1. Sobre Comportamento
e Cognição
( > o/)// / 6 u / 'õ e s p a r a a G o n s / r u ç ã o <Ja O fe o r ia d o G o m p o r ía m e n i a
O rganizado po r Jfélio tfosé Q uil/iardi
JlCaria Jiea /riz ‘JSarf) osa t7iin/i(t JíCaili
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'JlCai'ia Claro fina <^coz
ESETec
Editores Associados
2. Sobre
Comportamento
e Cognição Contribuições para d Construção dd Tcorid do
Comportdmento
Volume 10
Ortfiini/iii/o por h iclio José C/uilfhmfi
Miirni lkitriz Itürbosü Pinho M d d i
Pdtrícid PUizzon Queiroz
Miirui C 'iiroliihi Scoz
Hélio José Guilhardi «Almir Del Prette • Amauri Gouveia Jr • Ana Lúcia Cortegoso • Ana Maria Ló Sónechal-
Machado • Angélica Capelari • Armando R. das Neves Neto • Donald M. Baer • Cacilda Amorim • Cilene
Rejane Ramos Alves • Denis Roberto Zamignani • Denise Cerqueira Leite Heller • Edwiges Ferreira de
Mattos Silvares • Eliane de Oliveira Falcone • Érica Maria Machado Santarém • Gimol Benzaquen Perosa
• José Antônio Damásio Abib • Joselma Tavares Frutuoso • Laércia Abreu Vasconcelos • Letlcia Furlanetto
• Lúcia Cavalcanti de A. Williams • Makilim Nunes Baptista • João Vicente de Sousa Marçal • Marcelo
Beckert • Maria Amalief Andery • Maria da Graça Saldanha Padilha • Maria Tereza Araújo Silva • Marilza
Mestre • Neury José Botega • Neuza Corassa • Nilza Micheletto • Patrícia Piazzon Queiroz • Paulo Sergio
T. do Prado • Rachel Rodrigues Kerbauy • Renata F. Bazzo • Renério Fráguas Júnior • Ricardo Corrôa
Martone • Rosana Righetto Dias • Sandra Leal Calais • Solange L. Machado • Suely Sales Guimarães •
Tereza Maria de Azevedo Pires Sério • Vanise Dalla Vecchia • Vera Regina L. Otero • Yara K. Ingberman •
Zilda A. Pereira Del Prette_____________________________________________________________
ESETec
Editores Associados
2002
3. ( 'opyright O desta edição:
F.SKTec Kdifores Associados, Santo André, 2002.
Todos os direitos reservados
Guilhardl, Hélio José, et al.
Sobre Comportamento e Cogniçflo: Contribuições para a Construção da Teoria do
Comportamento. - Org. Hélio José Guiihardi. 1* ed. Santo André, SP: ESETec Editores Associados,
2002. v.10
410 p. 24cm
1. Psicologia do Comportamento e Cognição
2. Behaviorismo
3. Análise do Comportamento
CDD 155.2
CDU 159.9.019.4
ISUN -
ESETec Editores Associados
Coordenação editorial: Teresa Cristina Cume Grassi-Leonardi
Assistente editorial: Jussara Vince Gomes
Capa original: Solange Torres Tsuchiya
Projeto gráfico original: Maria Claudia Brigagão
Equipe de preparação: Maria Eloisa Bonavita Soares Piazzon,
Noreen Campbell de Aguirre
RJtSntBO Orat^gramaçào: Erika Horigoshi
Revisão ortográfica e gramatical: Maria Rita J. Martini Del Guerra
Solicitação dc exemplares: esetír^uol.com.hr
Rua Catequese, 845 - Bairro Jardim Santo André SI’
CEP 09090-710
Tcl. ( I I ) 4990 5683/4432 37 47
www.esetee.com.br
4. "É exato que as ciências comportamentais
ainda não cumpriram a promessa que fizeram...
O que está faltando è uma teoria coerente do comportamento humano”
Skinner, B. F. (1978) Reflections on Behaviorism and Society, p. 94.
Com a publicação deste volume estamos oferecendo a nossa contribuição.
Este livro é dedicado a todos aqueles que se
interessam pela análise comportamental e que
compõem a nossa “audiência"... Porque “uma audiência
é uma variável independente negligenciada. Aquilo que uma
pessoa diz é determinado, de um modo muito importante, pela
pessoa para quem ela está dizendo".
Skinner, B. F. (1987). (Jpon Further Reflection, p .156
5. S um ário
Tudo se deve às conseqüências.......................................................................... xi
Capítulo 1 - Análise do comportamento e cooperativas de trabalho:
produção de conhecimento, ensino e transformação de
conhecimento em atuação profissional
Ana Lucia Cortegoso (UFSCar)......................................................... 01
Capitulo 2 - A manipulação no contexto clinico
Ana Maria Lé Sénéchal - Machado (UFMG)........................................ 16
Capítulo 3 - Modelos animais de psicopatologia: depressão
Angélica Capelari (USP/UMESP)...................................................... 24
Capitulo 4 - Terapia Cognitivo-Comportamental na Psicologia da Saúde
Armando Ribeiro das Neves Neto (UNIFESP - EPM/AMBAN-IPQ-HCFMUSP/
lnst. Neurológico de São Paulo/Hospital Beneficência
Portuguesa)...................................................................................... 29
Capítulo 5 - Quando esperar (ou não) pela correspondência entre
comportamento verbal e comportamento não-verbal
Cacilda Amorim (USP/PUCSP) e Maria Amalia Andery (PUCSP)....... 37
Capítulo 6 - Modelos animais de psicopatologia: esquizofrenia
Cilene Rejane Ramos Alves e Maria Teresa Araújo Silva (USP).......... 49
Capítulo 7 - Anorexia nervosa: etiologia e estratégias de enfrentamento
Denise Cerqueira Leite Heller (UTP).............................................. 61
Capítulo 8 - Avaliando programas de autismo: um caso especial de avaliação
de programa*
Donald M. Baer (University ofKansas)............................................... 69
6. Capítulo 9 - Família, enurese e intervenção clinica comportamental
Edwiges Ferreira de Mattos Silvares.................................................. 79
Capitulo 10 - Contribuições para o treinamento em habilidades de interação
Eliane de Oliveira Falcone (UERJ)...................................................... 91
Capitulo 11 - Modelos animais de psicopatologia: Transtorno Obsessivo-
Compulsivo
Érica Maria Machado Santarém (Univ. São Francisco-IT)...................105
Capitulo 1 2 - Suporte psicológico a gestantes portadoras de fetos com
diagnóstico de malformação
Gimol Benzaquen Perosa (UNESP-Botucatu).................................. 113
Capítulo 13 - Ética de Skinner e metaética
José Antônio Damásio Abib (UFSCar)............................................... 125
Capitulo 1 4 - 0 ensino da análise do comportamento: da prática à teoria
Joselma Tavares Frutuoso (UFSC)..................................................... 138
Capítulo 15 - Análise comportamental do transtorno de déficit de atenção e
hiperatividade: implicações para avaliação e tratamento
Laércia Abreu Vasconcelos (UnB)......................................................144
Capitulo 16 - Abuso sexual infantil
Lúcia Cavalcante de Albuquerque Williams (UFSCar/LAPREV)..........155
Capítulo 17 - Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC): principais características,
histórico, prevalência, comorbidade e tratamento
Makilim Nunes Baptista (UNIFESP/Univ. Brás Cubas/Centro Univ.
Hemiínio Ometto - Araras), Rosana Righetto Dias (UNICAMP/Centro
Univ. Hermlnio Ometto - Araras) e Sandra Leal Calais (PUCCamp/
UNESP-Bauru)................................................................................ 165
Capítulo 18 - Psicologia do esporte no contexto escolar
João Vicente de Souza Marçal (IBAC/UniCEUB)................................ 175
Capitulo 1 9 - Correspondência: quando o objetivo terapêutico ó o “ digo o
que faço e faço o que digo"
Marcelo Beckert (IBAC)..................................................................... 183
Capítulo 20 - Notas sobre a atualidade de ciência e comportamento humano
Maria Amalia Andery (PUCSP), Nilza Micheletto (PUCSP) e Tereza
Maria de Azevedo Pires Sério (PUCSP)............................................. 195
7. Capítulo 21
Capítulo 22
Capitulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capitulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Abuso sexual contra crianças e adolescentes: considerações
sobre os fatores antecedentes e sua importância na
prevenção
Maria da Graça Saldanha Padilha (UTP).......................................
Mediadores no sucesso da psicoterapia comportamental
Marilza Mestre (UFPR/CPEM/USP/UTP) e Neuza Corassa (UTP/
PUCPR/CPEM)............................................................................
Depressão no paciente acometido por outras doenças
Neury José Botega (FCM UNICAMP), Letícia Furlanetto (UFSC)
e Renório Fráguas Jr. (Inst. de Psiquiatria FMUSP).........................
Passados 30 anos: “os princípios comportamentais servirão
para os revolucionários?”
Nilza Micheletto (PUCSP) e Tereza Maria de Azevedo Pires Sério
(PUCSP).......................................................................................
Redução da agressividade e hiperatividade de um menino
pelo manejo direto das contingências de reforçamento: um
estudo de caso conduzido de acordo com a Terapia por
Contingências
Patrícia Piazzon Queiroz e Hélio José Guilhardi (Inst. de Análise
do Comportamento - Campinas)...................................................
Pode o paradigma de equivalência fundamentar uma
compreensão comportamental do conceito de número?
Paulo Sérgio Teixeira do Prado (UNESP- Marllia).........................
Contribuição da FAP e pontos a esclarecer
Rachel Rodrigues Kerbauy (USP).................................................
A presença da pesquisa em Farmacologia e Fisiologia no
JE A B -1957-2000
Renata F. Bazzo (FC/UNESP - Bauru) e Amauri Gouveia Jr.
(UNESP-Bauru)..........................................................................
Esquizofrenia: a análise do comportamento tem o que dizer?
Ricardo Corrêa Martone (Psicólogo clinico) e Denis Roberto
Zamignani (Psicólogo cl/nico)......................................................
Estresse e doença crônica
Rosana Righetto Dias (UNICAMP/Centro Univ. Hermlnio Ometto
- Araras), Makilin Nunes Baptista (UNIFESPICentro Univ.
Hermlnio Ometto - Araras) e Sandra Leal Calais (PUCCamp/
UNESP-Bauru)............................................................................
209
221
229
241
249
271
281
284
305
317
ix
8. Capítulo 31 - A manipulação coercitiva nas relações interpessoais
Solange L. Machado (UTP)........................................................... 325
Capítulo 32 - Uso gradual de exposição e prevenção de respostas para
portadores de Transtorno Obsessivo-Compulsivo resistentes
à medicação
Suely Sales Guimarães (UnB)...................................................... 349
Capítulo 33 - Obesidade mórbida - aspectos clínicos
Vanise Dalla Vecchia.................................................................... 356
Capítulo 34 - Peculiaridades do atendimento psicoterápico do portador do
transtorno “ Bordeline” de personalidade
Vera Regina Lignelli Otero (Clínica ORTEC - Ribeirão Preto-SP) 361
Capítulo 3 5 - 0 atendimento a pais de crianças em psícoterapia: orientação
ou terapia?
