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Um paraíso nas
mãos da comunidadetexto e fotos | Henrique Picarelli
5252 5353TerradaGente TerradaGente
conservação
Área de Proteção Ambiental no litoral do Pará, onde não há carros nem
motos, quer reescrever a história a partir de um plano de manejo e garantir a
sustentabilidade do ecoturismo, fonte de trabalho e renda da comunidade
5454 5555TerradaGente TerradaGente| conservação conservação |
IR E VIR
Na orla, os barcos
prontos a transportar
os visitantes da Ilha
do Algodoal (págs.
anteriores). Acima, a
comunidade de Camboinha
e a tranquilidade da
vila em dias de
pouco movimento
Maracanã, município no qual a APA está
inserida. Com a chegada de tanta gente
ao mesmo tempo, as características do
local mudam radicalmente. O fluxo de
carroças e charretes carregando turistas
é incessante. A cantoria dos pássaros é
engolida pelos reggaes e carimbós tocados
pelas caixas de som espalhadas pelos
bares e pelas praias. O espaço torna-se
pequeno para tanta gente, para tanto lixo.
Ao menos neste período, a impressão de
paraíso cede espaço à imagem de caos:
faltam vagas para hospedar tanta gente,
falta água para combater o calor.
Para uma parcela de moradores,
entretanto, essa confusão é sinônimo
de renda. Nesses dias, o dinheiro obtido
com a venda de bebidas, com os passeios
pelos atrativos naturais das ilhas, com
o ir e vir de carroças e barcos é capaz de
garantir algumas semanas tranquilas e
chega a justificar, na visão dos nativos,
a degradação ambiental resultante do
turismo de massa. “Para os barqueiros
e os carroceiros, quanto mais turistas
na ilha mais dinheiro no bolso”, afirma
Bergo Ferreira, proprietário de uma
pousada na vila de Algodoal. “Eu tenho
uma ideia diferente de turismo. Na alta
temporada, com a ilha lotada, os serviços
não funcionam. Se o turista vai à praia às
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tomar duas cervejas geladas. Depois disso,
ele vai tomar cerveja quente porque a
estrutura não suporta esse número de
gente. Isso sem contar o problema com
A primeira unidade de conservação
litorânea do estado do Pará tem 29 km2
de área entre praias, dunas de manguezais
o porto, pequenas
e m b a r c a ç õ e s
repousam sobre o
mar tranquilo, à espera da próxima saída.
No mesmo ritmo do vaivém das ondas,
pescadores acompanham a chegada dos
novos visitantes – a quantidade pode
determinar o empenho da pescaria na
madrugada seguinte. Ao lado deles,
homens e cavalos se enfileiram como
num ponto de táxi, esperando pelo
desembarque dos turistas, oferecendo o
traslado até os hotéis e as pousadas de um
paraíso: a Ilha do Algodoal.
Pelas ruas de areia da vila não há carros
ou motos. Apenas carroças puxadas por
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pacífico ditado pelo fôlego dos animais.
O calor, embora intenso, é amenizado
pela brisa do mar. Ao fundo, a conversa
dos moradores se mistura ao barulho
produzido pelos pássaros nas árvores e
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das comunidades que compõem a Área
de Proteção Ambiental (APA) de Algodoal-
Maiandeua, na região conhecida como
Salgado Paraense, no litoral nordeste do
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prolongados, a calmaria é atropelada por
uma multidão de visitantes que se espalha
por hotéis e pousadas, pelos redários e
campings improvisados. Nesses dias, a
população da vila de Algodoal, a maior
das quatro comunidades do arquipélago
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salta de mil habitantes para quase 20
mil pessoas, vindas principalmente
de Belém e das cidades próximas a
N
DIA A DIA
A comunidade
de Fortalezinha,
um dos pontos
de visitação da
ilha, oferece uma
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e vive também
da pesca de
subsistência
5656 5757TerradaGente TerradaGente| conservação conservação |
banheiros, com o lixo, com o preço das
coisas”,constataoempresárioquemorana
APAhá11anosepercebeuumcrescimento
significativo no fluxo de visitantes a partir
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às ilhas. “A chegada da luz impulsionou o
surgimento de novas pousadas, de novos
bares nas praias, de serviços voltados para
o turismo, de forma desordenada. Depois
disso percebi a importância da criação do
Conselho Gestor da APA e de um plano
de manejo para nortear a exploração
turística.”
