificantes pessoalmente. O terapeuta vai procurar, nesse contexto, dar mais ênfase ao trato dos problemas encobertos, dos quais o cliente não tem consciência. A manipulação, assim, pode ser empregada como uma disposição de condições para a indução de uma decisão ou ação, por meio de estímulos, verbais ou não, mas sem discussão (Lé Sénéchal- Machado, 1993,1999; Machado, 2001). A ‘manipulação terapêutica' A manipulação terapêutica, no contexto clínico da análise funcional, justifica-se na reconhecida ênfase atribuída à necessidade de aquisição e manutenção, pelo cliente, de repertórios mais adaptativos, mais recompensadores, que privilegiem o autoconhecimento e o autocontrole; e também, em grande parte das intervenções nas quais o objetivo do terapeuta é, por exemplo, ensinar ao cliente sobre ‘o que fazer’, em vez de, simplesmente, alertá-lo sobre 'o que não fazer'. Bernardes ( 1993) observa que "o conjunto de características pessoais que compõem o repertório total relatado por uma pessoa, constitui o eu que ela aprendeu a observar e, obviamente, não abrange todas as suas probabilidades comportamentais nas diversas situações de estímulos, " (pág. 67). Assim, a apresentação direta de um estímulo funcionará como modelo de ação diversa, criando, inclusive, condições para que novas respostas se instalem. Isto equivale a dizer que parece ser muito importante o fornecimento de incentivos, a fim de que uma pessoa mude de atitude: a alteração da atitude deve ser provocada através de incentivos e reforçadores para que se incorpore ao repertório comportamental da pessoa e permita melhores ajustamentos. A nossa comunidade social não costuma aceitar, amavelmente, o fracasso e acaba por transformar os fracassados em vítimas, em pessoas ‘incompletas, insatisfeitas, mal definidas’ - em pessoas com ‘falta de vontade’ para agir, pois fizeram seleções mal feitas e continuam a fazê-las a cada dia. Durante o processo terapêutico, pode-se supor que o terapeuta, conforme vai conhecendo o cliente, sua história passada e seu 'aqui agora’, ou ainda, sua história de fracassos, de más escolhas e de punições, e os convencimentos decorrentes, vai adquirindo melhores condições de identificação dos níveis de privação e de estimulação aversiva que compõem o sistema de regras e de contingências do cotidiano do cliente. Desse modo, o terapeuta vai sendo instrumentado para fazer previsões, por exemplo, sobre o valor reforçador de uma determinada condição e sobre a probabilidade de seu cliente empenhar-se na realização de comportamentos pertinentes. A implementação de tais procedimentos, por parte do terapeuta, implicará o que estamos chamando de ‘manipulação funcional’: através da apresentação de avisos, de sugestões, de conselhos e de propostas de ensaios comportamentais, o terapeuta 18 Ana M.irid l.é Sénéchdl-Mdchdtlo
  • 29. estará auxiliando o cliente a alterar a compreensão de suas dificuldades particulares e de suas limitações especificas. Trata-se, portanto, do terapeuta assumir um desafio - o de intervir de forma forte, ativa e dinâmica: instalar um regime terapêutico com objetivos e planos de ação claros, nos quais o 'fazer' do cliente tem papel mais importante do que o ‘falar’ do terapeuta. As metas clinicas compartilhadas Na terapia comportamental, o cliente percebe logo que os objetivos do atendimento são imediatamente esclarecidos de comum acordo com o terapeuta, o que permite a ele, cliente, reconhecer o terapeuta como o indivíduo que, na relação em curso, é, em geral, a pessoa mais ativa, mais animadora, mais persuasiva. Assim, pode-se supor que o terapeuta não deverá negligenciar os fatores suscetíveis à modificação desejada por ambos (terapeuta e cliente), concentrando sua relação com o cliente na identificação das contribuições ambientais e dos processos de aprendizagem aos quais o cliente deverá ser exposto. De acordo com Skinner (1974/1982), "O conhecimento vem sendo usado há muito tempo para fins de controle.” (pág. 46), e é nessa direção, de dar a conhecer ao cliente os controladores de seus comportamentos, que o terapeuta lhe explicita