Yara Kuperstein Ingberman (UFPR).............................................. 369
Capítulo 36 - Transtornos psicológicos e habilidades sociais
Zilda Aparecida Pereira Del Prette e Almir Del Prette (UFSCar)... 377
9. Tudo se deve às conseqüências...
Os volumes 9 e 10 da coleçào Sobre Comportamento e Cognição reúnem uma amostra
abrangente do que foi apresentado no X Encontro Anual da ABPMC em 2001. No final de
uma década de Associação, são claros os produtos da organização anual dos Encontros:
maior número de trabalhos publicados, por um número crescente de diferentes estudiosos
do comportamento, para uma audiência progressivamente mais numerosa. Os dados parecem
indicar que devem ter operado na comunidade dos comportamentalistas contingências
reforçadoras positivas. Mas, quem reforçou quem? A audiência com certeza reforçou o
comportamento dos expositores. Os expositores, por sua vez, reforçaram o comportamento
da audiência. Todos reforçaram todos? Todos se sentiram reforçados? Que bela circularidadel
“O comportamento positivamente reforçado é em geral acompanhado por um estado que
descrevemos dizendo que estamos fazendo 'o que queremos fazer', ‘gostamos de fazer' ou
’amamos fazer'.” (Skinner, 1989, 1995 p. 105).’ Quem participou ativamente dos Encontros
da ABPMC poderia dizer: Skinner descreveu muito bem o que se viveu nessas ocasiões.
Imediatamente antes da criação da Associação e de seu produto mais conspícuo, os
Encontros anuais, a comunidade comportamental estava exageradamente retraída. Tal
retraimento só era interrompido nos Congressos e nas publicações mais abrangentes, onde
os trabalhos comportamentais eram apresentados em meio aos de outras orientações e de
outras áreas, como se viu na SBPC, nas Reuniões Anuais da Sociedade de Psicologia de
Ribeirão Preto e da Sociedade Brasileira de Psicologia, nas publicações destas sociedades
e em revistas de diferentes instituições cientificas. Não havia, no entanto, à época, nenhum
veiculo especifico para organizar a produção comportamental e permitir sua expressão de
forma mais sistematizada. Os Encontros da Associação adquiriram a função de uma eficaz
operação estabelecedora, capaz de mobilizar para a ação todos os níveis da comunidade
comportamental. Eles permitiram, ainda mais, que os comportamentos de seus organizadores
e participantes funcionassem como poderosos estímulos discriminativos e reforçadores
condicionados generalizados para as classes comportamentais: comparecer aos Encontros,
apresentar trabalhos e publicá-los, como jamais se viu antes no ambiente comportamental
brasileiro. A análise comportamental chegou a sua maturidade, que pode ser caracterizada
pelos seguintes critérios: 1. Maior
'Skinner, B. F. (1989. 1995).
Questões Recentes nu Análise Comportamental Campinas: Papirua
xi
10. aproximação entre a comunidade acadêmica e a aplicada; 2. Realização de trabalhos
conjuntos entre psiquiatras e psicólogos comportamentalistas; 3. Convivência harmoniosa
entre os psicólogos cognitivo-comportamentais e os behavioristas radicais, sem perda das
respectivas identidades; 4. Extensão dos trabalhos aplicados para as múltiplas áreas da
comunidade: clinica, escola, hospital, trânsito, posto de saúde, empresa etc.; 5.
Desenvolvimento de pesquisa de temas teóricos; 6. Desenvolvimento de pesquisa básica
com animais e humanos; 7. Desenvolvimento de pesquisa aplicada; 8. Desenvolvimento de
maneiras de trabalhar voltadas para a comunidade brasileira; 9. Realização por 10 anos
sucessivos do Encontro Anual da ABPMC com crescente participação de público e de
apresentação de trabalhos; 10. Aumento significativo de publicações, incluindo os volumes
da coleção Sobre Comportamento e Cognição b uma revista especializada Revista Brasileira
de Terapia Comportamental e Cognitiva. Em todos os itens mencionados, o que melhor
caracterizou cada um deles foi a prevalência de contingências reforçadoras positivas para
instalação e manutenção dos comportamentos dos estudiosos e para o desenvolvimento
das relações entre todos os profissionais. O pressuposto básico é que não basta apenas se
comportar, mas deve-se fazê-lo sob contingências reforçadoras, minimizando os controles
coercitivos e eliminando os repertórios de fuga-esquiva. Há que se comportar e sentir prazer
naquilo que se faz; sentir liberdade ao fazer o que se faz. Todos sabemos quais contingências
produzem tais sentimentos. Dediquemo-nos a elas.
Hélio José Guilhardi
Presidente da ABPMC
Gestão 2000/2001
xii
11. Capítulo 1
Análise do comportamento e cooperativas
de trabalho: produção de conhecimento,
ensino e transformação de conhecimento
em atuação profissional
Ana Lucia Cor/egos o '
Que contribuições pode a AnAllse do Comportamento oferecer pura o desenvolvimento de organizações de trabalho no
contexto de Economia SolldAria, considerando o conhecimento diBponlvel e as perspectivas abertas pela concepção de
tiomem o de cultura que Skinner ilustra em seu romance Walden Two? Respostas Inicial» para esta pergunta foram obtidas
a partir da InverçAo de docentes, alunos e profissionais psicólogos em uma incubadora universitária de cooperativas
populares Integrando atividade de ensino, pesquisa e extensAo, foi possivel identificar perguntas de pesquisa e necessidades
de intervenção que constituíram oportunidades significativas para a capacitação de alunos, futuros profissionais em
Psicologia, e oferta de contribuições concretas para lidar com o processo de incubação de cooperativas de trabalho em uma
perspectiva multidiscipllnar e multiprofissional. Apoio a grupos incubados, com assessorla para atividades especificas e
partlcIpaçAo em equipes de incubação; análise e programação de contingências para a Incubadora, na forma de procedlmon-tos
e instrumentos de trabalho e de organlzaçAo Interna que foram propostos, desenvolvidos, implementados e avaliados;
apoio a mediadores no processo de incubação, por n>eio da identificação e descrição de comportamentos de indivíduos e de
organizações e de proposiçAo de recursos favorecedores dos comportamentos dos mediadores e produçAo de conhecimento
sobre estes e outros aspectos de interesse no processo de geração e funcionamento de cooperativas populares de trabalho
correspondem a tais contribuições.
Palavras-chave, cooperativas de trabalho, contingências organizacionais; comportamentos em organizações.
What kind of contributions can Behavior Analysis offer to the development of work organizations in the context of Solidary
Economy, considering the available knowledge and the perspective showed by the human being and culture conceptions that
Skinner illustrates in his romance, Walden Two? Preliminary answers to this question were produced from Psychology
teachers, graduates and professionals Insertion in a university incubator of popular work cooperatives. By the articulations
of teaching, research and professional intervention, it was possible to identify research questions and Intervention necessities
which were relevant opportunities to prepare students, as future professionals, as much as offer concrete contributions to
doal with the Incubation process of work cooperatives In a multidisciplinary and multi-professional perspective. Support to
incubated groups, with counseling to specific activities and participation in incubation times; analysis and programming
contingencies to the incubator, in form of procedures and means for work and for internal proposed organizations, were
developed, implemented and evaluated; support to mediators In the Incubation process, by Identification and descriptions of
individuals and organizations behaviors, and proposition of mediators behavior and knowledge production about this and
another interesting aspects In the generations and operation of popular work cooperatives promoting conditions are such
contributions.
Key words work cooperatives, organizational contingencies, behavior In organizations
(t ABOR-t aboratrtrlo d* Paicologla Organiiacional. D*p«rijin>*nto da Ptlcotogia da IJntvantdade F ederal de SAo Carlo*)
Sobrr (.'omportamcntu r Cogniçdo 1
12. Cooperativas de trabalho como alternativa à forma tradicional de organização do
trabalho no âmbito capitalista...
A expressão "cooperativa de trabalho" tem sido utilizada com significados
diferentes, assim como existem diferenças na organização e na prática encontradas em
situações concretas, justificando um esclarecimento inicial sobre o tipo de organização a
que faz referência este trabalho.
São consideradas como objetos de interesse, neste contexto, cooperativas que
se pautam, efetivamente, por um conjunto de princípios doutrinários reconhecidos como
definidores de organizações que fazem jus a esta denominação, e que se diferenciam de
outras iniciativas que apenas se apropriam desta denominação. As “coopergatas", como
costumam ser conhecidas as "falsas cooperativas”, são empreendimentos que, em busca
dos benefícios legais previstos para a criação e funcionamento de cooperativas, são criados
e funcionam de forma a tornar ainda mais precárias do que usualmente as condições de
trabalho para os seus - apenas teoricamente - sócios. Tais organizações, usualmente,
mantêm ou mesmo agravam os aspectos mais perniciosos das relações trabalhistas muito
frequentemente presentes em empresas baseadas na separação entre capital e trabalho,
e ainda suprimem os direitos trabalhistas que, pelo menos teoricamente, são garantidos
pela legislação para trabalhadores com vínculos empregatícios.
Conhecidos pelos que têm familiaridade com a proposta cooperativista, e
apresentando algumas variações na maneira como são formulados conforme a fonte
utilizada, constituem princípios da proposta cooperativista "genuína" (Veiga e Fonseca,
2001)
- adesão livre e voluntária, estando este tipo de empreendimento aberto todas as pessoas aptas a usar seus serviços e dispostas a aceitar as responsabilidades
de sócio, sem discriminação social, racial, política ou religiosa e de gênero;
• controle democrático pelos sócios, em relação ao estabelecimento de políticas e
tomada de decisões, sendo usual a igualdade na votação, ou seja, a cada sócio
corresponde um voto;
• participação econômica equitativa dos sócios, segundo o qual os sócios contribuem
eqüitativamente para o capital da cooperativa, se houverem juros sobre o capital, eles
são limitados, e as sobras são destinadas ao desenvolvimento das cooperativas, de
acordo eom deliberações dos sócios;
• autonomia e independência (auto-gestão), de acordo com o qual mesmo
estabelecendo acordos operacionais com outras entidades, inclusive governamentais,
a cooperativa deve preservar o controle democrático pelos sócios e sua autonomia;
• compromisso com educação, treinamento e informação dos membros, para
desenvolvimento das operações cooperativas e da comunidade em relação ao
cooperativismo;
• cooperação entre cooperativas, visando o fortalecimento delas e das atividades
econômicas em questão;
• preocupação com o desenvolvimento sustentável da comunidade, por meio de
políticas aprovadas pelos membros.