“Por lei, o plano de manejo deveria
ser elaborado e colocado em prática num
prazo de até cinco anos após a criação da
unidade de conservação. A APA Algodoal-
Mauandeua foi criada em 1990 e, desde
então, espera por esse estudo”, afirma
Marcelo Costa, diretor-geral da Ong
Suatá e responsável pela ação civil de
2006 que retomou as discussões em torno
do arquipélago. “A criação da APA não
resolveu o problema local. A ideia da ação
civil era exigir aquilo que está previsto
na lei de instituição da unidade: a criação
de um conselho gestor paritário que
garante a participação popular de forma
igual à do poder público, a elaboração e
implementação do plano de manejo e a
coleta regular do lixo gerado nas quatro
comunidades”, completa o advogado.
O Conselho Gestor foi criado em
agosto de 2006, com 10 representantes
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realizada pela Prefeitura de Maracanã em
2008. E a elaboração do plano de manejo,
realizada por técnicos da Secretaria de
Meio Ambiente (Sema) do estado do Pará,
foi concluída no segundo semestre do ano
passado, mais de 20 anos após a criação da
APA.
As ações previstas para o primeiro
ano do plano de manejo da APA devem
contribuir para uma mudança gradual
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aVes
Os guarás
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das espécies da
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do Algodoal. Na
pág. seguinte,
o mangue se
integra à rotina
da vila
5858 5959TerradaGente TerradaGente| conservação conservação |
comunidade discute a importância
de um plano de manejo para a apa
e reivindica coletas regulares de lixo
Entre elas está a cobrança de uma taxa
ambiental, algo semelhante à aplicada no
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um estudo sobre a capacidade de carga
das ilhas paraenses, por meio do qual
poderá se estabelecer o número máximo
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“Estabelecer a capacidade de carga, ao
contrário do que muitos pensam, não vai
afastar o turista daqui. Deixaremos de ter
aquele público todo concentrado no mês de
julho, na Semana Santa ou no Ano Novo,
mas sim diluído ao longo do ano. Vai ter
turismo o ano inteiro sem sobrecarregar a
estrutura da ilha, sem causar prejuízo aos
recursos naturais daqui e proporcionando
renda”, analisa Bergo, que completa: “Além
disso, o perfil do visitante muda com essas
exigências. Atualmente, o turista que
vem para cá é predatório, produz muito
lixo e deixa muito pouco para o local. O
novo público é voltado para o ecoturismo,
preocupa-se com a natureza e com o
impacto que a presença dele causa ao local
e está disposto a pagar mais por isso.”
Carlos André Teixeira de Lima é um
exemplo da mudança de mentalidade.
Baixote, como é conhecido, é descendente
de uma das primeiras famílias a ocupar
a ilha de Algodoal, no começo do século
passado. Aos 33 anos, trabalha como guia
turístico há 15 e é o atual presidente da
Associação dos Canoeiros, da qual fazem
parte outros 60 profissionais. Ao lado dos
carroceiros, os canoeiros são os que mais
se beneficiam do turismo de massa na
APA. Mesmo assim, Baixote acredita que o
modelo atual pode, em longo prazo, trazer
grandes prejuízos ambientais. “Algodoal
se desenvolveu muito por causa do
turismo, mas ele tem trazido problemas,
principalmente com o lixo produzido pelos
milhares de turistas que passam por aqui
durante a alta temporada. Hoje, a ilha sofre
demais nessa época porque a maior parte
do lixo vai parar no mar e nos mangues,
por causa das marés.” Baixote acredita
que a coleta seletiva e a reciclagem
podem representar outra fonte de renda
para aos moradores.
Outra preocupação apontada no
plano de manejo é a capacitação dos
moradores das comunidades, o que vem
sendo tratado como prioridade pela
Sema. “Nossas prioridades para este
ano são levar cursos profissionalizantes
para as comunidades; pretendemos
realizar pelo menos três este ano
direcionados ao temas de conservação
ambiental, qualidade no atendimento
e gerenciamento de pequenos negócios
turísticos”, diz Adriana Maués, gerente
da APA.