os esquemas e os valores de reforçamento atuantes em sua vida atual e que, deficitários ou em excesso, muito possivelmente atuaram assim em sua história de vida passada. O terapeuta, assim, irá propor ao cliente a testagem de comportamentos em direção ao contracontrole. Assumindo esse pape), o terapeuta facilitará ao cliente a seleção de outros repertórios e de novas estratégias para contingenciar as apresentações incisivas e indutoras de ação, fornecidas pelo seu (do cliente) cotidiano de relações sociais e interpessoais. É na relação com o ambiente que um comportamento é selecionado, moldado e mantido por suas conseqüências: é na relação com o ambiente que aprendemos a manejar o nosso próprio comportamento e o comportamento dos outros, de modo a ajustar as nossas ações às demandas do mundo que nos rodeia (Skinner, 1974/1982,1983;Sidman, 1989/1995). E esse ‘manejo' pode incluir ‘manipulação’, intenção e propósitos funcionais para a obtenção de bons desempenhos, no controle pessoal de nossas próprias vidas. Muitos progressos no atendimento às dificuldades do cliente serão obtidos, conforme o terapeuta for identificando as variáveis que estão no controle do ajustamento desse cliente. Para tanto, o terapeuta precisa isolar as variáveis que supõe sejam específicas e importantes para o bom funcionamento do cliente e então testá-las. Manipulando essas variáveis, o terapeuta poderá distinguira que acontece: observando a freqüência com que o cliente se engaja numa dada atividade, o terapeuta terá mais chances de identificar a grande maioria das variáveis das quais aquela freqüência ó função. A esse respeito, Skinner (1953/1993) observa: “O poder de manipular as condições que afetam outro Indivíduo pode ser delega-do ao indivíduo controlador por (...) agências organizadas. A relação entre controlador e controlado pode assim ser caracterizada como a de (...) terapeuta a paciente (...), professor a aluno, e assim por diante. (...) Mas quase todos controla­mos algumas variáveis relevantes, independentemente dos papéis como os mencionados, que podem ser empregados em beneficio próprio. A isto se pode chamar ‘controle pessoal’. O tipo e a extensão dependem dos dons e da habilida­de pessoal do controlador." (págs. 299-300). Sobrr Comportamento t Cognição 19
  • 30. A funcionalidade da ‘manipulação terapêutica’ Ao utilizar-se da estratégia de 'manipulação terapêutica', condições específicas de observação de processos comportamentais do cliente estarão sendo criadas pelo terapeuta. Sob condições relativamente controladas - o 'setting terapêutico' - o terapeuta poderá localizar, mais facilmente, as funções do comportamento do cliente num contexto mais amplo, mais generalizável. O que equivale a dizer que, ampliando-se a classe de variáveis independentes, manipuláveis, ampliar-se-á também a classe de variáveis dependentes a serem medidas e observadas funcionalmente (Skinner, 1974/1982; Guilhardi, 1988; Lé SénéchaUMachado, 1997, 2000). E é nesse ponto que a ‘funcionalidade da manipulação’ vai permitir a identificação e a distinção do repertório de respostas ao controle coercitivo, que vêm fazendo parte da vida do cliente. A partir dos relatos do cliente sobre suas ações no dia-a-dia, o terapeuta passa a observar a regularidade entre condições antecedentes, respostas do cliente e conseqüentes. O estabelecimento de relações contigenciais entre esses eventos (antecedentes, comportamento e conseqüentes) decorrente da análise funcional empreendida pelo terapeuta, junto com o cliente, favorecerá a ambos a identificação das variáveis das quais o comportamento do cliente é função. Por isso a ‘manipulação terapêutica’ se justifica, porque o terapeuta, ao dar conselhos ao cliente, por exemplo, indica um comportamento a ser copiado: descreve, para o cliente, as conseqüências de reforçamento implicadas na distinção entre o modo como está fazendo as coisas e o modo novo ou nova vida. "Todo o avanço em terapia comportamontal vai nessa direção, porque ela come­ça mudando o mundo em que as pessoas vivem e assim, apenas indiretamente, o que eias fazem