í Ana l.ucia Cortc#o*o
13. Ainda que formulados de modo genérico, estes princípios estabelecem limites e
possibilidades para organizações que se apresentam como esforço de resistência à
exclusão que resulta da organização econômica e social vigentes, independentemente de
representarem iniciativas com potencial para enfrentar tal organização. Constitui, neste
sentido, uma exigência de produção de conhecimento capaz de amparar, ao menos, as
tentativas de construção de alternativas ao modelo predominante de relações de trabalho
e humanas em geral. Ainda que o papel do movimento cooperativista, em termos de sua
condição para enfrentar a realidade social e econômica vigente, seja um assunto polêmico
e objeto de exame no âmbito político e científico.
Os princípios cooperativistas equivalem, pela generalidade de sua formulação, e
pela mobilização afetiva que geram, a palavras de ordem, estando subjacentes a eles um
conjunto de valores. Ajuda mútua, responsabilidade, democracia, igualdade, equidade e
solidariedade, honestidade, transparência, responsabilidade social e preocupação com
seu semelhante, expressões usualmente utilizadas para expressar tais valores são, contudo,
elas próprias, excessivamente genéricas para definir os contornos de tais empreendimentos
humanos e, por isso, insuficientes para orientar as ações envolvidas com a criação,
implementação e avaliação deste tipo de organização. Em outras palavras, um provocante
desafio de pesquisa para uma psicologia comportamental.
Formando profissionais para lidar com necessidades sociais
O exame da proposta cooperativista justifica-se de vários pontos de vista:
econômico, social, político... No âmbito da Psicologia, alguns motivos para interesse
sobre este tipo de empreendimento podem ser destacados.
Uma ainda presente limitação de profissionais de nível superior para atuar e para
promover atuações orientadas pela concepção de campo de atuação profissional, mais do
que pelo mercado de trabalho (Rebelatto e Botomé, 1999) é uma destas razões. A despeito
do tempo decorrido desde considerações já históricas sobre a relevância de preparar
profissionais para identificar necessidades e possibilidades de atuação profissional, propor
alternativas e implementar intervenções considerando as necessidades sociais existentes e
o conhecimento disponível, e não para buscar empregos, mesmo considerando alguns avanços
nesta direção, ainda parece insuficiente o que foi possível modificar, substancialmente, na
formação em nível de graduação e, consequentemente, na realidade existente.
A possibilidade de lidar com cooperativas de trabalho constitui, neste sentido,
circunstância potencialmente favorecedora de formação de psicólogos mais preparados
para atuar sob controle de necessidades sociais, propondo alternativas de atuação
profissional para atender tais necessidades, e preparo de psicólogos empreendedores,
capazes de gerar oportunidades de trabalho para outros e não apenas (e quando muito)
competentes para garantir seus próprios empregos.
O conhecimento disponível sobre organizações cooperativas no âmbito da Análise
do Comportamento...
Outro tipo de justificativa para estudar e intervir no processo de criação e
funcionamento de cooperativas está relacionado ao conhecimento que vem sendo produzido
Sobre Comporldmenlo c CoRtilçÜo 3
14. no âmbito da Análise do Comportamento e os desafios que têm se configurado, em termos
de lacunas neste conhecimento. Assim como um certo sonho de um outro tipo de vida
para esta espécie.
A obra Walden Two, de Skinner (1948/1972), teve papel importante como inspiração
para muitos pesquisadores que não a compreenderam como obra de ficção ou como
anúncio do Apocalipse. Ainda que escrito em um momento em que muitas das descobertas
atuais sobre o comportamento humano não podiam sequer ser previstas, o romance facilita
compreender o significado de descobertas da Análise do Comportamento, mesmo mais
atuais. As considerações de Sidman, em seu livro Coerção e suas implicações (1989/
1995), acerca da possibilidade de uso de formas de controle comportamental não coercitivo
e da importância de não compreensão da coerção como "natural" ou inevitável, clareiam-se
diante da utopia skinneriana, que permite mergulhar em uma forma alternativa de
organização das relações humanas e, de dentro dela, acolher outras possibilidades, mesmo
reconhecendo os limites que apresentam e as dificuldades concretas para implementá-las.
Walden Two constitui, ainda hoje, fonte de encantamento e de esperança, que a
impossibilidade de estar em um outro mundo que não este tempera com algumas dúvidas
e, tantas vezes, com uma forte sensação de impotência, mas não consegue eliminar. A
provocação para produzir dados empíricos que a obra faz, contudo, talvez seja sua maior
relevância.
A comunidade de Los Horcones, no México, constitui demonstração viva deste
valor, e da possibilidade de outras formas de organização social. Afinal, e a despeito das
dificuldades, lá estão eles, vinte e vários anos depois, construindo possibilidades por meio
dos mesmos princípios que orientam, nos mais diversos laboratórios de Análise do
Comportamento que se espalham pelo mundo, investigações sobre diferentes fenômenos
e variáveis. E, em algum grau, indo além deles, à medida que tomam a si mesmos como
oportunidade permanente de investigação empírica.
Do ponto de vista formal, Los Horcones se estabeleceu, considerando a legislação
Mexicana, como uma cooperativa, sendo esta sua identidade legal. Como coletividade,
ela também adota "princípios” e Valores", expressos pela própria comunidade ao se
caracterizar como uma cultura:
• baseada na cooperação, não em competência;
• fundada na igualdade, não na desigualdade ou discriminação;
• com uma organização não hierárquica, aberta a todas as pessoas
independentemente de sua idade, sexo, nacionalidade, religião, nível cultural ou
econômico etc.;
• baseada em compartilhar, não em apropriar-se;
• pautada no pacifismo, não na violência ou agressão;
• que respeita as crenças religiosas, desde que não sejam utilizadas para atacar,
discriminar ou competir com pessoas que tenham outras crenças;
• ecologicamente orientada;
• que busca a auto-suficiência em todos os aspectos possíveis.
4 Ana l.ucid Cortf#o*o
15. A comparação dos princípios cooperativistas e das características propostas para
Los Horcones evidencia semelhanças, tanto em relação às direções propostas quanto na
generalidade de formulação de seus princípios. Ambas convocam para a produção de
conhecimento e para a geração de contingências capazes de oferecer novas possibilidades
de relações pessoais a um mundo que esgota velozmente sua capacidade de sobrevivência
nos danos que causa aos indivíduos, à natureza e à espécie.
Uma Incubadora de Cooperativas Populares...
A partir de experiência iniciada na Universidade Federal do Rio de Janeiro, e já
compondo uma rede com pelo menos 14 unidades (Gonçalo, 2000), vêm sendo criadas
incubadoras universitárias de cooperativas populares. Com o propósito de produzir
conhecimento sobre o funcionamento de cooperativas de trabalho e sobre o processo de
incubação deste tipo de organização para o trabalho, e tendo como prioridade segmentos
economicamente excluídos da população, atuam nestas incubadoras docentes, alunos
de graduação e pós graduação e profissionais de diferentes áreas do conhecimento e
campos profissionais.
A partir do atendimento a solicitações apresentadas por grupos de indivíduos
interessados em organizar cooperativas populares ou por agências interessadas em
promover a formação de cooperativas ou por solucionar problemas sociais por meio desta
iniciativa (prefeituras, sindicatos etc.), ou ainda a partir de diagnósticos sobre necessidades
da população (mesmo não havendo nenhum solicitante), têm sido desenvolvidos processos
de incubação, bem como produzido e sistematizado conhecimento sobre aspectos diversos
deste processo.
Uma destas incubadoras foi criada na Universidade Federal de São Carlos, SP,
em 1999, a INCOOP, na qual tem sido possível contar com a participação de alunos,
profissionais e docentes de Psicologia, dentre outros. Tal participação tem possibilitado
identificar necessidades no âmbito desta área de conhecimento e desenvolver um conjunto
de atividades de pesquisa e de intervenção profissional como parte da formação de
psicólogos.
Constituem frentes de atuação em Psicologia, já identificadas nestas situações,
em relação a cooperativas de trabalho e à incubação de cooperativas populares:
1) Produção de conhecimento sobre cooperativas e sobre incubação de cooperativas;
2) Intervenções em situações diversas do processo de incubação de cooperativas.
Em relação a produção de conhecimento...
A identificação (ou por vezes proposição) de comportamentos que constituem (ou
devem constituir) uma organização tem se mantido como projeto permanente de pesquisa,
produzindo dados que podem ser considerados como fundamentais para que questões de
outra natureza possam ser adequadamente formuladas e para que sejam produzidas
respostas cientificamente satisfatórias para elas. No âmbito do ensino, a relevância de
anteceder a definição de como ensinar de uma adequada definição de "o quê" e "porque"
ensinar, tem sido enfaticamente defendida com base no conhecimento tornado disponível
Sobre Comportamento e Cotfniváo 5
16. pela Análise do Comportamento. Skinner, principalmente em seu livro Tecnologia do Ensino
(1968/1972), talvez seja pioneiro nestas considerações mas, na década de 80 Botomó
(1981), e mais atualmente Zanotto (2000), fazem abordagens vigorosas a este problema.
O mesmo tipo de equívoco (apontado por Melchior, 1987, entre outros), de buscar
ou oferecer "soluções" antes mesmo de comprovar a existência de “problemas" e identificar
suas características e limites, ou ainda de prever como ensinar, sem saber o quê deve ser
ensinado ou, mesmo, de buscar respostas para a pergunta “como ensinar" sem tomar "o
quê" deve ser ensinado como objeto de estudo sistemático, pode ser observado em
situações como aquelas com as quais se deparam profissionais, docentes e alunos ao se
responsabilizar por processos de incubação de cooperativas populares.
Mesmo dispondo de um conjunto de princípios definidores do tipo de organização
que era desejável, e que a delineava quanto ao seu papel social, a comunidade de Los
Horcones identificou a necessidade de explicitar objetivos, com a perspectiva de que
fossem comuns - condição indispensável para que seja possível cooperar pelo bem comum.
Ainda que compreendida como uma lista a ser modificada - o que de fato ocorreu e tem
ocorrido no decorrer dos anos - este conjunto de objetivos servia para que os membros da
comunidade soubessem que tipos de condutas a comunidade desejava promover, que
tipos desejava reduzir ou eliminar. Deste conjunto de objetivos foi derivada uma lista de
condutas consideradas como comunitárias, acompanhada das razões pelas quais eram
consideradas apropriadas para a vida comunitária, e de “contra exemplos" - ou condutas
incompatíveis com as desejáveis. A comunidade estabeleceu, para si, um "código de
condutas".
Ao comentar o processo de desenvolvimento deste código (atualmente substituído
pelo código de contingências comunitárias), em sua página na Internet
(wvvWxl0^QrCQ^nes.0Ca,ril^C0djg0,Mrnl)1 OS autores do texto ressaltam as dificuldades para
lidar com o código inicialmente formulado. Embora o código inicial ajudasse a prevenir
que cada membro interpretasse de forma particular cada objetivo, e fossem gerados conflitos,
o passar dos anos demonstrou ser este código insuficiente para produzir mudanças
duradouras no comportamento dos membros. Desta forma, a comunidade constatou que,
embora seus membros apresentassem condutas cooperativas, o faziam em condições
específicas (diante da presença de observadores, por exemplo) e nào em todas as situações
relevantes.