Para Costa, o plano de manejo fará
sentido quando conseguir levar aos
moradores da área da APA os ganhos que
o turismo propiciar, seja pela geração de
renda e de emprego, seja pelos serviços
sociais em saúde e educação. “O trabalho
será legítimo quando a comunidade
estiver participando ativamente de todos
os processos, do desenvolvimento que o
turismo pode trazer.”
Baixote, que é um dos representantes
da sociedade civil no Conselho Gestor,
espera que as mudanças trazidas pela
implementação do plano de manejo
transformem a APA de Algodoal-
Mauandeua num exemplo. “Acredito que
tudo isso possa se transformar no paraíso
ecológico do Atlântico, não só pelas
belezas naturais, mas como exemplo de
conservação, mesmo com o crescimento
do turismo. Que tudo isso seja bom para
os nossos filhos, para os nossos netos, e
que o lucro não seja apenas em dinheiro,
mas em educação para todos, em saúde e
em conservação ambiental.”
No município de Maracanã (PA), a APA
de Algodoal-Maiandeua fica a 182
km da capital, Belém. É formada
pelas ilhas de Algodoal e Maian-
deua, que são separadas durante a
maré cheia por um pequeno canal.
Nas vilas de Algodoal, Camboinha,
Mocoóca e Fortalezinha vivem
cerca de 2 mil habitantes.
Algodoal-Maiandeua
ONDE FICA
PARÁ
AP
MA
Algodoal-Maiandeua
No município de Maracanã (PA), a APA
de Algodoal-Maiandeua fica a 182
km da capital, Belém. É formada
de Algodoal-Maiandeua fica a 182
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de Algodoal-Maiandeua fica a 182
pelas ilhas de Algodoal e Maian-
deua, que são separadas durante a
maré cheia por um pequeno canal.
Nas vilas de Algodoal, Camboinha,
Mocoóca e Fortalezinha vivem
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Um paraíso nas mãos da comunidade - Henrique Picarelli

  • 1. Um paraíso nas mãos da comunidadetexto e fotos | Henrique Picarelli 5252 5353TerradaGente TerradaGente conservação Área de Proteção Ambiental no litoral do Pará, onde não há carros nem motos, quer reescrever a história a partir de um plano de manejo e garantir a sustentabilidade do ecoturismo, fonte de trabalho e renda da comunidade
  • 2. 5454 5555TerradaGente TerradaGente| conservação conservação | IR E VIR Na orla, os barcos prontos a transportar os visitantes da Ilha do Algodoal (págs. anteriores). Acima, a comunidade de Camboinha e a tranquilidade da vila em dias de pouco movimento Maracanã, município no qual a APA está inserida. Com a chegada de tanta gente ao mesmo tempo, as características do local mudam radicalmente. O fluxo de carroças e charretes carregando turistas é incessante. A cantoria dos pássaros é engolida pelos reggaes e carimbós tocados pelas caixas de som espalhadas pelos bares e pelas praias. O espaço torna-se pequeno para tanta gente, para tanto lixo. Ao menos neste período, a impressão de paraíso cede espaço à imagem de caos: faltam vagas para hospedar tanta gente, falta água para combater o calor. Para uma parcela de moradores, entretanto, essa confusão é sinônimo de renda. Nesses dias, o dinheiro obtido com a venda de bebidas, com os passeios pelos atrativos naturais das ilhas, com o ir e vir de carroças e barcos é capaz de garantir algumas semanas tranquilas e chega a justificar, na visão dos nativos, a degradação ambiental resultante do turismo de massa. “Para os barqueiros e os carroceiros, quanto mais turistas na ilha mais dinheiro no bolso”, afirma Bergo Ferreira, proprietário de uma pousada na vila de Algodoal. “Eu tenho uma ideia diferente de turismo. Na alta temporada, com a ilha lotada, os serviços não funcionam. Se o turista vai à praia às 9 horas da manhã, por exemplo, consegue tomar duas cervejas geladas. Depois disso, ele vai tomar cerveja