1. A Lenda da Princesa Peralta
Conta a lenda que existia um reino poderoso cuja capital era Colimbria.
El-Rei Arunce aí reinava, todo-poderoso e autoritário, mantendo o povo
na maior miséria. Na corte, porém, vivia-se bem e com imensas festas, para
contentamento das
damas que a isso eram
muito dadas. Este rei
era viúvo e tinha uma
filha que muito amava.
Esta chamava-se
Peralta. Era tão bela
e tão engraçada que
seu pai a tudo atendia
para a satisfazer.
Tinha muitos pretendentes, de entre eles, Sertório, um formoso guerreiro,
com pretensões a casar com a princesa, pelo que lhe enviava presentes ou, então,
mensageiros com cartas e poemas a exaltar o seu sentimento e a formusura de
Peralta. No entanto, ela a todos desiludia, não escolhendo ninguém para casar.
E os tempos foram correndo na corte, numa vida só dada aos prazeres.
Enquanto na terra se começou a verificar descontentamentos entre os fidalgos,
nas alturas, os deuses demonstravam cada vez maior aborrecimento pela vida
desregrada que a juventude levava cá em baixo. Foi então que Vénus, ofendida
com os habitantes de Roma e sabedora que os habitantes do reino de Arunce lhe
eram fiéis, resolveu vir ver com os seus próprios olhos o que se passava.
Transformou-se em velha e intrometeu-se na corte de Conimbriga. Reconheceu
que a população a adorava, mas a corte era menos cumpridora. Aí começou a dar
longos e sensatos conselhos às adoidadas donzelas, mas estas ainda troçavam
dela. Isto desagradou-lhe imenso e, ela mesmo, jurou vingar tanta loucura e pecado.
2. Certo é que, passado pouco tempo, este reino poderoso foi invadido e
transformado em humilhante escravatura.
Entretanto, El-Rei Arunce, que procurava resistir aos ataques inimigos,
mandou Peralta e o seu séquito para um castelo que possuía nas montanhas.
Era este castelo muito dissimulado pelas frondosa floresta, mais parecendo
quase uma ilha, pois era rodeado por uma ribeira, a que se chamou de Arunce,
hoje conhecida por Arouce.
Peralta, enquanto esteve com seu pai em Colimbria, teve uma troca
de olhares com um príncipe
invasor, chamado Lausus, e dele
se enamorou e vice-versa. No
ímpeto de estar perto de sua
amada, Lausus parte em busca
de Peralta. Arunce, que se
encontrava a caminho de Ceuta,
vem em busca do príncipe e, nas
serranias, o desfecho do
confronto militar é fatídico. Arunce e Lausus perdem a vida. O local onde esta
batalha ocorreu chama-se hoje Lousã.
Entretanto, em Arunce, os dias passavam muito aborrecidos no castelo,
mas com alguma esperança. Peralta chorava de saudades e lamentava a distância
que sentia de seu pai e suspirava pelo seu amado. Entretanto, como que por
enquanto, apareceu-lhes ali um mago, o poderoso Estela. Este, mais não era que
um enviado de Sertório que, não desistindo dos seus intentos, a todo o custo
procurava casar com Peralta.
O mago conseguiu convencer Peralta que El-Rei a esperava em Sertago,
à frente dum poderoso exército. A ingénua Peralta acreditou nele, apesar dos
prudentes conselhos da sua fiel aia, Antígona, e do velho Tibério. Assim, e com as
indicações do hábil Estela, imediatamente se apressaram os preparativos para a
viagem.
3. Desta forma, todo o séquito acompanhou a Princesa, guiado sempre por
Estela, e assim chegaram aos cimos da serra e a foram atravessando.
Esta foi, no entanto, uma caminhada longa demais para a fragilidade da
velha Antígona, fiél aia de Peralta. Uma trovoada imensa obrigou-os a acoitarem-
se numa gruta, tendo aquela ali falecido.
Peralta chorou imensamente a morte da companheira e quase desistiu de
tão tormentosa viagem. Sobre a sepultura da pobre aia, colocou-se uma laje com a
seguinte inscrição: “ Antígona de Peralta aqui foi da vida falta”. A Princesa fizera,
entretanto, um voto de não mais comer ou beber
E a viagem continuou.
Muito insistiam, os que acompanhavam a princesa nesta jornada, para que
comesse ou bebesse algo, mas a resposta era sempre a mesma, pelo que muito foi o
espanto dos acompanhantes quando, à insistência de Estela que lhe perguntava
se queria água, lhe respondeu: Volo! (quero)
Prosseguindo, mais animada, avançaram na caminhada para Sertago.
Porém, Vénus vigiava a caravana e, piedosa do sofrimento de Peralta,
decide enviar um poderoso raio que transforma os acompanhantes em montanhas e
a bela Peralta numa formosa sereia, que ficou vivendo nas águas que brotavam da
serra onde ficara para sempre Antígona.
E conta a lenda que esse raio poderoso desfez igualmente a lápide onde,
para a posteridade, apenas ficava, da primitiva inscrição, a seguinte legenda:
“ ANTIG…A DE PERA … “
E DOS SÍTIOS ONDE Peralta disse “ VOLO” nasceu o Bolo,
enquanto que das paragens onde existia o túmulo, com a referida inscrição, surgiu
Pera.
E de toda esta lenda maravilhosa, nasceu Castanheira de Pera.