Um^exemplo como este, utilizado para ilustrar dificuldades encontradas na
comunidade, sugere ser tal dificuldade originada de um equívoco muito frequente, que é o
de tomar como referência classes de respostas como se fossem classes de
comportamentos - entendidas aquelas como o conjunto de ações equivalente de um
organismo, e estas como o conjunto de relações classes de estímulos antecedentes -
classes de respostas - classes de estímulos subseqüentes funcionalmente semelhantes.
Ainda que detalhadas, as descrições de condutas desejáveis inicialmente elaboradas
pela comunidade estavam, aparentemente, centradas nas respostas esperadas, e
enfatizavam a topografia destas respostas, quando na verdade o desejo da comunidade
era a de que os seus membros apresentassem determinadas respostas sob controle de
aspectos específicos (antecedentes e subsequentes) do ambiente. Ao substituir o código
de condutas pelo código de contingências comunitárias, a comunidade compôs para si
um referencial constituído de descrições de relações comportamentais desejáveis, nas
6 Ana I ucia C ortejo*«
17. quais eram explicitadas não apenas as ações (ou classes de respostas) envolvidas, mas
as condições diante das quais estas ações eram esperadas, e as consequências ou
razões que deveriam mantê-las.1
A experiência de Los Horcones, em termos de construção de um conjunto de
normas verbais capazes de orientar a conduta de um conjunto de indivíduos que partilha
de alguns referenciais, colocou em evidência a necessidade de dispor de um conjunto
muito mais especifico de regras do que os princípios orientadores e mesmo do que a
enumeração de simples ações desejáveis no âmbito de uma organização com as
características pretendidas, para que fosse possível identificar e implementar contingências
comportamentais capazes de garantir a ocorrência e a manutenção destas condutas.
Tal como os objetivos, valores e características descritivas de Los Horcones, os
princípios cooperativistas são excessivamente genéricos para orientar a criação e a
implementação de cooperativas tal como as que são delineadas na proposta cooperativista.
Indagados sobre que condutas dos indivíduos são necessárias para que uma cooperativa
funcione apropriadamente, mediadores do processo de incubação apresentaram respostas
genéricas e diversificadas, apontando uma multiplicidade de interpretações e ênfases dentro
de uma mesma equipe de trabalho (Franchini, 2002). Tal situação evidencia a necessidade
de que as diferentes concepções sobre as condutas de interesse sejam afinadas, com
base em convenções mais específicas, e expressas em linguagem capaz de representar
adequado controle de estímulos para as condutas destes indivíduos ao participar de
processos de incubação de cooperativas. Dificuldades de funcionamento interno de uma
organização que pretende preparar indivíduos para atuar cooperativamente, mas que se
defronta com suas próprias limitações para atuar cooperativamente, mesmo considerando
definições amplamente aceitas de cooperação, confirmam a necessidade de investir na
busca de respostas sobre que comportamentos humanos constituem uma organização
do tipo cooperativa popular de trabalho.
A expressão "comportamentos humanos que constituem uma organização" tem,
subjacente a ela, a concepção de que organizações são comportamentos, em suas
complexas redes de relações - e não apenas os inclui ou contém. Neste sentido, apontar
para a necessidade de identificar que comportamentos são desejáveis em uma cooperativa
de trabalho corresponde a destacara necessidade de definir esta organização com qualidade
e especificidade capazes de gerar, em torno dela, um alto grau de acordo entre seus
membros sobre o que ela é ou deve ser, e que oriente suas ações de forma que ela se
torne viável como“empreendimento humano com determinados objetivos e função social.
Que comportamentos são esperados de uma cooperativa de trabalho, como
organização? Que comportamentos são esperados de cada um de seus membros? Que
comportamentos são esperados de uma organização que visa incubar cooperativas
populares? Que comportamentos são esperados de cada um dos membros de uma
organização que assuma tal responsabilidade, ao atuar no processo de incubação? Com
a mesma perspectiva apontada pela comunidade Los Horcones, que destaca a necessidade
de rever permanentemente, e a partir de conhecimento confiável produzido, as propostas
de quais são os comportamentos que produzem os resultados desejáveis para a
’O» conceito* de comportamento a contingência nfto Mo uMi/adoa de forma Itomogânea no âmbito da AnAHite do Comportamento Emborn relevante esta
ditcuMâo nâo terá feita neate contexto Deete modo, o termo conttngéncM eali tendo utM/ado de acordo oom o uio leito dele em texto da comunidade Los
Horoone» em que eete awunto 6 abordado
Sobrr 1'omport.imrnto r ('ognipio 7
18. organização, tem sido realizado um trabalho de identificação de comportamentos
potencialmente relevantes para estes diferentes níveis, a partir de diferentes fontes
disponíveis. Descrições destes comportamentos, em termos de classes de respostas,
condições diante das quais estas classes são esperadas (classes de estímulos
antecedentes) e resultados, efeitos e produtos desejáveis destas ações (ou classes de
estímulos subseqüentes), bem como análises de comportamentos em termos de seus
comportamentos mais específicos, têm sido elaboradas, e constituem contribuição tanto
para a compreensão dos processos envolvidos com a constituição e funcionamento de
cooperativas, quanto para o trabalho da incubadora.
Até o presente momento, o esforço por identificar condutas de interesse no âmbito
da organização cooperativa de trabalho e de analisar estas condutas em outras mais
específicas que as compõem, possibilitou estabelecer um ponto de partida que parece ser
mais apropriado para formular perguntas de pesquisa e para elaborar propostas de
intervenção do que as expressões usualmente utilizadas para definir características e
finalidades de tais organizações.
Quatro grandes categorias de comportamentos envolvidos no complexo processo
de geração e funcionamento de cooperativas atendidas por uma incubadora como a
INCOOP, foram propostas como relevantes para estudo: condutas de cooperantes (membros
de cooperativas); condutas de cooperativas como organizações com determinadas
características e finalidades; condutas de incubadoras de cooperativas com tais
peculiaridades e condutas de indivíduos que atuam como mediadores do processo de
incubação.
No caso de comportamentos de membros de cooperativas, foram identificadas
categorias de comportamentos relacionadas a três grandes subcategorias: comportamentos
relativos à avaliação de viabilidade da cooperativa, comportamentos relativos à implantação
da cooperativa e comportamentos relativos ao processo de constituição e funcionamento
da cooperativa. No âmbito desta última subcategoria, foram identificados comportamentos
de indivíduos em alguns âmbitos: administrativo, profissional, pessoal e de relações
interpessoais. Em relação a cada uma destas novas categorias, foram identificados
comportamentos, gerais e específicos, produzindo um “mapeamento” de comportamentos
humanos e organizacionais considerados como significativos para o adequado funcionamento
de uma cooperativa e de uma incubadora universitária, com os objetivos propostos para
estas organizações.
Para grande parte dos comportamentos identificados, foi possível ainda elaborar
definições compatíveis com a noção de comportamento como relação ambiente-organismo,
tal como ilustrado no Quadro 1.
Outros estudos têm sido desenvolvidos, na perspectiva de produção de
conhecimento sobre os objetos de interesse da Psicologia no âmbito da Incubadora. Cinco
estudos sistemáticos foram iniciados por alunos de graduação em Psicologia no âmbito
da INCOOP, e três deles encontram-se já concluídos: um deles, voltado para a investigação
de condições favorecedoras e desfavorecedoras de comportamentos verbais indesejáveis
em cooperativas, com informações obtidas por meio de entrevistas com cooperantes e
mediadores do processo de incubação (Vieira, 2001); outro, investigando relações entre
aspectos do comportamento de mediadores em reuniões do grupo em incubação e
propriedades de processos decisórios em cooperativas, a partir de informações obtidas
8 Ana Lúcia CorteRtKo
19. Quadro 1. Descrição da classe de comportamentos de membros de cooperativas populares
em seus elementos componentes
Diante de... 0 que fazer Com os seguintes resultados,
efeitos, produtos
• Quaisquer situações em que haja
necessidade ou oportunidade de • acesso às informações garantido
comunicação no âmbito da COMUNICAR-SE para o(s) interlocutor(es)
cooperativa COM OUTROS • possibilidade de continuidade da
* Características do(s) Interlocutor(es) COOPERANTES comunicação com probabilidade
• Características da informação a ser aumentada
transmitida/ assunto a ser tratado
• Objetivos a serem atingidos com a
comunicação
• Condições disponíveis para a
comunicação
por meio de observação de situações de tomada de decisão mediadas em cooperativas
(Cia, 2001); o terceiro, buscando identificar relações entre aspectos da organização do
trabalho (funções fixas x rodízio de funções) sobre satisfação do trabalhador, com
informações obtidas a partir de entrevistas com cooperantes (Ferreira, 2001). Um dos
trabalhos ainda em desenvolvimento pretende avaliar a eficácia de uma estratégia de
construção de código de conduta cooperativa como condição para promover comportamentos
cooperativos e o outro identificar variáveis favorecedoras e desfavorecedoras de inserção
de novos membros em grupos já constituídos.
Em relação a intervenções junto a grupos incubados...
Em termos de intervenções diretas no processo de incubação de cooperativas,
elas têm se dado nas formas de: a) apoio a grupos de trabalho no âmbito de cooperativas,
b) participação em equipes multiprofissionais e multidiscipinares de incubação e c) apoio
para o funcionamento da incubadora como organização.
Apoio a grupo dae trabalho de uma cooperativa de limpeza e zeladoria.
A cooperativa atendida, que já mantinha um grupo de cooperantes realizando
atividades de limpeza no restaurante da instituição contratante (uma universidade), passou
a ocupar postos de trabalho em um serviço de apoio ao ensino de graduação nesta mesma
instituição, realizando atividades de agendamento de solicitações de equipamentos
audiovisuais de docentes e alunos para atividades didáticas, transporte, instalação e
manutenção destes equipamentos, controle de empréstimo, utilização e devolução de
equipamentos, controle das condições ambientais de salas de aula etc.
Considerando a novidade do serviço mesmo para a contratante do serviço e a
inexistência de experiência anterior com as atividades requeridas para funcionamento do
serviço, o grupo de trabalho necessitou de apoio para organizar o desenvolvimento das
atividades e mesmo para interagir com a contratante ao definir responsabilidades e
Sobre Comportamento c Co^niçAo Ç
20. procedimentos. Para tanto, foram realizadas, com a participação de alunos do curso de
graduação em Psicologia, sob supervisão, atividades como: identificar dificuldades no
desenvolvimento das atividades e na interlocução com a instituição contratante, propor e
apoiar implantação de procedimentos e materiais para execução e avaliação das atividades
(reserva de equipamentos, controle de entrega e recebimento etc.), criar condições para
capacitação do grupo na realização das atividades, criar condições para a adequada inserção
dos membros do grupo de trabalho que passaram a fazer parte da cooperativa em função
das exigências de formação académica imposta pela contratante para ocupação dos postos
de trabalho etc.