e sontem. * (Skinner, 1989/1991, pág. 115). Portanto, é preciso testar novos comportamentos para que a generalização dos novos comportamentos, bem aprendidos, possa acontecer. Ou seja, para que o cliente possa reconhecer que náo são os seus sentimentos e sim as condições em que eles ocorrem ó que sáo importantes. Para sentimentos positivos ó imprescindível a construção de contingências positivas. Nesse sentido, a possibilidade de manipulação de estímulos e de modulação de comportamentos, em direção à ampliação de repertórios, se instala. Um treinamento de evitação ou fuga, eventualmente, poderá ajudar o cliente a fazer aprendizagens mais rápidas e atuações mais duradouras, de modo a que possa reduzir boa parte dos eventos aversivos que controlam seu (do cliente) comportamento. Assim, a 'manipulação terapêutica’ poderá se voltar para uma programação de generalização das novas maneiras de o cliente se relacionar consigo mesmo e com os outros, enfim, com sua vida pessoal e social. "Os estímulos verbais que chamamos conselhos, as regras ou as leis, descre­vem ou aludem a contingências de reforçamento. Pessoas que foram aconselha­das, ou que seguem regras e obedecem a leis comportam-se por uma das se­guintes razões: seu comportamento foi diretamente reforçado pelas conseqüên­cias ou elas estão respondendo a descrição de contingências. Como e por que e/as respondem a descrições ô explicado pela análise das contingências verbais de reforçamento." (Skinner, 1989/1991, p.87-88). E a 'manipulação terapêutica’ permite essa distinção e essa análise apurada. 2 0 An,i M.iriii l.f Sintchal-M dchdtlo
  • 31. A funcionalidade no controle da coerção Considerando-se a relação terapêutica como um contexto de relação interpessoal, obviamente muitos comportamentos problemáticos, dificuldades e limitações do cliente, nessa área, poderão ser evocados. A partir da manipulação terapêutica, a variabilidade de comportamentos funcionais do cliente tem a chance de ser aumentada, em direção à produção de conseqüências reforçadoras positivas naturais e sociais e ao ajustamento de repertórios de fuga e esquiva aos esquemas coercitivos atuantes na vida do cliente. Portanto, a exposição do cliente à estimulação aversiva e conseqüente enfrentamento do controle coercitivo do seu espaço vital poderá promover a extinção de reações neuróticas e a habituação a novos modos de contato, ou seja, a respostas diferenciadas de autocontrole. A manipulação terapêutica visa, portanto, a alteração da capacidade do cliente para resolver problemas e o fortalecimento de repertórios de contracontrole das condições ambientais coercitivas (tanto encobertas quanto públicas): "Modificamos a maneira pela qual uma pessoa vê alguma coisa, bem como o que vê quando olha, através da manipulação das contingências; (...) Alteramos as forças relativas de respostas através de reforçamento diferencial de cursos alternativos de ação; (...) modificamos a probabilidade de ocorrência de um ato ao mudarmos uma condição de (...) estimulação aversiva.” (Skinner, 1971/1983, pág. 73). O terapeuta como 'manipulador' Ser terapeuta é estar na situação clinica como um explorador de potencial, no sentido de levar o cliente a dar tudo de si para promover seu autoconhecimento e seu autocontrole. Ser terapeuta é reconhecer, também, que o cliente sabe de si melhor que qualquer pessoa, mas carece de consciência e poder de auto transformação: necessita do terapeuta como aquele que o acompanhará no esclarecimento plausível de suas disfuncionalídades, através de ‘manipulações’ funcionais, determinadas e não teimosas, disciplinadas e não escravizantes. Skinner (1971/1983), ao esclarecer distorções quanto ao entendimento dos comportamentos de 'incitar à ação’ ou de 'persuadir', afirma que, quando fazemos esses comportamentos, "parece que estamos atuando sobre a mente quando 'incitamos'ou ‘persuadimos’alguém a agir. "(pág. 72). O que estamos fazendo, na realidade, diz de uma exploração e/ou explicitação de situações mais favoráveis à ação funcional. Ou ainda, quando ‘incitamos’ ou ‘persuadimos’ alguém, estamos ‘adoçando condições' através da manipulação de variáveis e de estímulos associados á produção de conseqüências positivas e/ou negativas, conforme identificadas, pelo‘manipulador’, como atuantes na história de vida desse alguém (Skinner, 1971/1983; Lé Sénéchal-Machado, 1999). Evidentemente, a presença de um terapeuta acolhedor e apoiador, que ofereça segurança ao cliente, é elemento importante no conjunto de estímulos contextuais que favorecerão ao cliente a seleção de comportamentos específicos, em direção à adaptação e à maior liberação de reforçamento positivo ou negativo, se for o caso. O terapeuta funciona como ‘manipulador' na medida em que, na situação clínica, é a pessoa que emite um maior número de comportamentos específicos (solicita informações, manipula SDs, insiste no esclarecimento de algum dado relevante), estimulando contínua e regularmente o cliente, até obter a identificação das variáveis controladoras - determinantes e mantenedoras - do repertório comportamental deste. No contexto do atendimento psicoterápico, o cliente é Sobre Comportamento c Cognição 21
  • 32. estimulado - via manipulação - a ‘experimentar’ novos modos de atuar, com o propósito de ampliar seu repertório de ações adaptativas. Enquanto 'manipulador funcional’, o terapeuta vai especificando ocasiões para a ocorrência de comportamentos alternativos, de maneira a auxiliá-lo na substituição de ações disfuncionais: o terapeuta manipula condições para que o cliente aprenda e treine novas habilidades contingenciais de contracontrole do seu bem estar pessoal e social (Beech, 1969/1971; Sidman, 1989/1995; Lé Sénéchal-Machado, 1999). Enfim, como manipulador funcional, o terapeuta poderá programar, junto com o cliente, a execução de repetidos comportamentos de auto-afirmação em condições relativamente controladas. O cliente poderá aprender repertórios de confiança em si mesmo para lidar de maneira mais apropriada e eficiente com as dificuldades próprias dos relacionamentos sociais, já que somos seres essencialmente sociais. Considerações óticas à manipulação terapêutica A primeira consideração, ao se fazer julgamentos a respeito da manipulação terapêutica, não é de natureza ótica. Em vez disso, deve-se primeiro avaliar a adequação técnica e cientifica-a padronização-dos procedimentos utilizados para tal manipulação. Se o controle de um terapeuta sobre elementos importantes e críticos da análise funcional da problemática do cliente é frágil, torna-se imperativa uma análise contextual do repertório de comportamentos terapêuticos na relação clínica com o cliente em questão. Essa reavaliação de procedimentos na situação clínica relevante permitirá, então, ao terapeuta, a interpretação clara dos resultados alcançados e a obtenção de conclusões plausíveis ao conflito básico vivenciado pelo cliente. Só assim o terapeuta poderá, efetivamente, ajudar o cliente a se auto-observar e a ampliar essa observação às novas contingências estabelecidas, de modo a interagir diretamente com o (seu) mundo, agora, de regras mudadas (Sidman, 1989/1995). Referências Baum, W. M (1999). Comproender o bohaviorismo - ciência, comportamento e cultura (290 p.). Porto Alegre: Artes Médicas. Beech, H. R. (1971). Como alterar o comportamento humano - técnicas baseadas na reflexologia e no aprendizado. Sâo Paulo: Ibrasa. descrição comportamental. Dissertação de mestrado. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais. Buss, D. M. (1987). Selection, evocation and manipulation. Journal oí Personality_and .Social P s y c h o lo g ism 214-1221. Buss, D. M., Gomes, M., Higgins, D. S., & Lauterbach, K. (1987). Tactics of manipulation. Journal of Personality and.Social PsychQlofly. 52(6). 1219-1229. Guilhardi, H. J. (1988). A formação do terapeuta comportamental. Que formação? In H. W. Lettner& B. J. Rangô (Orgs.), Manual de Psicoterapia Comportamental. parte Vll, cap. 1 (pp.313- 320). SSo Paulo: Manole. Guilhardi, H. J., & Queiroz, P. B. P. S. (1997). A análise funcional no contexto terapêutico - 0 comportamento do terapeuta como foco da análise. In M. Delitti (Org.), Sob/e C0mP0rtamentQ.fi 2 2 An.i Mdriu l.é Sénéchdl-Mtichtido