quente porque a estrutura não suporta esse número de gente. Isso sem contar o problema com A primeira unidade de conservação litorânea do estado do Pará tem 29 km2 de área entre praias, dunas de manguezais o porto, pequenas e m b a r c a ç õ e s repousam sobre o mar tranquilo, à espera da próxima saída. No mesmo ritmo do vaivém das ondas, pescadores acompanham a chegada dos novos visitantes – a quantidade pode determinar o empenho da pescaria na madrugada seguinte. Ao lado deles, homens e cavalos se enfileiram como num ponto de táxi, esperando pelo desembarque dos turistas, oferecendo o traslado até os hotéis e as pousadas de um paraíso: a Ilha do Algodoal. Pelas ruas de areia da vila não há carros ou motos. Apenas carroças puxadas por cavalos e algumas bicicletas, num trânsito pacífico ditado pelo fôlego dos animais. O calor, embora intenso, é amenizado pela brisa do mar. Ao fundo, a conversa dos moradores se mistura ao barulho produzido pelos pássaros nas árvores e pelo rangido das carroças. Durante quase todo o ano, esta é a rotina dos moradores das comunidades que compõem a Área de Proteção Ambiental (APA) de Algodoal- Maiandeua, na região conhecida como Salgado Paraense, no litoral nordeste do Pará. Duranteaaltatemporadaenosferiados prolongados, a calmaria é atropelada por uma multidão de visitantes que se espalha por hotéis e pousadas, pelos redários e campings improvisados. Nesses dias, a população da vila de Algodoal, a maior das quatro comunidades do arquipélago e a mais estruturada para o turismo, salta de mil habitantes para quase 20 mil pessoas, vindas principalmente de Belém e das cidades próximas a N
  • 3. DIA A DIA A comunidade de Fortalezinha, um dos pontos de visitação da ilha, oferece uma paisagem privilegiada e vive também da pesca de subsistência 5656 5757TerradaGente TerradaGente| conservação conservação | banheiros, com o lixo, com o preço das coisas”,constataoempresárioquemorana APAhá11anosepercebeuumcrescimento significativo no fluxo de visitantes a partir de 2005, quando a energia elétrica chegou às ilhas. “A chegada da luz impulsionou o surgimento de novas pousadas, de novos bares nas praias, de serviços voltados para o turismo, de forma desordenada. Depois disso percebi a importância da criação do Conselho Gestor da APA e de um plano de manejo para nortear a exploração turística.” “Por lei, o plano de manejo deveria ser elaborado e colocado em prática num prazo de até cinco anos após a criação da unidade de conservação. A APA Algodoal- Mauandeua foi criada em 1990 e, desde então, espera por esse estudo”, afirma Marcelo Costa, diretor-geral da Ong Suatá e responsável pela ação civil de 2006 que retomou as discussões em torno do arquipélago. “A criação da APA não resolveu o problema local. A ideia da ação civil era exigir aquilo que está previsto na lei de instituição da unidade: a criação de um conselho gestor paritário que garante a participação popular de forma igual à do poder público, a elaboração e implementação do plano de manejo e a coleta regular do lixo gerado nas quatro comunidades”, completa o advogado. O Conselho Gestor foi criado em agosto de 2006, com 10 representantes da sociedade civil e outros 10 ligados aos poderes públicos municipal, estadual e federal. A coleta de lixo começou a ser realizada pela Prefeitura de Maracanã em 2008. E a elaboração do plano de manejo, realizada por técnicos da Secretaria de Meio Ambiente (Sema) do estado do Pará, foi concluída no segundo semestre do ano passado, mais de 20 anos após a criação da APA. As ações previstas para o primeiro ano do plano de manejo da APA devem contribuir para uma mudança gradual no modelo de turismo explorado na ilha.