Participação em equipes de incubação
Juntamente com alunos e docentes de outros campos profissionais e áreas do
conhecimento, alunos do curso de Psicologia, sob supervisão, participaram de processo
de incubação na condição de membro da equipe de incubação. Esta equipe, neste caso,
era responsável por desenvolver este processo, partindo de "etapas" gerais já delineadas
no âmbito da Incubadora a partir de experiências acumuladas, sendo que etapas mais
especificas, sequência de desenvolvimento de etapas, procedimentos e recursos envolvidos
na implementação do processo e no enfrentamento de problemas surgidos constituíram
objetos de definição e investigação.
Constituem etapas do processo de incubação, tal como proposto no atual estágio
de desenvolvimento da Incubadora: identificação e recrutamento de membros potenciais:
apresentação e sensibilização dos atores envolvidos: formação e consolidação do grupo
potencial para formação de cooperativa; capacitação dos participantes do grupo potencial
para o cooperativismo; escolha da atividade econômica; capacitação técnica dos membros
em relação à atividade econômica selecionada; capacitação administrativa dos membros
do grupo potencial ou constituído para autogestão; elaboração do estatuto; legalização da
cooperativa; assessoria para implementação das atividades da cooperativa; desincubação
da cooperativa. No desenvolvimento do processo de incubação, são realizadas atividades
como: planejamento de reuniões, coordenação de reuniões, preparo e execução de
treinamentos, apoio para organização do grupo e do trabalho etc.
Apoio à incubadora como organização
Em termos de atividades de apoio à incubadora como organização, foram
desenvolvidas algumas atividades: elaboração, implementação e avaliação de processo
de inserção de novos participantes na Incubadora; proposição e implementação de
sistemática de trabalho para a equipe: tipos de reuniões, objetivos, características,
procedimentos e instrumentos para realização de atividades etc.; identificação e descrição
de comportamentos da Incubadora, como relações entre ações e ambiente, de
organizações e de indivíduos, desejáveis no âmbito da proposta cooperativista e de
incubação de cooperativas populares de trabalho.
Quanto a processos de inserção de novos membros na Incubadora, foi proposta
uma sistemática que prevê um conjunto de atividades a serem desenvolvidas, algumas
permanentemente, outras de forma episódica (cadastro de interessados, apresentação da
incubadora, curso introdutório sobre cooperativismo e assuntos afins, triagem, treinamento
1 0 Ana Lucid Corteno*o
21. em serviço, manutenção do interesse de alunos não aproveitados em projetos e avaliação
da sistemática), para as quais foram explicitadas a função e as características principais.
Uma síntese desta sistemática pode ser vista no Quadro 2.
Quadro 2. Sistemática de inserção de alunos na equipe INCOOP proposta como parte das
atividades de apoio ao funcionamento da incubadora pela equipe de Psicologia.
Atividade Função Características
Cadastro
do Interessados
Facilitar a localização de pessoas
para compor equipes: orientar a
INCOOP na proposição de
atividades de inserção de
interessados quanto n época de
ocorrência
Preenchimento de uma ficha com dadoB
pessoais, académicos e de interesse e
expectativas A ficha deve estar disponível nf
INCOOP e com os membros da equipe,
permanentemente
Apresentação da
INCOOP(2)
Subsidiar interessados como
divulgadores da INCOOP e para
sua decisão quanto ao tipo de
envolvimento que terá com o
projeto
Reuniôo breve, de aproximadamente duas
horas, com informações gerais, contexto em
que a INCOOP se insere, função,
composição, atividades regulares, projetos dei
incubação, possibilidades de participação de
interessados etc Apresentação de recursos
motivacionaís (filme) e disponibilização de
recursos para esclarecimentos conceituais
(textos)
Curso Introdutório
sobre
cooperativismo e
sobre a proposta da
INCOOP
Apresentar aos interessados
informações necessárias para
tomada de decisões sobre
inserção, garantir capacitação
preliminar para participação em
atividades; subsidiar equipes na
triagem de alunos
Desenvolvimento de atividades em módulos
relativos a a) conceitos básicos e princípios
do cooperativismo, b) processo de incubaçAo
c) motivação e treino para trabalho em
equipe e junto a grupos; d) projetos
desenvolvidos e em desenvolvimento
Triagem Selecionar alunos a serem
convidados a participar, como
parte de uma equipe e na
condição de voluntário, do
acompanhamento de um grupo
em processo de incubação
Podendo ser feita apenas a partir do contato
entre equipes o alunos interessados ou com
dmãmica(s) especlfica(s) adicionais, sempre
envolvendo a equipe, com classificação de
todos os interessados
Capacitação em
serviço
Completar a capacitação
iniciada, levando em
consideração o contexto
especifico em que o trabalho é
desenvolvido, de modo a garantir
autonomia e adequado controle
de estimulos para ações
individuais e participação em
atividades coletivas
Participação dos alunos em atividades
programadas, de nfvel crescente de
dificuldade, acompanhadas de forma a
garantir “dicas" e “feed-backs'' sistemáticos
para desempenho desses individuos e
condições para generalização das condutas
relevantes para o processo de incubação
Avaliaç&o
do processo
Subsidiar decisões da equ»pe
sobre processo de inserção de
novos alunos, sejam de
manutenção, sejam de mudanças
Reunião geral com participantes de projetos,
para discussão sobre o andamento do
processo, identificação de dificuldades e
definição de encaminhamentos
Manutenção de
Interesse dos não
inseridos em
projetos
Garantir a possibilidade de contar
com a participação de pessoas já
familiarizadas com a proposta em
momentos futuros ou novos
projetos
Informes, convites para participação em
grupos de estudo, palestras, oficinas etc.
Sobrr Comportamento c Co^nlçAo 11
22. De acordo com a sistemática de inserção de alunos proposta, está previsto um
envolvimento gradual e uma capacitação crescente dos interessados. A sistemática prevê,
ainda, diversidade de tipos de participação e a manutenção de interesse e proximidade
dos indivíduos que buscam a Incubadora, mesmo quando a possibilidade de participação
destes indivíduos é restrita ou não imediata.
No Quadro 3 pode ser encontrada uma síntese da sistemática de reuniões proposta
para a equipe da Incubadora, como forma de apoio ao seu funcionamento.
Quadro 3 - Sistemática de encontros dos membros da INCOOP, em termos de tipos de
reuniões e suas características.
1. Reuniões gerais ordinárias de caráter deliberativo, com pauta previamente indicada
om convocação especifica, que deverão ocorrer quinzenalmente, salvo convocações
extraordinárias adicionais ou inexistência de assuntos que justifiquem sua ocorrência.
Nestas reuniões, além de informes (que deverão ser apresentados com brevidade, de
preferência selecionados de lista elaborada no inicio da reunião), serão discutidos e
encaminhadas questões com caráter de urgência, monitoramento dos projetos em
andamento, apreciação de propostas elaboradas em reuniões preparatórias e outros
assuntos considerados pertinentes pelos membros da Incubadora;
2. Reuniões gerais ordinárias de trabalho, preparatórias de reuniões deliberativas, com
temas de interesse da Incubadora, indicados em reuniões deliberativas. Tais reuniões
deverão ocorrer também quinzenalmente, altornadas com as do primeiro tipo (a monos
que seja necessária a ocorrência de reuniões deliberativas extraordinárias ou que o
desenvolvimento dos trabalhos de preparação exijam maior duração). Exemplos do temas
que requerem reunião ou organização de informações ou elaboração de propostas
preliminares: critérios para compor equipes responsáveis por incubação de grupos,
critérios para elaboração de orçamentos (incluindo existência e valores de bolsas
institucionais para alunos e docentes), critérios para aceitação ou identificação de
demandas, formas de operacionalização dos princípios do cooperativismo (no
funcionamento da Incubadora e om cooperativas), funções e limites de autonomia dos
diferentes participantes da Incubadora, procedimentos para geração de fundos, critérios
para utilização de recursos disponíveis, acesso ao conhecimento produzido a partir da
atuação da Incubadora. Em reunião deliberativa deverão ser estabelecidas prioridades
para o encaminhamento destes (e de outros temas que venham a ser acrescentados à
lista) em reuniões preparatórias.
3. Reuniões de equipe, para tratar de encaminhamentos relativos ao grupo atendido pela
equipe para incubação ou ao projeto pelo qual a equipe responde, com dinâmica,
periodicidade, data, assuntos e local definidos pela própria equipe, e indicados no quadro
de atividades da Incubadora.
4. Reuniões de grupos temáticos (de estudo ou trabalho), para atender a necessidades e
Interesses específicos de uma parte dos membros.
Observação: as diferentes reuniões deverão ser Indicadas em quadro destinado a esta
finalidade, devendo ser usadas cores correspondentes aos tipos de reuniões e grupos ou
projetos, de modo a favorecer sua identificação por todos os participantes da INCOOP.
12 And I ucid Cortftfoío
23. Diferentes tipos de reuniões, em termos de finalidade, condições e exigências
para ocorrência e participação, composição etc. foram previstos, de modo a possibilitar
uma articulação de atividades a serem desenvolvidas por um conjunto também diversificado
de pessoas, em termos de vinculação com a Incubadora, interesses, disponibilidades etc.
Favorecer processos de tomada de decisão com alto grau de acesso a informações por
parte de todos os potencialmente interessados e possibilidade de participação ampla, a
despeito das dificuldades práticas envolvidas na reunião de tal diversidade, foi um dos
objetivos estabelecidos e orientadores da proposta, ainda em implantação e teste.
O apoio ao funcionamento da incubadora se dá também em relação aos
mediadores que desenvolvem o processo de incubação junto aos grupos de cooperantes.
A proposição de recursos favorecedores de condutas de mediadores do processo
de incubação relevantes para instalar e manter condutas de cooperantes e da cooperativa
identificados como desejáveis no contexto da proposta cooperativista aplicada a cooperativas
populares de trabalho, constituiu o objetivo desta frente de intervenção com Psicologia na
Incubadora.
Tomando como base condutas de indivíduos identificadas como relevantes para a
participação em cooperativas populares de trabalho, foram elaboradas: a) descrições
comportamentais destas condutas e b) sugestões sobre como mediadores podem atuar,
ao interagir com grupos em processo de incubação, de forma a favorecer a instalação e
manutenção destes comportamentos.
A descrição comportamental dos comportamentos indicados como desejáveis,
com a explicitação não apenas de ações, mas das condições antecedentes (aquelas
diante das quais tais ações são desejáveis, ou estímulos discriminativos, e das que são
necessárias para a ação ocorrer) e das condições subsequentes (resultados, produtos ou
efeitos esperados destas ações) já constitui, por si só, uma contribuição para o trabalho
dos mediadores. Ao tornar explícitos os aspectos considerados relevantes na relação
comportamental, a descrição comportamental facilita a conferência do grau de concordância
sobre o fenômeno de interesse, a identificação de concepções diversas dentro da mesma
equipe e o estabelecimento de convenções mais apropriadas para orientar um trabalho
consistente, por parte dos mediadores, junto aos grupos. Um exemplo do tipo de descrição
elaborada foi apresentada no Quadro 1.