  • 33. coqnicão. a prática da análise do comportamento e da terapia coqnitivo-comportamental. vol. 2, seção II, cap. 7 (pp. 45-97). Santo Andró: ESETec Editores Associados. Lé-Sénóchai Machado, A. M. (1993). Uma análise comportamentaJ de relações persuasi­vas, televisionadas- Dissertação de mestrado. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais. Lé-Sénéchal Machado, A. M. (1997, Julho). Uma visão panorâmica da terapia comportamental de orientação behaviorista radical. Desafio: Revista Interativa de CiânclâS Sociais. Rio de Ja­neiro. Acessado em: http://www.ibase.orq.br/~desafio Ló-Sénéchal Machado, A. M. (1999). Implicações terapêuticas do comportamento persuasi­vo. In R. R. Kerbauy & R. C. Wielenska (Orgs.), Sobre comportamento e cognição* .psicologia comportamental cognitiva - da reflexão teórica à diversidade na aplicação, vol. 4, seção III, cap. 10 (pp. 85-93). Santo Andró: ESETec Editores Associados. Lé-Sónéchal Machado, A. M. (2000). Respondendo.sobre terapia comportamental- Palestra proferida na 1a Jornada de Ciência do Comportamento, realizada na Fafich/UFMG, Belo Hori­zonte, 10 de junho de 2000. Internet Web Page: www.faflch.ufmg.br/~senechal Machado, S. L. (2001). A manipulação coercitiva nas relações interpessoais. Texto cópia de artigo submetido à comissão editorial de Sobre comportamento e cognição, vol.7. Rosenfarb, I. S. (1992). A behavior analytic interpretation of the therapeutic rolatioship. The PsychologlcaLRecord. 42, 341-354. Sidman, M. (1995). Coerção e suas implicações- São Paulo: Editorial Psy. Skinner, B. F. (1982). Sobre Q_behaYiorismQ. São Paulo: Cultrix/EDUSP. Skinner, B. F. (1983). O mito da liberdade. São Paulo: Summus Editorial. Skinner, B. F. (1991). Questões recenlM. na análise comportamental- Campinas: Papirus. Skinner, B. F. (1993). Ciôncifl.S Comportamento humano. São Paulo: Marlins Fontes. Sobrr Compoitimrnto e Cognição 23
  • 34. Capítulo 3 Modelos Animais de Psicopatologia: Depressão Angélica Capdari' * (A/> Pode-te obter rut literatura, * o menot, dezoito modeloê animam de depressAo, A partir do uma avaliaçôo doates modelos em relação A reprodoçAo da etiologia, bioquímica, sintomatologia 0 tratamento da depressAo, destacamos 0 modelo do Desamparo Aprendido Segundo este modelo, sujeitos que foram submetidos a uma experiência prévia com choques Incontroláveis apresentam dificuldade em aprender novas respostas operantes quando posteriormente estas forom exigidas Estes sujeitos aprendem que nAo há relação entre as respostas que emitem e 0 desllgnmonlo de estímulos averslvos que recebem e, portanto, encontram-se em uma sltuaçAo de Incontrolabllldade (nAo tôm controle sobre oa estímulos ambientais, por mais que emitam diversas respostas). A incontrolabllldade rofere-se a nAo ter controle Bobre os estímulos ambieritaiB e, através da utili/açAo do modelo triàdico, comprova-se que a variável critica a Incontrolabllldado e nAo os estímulos averslvos aos quais os sujeitos foram submetidos Este modelo tem sido amplamente divulgado 0 utlli/ado em testes farmacológicos. Sua generalidade foi testada em diversas espécies, com diversas respostas t» estímulos. O modelo do Desamparo Aprendido Investiga apenas uma das diversas rotas possíveis na instalaçAo e* manutenção da depressAo Palavras-chave: desamparo aprendido / depressAo / incontrolabllldade I modelos animaisAbstract There are at least eighteen models of depression In the literature. Those models study the etiology, biochemistry, slntomatology and treatment of depression. Learned Helplessness is one of these models. The subjects were submitted to previous experience with chocks that they could not control After this experience, the subjects were not able to learn new operant responses, when this kind of response was demanded These subjects learned that there was no relation between their responses and the environmental consequences once the interruption of tho aversive stimuli occurs independently of the behavior/response of the organism. The Incontrolabillty refers to the lack