  • 4. aVes Os guarás são algumas das espécies da avifauna da Ilha do Algodoal. Na pág. seguinte, o mangue se integra à rotina da vila 5858 5959TerradaGente TerradaGente| conservação conservação | comunidade discute a importância de um plano de manejo para a apa e reivindica coletas regulares de lixo Entre elas está a cobrança de uma taxa ambiental, algo semelhante à aplicada no arquipélago de Fernando de Noronha, e um estudo sobre a capacidade de carga das ilhas paraenses, por meio do qual poderá se estabelecer o número máximo de visitantes que a unidade comporta. “Estabelecer a capacidade de carga, ao contrário do que muitos pensam, não vai afastar o turista daqui. Deixaremos de ter aquele público todo concentrado no mês de julho, na Semana Santa ou no Ano Novo, mas sim diluído ao longo do ano. Vai ter turismo o ano inteiro sem sobrecarregar a estrutura da ilha, sem causar prejuízo aos recursos naturais daqui e proporcionando renda”, analisa Bergo, que completa: “Além disso, o perfil do visitante muda com essas exigências. Atualmente, o turista que vem para cá é predatório, produz muito lixo e deixa muito pouco para o local. O novo público é voltado para o ecoturismo, preocupa-se com a natureza e com o impacto que a presença dele causa ao local e está disposto a pagar mais por isso.” Carlos André Teixeira de Lima é um exemplo da mudança de mentalidade. Baixote, como é conhecido, é descendente de uma das primeiras famílias a ocupar a ilha de Algodoal, no começo do século passado. Aos 33 anos, trabalha como guia turístico há 15 e é o atual presidente da Associação dos Canoeiros, da qual fazem parte outros 60 profissionais. Ao lado dos carroceiros, os canoeiros são os que mais se beneficiam do turismo de massa na APA. Mesmo assim, Baixote acredita que o modelo atual pode, em longo prazo, trazer grandes prejuízos ambientais. “Algodoal se desenvolveu muito por causa do turismo, mas ele tem trazido problemas, principalmente com o lixo produzido pelos milhares de turistas que passam por aqui durante a alta temporada. Hoje, a ilha sofre demais nessa época porque a maior parte do lixo vai parar no mar e nos mangues, por causa das marés.” Baixote acredita que a coleta seletiva e a reciclagem podem representar outra fonte de renda para aos moradores. Outra preocupação apontada no plano de manejo é a capacitação dos moradores das comunidades, o que vem sendo tratado como prioridade pela Sema. “Nossas prioridades para este ano são levar cursos profissionalizantes para as comunidades; pretendemos realizar pelo menos três este ano direcionados ao temas de conservação ambiental, qualidade no atendimento e gerenciamento de pequenos negócios turísticos”, diz Adriana Maués, gerente da APA. Para Costa, o plano de manejo fará sentido quando conseguir levar aos moradores da área da APA os ganhos que o turismo propiciar, seja pela geração de renda e de emprego, seja pelos serviços sociais em saúde e educação. “O trabalho será legítimo quando a comunidade estiver participando ativamente de todos os processos, do desenvolvimento que o turismo pode trazer.” Baixote, que é um dos representantes da sociedade civil no Conselho Gestor, espera que as mudanças trazidas pela implementação do plano de manejo transformem a APA de Algodoal- Mauandeua num exemplo. “Acredito que tudo isso possa se transformar no paraíso ecológico do Atlântico, não só pelas belezas naturais, mas como exemplo de conservação, mesmo com o crescimento do turismo. Que tudo isso seja bom para os nossos filhos, para os nossos netos, e que o lucro não seja apenas em dinheiro, mas em educação para todos, em saúde e em conservação ambiental.” No município de Maracanã (PA), a APA de Algodoal-Maiandeua fica a 182 km da capital, Belém. É formada pelas ilhas de Algodoal e Maian- deua, que são separadas durante a maré cheia por um pequeno canal. Nas vilas de Algodoal, Camboinha, Mocoóca e Fortalezinha vivem cerca de 2 mil habitantes. Algodoal-Maiandeua ONDE FICA PARÁ AP MA Algodoal-Maiandeua No município de Maracanã (PA), a APA de Algodoal-Maiandeua fica a 182 km da capital, Belém. É formada de Algodoal-Maiandeua fica a 182 km da capital, Belém. É formada de Algodoal-Maiandeua fica a 182 pelas ilhas de Algodoal e Maian- deua, que são separadas durante a maré cheia por um pequeno canal. Nas vilas de Algodoal, Camboinha, Mocoóca e Fortalezinha vivem cerca de 2 mil habitantes. Guará (Eudocimus ruber) Biguá (Phalacrocorax brasilianus)