A esta contribuição foi acrescida a indicação de providências, de diferentes graus
de complexidade, que podem ser implementadas pelos mediadores, para promover, em
situações cotidianas ou formalmente conduzidas para esta finalidade, condutas desejáveis
dos membros do grupo para o adequado funcionamento de cooperativas.
No Quadro 4 são apresentados exemplos de procedimentos e providências
propostos como forma de orientação dos mediadores para que sejam promovidos
comportamentos de comunicação entre os cooperantes (e destes com outras pessoas),
um daqueles considerados como relevantes de serem apresentados por indivíduos que
participam de uma cooperativa, desde sua proposição até a implementação e administração
de seu funcionamento.
Sobrr Comportamento e Corti*v3o 13
24. Quadro 4. Exemplos de providências e procedimentos sugeridos aos mediadores para
instalar e manter comportamentos no âmbito da comunicação em cooperantes de grupos
em processo de incubação.
- em reuniões com o grupo de cooperantes, a) propor que todos se manifestem, dôem
suas contribuições para o encaminhamento do debate; b) fa*er perguntas ou comentários
sobre o assunto discutido; c) destacar a Importância de uma comunicação adequada
para o grupo.
- em reuniões com o grupo, pedir para que os próprios cooperantes se organizem em
grupos menores para discussão de determinado assunto, de modo a facilitar a
comunicação dos mais tímidos, e posteriormente, propor uma discussão com todo o
grupo.
- em quaisquer situações de comunicação, destacar aspectos favorecedores de
comportamentos adequados de comunicação que tenham ocorrido.
- apresentar modefos de forma de comunicação adequada e, sempre que possível,
destacar as propriedades adequadas demonstradas
Uma adequada caracterização de comportamentos de cooperação e de
concepções de cooperantes e de mediadores sobre "cooperação", com elaboração de
estratégias e recursos para desenvolvimento de comportamentos de cooperação em
cooperantes, como forma de apoio ao trabalho dos mediadores, foi também iniciada. Os
produtos deste trabalho devem contribuir, também, para o funcionamento da Incubadora,
que se encontra em uma fase de avaliação e reformulação de seu funcionamento como
equipe de trabalho, em função, dentre outras coisas, de dificuldades para implementar,
dentro dela mesma, condições de trabalho compatíveis com a proposta cooperativista.
Cooperativas de trabalho como organização de interesse: controle de estímulos
para comportamentos ao produzir conhecimento e ao intervir profissionalmente
As possibilidades de atuação abertas pela ampliação dos empreendimentos
solidários, para pesquisadores e profissionais em Psicologia é considerável, e requer
respostas relativas tanto ao melhor aproveitamento do conhecimento disponível sobre
conduta humana, organizações em geral e organizações de trabalho, quanto para produção
de conhecimento especificamente voltado para as exigências comportamentais impostas
pela necessidade de gerar e manter novas formas de relações em relação às predominantes.
A inserção de pesquisadores da área Psicologia, e de profissionais, formados ou em
formação, do campo profissional que mais diretamente depende do conhecimento da área,
em projetos multidisciplinares e multiprofissionais contribui para que, de modo amplificado,
a Psicologia responda a este desafio com conhecimento de qualidade, socialmente relevante
e promissor para que seja possivel alcançar uma sociedade mais justa e digna. Nesta
direção, parece relevante que pesquisadores e psicólogos decidam não apenas lidar com
situações correspondentes a necessidades sociais relevantes, mas buscar sua própria
exposição a ambientes favorecedores da percepção de tais necessidades.
14 Anu J.ucw Lortetfoío
25. Referências
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Sobrt Comportamento c totfnjçilo 15
26. Capítulo 2
A manipulação no contexto clínico *
Atm Mdrià LéStnéchâl-Machiuio "
A manipulação no contaxto clinico pode ser vi»t« como uma estratégia d« análise funcional, á medida que for utili/ada pelo
terapeuta para iniciar e dasignar uma ahordagnm particular á problemática apresentada pelo cliente Assim, o teraponta
poderá manipular estímulos associados a consequências positivas, tais como descritas pelo cliente, de forma a tornar
algumas açAes deste mais prováveis e mais favoráveis ao alcance do objetivos mais funcionais, mais aduptatlvos Atravós
da manipulação de contingôncias t do estabelecimento de condições indicadoras de provável alivio do sofrimento ou dn
) gratificação efetiva, transformações nos repertórios disfuncionais do cliente podem ser produzidas. A manipulação no
", contexto clinico se Insere, em grands parte das intervenções, quando o objetivo do terapeuta è ensinar o cltenlo sobre o que
fazer, em vez de. simplesmente, alertá-lo sobre o que nâo fazer. Quando as práticas de controle do comportamento sâo
explicitadas, o contracontrole se torna menos dificll, pois se fica sabendo de quem se deve escapar ou a quem se deve
atacar Quando a manipulação explicita o controle, a funcionalidade do contracontrole aparece e a coerçAo enfraqueço. A
funcionalidade da manipulação na relaçáo pnlcoterápica è (ratada, neste toxto, como uma proposta de Intorvençâo çentrada
na pessoa do cliente e no modo ético de contingenciaçâo e de atendimento clinico comportamental
Palavras-chave: mampulaçfto clinica; contracontrole coercitivo; funcionalidade
The manipulation in the clinical context may be seen as a strategy of functional analysis, as it is used by the therapist to
initiate and designate a particular approach to the problematic presented by the client Thus, tlie therapist will be able to
manipulate stimuli associated to positive consequences, such as they are described by the client, In a means to turn some
of his/her actions more likely and favorable to the achievement of more functional and adaptative goals. Through the
manipulation of contingences and the establishment of indicative conditions of feasible suffering relief or effective
gratification, transformations in the client's dlsfunctional repertories may be produced The manipulation in the clinical context
is Inserted, in aiost interventions, when the therapist's goal is to teach the client what to do, instead of simply alerting him/
her of what not to do When the practices of behavior control are made explicit, the countercontrol becomes less difficult,
because It becomes known of whom one should escape, or of whom one should attack. When the manipulation makes the
control explicit, the countercontrol functionality arises and coercion weakens The manipulation functionality in tho
psychotherapeutic relation is handled, in this text, as an intervention proposal centered in the client's person and In the ethical
manner of contingency and of clinical behavioral attempting.
Key words: clinical manipulation, coercive countercontrol; functionality.
O contexto clinico comportamental
As terapias comportamentais, e outras que se alinham a elas, têm enfatizado a
necessidade de uma investigação sistemática da disfuncionalidade de repertórios
' Texto mtmtmutóo na mmn rwdonó* 'MmUpulaçào do comport*nmlo dn fwicionaJKJíide h oo*fpío'. r6»llzi»d» dumnlaoX Cncontro B*mIMtd de Pticoleríipin
« Medicina Comportamenw, da Aaaociaçâo Bra»ile*a d« Pttootefaplíi • Medicina Comportamental - ABPMC, em Cainplna«/SP, «etembro da 2001
" Umveraidade Federal de Mina* Qerala - Faculdade de Filoeofle e Clénciaa Humana* - Departamento de Milcologla
1 6 And M.iria Lé Sénéchal-M<ich«nlo
27. comportamentais particulares, o que aponta na direção do estabelecimento de condições
terapêuticas específicas. Na condução do processo de atendimento clínico psicoterápico,
a direção relevante a ser empreendida tem sido a de se produzir, como objetivo final, o
autoconhecimento por parte do cliente. A esse respeito, Skinner (1989/19911) observa
que,
"A psicoterapia ô, freqüentemente, um espaço para melhorar a auto-observaçâo,
para ‘trazer à consciência' uma parcela maior daquilo que ô feito e das razões
pelas quais as coisas são feitas.’’ (págs. 46-47). Destacando ainda que "Todo
mmportamento, seja ele humano ou não humano, ó Inconsciente; ele se torna
'consciente’ quando os ambientes verbais fornecem as contingências necessárias
à auto-observaçâo.” (pág. 88),
sugere que ê a comunidade verbal que pode estabelecer as contingências que levam ao
conhecimento, na medida em que nos questiona sobre o que fizemos, estamos fazendo
ou estamos prestes a fazer. Assim, sob condições específicas - setting terapêutico, por
exemplo - mantidas pela comunidade verbal, é possível ensinar pessoas a relatar os seus
comportamentos privados, seus sentimentos mais íntimos, pois os comportamentos de
auto-observação e auto-descriçâo são produtos sociais. Portanto, se o autoconhecimento
depende da comunidade social, a situação terapêutica e o papel do terapeuta revelam-se
como aspectos importantes para a explicitação, ao cliente, das contingências atuantes
em seu contexto de vida pessoal e social. O terapeuta deverá conduzir o cliente à
discriminação dessas contingências e à respectiva alteração funcional delas. Deverá, ainda,
conduzir o cliente ao autoconhecimento, ensinando-lhe que, se "O euéo que uma pessoa
sente a respeito de si própria. "(Skinner, 1989/1991, pág. 45), ao se conhecer, uma pessoa
passa a ter, á sua disposição, informações sobre os outros e sobre si mesma que lhe
possibilitarão desenvolver repertórios comportamentais de autocontrole, que a auxiliarão a
lidar melhor consigo mesmo. Nesse sentido, o comportamento terapêutico voltado para a
análise funcional das contingências positivas e negativas da vida do cliente poderá incluir
a estratégia de manipulação (neste trabalho, denominada ‘manipulação terapêutica’) como
uma forma de interação e de condução do cliente ao ajuste comportamental e a um
estado de relações menos conflitante s e mais gratificantes (Beech, 1969/1971 ; Sidman,
1989/1995; Bernardes, 1993; Guilhardie Queiroz, 1997; Baum, 1994/1999).
A manipulação como procedimento
Manipulação, como uma categoria de conteúdo verbal de comportamento
terapêutico, foi, em trabalho anterior, definida como
“o conjunto de verbalizações emitidas por um indivíduo, em uma interação com
outro, no sentido de imprimir neste, de modo planejado, outras formas de agir,
que facilitem a realização funcional de um objetivo." (Lô Sônéchal-Machado,
1999, pág. 88).
Machado (2001), discutindo o papel da manipulação no contexto das relações
sociais, pessoais e íntimas, descreve manipulação como a maneira pela qual indivíduos,
intencional e propositadamente (embora não necessariamente conscientemente), alteram,
1A primeira data refera •« ao ano da ptibUcaçAo original, em inglêa, • a aagurtda ao ano da irnduçAo • «dtçAo. am portiiguéa, conauKada
Sobre Comportamento e Cojjnlçüo 17
28. mudam e influenciam ou exploram outros. Ainda com base em Buss (1987) e em Buss,
Gomes, Higgins e Lauterbach (1987), essa mesma autora observa que, no campo das
relações interpessoais, a manipulação pode ser reconhecida como inerente ao processo
de interação, o que não implica, necessariamente, a adoção de atitudes de maldade, de
malícia ou de intenção perniciosa. Muito embora tais atitudes possam estar presentes em
muitos destes processos interacionais, a manipulação comportamental, compreendida
como uma forma de controle de estímulos, não está vinculada à produção de relações
constrangedoras ou coercitivas, e sim à produção de comportamentos discriminatórios
que permitam a diferenciação de respostas mais aceitas socialmente e mais gratificantes
pessoalmente. O terapeuta vai procurar, nesse contexto, dar mais ênfase ao trato dos
problemas encobertos, dos quais o cliente não tem consciência. A manipulação, assim,
pode ser empregada como uma disposição de condições para a indução de uma decisão
ou ação, por meio de estímulos, verbais ou não, mas sem discussão (Lé Sénéchal-
Machado, 1993,1999; Machado, 2001).