of control of the organism over environmental stimuli. The triadic model proved that the critic variable is incontrolability and not the aversive stimuli. The model have been divulged and published widely and used In pharmacological tests. The generality was tested in many speclfes, with many responses and different stimuli. The learned helplessness models study only one of tho many possibilities of the onset and maintenance of depression. Key word*: learned helplessness I depression I Incontrolabillty I animal models A depressão tem sido considerada como uma desordem do humor caracterizada pela perda de interesse e prazer nas atividades cotidianas, lentificaçâo, humor depressivo ou irritável, apatia ou agitaçào psicomotora, dificuldade de concentração, pensamentos ’ A autora é aluna d« meetrado no programa de Pticologia Experimental da Univeraidade de SAo Paulo (USP) e protmora da Universidade Metodista de Sêo Paulo (UMESP) ’ A autora agradece a professora Mana Teresa A/au)o S/Iva, a Fàbio leyserg pelo convite para participar da meea, e a Ma/M Helena Hunzlkw pelas dica» e discusaOes «obre o lema 24 Angélica Caprldri
  • 35. negativos, redução no apetite ou peso, alteração no sono, diminuição da energia, pensamentos de morte e ideação suicida. A presença de cinco ou mais sintomas durante duas semanas é necessária para o diagnóstico de depressão, levando em conta todas as subdivisões que o distúrbio apresenta. (DSM IV; Louzã Neto, 1997 e Fennell, 1997). Em geral, a descrição da depressão ó feita utilizando-se termos mentalistas (Hunziker, 1997). Uma definição funcional da depressão deve enfocar a interação do organismo com o meio. Essa interação sofre influências da história filogenética, ontogenética e cultural às quais o organismo está submetido (Ferster, 1973). Segundo Fennell (1997), o inicio e a evolução da depressão dependem de variáveis biológicas, históricas e ambientais. Essa conclusão vai de encontro com o que Ferster (1973) postulou como uma das explicações para a ocorrência da depressão: queda na obtenção de reforços e/ou diminuição do valor reforçador de quando os estímulos conseqüências são liberados. A falta de reforços poderia ser, na verdade, uma insensibilidade dos organismos aos reforçadores disponíveis. Essa insensibilidade seria decorrente de disfunções no sistema de neurotransmissão do reforçamento. De qualquer forma, ó o reforçamento (ou sua inexistência) o ponto central. (Hunziker, 1997). Modelos Animais Para investigar os determinantes, as variáveis que envolvem a ocorrência, manutenção e tratamento da depressão, alguns modelos animais têm sido utilizados. Através de modelos animais, mudanças comportamentais podem ser objetivamente avaliadas, independente da concordância entre observadores sobre um estado subjetivo, e podem ser reproduzíveis por outros investigadores. Além disso, variáveis experimentais podem ser isoladas e investigadas separadamente, aumentando a confiabilidade do dado obtido. Para que um modelo animal seja considerado válido, segundo Wilnner (1984), ele teria que reproduzir condições de etiologia, bioquímica, sintomatologia e tratamento da patologia a ser investigada. Maier (1984) estabeleceu, a partir da literatura, quatro critérios para estabelecer um modelo experimental para investigação de uma condição clínica: 1) similaridade entre o estado comportamental e os sintomas que caracterizam a psicopatologia; 2) similaridade entre as mudanças neuroquímicas que ocorrem em pacientes com o transtorno e observadas em animais submetidos a determinadas situações; 3) similaridade de indução de condições ambientais que aumentariam a probabilidade de ocorrência daquela psicopatologia; 4) similaridade de respostas a intervenções terapêuticas, incluindo prevenção e tratamento de pacientes, observada em animais submetidos a situações específicas e em animais submetidos a determinadas situações. Willner (1984,1986) fez um levantamento e analisou a validade de 18 modelos animais de depressão. Do levantamento feito, 5 modelos apresentaram validade preditiva Sobre Comportamento e (‘ogniçilo 25