A ‘manipulação terapêutica'
A manipulação terapêutica, no contexto clínico da análise funcional, justifica-se
na reconhecida ênfase atribuída à necessidade de aquisição e manutenção, pelo cliente,
de repertórios mais adaptativos, mais recompensadores, que privilegiem o
autoconhecimento e o autocontrole; e também, em grande parte das intervenções nas
quais o objetivo do terapeuta é, por exemplo, ensinar ao cliente sobre ‘o que fazer’, em vez
de, simplesmente, alertá-lo sobre 'o que não fazer'. Bernardes ( 1993) observa que
"o conjunto de características pessoais que compõem o repertório total relatado
por uma pessoa, constitui o eu que ela aprendeu a observar e, obviamente, não
abrange todas as suas probabilidades comportamentais nas diversas situações
de estímulos, " (pág. 67).
Assim, a apresentação direta de um estímulo funcionará como modelo de ação
diversa, criando, inclusive, condições para que novas respostas se instalem. Isto equivale
a dizer que parece ser muito importante o fornecimento de incentivos, a fim de que uma
pessoa mude de atitude: a alteração da atitude deve ser provocada através de incentivos e
reforçadores para que se incorpore ao repertório comportamental da pessoa e permita
melhores ajustamentos. A nossa comunidade social não costuma aceitar, amavelmente,
o fracasso e acaba por transformar os fracassados em vítimas, em pessoas ‘incompletas,
insatisfeitas, mal definidas’ - em pessoas com ‘falta de vontade’ para agir, pois fizeram
seleções mal feitas e continuam a fazê-las a cada dia. Durante o processo terapêutico,
pode-se supor que o terapeuta, conforme vai conhecendo o cliente, sua história passada
e seu 'aqui agora’, ou ainda, sua história de fracassos, de más escolhas e de punições, e
os convencimentos decorrentes, vai adquirindo melhores condições de identificação dos
níveis de privação e de estimulação aversiva que compõem o sistema de regras e de
contingências do cotidiano do cliente. Desse modo, o terapeuta vai sendo instrumentado
para fazer previsões, por exemplo, sobre o valor reforçador de uma determinada condição
e sobre a probabilidade de seu cliente empenhar-se na realização de comportamentos
pertinentes. A implementação de tais procedimentos, por parte do terapeuta, implicará o
que estamos chamando de ‘manipulação funcional’: através da apresentação de avisos,
de sugestões, de conselhos e de propostas de ensaios comportamentais, o terapeuta
18 Ana M.irid l.é Sénéchdl-Mdchdtlo
29. estará auxiliando o cliente a alterar a compreensão de suas dificuldades particulares e de
suas limitações especificas. Trata-se, portanto, do terapeuta assumir um desafio - o de
intervir de forma forte, ativa e dinâmica: instalar um regime terapêutico com objetivos e
planos de ação claros, nos quais o 'fazer' do cliente tem papel mais importante do que o
‘falar’ do terapeuta.
As metas clinicas compartilhadas
Na terapia comportamental, o cliente percebe logo que os objetivos do atendimento
são imediatamente esclarecidos de comum acordo com o terapeuta, o que permite a ele,
cliente, reconhecer o terapeuta como o indivíduo que, na relação em curso, é, em geral, a
pessoa mais ativa, mais animadora, mais persuasiva. Assim, pode-se supor que o terapeuta
não deverá negligenciar os fatores suscetíveis à modificação desejada por ambos (terapeuta
e cliente), concentrando sua relação com o cliente na identificação das contribuições
ambientais e dos processos de aprendizagem aos quais o cliente deverá ser exposto. De
acordo com Skinner (1974/1982), "O conhecimento vem sendo usado há muito tempo
para fins de controle.” (pág. 46), e é nessa direção, de dar a conhecer ao cliente os
controladores de seus comportamentos, que o terapeuta lhe explicita os esquemas e os
valores de reforçamento atuantes em sua vida atual e que, deficitários ou em excesso,
muito possivelmente atuaram assim em sua história de vida passada. O terapeuta, assim,
irá propor ao cliente a testagem de comportamentos em direção ao contracontrole.
Assumindo esse pape), o terapeuta facilitará ao cliente a seleção de outros repertórios e
de novas estratégias para contingenciar as apresentações incisivas e indutoras de ação,
fornecidas pelo seu (do cliente) cotidiano de relações sociais e interpessoais. É na relação
com o ambiente que um comportamento é selecionado, moldado e mantido por suas
conseqüências: é na relação com o ambiente que aprendemos a manejar o nosso próprio
comportamento e o comportamento dos outros, de modo a ajustar as nossas ações às
demandas do mundo que nos rodeia (Skinner, 1974/1982,1983;Sidman, 1989/1995). E
esse ‘manejo' pode incluir ‘manipulação’, intenção e propósitos funcionais para a obtenção
de bons desempenhos, no controle pessoal de nossas próprias vidas. Muitos progressos
no atendimento às dificuldades do cliente serão obtidos, conforme o terapeuta for
identificando as variáveis que estão no controle do ajustamento desse cliente. Para tanto,
o terapeuta precisa isolar as variáveis que supõe sejam específicas e importantes para o
bom funcionamento do cliente e então testá-las. Manipulando essas variáveis, o terapeuta
poderá distinguira que acontece: observando a freqüência com que o cliente se engaja
numa dada atividade, o terapeuta terá mais chances de identificar a grande maioria das
variáveis das quais aquela freqüência ó função. A esse respeito, Skinner (1953/1993)
observa:
“O poder de manipular as condições que afetam outro Indivíduo pode ser delega-do
ao indivíduo controlador por (...) agências organizadas. A relação entre
controlador e controlado pode assim ser caracterizada como a de (...) terapeuta a
paciente (...), professor a aluno, e assim por diante. (...) Mas quase todos controlamos
algumas variáveis relevantes, independentemente dos papéis como os
mencionados, que podem ser empregados em beneficio próprio. A isto se pode
chamar ‘controle pessoal’. O tipo e a extensão dependem dos dons e da habilidade
pessoal do controlador." (págs. 299-300).
Sobrr Comportamento t Cognição 19
30. A funcionalidade da ‘manipulação terapêutica’
Ao utilizar-se da estratégia de 'manipulação terapêutica', condições específicas
de observação de processos comportamentais do cliente estarão sendo criadas pelo
terapeuta. Sob condições relativamente controladas - o 'setting terapêutico' - o terapeuta
poderá localizar, mais facilmente, as funções do comportamento do cliente num contexto
mais amplo, mais generalizável. O que equivale a dizer que, ampliando-se a classe de
variáveis independentes, manipuláveis, ampliar-se-á também a classe de variáveis
dependentes a serem medidas e observadas funcionalmente (Skinner, 1974/1982; Guilhardi,
1988; Lé SénéchaUMachado, 1997, 2000). E é nesse ponto que a ‘funcionalidade da
manipulação’ vai permitir a identificação e a distinção do repertório de respostas ao controle
coercitivo, que vêm fazendo parte da vida do cliente. A partir dos relatos do cliente sobre
suas ações no dia-a-dia, o terapeuta passa a observar a regularidade entre condições
antecedentes, respostas do cliente e conseqüentes. O estabelecimento de relações
contigenciais entre esses eventos (antecedentes, comportamento e conseqüentes)
decorrente da análise funcional empreendida pelo terapeuta, junto com o cliente, favorecerá
a ambos a identificação das variáveis das quais o comportamento do cliente é função. Por
isso a ‘manipulação terapêutica’ se justifica, porque o terapeuta, ao dar conselhos ao
cliente, por exemplo, indica um comportamento a ser copiado: descreve, para o cliente,
as conseqüências de reforçamento implicadas na distinção entre o modo como está fazendo
as coisas e o modo novo ou nova vida.
"Todo o avanço em terapia comportamontal vai nessa direção, porque ela começa
mudando o mundo em que as pessoas vivem e assim, apenas indiretamente,
o que eias fazem e sontem. * (Skinner, 1989/1991, pág. 115).
Portanto, é preciso testar novos comportamentos para que a generalização dos
novos comportamentos, bem aprendidos, possa acontecer. Ou seja, para que o cliente
possa reconhecer que náo são os seus sentimentos e sim as condições em que eles
ocorrem ó que sáo importantes. Para sentimentos positivos ó imprescindível a construção
de contingências positivas. Nesse sentido, a possibilidade de manipulação de estímulos e
de modulação de comportamentos, em direção à ampliação de repertórios, se instala. Um
treinamento de evitação ou fuga, eventualmente, poderá ajudar o cliente a fazer
aprendizagens mais rápidas e atuações mais duradouras, de modo a que possa reduzir
boa parte dos eventos aversivos que controlam seu (do cliente) comportamento. Assim, a
'manipulação terapêutica’ poderá se voltar para uma programação de generalização das
novas maneiras de o cliente se relacionar consigo mesmo e com os outros, enfim, com
sua vida pessoal e social.
"Os estímulos verbais que chamamos conselhos, as regras ou as leis, descrevem
ou aludem a contingências de reforçamento. Pessoas que foram aconselhadas,
ou que seguem regras e obedecem a leis comportam-se por uma das seguintes
razões: seu comportamento foi diretamente reforçado pelas conseqüências
ou elas estão respondendo a descrição de contingências. Como e por que
e/as respondem a descrições ô explicado pela análise das contingências verbais
de reforçamento." (Skinner, 1989/1991, p.87-88).
E a 'manipulação terapêutica’ permite essa distinção e essa análise apurada.
2 0 An,i M.iriii l.f Sintchal-M dchdtlo
31. A funcionalidade no controle da coerção
Considerando-se a relação terapêutica como um contexto de relação interpessoal,
obviamente muitos comportamentos problemáticos, dificuldades e limitações do cliente,
nessa área, poderão ser evocados. A partir da manipulação terapêutica, a variabilidade de
comportamentos funcionais do cliente tem a chance de ser aumentada, em direção à
produção de conseqüências reforçadoras positivas naturais e sociais e ao ajustamento de
repertórios de fuga e esquiva aos esquemas coercitivos atuantes na vida do cliente. Portanto,
a exposição do cliente à estimulação aversiva e conseqüente enfrentamento do controle
coercitivo do seu espaço vital poderá promover a extinção de reações neuróticas e a
habituação a novos modos de contato, ou seja, a respostas diferenciadas de autocontrole.
A manipulação terapêutica visa, portanto, a alteração da capacidade do cliente para resolver
problemas e o fortalecimento de repertórios de contracontrole das condições ambientais
coercitivas (tanto encobertas quanto públicas):
"Modificamos a maneira pela qual uma pessoa vê alguma coisa, bem como o
que vê quando olha, através da manipulação das contingências; (...) Alteramos
as forças relativas de respostas através de reforçamento diferencial de cursos
alternativos de ação; (...) modificamos a probabilidade de ocorrência de um ato
ao mudarmos uma condição de (...) estimulação aversiva.” (Skinner, 1971/1983,
pág. 73).
O terapeuta como 'manipulador'
Ser terapeuta é estar na situação clinica como um explorador de potencial, no
sentido de levar o cliente a dar tudo de si para promover seu autoconhecimento e seu
autocontrole. Ser terapeuta é reconhecer, também, que o cliente sabe de si melhor que
qualquer pessoa, mas carece de consciência e poder de auto transformação: necessita
do terapeuta como aquele que o acompanhará no esclarecimento plausível de suas
disfuncionalídades, através de ‘manipulações’ funcionais, determinadas e não teimosas,
disciplinadas e não escravizantes. Skinner (1971/1983), ao esclarecer distorções quanto
ao entendimento dos comportamentos de 'incitar à ação’ ou de 'persuadir', afirma que,
quando fazemos esses comportamentos, "parece que estamos atuando sobre a mente
quando 'incitamos'ou ‘persuadimos’alguém a agir. "(pág. 72). O que estamos fazendo, na
realidade, diz de uma exploração e/ou explicitação de situações mais favoráveis à ação
funcional. Ou ainda, quando ‘incitamos’ ou ‘persuadimos’ alguém, estamos ‘adoçando
condições' através da manipulação de variáveis e de estímulos associados á produção de
conseqüências positivas e/ou negativas, conforme identificadas, pelo‘manipulador’, como
atuantes na história de vida desse alguém (Skinner, 1971/1983; Lé Sénéchal-Machado,
1999). Evidentemente, a presença de um terapeuta acolhedor e apoiador, que ofereça
segurança ao cliente, é elemento importante no conjunto de estímulos contextuais que
favorecerão ao cliente a seleção de comportamentos específicos, em direção à adaptação
e à maior liberação de reforçamento positivo ou negativo, se for o caso. O terapeuta funciona
como ‘manipulador' na medida em que, na situação clínica, é a pessoa que emite um
maior número de comportamentos específicos (solicita informações, manipula SDs, insiste
no esclarecimento de algum dado relevante), estimulando contínua e regularmente o cliente,
até obter a identificação das variáveis controladoras - determinantes e mantenedoras - do
repertório comportamental deste. No contexto do atendimento psicoterápico, o cliente é
Sobre Comportamento c Cognição 21
32. estimulado - via manipulação - a ‘experimentar’ novos modos de atuar, com o propósito
de ampliar seu repertório de ações adaptativas. Enquanto 'manipulador funcional’, o terapeuta
vai especificando ocasiões para a ocorrência de comportamentos alternativos, de maneira
a auxiliá-lo na substituição de ações disfuncionais: o terapeuta manipula condições para
que o cliente aprenda e treine novas habilidades contingenciais de contracontrole do seu
bem estar pessoal e social (Beech, 1969/1971; Sidman, 1989/1995; Lé Sénéchal-Machado,
1999). Enfim, como manipulador funcional, o terapeuta poderá programar, junto com o
cliente, a execução de repetidos comportamentos de auto-afirmação em condições
relativamente controladas. O cliente poderá aprender repertórios de confiança em si mesmo
para lidar de maneira mais apropriada e eficiente com as dificuldades próprias dos
relacionamentos sociais, já que somos seres essencialmente sociais.
Considerações óticas à manipulação terapêutica
A primeira consideração, ao se fazer julgamentos a respeito da manipulação
terapêutica, não é de natureza ótica. Em vez disso, deve-se primeiro avaliar a adequação
técnica e cientifica-a padronização-dos procedimentos utilizados para tal manipulação.
Se o controle de um terapeuta sobre elementos importantes e críticos da análise funcional
da problemática do cliente é frágil, torna-se imperativa uma análise contextual do repertório
de comportamentos terapêuticos na relação clínica com o cliente em questão. Essa
reavaliação de procedimentos na situação clínica relevante permitirá, então, ao terapeuta,
a interpretação clara dos resultados alcançados e a obtenção de conclusões plausíveis ao
conflito básico vivenciado pelo cliente. Só assim o terapeuta poderá, efetivamente, ajudar
o cliente a se auto-observar e a ampliar essa observação às novas contingências
estabelecidas, de modo a interagir diretamente com o (seu) mundo, agora, de regras
mudadas (Sidman, 1989/1995).
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2 2 An.i Mdriu l.é Sénéchdl-Mtichtido
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Sobrr Compoitimrnto e Cognição 23
34. Capítulo 3
Modelos Animais de Psicopatologia:
Depressão
Angélica Capdari' *
(A/>
Pode-te obter rut literatura, * o menot, dezoito modeloê animam de depressAo, A partir do uma avaliaçôo doates modelos
em relação A reprodoçAo da etiologia, bioquímica, sintomatologia 0 tratamento da depressAo, destacamos 0 modelo do
Desamparo Aprendido Segundo este modelo, sujeitos que foram submetidos a uma experiência prévia com choques
Incontroláveis apresentam dificuldade em aprender novas respostas operantes quando posteriormente estas forom
exigidas Estes sujeitos aprendem que nAo há relação entre as respostas que emitem e 0 desllgnmonlo de estímulos
averslvos que recebem e, portanto, encontram-se em uma sltuaçAo de Incontrolabllldade (nAo tôm controle sobre oa
estímulos ambientais, por mais que emitam diversas respostas). A incontrolabllldade rofere-se a nAo ter controle Bobre
os estímulos ambieritaiB e, através da utili/açAo do modelo triàdico, comprova-se que a variável critica a Incontrolabllldado
e nAo os estímulos averslvos aos quais os sujeitos foram submetidos Este modelo tem sido amplamente divulgado 0
utlli/ado em testes farmacológicos. Sua generalidade foi testada em diversas espécies, com diversas respostas t»
estímulos. O modelo do Desamparo Aprendido Investiga apenas uma das diversas rotas possíveis na instalaçAo e*
manutenção da depressAo
Palavras-chave: desamparo aprendido / depressAo / incontrolabllldade I modelos animaisAbstract
There are at least eighteen models of depression In the literature. Those models study the etiology, biochemistry,
slntomatology and treatment of depression. Learned Helplessness is one of these models. The subjects were submitted
to previous experience with chocks that they could not control After this experience, the subjects were not able to learn
new operant responses, when this kind of response was demanded These subjects learned that there was no relation
between their responses and the environmental consequences once the interruption of tho aversive stimuli occurs
independently of the behavior/response of the organism. The Incontrolabillty refers to the lack of control of the organism
over environmental stimuli. The triadic model proved that the critic variable is incontrolability and not the aversive
stimuli. The model have been divulged and published widely and used In pharmacological tests. The generality was tested
in many speclfes, with many responses and different stimuli. The learned helplessness models study only one of tho
many possibilities of the onset and maintenance of depression.
Key word*: learned helplessness I depression I Incontrolabillty I animal models
A depressão tem sido considerada como uma desordem do humor caracterizada
pela perda de interesse e prazer nas atividades cotidianas, lentificaçâo, humor depressivo
ou irritável, apatia ou agitaçào psicomotora, dificuldade de concentração, pensamentos
’ A autora é aluna d« meetrado no programa de Pticologia Experimental da Univeraidade de SAo Paulo (USP) e protmora da Universidade Metodista
de Sêo Paulo (UMESP)
’ A autora agradece a professora Mana Teresa A/au)o S/Iva, a Fàbio leyserg pelo convite para participar da meea, e a Ma/M Helena Hunzlkw pelas
dica» e discusaOes «obre o lema
24 Angélica Caprldri
35. negativos, redução no apetite ou peso, alteração no sono, diminuição da energia,
pensamentos de morte e ideação suicida. A presença de cinco ou mais sintomas durante
duas semanas é necessária para o diagnóstico de depressão, levando em conta todas as
subdivisões que o distúrbio apresenta. (DSM IV; Louzã Neto, 1997 e Fennell, 1997).
Em geral, a descrição da depressão ó feita utilizando-se termos mentalistas
(Hunziker, 1997). Uma definição funcional da depressão deve enfocar a interação do
organismo com o meio. Essa interação sofre influências da história filogenética,
ontogenética e cultural às quais o organismo está submetido (Ferster, 1973). Segundo
Fennell (1997), o inicio e a evolução da depressão dependem de variáveis biológicas,
históricas e ambientais. Essa conclusão vai de encontro com o que Ferster (1973) postulou
como uma das explicações para a ocorrência da depressão: queda na obtenção de reforços
e/ou diminuição do valor reforçador de quando os estímulos conseqüências são liberados.
A falta de reforços poderia ser, na verdade, uma insensibilidade dos organismos aos
reforçadores disponíveis. Essa insensibilidade seria decorrente de disfunções no sistema
de neurotransmissão do reforçamento. De qualquer forma, ó o reforçamento (ou sua
inexistência) o ponto central. (Hunziker, 1997).
Modelos Animais
Para investigar os determinantes, as variáveis que envolvem a ocorrência,
manutenção e tratamento da depressão, alguns modelos animais têm sido utilizados.
Através de modelos animais, mudanças comportamentais podem ser objetivamente
avaliadas, independente da concordância entre observadores sobre um estado subjetivo,
e podem ser reproduzíveis por outros investigadores. Além disso, variáveis experimentais
podem ser isoladas e investigadas separadamente, aumentando a confiabilidade do dado
obtido.
Para que um modelo animal seja considerado válido, segundo Wilnner (1984),
ele teria que reproduzir condições de etiologia, bioquímica, sintomatologia e tratamento
da patologia a ser investigada. Maier (1984) estabeleceu, a partir da literatura, quatro
critérios para estabelecer um modelo experimental para investigação de uma condição
clínica:
1) similaridade entre o estado comportamental e os sintomas que caracterizam
a psicopatologia;
2) similaridade entre as mudanças neuroquímicas que ocorrem em pacientes
com o transtorno e observadas em animais submetidos a determinadas
situações;
3) similaridade de indução de condições ambientais que aumentariam a
probabilidade de ocorrência daquela psicopatologia;
4) similaridade de respostas a intervenções terapêuticas, incluindo prevenção e
tratamento de pacientes, observada em animais submetidos a situações
específicas e em animais submetidos a determinadas situações.
Willner (1984,1986) fez um levantamento e analisou a validade de 18 modelos
animais de depressão. Do levantamento feito, 5 modelos apresentaram validade preditiva
Sobre Comportamento e (‘ogniçilo 25